
Não tenho ilusões:
a oportunidade de fazer história na Champions caiu por terra com esta derrota.
Seria preciso realizar
a melhor exibição do século (e encontrar um Inter bastante ensonado) para
reverter, em Milão, uma desvantagem de dois golos. Matematicamente é possível.
Futebolisticamente, não. Estamos a falar de uns Quartos-de-Final da Champions,
onde ninguém dorme, muito menos em sua casa, e quando se tem jogadores como
Brozovic, Barella, Mkhitaryan, Di Marco ou Lautaro.
Esta era uma
oportunidade que dificilmente se irá repetir nos tempos mais próximos. O Inter
confirmou na Luz que não é um papão, e com um pouco de sorte o resultado teria
sido diferente – os italianos marcaram no melhor momento dos encarnados, que
depois viriam a desperdiçar dois lances flagrantes diante da baliza. O
resultado justo talvez tivesse sido o empate. Nunca uma derrota por dois golos
de diferença.
Mas não foi só o
azar a determinar o resultado. Creio que o desaire começou a desenhar-se antes
do jogo. Começou na sexta-feira quando o Benfica desperdiçou também, e neste
caso com muito mais culpas próprias, a possibilidade de resolver o campeonato e,
então sim, abraçar o sonho europeu com ânimo e determinação, dando desde logo
um sinal de força a todos os adversários.
Não fez tudo o
que podia para ganhar ao rival. Obviamente perdeu. Expôs debilidades. Deixou
entrar fantasmas em casa. Agora apareceu em campo descrente, desconfiado de si
próprio, a hesitar nos seus processos, e acabou estendido no chão. Até o
ambiente no estádio se ressentiu. Foi diferente e mais impaciente. Era de
esperar, ou não Roger Schmidt?
Os jogadores
correram, lutaram, mas sentiram o peso das circunstâncias. E o Inter tentou,
com sucesso, fazer o que o FC Porto fez – sobretudo no plano defensivo. Uma
derrota levou a outra, e se não houver cuidado, Chaves pode abrir caminho a uma
total debacle emocional, com custos que nem quero, por ora, imaginar.
Individualmente
não me apetecia destacar ninguém. Talvez apenas Vlachodimos, que evitou uma
goleada (que seria, porém, extremamente injusta). Queria também sublinhar que
não entendo como, a perder, com uma equipa a dar sinais evidentes de cansaço
físico e emocional, apenas se faz uma substituição. Todos os treinadores têm as
suas pancadas. Roger Schmidt teve, até há poucos dias, todos os benefícios das
dúvidas e das certezas, ao ponto de renovar o contrato, ficar a auferir o
dobro, mesmo sem sequer ter conquistado um troféu. Agora começa a mostrar teimosia, para além das reiteradas manifestações de desconfiança nos jogadores que
se sentam ao seu lado no banco. As próximas semanas ditarão o real valor do alemão,
designadamente sob o ponto de vista estratégico. Preparar equipas fisicamente,
e criar situações bonitas de jogo, não é suficiente. É preciso ser sagaz. Só
assim se ganham títulos (e ele tem poucos, muito poucos).
Também não gostei
de Michael Oliver. Um dos árbitros mais conceituados do mundo esteve mal em diversas
situações, parecendo exibir um gostinho especial em irritar as bancadas.
Critério desigual na amostragem de cartões, e porventura – confesso que não vi
os lances na televisão – um penálti por marcar a favor do Benfica. Também sem
ver todas as repetições, o penálti de João Mário ainda não me convenceu
totalmente, isto se tivermos em conta os critérios que normalmente são
aplicados no futebol europeu, e em…Inglaterra. Em qualquer caso, culpas maiores para o VAR holandês, que assim se viu livre de um país concorrente no rankings.
Para mim, agora é
simples: o Benfica tem de se agarrar ao campeonato e aos sete pontos que ainda
tem de vantagem. Vitórias com o Chaves, o Estoril e o Gil Vicente poderão
recompor o moral da equipa. São absolutamente fundamentais. Depois…faltarão
quatro jornadas.
Dando tudo o que
tem, colocando aí todas as fichas, o Benfica tem obrigação de vencer estes três
jogos. É esse o desafio imediato, de modo a não estragar totalmente uma época
que chegou a fazer sonhar bem alto.
Enfim, deixo uma só palavra:
Chaves!