ESPELHOS

Há sensivelmente dois anos, quis o destino que, no mesmo dia, quase à mesma hora, o Benfica se sagrasse campeão nacional no Estádio da Luz, e o Juventude de Évora, com algumas jornadas ainda por disputar, assegurasse a subida de divisão em Faro. Dois anos depois o FC Porto vê-se campeão a duas rondas do fim, e, no mesmo dia, o Juventude desce para a 3ª divisão, desta vez no último jogo, depois de passar quase todo o campeonato acima da linha de água. Coincidências do futebol, coincidências da vida. Ora felicidade, ora desilusão. Ora dias em cheio, ora dias para esquecer.
Sobre o jogo de Vila do Conde, eu diria que constituiu uma metáfora perfeita daquilo que foi a temporada. Não faltou lá nada: erros grosseiros de arbitragem, erros tácticos de Jesus, facilitismo dos jogadores do Benfica, e desespero final. Lamentavelmente, os encarnados desperdiçaram assim a última oportunidade para manter alguma incerteza na questão do título (Sporting e Rio Ave iriam jogar com o FC Porto com necessidade absoluta de pontos), e ofereceram a festa antecipada ao rival.
Escrevi aqui, após a derrota portista em Barcelos, que daí em diante o FC Porto já não iria ganhar o campeonato. Só o Benfica o poderia perder. Pois foi isto mesmo que aconteceu.
Jesus diz que os campeões têm sempre mérito. Neste caso, não o reconheço: ainda neste sábado se viram coisas estranhas no Funchal (irei acompanhar com atenção a carreira de Fidelis nas próximas épocas), e se falarmos apenas de futebol, teremos de dizer que foi o suicídio benfiquista que determinou o rumo da competição. Um FC Porto medíocre, sem treinador, sem ponta-de-lança, com quatro médios no plantel, sem jogar futebol, viu cair-lhe nos braços um título, que a dada altura da temporada nem os seus mais ferrenhos adeptos já esperariam. Este foi, precisamente por isso, o título que mais me custou a engolir, de entre os muitos que os portistas venceram nas últimas épocas. Quanto a arbitragens, foi igual a quase todos os outros. Mas, de todos, foi o único que o Benfica teve na mão e deitou fora.

Sobra a Taça da Liga, os quartos-de-final na Champions, e, com a hecatombe bracarense, o mais que provável acesso directo à próxima edição da mesma. Em condições normais, nem seria uma das piores épocas do passado recente, mas...
O futebol continuará com as finais europeias e com o Euro 2012.


PS: Só vi o jogo do Benfica, e aí ficaram três penáltis por assinalar, dois deles a favor dos encarnados. Na Madeira, falou-se de campo inclinado, de dualidade de critérios, mas a mim só me é possível reiterar a estranheza acerca do lance do primeiro penálti (e aproveito para tirar o chapéu ao Rui Santos). Fica aqui a classificação real actualizada:

BENFICA 71

FC Porto 68

Sporting 59

Sp.Braga 56

SEM GLÓRIA

Desaproveitando a vantagem de levava da primeira-mão, o Sporting caiu em Bilbau, e perdeu uma oportunidade histórica de regressar a uma final europeia, para assim vingar a derrota caseira de 2005.
Tal como o Benfica frente ao Sp.Braga, faz agora um ano (então sem foguetório nem qualquer reconhecimento, mas antes com tremenda frustração), o 2-1 conseguido em Lisboa fazia do Sporting o favorito ao apuramento. Para mais, diante de uma equipa conhecida pelo seu poder ofensivo, e…pelas suas debilidades defensivas - que durante toda a primeira parte (enquanto houve Matias, enquanto houve Sporting) ficaram bem à vista.
Até aos 88 minutos, sempre me mantive convencido que o Sporting iria acabar por marcar, e alcançar o que pretendia. Mas, na verdade, olhando para aquilo que se passou em toda a segunda-parte, há que dizer que o resultado é inteiramente justo. Sem Izmailov, e depois também sem o médio chileno (a juntar às já conhecidas ausências de Rinaudo e Elias), o meio-campo leonino revelou-se demasiado frágil para este tipo de exigências. Depois do intervalo, só de bola parada conseguiu ameaçar a baliza de Iraizoz. Ainda assim, o facto de o Athletic também não marcar nas várias oportunidades de que ia dispondo, levava-me a pensar que os deuses estavam, uma vez mais, com Sá Pinto, com Rui Patrício e com o Sporting (como haviam estado, quer em Manchester, quer em Kharkiv). O golo de Llorente tudo resolveu, e já não havia tempo para qualquer veleidade.
A final vai ser entre Atléticos. E o Sporting demorará alguns anos até voltar a ter uma oportunidade tão clara como esta de estar numa final. Se a Liga Europa acabar, talvez até nunca mais tenha.

57 FINAIS, 39 EMBLEMAS


...E NO FIM GANHAM OS ALEMÃES

Num jogo absolutamente dramático, o Real de Cristiano Ronaldo, Mourinho, Coentrão e Di Maria, sucumbiu ao desempate por penáltis, e ficou fora da final da Champions League.
Raramente terei torcido tanto por uma equipa, num jogo entre estrangeiros (se é que se poderá considerar este Real Madrid como tal), como nesta noite. De um lado um conjunto cheio de caras conhecidas (algumas delas simpáticas), onde o treinador e o melhor jogador são portugueses. Do outro, uma equipa alemã, com tudo o que isso significa, sobretudo nos tempos que correm. Infelizmente a coisa acabou mal, e confesso que, sem Barca e sem Real, a final de Munique (com uma equipa a jogar em casa) não terá, para mim, o mesmo encanto.
José Mourinho perdeu a possibilidade de se tornar o primeiro treinador a vencer três títulos europeus por três clubes diferentes, e assim entrar para a eternidade como o melhor de sempre. Cristiano Ronaldo terá perdido a possibilidade de voltar a vencer a “Bola de Ouro”, propriedade exclusiva de Lionel Messi nos últimos anos. O Real fica mais uma vez arredado do jogo decisivo, o que acontece invariavelmente desde os tempos de Figo e Zidane.
Como único aspecto positivo a reter, saliento o facto de Ronaldo e Coentrão ficarem disponíveis mais cedo para a Selecção Nacional.
Independentemente das minhas simpatias (e também tenho alguma por Jupp Heynckes), devo dizer que este Bayern é igualmente uma super-equipa, e tem todo o mérito no apuramento conseguido. De resto, assim de repente não me recordo de ver uma equipa alemã perder um desempate por penáltis, o que não deixa de contrariar a ideia de que os mesmos se tratem de uma mera questão de sorte ou azar. Gary Lineker sabia o que dizia.

LIÇÃO DE SOFRIMENTO

Com autocarro, com felicidade, com sofrimento, mas com muito mérito, o Chelsea surpreendeu a Europa, e, à velha italiana, deixou o super-Barcelona fora da final de Munique.
Lamento por Messi, e pela oportunidade perdida de uma final Real-Barça. Mas, por outro lado, não deixei de achar uma certa piada ao resultado, pensando naqueles que desvalorizavam a equipa londrina quando ela jogou com o Benfica.

CLASSIFICAÇÃO REAL

BENFICA-MARÍTIMO
Nenhum dos lances de eventual mão na bola reclamados, me parece oferecer motivos para a marcação de penálti.
Como erro, apenas consideraria a expulsão poupada a Roberto Sousa, que já com um cartão amarelo, fez falta merecedora de uma segunda admoestação, ainda antes do intervalo.
De resto, o habitual festival de apito de Bruno Paixão, que interrompe os jogos por tudo, por nada, e por mais alguma coisa.
Resultado real: 4-1

FC PORTO-BEIRA MAR
O caso do jogo é o penálti que abriu o marcador. Vendo as repetições, não parece haver motivos que justifiquem a penalidade, embora em movimento rápido fique a sensação de um derrube.
Com um resultado de 3-0, a polémica fica dissipada. Mas, o facto é que uma vez mais, num caso de dúvida, a decisão favoreceu o FC Porto.
Resultado real: 2-0

NACIONAL-SPORTING
Só vi os golos, e o lance que originou o penálti decisivo. Nada a dizer quanto a essa decisão.
Resultado real: 2-3

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 68
FC Porto 65
Sp.Braga 56
Sporting 56

DESTA VEZ DEU...RONALDO!

Que super-forma exibe o madeirense!!! Céus!!! 60 golos!!!! Decidiu o Clássico, e o título! Espero ansiosamente que se mantenha assim até ao Euro 2012, onde será a estrela-maior.

FORAM-SE OS ANÉIS, QUE FIQUEM OS DEDOS!


Mesmo sem esperanças fundamentadas de ainda chegar ao título, o discurso optimista de Jorge Jesus teve o condão de manter a equipa motivada, e disposta a lutar pela(s) vitória(s). Daí resultou uma exibição bastante agradável (embora descontínua), um resultado gordo, e os três preciosos pontos na luta pelo…segundo lugar.
Com o empate do Sp.Braga em Paços de Ferreira, só uma tragédia tirará o Benfica do apuramento directo para a fase de grupos da Liga dos Campeões do próximo ano, onde deverá marcar presença pela terceira vez consecutiva, e pela sexta vez em oito anos – o que depois de dez épocas (1995 a 2005) com uma única participação, não é coisa de somenos.
Nolito foi o homem da tarde, com dois golos e duas assistências. Ele, tal como Capdevila, ou mesmo Saviola, mostraram que talvez tivessem merecido outro tipo de utilização, sobretudo na fase da temporada em que era necessário poupar os elementos mais desgastados. De resto, a equipa encarnada, com Saviola e Aimar em simultâneo, fez lembrar, a espaços, a do último título.
É preciso dizer também que o Marítimo parece em quebra, o que acentua ainda mais o conforto do FC Porto na primeira posição, sendo essa justamente a sua mais difícil deslocação até ao fim do Campeonato.
De estranhar o sétimo jogo consecutivo de Óscar Cardozo sem marcar. Mesmo sem jogar mal, o paraguaio tem andado arredado dos golos, o que não será totalmente dissociável dos mais recentes resultados da equipa.
Bruno Paixão esteve globalmente bem, embora a sua proverbial forma de apitar, interrompendo o jogo por tudo e por nada, me irrite solenemente.

MUITO EM JOGO

Já não acredito no título. Mas o 2º lugar é absolutamente vital, pelo que o Campeonato ainda exige muito do Benfica. Nesta luta, só depende de si. Mas não pode vacilar. Fica o onze para o jogo com o Marítimo:

QUE NEM LEÕES!

As últimas impressões são as que perduram, e os últimos quinze minutos do Sporting, nesta primeira-mão da meia-final, mostraram uma equipa empolgante e endiabrada, na busca de um terceiro golo que tornasse a viagem ao País Basco mais tranquila.
Até aí o jogo fora substancialmente diferente. E quando, na sequência de um canto, uma bola disparada à queima embateu estrondosamente no poste da baliza de Patrício, a equipa de Sá Pinto parecia rendida…e eliminada. O estranho golo de Ínsua (porque não viu o Benfica este lateral-esquerdo?), tudo mudou.
O futebol é assim mesmo: é o momento, é o golpe de sorte, é o detalhe fatal…ou feliz.
Diga-se, porém, que este Sporting impressiona pela raça que coloca na disputa de cada bola. É uma equipa tremendamente generosa, e bastante confiante nas suas armas. Foi assim que bateu o Manchester City, o Benfica, e agora o Atlético de Bilbau.
Parabéns a Sá Pinto, que já aqui disse tratar-se de uma agradável surpresa - quer sob o ponto de vista técnico-táctico, quer pelo seu discurso, que sem perder a ambição, tem revelado serenidade, ponderação e respeito.
Quanto à eliminatória, se a coisa estava 50%/50%, após este jogo daria 65% de hipóteses à equipa portuguesa.

OLHA QUEM SÃO ELES!

O mesmo Chelsea que há duas semanas atrás era fraco, pouco ou nada valia, estava decadente, era adversário acessível, e qualquer um estava obrigado a ganhar-lhe, venceu agora o todo-poderoso Barcelona, e colocou-se numa posição privilegiada para chegar à segunda final da sua história.
Uma vitória em casa, sem sofrer golos, é, a este nível, um resultado precioso. Um golo marcado em Camp Nou, e o Barcelona estará em apuros.
Este Chelsea, muito italianizado por Di Matteo, é hoje uma equipa cínica, que dá a bola e o espaço ao adversário, para se tornar letal no contra-ataque. Foi assim com o Benfica (que fez melhor resultado em Stanford Bridge do que o Barça). Foi assim na Taça de Inglaterra, onde despachou o Tottenham por 5-1 (!). Repetiu a fórmula frente aos campeões europeus, para já, com sucesso.
O jogo da segunda-mão promete, com o Barcelona a ter de puxar dos galões.

POUCO REAL

A expectativa era grande, mas o jogo nem foi particularmente atractivo.
O Real Madrid desiludiu um pouco, sobretudo quando, alcançado o empate, praticamente desistiu de procurar a vitória. Foi castigado com um golo nos últimos minutos, que trouxe alguma justiça ao placard.
A vantagem bávara é magra, mas numa eliminatória tão apertada, pode ser decisiva.
Na próxima semana, jogo de deuses no Bernabeu. E já hoje, Chelsea-Barcelona começam a discussão meia-final onde deveria estar o Benfica.

AGENTE POUCO SECRETO

O homem que pintou os túneis de Alvalade com imagens de violência,
o homem que moralmente causou o incêndio nas bancadas da Luz,
o homem que ameaçou um árbitro no intervalo de um jogo,
o homem que mandou depositar dois mil euros na conta de um juiz-de-linha,
o homem que é acusado de espionagem a jogadores e dirigentes do seu próprio clube,
…continua a ser vice-presidente do Sporting.

DUAS DÚVIDAS

1) Quanto custa pagar a 15 ou 20 maltrapilhos para descredibilizar uma conquista, uma equipa, um treinador ou uma direcção? Umas gramas de haxixe? Alguns trocos? Um par de ténis para cada um?

2) No caso Cardinal, não fará mais sentido pensarmos numa tentativa de suborno falhada (e rapidamente dissimulada), do que na tal cilada de que se fala?

MUITO MELHOR QUE NADA

As palavras de Rodrigo, no fim do jogo, espelham bem aquilo que é hoje uma discussão totalmente absurda em torno da importância da Taça da Liga, para a qual, diga-se, alguns benfiquistas têm também contribuído.
A Taça da Liga não é a Champions League, nem o Campeonato Nacional. Ninguém, alguma vez, o pretendeu dizer. É a terceira prova do calendário nacional, e tem a importância que tem – tal como, um pouco mais, a Taça de Portugal, e um pouco menos, a Supertaça. Ganhá-la, como ganhar qualquer um destes troféus, é importante (uns mais, outros menos), e deve ser valorizado. Não chega para salvar a época a um clube que investiu forte para ser campeão nacional, mas chega para tornar essa época um pouco menos sombria. Tudo isto me parece lógico. Tudo isto me parece óbvio. Não sei porque se discute.
A final foi uma festa, e teve um vencedor justo. O Gil Vicente sentiu o peso da ocasião, e o Benfica, mesmo sem brilhantismo, soube desempenhar o seu papel de favorito. Ganhou a prova pela quarta vez, depois de eliminar V.Guimarães, Marítimo e FC Porto, vencendo nesta final uma equipa que tem vindo a realizar uma temporada excepcional. Em Coimbra fez o que lhe competia, não tendo culpa dos seus rivais terem ficado pelo caminho.
É pena que este triunfo tenha chegado imediatamente após duas derrotas que custaram o adeus às duas principais provas em que o Benfica estava envolvido. O estado de espírito dos adeptos não era o melhor, e muitos não se esqueceram que o Campeonato tinha ficado hipotecado poucos dias antes. É por isso natural que a festa tenha sido contida, mas nada justifica a reacção estúpida de meia dúzia de imbecis à chegada dos jogadores à Luz. O momento em que se ergue o único troféu da temporada, parece-me o timing mais desadequado para manifestações daquele tipo, que não escondem haver alguém por trás. A comunicação social faz o resto, dando o mesmo destaque aos 15 mil benfiquistas que se deslocaram a Coimbra e apoiaram a equipa, que a dez encapuçados numa rua de Lisboa.
Para a história fica mais um troféu, ganho com todo o mérito. Esta é assim a sexta, das últimas nove temporadas, que o Benfica termina com, pelo menos, uma conquista. Se nos lembrarmos que em 18 anos o Benfica foi campeão apenas duas vezes, em 16 ganhou somente uma Taça de Portugal, e há 50 anos que não vence um título europeu, os últimos números não podem deixar de ser tomados como positivos.

PARA AFOGAR AS MÁGOAS

Há quem não goste da Taça da Liga. Há quem a desdenhe por nunca a ter conseguido ganhar. Há quem a ache inútil. E há, também, alguns que gostam dela.
Eu pertenço a este último lote, coisa que pode ser comprovada por tudo aquilo que escrevi desde que a competição foi criada, e mesmo antes do Benfica a ter vencido pela primeira vez.
Assisti a duas finais (Sporting e Paços de Ferreira), e sempre a considerei uma excelente ideia, e um projecto com futuro. O regulamento é um pouco estranho, mas compreende-se à luz da necessidade de cativar patrocínios. Critica-se o facto de não dar acesso à Liga Europa, mas, segundo se diz por aí, esta sim, estará condenada ao desaparecimento dentro de poucos anos. Já tenho mais dificuldade em compreender o horário tardio da Final, que contraria um pouco o espírito que se lhe quer atribuir.
Mesmo tarde, adorei o clima de desportivismo em redor da última edição, e é isso que espero agora ver repetido, se possível também com uma vitória do Benfica.
Circularam na passada semana mensagens que aconselhavam a não levar crianças ao Dérbi lisboeta. Ora desta final da Taça da Liga, quase se poderia dizer o contrário: levem as crianças, as famílias, e desfrutem de uma final, sem a odiosa pressão de outras competições, mas com estádio cheio, alegria, tranquilidade, segurança, futebol e festa.
Pena que o Benfica venha de duas derrotas importantes (no ano passado vinha de perder a Taça de Portugal em casa com o FC Porto), o que retira entusiasmo aos seus adeptos, e acrescenta pressão aos jogadores. Mas creio que, mesmo assim, a noite será festiva.

AFINAL HAVIA OUTROS

A teia em redor do caso-Cardinal é ainda demasiado densa para permitir opiniões fundamentadas, além de que, tratando-se de um caso de polícia, é a ela, e só a ela, que cabe apurar os factos. Foi o Sporting? Foi o Marítimo? Foi uma cilada? Não sei. Devo dizer que, não havendo condenações para casos anteriores, e desconfiando quanto baste da espécie humana, acho natural que este tipo de coisas voltem a acontecer. E puxando pelo baú das recordações, também não tenho muita pena de José Cardinal. Mas não o posso, obviamente, acusar de nada. Nem a ele, nem a nenhum dos restantes protagonistas deste caso.
O problema levanta-se porém num contexto mais genérico, e tem a ver com o poder que os árbitros-assistentes têm no futebol, o qual não encontra paralelo no semi-obscurantismo mediático em que vivem. Quando as coisas correm mal, lançam-se culpas ao árbitro principal, esquecendo-se que nem sempre reside aí a causa primeira do erro. Os outros, os assistentes, são ignorados, como se fossem autómatos, como se não tivessem vontade própria, como se não tivessem interesses, preferências ou problemas matrimoniais, como se fossem…uma simples bandeira colorida.Ficou para a história o célebre golo de Petit a Vítor Baía, que Olegário Benquerença não sancionou. Olegário Benquerença, disse eu? Disse mal, efectivamente, por muitas más arbitragens com que esse senhor nos tenha brindado, nessa ocasião a culpa não foi dele, mas sim do assistente (ou auxiliar, ou fiscal-de-linha, ou liner, ou bandeirinha, ou lá como se chamava na altura). Ainda recentemente, Pedro Proença validou um golo ilegal do FC Porto, também no Estádio da Luz. Pedro Proença, disse eu? Disse mal, pois ao árbitro principal jamais seria possível ver o lance em boas condições. Luís Tavares e Ricardo Santos passaram assim por entre os pingos da chuva de dois dos mais negros momentos da arbitragem portuguesa nos últimos anos (não por acaso favorecendo ambos o FC Porto).
É esta sombria questão que o caso-Cardinal tem agora o condão de puxar, com estrondo, para a agenda mediática do futebol português.

A CARA E A COROA DE JESUS

Enumerei, na figura acima, aqueles que me parecem ser os pontos fortes e os pontos fracos do treinador do Benfica. Se me perguntam se deve continuar, confesso que tenho dificuldades em responder neste momento. A perda do Campeonato ainda não cicatrizou por completo, e não é a quente que se tomam decisões, ou emitem opiniões. De qualquer modo, se o Benfica perder a Taça da Liga, e não mantiver o 2º lugar, creio que não haverá qualquer hipótese de continuidade. Se suceder o contrário, talvez seja de cumprir o contrato até ao fim, dando mais uma oportunidade a um técnico no qual, apesar de tudo, encontro mais aspectos positivos do que negativos. Até porque, no panorama actual, não vejo nenhuma alternativa que me satisfaça plenamente.

CLASSIFICAÇÃO REAL

SP.BRAGA-FC PORTO
Bem no julgamento de duas faltas muito perto da área portista, mas fora dela, Olegário Benquerença deixou a sua marca ao não expulsar Defour, com 2º cartão amarelo, como se impunha em lance ainda antes do intervalo.
Resultado Real: 0-1, mas…sabe-se lá…

SPORTING-BENFICA
Arbitragem muito fraca, com erros sucessivos.
Vários casos no aspecto técnico:
- Penálti claro por assinalar sobre Gaitán, no primeiro minuto de jogo, faltando também o correspondente cartão amarelo a Polga.
- Aceita-se o penálti assinalado, embora com critério muito estreito no julgamento do contacto.
- Algumas dúvidas em lance entre Garay e Wolfswinkel, à entrada da área do Benfica (não se consegue perceber se fora, se dentro). Eu não marcaria nada, mas com o critério estreito aplicado ao lance anterior, poder-se-ia considerar faltosa a intervenção do argentino.
- Agarrão de camisola a Luisão, por Izmailov, na área leonina. Seguindo o critério do penálti assinalado, aqui também haveria lugar à marcação de falta, ou seja, grande penalidade.
- Yannick Djaló travado em falta muito perto da área. Seria livre perigoso. Cardozo estava desinspirado, mas isso não é assunto que diga respeito ao juiz da partida.
E vários casos, também, no plano disciplinar:
- Perdoada a expulsão a Schaars, que vê um cartão bem mostrado, alguns minutos depois de uma outra falta, na zona intermediária, que teria igualmente de valer o respectivo amarelo.
- Perdoada a expulsão a João Pereira, que em três lances para amarelo, apenas viu um.
Resultado justo, atendendo ao futebol jogado: vitória do Sporting.
Resultado Real: 1-1, com muito boa vontade (1-2 se considerarmos o agarrão de camisola a Luisão).

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 65
FCPorto 62
Sp.Braga 55
Sporting 53

THE END


A derrota do Benfica em Alvalade põe um ponto final na luta pelo título, significando, como já aqui dissera, a consumação de um fracasso para a equipa de Jorge Jesus, sobretudo se não esquecermos as expectativas que lhe foram colocadas sobre os ombros no início da época, e a confortável vantagem de que chegou a usufruir, já depois de dobrada a primeira volta do Campeonato. Mesmo ganhando a Taça da Liga (o que ainda não é líquido), o Benfica já não se salvará do crivo de uma segunda temporada consecutiva muito aquém das legítimas ambições dos seus adeptos, e nada correspondente ao valor dos investimentos realizados pela sua direcção. A discussão acerca das razões que levaram a isto não deverá ser feita a quente, mas a breve trecho não poderá ser evitada, até porque é possível identificar muitos pontos comuns na forma como o Benfica perdeu a Taça de Portugal e a Liga Europa de 2010-11, e no modo como deitou para o lixo este Campeonato de 2011-12, que a dada altura chegou a parecer pousado em suas mãos.
Como uma fiel metáfora daquilo que foi o Campeonato no seu todo, o decisivo jogo de Alvalade pode também analisar-se em dois planos distintos. Um, o da arbitragem, que inegavelmente influenciou o resultado (e, já em momentos anteriores, o Campeonato), escamoteando um penálti claro aos encarnados quando ainda não estava completo o primeiro minuto, e voltando a pecar pela diferença de critérios em face de um lance discutível (entre Luisão e Wolfswinkel), e de um outro, a meu ver, mais flagrante (entre Izmailov e o mesmo Luisão), na área contrária. Outro plano de análise terá de nos remeter para a exibição medíocre da equipa do Benfica ao longo de toda a partida, deixando-se vulgarizar por um adversário estruturalmente inferior, coisa que se estranha atendendo a tudo aquilo que estava em causa nesta jornada. Uns optarão por centrar argumentos no primeiro aspecto, o da arbitragem. Outros privilegiarão o segundo, o do pouco futebol. Quanto a mim, não deixando de exprimir a revolta por mais uma actuação penalizadora de uma equipa de arbitragem, não deixando de me recordar de penáltis por marcar em Guimarães, em Coimbra, em Paços, nem do golo fora-de-jogo que acabou por fazer a diferença na globalidade da prova, não posso também deixar de dizer que o Benfica do último mês e meio se colocou a jeito do insucesso, e que também neste jogo nada fez para conseguir ser feliz. É de resto esse o balanço que agora mais me interessa fazer, pois é nele que o clube tem de concentrar atenções na hora de preparar as próximas épocas. Admito que, para o exterior, o discurso seja o da desculpabilização, e não faltam argumentos para ele. Mas, lá dentro, terá de prevalecer o da…responsabilização, pois se o Benfica tem ganho em Guimarães, em Coimbra e em Olhão, estaria agora calmamente no primeiro lugar.Deste jogo, desta temporada, bem como da anterior, ressalta um dado que não me canso de lembrar, e que se prende com o perfil físico da equipa. A minha dúvida de leigo é se estes jogadores, dada a sua morfologia predominantemente franzina, estarão menos vocacionados para o futebol fisicamente exigente (esgotante?) que o seu treinador lhe pretende impor (mesmo em jogos menores, como alguns do mês de Janeiro), terminando as épocas de gatas, ou se é a própria gestão do treinador que leva a equipa ao esgotamento total, verificado nas fases decisivas destas duas últimas temporadas, com resultados dramáticos. No primeiro caso, há que reformular o plantel, e dotá-lo de três ou quatro gladiadores, com alto rendimento competitivo (sendo cáustico eu diria, à Porto), mesmo se tecnicamente menos dotados que um Aimar, um Saviola, ou um Gaitan. No segundo caso, não haveria como contornar as responsabilidades de um treinador que, a ser assim, não teria condições para permanecer num clube com as ambições nacionais e internacionais do Benfica. Obviamente, não tenho dados, nem conhecimentos científicos, para emitir opiniões definitivas sobre a matéria. Apenas apelo a uma reflexão fria e aprofundada, que não pode, nem deve – em nome do benfiquismo – ser varrida para debaixo do tapete dos erros de arbitragem. Penáltis à parte, o Benfica não merece ganhar este campeonato, e vai perdê-lo, muito por culpa própria, para um dos mais débeis FC Portos das últimas décadas. Independentemente de outras opiniões, esse é o facto.No meio da mediocridade generalizada, não posso deixar de salientar Artur, como o melhor homem em campo. Já noutras fases da temporada ele andou com a equipa ao colo. E agora, mais uma vez, não fora ele e o Benfica poderia ter saído humilhado de Alvalade. A sua actuação fez-me lembrar uma outra, de Preud’Homme, em jogo a que assisti no antigo estádio do Sporting, e que curiosamente também terminou com 1-0 a favor dos leões. Evocar o grande guarda-redes belga é o melhor elogio que posso hoje fazer ao número um encarnado.
Em sentido contrário, não consigo perceber o que se passa com Rodrigo. Uma lesão de seis meses, e até se perceberia a quebra de ritmo. Não foi o caso. Esteve uns dias sem treinar, e nesse curto período passou de um dos grandes craques do Campeonato português, a uma caricatura de um avançado de clube grande. Razões físicas, ou psicológicas? E agora até Cardozo parece eclipsar-se, acentuando ainda mais as debilidades de uma equipa em que os avançados, estranhamente, deixaram de marcar golos. Takuara não marca há 5 jogos, Nélson há 8, Rodrigo há 13 e Saviola há 21. A bola não tem chegado lá muitas vezes, mas…
Sobre Soares Dias já disse o essencial. Errou gravemente no primeiro lance (a única dúvida que me ficou, num primeiro momento, e depois dissipada pelas repetições televisivas, foi a de o lance ter ocorrido dentro ou fora da área, mas ele nem livre assinalou), e não manteve o critério até final da primeira parte. Não quero lançar suspeições sobre um árbitro que nem considero dos piores. Mas também não gostei de ver um juiz da Associação do Porto designado para um jogo tão importante como este, onde um título poderia ficar entregue a um clube dessa mesma Associação.
Para terminar queria manifestar, uma vez mais, a minha estranheza pela forma como o mundo sportinguista entende a rivalidade com o Benfica, bem reflectida nos festejos de uma vitória que não aqueceu nem arrefeceu o pobre campeonato do Sporting, e nas inflamadas declarações de populares à saída do estádio. Na verdade, não consigo perceber (estou a ser absolutamente sincero) porque motivo conseguem agregar tanto ódio a um adversário que, pelo menos em termos institucionais, nunca os hostiliza, e que nem sequer tem ganho títulos com frequência nas décadas mais recentes. No passado (anos sessenta, setenta) a coisa fazia sentido. Actualmente, a rivalidade lógica do futebol português é a que acontece entre Benfica e FC Porto, dois primeiros classificados, também, destes últimos campeonatos. É claro que a história pesa, e eu também não gosto do Sporting. Nunca esperaria que em Alvalade gostassem do Benfica. Mas…tanto ódio?!!?? Como? E, sobretudo, porquê?!? O que vê o sportinguista comum no Benfica? Inveja pela popularidade do clube da Luz? Pela sua maior dimensão? Pelo tratamento alegadamente preferencial da imprensa? Que culpa tem o Benfica disso? Sinceramente, mesmo depois de um ciclo de seis vitórias consecutivas (agora quebrado), tudo isto é algo que transcende a minha compreensão.

PS: A Taça da Liga não irá salvar a época, mas pode, e deve, servir para limitar os danos. É um troféu, pode ser uma conquista. Além do mais, é importante que a equipa não desmobilize, pois o segundo lugar no Campeonato está em causa, e é de importância crucial, quer em termos financeiros, quer em termos de preparação da próxima temporada.

GANHAR OU...GANHAR

Não há terceiras vias, nem chás ou pomadas. Se o Benfica não ganhar em Alvalade, estará irremediavelmente afastado do título, e terá uma vez mais na Taça da Liga o único troféu onde se agarrar. Fora da Europa, fora da Taça de Portugal, se o Benfica não ganhar em Alvalade, verá a sua temporada condenada ao fracasso. Fracasso relativo (Taça da Liga e 2º lugar) ou fracasso absoluto (nenhum troféu e 3º lugar), mas, em qualquer dos casos, fracasso. São estes os factos, e só o seu simples enunciar chegaria para toda a estrutura benfiquista olhar para este jogo com uma final…ou como uma finalíssima. A começar por Jorge Jesus, a quem não prevejo vida fácil caso o caldo hoje se entorne.
No outro lado da moeda está a possibilidade de vitória, e com ela, o alimentar da chama do título. É verdade que faltará menos uma jornada, é verdade que os benfiquistas viram, neste sábado, Braga por um canudo. Mas é também verdade que a equipa encarnada, em caso de triunfo, terá ultrapassado, nesta ronda, o mais difícil obstáculo que lhe restava até final. Disporá, a partir daí, de um calendário substancialmente mais favorável que o do FC Porto, e colocará uma pressão adicional em Vítor Pereira e seus comandados. Alem de que, uma vitória no dérbi é sempre…uma vitória no dérbi.
Não creio, porém, que o FC Porto deixe de ser o principal favorito, mesmo que o Benfica hoje ganhe. Nesta fase, depender apenas de si próprio significa manter a capacidade de criar uma dinâmica de vitória que normalmente se alimenta a si própria. Sobretudo num clube cujas sucessivas equipas nos habituaram a uma força mental assinalável. Falando justamente de força mental, ou falta dela, as melhores chances dos encarnados foram deitadas fora em Guimarães, em Coimbra e em Olhão (jogos em que, uma só vitóriazinha, valeria agora a liderança isolada), e chegados aqui, só por felicidade a situação poderá ser revertida. Ganhando em Alvalade, o Benfica estará apenas a abrir uma porta por onde essa eventual felicidade pode ou não vir a entrar. Não ganhando, fechá-la-á definitivamente. Em nenhuma situação terá boas perspectivas. Terá, na melhor das hipóteses, a possibilidade de manter…algumas perspectivas.
Como vantagem, o Benfica terá a tradição recente, e também a maior frescura da equipa (um dia a mais de repouso). Como desvantagem, a moralização que o Sporting tem conseguido na Liga Europa, e que o fará encarar este jogo com uma confiança (e sem qualquer pressão) bem maior do que tem sido comum nos últimos anos. A ausência de Aimar também é um contra-tempo digno de referência. Não vou cair no erro de fazer previsões, pois os dérbis não aceitam tal coisa. Nem sequer falarei de favoritos. Apenas digo que acredito na vitória do Benfica. Confesso que, mais neste jogo, do que propriamente no campeonato.
Título à parte, ganhar ao Sporting significará também, uma mais do que provável qualificação directa para a próxima Liga dos Campeões. O futebol moderno tem aliás destas coisas: o Sporting pode vencer a Liga Europa, vencer a Taça de Portugal, terminar a temporada em glória, e ganhar meia dúzia de cêntimos com tudo isso. O Benfica pode fracassar por completo, e todavia encher os cofres com uns quartos-de-final, que já atingiu, e a garantia de uma nova presença na fase de grupos da Liga milionária, que pode facilmente atingir.
Ficam aqui as minhas memórias de dérbis, já publicadas noutras ocasiões, e fica também o meu onze para a partida.

E VÃO...

UMA , DUAS
, TRÊS

, QUATRO

, CINCO

, SEIS

...A ZERO!

ACTUALIDADES

SPORTING NA EUROPA – Duas exibições quanto baste, e um super-Rui Patrício (que esteja assim no Euro…), foram suficientes para os leões afastarem a equipa mais modesta (grande estádio, muita velocidade, mas muito pouca técnica) dos quartos-de-final da Liga Europa, e repetirem o feito do Benfica na temporada passada. Têm agora o empolgante Atlético de Bilbau de Marcelo Bielsa pela frente, para tentar a presença na final, repetindo o feito do Sp.Braga na temporada passada. Se assim for, e vencerem o Atlético de Madrid, ou o Valência, em Bucareste, repetirão o feito do FC Porto na temporada passada. Curiosamente, na mesma fase em que, em 2010-11 estavam três equipas portuguesas e uma espanhola, agora a situação inverte-se: três espanholas e uma portuguesa, todas diferentes do ano anterior. Engraçada, esta Liga Europa.
Do jogo de Karkhiv, queria deixar apenas uma nota, que aliás ficara por mencionar desde a eliminatória com o City. Recordo-me de muitos sportinguistas criticarem veementemente o Artur por, no dérbi da Luz, ter simulado uma lesão para queimar tempo. Que dirão agora da forma como o Sporting tentou passar os últimos minutos destas duas eliminatórias, quer em Inglaterra, quer na Ucrania? Eu, assim de repente, não me lembro de ver tanto anti-jogo nas competições europeias dos últimos anos. As responsabilidades são dos árbitros, e não levo a mal a Sá Pinto, nem aos jogadores do Sporting, que tenham tentado essa estratégia, aliás com inteiro sucesso. Mas…não falem dos outros. É como a questão do Fundo de Jogadores, é como a questão da Caixa de Segurança para os adeptos…
Não sou hipócrita. As vitórias internacionais de outros clubes portugueses não me proporcionam um miligrama de satisfação. Neste caso, se na eliminatória anterior ainda havia a vantagem de aplicar uma pequena humilhação ao FC Porto (que fora goleado pelo mesmo adversário), agora nem isso. Não perdi o sono, nem me preocupei nada com este resultado, mas não me peçam para torcer pelo Sporting. Já o fiz no passado, mas hoje, depois de uma profunda reflexão sobre o tema, parece-me que tal não faz qualquer sentido.
Isto não me impede de tirar o chapéu a Sá Pinto, pela garra que incutiu na equipa, e pela surpreendente serenidade que revela no seu discurso. Um “senhor”, que eu não conhecia.

MAIS LONGE – A vitória do Valência sobre o Alkmaar permitiu-lhe ganhar uma posição ao Benfica no ranking da UEFA, posição essa que pode determinar a oitava equipa do pote 1 no sorteio dos grupos para a próxima edição da Champions League. Resta a possibilidade da equipa espanhola não se apurar (teria de ser ultrapassada por Levante e Málaga no seu campeonato), para o Benfica poder usufruir desse privilégio. Mas, depois de uma semana europeia particularmente azarada, tal já não me parece viável.

SP.BRAGA-FC PORTO – Há cerca de duas semanas, à mesa de um restaurante, e perante um amigo comum, tive oportunidade de manter uma interessante conversa com um portista convicto, residente no Porto, e próximo de algumas pessoas da estrutura do FC Porto. Não irei obviamente revelar nomes, em respeito ao meu amigo, em respeito a esse simpático e pitoresco interlocutor, e em respeito à forma cortês como a coisa decorreu – ao fim de um par de horas, as rivalidades clubistas haviam cedido ao bom vinho e aos bons pitéus que íamos partilhando.
Falando sobre o campeonato, e dando cada um, educadamente, os seus palpites sobre o que poderia acontecer, chegou-se ao Sp.Braga-FC Porto. Eu, ingenuamente, disse que me parecia ser o jogo mais difícil para a equipa de Vítor Pereira até final. Incrédulo, o homem respondeu:”Bocê está luouco??? em Braga??? Nem pense nisso!!!! Esse juogo está gainho! Sei benhe o que estau a dizer!!!” Perante tão convicta resposta, meti a viola no saco, e limitei-me a responder: “Se você o diz, você o saberá. O Braga está na luta, e teoricamente é difícil. Mas…talvez não seja”. Se ainda tinha dúvidas, fiquei com a certeza que desta jornada nada iria pingar.
Nem sequer vi a primeira parte, e só a insistência de familiares que tinha em casa me fizeram ver a segunda. Não foi preciso esperar mais do que cinco minutos para o Hulk rematar, o Nuno André Coelho ficar a olhar para ele, e a bola a entrar. Senti que nem seria preciso Olegário Benquerença entrar em acção. O assunto estava arrumado.
Ao Benfica resta ganhar todos os jogos, e esperar por um deslize portista no Funchal. Aí, talvez não haja amizades, nem simpatias…

JUSTO RECONHECIMENTO


Não gosto de vitórias morais, mas há alturas em que, mesmo na hora da derrota, é preciso apoiar e reconhecer os méritos daqueles que, em circunstâncias particularmente adversas, lutaram com bravura contra o mundo.
O Benfica terá feito em Londres, mormente na segunda parte, a melhor exibição da temporada. Uma exibição de arreganho, de combate, de raça, e de vontade de ganhar, que dignificou o clube e o futebol português. Merecia claramente estar entre os quatro maiores da Europa, ao lado de Real Madrid, Barcelona e Bayern de Munique. Não está, porque não o deixaram estar.
Independentemente do que aconteça no campeonato, os encarnados fizeram, globalmente, uma grande temporada internacional, e isso tem de ser agora enaltecido.
Se esta atitude competitiva tivesse estado presente em Guimarães, em Coimbra e em Olhão, o campeonato estava ganho. Essa é a minha maior mágoa. Mas se estiver presente nos cinco jogos que faltam, talvez ainda seja possível chegar ao título. Esse é agora o grande desafio.
O Benfica de Londres é o meu Benfica. É aquele que luta até ao fim. É aquele que não se resigna às contrariedades. É aquele que me enche de orgulho, mesmo quando o resultado não é o desejado.
Foi pois amplamente merecida a recepção dos adeptos no aeroporto, e se eu pudesse também lá teria estado.

QUE MAL LHE FEZ O BENFICA?

"Os encarnados tiveram tudo contra si. Desde logo o resultado da primeira mão, que conferia vantagem aos franceses. Mas também tiveram bastante infelicidade em várias das oportunidades desperdiçadas, e, sobretudo, na inqualificável arbitragem de um esloveno do qual não quero nem recordar o nome. É pouco usual, depois de uma importante vitória europeia, lembrarmo-nos, com revolta, do desempenho do árbitro. Pois este senhor tudo fez para colocar o Benfica fora da Liga Europa, com dois penáltis por assinalar, e uma série de equívocos tecnicos e disciplinares, sempre em desfavor da equipa portuguesa" MARSELHA-BENFICA, Março de 2010

"O árbitro protegeu em demasia a equipa mais famosa, nomeadamente ao perdoar dois livres a favor do Benfica em zona de perigo" BENFICA-M.UNITED, Setembro de 2011

"Aquilo que se viu, principalmente durante a primeira parte, faz-me deixar de acreditar no futebol europeu enquanto jogo honesto. Não sei se a culpa é de Platini, se o esloveno será um simples peão de uma qualquer estratégia oculta, ou se foi o dinheiro de Abramovic a ditar o rumo desta eliminatória. O que é facto é que o Benfica foi varrido da Champions, pela pior arbitragem de sempre em toda a sua história europeia - que cedo deixou bem vincada a sua vontade" CHELSEA-BENFICA, Abril de 2012


Lamentável a sequência de arbitragens deste esloveno em jogos internacionais do Benfica. Um verdadeiro Benquerença à escala europeia.
Tanta coisa junta, não pode ser coincidência. E a dúvida que me fica é se se trata de algo pessoal, ou estamos mesmo perante um conluio ao mais alto nível das instâncias do futebol europeu.
Será responsabilidade de Platini, que quer proteger o seu negócio, colocando as equipas com maiores audiências planetárias nas fases finais?
Será responsabilidade do próprio árbitro, eventualmente agraciado pela generosidade de alguém (Abramovic?)?
Terá sido uma simples compensação da UEFA pela arbitragem de há dois anos, num Chelsea-Barcelona?
Haverá alguma influência obscura no interior da UEFA contra o Benfica (Guilherme Aguiar? António Garrido? Benquerença? Outros?)?
Haverá algum défice de comunicação do Benfica perante a UEFA?
O que é preciso fazer para acabar com isto? E porque não se faz?
Não queria embarcar em teorias de conspiração, mas à semelhança do que sucede em Portugal, também na Europa o Benfica tem sido vítima de verdadeiros assaltos (recordo, por exemplo, os quartos-de-final de 2006, ante o Barcelona). E esta arbitragem, com uma descarada dualidade de critérios, deixou bem à vista que algo se passa.

FRAUDE!

Uma dose de azar nunca vista, e uma arbitragem absolutamente criminosa, puseram fora da Liga dos Campeões uma grande equipa.
O Benfica de Londres foi gigante, lutou bravamente contra a fatalidade, e merecia muito mais do que uma eliminação honrosa.
Infelizmente, numa altura em que as instituições europeias perderam toda a sua credibilidade, numa altura em que a Europa se vai suicidando aos olhos do mundo, é natural que também a UEFA não queira ficar atrás. Aquilo que se viu, principalmente durante a primeira parte, faz-me deixar de acreditar no futebol europeu enquanto jogo honesto. Não sei se a culpa é de Platini, se o esloveno será um simples peão de uma qualquer estratégia oculta, ou se foi o dinheiro de Abramovic a ditar o rumo desta eliminatória. O que é facto é que o Benfica foi varrido da Champions, pela pior arbitragem de sempre em toda a sua história europeia - que cedo deixou bem vincada a sua vontade.
O orgulho é que nenhum esloveno de segunda categoria poderá tirar aos benfiquistas, que devem unir-se em torno desta equipa, e tranformar a revolta numa grande vitória em Alvalade.

NADA A PERDER, TUDO A GANHAR


Estar na segunda mão de uns quartos-de-final da maior prova de clubes do mundo, a um golo de empatar a eliminatória, e com noventa minutos para o fazer, é algo que deixa, obrigatoriamente, os adeptos a sonhar com o paraíso.
Em futebol tudo é possível, são onze de cada lado, e a bola é redonda. Vontade de fazer história é coisa que não falta , e, chegado aqui, ao Benfica nada mais resta senão tentar ser feliz.
A equipa encarnada já cumpriu a sua obrigação nesta Champions, pelo que nada tem a perder. Chegou onde era possível chegar, venceu quem tinha de vencer, e integrar o estrito lote dos oito melhores do planeta é, desde logo, motivo de orgulho para um clube que - não o esqueçamos - vive ainda num processo de recuperação da sua identidade ganhadora. Não teve a pontinha de felicidade de que necessitava para pôr esta eliminatória a seu jeito, e chega a Londres na desconfortável posição de ter de virar um resultado. Nada que não seja natural quando se defrontam equipas do primeiro mundo do futebol internacional, ao qual este Chelsea claramente pertence, e ao qual o Benfica de hoje apenas tenta aproximar-se.
Se me pedissem um palpite, diria que restavam aos encarnados 15% de hipóteses de chegar às meias-finais. São poucas mas existem. Há pois que procurar essas hipóteses.
Se Luisão recuperar, creio que Jesus poderá apresentar uma equipa competitiva, e à altura da ocasião, recuando Javi e fazendo entrar Matic para o miolo. Se houver necessidade de “inventar” centrais, as coisas tornam-se necessariamente mais difíceis. Defendo, contudo, que Luisão só deva ser utilizado no caso de não existir qualquer risco de agravamento da sua mazela, pois o campeonato pode decidir-se dentro de dias, e, ao contrário do que sucede com esta Champions League, perder na luta interna seria dramático.
Noutros momentos critiquei o treinador benfiquista por ser demasiado audaz nos jogos europeus fora de casa. Hoje estará como gosta, devendo entrar com tudo, à procura de uma oportunidade para repor o equilíbrio na eliminatória. Se marcar primeiro, o Benfica pode embalar para uma noite de glória. Mas mesmo que sofra um golo, nada ficará perdido. Se, por exemplo, chegar ao intervalo com 1-1 no placard, creio que as hipóteses de sucesso na segunda parte serão consideráveis. Ou seja, nestas circunstâncias, importa muito mais marcar do que não sofrer, o que teoricamente favorece o futebol deste Benfica.
Volto atrás, para repetir que não há nada a perder. Desta noite, ou sobra uma eliminação tranquila, esperada e honrosa, ou uma jornada épica, capaz de recolocar o clube da Luz na senda dos melhores tempos de Eusébio. A angústia está reservada para as jornadas que faltam disputar no campeonato. Aqui, é de festa que se trata.
Ver o Benfica ao lado de Real Madrid, Barcelona e Bayern, na luta pelo título europeu, é coisa perante a qual teria de me beliscar para poder acreditar. Faltam noventa minutos. Não custa tentar. Com força, e com fé.
Deixo o meu onze, que privilegia a mobilidade de Rodrigo, e sugere a poupança do muito desgastado Cardozo:

ORGULHO!

Aconteça o que acontecer em Stanford Bridge, este quadro orgulha-me.

CLASSIFICAÇÃO REAL

Ao contrário do que se poderia esperar, esta até foi uma jornada relativamente calma em termos de arbitragens. Na verdade, descontando um cartão aqui, outro cartão ali, apenas dois lances mereceram discussão.

FC PORTO-OLHANENSE
Um dos lances ocorreu neste jogo, tendo sido pedida uma grande penalidade sobre Hulk. A sensação que dá é que o defesa bem tentou fazê-la (como se chama ele? qual o clube de origem?), mas a coisa dá-se já fora da área. Esteve mal o árbitro ao não assinalar o livre respectivo.
Noutro lance, de uma alegada mão, não creio que exista qualquer falta.
Resultado Real: 2-0

BENFICA-SP.BRAGA
Há alguns erros a apontar a João Ferreira, mas no geral o árbitro setubalense saiu-se bem.
Ficou por mostrar o segundo cartão amarelo (e correspondente vermelho) a Douglão, em falta cometida sobre Witsel à entrada da área. O penálti sobre Bruno César nem merece perdas de tempo: é indiscutível, e nem Guilherme Aguiar o questionaria. O livre de onde nasce o golo do Sp.Braga não é muito claro, mas não me custa dar o benefício da dúvida ao árbitro.
No lance mais polémico do jogo, a alegada falta de Javi Garcia sobre Lima, as dúvidas também são mais do que as certezas, e só o facciosismo de uns (os que dizem tratar-se de um penálti escandaloso), e de outros (os que dizem peremptoriamente não haver nada), pode levar a conclusões definitivas.
Julgo tratar-se de um dos muitos lances de futebol em que a análise será sempre subjectiva (mesmo após dezenas de repetições televisivas), prevalecendo o critério do juiz. É este tipo de lances que alimenta discussões sem fim, pois nunca uns estarão de acordo com os outros. Na verdade, pode argumentar-se a favor e contra, com igual dose de razão, o que faz com que todos julguem estar certos.
Eu não assinalaria nada, por dois motivos. Primeiro não tenho a certeza (ninguém de boa fé a pode ter) de o toque ter sido efectuado dentro da área. Lima cai lá dentro, é verdade, mas há repetições onde parece notar-se bem que o contacto é anterior, e ainda fora do risco. Segundo porque me parece que o contacto é insuficiente para provocar a queda do avançado brasileiro, que, de resto, nem sequer protesta.
No estádio, confesso que nem me apercebi do lance, e deixo aqui uma pergunta: algum árbitro inglês assinalaria uma falta daquele tipo?
Resultado Real: 2-1

U.LEIRIA-SPORTING
Não vi o jogo, mas segundo rezam as crónicas, não houve muita coisa digna de registo.
Resultado Real: 0-1

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 64
FC Porto 59
Sp.Braga 55 a)
Sporting 52

a) Apenas considerados os dois pontos retirados no jogo com o U.Leiria, e o ponto do empate com o Benfica (penálti inexistente).

NO ÚLTIMO SUSPIRO


Na antevisão ao jogo tinha falado aqui do desgaste da equipa do Benfica, da sua visível quebra, e dos riscos que isso acarretava para as importantes partidas que se seguiam. Relendo aquilo que então escrevi, não posso deixar de salientar a agradável surpresa que constituiu esta empolgante exibição dos encarnados diante do Sp.Braga, que valeu uma importantíssima vitória, cujo valor só mais tarde poderemos aquilatar devidamente.
Foi de facto um grande jogo, dos melhores que me recordo em toda a temporada (Champions incluída), e teve um vencedor justo. O Benfica foi a equipa que mais quis ganhar, aquela que mais procurou a vitória, e a que conseguiu uma prestação mais contínua ao longo de toda a partida. O Sp.Braga teve grandes momentos, criou perigo, deu muita luta, mas, durante grande parte do tempo, suou apenas para segurar o empate. Foi forte, mas nunca conseguiu ser brilhante. Nessa medida, devo dizer que me desiludiu, pois de um líder da classificação esperaria uma postura mais afirmativa e mais audaciosa, em busca dos três pontos, e…do título. Era isso que pensava quando aqui dei 15 % de chances ao Benfica de ser campeão, e 40% ao Sp.Braga. O que este jogo nos disse é que a hierarquia ainda é o que era, e os grandes candidatos ainda são FC Porto e Benfica, até ver, por esta ordem.
A primeira parte não teve muitas oportunidades, mas nem por isso deixou de ter a intensidade de um grande jogo de campeonato. Não era por falta de objectividade, nem de criatividade, que o golo não aparecia. Simplesmente, ninguém cometia o mais pequeno erro, e o jogo fechava-se logo que se aproximava das áreas, predominantemente a do Sp.Braga.
Foi até dos minhotos a melhor oportunidade, à saída para o intervalo, num remate de Mossoró após cruzamento de Alan, a que Artur correspondeu com defesa instintiva. Esse lance deu aliás o mote para o que seria o segundo período, com o Sp.Braga a acreditar paulatinamente que, mesmo sem manter o domínio do jogo, poderia surpreender o Benfica através de contra-ataques.
Esses contra-ataques, quase sempre lançados por Mossoró, intensificaram-se à medida que o relógio ia avançando, e as pernas dos jogadores do Benfica se ressentiam do cansaço acumulado. O jogo ia partindo, e nessa fase o golo poderia surgir para qualquer dos lados. A lesão de Miguel Vítor, a substituição queimada, e a saída de Cardozo, pareciam danificar a chama benfiquista, e favorecer os intentos de um Sp.Braga por quem o tempo jogava. Mas, por felicidade ou algo mais, a verdade é que as alterações beneficiaram o futebol do Benfica, quer fruto da mobilidade de Nélson Oliveira (que trouxe problemas para os quais a defesa bracarense não estaria preparada), quer pela inclusão de Matic, e recuo de Javi Garcia, que levou o Benfica a uma maior predominância na zona intermediária.
O penálti (indiscutível) e o golo foram o corolário desse período, e, a pouco mais de dez minutos do fim, parecia estar definitivamente resolvida a contenda. Nada disso. O empate não demorou mais do que dois ou três minutos a surgir, também de bola parada, e, uma vez mais, aí sim, as contas pareciam encerradas. Deixar fugir a vantagem a tão pouco tempo do final era um golpe duro na confiança do Benfica, e poucos seriam os que apostavam na possibilidade de novo golo na baliza de Quim.
Foi nesses últimos dez minutos que se percebeu cabalmente o que uma e outra equipas pretendiam deste jogo. O Sp.Braga deu-o por terminado, limitando-se a tentar queimar o pouco tempo que faltava para o apito final. O Benfica reagiu muito bem, indo buscar forças a uma alma que nas últimas semanas raramente se vira. Foi premiado por isso, conseguindo um magnífico golo, e lançando o Estádio da Luz numa euforia que, a quem não soubesse, quase parecia anunciar a iminência do título. Por mim falo: o golo de Bruno César foi para mim, provavelmente, o instante de maior alegria desportiva em toda a temporada.

Individualmente gostaria de destacar as exibições de Bruno César, Gaitán, Maxi Pereira e Miguel Vítor (enquanto pôde) e saudar o regresso de Rodrigo a um plano minimamente compatível com aquele que revelara antes da lesão de São Petersburgo. Pela negativa, estranhar a total ausência de Cardozo no jogo.
João Ferreira esteve globalmente bem.
A vitória mantém a esperança em aberto, mas só após a próxima jornada se saberá em que medida o Benfica pode ou não ainda ser campeão. Um ponto é apenas um ponto, mas o jogo de Alvalade não será fácil (o Sporting fará tudo para evitar ver o rival campeão), e não me admiro de o FC Porto acabar por ganhar em Braga - afinal de contas, ganhou em Donetsk, e ganhou na Luz, os dois jogos de características mais similares a este que fez na temporada. Pelo contrário, também direi que se o Benfica sair de Alvalade no primeiro lugar (ganhar, e Porto não ganhar), dificilmente alguém o tirará de lá nas restantes jornadas.

PS: Quim foi duas vezes campeão pelo Benfica, está na história do clube encarnado, e podia ficar na memória dos adeptos, como ficaram David Luíz, Nuno Gomes ou outros a quem as bancadas da Luz ainda hoje tributam justamente a sua homenagem. Estupidamente escolheu outro caminho. É difícil perceber porquê. Falta de inteligência? Talvez. E talvez esteja também aí a razão da sua dispensa.