O MESTRE DA BAZÓFIA

Há duas faculdades que temos de reconhecer ao actual treinador do Sporting.
A primeira é a de, por via de uma hábil gestão de expectativas e/ou de rumores, ano após ano, Julho após Julho, fazer subir o seu próprio salário até níveis muito pouco compatíveis com a realidade do futebol português, e, sobretudo, com a realidade de um profissional que, aos 62 anos, apenas alcançou títulos significativos num dos clubes onde trabalhou.
A segunda é a de, por arte e engenho seus, ou por sortilégio das circunstâncias, conseguir dos presidentes que o contratam, padrões de investimento nos plantéis igualmente acima daquilo que é comum no nosso país, e daquilo que é, ou foi, concedido a diferentes treinadores desses mesmos clubes em momentos anteriores e posteriores – aconteceu entre 2009 e 2015 no Benfica, repete-se agora no Sporting.
As caríssimas equipas de que este técnico dispôs enquanto esteve na Luz, e de que dispõe em Alvalade, quer em termos de investimento, quer quanto a custos com a massa salarial, não têm paralelo na história dos dois rivais lisboetas. Tivessem idênticos meios, e muitos outros treinadores teriam podido encher o peito, e a boca, em conferências de imprensa, como génios de uma lâmpada que, todavia, não acende para todos com semelhante grau de luminosidade.

Quando andou por cá, uma envolvente estrutural de topo permitiu-lhe aproveitar bem os recursos, traduzindo-os em títulos. Veremos o que a sua suprema sapiência consegue até final da carreira, enquanto nos vamos divertindo com declarações que outrora nos faziam sentir desconfortáveis, ou até mesmo envergonhados. 

O MUNDO AO CONTRÁRIO

Supertaças nacionais e europeia, jornadas de Campeonato, playoffs de competições da UEFA, tudo disputado no meio de um vai e vem de jogadores, e de consequente diarreia de informação e contra-informação corrosiva e desestabilizadora, por via do estapafúrdio estender do mercado de transferências para além dos timings aceitáveis.
Encerrado o mercado, quando os adeptos puderam, enfim, entusiasmar-se com os seus jogadores, e com as suas equipas, eis que o futebol de clubes ficou parado, dando lugar a uma jornada dupla de selecções – que poderia ter sido disputada uma ou duas semanas antes.
Não conheço razões que expliquem tamanho absurdo, perturbador para a generalidade dos adeptos que, directa ou indirectamente, paga tudo isto.
Mais do que vídeo-árbitros, ou seja o que for que destrua aquilo que o futebol tem de melhor face a outras modalidades – a fluidez -, importava às instâncias federativas nacionais e internacionais rever os calendários competitivos, e ajustá-los a um qualquer assomo de lógica minimamente entendível.
Se as sacro-santas janelas de mercado de transferências são intocáveis, se as datas FIFA são impostas pelos seus tão credíveis e zelosos dirigentes, então que se altere o calendário nacional, começando o Campeonato na segunda semana de Setembro, e deixando o mês de Agosto, por exemplo, para eliminatórias da Taça da Liga e/ou Taça de Portugal, e para todas as insuportáveis contingências do mercado de transferências.

Hoje jogamos em Arouca, com os nossos jogadores, com o nosso plantel. Hoje começa, finalmente, o futebol de que todos gostamos. Já não era sem tempo.

CUIDADOS REDOBRADOS

1. Sorteios são sorteios. Não há que lamentar, nem rejubilar. Mas o grupo da Champions que nos calhou não é nada fácil, sobretudo tendo em conta que o Benfica saltava, com todo o mérito, do pote 1.
Nápoles, Besiktas e Dinamo de Kiev são adversários a quem podemos ganhar, mas com quem também podemos perder. A afirmação parece um tanto lapalissiana, mas a verdade é que entre estas quatro equipas qualquer classificação será, digamos, normal. É o chamado grupo traiçoeiro, acessível na aparência, mas perigoso a cada esquina. A última vez que algo semelhante nos tocou em sorte (há dois anos, com Zenit, Monaco e Leverkusen), correu-nos mal. Não há “pêras doces”, como noutros grupos. Não há tubarões que possam retirar todos os pontos a todos os adversários. Cada jogo é decisivo, e pode não haver margem de erro. Acresce que todos os adversários (dois campeões e um vice-campeão) estão em excelente momento da sua história recente.
Dito isto, é óbvio que acredito no Benfica, e em mais um apuramento para a fase seguinte.
2.A arbitragem portuguesa parece estar a mudar…mas para pior. Podem ser apenas sinais. Pode ser precipitado fazer já uma avaliação. Mas o que se percebe destas primeiras três jornadas, quer em termos de nomeações, quer em termos de desempenhos, não augura nada de bom. Estejamos atentos, e não permitamos o regresso a um passado negro, agora com outros protagonistas.

3. A época das modalidades começou da melhor forma, com o triunfo na Supertaça de Andebol. Será certamente o primeiro de muitos títulos, pois a infelicidade que tivemos nas últimas finais não durará para sempre.