O PUZZLE SIMÃO

Apesar da sua presença no Centro de Estágios do Seixal, não é crível que Simão Sabrosa venha a acabar por permanecer no Benfica.
A entrega da braçadeira de capitão a Nuno Gomes, a sua não inscrição na pré-eliminatória da Champions, a sua não apresentação frente ao Bordéus, são indícios mais do que suficientes para termos a certeza que, no dia 1 de Setembro próximo, Simão já não estará na Luz.
O que aconteceu foi tão somente um adiar do processo de transferência para Valência ou outro lugar qualquer - o Chelsea libertou Damien Duff, pelo que não admiraria que voltasse à carga, e como sabemos, dinheiro por lá não é problema – com vinte milhões ou um pouquinho menos, com ou sem jogadores em troca (porque não insistir em Hugo Viana ?).
A verdade é que, basicamente, tanto Benfica como jogador desejam a saída.
Simão pretende, legitimamente, tentar a sua sorte num campeonato mais competitivo, e demonstrar que a experiência de Barcelona ficou para trás das costas, sabendo que esta é a idade ideal para dar o salto, e que se desperdiçar agora a oportunidade ela poderá não voltar a surgir.
O Benfica, por seu turno, necessita avidamente do dinheiro da transferência, até porque já contratou jogadores a contar com ele (para além das exigências bancárias, que obrigam a realizar regularmente mais valias).
Em termos meramente desportivos, se ele acabasse por ficar, Fernando Santos teria ainda um terrível dilema táctico para resolver, pois esta equipa está a ser edificada sem Simão, e integrá-lo nela não seria tarefa fácil.
Uma das hipóteses, mantendo o 4-4-2, seria Simão ocupar uma das posições de ataque, o que poderia ser uma boa solução na Champions, mas para a Liga Portuguesa não parece muito adequada (ainda assim seria a hipótese menos má). Outra seria o seu recuo para o meio campo, para o lugar de interior esquerdo, perdendo certamente grande parte da sua capacidade ofensiva, algo que ele seguramente não veria com muito bons olhos, pois o seu papel na equipa diminuiria de forma drástica. Restaria a hipótese de alterar de novo o esquema, voltar ao 4-2-3-1, desperdiçar todo o trabalho táctico da pré-época, ficando neste caso ainda a faltar um extremo direito. Penso ser de evitar em absoluto esta última possibilidade.
Assim sendo, neste momento é melhor para o Benfica que Simão saia, até porque, tal como o jogador, os responsáveis encarnados têm a noção que, com 26 anos, e após uma época em que realizou uma boa Liga dos Campeões e um bom Mundial, não será lícito esperar que de futuro venham a surgir muitas oportunidades de o transferir por valores da ordem de grandeza dos que têm estado à mesa das negociações.
Assim sendo, poderá não restar outra hipótese ao Benfica que baixar ligeiramente o valor pedido, a não ser que, por exemplo, Roman Abramovich possa ainda entrar neste jogo, e atirar os vinte milhões para cima da mesa. Seria o final feliz para todos, com juras de amor eterno de parte a parte.
Resta aguardar pelos próximos capítulos desta novela, a prosseguir possivelmente até final do mês da Agosto.
Apenas se lamenta é que tudo isto não tenha ficado em segredo, com o jogador a treinar normalmente com a equipa, nem que para tal fosse necessário "inventar" uma lesãozinha que o protegesse dos jogos da Liga dos Campeões. Neste aspecto jogador e direcção encarnada repartem responsabilidades.

SEM DRAMAS

A uma equipa que jogava desde os tempos de Toni e Jesualdo Ferreira (há umas cinco épocas portanto) com um determinado sistema de jogo (4-2-3-1), e agora se pede que actue com outra configuração táctica (4-4-2), tem de se dar o tempo suficiente para os jogadores interiorizarem na totalidade os princípios decorrentes desta nova aplicação.
Por isso, não me parece haver motivo para dramas face aos últimos resultados do Benfica, em jogos que não contaram para coisa nenhuma. É até natural que a equipa só lá para Outubro responda com qualidade a todo o potencial que os seus jogadores inegavelmente têm, ainda mais agora reforçados com...Simão. Até lá, convém sobretudo limitar os danos, entrar na Champions e não perder muitos pontos numa Liga que só deverá começar, para os encarnados, a 10 de Setembro, em virtude do "Caso Mateus".
Muita paciência portanto.

SORTEIO AMIGO

De entre um lote de possíveis adversários onde figuravam Chievo, Osasuna, Spartak de Moscovo ou Fenerbahce, não se pode dizer que a sorte não tenha protegido o Benfica, ao ver saír o Áustria de Viena como adversário da pré-eliminatória da Liga dos Campeões, ainda por cima jogando a primeira mão em Viena.
Esta equipa austríaca, vencedora do campeonato e da taça do seu país na época transacta, não sendo uma pêra doce, é um adversário perfeitamente ao alcance dos encarnados, que se apresentam forçosamente como favoritos à passagem à fase de grupos da competição.
O Áustria, orientado por Frenkie Schinkels, tem como ponto forte o seu meio-campo, onde actuam o polaco Radomski, o checo Vachousek e o esloveno Ceh, todos internacionais dos seus países. Até agora o campeonato não lhe está a correr bem, registando apenas um ponto nas duas primeiras jornadas. Clique aqui para saber mais sobre esta equipa.
De Viena não se pode dizer que o Benfica tenha muito boas recordações, pois foi lá, no Prater, que perdeu a sua última final da Taça/Liga dos Campeões, justamente frente ao Milan em 1990. Desta vez porém, o adversário não dispõe de Van Basten, Gullit, Rijkaard, Baresi ou Maldini...

DJALOJADOS


Apesar de ter mais onze dias de preparação em cima, o Benfica foi clamorosamente derrotado pelo Sporting no primeiro derby da época.
Os leões, com o mesmo treinador e o mesmo modelo de jogo da temporada transacta, superiorizaram-se durante todo o jogo aos encarnados, que pareceram sempre um tanto perdidos em campo, de certo ainda em busca de uma identidade colectiva que responda ao novo figurino táctico com que está a ser preparada a temporada.
Durante os noventa minutos, a pressão asfixiante do Sporting a meio campo - fruto de uma maior harmonização de movimentos ao nível do preenchimento dos espaços, trazida já da época anterior - não permitiu ao Benfica qualquer iniciativa em termos de construção.
Também em termos de atitude competitiva se notou alguma diferença entre os dois conjuntos, com um Benfica em ritmo de jogo-treino e sem se preocupar muito com o andamento dos números, e um Sporting firmemente apostado em derrotar os rivais e dar uma alegria aos seus adeptos.
Um brinde de Rui Costa, uma fífia dos centrais e um estranhíssimo auto-golo, contruíram um resultado que, mesmo com números de certo modo exagerados, não deixa de ser justo.
No Benfica apenas Katsouranis se escapou à mediocridade generalizada. No Sporting, destaque para um Liedson em muito bom registo físico, e um surpreendentemente goleador Yannick Djaló.

BOA ESCOLHA


A contratação de Fonseca pelo Benfica não pode deixar de ser recebida com satisfação pelos adeptos do clube.
O avançado mexicano, a avaliar pelos jogos que realizou no Mundial da Alemanha (onde se destacou dos seus compatriotas), parece tratar-se efectivamente de um bom reforço, permitindo outras opções de jogo para a frente de ataque, uma vez que apresenta características que diferem e complementam as dos restantes avançados do plantel encarnado. Independentemente da sua prestação no Mundial, um jogador que, só nos últimos dois anos, marcou vinte golos pela sua selecção, terá de ter forçosamente algumas qualidades.
Resta aguardar pela sua adaptação ao futebol europeu, no qual penso nunca ter jogado, e a um clube em que terá de batalhar muito até conseguir ser tão querido dos adeptos como era no México, onde mantém uma popularidade ímpar.

O VEDETA DE PATINS

Tendo em conta que VEDETA DA BOLA desde cedo se centrou no desporto-rei, e como há mais vida para além do futebol, não restou outra alternativa senão criar um espaço próprio para aquela que, cá na casa, é a segunda das modalidades desportivas.
Pegue no stick, calce os patins e entre no ringue de VEDETA DO HÓQUEI.

INOVAÇÃO

Como já deve ter percebido, o seu VEDETA DA BOLA apresenta uma novidade gráfica, publicando no post anterior a sua primeira fotografia.
Não se pretende que isto venha a significar uma revolução na forma discreta com que o VEDETA procura valorizar aquilo que nele é essencial: os textos.
Assim sendo, não se espere que as fotografias venham a ser elemento dominante neste espaço. Surgirão de forma pausada, apenas quando se justificar.
Tratando-se de um espaço de inspiração benfiquista, a primeira fotografia da história do VEDETA DA BOLA não poderia deixar de ser da equipa do Benfica.
Espero que esta pequena inovação vá de encontro ao gosto dos leitores, que são afinal a razão de ser de tudo isto. Aqui, sem qualquer provento financeiro, ainda mais que na verdadeira comunicação social.

BONS SINAIS

Não pude estar na Luz para a apresentação do Benfica aos sócios, nem sequer tive possibilidade de assistir ao jogo pela televisão. Deste modo, não irei obviamente comentar o que lá se passou no sábado.
Não quereria deixar contudo de assinalar que a pré-época do clube encarnado parece, segundo o meu ponto de vista, estar a seguir por caminhos seguros e consistentes.
Ao contrário da temporada passada, há já um modelo de jogo bem definido e um esquema táctico preferencial. O 4-4-2 em losango é um esquema que assenta como uma luva a um plantel privado de Simão e Geovanni, e reforçado com Rui Costa e Katsouranis. Por outro lado, a história recente demonstra tratar-se de um sistema que se adapta muito bem às características da Liga Portuguesa - veja-se o F.C.Porto de Mourinho ou, a outro nível, o Sporting de Paulo Bento.
O discurso do treinador também não me tem desagradado, parecendo prudente e próprio de quem sabe muito bem o que está a fazer. Trata-se de um homem inteligente e com grande estatura moral. É benfiquista.
É claro que seria melhor ter o plantel definido no dia do regresso ao trabalho, mas as consequências do Mundial nas movimentações de mercado inviabilizaram essa possibilidade.
Com mais um lateral esquerdo (Miguelito ?), com um ponta-de-lança forte e bom no jogo aéreo (porque não tentar também Hasselink ?), e mais um interior esquerdo (Hugo Viana seria fantástico), o Benfica terá seguramente uma equipa capaz de lutar pela vitória em todas as frentes.
Na quinta-feira mais um teste, desta vez contra o Sporting no Torneio do Guadiana.

ELES SABEM O QUE FAZEM

Todas as interrogações que aqui coloquei à possível venda de Manuel Fernandes para o Portsmouth, tiveram resposta quando, dias depois, se tornou público que o atleta tem de facto um problema físico algo complexo, que poderá pôr em causa, pelo menos, os primeiros meses da nova época.
Na altura, aliás, ressalvei essa possibilidade, que de pronto se confirmou: o negócio terá sido pressionado devido à lesão, o que o transforma imediatamente de duvidoso em oportuno.
Os dirigentes do Benfica, como sempre me pareceu, mostraram mais uma vez saber aquilo que fazem. Para se libertarem de um jovem com tanto potencial, algum factor extra teria de existir.
Resta-nos esperar agora que as coisas evoluam, e se concretizem, mas acima de tudo que o jogador possa recuperar a sua condição física, pois é uma pena ver tanto talento posto em causa devido a problemas físicos.

LAURENTINO A-DIAS

Eis uma interessante opinião sobre o caso Nuno Assis.

UM BOM NEGÓCIO ?

Logo que - na sequência dos seus tratamentos clandestinos em Madrid - foi aventada a hipótese de venda de Manuel Fernandes, fiquei perplexo.
Manelelé tem apenas vinte anos, é o último grande produto das escolas da Luz (desde Rui Costa não aparecera outro igual), tem uma margem de progressão enorme, será o substituto natural de Costinha na selecção nacional, e a agravar, detendo o Benfica apenas metade do valor do seu passe, qualquer venda teria sempre um efeito relativamente magro na tesouraria encarnada.
Pois bem. O negócio está consumado por quinze milhões de euros, oito e meio dos quais para os cofres da Luz.
Até prova em contrário - que pode vir a ser uma lesão de difícil solução, reiterados casos de indisciplina, ou qualquer imposição externa -, não me parece que os benfiquistas tenham motivos para festejar este negócio.
A vontade do jogador em sair não pode justificar tudo. Manuel Fernandes, quando assinou até 2010, não foi certamente obrigado a fazê-lo, e à semelhança do que se passou nos casos de Simão e Ricardo Rocha, podia muito bem ter sido convencido a ficar no clube - eventualmente com uma renovação do contrato, pois vai auferir menos no Portsmouth do que, por exemplo, Karagounis ganha na Luz - , sobretudo tratando-se de um jogador ainda muito jovem, a quem não faltariam outras oportunidades no futuro.
Além do mais, conforme Pinto da Costa disse uma vez a propósito de McCarthy, se fosse a vontade dos jogadores a ditar as leis, não valia a pena haver contratos.
O futuro dirá até que ponto este não foi um momento menos feliz na excelente gestão que o Benfica tem tido nos últimos anos, mas ou me engano muito ou já estou a ver Manelele dentro de duas ou três épocas a render bem mais do que o Benfica acaba de ganhar com ele ou, pior que isso, a brilhar de dragão ao peito.
Outro dado preocupante é a autêntica hemorragia de campeões nacionais que o Benfica tem sentido desde que, há apenas catorze meses atrás, conquistou no Bessa o seu último título. Abandonaram o clube: Miguel, Dos Santos, Manuel Fernandes, Geovanni e, muito provavelmente, Simão e Quim, isto para falar apenas dos onze titulares, pois entre os restantes a sangria foi total. Foram todos eles na altura considerados, e bem, os novos heróis do clube da Luz, e foi então prometido que apenas sairia um por época de modo a equilibrar o orçamento.
Ainda há poucas semanas, durante o Mundial, dei comigo a pensar que de entre os convocados de Scolari, para além dos quatro (ainda) benfiquistas, também Miguel, Fernando Meira, Marco Caneira, Tiago, Deco, Maniche e Paulo Santos passaram pelo Benfica sem que, salvo Tiago, tivessem rendido aos cofres do clube nada de semelhante ao o que o seu real valor veio depois a demonstrar permitir (Deco e Maniche saíram mesmo de forma completamente gratuita), o que não deixa de ser algo intrigante.
Se até entendo a saída de Simão, se já custei a perceber a de Geovanni, só mesmo o futuro me poderá explicar a de Manelelé.

OS ANÉIS E OS DEDOS

Parece estar de novo em cima da mesa a hipótese de o Benfica estabelecer um contrato de “Naming” para o Estádio da Luz. Depois dos pavilhões (Açoreana e EDP), das bancadas (Coca Cola, Sagres, PT e Sapo) e agora do centro de estágio (CGD), seria a vez de também a própria Catedral poder vender o seu nome a um patrocinador.
Os números que se ouvem são espantosos – cerca de cinquenta milhões de euros por um período de dez anos -, e representariam uma importantíssima almofada orçamental para o clube da Luz durante a próxima década. Mas, ainda assim, há sócios que não estão de acordo. Não os entendo !
O nome dum estádio não passa disso mesmo. Não se trata de mudar o emblema, o nome do clube, ou as cores do equipamento. O que está em causa não é vender o estádio, mas sim um mero contrato comercial.
Há uns anos atrás, nos negros tempos de Vale e Azevedo, foi proposto pela direcção um modelo de SAD que previa a alienação da maioria do capital a privados, ficando o clube à mercê de um qualquer indivíduo ou empresa que, algures no mundo, decidisse comprar o Benfica só para si. A ideia que esta proposta encobria era naturalmente a de ser o presidente a ficar com a propriedade absoluta do clube, e seria extremamente difícil tirar-lha mais tarde das mãos, mesmo sabendo-se de tudo o que sucedeu nos anos seguintes (Gil y Gil esteve detido e o clube permaneceu na sua posse).
Esta proposta chegou a ser votada e aprovada em assembleia geral – tenho a consciência tranquila de tudo ter feito para que isso não acontecesse, ainda que correndo riscos, inclusivamente físicos -, e só a vitória de Manuel Vilarinho nas eleições seguintes impediu que a catástrofe se consumasse.
Porque chamo para aqui este exemplo ? Justamente para melhor se distinguir o essencial do acessório nesta temática.
O Benfica é dos sócios, e assim deve continuar a ser. Recusar-me-ia a pagar quotas para uma empresa ou empresário que me considerasse um mero cliente, nem que ele se chamasse Roman Abramovich e contratasse para o clube reforços milionários (se em Inglaterra o aceitam, é lá com eles). Gosto de sentir que aquilo me pertence, que o dono sou eu, em plano idêntico ao de todos os outros associados. Nunca sentiria qualquer comunhão clubista por uma empresa, ainda que utilizasse símbolos importantes para mim, mas que não passariam então de uma nostálgica recordação. Isto é o essencial.
Mudar o nome do estádio é um mero contrato comercial. Melhor dizendo, se os números de que falei se concretizarem, é um fabuloso contrato comercial. Importa negociá-lo da melhor forma, mas não prescindir desta enorme fonte de receita, que não põe minimamente em causa a identidade benfiquista, reforçando fortemente o equilíbrio financeiro do clube.
Que melhor exemplo para terminar, o de afirmar, como qualquer pai, que os meus filhos são o que de mais importante a vida me deu. Como é óbvio, dinheiro nenhum do mundo me faria sequer pensar na hipótese de os vender, nem que estivesse em causa a minha própria vida. Mas se alguém me pagasse cinquenta milhões de euros (ou até muito menos) para o meu filho se passar a chamar Daniel em vez de João, nem ele próprio me perdoaria se, um dia mais tarde, viesse a saber que eu havia recusado.

JÁ NÃO FALTA MUITO

Á medida que o tempo vai passando sobre as fortes emoções do Mundial da Alemanha, a vida futebolística nacional - já com a generalidade dos clubes em preparação - começa lentamente a regressar à normalidade.
A liga apenas começará a 26 de Agosto (para o Benfica talvez apenas em Setembro, se o "Caso Mateus" não estiver solucionado), pelo que os primeiros grandes momentos serão os jogos da pré-eliminatória da Liga dos Campeões.
Dia 8 ou 9 de Agosto disputar-se-á a primeira mão, sendo pois agora uma boa altura para recordar quem serão os possíveis adversários no sorteio do próximo dia 28, no qual o Benfica, conforme VEDETA DA BOLA adiantou ainda em Março (num dos seus primeiros posts), será um dos cabeças de série ao lado de Arsenal, Valencia, Liverpool e Ajax entre outros.
A lista de possíveis opositores não andará longe da seguinte: Osasuna, Áustria de Viena, Chievo Verona, Palermo, Spartak de Moscovo, Dínamo de Zagreb, Estrela Vermelha, Hearts, Maccabi Haifa, Standard de Liege, Kobenhavn, Légia Varsovia, Debrecen, Valerenga, Zurique e Djurgardens.

GOLPE DE ESTÁDIO

Em Itália são condenados, demitidos, presos, e as suas equipas descem de divisão.
Em Portugal são recebidos na Assembleia da República como heróis, e ainda se riem na cara de todos nós.
Será que alguma vez poderemos ser um dos quatro melhores do mundo na justiça ?

O MUNDIAL de A a Z

A de ARBITRAGENS – A FIFA bem se empenhou em procurar demonstrar que o problema não existia, mas o que é certo é que as arbitragens pouco melhoraram desde 2002. A realização televisiva evitou cirurgicamente que os lances mais polémicos fossem objecto de muitas repetições, e até cheguei a suspeitar que a própria opinião jornalística estivesse a ser instrumentalizada, tal a diferença entre o que se via diariamente e aquilo que era comentado. Este comportamento pode ter abafado a polémica, mas não alterou o essencial: houve muitos e graves erros nesta competição – desde os três amarelos a um jogador, ao festival de cartões do Portugal-Holanda, passando por dois golos não considerados e penáltis fantasmas em jogos decisivos, de tudo aconteceu -, só não tendo maiores repercussões porque nalguns dos casos mais graves a equipa prejudicada acabou por vencer e, sejamos justos, porque a partir dos quartos-de-final o panorama melhorou sensivelmente. Mas a ideia que subsiste é a de que algo tem que ser feito neste domínio, para que não fique comprometido o futuro de uma competição desta dimensão. Já se fala na introdução de mais um árbitro de campo, o que pode ser uma das soluções.

B de BRASIL – Apontado como o principal favorito à conquista do título mundial, o “Escrete Canarinho” desiludiu em toda a linha desde que se estreou na prova até que caiu, sem honra nem glória, aos pés da França. Um Ronaldinho Gaúcho “ausente” e um esquema táctico que privilegiou as individualidades em detrimento do colectivo, empurraram o Brasil para fora de um torneio onde o equilíbrio e o rigor táctico foram as principais estrelas. Tem matéria prima de sobra para rapidamente recuperar a sua posição no futebol mundial, mas para isso terá que construir uma equipa coesa e organizada, mesmo que tenha de prescindir de algumas das suas estrelas, o que exige a coragem que terá faltado a Parreira.

C de CANNAVARO – Partilhando o sector central da defesa italiana, ora com Nesta, ora com Materazzi ou Barzagli, Fábio Cannavaro foi sempre, apesar da baixa estatura, a trave mestra da organização defensiva da equipa de Marcello Lippi. Atingiu momentos de grande brilhantismo, ao ponto de podermos estar talvez a falar do melhor jogador da competição (sobretudo se retirarmos Zidane da lista de possibilidades). Com os problemas que a Juventus enfrenta, Cannavaro tem uma boa oportunidade de se afirmar fora do seu país como um dos melhores centrais do mundo.

D de DEFENSIVO – Esta competição ficou marcada pela forma como a generalidade das equipas apostou em sistemas de jogo calculistas e de cariz defensivo. As que não o fizeram, cedo saíram da prova, levando consigo a marca de um romantismo que, cada vez mais, parece fazer parte da história do desporto-rei. Pode haver quem não goste, quem apenas aprecie a plasticidade de um jogo atacante, divertido e alicerçado em individualidades habilidosas, quem despreze a estratégia enquanto componente do espectáculo futebolístico, ou quem procure num jogo de futebol apenas o mesmo tipo de entusiasmo que encontra numa caçada de perdizes, mas o que é um facto é que este tipo de futebol veio para ficar, sobretudo em competições de selecção, com menos tempo de entrosamento, jogos a eliminar e grande equilíbrio. Meios campos densamente povoados, processos ofensivos envolvendo um número reduzido de unidades, linhas recuadas, menosprezo pela posse de bola, expectativa posta no erro adversário aproveitando o espaço nas suas costas, são hoje traços distintivos das grandes equipas do futebol europeu e mundial, tendência que havia emergido já nas últimas edições da Liga dos Campeões (o Barcelona foi apenas uma excepção), nos próprios mundiais e europeus (lembram-se da Grécia ?), e que representa a definitiva perda da inocência da modalidade.
Vai ser este, indelevelmente, o futebol dos próximos tempos – pelo menos neste tipo de competição, e a menos que sejam introduzidas alterações significativas no jogo em si -, pois é ele que melhores resultados garante, e as equipas (selecções ou clubes) pretendem acima de tudo a vitória, tal como aliás os seus adeptos (nós gostaríamos que a Itália ou a França proporcionassem um espectáculo mais agradável e entretido, mas italianos e franceses queriam sobretudo a vitória).
Conforme se disse no mundo político a propósito de outro tema : habituem-se !

E de EUROPA - As selecções europeias são incontornavelmente o berço desta nova tendência, ou deste renovar de uma tendência antiga – já nos anos setenta a Itália de Facchetti se apresentava desta forma -, que se preocupa em primeiro lugar em não sofrer golos, e só depois esperar pelos erros do adversário para os conseguir marcar, modelo que, se complementado pela eficácia ofensiva (aproveitamento das poucas oportunidades) e pelo poder físico dos atletas, se torna muito difícil de bater. A equipa agora campeã nunca renegou essa sua propensão genética – muito embora a tivesse por vezes adornado com lampejos de matriz distinta -, e até selecções como a Inglaterra, França, Portugal ou mesmo a Holanda, tradicionalmente mais ofensivas, se mostraram extremamente cautelosas, sobretudo quando em situações de vantagem no marcador. O resultado foi quatro equipas europeias nas meias-finais, seis nos quartos, e uma derrocada generalizada do futebol de outros continentes, cuja componente ofensiva os levou a alternar espectáculos de boa qualidade plastico-artística, carregados de lances de bela coreografia, com derrotas onde a sua incapacidade de transição defensiva foi posta a nu pela cínica eficácia dos adversários.

F de FIGO – Poucos seriam aqueles que, antes do Mundial se iniciar, apostariam em Figo como um dos jogadores em foco na competição. Todavia, o experiente capitão da selecção nacional puxou dos seus galões e realizou uma prova notável de classe, liderança e capacidade de sofrimento. Involuntariamente, abre um grave problema no interior da equipa de Scolari, que é o de descobrir quem o poderá substituir, não tanto em termos tácticos – há Simão, há Quaresma -, mas mais em força anímica e voz de comando.

G de GUARDA-REDES – Num Mundial de características tão defensivas, mal parecia que os guarda-redes não tivessem brilhado de forma bem luminosa. Buffon (o melhor de todos), Ricardo, Lehmann, mas também Dida, Cech, Van der Sar, Casillas, Robinson, e até Barthez, para não mencionar algumas agradáveis surpresas oriundas de selecções de menor nomeada, estiveram quase sempre muito próximo da perfeição que a função exige. Os adeptos gostam mais de ver golos, mas as grandes defesas também fazem parte do futebol.

H de HISTÓRICO – O quarto lugar da selecção nacional foi a segunda melhor participação de sempre de Portugal em Mundiais. Se tivermos em atenção que em 1966 não havia oitavos-de-final (e que agora não havia Eusébio...), chegaremos à conclusão que talvez nunca antes um conjunto português se tenha apresentado tão forte e com tantas capacidades de discutir, inclusivamente, o título mundial, como esta brilhante selecção orientada por Scolari. Um feito para ficar gravado a letras de ouro no historial do futebol luso.

I de ITÁLIA - Partindo de um contexto de grande instabilidade, resultante do “Calciocaos” que chegou a levar a interrogatórios judiciais o próprio Marcello Lippi (para além de Buffon e outros jogadores), e originou manifestações hostis dos “tiffosi” em pleno estágio de preparação, a selecção italiana cedo demonstrou ter deixado os problemas em Roma e em Turim, e mostrou-se, no geral, a equipa mais poderosa da competição. O título assenta-lhe muitíssimo bem, mas veremos que consequências ele terá no desenvolvimento do triste e complexo processo a decorrer nos tribunais. Seria injusto não mencionar os nomes de Buffon, Zambrotta, Cannavaro, Grosso, Pirlo e Gattuso, como aqueles que mais sobressaíram no articulado e harmonioso conjunto transalpino

J de JOGOS BONS E JOGOS MAUS– Quem apenas se compraz com a plasticidade de um jogo pura e ingenuamente atacante, alicerçado no brilhantismo das individualidades, seus dribles e seus apontamentos de magia e golos, não terá grandes motivos para recordar este torneio. Todavia, a generalidade dos jogos, quer da primeira fase, quer sobretudo na fase eliminatória, foram de grande intensidade dramática, de enorme riqueza táctica, e de competitividade extrema, o que acabou por fazer deles interessantes espectáculos aos olhos de quem não entenda o futebol como um mero programa de entretenimento, e procure descobrir as especificidades científicas que rodeiam o jogo - nunca perdendo de vista que as equipas entram em campo com o objectivo único de vencer, e assim sendo, jogar bem será então justa, unica e simplesmente encontrar o modo mais rápido e seguro para conseguir a vitória.
Houve poucos golos, o que, tendo em conta os caminhos que este modelismo táctico está a impor, poderá ser um impulso para a FIFA proceder a algumas alterações de fundo, como por exemplo um aumento da dimensão das balizas, ou a delimitação da zona de fora-de-jogo ao enfiamento da linha de grande área. Veremos o que os próximos anos ditam acerca deste apaixonante tema.

K de KLOSE – Quase tem passado despercebido, mas o que é certo é que foi (com toda a clareza) o melhor marcador do Mundial e, ao repetir os cinco golos do Coreia-Japão, situa-se já num interessante posto entre os melhores de sempre na história da prova, tabela que entretanto Ronaldo passou a liderar. Depois de 2002, Klose não foi figura de topo no futebol europeu, regressando apenas agora à ribalta. Veremos como decorrerá a sua carreira daqui em diante.

L de LIPPI – Um treinador campeão do mundo é sempre, por inerência, um dos melhores, ou mesmo o melhor. Marcello Lippi, para além do título – que num assomo de azar podia até ter visto fugir-lhe – realizou um trabalho a todos os títulos notável. Em primeiro lugar, a forma como blindou a equipa a toda a instabilidade que o “Calciocaos” naturalmente causou, demonstra uma capacidade de liderança e de motivação impressionantes. Mas para além do aspecto anímico, a Itália foi também uma selecção extremamente bem preparada física e tacticamente, resistindo a dois intensos prolongamentos nos dois últimos jogos, e apresentando múltiplas variantes ao nível do sistema táctico, passíveis de ser utilizadas de acordo com os adversários e as especificidades que cada situação de jogo lhe apresentava. Viu-se uma Itália com um ponta-de-lança, com dois, com três, com um meio campo em losango, com 4-3-3 em linha, modificando a sua estrutura sempre que necessário, sem perda de rendimento competitivo. Tinha matéria prima para o fazer, é verdade, mas quantas outras selecções a tinham também e não conseguiram dar o golpe de asa que certos momentos exigiam?

M de MANICHE – Parecem hoje ridículas todas as dúvidas que se colocaram perante a sua convocação, tal a qualidade do seu desempenho na Alemanha. Bem razão tinha José Mourinho ao afirmar que ele, apesar de pouco jogar, se encontrava em excelentes condições (no Chelsea teve pela frente Essien, Makelele e Lampard). Depois de ter sido um dos melhores jogadores do último Europeu, Maniche volta a estar entre os melhores do Mundial, provando aquilo que aqui defendi há já algum tempo: na sua melhor forma é um jogador de topo a nível internacional, nada devendo aos Figos e Ronaldos da nossa selecção. A dúvida que fica é saber até que ponto será ele capaz de manter esta bitola exibicional durante uma temporada inteira, algo a que ainda não respondeu com clareza, tendo agora a oportunidade ideal para o fazer.

N de NUNO GOMES – Jogou apenas quarenta e três minutos neste Mundial. Nesse tempo de jogo marcou um golo e criou mais uns dois ou três lances de perigo, lançando a dúvida sobre a preferência de Scolari por um completamente inoperante Postiga, sempre que teve de refrescar o ataque.
Onde chegaria Portugal se Nuno Gomes tem entrado na segunda parte do jogo com a França ?
Nunca poderemos responder cabalmente a essa questão, mas a sensação que fica é a de que terão sido factores extra-desportivos, que terão determinado a opção do seleccionador.

O de OITAVOS-DE-FINAL – Foi nos oitavos que Portugal defrontou a Holanda, num jogo que marcou o Mundial e a prestação portuguesa de múltiplas formas. Se por um lado foi este jogo, com toda a sua carga dramática, que lançou a equipa de Scolari a caminho de um torneio inesquecível, também é verdade que, sob o aspecto disciplinar, lançou um anátema sobre os portugueses, que acabou por se fazer sentir de forma perversa nos jogos seguintes, designadamente na forma como as arbitragens (e os adversários) passaram a olhar os nossos jogadores. Selecção portuguesa á parte, este jogo marcou também uma clara distinção entre duas formas de arbitrar, uma pré-Portugal-Holanda, com cartões distribuídos a eito e interrupções constantes dos jogos, e outra pós-Portugal-Holanda, com arbitragens muito mais permissivas, de critérios largos, e com a preocupação evidente de deixar os jogos terminar com vinte e dois jogadores em campo, o que valoriza os espectáculos – missão que, não devendo ser exigida a quem entra em campo apenas para ganhar, pode e deve pedir-se a quem tutela o jogo dentro das quatro linhas.

P de PONTAS DE LANÇA – Num Mundial tão cauteloso e tão fechado tacticamente, seria difícil um grande destaque para os pontas-de-lança. É um pouco como a história do ovo e da galinha: será que o Mundial teve poucos golos porque os pontas-de-lança estiveram mal ? ou será que eles estiveram mal porque os sistemas de jogo implementados pelos seus técnicos não lhes permitiram brilhar ?
Réus ou vítimas, a verdade é que salvo raras excepções (Klose, e em certa medida Ronaldo, Henry e Crespo), os goleadores não apareceram na Alemanha.

Q de QUATRO-QUATRO-DOIS – Sensivelmente a meio da competição, foi publicado neste espaço um artigo que defendia ser o 4-4-2 o sistema táctico triunfante neste Mundial. Na altura, grande parte das selecções apuradas para os oitavos-de-final apresentava como base estruturante uma ou outra variante do 4-4-2, sendo que duas das escassas excepções eram Portugal e a França.
Pois bem, a verdade é que, não só portugueses e franceses chegaram às meias-finais, como a Itália, que se veio a sagrar campeã, alterou o seu esquema preferencial, subtraindo um dos pontas-de-lança ao onze (Gilardino) e incorporando um ala (Camoranesi), o que lhe acabou por dar uma feição muito mais aproximada do 4-3-3 do que do 4-4-2 inicial. Assim sendo, e levando em conta que três dos quatro semi-finalistas (a excepção foi a Alemanha, sempre fiel ao 4-4-2) adoptaram um sistema próximo do 4-3-3 (4-2-3-1, ou 4-3-2-1 no caso italiano), não se pode mais dizer que o 4-4-2 tenha marcado uma posição maior do que a que já tinha, no domínio das preferências tácticas dos principais treinadores mundiais.

R de REVELAÇÕES – Não foi um torneio muito propício a revelações. Os principais candidatos ao título discutiram-no entre si (talvez Portugal tenha sido o único outsider de relevo), e selecções como o Gana ou a Austrália, mau grado a beleza do seu jogo ofensivo, acabaram traídas pela inexperiência e falta de rigor defensivo (mais marcante no caso dos africanos). A Suiça merece a referência de não ter sofrido qualquer golo na prova, perfilando-se como candidata a um excelente Europeu 2008 - prova que disputa em sua casa.
Também em termos individuais o Mundial não trouxe grandes novidades. Pelo contrário, brilharam nomes que pareciam já caminhar para o ocaso das respectivas carreiras como Figo, Zidane, Vieira e, em certos momentos, até Beckham ou Del Piero.
Maniche, que já se havia revelado no Euro 2004, deu-se agora a conhecer ao mundo. Revelações propriamente ditas foram apenas os laterais esquerdos Grosso (Itália) e Lahm (Alemanha), o avançado alemão Podolski, o polivalente argentino Maxi Rodriguez, e sobretudo o ala francês Ribery.

S de SCOLARI – Felipão passou, ao longo do último mês, um verdadeiro rolo compressor sobre aqueles que, tanto e tão incompreensivelmente, o criticavam. Ao levar a selecção nacional a (praticamente) repetir a saga dos magriços, Scolari demostrou (uma vez mais) tratar-se de um fabuloso técnico, cuja principal arma se situa no plano da mentalização e coesão de grupo, aspecto que hoje, com quase tudo inventado em termos de tácticas e metodologias de treino, faz a diferença (Mourinho que o diga) e define campeões. Não esteve isento de erros, quem o está ? Mas o essencial do seu trabalho sai fortemente valorizado deste Mundial, sendo já muito poucos os que se atrevem a beliscar a sua cada vez mais inegável competência. Que fique em Portugal mais dois, quatro, oito anos, os que quiser !

T de TELEVISÃO – Para quem não pôde estar na Alemanha, o Mundial tornou-se num intenso exercício de visionamento televisivo, pelo que as questões em redor das transmissões se tornaram determinantes na vivência do acontecimento.
Há que destacar desde logo a fraca realização alemã, que foi capaz de ser tão zelosa a ocultar imagens de lances duvidosos, como a “demonstrar” as simulações de Cristiano Ronaldo ou dos portugueses em geral. Além destes aspectos, as câmaras patentearam ainda uma estranha displicência no tratamento das substituições, e sobretudo dos cartões amarelos, que por vezes passaram despercebidos ao realizador.
Em termos de comentadores, tanto Humberto Coelho na SIC, como, sobretudo, o surpreendente José Peseiro na Sport tv, estiveram à altura da ocasião. As narrações de José Augusto Marques e Rui Orlando não deslustraram.
Também o programa da RTP foi muito bem conseguido, de muito valendo Carlos Daniel, Luís Freitas Lobo e Marcelo Rebelo de Sousa, para além do trio de excelentes comunicadores nos dias de jogo de Portugal (não entendi porque é que o dia da final não mereceu programa, sendo apenas apresentado o resumo do jogo).
Como reparo, é de lamentar a ausência de mais comentadores e narradores em estádio por parte da Sport tv (só os jogos de Portugal o mereceram por parte do canal codificado).

U de UNIÃO – É impressionante a força com que o futebol consegue congregar as pessoas em torno de uma ideia de pátria, o que nenhuma outra actividade ousa sequer tentar. Não são só as bandeiras á janela, mas toda uma iconografia que remete o Mundial para um paralelismo com as antigas guerras, e os jogadores para o patamar dos antigos heróis, e que faz deste jogo o último refúgio das identidades nacionais num contexto de globalização acelerada e compressora. Não se pense que é apenas em Portugal que este fenómeno ocorre, pois em praticamente todo o mundo o torneio uniu nações, fez chorar e fez o povo sair á rua a comemorar vitórias como se de algo transcendental se tratasse.
Não se pense contudo que é possível transferir esta energia para outras actividades ou eventos, como tem sido pedido pelo poder político e económico. O futebol é o futebol e tem esta capacidade impar. Nada mais se lhe assemelha, e a sua força é apenas sua.
Apetece perguntar: o que seria da pátria dos nossos dias sem o futebol a puxar por ela ?

V de VENCEDORES – Só a Itália conquistou o título, mas os vencedores deste Mundial foram vários. A Alemanha pela organização, Portugal pelo histórico quarto lugar, a França por ter chegado à segunda final da sua história, a Ucrânia pela chegada aos quartos-de-final, a Austrália e o Gana pelo divertido futebol que apresentaram, Angola pela digna presença, e a FIFA pelas receitas, seguramente volumosas.
No campo dos derrotados teremos que colocar o Brasil, a Argentina, a Espanha, a Inglaterra, a Holanda, a Polónia e a Sérvia. Em termos individuais, Ronaldinho Gaúcho passou ao lado da prova, e Zidane acabou como se viu. Já que se fala em Zizou, se a FIFA ganhou em receitas, deu uma pálida imagem dos seus critérios, ao nomear o francês como melhor jogador depois daquilo que o mundo inteiro viu, e a mim me entristeceu particularmente - depois da eliminação de Portugal, torcia firmemente por ver Zidane acabar a carreira com a taça do mundo nas mãos. Já nas designações do “Man of the Match” os critérios tinham sido bastante estranhos (recorde-se como Ricardo, no jogo com a Inglaterra, ficou incrivelmente afastado da distinção).

W de WAYNE ROONEY – A justíssima expulsão do dianteiro inglês, que aliás terá pesado na decisão de nomear o mesmo árbitro para a final, foi a base para uma inqualificável campanha da imprensa inglesa contra Cristiano Ronaldo, como se avisar o árbitro daquilo que se tinha passado fosse mais grave do que o facto em si – a agressão de Rooney a Ricardo Carvalho.
Ao que se sabe, essa mórbida campanha, acabou por se traduzir na criação de sites exclusivos para insultos e ameaças, e mesmo na vandalização da casa do jogador, o que criou um ambiente muito pouco hospitaleiro para Ronaldo poder prosseguir a sua carreira em terras de sua majestade (mais perdem...).
Não sei onde está a civilidade e o cavalheirismo britânicos, nem consigo entender a psicologia de quem entende desta forma um jogo de futebol. O que sei é que, desde que o Mundial começou até final, o jovem jogador português teve um comportamento correctíssimo dentro e fora do campo (nem sempre fora assim no passado, é verdade), e viu-se injusta e barbaramente confrontado com uma verdadeira bola de neve de críticas e ataques, a maioria das vezes galgando o terreno da estupidez, que terão abalado um pouco, de modo cruel, a sua imagem noutras paragens do globo.

X de XÍS – A grande incógnita que resta para o futuro da selecção portuguesa, passa por saber quem poderá substituir, mais do que Figo, Pedro Pauleta na frente da ataque da “equipa de todos nós”. Nuno Gomes tem trinta anos, pelo que pode ainda ser uma alternativa válida, pelo menos, para o Euro 2008 mas, e para 2010 ? e que outras alternativas ? Hélder Postiga (mais uma vez) pouco mostrou, Hugo Almeida tarda em afirmar-se (se é que alguma vez vai conseguir ultrapassar aquela indolência exasperante), João Tomás também já dificilmente se apresentará em condições de assegurar o lugar na África do Sul, e Ricardo Vaz Té ainda parece longe de poder passar de uma alternativa de segundo plano. Quem mais ? Para já, ninguém !
Deixo portanto aqui o apelo à Academia de Alcochete, para que deixe de formar apenas extremos (já chegam Futre, Figo, Simão, Ronaldo, Quaresma e Boa Morte, e já se fala de Paim), e invista todos os seus meios na detecção e formação de pontas-de-lança, que tanta falta fazem ao futebol português. A menos que o problema esteja mesmo na genética nacional, e se assim for, estaremos então seguramente mais quarenta anos até chegar de novo às meias finais de um campeonato do mundo.

Y de YA – É esta a palavra que se deve aos alemães pela sua sumptuosa organização. Mesmo não tendo estado no local, o que torna difícil a missão de avaliar a organização do evento nos seus aspectos logistico-burocráticos, percebeu-se a partir de Portugal que a organização germânica pôs de pé um excelente trabalho. O clima de festa perpassou para os ecrãs de televisão de todo o mundo, os casos de violência foram meramente pontuais (Ricardo bem merecia melhor agradecimento por parte da FIFA neste particular), e como se esperava, tudo acabou em bem. Os estádios, ainda que vistos via tv, pareceram fantásticos (o Olímpico de Berlim é um monumento que não quererei deixar de visitar assim que tenha oportunidade de me deslocar à capital alemã). Os problemas com a atribuição de bilhetes devem ser assacados à FIFA e ás federações nacionais, pelo que o Comité Organizador deverá sair incólume dessa questão, que aliás já ocorrera aquando do Euro 2004.

Z de ZIDANE – Fui um grande admirador de Zidane. Foi um dos melhores jogadores do mundo na última década, e quando já pouco se esperava de si, eis que aparece em grande forma neste Mundial fazendo as delícias dos adeptos do futebol. Até aos 110 minutos da final de domingo era o justíssimo favorito a título de melhor jogador do torneio. Depois...o que lhe terá passado pela cabeça ?
Zidane desiludiu-me. Desiludiu-me profundamente, num dia em que eu esperava vê-lo levantar a taça e despedir-se conforme o guião que este Mundial parecia anunciar. Já que não foi um português, já que Ronaldinho Gaúcho e Leo Messi pouco saíram da sombra, Zidane era um rei perfeito no trono do mundo da bola (que bem ficaria a sua fotografia de taça na mão na capa da edição especial do ”Onze”, que colecciono desde 1978...). Mas fracassou. Fracassou em toda a linha, e nada do que se possa agora fazer ou dizer vai apagar a nódoa daquele triste instante.
Zidane estragou o mundial nos últimos momentos, tal como, ironicamente, a letra Z me obriga a terminar este texto com uma nota profundamente negativa.
Porquê Zizou ? Ficará a eterna questão, à qual qualquer resposta será sempre insuficiente.

SELECÇÃO IDEAL - Vedeta da Bola

Buffon, Zambrotta, Cannavaro, Thuram, Lahm, Vieira, Pirlo, Maniche, Zidane, Ribery e Klose

RANKINGS FINAIS

TOP JOGADORES: 1º CANNAVARO 2º Zidane 3º Buffon
4º Pirlo 5º Vieira
TOP EQUIPAS: 1º ITÁLIA 2º França 3º Alemanha 4º Portugal 5º Argentina
TOP GOLOS: 1º M.RODRIGUEZ 2º J.Cole 3º Cambiasso 4º Torres 5º Koné
TOP JOGOS: 1º ALEMANHA-ITÁLIA 2º França-Espanha 3º Inglaterra-Suécia 4º Portugal-Holanda 5º França-Itália

DECIDIDO AO CENTÍMETRO

Num Mundial pautado pelo equilíbrio e pelo rigor defensivo, e particularmente numa final entre dois intervenientes que se haviam evidenciado justamente pela forma como souberam interpretar essa nova tendência do futebol actual, não era de esperar um espectáculo de jogo ofensivo, com muito espaço e oportunidades de marcar.
Não surpreende por isso, que o título mundial tenha sido decidido por uns centímetros de barra a mais, que impediram o tiro de Trezeguet de entrar na baliza do extraordinário Buffon no sempre dramático desempate por pontapés da marca de grande penalidade.
Nos primeiros vinte minutos da final de Berlim, até se pensou vir a ser possível assistirmos a uma final empolgante de futebol de ataque e golos. O prematuro golo de Zidane, na transformação de uma grande penalidade discutível, obrigou os italianos a abrirem as portas do seu jogo e, sobretudo através do aventureirismo atacante dos seus laterais, procurarem o golo que lhes desse a tranquilidade do empate. Conseguiram-no num lance de bola parada, deixando a nu as fragilidades da França quando posta perante altos cabeceadores no coração da sua defesa – algo que Portugal não tem, e muita falta lhe fez nas meias-finais.
Até final da primeira parte o jogo foi repartido, embora a Itália parecesse sempre mais empenhada em arriscar acções ofensivas com vários elementos e, mormente em lances de jogo aéreo, acabasse por estar mais próxima de marcar.
Na segunda parte o jogo mudou de feição. Com a subida dos laterais franceses, Grosso e Zambrotta foram obrigados a recuar no terreno (ou terão sido ordens de Lippi ?), e a bola passou a circular mais tempo pelo meio campo transalpino. Os gauleses forçaram então o ataque, sobretudo através de acções de Zidane e Henry, mas a intratável defesa italiana foi resolvendo todos os problemas que se lhe depararam. Todos sabemos como a Itália se sente confortável a jogar sem bola e remetida a um feroz e rigoroso posicionamento defensivo, mas como se isso não bastasse, conta na sua excelente linha defensiva com um Cannavaro em super-forma e, atrás de si, tem o melhor guarda-redes do mundo.
Assim sendo, o jogo perdeu audácia - nunca intensidade - e o espectáculo foi-se transformando naquilo que a sua natureza anunciava: um típico jogo de Mundial, disputado como se o relvado se transformasse numa folha de papel quadriculado, com cada centímetro rigorosamente vigiado e disputado como se disso dependesse uma vida, sobretudo os situados perto das balizas, e consequentemente uma quase total ausência de lances de perigo.
Sem querer precipitar-me numa análise mais global daquilo que nos legou este Mundial 2006 – que fica desde já prometida para os próximos dias -, diria apenas que divido cada vez mais os jogos de futebol entre aqueles que me prendem e os que não o conseguem fazer. Este pertenceu ao grupo dos primeiros – à semelhança aliás da generalidade dos jogos deste torneio -, pelo que considero ter-se tratado de uma boa final (e de um bom Mundial). Foi um jogo intenso, disputado, equilibrado, com bons momentos de futebol, e onde as duas equipas tentaram, com grande categoria e disponibilidade, tudo o que lhes foi possível para se tornarem campeãs do mundo, e a verdade é que, ainda assim, no global dos cento e vinte minutos, até acabou por ter oportunidades, bolas na trave, grandes defesas e golos. Por o que ontem se passou, qualquer vencedor seria justo, mas atendendo ao que foi todo o campeonato, desde a primeira fase, talvez possamos concluir que este título assenta melhor à Itália.
Em termos individuais gostaria de destacar nos transalpinos o já falado Cannavaro, o também já referido Buffon, para além dos incansáveis Zambrotta e Gattuso. Pirlo esteve bem, como sempre, e Materazzi marcou o golo, “expulsou” Zidane e esteve muito seguro ao longo de toda a partida. Na França gostei bastante da actuação de Malouda, e Makelele também esteve ao seu nível. Zidane estava a fazer um jogo de grande classe, a garantir com tranquilidade o trofeu para o melhor jogador do campeonato, quando de súbito lhe terá passado algo pela cabeça que ainda não consegui compreender, sobretudo tratando-se de um jogador calmo e de grande experiência, que disputava ali os últimos minutos de uma brilhante carreira.
Choram os franceses, rejubilam os italianos. É assim o futebol.

VEDETA DE PORTUGAL (Classificação Final)

1ºRICARDO 4,00; 2ºManiche 3,71; 3ºFigo 3,71; 4ºMiguel 3,50; 5ºDeco 3,50; 6ºR.Carvalho 3,33; 7ºF.Meira 3,14; 8ºSimão 3,14; 9ºN.Valente 2,83; 10ºPetit 2,83; 11ºRonaldo 2,83; 12ºTiago 2,60; 13ºP.Ferreira 2,33; 14ºPauleta 2,33; 15ºCostinha 2,20; 16ºN.Gomes 2,00; 17ºH.Viana 2,00; 18ºR.Costa 2,00; 19ºCaneira 2,00; 20ºPostiga 1,00 e 21ºBoa Morte 1,00

UM ADEUS TRISTONHO

Quando ouvi o próprio Luiz Felipe Scolari na véspera do jogo de atribuição de 3º e 4º lugar, afirmar que o mesmo não fazia sentido e representava uma tortura adicional para jogadores desmotivados, e Costinha dizer que ser segundo, terceiro, quarto ou quinto era a mesma coisa, pensei para comigo que Portugal tinha acabado de se quedar pelo quarto lugar deste Mundial, dizendo assim adeus à possibilidade de igualar os “Magriços” - que assim vão perdurar como aqueles que conseguiram a melhor classificação de sempre para o nosso país na competição máxima do desporto internacional.
O que se viu no sábado em Estugarda foi uma equipa empenhadíssima em conseguir a melhor classificação possível no Mundial de que era anfitriã, e outra, a portuguesa, em ritmo de jogo amigável, sem grandes rigores, sem grandes sacrifícios – a forma foita como a selecção se apresentou durante alguns períodos de jogo, não representou no meu ponto de vista um acréscimo de qualidade, mas sim um decréscimo de rigor -, acabando obvia e naturalmente a tentar evitar, de forma aflitiva, uma humilhante goleada, possibilidade que chegou a pairar no ar quando Schweinsteiger fez o terceiro golo germânico.
Não era o fim de Mundial que eu esperava. Acho que o terceiro lugar é melhor que o quarto, assim como o segundo seria bem melhor que o terceiro – preferia mil vezes estar hoje no lugar da França, mesmo tendo perdido dramaticamente nos penáltis -, mas sobretudo, acho que teria sido importante terminar esta saga com uma redentora vitória.
Pelos vistos os responsáveis e os jogadores assim não o entenderam, e abordaram este jogo como um sacrifício (ou um passeio ?), esperando talvez que a Alemanha o fizesse também, e assim o triste menos triste, com mais ou menos sorte, o levasse de vencida. A forma como os alemães festejaram a vitória foi a resposta.
É claro que nada disto apaga o brilho da campanha portuguesa, nem a honra da classificação final. Portugal fez um grande Mundial, e ficar nos quatro primeiros é extraordinário face ao nosso historial na competição, e às potências que ficaram atrás de nós na classificação final. Mas que um adeus vitorioso deixaria outro sabor, parece-me inegável - quantos mais teriam estado ontem no Jamor em caso de vitória sobre os alemães ?
Deste jogo ressalta ainda a intrigante questão da não utilização de Nuno Gomes (sobretudo) contra a França. O avançado benfiquista marcou um belo golo e criou mais problemas no pouco tempo que esteve em campo do que Postiga em todo o torneio. Não adianta chorar sobre leite derramado, mas fica a sensação de ter existido algo para além das normais questões físicas, técnicas e tácticas.

VEDETA DO JOGO

DECO (3) Desfrutando de maior espaço para jogar, o “Mágico” teve a oportunidade de realizar um jogo mais de acordo com a sua enorme capacidade. Sobretudo na primeira parte, foi dele que saíram a maior parte dos lances de ataque da equipa, sempre com critério de movimentação e de passe. Na fase final do jogo apagou-se um pouco, talvez devido aos problemas físicos que o têm apoquentado.

OS NOSSOS UM A UM

RICARDO (2) Aquele primeiro golo, com muitas culpas suas, foi uma nódoa na extraordinária campanha que realizou na prova. Foi pena.
PAULO FERREIRA (2) Mostrou pouco ritmo e alguma desconcentração, percebendo-se porque Miguel lhe ganhou o lugar.
FERNANDO MEIRA (3) Foi o melhor da defesa, assumindo-se, na ausência de Carvalho, como a referência máxima do sector. Nota positiva.
RICARDO COSTA (2) Entrou algo nervoso e nunca se recompôs. É absolutamente natural a falta de entrosamento com os colegas.
NUNO VALENTE (2) Depois de um grande jogo com a França, pareceu no sábado bastante desgastado.
COSTINHA (1) Um cartão amarelo e nada mais. Viu-se claramente que, para ele, ser terceiro ou quarto era a mesma coisa.
MANICHE (3) Não foi brilhante mas ainda assim foi dos que mais tentou lutar contra a generalizada tendência para a passividade.
SIMÃO (2) Foi titular, mas penso ter sido o seu jogo menos conseguido. Na primeira parte ainda teve um ou outro pormenor interessante (como uma excelente assistência para Pauleta), mas depois eclipsou-se por completo.
PAULETA (1) Se estivesse em causa analisar a sua fabulosa carreira internacional, seria seguramente merecedor de nota “cinco”. Observando apenas o jogo de sábado tem que se dizer que não foi a despedida que ele de certo desejaria.
CRISTIANO RONALDO (1) Terá, à semelhança de alguns colegas, interiorizado que se tratava de um jogo de exibição. Só assim se entendem os toques de calcanhar e os adornos absolutamente estéreis que insistiu em utilizar – e que a mim, pessoalmente, nada me impressionam, pois a beleza do futebol está no jogo colectivo. Quando tentou jogar de forma mais prática, já era tarde.
PETIT (1) Entrou ao intervalo e não se pode dizer que tenha sido feliz. Um autogolo, alguma passividade na pressão defensiva nos lances dos outros dois golos, e praticamente mais nada.
FIGO (3) Este, pelo contrário, nunca se perde em malabarismos mais próprios do mundo circense, e joga futebol como ele deve ser jogado. Entrou com vontade de mudar o rumo aos acontecimentos, fez uma primorosa assistência para golo, e sai do Mundial e da selecção com a marca de qualidade que sempre patenteou.
NUNO GOMES (3) Já se falou dele. Fez um excelente golo, e ainda criou alguns problemas mais para a defesa alemã. Entende-se a preferência por Pauleta para a titularidade, não se compreende é a escolha de Postiga como primeira alternativa ao açoriano.

FINALZINHA OU JOGO DE TRISTES ?

Portugal despede-se deste inesquecível Mundial 2006 disputando o terceiro lugar com a anfitriã Alemanha em Estugarda - precisamente no mesmo estádio onde, há vinte e um anos atrás, um pontapé de Carlos Manuel derrotou os germânicos e nos levou ao México 86.
Algumas opiniões, mesmo do lado de dentro do futebol, defendem que estes jogos não fazem sentido, e que se transformam invariavelmente em torturantes encontros de tristes derrotados. Não concordo.
Cair numas meias-finais de um Mundial pode ser uma frustração para uma Alemanha ou um Brasil, mas de modo algum o será para uma selecção como a portuguesa. É a segunda vez na história que Portugal consegue chegar tão longe, e seguramente que dentro de muitos anos estes momentos ainda serão recordados com emoção e felicidade por todos os que os viveram.
Neste contexto, o jogo de consolação do próximo sábado pode e deve ser um importante e agradável momento de consagração para uma selecção que fez uma trajectória bem melhor do que seria normal esperar. É esta a filosofia destes jogos, e quanto a mim, consola-me bastante o facto de, mesmo que depois de uma derrota, ainda poder ver mais um jogo da nossa selecção neste Mundial, ou seja, ter uma última oportunidade de sair da prova com uma vitória.
De resto, toda a gente se lembra que em 1966 Portugal ficou em terceiro lugar, e não apenas que disputou as meias finais.
Recordo-me de grandes jogos para atribuição do terceiro lugar, como por exemplo o Brasil-Itália de 1978 (2-1 com fantásticos golos de Nelinho, Dirceu e Causio) na Argentina – Mundial em que o Brasil não foi derrotado uma única vez, e a Itália era a antecâmara da equipa que se sagraria campeã no torneio seguinte.
Não me parece que o futebol, como a vida, seja feito apenas de vencedores. Ir a umas meias-finais pode também ser excelente, como o é seguramente no nosso caso. Estar na final, mesmo que derrotados, seria ainda melhor. Centenas de países disputam o Mundial de futebol em todas as suas fases, só um ganha, só quatro são semi-finalistas, e só oito são quarto-finalistas.
Se Portugal ficar em terceiro lugar (ou mesmo que se quede pelo quarto), a história dos mundiais poderá não nos dar grande relevo - o que em rigor até nem será verdade, pois toda a gente se lembra da Croácia de 1998, da Bulgária de 1994, da Turquia de 2002, para não falar da célebre “Laranja Mecânica” que também nunca foi campeã, assim como a Hungria de Puskas -, mas a história do futebol português de certo registará, com letras de ouro, esta selecção nas suas páginas.
Vamos portanto ganhar á Alemanha, e assim terminar o Mundial 2006 com um enorme sorriso nos lábios.
Viva Portugal !

VEDETA DE PORTUGAL (Actualização)

1º RICARDO 4,33
2º Maniche 3,83
3º Figo 3,83
4º Miguel 3,50
5º R.Carvalho 3,33

UMA GOTA DE ORGULHO EM CADA LÁGRIMA DERRAMADA

Pois é... umas vezes perde-se, outras vezes ganha-se, é assim o futebol.
Daqui a algumas semanas, quando a poeira assentar, a frustração desta derrota dará lugar ao orgulho por uma campanha inesquecível da nossa selecção. Poderemos um dia falar aos nossos filhos e netos, das fintas do Ronaldo, dos remates do Maniche e das defesas do Ricardo, da mesma forma que nos falaram dos golos de Eusébio ou dos passes de Simões. Também em 1966 faltou uma pontinha de sorte. É sempre assim.
Este Portugal de Scolari é de facto uma das melhores selecções do mundo, mas não é a melhor selecção do mundo. É uma equipa com grandes talentos, com uma alma inesgotável, mas também com algumas limitações – que a impedem por exemplo de conseguir penetrar com facilidade em defesas muito fechadas e criteriosamente posicionadas. Podemo-nos queixar da sorte, que ontem não nos protegeu, mas a verdade é que ela nos ajudou decisivamente a chegar às meias-finais nos dramáticos jogos com a Holanda e a Inglaterra.
Já ouvi dizer que Portugal fez o seu melhor jogo na prova. Um equívoco, pois embora não tenha jogado mal – longe disso, fazendo uma exibição à altura de um semi-finalista mundial e tendo motivos para erguer bem a sua cabeça - foi a primeira vez em toda a competição que ficou em desvantagem no marcador, sendo obrigado a optar por um futebol mais ofensivo, a ter mais posse de bola e a rematar mais, o que transmite a ilusória sensação de um controlo de jogo que na realidade pertenceu sempre ao adversário, sobretudo depois dos trinta minutos iniciais em que imperou o equilíbrio.
Já ouvi também dizer que a França nada jogou. Outro equívoco. A selecção gaulesa esperou meia hora por uma oportunidade, quando ela surgiu aproveitou-a e depois defendeu a vantagem com grande categoria, soube impedir Portugal de construir grandes ocasiões de perigo, e procurou desgastar-se o menos possível com um posicionamento soberbo, próprio de uma equipa de grande maturidade e experiência.
Apesar de entender algumas declarações, produzidas com a frustração ainda bem quente a correr pelas veias, não penso que tenha sido o árbitro uruguaio o responsável pela nossa eliminação. O penálti assinalado é indiscutível e, se é certo que ficam dúvidas no lance que envolveu Cristiano Ronaldo, também não me parece honesto afirmar tratar-se objectivamente de uma falta clara. Os responsáveis pela derrota portuguesa foram Thuram, Gallas, Vieira, Makelele, Zidane, e principalmente... a Srª do Caravaggio, que decidiu não estar em Munique na noite de ontem.
Agora resta-nos a esperança de ganhar à Alemanha, igualar os “Magriços” e sair do Mundial pela porta grande. Depois, como o mundo não acaba, preparar o próximo Europeu e criar as condições para que estas presenças em meias-finais e finais não sejam episódicas mas, pelo contrário, possam tornar-se regulares. Então, só então, poderemos reclamar o estatuto de verdadeiros candidatos aos títulos.
Viva Portugal !

OS PORTUGUESES UM A UM

RICARDO (3) Depois de uma jornada heróica, Ricardo desceu à terra. Fez uma exibição regular, por pouco não defendeu o penálti, acabando depois por ser feliz num lance em que deixou a bola passar por baixo do corpo.
MIGUEL (3) Fez uma boa primeira parte, na qual foi um dos principais transportadores de jogo da equipa. No segundo período decaiu um pouco de produção, acabando por sair gravemente lesionado.
FERNANDO MEIRA (3) A excelente prestação frente a Inglaterra deu-lhe tranquilidade. Esteve de um modo geral seguro, e acabou por desperdiçar a última situação de golo portuguesa, com um remate mal direccionado, numa fase em que fazia de ponta-de-lança.
RICARDO CARVALHO (3) Acaba por ficar ligado ao resultado, cometendo uma grande penalidade infeliz, mas indiscutível. À excepção desse lance, mostrou a segurança e classe habituais.
NUNO VALENTE (3) Esperava certamente ter mais trabalho, mas a verdade é que Ribery nunca se mostrou muito ameaçador, e Nuno Valente pôde aproveitar para participar intensamente no processo ofensivo da equipa portuguesa, sendo durante largos períodos do jogo praticamente um extremo. Abusou um pouco dos cruzamentos bombeados, mas entende-se o desespero.
COSTINHA (2) Exibição muito apagada do “trinco” português, com falhas posicionais que lhe não são próprias, e uma ausência total de agressividade defensiva e ofensiva.
MANICHE (4) Um dos melhores em campo, dando continuidade ao extraordinário Mundial que tem feito. Foi o primeiro a procurar o remate, e durante o jogo todo desmultiplicou-se em trabalho defensivo e ofensivo, ganhou inúmeras bolas, lançou o ataque, e...fez o que podia. Bem merecia estar na final.
DECO (2) À excepção de um ou outro pormenor, a verdade é que o “Mágico” não esteve em Munique. Durante a segunda parte talvez até se justificasse a substituição, tal a incapacidade que demonstrou para ultrapassar a muralha que os franceses edificaram na sua zona de acção. À semelhança de quase todos os jogadores do fantástico Barcelona, campeão europeu, chegou ao Mundial em muito más condições físicas.
FIGO (3) O capitão lutou, esforçou-se, e tentou sempre carregar a equipa para a frente. Não foi feliz. Sai todavia deste Mundial com uma bela imagem, à altura da extraordinária carreira que fez.
PAULETA (2) Este tipo de jogos não se coaduna com as suas características. Jogando sozinho na frente e sem espaços, não revela grande utilidade para a equipa. Ficou por demonstrar se, devidamente acompanhado no ataque, poderia ou não ter feito mais.
SIMÃO (2) Entrando com a equipa em desvantagem, e o adversário bem recolhido no seu meio campo, também não dispôs de espaços para fazer a diferença. Um ou outro pormenor, não apagam uma exibição longe do fulgor que chegou a evidenciar nesta competição.
HÉLDER POSTIGA (1) Ao ver Postiga em campo, custa-se a entender o que se passa com...Nuno Gomes. Scolari, que conhece os jogadores, e lida com eles diariamente, terá certamente os seus motivos.
PAULO FERREIRA (3) O melhor elogio que se lhe pode fazer, é que na ponta final do jogo ninguém se lembrou de Miguel. Fez bem o lugar, e se há posição na qual Portugal dispõe de uma solução de banco perfeitamente à altura, é justamente a sua.

VEDETA DO JOGO

CRISTIANO RONALDO (4) Quis o destino que a sua melhor exibição, o “seu” dia, coincidisse com a derrota da equipa. Foi um super-Ronaldo aquele que ontem andou à solta pelo relvado de Munique, driblando, correndo, rematando. Na fase do jogo em que foi colocado na área francesa, perdeu um pouco o brilhantismo, mas o que fez antes chega para ser considerado a “Vedeta” deste jogo.
Vai ter ainda muitos mundiais e europeus para exibir todo o seu talento.

UMA PALAVRA: VENCER !

Hoje á noite, dez milhões serão apenas onze.
Hoje á noite, o mundo será apenas um relvado.
Hoje á noite, os nossos corações estarão pintados com as cores da luta e da esperança.
Hoje á noite, as portas da eternidade estarão abertas para nós entrarmos.
Hoje á noite, o fatalista fado lusitano será rematado para dentro da baliza gaulesa.
Hoje á noite, as caravelas dos nossos sonhos vão navegar nos saborosos mares da glória triunfante.
Hoje á noite vamos ganhar à França.
Força miúdos ! Força irmãos !
Que Deus esteja convosco.

RESTAM TRÊS

Itália, França ou Portugal. Um deles será campeão do mundo.
Ontem em Dortmund, uma Itália bem mais espectacular do que é hábito, ganhou com toda a justiça a uma Alemanha pouco imaginativa e muito dependente de um desinspirado Ballack.
Apesar de 118 minutos sem golos, foi um belo jogo, com grande intensidade competitiva e algumas ocasiões de golos. Sobretudo a primeira parte e o prolongamento, tiveram momentos empolgantes de parada e resposta.
Impressionantes as exibições de Pirlo e Gattuso no meio campo transalpino. Este último chega a parecer que corre mais depressa do que a própria bola.
De saudar o risco assumido por Lippi ao terminar o jogo com Gilardino, Iaquinta, Totti e Del Piero em campo.

ALLEZ ENFANTS DE PORTUGAL

Portugal e França voltam quarta-feira a defrontar-se nas meias-finais de uma grande competição. As recordações, como se sabe, não são as melhores, e um dado curioso, e sem grande piada, diz-nos que nos últimos trinta anos as duas selecções jogaram por sete vezes, e em todas elas a vitória sorriu aos gauleses (nem um empatezinho para amostra).
Não acredito em fantasmas, nem sequer sou supersticioso, mas parece-me que este jogo será ainda bem mais difícil do que aqueles que realizámos com a Holanda e a Inglaterra.
A França tem-se mostrado fortíssima nesta segunda fase da competição, sendo talvez a equipa mais poderosa das que estão em prova. Ganhou à Espanha e ao Brasil, exibindo um futebol de grande qualidade em todas as suas vertentes, e revelou nesses jogos um Zidane ao seu melhor nível, e uma coesão táctica assinalável.
Se Portugal se dá bem com o futebol aberto e pouco imaginativo de ingleses e holandeses, já com este estilo rigoroso e fechado com rápidas transições defesa-ataque alicerçadas na magia de artistas do quilate de Zizou, tem habitualmente maiores dificuldades. A França não tem o cinismo de uma Itália, mas será talvez a selecção que mais se aproxima dos princípios de jogo transalpinos, pelo que a nossa tarefa não se afigura nada dócil. Ainda assim, a imprevisibilidade dos brasileiros seria talvez mais problemática de abordar (os franceses toda a gente sabe como jogam).
Esta França tem uma defesa sólida e rotinada - só sofreu um golo de bola corrida até ao momento-, apesar de Barthez não ser muito seguro na baliza, mas é no meio campo que está a sua principal força, com a dupla de incansáveis e muito bem articulados pivots Makelele e Vieira, a destruir todo o jogo adversária, e no caso do segundo, ainda a ser capaz de criar desequilíbrios em acções ofensivas junto da área adversária. Depois tem Zidane, que na sua melhor forma (que parece querer exibir), continua a figurar entre os cinco ou seis melhores jogadores do mundo. Na frente, Thierry Henry é outro desses cinco ou seis, com a particularidade de não ser um ponta de lança fixo, não privilegiar o jogo aéreo mas sim as diagonais e as progressões em ruptura, e como tal ser muitíssimo mais difícil de marcar por defesas com as características de Ricardo Carvalho e Fernando Meira.
Neste Mundial, a equipa de Domenech aparece ainda reforçada com dois jovens alas, Malouda e Ribery, que dão equilíbrio à equipa, quer em termos defensivos (mais no caso do primeiro), quer em acções de ataque (mais no caso do segundo).
Há um dado que pode ser importante, e que é a eventual menor frescura física de Zidane, Vieira, Thuram e companhia. Aí poderá estar uma das nossas principais armas, sobretudo se o jogo evoluir para prolongamento.
Outras eventuais chaves desta partida poderão estar na forma como Deco se consiga ou não esquivar à apertadíssima pressão que Makelele e Vieira fazem na sua zona de acção, no desempenho de Costinha e Maniche na zona de Zidane (e controlando as subidas de Vieira), na marcação a Henry, e no duelo individual entre Nuno Valente e Ribery, que esperemos possa ser ganho pelo português. Uma noite inspirada de Ronaldo também fazia algum jeito.
É fundamental não dar espaço aos contra golpes franceses pelo que não convém Portugal atacar com demasiado entusiasmo. A manutenção da bola parece imprescindível frente a este adversário, até porque circulando-a pelo campo, obriga-se os contrários a correr mais. Se deixarmos o tempo passar, o desgaste físico dos veteranos jogadores franceses poderá funcionar a nosso favor.
Apesar de todas as dificuldades que esperam a nossa equipa, eu acredito em Portugal. Esta equipa tem alma, tem ambição e sabe como reagir perante as adversidades que se lhe coloquem. Tem um grande líder, que seguramente vai encontrar a melhor estratégia para vingar os seus compatriotas.
Nada é mais exigido a esta selecção. No meu ponto de vista já atingiram as maiores expectativas que seria lícito ter nesta competição. Uma final seria um sonho. Falta só um bocadinho assim...
Já que acertei em cheio na previsão que fiz para o Portugal- Inglaterra, vou adiantar um 1-0 para esta partida.
Que assim seja.
Viva Portugal !!!

A LEI DAS PROBABILIDADES

Portugal - França 50% 50%
Alemanha - Itália 60% 40%

UMA EQUIPA IDEAL

Buffon, Zambrotta, Cannavaro, Ricardo Carvalho, Lahm, Vieira, Zidane, Figo, Ballack, Ribery e Klose

TOP EQUIPAS

1º ALEMANHA
2º França
3º Portugal
4º Itália
5º Argentina

TOP GOLOS

1º MAXI RODRIGUEZ (Argentina-México)
2º Joe Cole (Inglaterra-Suécia)
3º Esteban Cambiasso (Argentina-Sérvia)
4º Fernando Torres (Espanha-Ucrania)
5º Bakary Kone (Costa do Marfim-Holanda)

TOP JOGOS

1º FRANÇA-ESPANHA
2º Inglaterra-Suécia
3º Portugal-Holanda
4º Brasil-Croácia
5º Argentina-Sérvia

TOP JOGADORES

1º PATRICK VIEIRA
2º Michael Ballack
3º Zinedine Zidane
4º Luís Figo
5º Gianluca Zambrotta

CINCO RAZÕES PARA A ELIMINAÇÃO DO BRASIL

1-Parreira procurou desenhar um modelo de jogo que aglutinasse todas as principais estrelas de que o Brasil dispunha. É fácil dizer isto agora, mas a verdade é que se tratou de um erro. Ronaldinho e Kaká talvez não pudessem jogar juntos, Ronaldo e Adriano talvez nem tivessem lugar no onze, Emerson, Cafú e Roberto Carlos também. O “Quadrado Mágico” não passou de uma forma de juntar todos os principais jogadores no onze, e nunca foi uma solução colectiva. Enquanto todas as equipas presentes, mormente as europeias, sobrepuseram o colectivo ao sacrifício de algumas individualidades, o Brasil fez o oposto, esperando que rasgos individuais o pudessem conduzir ao título.

2-Ronaldinho Gaúcho, o melhor jogador do mundo, passou ao lado deste Mundial. A cada jogo que passava surgia a esperança de que o astro finalmente aparecesse, mas a verdade é que, amarrado a um esquema que não o favorecia, nunca se assumiu como a verdadeira e grande estrela do escrete. Também Kaká, depois de muito prometer, acabou por se diluir.

3-Os laterais Cafú e Roberto Carlos apresentaram-se já próximo do fim do seu prazo de validade. Outrora capazes de assegurar a despesa dos dois corredores – nomeadamente quando contavam com três defesas centrais a protegerem-lhes as costas -, os dois veteranos, não só não deram nenhuma profundidade ofensiva à equipa, como muitas vezes não conseguiram cobrir devidamente os seus flancos (o que aliás já acontecia frequentemente com Roberto Carlos, mesmo nos seus melhores tempos). Perdoem-me puxar a brasa à sardinha do meu clube, mas não se entende porque é que Léo ficou em Lisboa....

4-Emerson apareceu no mundial completamente fora de forma, e Gilberto Silva, quando o substituiu, também não trouxe grandes melhoras à equipa.

5-É impressionante como metade da equipa brasileira mostrou quase sempre total passividade face ao processo defensivo. Já não se joga futebol assim. Ronaldo, Adriano, Ronaldinho, Kaká, e um dos laterais ficavam constantemente parados quando perdiam a bola no meio campo contrário, deixando o esforçado Zé Roberto (dos poucos que se salvou) a fazer todo o trabalho de pressão e compensação.

O Brasil não deixou de ter o melhor grupo de jogadores do mundo (embora, diga-se, muito concentrados nas posições de ataque), mas Parreira não foi capaz de formar uma equipa. O modelo de jogo brasileiro não foi mais do que tentar somar as suas individualidades, e esperar que a sua magia resolvesse os jogos, o que foi acontecendo até encontrar um adversário mais forte e organizado.
Dida esteve bem, tal como os centrais (que era curiosamente o ponto apontado como mais frágil deste Brasil). Robinho sempre que entrou, mexeu com a equipa. Fred esteve dez minutos em campo e marcou um golo, desaparecendo misteriosamente da equipa. Mas o melhor elemento do Brasil foi quase sempre Zé Roberto, que de modo algum merecia ser eliminado.

JUSTO E INAPELÁVEL

Uma França organizada e coesa levou de vencida um Brasil carregado de equívocos e órfão da sua mais cintilante estrela que, estando em campo, não fez por merecer toda a expectativa criada em redor da sua prestação neste Mundial.
O que se viu em Frankfurt, foi uma verdadeira equipa defrontando um conjunto de onze grandes jogadores sem qualquer ligação entre si. Este Brasil foi sempre uma equipa muito aquém do potencial que as toneladas de talento do seu plantel fariam supor, e foi justa e inapelavelmente eliminado.
A equipa gaulesa, com o ressurgimento de Zidane ao seu melhor (eu avisei antes do Mundial que ele de certo quereria fazer uma despedida em grande), um Henry eficaz (já leva três golos), um fabuloso Patrick Vieira, e um surpreendente Ribery, todos eles organizados em torno de uma ideia de conjunto bastante bem trabalhada, afigura-se assim neste momento como uma forte pretendente ao título, o que esperemos seja desmentido já na quarta-feira.

PS: No primeiro jogo dos quartos-de-final a força alemã derrotou uma bela mas infeliz Argentina. Incompreensível como Leo Messi não é titular naquela equipa, ele que é já claramente o melhor jogador argentino e um dos melhores do mundo.
A Itália derrotou facilmente e sem surpresa uma Ucrânia, que só chegou onde chegou devido a alguma sorte no sorteio dos grupos e nos cruzamentos seguintes.

VEDETA DE PORTUGAL (Actualização)

1º RICARDO 4,60
2º Figo 4,00
3º Deco 4,00
4º Maniche 3,80
5º Miguel 3,60

OUSAR SOFRER, OUSAR VENCER !

Estamos nas meias-finais do Campeonato do Mundo !
Ainda hoje, passadas já duas noites de sono, me custa a acreditar estar perante um feito de tal dimensão na história desportiva portuguesa. O mundial de 1966 e de Eusébio, que todos nos habituámos a ver como um momento único e insuperável, está assim pelo menos igualado, com a particularidade de então não existirem oitavos-de-final - sendo mais fácil chegar longe -, pelo que todos os elogios que se possam fazer a este grupo de trabalho (jogadores e técnicos) soarão a pouco.
Se o acidentado jogo com a Holanda nos tinha feito sofrer até ao limite, este jogo com a Inglaterra, à semelhança do Euro 2004 também decidido no desempate por penáltis (que previsão certeira a minha, 0-0 e vitória por penáltis...), fez-nos mais uma vez suster a respiração, fazer bater o coração e explodir de alegria no final.
Como em 2004, o herói voltou a ser Ricardo.
Costuma-se dizer que os desempates por grandes penalidades são uma lotaria, e normalmente é isso que acontece. Quando um guarda-redes defende três penáltis em quatro (algo que nunca tinha acontecido em mundiais), julgo não ser legítimo nem justo dizer que se tratou de obra do acaso. Ricardo fez de facto a diferença, e merece, sobretudo depois de todas as injustiças por que passou, o momento que está a viver. Para mim é reconfortante assinalar que, em termos de selecção nacional, sempre me posicionei a seu favor – designadamente quando muitos insistiam em Vítor Baía, que hoje nem no seu clube é titular - , mesmo não representando ele as minhas cores clubistas.
Antes de Ricardo brilhar, decorreram 120 minutos de futebol, nos quais, ajustando-se o empate, se houve alguém que mais perto esteve de chegar à vitória, esse alguém foi a selecção nacional. À excepção do período inicial da segunda parte, Portugal controlou quase todo o jogo, quer num primeiro tempo bastante equilibrado, quer após a expulsão de Wayne Rooney que fez retrair os britânicos para as imediações da sua área.
Essa expulsão acabou todavia por ser determinante, pois deitou por terra toda a agressividade ofensiva com que a equipa de Eriksson regressou dos balneários, e que parecia estar a virar a agulha dos acontecimentos em seu favor. Com um homem a mais e com um adversário novamente recolhido (apenas com Crouch na frente), Portugal partiu então para cerca de uma hora de jogo (prolongamento incluído) onde, controlando as operações em absoluto, nunca arriscou demasiado nas acções ofensivas, não conseguindo assim criar oportunidades flagrantes, mas permanecendo a salvo de qualquer contra-ataque inglês. É difícil saber o que aconteceria se por exemplo Maniche e Petit tivessem tentado mais vezes a meia distância, ou se Ronaldo se tivesse juntado a Postiga na área. Por um lado poderia ter ocorrido um golo, por outro, constantes perdas de bola teriam retirado aos portugueses o controlo do jogo que foram sempre mantendo de forma bastante segura. O futebol actual é assim: um jogo de gato e rato. Portugal parece hoje, mérito indiscutível do seu treinador, capaz de interpretar na perfeição um realismo de jogo que normalmente alimenta os campeões.
Quando o árbitro apitou para o final do prolongamento, ficou a desconfortável sensação de ter sido desaproveitada a vantagem numérica durante uma hora de jogo, e se ter seguido por um caminho de sofrimento máximo. De qualquer forma, a Inglaterra é a Inglaterra, e uns quartos-de-final do mundial são uns quartos-de-final do mundial.
Depois foi o que se sabe. Um grande Ricardo, a defender três penáltis, e a enviar os ingleses para casa, algo que depois das sucessivas falhas de Hugo Viana e Petit parecia dramaticamente posto em causa.
Venha o próximo !

PS 1: Desde que vi o meu clube perder uma final da Liga dos Campeões no desempate por penáltis em 1988– a derrota desportiva mais dolorosa de toda a minha vida –, Deus parece querer continuar-me a indemnizar por esse dano e já vou em seis desempates consecutivos (Benfica e Selecção) com êxito. Curiosidades...

PS 2: Tenho-me nos últimos dias deliciado a conferir aquilo que agora dizem os anteriores detractores do seleccionador nacional. Uns calaram-se (no fundo os mais respeitáveis), outros alteraram radical e oportunisticamente o seu discurso, e outros ainda (os mais ridículos) conseguem continuar a construir argumentos para criticar Scolari, seja pelas substituições, seja pelo facto de o futebol da nossa selecção não ser tão espectacular como eles quereriam (no fundo e na maioria das vezes um estilo completamente ultapassado como nenhuma selecção joga), seja por qualquer outro disparate.
Casos a não perder, em qualquer televisão ou jornal perto de si.

OS OUTROS TREZE

MIGUEL (3) Não esteve tão brilhante nas transições ofensivas como o havia feito frente à Holanda. Preocupou-se em anular Joe Cole, e conseguiu, mantendo o seu corredor a salvo de grandes preocupações.
FERNANDO MEIRA (4) Um grande jogo deste central, que surge agora com um nível de confiança bastante diferente daquele com que iniciou o Mundial. Impecável pelo ar e pelo chão, beneficiou ainda da expulsão de Rooney para, frente a Crouch, poder exibir as suas maiores virtudes. Ninguém se lembra já de Jorge Andrade.
RICARDO CARVALHO (5) Imperial ! Simplesmente fabulosa a sua exibição, que só o “sobrenatural” desempenho de Ricardo evitou ser considerado “Vedeta do Jogo”, título que lhe assentava como uma luva no final dos 120 minutos. Depois de uns primeiros jogos um tanto apagados, ressurge agora no seu melhor.
NUNO VALENTE (3) Não comprometeu, mas foi uma vez mais o elemento da defesa em menor destaque. A saída de Beckham foi um presente envenenado pois Lennon, com a sua rapidez e profundidade, acabou por lhe causar muito maiores problemas. Saiu incólume, mas sem brilhar.
PETIT (3) Tendo que fazer de Costinha, e cumprir as correspondentes exigências posicionais, o seu futebol agressivo em todo o campo, alicerçado numa raça que lhe permite perseguir os adversários até quase ao balneário, fica comprometido. Ainda assim não esteve mal, envolvendo-se mais em acções ofensivas a partir do momento em que Rooney foi expulso, mas sem nunca arriscar o seu forte pontapé. Ai aquele penálti...
MANICHE (4) Um dos melhores da equipa, fruto da sua primorosa condição física que lhe permite manter um elevadíssimo andamento, mesmo quando todos os outros parecem esgotados. Para além da sua disponibilidade para as acções defensivas, foi o único a tentar rematar, mas a sorte pouco quis com ele nesse aspecto. Está em grande forma e, ou me engano muito, ou ainda marcará pelo menos mais um golito neste Mundial.
TIAGO (3) Decididamente a camisola da selecção parece pesar-lhe, e inibe-o de exprimir todo o futebol que lhe corre nas veias. Não se pode dizer que tenha jogado mal, mas quem o conhece sabe que pode fazer mais. A sua lentidão por vezes contrasta com o dinamismo da equipa (Maniche, Ronaldo, Deco etc), e leva-o a perdas de bola pouco recomendáveis. Em termos defensivos cumrpiu a sua tarefa de tapar os espaços a Lampard
FIGO (3) Foi um jogo esforçado do “capitão”. A sua experiência disfarça algum défice físico que será normal já sentir nesta fase. Uma boa e útil prestação, mas longe do brilho exibido nos primeiros jogos.
PAULETA (2) Não foi um jogo à sua medida. Tem o mérito de segurar os centrais adversários, mas a sua menor mobilidade (trata-se de um finalizador nato) não o deixa aparecer neste tipo de jogos, com pouca intensidade atacante e poucos espaços. A sua substituição pareceu contudo algo precipitada no tempo.
CRISTIANO RONALDO (3) Começou muito bem o jogo, com a sua velocidade a causar alguns danos à defensiva britânica. Pelo tempo fora foi-se apagando, sobretudo no período em que jogou como ponta-de-lança (pode bem fazê-lo mas com companhia, não sozinho). Teve a felicidade e o mérito de marcar o penálti decisivo, ficando assim ligado umbilicalmente a esta grande jornada.
SIMÃO (3) Apareceu muitas vezes em posições interiores, deixando a Nuno Valente a despesa da ala esquerda (o que naturalmente foi possível devido à superioridade numérica). Tem a virtude de cumprir zelosamente todos os papéis que o treinador lhe atribui, mesmo se não são aqueles que mais o fazem brilhar (no Benfica tem liberdade para assumir toda a construção do jogo ofensivo da equipa, sobretudo em termos de acções de contra-ataque, o que o faz aparecer mais). Nota positiva também para o penálti, muito bem marcado, com os nervos de aço e espírito nórdico que o caracterizam.
HÉLDER POSTIGA (1) Lutou arduamente entre os centrais ingleses mas raramente se conseguiu libertar. Marcou um golo bem anulado, e pouco depois disparou pela linha lateral quando se encontrava em posição perigosa. Salvou-se ao marcar o penálti, desta vez sem invenções. Muito mal deve estar Nuno Gomes para não ser segunda opção de ataque na selecção nacional.
HUGO VIANA (4) Este sim, foi uma agradável surpresa. Entrou bem no jogo, utilizando a sua capacidade de passe e circulação de bola para fazer variar flanco, sempre com precisão e critério. No tempo que esteve em campo justificou plenamente o motivo pelo qual foi convocado e assemelhou-se ao melhor Hugo Viana que todos conhecemos. Na conversão do seu penálti teve algum azar.

VEDETA DO JOGO

RICARDO (5) A nota cinco é apenas porque não existe nenhuma para além dessa. Depois de já ter brilhado a grande altura frente à Holanda, e de ter feito 120 minutos imaculados neste jogo, eis que consegue reeditar o seu melhor momento no Euro-2004, frente ao mesmo adversário. Se no Euro apenas defendeu um penálti, sendo elevado a herói nacional mais pela forma como o defendeu (tirando as luvas) e como fez questão de marcar ele próprio em seguida (à toureiro, como bom montijense que é), desta vez foi pouco menos que insuperável, realizando três intervenções de luxo a grandes penalidades que até nem foram mal marcadas. Ficou nas suas mãos uma vitória memorável.
Scolari deu sempre toda a confiança a Ricardo, mesmo quando muitos clamavam pela sua substituição (ou por Vítor Baía, cujas presenças em Mundiais e Europeus não nos deixam boas recordações). Tem agora os frutos que colheu, contando na sua baliza talvez com o melhor guarda-redes do Mundial, excepção feita a Buffon.
Este Ricardo é o melhor guarda-redes português, como sempre tenho defendido.