NOTAS SOBRE O MERCADO

YANNICK DJALÓ – Já disse quase tudo tudo. Acrescento apenas que o Benfica se tem dado bem com jogadores oriundos do Sporting. Deixo dois exemplos recentes: Simão Sabrosa e Carlos Martins (pelo qual, devo dizer, também não dava grande coisa). Ambos necessitaram de chegar ao Benfica para serem campeões.






RUBEN AMORIM – Era um jogador de quem eu gostava particularmente, e lamento muito que tenha saído do Benfica.





Tinha a vantagem de cumprir vários lugares com idêntico rendimento, e podia ser muito útil na ponta final da época, quando o cansaço começasse a tomar conta dos principais titulares.





Infelizmente, criou uma situação de difícil retorno. Perdoá-lo, abriria um grave precedente, e iria pôr em causa o rigor que se pretende impor ao grupo.





A ser emprestado, preferia vê-lo no estrangeiro. Julgo que é um grande reforço para o Sp.Braga, equipa que está apenas a oito pontos do primeiro lugar.






CAPDEVILA – Das duas uma: ou Jesus está satisfeito com o seu profissionalismo, e vai mesmo ser opção (primeira ou segunda) para o lado esquerdo da defesa, ou então não compreendo porque ficou.





Conforme aqui escrevi, não desgostei da sua última aparição (no domingo poderá ter nova oportunidade), e tenho gostado ainda mais da forma como tem evitado polémicas, continuando a trabalhar (embora certamente descontente com a situação), e dando, inclusivamente, algum apoio aos mais jovens.





Há apenas um ano atrás, era um defesa-esquerdo de nível internacional. Veio para cá como titular da selecção espanhola, campeão da Europa e do Mundo. Devidamente motivado, perdendo uns quilitos, acredito que ainda possa ser útil. Sobretudo no caso de não haver dinheiro para encontrar uma solução melhor.





Seja Capdevila ou não, o que é certo é que o Benfica necessita de um defesa-esquerdo. Até acredito que para o Campeonato ele não chegue a fazer muita falta. Mas se quiser ir um pouco mais longe na Liga dos Campeões, não será com Emerson e o jovem Luís Martins que o Benfica apresentará uma defesa sólida.





É uma pena, pois o resto da equipa quase roça a perfeição. Mas sem um defesa-esquerdo de qualidade, acontece o mesmo que se retirarmos uma peça ao motor de um Ferrari. Pode ser dramático.






LUCHO GONZALEZ – Tenho firme esperança que já não seja o mesmo jogador que foi tetra-campeão no FC Porto. A fundamentar essa esperança está a sua frequente passagem pelo banco de suplentes do Marselha nos últimos meses, motivo que terá determinado a cedência.





Em todo o caso, trata-se de um reforço de peso para o FC Porto, capaz de formar com Fernando e Moutinho um trio de classe. Tem experiência, tem carisma, e pode representar uma mais-valia para o FC Porto. É um jogador que sempre se deu ao respeito, pelo que até simpatizo com a figura.





Porém, confesso que no momento actual, talvez não trocasse o duo Belluschi / Guarin, bastante mais jovem, por este “Comandante” em fim de carreira. Eles lá sabem.






MARC JANKO – Não conheço. Também não conhecia o Hulk quando chegou. Espero que seja apenas um rapaz alto e tosco, incapaz de fazer melhor que Kleber, num onze ainda órfão de Falcão.






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BENFICA - Tirando o Ruben, não saiu ninguém importante (falava-se de Javi e de Gaitán), pelo que o Benfica continua a ter, quanto a mim, o melhor plantel nacional.




Por mim, tinha aproveitado para o encurtar um pouco mais, permitindo a jovens como Mika, Miguel Vítor, Luís Martins ou Nélson Oliveira rodar noutros clubes. Jorge Jesus gosta de grupos numerosos. Ele saberá.




Já falei do defesa-esquerdo, a única lacuna desta equipa. Espero não ter de falar muito mais vezes dela.





FC PORTO – Da equipa que venceu a Liga Europa já saíra o grande ponta-de-lança colombiano, e também Ruben Micael (sem falar em Mariano Gonzalez, Kieszek ou Sereno). Agora saem Fucile, Guarin, Belluschi e Walter. Fala-se ainda de Sapunaru e Souza. Já não são assim tão poucos.




Trocas feitas, creio que o FC Porto fica com um excelente onze base (Danilo e Lucho são reforços, vamos ver o ponta-de-lança), mas com segundas linhas um pouco limitadas.








SPORTING - Tal como no campeonato, também no mercado o Sporting ameaçou muito, mas ficou-se por pouca coisa. Trocou um avançado medíocre (Bojinov), por outro igual (Ribas). Fez regressar um médio da formação, também bastante limitado (Renato Neto). E só o central (Xandão) pode, talvez (??), acrescentar alguma coisa à equipa.




Vai ter de dar muito ao pedal para ultrapassar o Sp.Braga, e chegar a um lugar na Champions do próximo ano.

MAIS UM

Não é um jogador que me impressione, ou com quem eu alguma vez tenha simpatizado.




Tem capacidade técnica, mas parece-me demasiado macio para as exigências do clube da Luz. Fez uma carreira bastante irregular em Alvalade, alternando ocasionais momentos de esplendor, com uma letargia competitiva que o levou a sair pela porta dos fundos. Não creio que tenha lugar neste Benfica, e não era seguramente uma prioridade para o plantel. Coloco-o como quinta opção de ataque, atrás de todos os outros (Cardozo, Rodrigo, Saviola e Nélson Oliveira, por esta mesma ordem), e nas alas também não o vejo senão no banco (atrás de Gaitán, Bruno César, Nolito, e eventualmente, em plano de igualdade face a Enzo Perez).




Depois, há que o dizer, não tenho muita predilecção por "estrelas" que se passeiam constantemente pelas revistas cor-de-rosa. Gosto mais de os ver no “Onze”, no “France Football” ou no “World Soccer”, e de saber mais coisas sobre golos, remates e títulos, do que acerca das namoradas ou amantes que coleccionam por aí (alguém sabe, a propósito, quem é a mulher do Maxi Pereira? ou do Pablo Aimar?), dos carros em que andam, das casas que compram, ou das jóias que usam.



Por fim, sendo eu um liberal nos costumes, penso todavia que numa equipa profissional de futebol, à semelhança do que acontece, por exemplo, num exército, há que cuidar um pouco das aparências. Não é muito importante, mas (será que estou a ficar velho?) preferia que os jogadores de futebol se evidenciassem, lá está, mais pelas suas actuações em campo, e menos pelos penteados, pelas tatuagens ou piercings com que por vezes se enfeitam – aspecto no qual, manifestamente, Yannick Djaló dá cartas.




Dito isto, devo dizer também que me perturbava um pouco, até sob o ponto de vista humano, a situação em que o atleta ficou, sem culpa alguma, depois de se ver rejeitado por Sporting e Nice, num processo ainda pouco claro.




Não sendo o Benfica a Santa Casa da Misericórdia, entendo que, se Jorge Jesus acredita no jogador (como parece ser o caso), lhe seja dada uma oportunidade, tendo em conta que chegará a custo zero, e provavelmente com um salário moderado. Além do mais é português, internacional A, e na pior das hipóteses sempre pode render um ou dois milhõezitos.




Falta dizer também que, uma vez na Luz, vê-lo-ei como mais um jogador do meu clube, a quem estarei disposto a dispensar todo o apoio, pelo menos enquanto não me convencer definitivamente que o não merece. Isto vale para todos, e ele não será excepção.



Espero que as bancadas da Luz tenham as mesmas intenções, e que não vejamos novos episódios das tristes sagas Derlei ou César Peixoto (é verdade que vinham do FC Porto, o que é ligeiramente diferente) que eram apupados ainda antes de entrarem em campo.

CLASSIFICAÇÃO REAL

FEIRENSE-BENFICA


O Benfica é o maior clube português. Provavelmente, em número de sócios e adeptos, será até maior que os outros dois chamados “grandes” em conjunto. Mas para a generalidade da comunicação social é apenas…um dos três “grandes”.



Este tratamento mediático a que está sujeito (e que, tratando por igual o que é diferente, de certa forma subverte os critérios mais lógicos), empurra-o, em nome de uma pretensa e falsa isenção, para uma vulgaridade que não corresponde à sua evidente supremacia popular. Quando está a ganhar, este exercício torna-se mais nítido, vendo-se os rivais lisboetas e nortenhos unidos na tentativa de descredibilização das suas vitórias. Com uma maioria mediática de dois terços (claramente acima daquilo que representam na população), as suas vozes tornam-se grossas, fazendo passar a mensagem que pretendem. Assim nasceu o Estoril-Gate (para, de forma estapafúrdia, justificar o título de 2005). Assim nasceu o Túnel da Luz (para, de modo canhestro, ensombrar o de 2010). E sempre que o Benfica estiver na frente de um qualquer campeonato, deste ou dos próximos anos, a mistificação em redor das arbitragens ou de aspectos afins crescerá na mesma proporção da vantagem classificativa.



Tudo isto para dizer que o que se tem visto, ouvido e lido em torno da arbitragem de Santa Maria da Feira, não passa de um puro exercício de mentira (que vai arrastando na onda até mentes normalmente lúcidas, como, por exemplo, a de Cruz dos Santos).



Rui Costa esteve mal? Sim.

Rui Costa beneficiou o Benfica? Nem por sombras, como passo a demonstrar.



Há vários casos a merecer análise neste jogo. A saber:



- Empurrão a Rodrigo, dentro da área, perto da linha de fundo, que seria penálti.



- Empurrão a Javi Garcia, quando este estava no ar, dentro da área, que também poderia dar penálti.



- Corte com a mão evidente de um defesa feirense a cruzamento de Witsel, lance que configura um claro penálti por assinalar.



Ou seja, no final da primeira parte, estavam já dois penáltis e meio (vá lá…) por marcar a favor do Benfica. Mas há mais.



- Expulsão perdoada a um jogador feirense, por segundo amarelo, a rasteira sobre Maxi Pereira, com o resultado em 1-1.



Temos pois já quatro lances (dois evidentes, dois mais duvidosos) a merecerem o mesmo sentido de decisão por parte do árbitro: contra o Benfica.



É verdade que, antes deste último caso referido, houve um golo mal anulado ao Feirense. Ludovic é muito rápido, e só na repetição televisiva se percebe que estava de facto em jogo no momento do passe. Já cheguei também a ler que este golo faria o 2-0, o que é falso.



No balanço final temos pois quatro decisões a penalizar o Benfica, e uma a favorecê-lo.



Será assim que se leva alguém ao colo?


Em todo o caso, já se sabe que daqui em diante, enquanto o Benfica liderar, a contestação vai crescer. Da parte de comentadores supostamente isentos, da parte de treinadores e jogadores adversários, da parte de todos os que, por diferentes motivos, não suportam ver o Benfica a ganhar.



Resultado Real: 2-4






SPORTING-BEIRA MAR



Embora a luta pelo quarto lugar não me interesse particularmente, tenho de dizer que, em Alvalade, o homem do jogo, o autor dos golos, deveria ter sido expulso aos 30 segundos.



Duarte Gomes terá querido evitar mais polémicas com o Sporting, mas a verdade é que, vistas as repetições, não há ninguém nas costas do norte-americano quando ele rasteira o aveirense que se isolava. Os cartões não têm timing, e ali era caso para um vermelho, cujas consequências não consigo aqui apurar.



Resultado Real: 2-0




GIL VICENTE-FC PORTO



Não me recordo de uma única vez, nos últimos anos, em que o FC Porto perca ou empate um jogo do campeonato, e não se atire furiosamente à arbitragem. Foi assim com Villas-Boas – que em dois dos três empates que sofreu, foi expulso -, e tem sido assim com o seu sucessor, arriscando eu a dizer que será assim também com quem, a este, vier a suceder.

No jogo com o Benfica foi o Cardozo que ia assassinando o Fucile, em Olhão foi um penálti, na Feira foi não sei já o quê (mesmo puxando pela memória só me lembro de um penálti cometido pelo Belluschi), agora foi o Bruno Paixão. É a escola de Pedroto, trinta anos depois, ainda bem viva.



Ou seja, para aquela gente, se não fosse a arbitragem, o FC Porto ganhava sempre, e o Benfica perdia sempre. Estranho, num clube acusado de corrupção desportiva, cujo presidente oferecia meninas e pagava viagens aos árbitros, recebendo-os em casa nas vésperas dos jogos para conselhos matrimoniais; e que só não está preso devido aos incidentes processuais que os seus advogados levantaram, nomeadamente em relação à validade formal dos meios de prova utilizados. Aliás, portistas com alguma vergonha na cara, deveriam ficar calados durante pelo menos uma década em relação a temas de arbitragem.



Mas vamos então a um jogo, no qual o FC Porto tem, efectivamente, algumas razões de queixa, embora longe da dimensão que pretende fazer passar.



Há, de facto, dois penáltis por assinalar a favor dos dragões (cotovelada a Defour e rasteira a Kleber), mas haveria também mais um a favorecer os minhotos, num primeiro corte com a mão de Otamendi. Todos estes lances são meramente televisivos, e não acredito que um único adepto no estádio tenha tido quaisquer certezas no momento. No lance do Kleber, mesmo com repetições, embora aceite tratar-se de penálti, não estou absolutamente certo de que não seja o avançado a provocar o contacto. Terá sido essa, aliás, a interpretação do árbitro setubalense.



Já quanto ao alegado fora-de-jogo que dá origem ao penálti efectivamente assinalado, tenho ainda mais dúvidas. E as minhas dúvidas estão na…transmissão televisiva, designadamente na forma como é colocada a linha no ecrã.



Vi o lance com atenção, e parece-me que a linha criada pela Sport Tv (e que, perante os mais desatentos, fará lei), está ligeiramente inclinada, o suficiente para transformar um lance no limite da legalidade, num fora-de-jogo claro. Quem tiver possibilidade de voltar a ver a imagem, pode verificar. Tentem ver o lance sem a tal linha, e digam depois se o jogador gilista está ou não deslocado. A mim parece-me bem que não.



Se se trata de um erro, seria importante que a Sport Tv o rectificasse. Se é intencional, então o caso é mais grave. Mais uma vez é o peso de uma certa comunicação social a trabalhar, e desta vez até o Luís Freitas Lobo se queixou da arbitragem.



Curioso também, foi ver, na sequência deste jogo, muitos sportinguistas bastante incomodados com a derrota do FC Porto, e com a possibilidade de o Benfica se distanciar na classificação. Fica o registo.



Resultado Real: dando, ainda assim, o benefício da dúvida à Sport Tv, e considerando o segundo golo gilista irregular, com dois penaltis de um lado e um do outro, se não me falham as contas ficaria 3-3




CLASSIFICAÇÃO REAL



BENFICA 47



FC Porto 41



Sporting 36

21 JOGOS SEM PERDER

...ainda longe do recorde de John Mortimore, de 56 jogos sem derrota para o Campeonato.

VER O FUNDO AO TACHO

Não vi o jogo. Raramente vejo jogos do FC Porto para o campeonato. Liguei a TV, sem nada saber, aos 92 minutos. Não quis acreditar em tão belos números que os meus olhos viam no canto do ecrã, e tive de esfregá-los duas vezes para confirmar que aquilo era mesmo verdade.

Apeteceu-me saltar, e abrir uma garrafa de qualquer coisa. Depois de uma vitória tão suada e tão importante na véspera, o Benfica via agora o seu opositor ficar parado nos cinco pontos de atraso, quando todos diziam que, mesmo sem Hulk, caminhava para a recuperação da melhor forma. Um Jackpot na melhor altura possível.

Não me recordo de, com tanto ponto à maior, o Benfica ter perdido um título. Lembro-me de três pontos com Quique Flores, e ainda na primeira volta. De resto, sempre que vi o Benfica na frente em plena segunda volta (1989, 1991, 1994, 2005, 2010) o campeonato acabou por vestir de vermelho.

Começo a ver o fundo ao tacho, mas, depois do impacto inicial deste resultado, percebo que ainda é cedo para comemorações antecipadas. O FC Porto é useiro e vezeiro em recuperações que desmentem qualquer lógica da psicologia de grupo. Existem as equipas normais (que se desmotivam com as derrotas, e se animam, por vezes em demasia, com as vitórias), e existe o FC Porto (cuja motivação parece ser totalmente impermeável às circunstâncias). Já os vi, vezes sem conta, renascer do nada, quando menos se esperava, e encetar caminhadas triunfais. E não me admiro de os ver agora partir para uma série de vitórias que, ao mínimo deslize, volte a colocar em perigo a liderança benfiquista.

Contudo, os números são implacáveis, e acredito que vencendo os próximos quatro jogos (Nacional, viagens a Coimbra e Guimarães, e Porto em casa), só uma tragédia retiraria o título ao Benfica. Dito de outra forma, a partir desta noite, o FC Porto já não pode ganhar o campeonato. Só o Benfica o pode perder.

MUITO MAIS DO QUE TRÊS PONTOS

Os festejos exuberantes do banco benfiquista, e dos jogadores no relvado, mal o árbitro apitou para o final da partida, não enganam. Tal como eu aqui defendera, a partida de Santa Maria da Feira foi encarada por todos como um dos mais difíceis obstáculos que o Benfica tinha pela frente, pelo menos até ao mano-a-mano com o FC Porto na Luz.


Concorriam para isso diversas circunstâncias, como, antes de mais, a qualidade da equipa adversária (havia empatado com o FC Porto em terreno neutro, e feito a vida negra ao Benfica na primeira volta), o exíguo campo onde se iria jogar, o estado do respectivo relvado, uma certa quebra encarnada verificada na jornada anterior, e um árbitro cujo “palmarés” não vaticinava nada de bom. A forma como decorreu o jogo, a desvantagem verificada já na segunda parte, a dificuldade em impor um futebol de qualidade, e a reviravolta final, completaram um quadro no qual o Benfica, para além da natural felicidade pelos três pontos, sentiu também o alívio de ter conseguido cruzar um cabo com muitas e ameaçadoras tormentas.


O espectáculo não foi bom. Julgo que, naquelas condições, dificilmente o poderia ter sido. Não creio que seja legítimo que os clubes pequenos usem como arma campos onde é objectivamente impossível jogar bem. A culpa não é deles, mas de uma Liga a quem falta coragem para pugnar pelo futebol-espectáculo.


Deixando de lado culpados e inocentes, o que é certo é que a beleza do jogo com que o Benfica tem encantado os adeptos teve de ficar em casa. Os encarnados procuraram um futebol directo, tentando fazer de conta que o meio-campo não existia. Aimar acabou por sair penalizado, quase não se vendo durante o tempo que esteve em campo (eu nem o colocara no onze). Nas alas não havia espaço para desequilibrar. A pressão adversária era sufocante, e não deixava pensar. Não era jogo para traje de gala. Era jogo para fato-de-macaco. Um fato-de-macaco que não assenta lá muito bem a uma equipa de Jorge Jesus demasiado fotogénica para tão rudimentar forma de vestir.

A vitória acaba por ser justa, apenas em função do número de oportunidades criadas. Em momento algum dos noventa minutos o Benfica conseguiu dominar o jogo, que, como disse, pedia características bem diferentes daquelas que o têm distinguido. E confesso que, ao golo do Feirense, cheguei a temer o pior.


Não há campeões sem sorte, e o auto-golo poucos minutos decorridos caiu do céu, tal como cairia um penálti tão justo quanto desnecessário, que havia de dar, pelos pés do inevitável Óscar Cardozo, o saboroso e importante triunfo.



Gostava de destacar Rodrigo, que só por muita infelicidade (e muito Paulo Lopes) não marcou neste jogo. Pela negativa, além do que já ficou escrito, creio também que Emerson voltou aos seus piores dias, como que a fazer lembrar que faltam poucos dias para o encerramento do mercado.



A equipa de arbitragem esteve mal, prejudicando ambas as equipas. Primeiro o Benfica, escamoteando-lhe um penálti claro ainda na primeira parte, com o resultado em branco, num corte com a mão de um defensor feirense. Depois o Feirense, num golo mal anulado, em fora-de-jogo inexistente. Diga-se, porém, em nome da verdade, que a responsabilidade maior em ambos os lances deve ser endereçada ao assistente. Seja como for, a influência no resultado final acabou por se neutralizar no meio da incompetência demonstrada.

NUMA CAIXINHA DE FÓSFOROS

Não creio que a Liga proteja o futebol, permitindo (ou melhor, impondo) jogos importantes num campo deste tipo. Não se vê isto em nenhum campeonato europeu do primeiro mundo, e a menos que existam interesses escondidos, não se percebe a lógica da decisão que agora veio a público.


É com alguma inquietação (e até, revolta) que vejo uma equipa que pratica bom futebol, ser obrigada a prescindir dele para entrar numa luta de outra natureza, num recinto que envergonha a competição.

Recordemos, aliás, que na última vez em que o Benfica jogou num campo assim, também liderava a tabela classificativa, e perdeu 2-0, na Trofa. Nessa temporada, não mais voltou ao comando. Lembram-se?


E, já agora, devo dizer que também o árbitro me inspira total desconfiança. É incompetente, mal preparado, é irmão de Paulo Costa, e vem do Porto. Ao longo da sua carreira, sempre que pôde, prejudicou o Benfica.


Tudo isto chega para me tirar o sono. Até ao jogo com o FC Porto, talvez seja este o obstáculo mais difícil que o conjunto de Jorge Jesus tem pela frente.


Deixo o meu onze, necessariamente condicionado às circunstâncias:

VIVA O FUTEBOL!

Com um espectáculo deslumbrante, Barcelona e Real Madrid demonstraram ao mundo porque motivo são as duas melhores equipas da actualidade.

O resultado voltou a sorrir aos catalães, mas desta vez o conjunto de Mourinho esteve muito perto de impedir que tal acontecesse. Marcando um terceiro golo (que chegou a parecer iminente), o Real conseguiria uma reviravolta digna de entrar na história do futebol. O empate final soube a injustiça, após uma das melhores exibições que vi aos “merengues” nos últimos anos. Aliás, se com problemas de balneário eles fazem aquilo em campo, sejam benditos os problemas de balneário.

No dia de todos os deuses, o deus maior, Messi, esteve aquém do seu melhor nível – que é, como sabemos, altíssimo. Nem por isso o Barcelona deixou de nos brindar com momentos, também eles, de grande futebol. Estaria ainda agora, horas depois, a ver o fantástico clássico, com o olho regalado. É daquilo mesmo que eu gosto, e até tenho pena de quem não viu.

Já aqui disse que, entre estes dois clubes, sempre me senti mais próximo do Real. Agora, com tantos portugueses (nem todos me são simpáticos, é certo), essa predilecção acentuou-se. Ela não passa, porém, de uma pequena simpatia. Nunca rejubilei com qualquer vitória madridista, nem, muito menos, senti a mínima perturbação com as suas derrotas. Se me obrigassem a escolher, assinando num papel qual queria que vencesse, punha a cruzinha no Real. Mas depois de tão cintilante recital de futebol (a que, diga-se, a estupenda realização televisiva, a alta definição e os inigualáveis comentários de Luís Freitas Lobo também ajudaram), a última coisa que me interessou foi se o resultado favoreceu um ou outro. Por mim, podiam ganhar os dois.


PS: Fica aqui bem mencionar, que o Liverpool-Manchester City, cuja gravação vi depois, não deslustrou a gala de Camp Nou. Teve o mesmo resultado, excelentes momentos de futebol, e a mesma emoção.

OUTRA VEZ?

Resultados do Clássico espanhol desde que Guardiola orienta o Barcelona: Decerto, Mourinho dispensaria mais este jogo...

HOJE, O REI FAZ ANOS

Parabéns Eusébio!

O PONTO CRÍTICO

"Ganhar ao Sporting, nesta altura, significaria muito do lado de cá, e porventura ainda mais do lado de lá. Seria uma poderosa machadada na confiança do rival. Seria um tiro no porta-aviões do entusiasmo e da mobilização que o clube de Alvalade conseguiu recriar em redor da sua equipa e dos seus adeptos. Podia até significar, no limite, a eliminação (senão objectiva, ao menos psicológica) de um dos candidatos ao título"

LF, jornal "O Benfica", 25 de Novembro de 2011, véspera do último Benfica-Sporting


O Sporting entrou na Luz vindo de uma sequência de 13 vitórias em 14 jogos. Vejamos os seus resultados daí em diante:

Classificação antes do dérbi: FC Porto 24, Benfica 24, Sporting 23

Classificação actual: Benfica 42, FC Porto 40,...,..., Sporting 29

Está assim encontrada a causa da crise sportinguista. Sempre o mesmo fantasma vermelho...

CLASSIFICAÇÃO REAL

FC PORTO-V.GUIMARÃES

Ia de viagem, mas nem o relato ouvi (nunca seria capaz de trocar um CD de Astor Piazzolla, que ainda por cima me faz lembrar Aimar, Messi e Maradona, por um jogo do FC Porto).

Pelos resumos, apercebi-me que o livre de que resultou o golo vimaranense é muito duvidoso (Fernando parece tocar primeiro na bola). De resto, à excepção de um cartão amarelo que ficou por mostrar a João Moutinho, nada mais tenho a considerar. O penálti aceita-se.

Resultado Real: 3-0


BENFICA-GIL VICENTE

Já ficou tudo dito no texto anterior. O livre que originou o golo de Cardozo pareceu-me bem assinalado. Já o livre indirecto da segunda parte resulta de uma interpretação com a qual eu não concordo (embora Artur devesse ter sido mais prudente). Perto do final, Rodrigo viu um amarelo por protestos, após uma falta inexistente.

Resultado Real: 3-1


OLHANENSE-SPORTING

Todos os anos, mais ou menos por esta altura, me interrogo se vale mesmo a pena considerar o Sporting nestas contas. Afinal, não está aqui o Sp.Braga (claramente o terceiro grande dos últimos anos), como não está também o Marítimo (que discute o quarto lugar com os leões).

Enfim. Como começei, vou esforçar-me por manter a coisa por mais umas semanas.

No jogo de Olhão (do qual também só vi resumos), não me apercebi de nenhum erro grave do árbitro. Os treinadores queixaram-se, mas deveriam antes remeter as queixas para as suas próprias equipas. O Olhanense porque falhou golos em série, desperdiçando uma excelente hipótese de somar três pontos. O Sporting porque desde o longínquo dia 6 de Novembro só ganhou ao Nacional (e de aflitos), dando mostras de caminhar para uma total desagregação, que só Rui Patrício vai conseguindo disfarçar.

Resultado Real: 0-0


CLASSIFICAÇÃO REAL

1º BENFICA 44

2º FC Porto 40

3ª(?) Sporting 33

UFF... QUE SUSTO!

Faltavam apenas 17 minutos para o final do jogo, o Benfica empatava em casa, e não criara, ao longo de toda a segunda parte, uma única oportunidade de golo.



Ansiedade, talvez seja palavra curta para descrever o estado de espírito que então assaltava a família benfiquista, ao ver fugir, a cada segundo que passava, dois preciosos pontos, numa luta cada vez mais renhida com o seu principal opositor. Era o deitar por terra, não das hipóteses na luta pelo título, mas de toda uma envolvência de entusiasmo e confiança que a equipa fizera por merecer em seu redor. Era um murro no estômago, tão forte quanto inesperado.



Ao longo do jogo, as dificuldades colocadas por um improvável Gil Vicente foram muitíssimas. Pressionando alto, a equipa minhota descaracterizou por completo a primeira fase de construção do Benfica, deixando-o sem espaço nem ideias para aplicar o seu habitual futebol ofensivo. E não era tudo. Conseguindo recuperações de bola já perto do meio campo encarnado, os gilistas ameaçavam frequentemente a área de Artur, construindo lances de ataque em número e nível de perigo verdadeiramente surpreendentes para uma equipa que luta para não descer.



Há que dizer, todavia, que um Benfica ao seu melhor nível teria tido obrigação de encontrar as soluções mais indicadas para o puzzle que lhe foi colocado por diante. Marcando primeiro, até fez o que parecia mais difícil, mas o golo do Gil, já muito perto do intervalo, recolocou tudo como no início, com a agravante de haver menos tempo para jogar. Quer antes, quer depois dos golos, os encarnados estiveram sempre longe da melhor inspiração, não conseguindo levar a cabo as saídas rápidas para o ataque que a situação aconselhava. Foram uma equipa lenta, previsível, e de certa forma bloqueada pelas inesperadas dificuldades que o adversário ia originando. Durante a primeira parte, o Benfica parecia expectante. A meio da segunda parte, o Benfica parecia… rendido.



Aimar é um grande jogador, e, como todos os grandes jogadores, a sua ausência não é fácil de suprir. No conjunto de Jesus, a falta do mago argentino é um buraco que se abre entre uma linha intermediária com pouco pendor ofensivo (Javi Garcia e Witsel), e avançados de último toque, sem grande apetência para a construção de jogo. Gaitán, que também sabe jogar pelo corredor central, poderia, a espaços, disfarçar a lacuna. Acontece que o jovem extremo está num período de forma deplorável, não conseguindo sequer cumprir com acerto as suas funções na ala. Esta conjugação de factores tem obrigado o Benfica a privilegiar um modelo de transição ofensiva iniciado uns metros mais atrás. Foi essa necessidade que Paulo Alves interpretou na perfeição, atingindo o Benfica onde mais lhe poderia doer.



Com Aimar em campo, o onze encarnado reequilibrou-se. Aí, o problema já não residia no plano táctico. Eram sim as emoções, e as inquietações, que começaram a tomar conta das almas e das pernas dos jogadores do Benfica. Passes errados, precipitações, dificuldades em serenar, e até alguns assobios das bancadas (de uma estúpida inoportunidade, diga-se).



O golo lá surgiu, e com ele o respirar fundo de uma equipa que já não sabia muito bem o que fazer do jogo. Logo a seguir, Aimar punha uma pedra sobre o resultado, e sobre a ansiedade, garantindo os três pontos. Mesmo assim o Gil Vicente reagiu, mas já era tarde para conseguir mais do que uma vitória moral, alicerçada numa exibição impressionante de audácia, rigor e frescura.



O que se passou esta noite fará certamente o Benfica pousar os pés no chão, e interiorizar que o título ainda está muito longe de ser uma realidade. Aparecerão mais alguns Giles Vicentes nas esquinas do Campeonato, pelo que a caminhada não permite repousos. Na próxima semana, novo desafio à equipa encarnada, com um jogo disputado numa caixa de fósforos, frente a um adversário aguerrido – que, por sinal, tirou pontos ao FC Porto.



O árbitro esteve globalmente bem.


Não têm razão os responsáveis gilistas ao reclamar a falta que origina o primeiro golo, que, de facto, existe . No lance do livre indirecto, à luz do que se tem visto noutros estádios, até aceito o critério, mas não creio que ele se enquadre no espírito da lei (que é o de evitar perdas de tempo propositadas).

ONZE PARA O GIL

Espero que Cardozo recupere (...e Ney nem cartão amarelo levou). Caso o paraguaio não possa jogar, entraria Saviola. Aimar parece fora de questão, e Gaitán está muito longe do seu melhor.

PS: Marcar este jogo para as 20.15 de um domingo parece ter o objectivo de cortar a onda vermelha que o fim-de-semana passado fazia adivinhar para os próximos tempos.

MUNDIALITO 80 - Uma recordação

Num zapping fortuito pelos canais de desporto, fui dar, há dias, com um documentário da ESPN Classic sobre o Mundialito de 1980, realizado no Uruguai.


Confesso que já pouco me lembrava daquele evento. Mas ao ver o programa, a minha memória transportou-me para fabulosas recordações de infância, dos tempos em que por vezes apenas sabia os resultados no dia seguinte, pelo Diário de Notícias que o meu pai religiosamente comprava.


Na altura, passou-me totalmente despercebida a envolvência política do acontecimento, num contexto de ditadura militar, tão comum na América Latina daqueles tempos. Tinha 10 anos, e só me interessavam Maradona, Zico e Rummenigge, estrelas de então, naquilo que foi a antecâmara para o fantástico Mundial 1982 – o melhor de todos os do meu tempo.


O documentário mostra como a competição foi instrumentalizada pelo poder político e militar, e como as contas lhe saíram furadas, tendo a vitória uruguaia sido antes uma oportunidade para o povo se manifestar nas ruas. Nas cadeias, guardas e presos políticos comemoraram em conjunto os golos de Valdemar Victorino, e o triunfo sobre o Brasil.Tenho a ideia daquilo ter sido vivido como um verdadeiro Mundial (e, pelo menos para os uruguaios foi-o), só que sem televisão em directo (ao contrário do que acontecera, por exemplo, no Argentina 78). Além das notícias de jornal, recordo-me vagamente de ter ouvido uma parte do relato da grande Final, já noite dentro, numa estação de rádio espanhola que se apanhava no Alentejo.


Foi nesta prova que nasceu o lendário Brasil de Telé Santana (goleou a campeã europeia Alemanha por 4-1), que encantaria o mundo nos anos seguintes. Foi também esta a primeira grande competição internacional de Maradona, e de Sócrates, recentemente falecido.


Um documentário delicioso, que aconselho vivamente aos que se lembram, e aos que não se lembram, que um dia houve um Mundialito, ou Copa de Ouro (nome oficial dado pela FIFA).

UM DADO

As três melhores temporadas do Benfica, à 15ª jornada, nos últimos 18 anos:

1ª 2011-2012, 39 pontos, Jorge Jesus

2ª 2009-2010, 36 pontos, Jorge Jesus

3ª 2010-2011, 33 pontos, Jorge Jesus

O SPORTING A FAZER POUCO DE SI PRÓPRIO (2)



Segundo me contou fonte bem informada, este rapaz é o segundo jogador mais bem pago do Sporting, só ultrapassado pelo salário extraterrestre de Elias. Dinheiro bem empregue, portanto.

O SPORTING A FAZER POUCO DE SI PRÓPRIO (1)

Se isto, por absurdo, acontecesse no Benfica, eu exigiria aqui, de imediato, a demissão do responsável pelas instalações. Como é possível não perceberem que apenas estão a ridicularizar o próprio clube?

SEM HIPÓTESES

3 Ligas dos Campeões, 2 Mundiais de Clubes, 2 Supertaças Europeias, 5 Campeonatos, 1 Taça do Rei, 5 Supertaças de Espanha, e 5 Bolas de Ouro. É este o impressionante palmarés do Barcelona desde 2004, desde que Messi começou a jogar.


Há quem diga que é a melhor equipa de todos os tempos. Talvez sim. Talvez se tenha de bater com o Milan de Sacchi, com o Liverpool de Paisley, com o Ajax de Cruyff, com o Real Madrid de Di Stéfano, com o Bayern de Beckenbauer, ou com o Santos de Pele. Pior não é seguramente.


Não pratica, é verdade, o estilo de futebol que eu mais gosto (demasiado rentilhado, com muito passe para trás). Mas, como gosto de futebol, também tenho de gostar …daquilo.


O que é certo é que este Barça parece invencível, e a única hipótese que Mourinho tem de se sagrar campeão (e em Espanha não terá muitas mais) será chegar a Camp Nou, em fins de Abril, com pelo menos quatro dos cinco pontos de vantagem que tem actualmente. Em confronto directo, não tem hipóteses. Ninguém tem hipóteses, tendo sido, ainda assim, o técnico português, o único a tirar troféus (até agora dois) a este super-Barça.


Lamento por Coentrão. Não lamento por Pepe, que continua a envergonhar a bandeira portuguesa em que o deixaram enrolar-se.

MANDEM-ME EMBORA!





As declarações de Domingos Paciência atingem frontalmente:






1) o presidente da Direcção, que foi quem disse que a equipa estava aquém das expectativas






2) o presidente da Assembleia-Geral, que é médico, e será certamente um dos que, segundo o técnico, fala sem perceber nada do assunto (aliás, se não fosse o mediatismo do futebol, se as pessoas não falassem dele, queria ver quem pagava o salário milionário de Domingos ...)






Será que o treinador do Sporting pretende ajudar a fazer a própria cama, para que no final da época se sente, enfim, na sua "cadeira de sonho", substituíndo Vítor Pereira?

SEM RISCO, SEM DANOS

Tinha aqui defendido que o Benfica não deveria expor-se demasiado nesta edição da Taça da Liga. Entendi, por isso, não só as opções de Jesus (apenas duas diferenças relativamente ao meu onze), como o ritmo tranquilo que a equipa imprimiu ao jogo.


Não houve danos, o Benfica ganhou o jogo, e ficou ainda a dever a si próprio mais um ou dois golos. Mas só com Witsel, Nolito e Rodrigo em campo se viu a superioridade encarnada, num jogo em que também o Santa Clara se apresentou a passo – provavelmente pensando num simpático zero a zero.


Com um palpitante Real Madrid-Barcelona no outro canal, assistir a este sonolento jogo foi um verdadeiro desafio ao benfiquismo. Valeu pela vitória, por um ou outro lance de Nolito, pelas boas indicações dadas por Capdevila (e se estivesse ali a solução para o lado esquerdo?...), pelo primeiro golo de Nelson Oliveira, e pela esperança num grande Benfica-FC Porto lá para fins de Março. Para o apuramento, fica a faltar apenas um empate em casa.


O árbitro esteve bem.

IMPORTANTE, OU TALVEZ NÃO

Cinco anos depois do seu nascimento, a Taça da Liga continua a ser encarada por alguns como uma prova menor e desprezível.



Esta atitude (eu chamar-lhe-ia, má vontade) teve origem na guerra que o FC Porto e Pinto da Costa moveram contra Hermínio Loureiro por alturas do processo Apito Dourado – na verdade, nunca lhe perdoaram a sua firmeza e independência, coisas a que não estavam habituados -, e que, como sempre, foi seguida pavlovianamente pelas encarneirizadas massas portistas. Tendo a Taça da Liga sido um dos grandes emblemas da gestão de Hermínio, tornou-se rapidamente um alvo desses ataques, não sendo poucas as tentativas de a atingir e amesquinhar. Tudo isto se acentuou com as três vitórias consecutivas do Benfica, que acrescentaram mais um argumento a quem, do outro lado, queria desvalorizar (mais no discurso do que na acção, diga-se) a jovem prova.



Infelizmente já vou tendo uns anitos (mais do que aqueles que queria ter), mas felizmente tenho boa memória. Recordo-me perfeitamente do que foi o nascimento da Supertaça, a forma como foi tratada por Federação e clubes, e o modo contrastante como o FC Porto sempre a encarou. Tratando-se, aqui sim, de uma prova objectivamente menor (de apenas um jogo), o FC Porto nunca deixou de aproveitar para somar troféus e deles fazer gala, sendo, durante muitos anos, o único clube que verdadeiramente tomava a Supertaça como algo que ela nunca foi. Sobretudo quando a ganhava frente ao Benfica (e, por desgraça, aconteceu bastantes vezes), percebia-se que de um lado estava quem não se comprometia demasiadamente com a ocasião, e do outro gente de faca nos dentes disposta a tudo para erguer um troféu nas barbas do rival. Vi, com estes olhos que a terra há de comer, adeptos portistas em êxtase, noite dentro à espera do autocarro da sua equipa depois de vitórias na Supertaça (o que não critico, apenas constato). Vejo a mesma ser utilizada para comparações de número total de conquistas. Ou seja, quando o FC Porto ganha, as provas são importantes; quando perde, não têm relevo, fazendo tudo para as menorizar – enquanto, de sorriso amarelo, vai fazendo os possíveis por ainda assim as ganhar, e sobretudo por evitar que os rivais (ou melhor, o rival) as ganhem.



Mais espantosa é a forma como muitos benfiquistas embarcam nesta cantiga, olhando também eles de soslaio para uma competição que, por motivos óbvios, lhes deveria merecer o maior carinho. A vitória do ano passado, e os tristes episódios que se lhe seguiram, são disso exemplo. Mas há gente que, do alto do seu romantismo revivalista e anossessentista, até a Liga Europa deita fora, numa lógica para mim verdadeiramente incompreensível - e se há troféu que invejo no palmarés portista é precisamente a Uefa/Liga Europa, e daria um dos 32 campeonatos do Benfica só para ter estado em Dublin, no lugar do Sp.Braga, mesmo perdendo a final.




Sou daqueles que entende que todos os troféus são importantes (nem concebo o desporto de outro modo), e que um clube como o Benfica tem sempre de jogar para os ganhar. Nunca vi um benfiquista na rua a comemorar qualquer das Taças da Liga conquistadas, mas pessoalmente não deixei de as festejar à minha maneira. Fiquei particularmente feliz com os 3-0 diante do FC Porto, há duas épocas, curiosamente na única final em que não pude estar presente. E será também oportuno lembrar o quanto fiquei aborrecido com a eliminação em Setúbal, na primeira edição, em jogo a que assisti, e obviamente antes do Benfica ter o seu nome inscrito no palmarés da prova.




Se analisarmos, por exemplo, as audiências televisivas, verificamos o quanto a Taça da Liga veio trazer ao futebol português, tendo hoje o seu lugar bem firmado no panorama competitivo luso. Alguns dos seus jogos entraram directamente para a história (o célebre penálti assinalado por Lucílio Baptista foi dos momentos mais mediáticos dos últimos anos), e se nos lembrarmos que as finais tiveram sempre lotação esgotada, e algumas meias-finais assistências imponentes (50 mil pessoas no Benfica-Sporting do ano passado), confirmamos que a Taça da Liga foi efectivamente uma excelente ideia, embora porventura ainda necessite de um regulamento mais eficaz.




Sou, pois, um defensor da importância da Taça da Liga, e de todos os troféus oficiais, entendendo que cada um tem o seu próprio espaço, e merece a sua própria relevância. Dito isto, não posso no entanto deixar de estabelecer algumas hierarquias, quer em termos absolutos, quer no plano conjuntural.




Obviamente a Liga dos Campeões é mais importante que a Taça da Liga, assim como o Campeonato é mais importante que a Taça de Portugal, e como a Taça da Liga é mais importante que a Supertaça. A minha hierarquia é fácil de estabelecer: provas europeias (à cabeça das quais, naturalmente, a Champions), campeonato, taças (sendo a de Portugal, pela sua tradição, e pela final do Jamor, mais relevante), e por fim supertaças.




Para além disso, ou na sequência disso, há, no plano conjuntural, que atender a vários factores, que podem, no limite, determinar que uma equipa prescinda do campeonato (se chegar, por exemplo, a umas meias-finais da Champions), de uma Liga Europa (como aconteceu com o Benfica há dois anos), ou de uma Taça de Portugal (como desconfio tenha acontecido agora). É nesta medida (e também porque vem de três triunfos consecutivos) que me parece que o Benfica não deverá comprometer-se muito nesta (e apenas nesta) edição da Taça da Liga.




O calendário é apertado, as lesões começam a surgir (por diferentes motivos estão fora Garay, Ruben Amorim, Enzo Perez, Aimar e Cardozo), e o Benfica - já o disse aqui – não pode arriscar um milímetro na luta pelo título. A Champions é a Champions, e terá, como é óbvio, de ser jogada nos limites. Sendo este campeonato particularmente importante, e estando a luta tão acesa, não me parece que exista espaço para mais nada, num plantel que é bom, mas não é super.




Deste modo, defendo que Benfica jogue com uma segunda linha durante esta primeira fase. Se tiver de ser eliminado, que seja – pode ser que daí saia finalmente a valorização do tri alcançado -, se chegar às meias-finais, então logo se verá. Em Guimarães percebia que era necessário dar ritmo aos titulares. Agora esse problema não se coloca, pelo que é hora de poupar.




Deixo pois o onze que eu, em coerência com a ideia que acabo de expressar, escolheria para a partida com o Santa Clara. Tenho a convicção de que será suficiente para vencer. Os outros? Que descansem bem, pois no domingo a luta continua.

VAMOS A CONTAS

Este quadro é a prova de que o dinheiro não traz felicidade.


O Benfica foi o clube que menos gastou, o único com saldo positivo entre vendas e compras, e vai na frente da classificação. O Sporting foi o que efectuou um maior investimento líquido, e está já afastado do título. No meio, um FC Porto que gastou, sobretudo, mal, pois por diferentes motivos, nenhum dos sete contratados (quase 46 milhões investidos) foi até agora titular indiscutível da equipa.


Não figuram aqui as contratações a custo zero. No Benfica foram várias, entre as quais Artur, Matic e Nolito, por sinal todos titulares no último jogo.

CLASSIFICAÇÃO REAL

BENFICA-V.SETÚBAL

Dois lances merecem reparo: um cartão amarelo por mostrar a Ney, por entrada sobre Cardozo, e o segundo amarelo ao paraguaio, quanto a mim excessivo, tal como já mencionei no texto sobre o jogo.

De resto, arbitragem aceitável, de um juiz a rever.

Resultado Real: 4-1


FC PORTO-RIO AVE

Rolando bem expulso, ainda que, no meu ponto de vista o devesse ter sido com segundo amarelo, e não com vermelho directo, pois o avançado do Rio Ave não segue directamente alinhado com a baliza.

Mais cartão, menos cartão, este árbitro também não esteve mal.

Resultado Real: 2-0


SP.BRAGA-SPORTING

Apesar de ter havido alguma complacência disciplinar, até ao último minuto João Capela também estivera em plano positivo. Aquele livre indirecto é, todavia, mal assinalado, pois o atraso acaba por não ser intencional – pelo menos daquele modo. Não teve consequências, mas tratou-se de um erro evitável.

Resultado Real: 2-1


CLASSIFICAÇÃO REAL

BENFICA 41

FC Porto 37

Sporting 32


De um modo geral, e terminada a primeira volta, parece-me oportuno referir que as arbitragens têm estado genericamente bem melhor que na temporada anterior. Aliás, a diferença entre a classificação real e a classificação oficial é pouco expressiva, e resulta de pormenores. Que as coisas continuem assim, e que o futuro campeão não seja beliscado no seu mérito por via de interferências exteriores.

PACIÊNCIA...

Trinta e tal milhões de euros, um incêndio e muito foguetório depois, o Sporting concluiu a primeira volta com os mesmos pontos, e um lugar abaixo do que havia feito na temporada passada, então com o já esquecido Paulo Sérgio.



É verdade que nalguns jogos (não mais do que três, a saber: Lazio, Guimarães e Gil), o conjunto leonino chegou a ameaçar uma eventual candidatura ao título. Mas na hora da verdade, repetidamente, voltou a fracassar, deixando fugir o principal objectivo pelo décimo Natal consecutivo. Agora terá de lutar com um Sp.Braga em crescendo, pelo terceiro lugar – que nesta temporada dará acesso às pré-eliminatórias da próxima Champions League.



Desde o dia 6 de Novembro, quando venceu a União de Leiria por 3-1, o Sporting só voltou a ganhar um jogo do Campeonato (também em casa, ao Nacional, por 1-0, com alguma aflição pelo meio). Se juntarmos a esta fase o começo desastroso que hipotecou sete pontos em três jornadas, verificamos que o fulgor do “novo” Sporting durou menos de dois meses, e traduziu-se numa breve sequência de vitórias, muitas vezes fortuitas, e quase sempre face a adversários inferiorizados.



Vendo bem, esta é, para já, a sétima pior temporada do clube nos últimos trinta anos, pelo que talvez o problema seja estrutural. Se as arbitragens o penalizaram nas primeiras jornadas, de Paços de Ferreira em diante protegeram-no, pelo menos, em igual dimensão. E muitas das lesões (não todas, é certo) terão de ser assacadas á própria metodologia de treino e recuperação do clube, sendo também de referir que algumas delas estavam já inscritas no preço de compra dos próprios jogadores (sendo Jeffren o caso mais saliente). Portanto, o Sporting terá de queixar-se de si mesmo, reflectir sobre o seu passado, e sobre o seu presente, num contexto em que não lhe será nada fácil voltar a investir como fez no último Verão - quando Carlos Barbosa (?) chegou a dizer que FC Porto e Benfica iriam inevitavelmente competir apenas pelo segundo lugar, pois o Sporting seria de outro campeonato. Até porque ao prejuízo de mais de 40 milhões de 2011, irá seguir-se um outro, provavelmente muito maior, em 2012. Para uma SAD que há bem pouco tempo estava em falência técnica, não deixa de ser preocupante.


De dinheiros não é bom falarmos, pois a crise vai tocar a todos. Quanto aos relvados, a luta pelo título segue resumida à dupla do costume. O Sporting ...está de volta!


A ONDA A CRESCER






Num fim de tarde chuvoso, em altura de acentuada crise económica, e com o fim do mês ainda longe, estiveram no Estádio da Luz mais de 56 mil pessoas. Este número espelha inteiramente o entusiasmo que começa a crescer em torno da equipa do Benfica, que, pelo menos no plano estatístico, está a fazer o melhor campeonato que há memória desde o início da década de oitenta do século passado.


Não vou omitir que desconfiei desta equipa. Em certos momentos (Outubro, início de Novembro) pareceu-me temerosa, encolhida e com muito pouca dinâmica colectiva. Aí (em Aveiro, com o Olhanense, etc) terá tido a protecção da estrelinha que sempre acompanha os campeões, e que lhe permitiu acumular pontos, e chegar à sua melhor fase (esta) com as aspirações absolutamente intactas. Agora, tenho todo o gosto em dar a mão à palmatória, e reconhecer que o Benfica-2012 começa a assemelhar-se muito com aquele que, há dois anos atrás, encantou o país. Terá sido, este crescendo de forma, uma estratégia calculada e planeada? Só Jorge Jesus e o seu staff o saberão. O que é um facto é que os últimos jogos (e já são vários, os suficientes para definir uma tendência) mostram-nos um Benfica esmagador, brilhante, goleador, extremamente afirmativo e confiante, prometendo uma ponta final de temporada repleta de glória. É, no momento, não só a melhor equipa portuguesa, como o principal favorito ao título.


O Vitória de Setúbal é uma equipa constituída em redor de um núcleo de jogadores muito experientes, mas para quem a fase mais fulgurante da carreira já ficou para trás. Seria um adversário perigoso se o Benfica deixasse correr o jogo a ritmos baixos, por entre os quais Neca, Pitbull, Hugo Leal e outros, tenderiam a impor a capacidade técnica que ainda lhes resta. Deste trio, apenas Neca entrou de início, mas ao longo dos primeiros vinte minutos, foi precisamente ele que conduziu todo o futebol sadino, o qual, beneficiando justamente do ritmo lento permitido por alguma apatia benfiquista (e de algum espaço concedido no corredor central fruto das ausências simultâneas de Aimar e Javi Garcia), levou perigo até perto da baliza de Artur. Aos 24 minutos o Benfica perdia por 0-1, golo de…Neca, e o Vitória de Setúbal estava como queria.


Mas as campainhas de alarme depressa tocaram. E foi precisamente naquela situação de algum desconforto que veio ao de cima o nível de confiança que este Benfica manifesta, e a dinâmica de vitória em que começa a navegar.


A desvantagem no marcador e no jogo espicaçou os encarnados, que a partir do golo de Nolito (que, desde logo, tranquilizou os espíritos mais inquietos), soltaram os cavalos (expressão feliz do insuspeito Miguel Sousa Tavares), e arrancaram para uma exibição de gala, que duraria até meio da segunda parte, altura em que – com os três pontos no bolso – a torneira pôde, enfim, ser novamente fechada.


Nesses cerca de 40 minutos (vinte, mais vinte), o Benfica foi avassalador, não dando tréguas a um adversário que foi lutando como podia, mas que rapidamente se sentiu incapaz de resistir a tão grande caudal de futebol ofensivo. Mesmo sem Garay, Javi Garcia, Aimar e, de início, Nico Gaitán, o espectáculo empolgou as bancadas, sobretudo por via das excelentes prestações de Witsel, Cardozo e, sobretudo, Rodrigo – cada vez mais explosivo, cada vez mais rompedor, cada vez mais craque.


Os números ficaram pela chapa quatro (tal como em Guimarães e em Leiria), mas não fosse Diego, poderiam ter subido até a uma conta bastante mais expressiva. Em 2010 foram oito, ontem poderiam ter sido seis ou sete.
O FC Porto também ganhou, e não perde há mais de cinquenta jogos consecutivos. Em termos de números, está também a fazer uma campanha assinalável. Mas quando uma equipa, já a meio da temporada, exibe a dinâmica de vitória que o Benfica está a criar (como fez há dois anos, e como o FC Porto de Vilas Boas fez na época passada), não é normal que não seja campeã. Ainda faltam muitos jogos, mas daqui para a frente há que contar, para além de um elevadíssimo nível de confiança dos jogadores, também com o peso das bancadas, e com o entusiasmo de seis milhões de portugueses a torcer por fora. Não marcam golos, mas ajudam a marcá-los, pois (sobretudo) em altura de vitórias a nação benfiquista, com o seu apoio, com a sua força social, consegue, de facto, ser muito poderosa.


Os destaques individuais já ficaram registados. Witsel fez muito bem de Aimar, Rodrigo vai fazendo de craque. E Cardozo faz dele próprio, levando já 117 (!!!) golos em provas oficiais com a camisola do Benfica.

Quanto ao árbitro, estreante em jogos com equipas grandes, pode dizer-se que teve a sorte de apanhar um jogo sem casos, realizando assim uma actuação discreta, como se pede à função. A expulsão de Cardozo pareceu-me, contudo, demasiado rigorosa. É a segunda vez que Tacuára é expulso esta temporada, ambas por acumulação de amarelos, e creio que nenhum desses quatro amarelos (dois com o Sporting, e dois agora) é, eu diria, óbvio. Entendo que os árbitros têm, naturalmente, de aplicar as leis, mas a gestão do espectáculo também tem de ser acautelada. Um pouco de bom senso evitaria este tipo de expulsões (sem qualquer violência, sem indisciplina, sem incidência desportiva), que por vezes estragam os jogos, amputando-os, e não trazendo nada em troca – nem mesmo um qualquer sentido de justiça.

O MEU ONZE

Partindo do princípio que Gaitán, Witsel e Cardozo estão recuperados, e Aimar permanece de baixa.

PEÃO DE BREGA



É certo que os poderes da Liga já não serão o que eram. Mas a escolha para a dirigir de um tipo sinistro e com ar de fala-barato, colega de escritório de Adelino Caldeira, patrocinador de Pinto da Costa no processo Apito Dourado, e que defende acerrimamente a centralização da negociação dos direitos televisivos - manietando o Benfica no uso da sua principal arma -, não pode deixar de causar alguma preocupação.

POR CIMA DA MESA

Não sei se Djaniny vai ou não para o Benfica, nem se tem qualidade para lá se afirmar.


A eventual transferência está a ser mais debatida pelo timing, do que propriamente pelo valor do atleta – que, mostrando bons pormenores, ainda terá muita papa “Cerelac” para comer.


Diz-se que o Benfica não o deveria ter contactado nesta altura. Estando o mercado aberto a partir do início do mês, não sei então quando deveria, ou poderia, ter estabelecido o contacto (em Fevereiro? em Novembro? depois de outros clubes chegarem?). Este é o primeiro elemento mistificador do caso.


O segundo, e mais importante, é que, tal como aconteceu com Jardel (ex Olhanense), a negociação tem sido absolutamente transparente. Houvesse intenções corruptas e seria fácil deixar o jogador por lá, sob a penumbra do desconhecimento, e, por entre promessas e pagamentos menos claros, esperar algo em troca nos jogos contra. Rolando, por exemplo, andou anos a ser contratado pelo FC Porto, e a jogar (por coincidência ou não, quase sempre mal) contra o seu futuro clube, sem que muita gente desse por isso. Helton, teve de ser retirado do campo por um treinador num certo jogo, para todos ficarmos a saber que tinha um pré-acordo (até aí oculto) com o FC Porto. Beto teve de sofrer primeiro quatro golos, para semanas depois ver confirmada uma contratação que já estava comprometida. Com Kleber (convocado, não se sabe porquê, para a selecção brasileira), foi aquilo que se viu. Sem falar em Moutinho, que até meteu uma não convocação para a selecção, neste caso, portuguesa, de modo a facilitar o negócio.


Creio pois que a verdade desportiva sai bem mais defendida quando as coisas são feitas em cima da mesa. Há um período para transferências (absurdo, mas existe), há jogadores que interessam, há uma negociação legítima, e fica ao critério dos seus treinadores utilizá-los ou não – de acordo com as condições psicológicas que lhes vejam no momento. Com Jardel (que não jogou) e com Djaniny (que jogou), foi isso que aconteceu.

O FOLCLORE DE ALVALADE






Cadeiras arrancadas, incêndios em estádios, ameaças aos árbitros no intervalo dos jogos, imagens violentas no túnel. A este “novo” Sporting, cosmeticamente refundado, apenas têm faltado…resultados.




Na verdade, se Godinho Lopes parece um gentleman, na sua direcção subsistem verdadeiros jagunços, cujo alinhamento (subserviência?) com a principal claque não tem paralelo na vida quotidiana de mais nenhum clube português.




As claques têm um papel importante, e já as tenho defendido em várias ocasiões. Tornam o futebol mais colorido, e dão-lhe uma banda sonora que já não dispenso quando vou ao estádio. O problema surge quando lhes dão protagonismo e poder fora do seu habitat natural, que é nas bancadas.




No Sporting sempre se confundiu tudo, havendo quem pense que a voz grossa com que o clube pretende falar ao país desportivo tenha alguma coisa a ver com os grunhidos de meia dúzia de gangsters militarizados e semi-analfabetos. Assim ficou sem José Mourinho e Paulo Bento no passado. Assim perde a dignidade no presente. Assim compromete a sua imagem futura.




Conheço os balneários da Luz (tanto os da casa, como os dos adversários), e a decoração – colorida, festiva, empolgante – nada tem a ver com o que se vê nas fotos agora publicadas. Se a ideia era impressionar os jogadores contrários, creio que recordar os triunfos (embora necessariamente já longínquos) do Sporting, lembrar Manuel Fernandes, Peyroteo, Jordão, Yazalde, e, porque não, Carlos Lopes ou Joaquim Agostinho, faria bastante mais efeito. Esse Sporting sim, ainda podia, de facto, assustar alguém. Delinquentes da Juve Leo, com suásticas tatuadas, caras tapadas e mãos estendidas, não assustam. Repugnam.




Este episódio – como, noutro plano, a pintura da relva – define o insanável conflito entre aquilo que o Sporting quer parecer (um clube grande, distinto e respeitador), e aquilo que verdadeiramente é (uma entidade amesquinhada, sem norte, submersa em conflitos existenciais, e moralmente vendida aos seus ultras).




Até porque, como disse no início, os resultados não ajudam. À excepção da Taça de Portugal, que lhe caiu de borla nas mãos, a época sportinguista não promete nada de especial em relação ao seu passado recente. Desde 6 de Novembro apenas ganhou um jogo, está afastado do título pelo décimo Natal consecutivo, e se perder em Braga fica em quarto lugar, exactamente com os mesmos pontos que tinha no final na primeira volta de 2010-11. Como acontece com o relvado, a diferença está na máscara - agora bastante mais folclórica.

OBVIAMENTE, MESSI

Só o fim da carreira, e o respectivo distanciamento histórico, poderão dizer se entrará para a eternidade no mesmo plano de Pelé e Maradona. Quanto a mim, falta ainda a Messi um grande Campeonato do Mundo (de preferência ganhando-o). Foi nessa competição que os astros do futebol assinalaram os seus reinados, e é aí que o jogador do Barcelona tem de os desafiar. Em condições normais, restam-lhe duas oportunidades. Mas o momento, é dele.

CLASSIFICAÇÃO REAL

SPORTING-FC PORTO

Dois casos merecem análise: Polga deveria ter sido expulso com segundo cartão amarelo, e ficam dúvidas num possível empurrão a Otamendi na área do Sporting.

Os cartões não contam para efeitos de classificação real. Quanto ao eventual penálti, como tenho poucas certezas (é dos muitos lances que se analisam conforme as cores das camisolas), e como o central portista nem sequer reclamou, vou dar o benefício da dúvida a Pedro Proença.

A foras-de-jogo mal tirados não dou importância. Acontecem aos magotes, e ninguém pode provar que originariam golos. Sabe-se que em Alvalade há uma sensibilidade especial a qualquer cócega que os árbitros não decidam a favor do Sporting, mas isso, a mim, não me impressiona.

Resultado Real: 0-0


U.LEIRIA-BENFICA

Javi Garcia viu o cartão amarelo no lance errado. Quando Cosme Machado lhe o mostrou, o médio espanhol nem tocara no adversário. Pelo contrário, numa entrada às canelas do jogador leiriense ficou impune.

Além disso, e de um livre sobre a linha da área que ficou por marcar por falta sobre Saviola, não houve mais casos dignos de nota.

Resultado Real: 0-4


CLASSIFICAÇÃO REAL

BENFICA 38

FC Porto 34

Sporting 32


Como se vê, estão aqui espelhados os pontos (não mais de quatro) em que o Sporting foi penalizado nas primeiras jornadas. Daí para cá, nomeadamente em questões disciplinares, os leões têm beneficiado de uma enorme protecção das arbitragens, coisa que, pela sua subjectividade, não entra nestes números.

É normal que uns vejam o copo meio cheio (golos mal anulados com Olhanense e Marítimo nas primeiras jornadas), e outros o copo meio vazio (expulsões injustas de adversários, e vermelhos por mostrar a Jeffren, Onyewu, João Pereira, Carriço e Polga, desde então). Mas dizer-se, à boca cheia, que o Sporting não lidera o campeonato por causa das arbitragens... raia a demência.

À LÍDER


Embalado pelo resultado de Alvalade (que lhe deixava a porta aberta para a liderança isolada), o Benfica venceu categoricamente na Marinha Grande, mostrando que o tempo das inquietações está a ficar para trás, e que o título é um objectivo sólido e cada vez mais credível.



Nos últimos jogos (Rio Ave, V.Guimarães e U.Leiria), os encarnados marcaram 13 golos e sofreram 2, deixando no ar um cheirinho daquilo que foi a saga de 2009-2010. Estes resultados não mentem, e é inegável que o Benfica deste momento incute bastante mais confiança do que aquela equipa cinzentona que, há dois meses atrás, ganhava de aflitos ao Olhanense e ao Beira-Mar, e empatava em casa com o Basileia.



Mesmo amputada dos seus dois elementos mais criativos (Aimar e Gaitán), o futebol do Benfica nesta partida foi quase sempre vibrante, fluído, e consistente, esmagando a equipa adversária contra as paredes da sua inferioridade. Nunca a vitória esteve em causa, e não fosse o guarda-redes leiriense, a goleada poderia até ter sido mais expressiva.



A principal diferença entre este Benfica e o de há dois meses atrás, reside na forma intensa como os jogadores lutam pela bola, recuperando-a com rapidez, e criando, com isso, lances de ataque em catadupa. Avançados inspirados e certeiros fazem o resto, elevando a confiança colectiva numa espiral que, passo a passo, pode tornar-se difícil de travar – e o ambiente nos estádios já reflecte essa onda.



As próximas jornadas trazem dois jogos consecutivos na Luz, contra equipas da segunda metade da tabela classificativa (V.Setúbal e Gil Vicente). Eis pois a oportunidade para consolidar a liderança, e deixar que, a cada jornada passada, ela se encarregue de danificar a moral dos principais adversários. Faltam seis jogos para o confronto directo com o FC Porto, e acredito que, se o Benfica os ganhar, chegará a esse momento com as contas todas do seu lado, e em posição de grande conforto face ao título.




Na noite da Marinha Grande destacaria Bruno César, Rodrigo e Maxi Pereira como os elementos mais em foco. Cardozo marcou pela quinta vez consecutiva, chegando-se à liderança da lista dos goleadores. Artur esteve onde foi preciso. Ninguém jogou mal.


Cosme Machado não teve casos difíceis para analisar. Ainda bem, pois é juiz que não merece qualquer confiança, sendo a sua nomeação (a primeira dos novos poderes) um dado um tanto preocupante.

AMIGOS

Jogo agradável de seguir, com uma boa arbitragem, com algumas oportunidades, e um resultado particularmente saboroso para quem estava de fora.

O FC Porto não perde há 53 jogos consecutivos. O Sporting, em dois meses, só ganhou um jogo para o campeonato, e de forma bastante sofrida (1-0 em casa ao Nacional). Não restam dúvidas algumas sobre qual o grande adversário do Benfica na luta pelo título.

ONZE PARA LEIRIA

AS CONTAS DA JORNADA



NÃO ADOPTO

Só tive Multibanco em 1995, Telemóvel em 2001, e não tenho, nem tenciono ter, conta no Facebook. Não sei muito bem o que é um Ipod, nem um Ipad (nunca gastaria um cêntimo em coisas com estes nomes), e não consigo perceber o que de tão relevante fez Steven Jobs pela humanidade. Serei certamente uma espécie rara no mundo da blogosfera, que entendo de forma meramente instrumental. Continuo a gravar os meus filmes em cassetes VHS, e não vejo qualquer razão para mudar (até porque, ao contrário do que se diz, duram mais do que os DVD’s). E faço mentalmente as minhas contas ainda em escudos (preparando-me, quiçá, para o seu indesejado regresso).



Custo a adaptar-me a quase a tudo, e nunca me canso de quase nada. Mesmo sabendo que não posso parar o tempo, gosto de andar atrás, e não à frente, das tecnologias, e das novidades. Espero para ver se trazem algo de novo, algo de denso, e não passam de simples modas de circunstância, ou apelos a um consumismo vazio. Normalmente acabo por me render, sem complexos nem sectarismos, mas quase sempre já nas raias da segregação social, e quando a mudança (seja ela qual for) está já generalizadamente testada.



Com este espírito radicalmente conservador, que não prezo, nem desprezo (apenas constato), não me peçam para adoptar acordos ortográficos. Embora compreenda as suas fundamentações, sempre escrevi, escrevo, e escreverei, conforme aprendi na escola, e lá para 2022, se ainda estiver vivo e achar estritamente necessário, pensarei melhor no assunto. Até porque tenho mais de dois mil livros em casa, quase todos escritos com a mesma ortografia, e não tenciono deitá-los fora.

GOLEADORES DO SÉC XXI




Refira-se, como curiosidade, que Cardozo tem, sozinho, mais golos marcados no Benfica do que Pedro Mantorras, Fabrizio Miccoli, Pablo Aimar, Angel Di Maria, Rui Costa e Fábio Coentrão todos juntos.


Continuem, pois, a assobiá-lo.

UMA TAÇA ENGRAÇADA

Últimos 16 jogos: 15 vitórias e 1 empate. Apenas uma derrota em toda a história (em Outubro de 2007). Três títulos em quatro edições. Eis alguns dos motivos porque os rivais do Benfica tanto desvalorizam a Taça da Liga.

...E TUDO TACUARA LEVOU



45 minutos em campo, dois golos espectaculares, um golo anulado, um remate por cima da barra, e guarda-redes obrigado a duas grandes defesas. Este foi o balanço do desempenho de Óscar Cardozo na estreia do Benfica na Taça da Liga 2012, e a ele se deve grande parte da vitória encarnada na noite de Guimarães.

É verdade que a expulsão de Pedro Mendes condicionou a equipa da casa. Mas foi a entrada extremamente afirmativa do paraguaio em campo que deu ao Benfica um triunfo que o coloca muito bem encaminhado para as meias-finais da competição. Até à aparição de Tacuara, e em quase toda a primeira parte, a exibição benfiquista fora apagada, e tão fria como a temperatura que certamente afastou muita gente das bancadas. Valera então a ineficácia vimaranense, e os apurados reflexos de Eduardo – mostrando-se, no Minho, um digníssimo substituto do grande Artur – para evitar males maiores. Mesmo com uma equipa muito parecida com a titular, e depois de se ter colocado em vantagem, o Benfica não conseguia mandar no jogo, nem evitar os ameaçadores ataques do adversário. O golo de João Paulo, logo a abrir o segundo período, trouxe a justiça que até ao intervalo se não fizera. Mas daí em diante, o filme foi outro.

A última meia hora trouxe os golos, que até podiam ter sido mais, e a espaços também algum espectáculo, a deixar água na boca para os próximos compromissos.

O Benfica entra em 2012 da mesma forma que saiu de 2011: a golear. Agora, em Leiria, com as festas natalícias já digeridas, e com as pernas mais soltas, numa jornada que pode ser chave, espera-se que a saga vitoriosa continue.

Já me esquecia de falar de Bruno Paixão. Esteve mal, prejudicando as duas equipas, e sobretudo o próprio jogo. Ficou na retina um penálti claro cometido sobre Nolito, já depois de algumas faltas assinaladas ao contrário. Javi Garcia terá de ser mais prudente, embora eu não defenda que um incidente daquele tipo seja motivo para expulsão. Sou adepto do Hóquei no Gelo, e embora ache que o Futebol não pode, nem deve, chegar àquele extremo, também não me parece que um simples desaguisado, um empurrão, uma canelada ou um encostar de cabeças deva ser confundido com uma agressão reflectida e deliberada. Esta opinião vale para todos os jogos.

DE REGRESSO

Terminadas, com êxito, as festividades relativas ao Natal e à Passagem de Ano, VEDETA DA BOLA está de regresso, para um 2012 que se espera possa ser, pelo menos, não tão mau como o maldito 2011 que finalmente nos largou.



Destes dias sobram os casos Ruben Amorim e Enzo Perez, sobre os quais não me irei pronunciar, por absoluto desconhecimento de causa.



O futebol do Benfica está cada vez mais blindado, e não serei eu a contribuir para furar essa blindagem. Enquanto benfiquista que participa, de algum modo, no processo comunicacional do clube, o meu critério é simples. Aquilo que eu saiba, e não for prejudicial aos interesses do meu clube, poderei aqui partilhar com os estimados leitores. Aquilo que eu, por acidente, souber, mas achar que o clube nada ganha em dar a conhecer ao grande público, jamais alguém saberá por mim. Sobre aquilo de que nada sei (para além do que sai nos jornais), não irei seguramente, e por maioria de razão, inventar. Estes dois casos, como a maioria dos temas relacionados com o Benfica actual, pertencem ao último grupo de questões. Assim sendo…




Sobre o mercado de transferências não há ainda muito para dizer. No caso do Benfica, as únicas novidades são, para já, o regresso de André Almeida (não tenho acompanhado os jogos do U.Leiria, mas não desgostei dele na pré-época), e a renovação de Saviola. Não sei, mas desconfio, que Saviola tenha um salário sensivelmente mais baixo que o de Aimar, e daí ter já renovado contrato, ao contrário do amigo. Pelo que se percebe da última entrevista a Luís Filipe Vieira, o Benfica pretende que o “dez” aceite baixar um pouco a sua remuneração (eventualmente, digo eu, para o nível de Saviola), de modo a que seja possível mantê-lo em Portugal, mesmo em tempo de crise. Com o rendimento desportivo que Aimar tem evidenciado (eu próprio o considerei figura do ano no jornal do clube, não me passando pela cabeça que com isso talvez não estivesse a ajudar os propósitos da renovação), também desconfio que lhe seja difícil aceitar auferir menos, até porque o amor à camisola foi chão que já deu uvas. Gosto muito de Pablo Aimar, mas só a SAD encarnada saberá o que lhe pode pagar, num contexto em que - e isso, infelizmente, sabemos todos muito bem - as coisas não são o que eram há dois ou três anos atrás.




Começa hoje a Taça da Liga para o detentor do troféu.



Sou dos que acha que todas as provas são importantes, e já me desloquei expressamente (e dispendiosamente), quer ao Algarve, quer a Coimbra, para finais da Taça da Liga, sempre recompensado com triunfos. Sobretudo quando os principais títulos se escapam, uma Taça da Liga (como, em maior grau, uma Taça de Portugal, e em menor grau uma Supertaça) pode sempre reconfortar a alma. Até porque se trata de uma prova engraçada, que integra todos os clubes profissionais, e que, mesmo com um regulamento discutível, já encontrou o seu espaço no calendário nacional, sendo hoje, claramente, a terceira prova do futebol português.



Com três troféus conquistados nas últimas três edições, ainda envolvido na Champions League (novidade face às últimas temporadas), e proibido de voltar a falhar na grande prioridade-título nacional, o Benfica tem este ano, porém, algumas razões para não se expor demasiado nesta Taça da Liga. As próximas jornadas do Campeonato são cruciais, em Fevereiro voltará a Liga dos Campeões, e o desgaste far-se-á sentir necessariamente à medida que as semanas de competição se vão acumulando nas pernas. Neste contexto, creio que o Benfica deverá poupar os seus principais elementos aos jogos da Taça da Liga, fazendo, por outro lado, com que os que entrarem em campo o façam a top de motivações e energias, mantendo o ritmo de todo o plantel em regime de equilíbrio.



Se, assim, com uma equipa alternativa, o Benfica conseguir chegar às meias-finais (possivelmente com o FC Porto na Luz, e já no pós-Zenit), então, aí chegado, talvez se justifique uma aposta mais forte. Se não conseguir o apuramento, e der a oportunidade a FC Porto ou Sporting para vencerem a prova, também não haverá qualquer drama. Será, até, a forma de o tri-benfiquista ser, enfim, valorizado, pois conhecendo o país desportivo sei que só a partir do momento em que FC Porto ou Sporting conseguirem vencer a Taça da Liga, é que esta passará a ser tida generalizadamente como uma competição verdadeiramente importante.



De acordo com o que acabei de escrever, fica então o onze para Guimarães: