MISSÃO CUMPRIDA

Apesar de bastar um empate, e de estar perante um adversário do segundo escalão, devo dizer que me surpreendeu a total revolução que Jorge Jesus fez na equipa, lançando em campo dois estreantes, e mais alguns jogadores com muito pouca utilização na corrente época.
Quando tal acontece os resultados não costumam ser os melhores: os jogadores evidenciam a natural falta de ritmo e o défice de entrosamento próprio de quem não está habituado a jogar em conjunto, os automatismos perdem-se, e as equipas descaracterizam-se. Diz-se depois que a oportunidade não foi aproveitada pelos menos utilizados, o que constitui tremenda injustiça, pois as circunstâncias em nada favorecem esse aproveitamento.
Foi mais ou menos isto que se passou com o Sporting, no Estoril, e com o FC Porto, em Barcelos. Temia pois idêntico cenário para a visita do Benfica à Vila das Aves.
A verdade é que, à excepção de uns primeiros minutos um tanto incaracterísticos, as segundas linhas do Benfica deram excelente resposta, dominando totalmente o jogo, vencendo, goleando, assegurando o apuramento, e tranquilizando o técnico quanto a muitas das suas opções no futuro próximo, tudo sem qualquer dano físico ou anímico em face do jogo da próxima quarta-feira - bem mais difícil e bem mais importante que este.
Jorge Jesus venceu pois o seu próprio desafio, pois ao apresentar um onze despido de nove titulares, arriscou-se a passar uma tarde complicada, numa partida onde, apesar de tudo, não podia perder.
Entre todos os utilizados houve naturalmente quem demonstrasse condições para enfrentar outros compromissos – como foi manifestamente o caso de Franco Jara -, e quem exibisse maiores dificuldades em acompanhar os ritmos, como Luís Filipe, Felipe Menezes (mau grado o seu grande golo), ou Alan Kardec (que tarda em mostrar-se uma opção de corpo inteiro para o centro do ataque). Os estreantes não deslumbraram nem comprometeram, sendo cedo para extrair conclusões definitivas sobre a possibilidades de criarem o seu espaço na equipa.
Realce ainda para o golo de Nuno Gomes, que nos poucos minutos de utilização que lhe têm sido dados, tem mostrado que quem sabe nunca esquece. É, também ele, uma opção válida para o que resta de temporada, e para o que lhe resta de carreira.
Dia 1 de Março os encarnados receberão o eterno rival na Luz, e se ganharem asseguram a sua terceira final consecutiva na prova. Até lá haverá todo um mês de Fevereiro onde muita coisa poderá ficar decidida, quer no campeonato, quer nas restantes competições. Saber-se-á então até que ponto esta Taça da Liga pode ser importante para ambos os clubes. Para já, o Benfica é a única equipa portuguesa ainda em quatro frentes.

PÉS NO CHÃO, CABEÇA NAS TAÇAS

O FC Porto ganhou ao Nacional em jogo antecipado e elevou para onze pontos a sua distância na liderança da Liga. Aos dragões ficam agora a faltar apenas doze jogos para o fim da competição.
Sou um benfiquista apaixonado e confiante, mas prezo-me de ter a lucidez suficiente para distinguir aquilo que são sonhos, daquilo que são objectivos. Em futebol tudo é possível desde que a matemática o permita. Mas há situações em que as prioridades devem ser redefinidas em função das circunstâncias.
Para mim, neste momento, e apesar da sua excepcional carreira nos últimos meses, o Benfica tem pouquíssimas hipóteses concretas de ainda chegar à revalidação do título. Já aqui o disse há algum tempo, e após esta quarta-feira sou obrigado a reforçar essa ideia. Na origem da situação estão, obviamente, os pontos perdidos nas primeiras jornadas, em larga medida devido a arbitragens absolutamente grotescas. Esse balanço terá de ser feito, e ninguém espere que eu venha algum dia a felicitar um campeão alicerçado em tamanha falsidade. Mas a objectividade remete-me, nesta altura, para aquilo que está sobre a mesa, e para aquilo que pode ainda ser conquistado, sem esperar por sapatos de defunto, nem correr riscos de morrer descalço.
Deste modo, julgo que seria um erro beliscar qualquer uma das outras competições em função de um objectivo tão difícil de atingir. Por outras palavras, creio que a partir deste momento as grandes prioridades do Benfica devem passar pela Liga Europa, Taça de Portugal e Taça da Liga, precisamente por esta ordem.
As eliminatórias com o Estugarda, FC Porto e, provavelmente, Sporting, para cada uma daquelas três competições, devem pois ser os jogos onde apostar todas as fichas. Deve ser para aí que toda a energia da equipa, dos técnicos, dos jogadores, e, porque não, dos adeptos, deve ser canalizada. O Benfica, mesmo deixando fugir o título, pode ainda fazer uma grande época, e para isso tem de ultrapassar aqueles três obstáculos, após os quais estará, como favorito, em duas finais, podendo também prosseguir a rota europeia.

A eliminatória com o FC Porto, em particular, poderá significar a diferença entre uma boa época e um fracasso. A segunda mão é apenas em Abril, mas a primeira é já na próxima semana, e terá de ser encarada como um jogo de vida ou de morte. O Benfica não pode voltar a perder no Dragão. O Benfica tem de estar no Jamor, e tem de terminar a temporada com a Taça nas mãos.
Por outro lado, na Liga Europa o conjunto de Jesus terá nova oportunidade para fazer um brilharete, agora sem a pressão que na época passada o obrigou a dispersar-se na fase decisiva da prova. Os próximos adversários (Estugarda e PSG) não são inultrapassáveis, e a partir dos quartos-de-final tudo pode acontecer.
A Taça da Liga não será assim tão importante, mas está ali à mão de semear. Basta um empate nas Aves para atingir a meia-final, que será jogada em casa a uma só mão. É um título a não perder de vista, e que nas contas finais pode salvar ou ajudar a compor uma temporada.
Significa isto que o Benfica deva prescindir de lutar pelo campeonato? Nem pouco mais ou menos. A equipa deve tentar, jogo a jogo, amealhar os pontos que lhe permitam, por um lado pressionar o FC Porto, por outro assegurar, sem stress, o segundo lugar e o acesso à próxima Liga dos Campeões.
O que não pode, nem deve, é, por via de uma inglória luta, comprometer o muito que ainda tem efectivamente para ganhar. Até porque dois troféus, um segundo lugar no campeonato, e uma boa prestação europeia, constituirão certamente um bom pecúlio, e serão uma digna sucessão do título alcançado na temporada anterior. Se tal se verificar, creio que o Benfica ficará bem preparado para, se o deixarem, atacar em força a reconquista do campeonato nacional em 2011-12. A alternativa pode ser ficar sem nada, terminando a época a chorar sobre leite derramado, e convidando a instabilidade a entrar-lhe pela porta dentro.

A FEIRA DO DESPERDÍCIO

Num jogo engraçado, aberto e marcado por três grandes penalidades falhadas, o Benfica manteve a sua invencibilidade em 2011, e apurou-se para as meias-finais da Taça de Portugal.
Júlio César foi o primeiro a brilhar, defendendo um penálti de João Tomás. Escreveu-se direito por linhas tortas, pois a falta não tinha existido. O que é certo é que essa defesa foi crucial para o andamento da partida, pois até muito perto do fim o resultado manter-se-ia tangencial.
A história repetiu-se depois, mas na outra baliza. Grande penalidade mal assinalada por João Ferreira, Cardozo a rematar, e o guarda-redes habitualmente suplente do Rio Ave a defender de forma brilhante. Os deuses pareciam estar loucos.
Ainda antes do intervalo, mais um penálti – desta vez indiscutível -, e mais uma vez Tacuára diante de Mário Felgueiras. O avançado paraguaio fez então aquilo que deveria fazer sempre: disparou fortíssimo sem possibilidade de defesa para o guardião vilacondense. Estava inaugurado o marcador, e diga-se que a vantagem do Benfica já então se justificava, fruto de um domínio exercido em todo o campo, e das situações de perigo criadas.
A segunda parte traria mais do mesmo. Futebol de qualidade, e muito desperdício. Nem faltou mais um penálti falhado, desta vez por David Luíz que incompreensivelmente (sobretudo com o resultado ainda em aberto) foi encarregado da transformação. Devo confessar que senti nesse momento alguns calafrios, pois a velha máxima do futebol (“quem não marca, sofre”) parecia estar a bater à porta.
Após um grande lance de Salvio, novo golo de Cardozo acabou todavia por resolver tudo, colocando um ponto final na discussão do resultado. O Benfica assegurava então, com inteira justiça, o seu lugar nas semi-finais, onde terá pela frente o FC Porto.
Destaques individuais para David Luíz (o penálti desperdiçado não ensombra uma grande exibição, quem sabe de despedida), e para Pablo Aimar. Cardozo acaba também por ficar na história do jogo pelos golos que marcou.
João Ferreira esteve mal, assinalando duas grandes penalidades inexistentes. Sendo uma para cada lado, ambas com o resultado em branco, e ambas falhadas, o juiz setubalense acabou por não ter influência no resultado. Os outros dois penáltis foram claros.

O MEU ONZE

UM INEVITÁVEL ADEUS

Apesar de me irritar frequentemente com a displicência com que aborda certos lances, David Luíz é um jogador com o qual, obviamente, e como qualquer benfiquista, simpatizo bastante.
Veio para o Benfica muito jovem, fez-se por cá. Hoje é um titular da selecção brasileira, e um dos mais promissores centrais do mundo. Os adeptos adoram-no, e ele merece essa admiração.
Fez uma época 2009-10 verdadeiramente espantosa, ao longo da qual foi espalhando talento, raça e ambição. A especulação em torno da sua saída prejudicou-o na entrada da nova temporada, não conseguindo mostrar o mesmo rendimento nos últimos meses.
Provavelmente deveria ter sido vendido ao Manchester City pelos tais 35 milhões. Na altura recordo-me bem de defender a transferência. Mas, tratando-se de um defesa, e no contexto económico actual, duvido que uma oferta como essa se venha a repetir.
A proposta de 25 milhões que está sobre a mesa não será a óptima, mas é, ainda assim, muito boa. E desconfio que o risco de não a aceitar pode ser maior do que o de avançar para o negócio. Luís Filipe Vieira sabe disso, e estou seguro de que a sua estratégia visa apenas levar a valorização do jogador ao limite.
David Luíz acabará pois por sair. Vai deixar saudades, mas também os cofres cheios. Com a sua venda (somando às de Di Maria e Ramires), e pelas minhas contas, o Benfica recupera a totalidade do investimento feito no futebol nos últimos quatro anos. E creio que mantém uma grande equipa.

SUPERFICIALIDADES

“O caso da semana foi o penálti de Aveiro”
Esta frase, dita por Jorge Jesus, resume tudo aquilo que penso sobre o fait-divers jornalístico que agora arranjaram para encher as páginas dos jornais e acender os debates televisivos.
Houve uma altercação entre um treinador e um futebolista da equipa adversária? Houve empurrões? E depois? Qual o problema? Até parece que foi a primeira vez que tal coisa aconteceu.
Não contem comigo para analisar, como se de um fora-de-jogo ou de um penálti se tratasse, se Jesus tocou na cara ou no ombro de Luís Alberto, se a intensidade do toque foi maior ou menor, ou se saltou algum perdigoto da sua boca enquanto discutiam. Para mim, o que se passou é absolutamente normal e natural no calor de um jogo de futebol - sobretudo entre dois profissionais que vivem intensamente a sua actividade -, e não deve ser relevado para lá da sua insignificância.
Preocupo-me com aquilo que altera os resultados dos jogos. Não com situações paralelas, que só servem para alimentar discussões estéreis e vinganças mesquinhas.

PARABÉNS AO REI!

CLASSIFICAÇÃO REAL

Este campeonato já está definitivamente manchado por erros graves de arbitragem. Alguns deles claros e assumidos até por Vítor Pereira, outros mais discutíveis.
Há muitos lances polémicos que nem a televisão esclarece. Mas também nesses, as decisões vão sempre no mesmo sentido, no sentido de favorecer o FC Porto e prejudicar o Benfica.

BEIRA MAR-FC PORTO
O penálti de Aveiro não é, nem deixa de ser. Na verdade a televisão não mostra se Hulk é rasteirado por André Marques, ou se, pelo contrário, mergulha para cima das canelas do seu opositor forçando o contacto. A decisão do árbitro foi a que se esperava: na dúvida, escolhe-se o FC Porto.
Como aqui a dúvida é mesmo …dúvida, darei o respectivo benefício ao juiz, mesmo que ele possa eventualmente não o merecer.
Resultado Real: 0-1

BENFICA-NACIONAL
Se o remate de Gaitán não tem entrado na baliza, estaríamos agora a discutir, e com razão, o penálti claro que Rui Costa deixou passar no lance imediatamente precedente. Salvio é rasteirado no interior da área, e sabe-se que não existe lei da vantagem nos casos de grande penalidade. Mais um penálti por marcar a favor dos encarnados.
De resto todos os golos são legais, embora dois deles no limite do fora-de-jogo (Saviola justamente nesse primeiro golo, e um jogador madeirense no lance do segundo golo do Nacional).
Resultado Real: 4-2

MARÍTIMO-SPORTING
Um penálti por assinalar sobre Djalma não compromete, sobremaneira, a verdade de um jogo que finalizou com um resultado tão expressivo.
Resultado Real: 1-3

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 46
FC Porto 41
Sporting 26

O top-erro também segue sem alterações:
1º SPORTING-V.GUIMARÃES (11ª jornada) Golo fantasma concedido pelo árbitro auxiliar, num lance em que a bola bate apenas na trave, e em que o guarda-redes vimaranense é empurrado, ele sim, para dentro da baliza. Resultado na altura: 1-0 Resultado final: 2-3
2º RIO-AVE-FC PORTO (3ª jornada) Rasteira clara de Álvaro Pereira a um avançado do Rio Ave dentro da área, a que Jorge Sousa fez vista grossa. Resultado na altura: 0-1 Resultado final: 0-2
3º FC PORTO-V.SETÚBAL (13ª jornada) Falcão mergulha para a relva no interior da área, e o diligente Elmano Santos aponta para a marca de penálti, a um minuto do intervalo. Resultado na altura: 0-0 Resultado final: 1-0

UM RECITAL QUE TERMINOU ANTES DO TEMPO

Como noutras ocasiões desta temporada, o jogo frente ao Nacional mostrou um Benfica com facetas distintas, e até, nalguns aspectos, contraditórias.
Os primeiros minutos foram absolutamente extraordinários. Viu-se então um futebol fluído, acutilante, versátil e espectacular, que rendeu dois golos como poderia ter rendido quatro. Com a armada argentina em plano de destaque, a equipa de Jesus ameaçava nesse período repetir os números da temporada passada, quando havia vergado este conjunto madeirense (então orientado por Manuel Machado) a uma goleada de 6-1.
Pelo contrário, a fase final do jogo, sobretudo entre o primeiro golo do Nacional e o quarto do Benfica, trouxe à memória os momentos mais problemáticos desta época, revelando uma equipa pouco pressionante e desconfiada de si própria.
Como disse o técnico encarnado, sofrer golos também faz parte do futebol. Acrescentaria eu que o adversário que o Benfica tinha por diante é das equipas mais interessantes do campeonato, tendo já dado provas de não se render facilmente. Mas de uma equipa que se encontra a ganhar por 3-0 a vinte minutos do fim exige-se uma gestão mais segura do jogo, e não se espera o sofrimento que chegou a inundar as já de si geladas bancadas do Estádio da Luz.
Se olharmos globalmente para os noventa minutos, prevalece no entanto a ideia de uma vitória justíssima, e a memória de um jogo muito competitivo com alguns momentos de belíssimo futebol. Em termos individuais destacaria os argentinos, todos eles com desempenhos bastante positivos. Em sentido oposto, Carlos Martins entrou muito mal no jogo, realizando uma das exibições mais pobres que lhe vi com a camisola do Benfica.
O árbitro Rui Costa não teve muito trabalho, mas ainda assim deixou passar um lance de aparente grande penalidade, cuja sequência acabou por originar o primeiro golo do Benfica.
Após mais esta, o Benfica leva doze vitórias nos últimos treze jogos do campeonato, e em provas nacionais soma onze triunfos consecutivos, tendo até agora um 2011 cem por cento vitorioso. Números de campeão, que só as ocorrências das primeiras jornadas injustamente ensombram.

O MEU ONZE

CAMINHO LIVRE PARA AS MEIAS

Entalado entre dois importantes compromissos do campeonato, este jogo da Taça da Liga obrigava a uma gestão cuidada do plantel, sob pena do desgaste acumulado se vir a fazer sentir na altura menos conveniente. Jorge Jesus sabia disso e apresentou um onze com apenas três titulares, e onde apareciam caras pouco vistas no decorrer da temporada.
Quando as equipas se descaracterizam desta forma (e o Benfica tinha de o fazer), os riscos de as coisas correrem mal aumentam exponencialmente. Os titulares fazem falta (por algum motivo são titulares), os automatismos da equipa ficam também eles na bancada, e os habituais suplentes, por muita qualidade que tenham, apresentam-se com pouco ritmo de jogo, e por vezes com a ansiedade própria de quem quer mostrar muita coisa em pouco tempo.
Tendo em conta estes aspectos, a forte entrada do Benfica em campo não deixou de causar alguma surpresa – até mesmo a Jorge Jesus, como o próprio confessou na sala de imprensa. Os primeiros vinte minutos foram de elevado ritmo, de grande pressão (logo sobre a primeira fase de construção adversária), de futebol de ataque, e de golos, com o 2-0 no marcador a anunciar uma noite semelhante à da semana anterior, quando este mesmo adversário saíra goleado da Luz.
Até final da primeira parte o Benfica continuou a dominar o jogo a seu bel-prazer, acabando traído com um golo fortuito à beira do intervalo, praticamente no único remate que o Olhanense fez até então.
2-1 era um magro pecúlio para aquilo que se tinha passado, mas esse golo despertou a equipa algarvia, e parece ter enervado o Benfica. O início da segunda metade foi totalmente diferente do que se tinha visto até aí, com o Olhanense a empurrar o Benfica para a sua zona defensiva, e os encarnados a deixarem transparecer bastante insegurança. O empate acabou por surgir com alguma naturalidade, e por pouco Djalmir não completou a reviravolta no marcador, já ao som de alguns assobios.
Era preciso fazer alguma coisa, e as entradas de Sálvio e Gaitán corresponderam a uma espécie de murro na mesa, capaz de recolocar os jogo nos caminhos de onde havia saído. O grande golo do jovem ala-direito argentino devolveu a vantagem ao Benfica, e a partir daí sentiu-se que dificilmente o rumo desta partida sofreria mais desvios.
Os pontapés de canto finais a favor do conjunto de Daúto Faquirá causaram algum sofrimento, mas os três pontos da vitória acabaram por ficar em casa. Com total justiça, diga-se.
O Benfica está assim com um pé nas meias-finais, bastando-lhe um empate na Vila das Aves, ou até uma derrota tangencial caso o Marítimo não ganhe por três golos de diferença em Olhão.

O MEU ONZE

O jogo com o Nacional é já no sábado, pelo que deverão ser feitas algumas poupanças na equipa.

FORÇA!

Há menos de um mês Ruben Amorim escreveu uma simpática mensagem para os leitores deste blogue. Agora é a vez de sermos nós a desejar-lhe toda a força do mundo para ultrapassar a arreliadora lesão que o atormenta.
Volta depressa, pá!

A CRISE DO LEÃO

À imagem daquilo que foi toda a sua presidência, José Eduardo Bettencourt não quis deixar de surpreender por uma última vez, anunciando a demissão de forma inesperada e num momento de pertinência duvidosa.
Embora tratando-se de um homem honesto e bem intencionado, creio que o Sporting não perde muito com a sua saída. Em ano e meio demonstrou uma total inaptidão para o cargo, somando erros atrás de erros, equívocos atrás de equívocos, e precipitações atrás de precipitações.
Podia aqui lembrar alguns casos, como as escolhas de Sá Pinto (e depois de Costinha, intermediada pelo grotesco Salema Garção) para um cargo tão importante como o de director-desportivo; também (embora em menor grau) as de Carlos Carvalhal e Paulo Sérgio, dois treinadores medianos; a venda de João Moutinho a um rival directo e todas as declarações e contradições que a envolveram (de maçã podre a profissional exemplar justamente na véspera do Sporting-FC Porto); a célebre declaração “Paulo Bento forever” rapidamente desmentida; a gestão de dossiers como Izmailov ou Caneira; as declarações contraditórias sobre o fundo de jogadores criado pelo Benfica (primeiro uma vergonha, pouco depois um exemplo); a contratação milionária de Sinama-Pongolle; a manutenção de uma relação cordial com Pinto da Costa mesmo após os insultos revelados nas escutas publicadas no You Tube (perante as quais o Sporting assobiou para o lado), entre muitas outras peripécias – perdoem-me se estou a esquecer alguma importante –, que para além do mais tiveram como pano de fundo resultados desportivos ao nível do pior que a história centenária do clube ofereceu, uma baixa dramática do número de espectadores no estádio (certamente também de associados), perda de patrocínios e todo um clima de degradação competitiva e institucional que não vai deixar saudades aos sportinguistas.
Como aspectos positivos da sua gestão, além das questões ocultas de que os seus pares agora falam, ressalvaria apenas um maior apoio às modalidades, o que valeu ao clube um título nacional de Futsal e um troféu internacional de Andebol.
Bettencourt entrou no Sporting pela porta grande, com mais de 90% dos votos, e muita esperança às suas costas. Começou a desiludir logo de imediato, tentando mostrar-se como aquilo que não era: um dirigente popular. Ainda por estes dias pudemos rever imagens televisivas mostrando-o aos saltos e aos gritos num qualquer núcleo sportinguista, imagens essas que eu classificaria de penosas. Quem confunde popularidade com parolice está a chamar parolo ao povo, e creio que foi isso que Bettencourt fez, perdendo toda a autenticidade que deve nortear a vida dos homens, e sobretudo dos homens-públicos. O facto de ser o primeiro presidente remunerado da história do Sporting (e, ao que parece, bem remunerado) também não o ajudou a unir o clube em seu redor, deixando no ar uma imagem de oportunismo, que creio não ser justa, mas que prevaleceu junto de alguns quadrantes.
Bettencourt deixa o Sporting numa situação bastante mais difícil do que aquela que encontrou, e agora contam-se espingardas para o combate eleitoral que certamente se avizinha – isto partindo do princípio que não irão cometer a loucura de designar um presidente sem o aval dos sócios.
Não me peçam para ser eu a escolher, mas fazendo o difícil exercício mental de me imaginar sportinguista, julgo que esta seria a altura de mudar de rumo, e varrer com o que resta de um projecto que manifestamente falhou (o projecto-Roquette). O mundo do futebol tem particularidades muito próprias, e não pode ser gerido como uma qualquer empresa de um ramo comum. O clube necessita que surja um sportinguista credível, com capacidade de se movimentar junto dos financiadores, mas que entenda minimamente o fenómeno futebolístico, e saiba rodear-se de pessoas competentes e experientes. Necessita de algum arrojo para construir uma equipa competitiva, e com ela inverter o ciclo de perda de adeptos e de receitas. Necessita de investir na contratação de um treinador de top (eventualmente estrangeiro), que a médio prazo (dois ou três anos) possa refundar o futebol sportinguista, e dotá-lo de uma nova identidade. Necessita de reavaliar os resultados da política de formação intensiva, cujos reflexos na equipa principal nunca se traduziram (e dificilmente alguma vez se traduzirão) em títulos.
Espero ainda que este caminho contemple um maior entendimento geo-estratégico dos problemas do futebol português, e faça o Sporting assumir-se de corpo inteiro, e sem hesitações, como opositor àqueles que têm atropelado a verdade desportiva nos últimos trinta anos.
Existirá alguém com perfil capaz de interpretar estas soluções? É este o desafio que o Sporting tem pela frente. Eu, cá por mim, vou dormindo descansado.

CLASSIFICAÇÃO REAL

Se a jornada anterior tinha sido pacífica, esta trouxe de novo as arbitragens para a berlinda, tal a gravidade dos erros cometidos, sobretudo em Alvalade e em Coimbra.

SPORTING-PAÇOS DE FERREIRA
Não há de facto penálti no lance do segundo golo pacense. O jogador da equipa nortenha projecta-se para o chão ainda antes de Polga lhe tocar, induzindo o árbitro em erro. Devo dizer que no estádio ninguém à minha volta teve certezas acerca do lance, e só depois de, via rádio, ser conhecido o veredicto televisivo, se ouviram então os mais ruidosos protestos.
Quanto ao penálti reclamado pelo Sporting tenho mais dúvidas. Ainda não vi uma repetição que mostre claramente que o puxão de camisola impeça realmente o avançado leonino de chegar à bola. Para já, dou pois o benefício da dúvida ao árbitro neste lance.
Resultado Real: 2-2

FC PORTO-NAVAL
Vi um resumo muito curto da partida, e à excepção de um agarrão a Falcão, ainda fora da área, que ficou por sancionar, não me recordo de nenhum outro lance passível de figurar nesta análise. Como sempre, se se justificar farei a correcção mais tarde.
Resultado Real: 3-1

ACADÉMICA-BENFICA
Em Coimbra viu-se uma das piores arbitragens do campeonato, e nenhuma das equipas saiu sem razões de queixa.
O golo é ilegal, pois Saviola está em posição de fora-de-jogo, tendo claramente influência no lance (as culpas aqui vão para o auxiliar). Por outro lado, ficaram por assinalar duas grandes penalidades a favor do Benfica, uma sobre Fábio Coentrão (que originou o primeiro cartão amarelo ao jogador), e outra, talvez ainda mais escandalosa, por corte com a mão a cruzamento de Sálvio.
A expulsão do jogador da Académica não oferece dúvidas, mas a de Fábio Coentrão fica ligada a esse primeiro, e injusto, cartão amarelo.
Enfim, problemas demais para uma só arbitragem, interpretada por aquele que é um dos mais fracos juízes da Liga.
Resultado Real: 0-2

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 43
FC Porto 38
Sporting 23
O top-erro também segue sem alterações:
1º SPORTING-V.GUIMARÃES (11ª jornada) Golo fantasma concedido pelo árbitro auxiliar, num lance em que a bola bate apenas na trave, e em que o guarda-redes vimaranense é empurrado, ele sim, para dentro da baliza. Resultado na altura: 1-0 Resultado final: 2-3
2º RIO-AVE-FC PORTO (3ª jornada) Rasteira clara de Álvaro Pereira a um avançado do Rio Ave dentro da área, a que Jorge Sousa fez vista grossa. Resultado na altura: 0-1 Resultado final: 0-2
3º FC PORTO-V.SETÚBAL (13ª jornada) Falcão mergulha para a relva no interior da área, e o diligente Elmano Santos aponta para a marca de penálti, a um minuto do intervalo. Resultado na altura: 0-0 Resultado final: 1-0

SEMPRE TERIA DE ACONTECER...

FC PORTO - RIO AVE ou BENFICA

MERELINENSE ou V.GUIMARÃES - ACADÉMICA ou V.SETÚBAL

1ª mão: 2 Fevereiro 2ª mão: 20 Abril

TANTO SOFRIMENTO...

Se os jogos tivessem apenas 45 minutos, estaríamos agora a cantar loas a mais uma exibição de gala do Benfica, justificando muito mais do que o resultado tangencial que já então se registava.
Até ao intervalo os homens de Jesus correram, jogaram, lançaram pânico perto da área estudantil, e só por uma manifesta falta de pontaria não deixaram logo ali o jogo resolvido e os três pontos garantidos. Muito por via da extraordinária exibição de Fábio Coentrão, o Benfica não só foi capaz de construir um caudal de jogo ofensivo que, em condições normais, daria para mais de um golo, como soube evitar que a Académica se aproximasse com perigo da baliza de Roberto, algo que só aconteceu uma vez em todo esse primeiro período.
Talvez por questões de ordem física (o treinador assim o disse), os encarnados não conseguiram ao longo da segunda parte matar o jogo (embora as oportunidades para tal nunca deixassem de ir aparecendo), nem segurá-lo da forma mais eficaz. Nem mesmo em vantagem numérica o Benfica afastou totalmente o fantasma de um eventual empate, que por mais de uma vez pairou no ar e nos apertados corações dos adeptos que, no estádio, ou pela televisão, assistiam à partida. Com Airton em noite infeliz, esperava-se que uma entrada de Maxi Pereira permitisse avançar Ruben Amorim e recompor o meio-campo, fechando as portas ao adversário e ao resultado. Infelizmente este último saiu tocado, e o Benfica teve de sofrer bastante até ao fim.
É compreensível que alguns jogadores se ressintam da série de jogos a elevado ritmo que têm vindo a protagonizar. Mas jogando contra dez elementos, esperar-se-ia um Benfica mais sólido, designadamente na gestão dos ritmos da partida.
O apito final soou a alívio, e garantiu por fim os pontos em disputa. A perseguição ao FC Porto continua, e a série de vitórias também (11 triunfos em 12 jogos do campeonato, 11-0 em golos em 2011).
A arbitragem foi deplorável, prejudicando ambas as equipas. Mas se o prejuízo à Académica partiu do auxiliar (Saviola marcou em fora-de-jogo), já as decisões de Elmano Santos foram quase sempre no sentido de prejudicar o Benfica, nomeadamente nas duas grandes penalidades que ficaram por marcar. Infelizmente, tratando-se de quem se trata, nada disto constitui surpresa.

SEGUNDA DIVISÃO, SEGUNDA PAIXÃO

Dando sequência a um fim-de-semana bastante futebolístico, estive esta tarde em Massamá para ver o Juventude da minha terra frente ao Real local.
O jogo não teve golos, mas não deixou de ser um espectáculo agradável, com a primeira parte a mostrar um Real dominador e perdulário, e a segunda a trazer um Juventude mais forte, mas igualmente sem conseguir traduzir essa supremacia no placar.
O resultado não foi mau para os eborenses, que após um período de ressaca originada pela eliminatória com o FC Porto (que equivaleu a muitos pontos perdidos no campeonato), querem agora voltar ao nível que apresentaram no início da temporada, quando chegaram a comandar a classificação da zona sul.

PEÇO DESCULPA PELO MAU JEITO

Depois de algum tempo de ausência, voltei este sábado a Alvalade para, na companhia de um amigo sportinguista, assistir ao Sporting-Paços de Ferreira.
Longe estava eu de imaginar as consequências que o jogo traria ao clube anfitrião, mas isso ficará para mais tarde. O que me parece curioso lembrar aqui é a espantosa sequência de maus resultados que os leões consentem em sua casa sempre que eu, qual fantasma lampião, estou sentado nas bancadas.
No Alvalade XXI assisti a oito jogos do Sporting contra outros adversários que não o Benfica. Uma vitória com o FC Porto, outra com o Marítimo, e seis (!!) resultados “negativos” contra adversários como Rio Ave, Penafiel, Leixões, E.Amadora, U.Leiria, e agora o Paços de Ferreira.
Fosse eu supersticioso, e já teria adquirido uma Game Box. Tal como no cinema (e aquilo foi um filme dos bons), em Alvalade já vou percebendo que, aconteça o que acontecer, tudo termina sempre a meu gosto. Começa a tornar-se familiar a sensação de sair daquele estádio com um sorriso mal contido no meio de um ambiente fúnebre. Humanista que sou, não gosto de ver ninguém a sofrer, mas, como bem sabemos, no futebol as coisas são diferentes. Confesso humildemente o pecado de ser para mim divertidíssimo assistir ao esvoaçar dos lenços brancos, ouvir os insultos ao treinador, ao presidente, apreciar pitorescamente os inconsoláveis rostos de indignação de quem sai em passo apressado. Só o respeito por mim próprio e por quem estava comigo me impediu de ceder à tentação de, também eu, puxar do meu lençinho branco – não particularmente para o treinador, nem mesmo para o presidente, mas talvez para o próprio clube, que caminha a passos largos para o abismo.
O encontro com o meu amigo, o excelente jogo de futebol a que assisti (grande Paços!), e o desfecho final que acabo de descrever, chegaram e sobraram para que valesse a pena ter lá ido…e para ficar com uma vontade enorme de lá voltar.

O MEU ONZE

DOIS QUE VALEM CEM

Desde que formam dupla no Benfica, em ano e meio, Cardozo e Saviola marcaram já 99 golos. Em Coimbra podem chegar aos 100.
Há muitos anos que não se via uma dupla tão eficaz, e que se complementasse de forma tão perfeita, para os lados da Luz. “El Conejo” e “Tacuára” são dois avançados excepcionais, e a sua subida de forma está na base da franca melhoria da equipa.
Que me perdoem Aimar, Luisão, Coentrão e todos os outros, mas, Cardozo e Saviola são, de facto, as grandes estrelas deste Benfica.

O CAMPEÃO VOLTOU!

Já ninguém tem dúvidas: o grande Benfica, o Benfica que encantou na época passada, está de volta aos relvados, e promete luta para o que resta de temporada.
Nos últimos jogos notava-se já um crescimento qualitativo considerável. Nestas cinco vitórias consecutivas (17-2 em golos) viu-se uma equipa mais confiante e um futebol mais harmonioso. Mas nunca como nesta noite se vira um Benfica simultaneamente tão constante, tão empolgante e tão goleador - como o foi, tantas vezes, ao longo do ano que passou.
Não adianta argumentar com a falta de oposição da equipa adversária. Tal como acontecia nas goleadas de há um ano, foi o Benfica, com a sua atitude, com os seus ritmos e com a sua classe, a impedir qualquer veleidade ao seu rival, reduzindo-o a cinzas. Em futebol, uma equipa joga sempre o que a outra deixa jogar. No jogo de hoje o Benfica não deixou que o Olhanense sequer respirasse.
Para este crescimento competitivo concorrem vários aspectos. Destacaria três: subida de forma acentuada da dupla atacante (a correr, a jogar e a marcar), assunção de Sálvio como verdadeiro substituto de Ramires (capaz de o fazer esquecer, pelo menos no plano ofensivo), e aumento generalizado dos índices físicos e mentais da equipa. São estes aspectos que fazem com que o Benfica do momento pouco ou nada tenha a ver com o conjunto tristonho e sem rasgo que participou na Champions League, que foi goleado no Dragão e que iniciou a temporada com quatro derrotas em cinco jogos.
Muitos perguntam se esta recuperação futebolística poderá ainda corresponder a uma recuperação pontual no campeonato. A meu ver, muito honestamente, tal será extremamente difícil de acontecer. Compreendo que técnicos e dirigentes mantenham acesa a chama, até para evitar adormecimentos, mas parece-me pouco crível que o FC Porto (mais a mais com as ajudas que normalmente tem) perca os pontos suficientes para pôr em causa o seu primeiro lugar.
Mas a época não se esgota na luta pelo título. O Benfica tem a Taça da Liga para reconquistar, tem a Taça de Portugal que já há muito tempo lhe foge, e tem, sobretudo, a Liga Europa, onde pode agora investir as fichas que há um ano atrás teve de reservar para a batalha doméstica. E a jogar assim todas as ambições são legítimas, até mesmo (porque não?) a de voltar, quase cinco décadas depois, a erguer um troféu europeu – o que, diga-se, valeria por três ou quatro campeonatos nacionais.
Na Taça de Portugal em concreto, os encarnados terão agora de se deslocar a Vila do Conde. Quando o fizerem (julgo que dia 26 deste mês) já se saberá o alinhamento das meias-finais. Sendo estas disputadas a duas mãos, o sorteio será a partir de agora relativamente neutro - apanhar o FC Porto em duas mãos ou depois na final é quase o mesmo, ainda que, pessoalmente, preferisse defrontar a Académica ou o V.Setúbal -, pelo que o Benfica pode e deve apostar forte também nesta competição.
Por agora, fica a boa nova de uma equipa reencontrada com a sua enorme capacidade, e a ideia cada vez mais firme de que a temporada ainda poderá reservar muitas alegrias à nação benfiquista.

SEM POUPANÇAS

...excepto aqueles que apresentam mazelas físicas, como Sálvio e Aimar.

BENFICA: DEZ ANOS DE TAÇA

Eis os resultados de todos os jogos do Benfica naa Taça de Portugal nas últimas dez temporadas:Uma vitória, uma final e uma meia-final em dez anos, são pouca coisa para um clube como o Benfica. Está na hora de voltar a vencer.
Com a liderança do campeonato a oito pontos de distância, a Taça de Portugal assume importância acrescida para os encarnados. Creio mesmo que deve ser uma prioridade absoluta para o clube, procurar terminar a época no Jamor com um troféu nas mãos.
Ultrapassando o Olhanense, depois o Rio Ave, calhe quem calhar nas meias-finais o Benfica tem já a certeza de não ter de discutir qualquer eliminatória, numa só mão, no terreno de um rival directo (leia-se: FC Porto), o que significa que não terá mais azar nos sorteios do que aquele que já teve, ao encontrar sucessivamente três equipas do primeiro escalão. Também por isso, a Taça de Portugal vale uma aposta efectiva, sendo neste momento os seus jogos pelo menos tão importantes como os do campeonato.

BEM ENTREGUE!

Já escrevi isto muitas vezes: não simpatizo com José Mourinho, não aprecio o estilo, e enquanto português não me sinto representado pela sua truculência, conflituosidade e, bastas vezes, má educação. Mas, como apaixonado por futebol, não posso deixar de reconhecer a sua imensa capacidade, a sua argúcia, o seu conhecimento, e a motivação que consegue incutir nos atletas, levando-os quase a rastejar em nome do grupo. Dito por outras palavras, seria um fã do técnico português se ele estivesse calado, e se limitasse a fazer aquilo que realmente sabe fazer melhor do que todos os outros, e que é orientar, preparar e motivar equipas de futebol.
Ganhando tudo o que havia para ganhar no Inter, e entrando bem no Real Madrid, onde mantém todas as esperanças em aberto, Mourinho merece o prémio da FIFA. E não querendo fazer parte do grupo de “invejosos” a que ele se referiu, devo dizer que até fiquei feliz pela nomeação. Efectivamente, também para mim, gostando ou não dele, é ele o melhor.

Se Mourinho é o melhor treinador, também haverá poucas dúvidas que Messi é o melhor jogador. Felizmente as escolhas recaíram desta vez em quem, semana a semana, mostra a sua genialidade, e não foram pelo caminho da oportunidade, da vitória pontual, do troféu conquistado ou do golo decisivo - critérios que por exemplo levaram, há uns anos atrás, à eleição do improvável Fábio Cannavaro.
Xavi é um fantástico jogador, assim como Sneijder também poderia ser uma boa opção. Já Iniesta, pese embora o seu enorme talento, me pareceria uma escolha forçada pelo seu golo na final do Mundial. Falta falar de Cristiano Ronaldo, que está em grande forma, e se continuar assim (e conquistar títulos), será um sério candidato ao triunfo daqui a um ano. Ele e Messi são de facto os dois melhores jogadores desta geração, e ainda têm uns anos pela frente para ganhar prémios e encantar o mundo.

CLASSIFICAÇÃO REAL

Ainda em fase de ambientação ás rotinas do futebol, não vi os jogos do Dragão nem de Alvalade. Mas pelos resumos não me apercebi de qualquer erro significativo.
Em Leiria Duarte Gomes fez um trabalho sem mácula, pelo que esta terá sido provavelmente a jornada menos polémica de toda a Liga.
Vamos pois, directamente, à classificação:
BENFICA 40
FC Porto 35
Sporting 22

O top-erro também segue sem alterações:
1º SPORTING-V.GUIMARÃES (11ª jornada) Golo fantasma concedido pelo árbitro auxiliar, num lance em que a bola bate apenas na trave, e em que o guarda-redes vimaranense é empurrado, ele sim, para dentro da baliza. Resultado na altura: 1-0 Resultado final: 2-3
2º RIO-AVE-FC PORTO (3ª jornada) Rasteira clara de Álvaro Pereira a um avançado do Rio Ave dentro da área, a que Jorge Sousa fez vista grossa. Resultado na altura: 0-1 Resultado final: 0-2
3º FC PORTO-V.SETÚBAL (13ª jornada) Falcão mergulha para a relva no interior da área, e o diligente Elmano Santos aponta para a marca de penálti, a um minuto do intervalo. Resultado na altura: 0-0 Resultado final: 1-0
PS: Só nesta segunda-feira à noite verifiquei que o primeiro golo do Sporting nasce de um fora-de-jogo. Estranhamente, nos resumos que até aí tinha visto, não fora feita qualquer referência à irregularidade, e nem Domingos Paciência (sempre tão lesto a dizer-se lesado nos jogos com o Benfica) dissera uma palavra sobre o lance.
Sinceramente, gosto tão pouco do Sp.Braga como do Sporting, e o resultado nem me desagradou totalmente. Mas não deixa de ser interessante perceber a diferença de tratamento mediático dado a lances que beneficiam os leões, e que passam sempre por entre as gotas da chuva da contestação.
A classificação já está corrigida.

UM COELHO NA CARTOLA, UMA EQUIPA A CRESCER

Se exceptuarmos os primeiros vinte minutos da segunda parte, a exibição do Benfica em Leiria terá sido uma das mais conseguidas em toda esta temporada.
Mesmo sem Pablo Aimar, os encarnados entraram em campo com a atitude certa, pressionando desde o apito inicial, denotando capacidade de luta pela posse de bola, concentração no passe e na organização defensiva, velocidade nas transições, e arte na definição dos lances.
Saviola, de regresso aos seus melhores tempos, cedo mostrou querer que esta fosse uma noite à sua medida. Após um punhado de excelentes iniciativas, algumas das quais só por infelicidade não resultaram em golo, El Conejo acabou mesmo por marcar, num lance espectacular que colocava, então, alguma justiça na partida.
Pouco depois, Salvio quase fez o segundo, e quando as equipas saíram para o intervalo, o resultado tangencial já sabia a pouco.
Na segunda parte veio o tal período menos empolgante, em que o Benfica deixou adormecer o jogo, talvez na intenção de aproveitar espaços concedidos nas costas de uma maior audácia dos jogadores leirienses. Mas seriam novamente os encarnados a criar os lances mais perigosos, voltando a assumir o domínio do jogo (em larga medida após a entrada de Ruben Amorim), e obrigando o guarda-redes contrário a brilhar em ocasiões sucessivas.
O segundo golo acabou por surgir com naturalidade, e daí em diante a única dúvida estava apenas em saber qual seria a amplitude final da vitória benfiquista. Seria Óscar Cardozo a fechar as contas de uma noite bastante positiva para o Benfica, no terreno de um dos adversários mais difíceis desta Liga.

Tacuára foi, aliás, juntamente com Saviola, um dos homens do jogo, marcando esse magnífico terceiro golo, já depois de ter efectuado uma assistência primorosa para Gaitán no segundo. A dupla atacante do Benfica mostrou-se particularmente inspirada, fazendo lembrar momentos da temporada passada. Também Gaitán, Sálvio e Fábio Coentrão estiveram em bom plano.
Jorge Jesus soma assim a décima vitória em onze jogos do campeonato, mantendo alguma pressão sobre o FC Porto, alimentando ainda o sonho do título, enquanto vai também cimentando o 2º lugar.
Sobre a arbitragem pouco há a dizer. Duarte Gomes esteve muito bem.

ESCRITA EM DIA

Com o campeonato de regresso, volta também este espaço de opinião e debate.
Antes de entrar na actualidade, ficam três tópicos sobre as últimas semanas:
PAUSA COMPETITIVA- Confesso que não embarco na tendência generalizada de critica à pausa futebolística no Natal.
Em primeiro lugar, devo dizer que ela me é bastante aprazível. A quem gosta e vive o futebol intensamente, mas também tem outros interesses, fazem falta, de tempos a tempos, uns dias de sossego para pôr leituras em dia, ver cinema, ou simplesmente passear sem a preocupação de horários que os fins-de-semana futebolísticos sempre trazem com eles. A mim, particularmente, esta pausa soube-me a pouco, e ainda passaria muito bem outra semaninha sem jogos. Incomoda-me mais, por exemplo, que não se jogue nos dias das eleições.
Em segundo lugar, porque é uma mistificação total fazer dela uma singularidade portuguesa, quando o único campeonato que se joga em época natalícia é o inglês (de todos os jogos transmitidos ao longo do período festivo, confesso que apenas vi parte de um Arsenal-Chelsea). Nem em Espanha, nem em Itália, nem na Alemanha, nem na França, nem na Rússia, no Brasil ou na Argentina há jogos no fim-de-semana do Natal, e foi apenas esse que esteve em causa.
Pode discutir-se se o regresso das competições não deveria ter sido com o campeonato (e aí talvez já esteja de acordo), mas nunca me pareceria bem haver futebol num fim-de-semana que é, por tradição, dedicado a outros assuntos. E se alguma vez houver, certamente que o meu lugar no estádio irá ficar vazio.
TAÇA DA LIGA- Numa jornada em que todos os outros favoritos, com maior ou menor dificuldade, ganharam, ressaltou a derrota caseira do FC Porto, até por ser a primeira da temporada.
Foi uma derrota comprometedora, pois com ela a equipa de Villas-Boas ficou automaticamente dependente de terceiros para se qualificar para as meias-finais da prova.
Não lhe atribuí mais importância do que essa, que se esgota nesta mesma competição. O campeonato é diferente, e aí, com tudo a favor, não acredito, muito sinceramente, que o FC Porto ainda venha a perder nove pontos para o Benfica.
Que vai ser campeão, tenho poucas dúvidas. Se merece o título? Isso será outra questão. A forma como decorreu a primeira volta, e as ajudas que teve, impedem-me de responder afirmativamente.
Quanto à rentrée do Benfica, destacaria apenas o momento de forma de Sálvio, que está efectivamente a contrariar as minhas primeiras impressões sobre ele – que não eram muito positivas. Também Saviola parece melhorar, o que é uma excelente notícia para o ataque encarnado.
FERNANDEZ- Não o conheço, nunca o vi jogar, mas acredito que possa vir a ser uma boa opção. Por um lado porque é um jovem internacional argentino que não ficou caro. Por outro porque, tratando-se de um extremo-esquerdo, encaixa perfeitamente na mais carenciada de toda a equipa – não porque Gaitán seja mau jogador, mas porque aquele não é, manifestamente, o seu espaço de eleição.

2011

O meu maior desejo desportivo para o ano de 2011?
O regresso do Benfica a uma final europeia!