ENTRE ROUBOS E OFERTAS, O PANORAMA É ESTE

 Todas as Supertaças disputadas entre Benfica e FC Porto:


AI A SUPERTAÇA...

Será normal que uma equipa que acabou de se sagrar campeã nacional, manteve quase todo o plantel, e ainda se reforçou com três jogadores de nomeada (entre eles, o mais caro de sempre em Portugal), enfrente outra equipa que ficou em segundo lugar, perdeu um titular absoluto e se reforçou muito menos, e não seja favorita? É possível, pois trata-se de um Benfica-FC Porto, e infelizmente, independentemente do local, do valor dos plantéis, dos jogadores em campo, ou dos treinadores (e recentemente, até dos árbitros), nos clássicos Benfica-FC Porto o favorito é o FC Porto.
Há várias razões para isso. Tácticas, físicas e mentais. A algumas das quais não são alheios os próprios adeptos do Benfica, com a sua proverbial mania das grandezas e do futebol artístico, tido como uma espécie de matriz identitária - mas que nem sequer está nas raízes de um clube que se fez grande com atletas operários e de combate, enfrentando com garra os Violinos, ou o super Barcelona em Berna, na altura ainda sem Eusébio nem Simões. Jogadores como Guarín, Mbemba, Marega ou Zaidu (e trago nomes ao calhas), no Benfica seriam assobiadíssimos. No FC Porto... só interessa ganhar. E enquanto uma equipa do Benfica não conseguir ser, em campo, um carro de combate compacto e inexpugnável (mesmo se assobiado), até pode ser campeão (ganhando os outros 32 jogos no meio de aplausos e olés), mas terá muitas dificuldades, com os seus toques de calcanhar, as suas verónicas e chicuelinas e uma crónica suavidade defensiva, em ganhar no confronto directo a um FC Porto sempre de faca nos dentes, sangue nos olhos, e rigor táctico à prova de bala na hora de defender. Com um treinador que olha pouco para os adversários, e para como os bloquear, a coisa agrava-se. A menos que Stefan Eustáquio dê dois pontapés na perna de Bah logo nos primeiros minutos de jogo...
Já se percebeu que a minha confiança para a Supertaça não é muita. E se já não o era no final da temporada anterior (pelos motivos acima invocados), depois de ver o Feyenoord-Benfica ainda piorou.
Até porque, além de algumas coisas que esta equipa tem a menos (lá está: músculo, altura, agressividade, rigor...), agora parece-me ter também outras ...a mais.
À parte Jurasek - que ainda não mostrou absolutamente nada, mas cuja posição era imprescindível reforçar - os outros reforços estão a parecer-me, além de (muito) caros, também inúteis ou até mesmo inconvenientes. Di Maria e Kokçu provavelmente vão colocar David Neres e João Neves no banco, por uma mera questão de estatuto. Em termos de rendimento, e pelo que vi até agora, não justificam a entrada no onze. Veremos, ao longo da época, se justificam o avultadíssimo investimento. E já agora, também Otamendi - que deverá remeter Morato para o banco - renovou contra-corrente por mais duas épocas depois de ter mostrado claro défice na ponta final desta última (Chaves, Milão etc). Ou seja, sem Otamendi, Kokçu e Di Maria, talvez o Benfica fosse neste momento melhor, mais compacto e seguramente muito mais barato - e com margem para investir forte no substituto de Gonçalo Ramos, que bem poderia ser, desde logo, o ponta-de-lança do Feyenoord.
Enfim, é cedo para tirar conclusões definitivas. Depois de uma derrota olhamos sempre para o copo meio-vazio. E não está em causa o valor em abstrato de nenhum dos jogadores nomeados, mas sim o momento, e o contexto de um plantel que já tinha Neres, Aursnes, João Mário, Rafa, Schjelderup, Gouveia e mais tarde Guedes para as alas, já tinha António Silva, Morato, João Victor, Tomás Araújo e ainda Lucas Veríssimo para o eixo da defesa, e viu nascer em João Neves o substituto natural de Enzo Fernandez, depois da bem sucedida comissão de serviço de Chiquinho como alternativa válida para o lugar. Já Florentino continua a ser apenas um, e tem ido para o banco.
Que eu esteja enganado. Que sejam as obsessões de Roger Schmidt a vingar. Mas tenho de confessar que, para mim, se o Benfica ganhar esta Supertaça, será uma enorme surpresa. A vantagem é que, se por milagre acontecer, saberá melhor, pois a derrota, essa tenho-a quase por garantida. Aliás, nem sequer lá vou.

NOTAS SOBRE A PRÉ-ÉPOCA

Antes de mais, devo dizer o que vi, e o que não vi.
Estava no estrangeiro e não vi, de todo, o jogo com o Basileia. Vi a espaços partes do Al Nassr, pela TV. Assisti, ao vivo, ao Benfica-Celta no Estádio do Algarve. E vi na TV o jogo desta noite com o Burnley.
De tudo isto, as ideias com que fiquei são as seguintes, sector a sector:

BALIZA - Quem frequenta este espaço sabe que sou fã de Vlachodimos. É claro que gostava mais de ter o Courtois. Mas para a realidade do Benfica, acho que só circunstancialmente (como foram os casos de Oblak e Ederson) podemos ter um guarda-redes muito melhor do que o grego. E para pior (Moreira, Quim, Roberto, Artur Moraes, Bruno Varela, etc), antes assim.
Acho porém - e isso ficou hoje bem claro - que o jovem Samuel Soares ainda está demasiado verde para número dois, e a dada altura ter de assumir subitamente (pode acontecer...) a titularidade. Deve continuar a crescer na Equipa B, e como terceiro guarda-redes da A, ou então ser emprestado. Fica, portanto, a faltar alguém, nem que seja um Helton Leite qualquer. Ou seja, alguém minimamente experiente para, se houver necessidade, suprir as ausências (lesões, cartões) de Ody.
Investir 12 milhões em Bento, apesar do nome sugestivo, não me parece ponderado para quem não venha para a titularidade absoluta - e, como disse, não é bem disso que o Benfica precisa. Na Liga Portuguesa até há dois ou três guarda-redes que cumpririam o papel, poupando-se o dinheiro para a mais do que provável necessidade de vir a ter de substituir Gonçalo Ramos.

DEFESA - Otamendi ainda não foi utilizado, e isso condiciona um pouco a análise. A verdade é que não tenho gostado da solidez defensiva da equipa, ainda que tal não se deva apenas aos elementos do respectivo quarteto. Aí, falta claramente uma alternativa a Bah (tanto João Victor como, sobretudo, João Neves, rendem muito mais nas suas posições, e nenhum me convenceu como lateral), enquanto no lado esquerdo Jurasek ainda não mostrou as credenciais - aliás, se fosse eu a fazer o onze, neste momento preferia Ristic (que defensivamente, diga-se, também deixa muito a desejar). Quanto a centrais, o plantel está bem servido, embora António Silva não tenha ainda regressado totalmente das férias.

MEIO-CAMPO - As alternativas são muitas, mas o que me parece é que apenas há um Florentino. Dito de outra forma, de todos os médios, ele é o único verdadeiramente recuperador - e não está ainda em grande forma, longe disso. Kokcu, João Neves, Aursnes e Chiquinho são, todos eles, cada um a seu modo, mais criadores do que que equilibradores. E se Aursnes também está longe dos mínimos físicos, mas já mostrou o que vale, Kokcu ainda não mostrou praticamente nada face ao preço que custou. Neste momento, o melhor é mesmo João Neves. Tino-Neves seria a minha dupla nesta altura.

EXTREMOS - É certamente o ponto mais forte da equipa, e nem sequer conto com Rafa, Chiquinho ou Guedes para as alas. Neres entrou bem na pré-época, Di Maria é...Di Maria (a não ser que as lesões o venham a trair), João Mário vai ser...João Mário, e ainda há Aursnes. Schjelderup evidenciou alguns pormenores de talento, mas muito pouca substância prática, sendo mais um jogador de futuro do que de presente.

ATAQUE - Não fosse Gonçalo Ramos estar em vias de ser vendido (não tenhamos ilusões quanto a isso), e, com ele, Rafa e Musa (mais tarde, também Guedes) eu dormiria descansado. Infelizmente, numa das próximas semanas, o Benfica ficará sem o seu ponta-de-lança titular, justamente na temporada em que acho que ele vai explodir definitivamente - o problema é que outros também acham, e têm dinheiro para achar.
Se vier Santiago Gimenez, a coisa compõe-se. Mas vai ser exigida uma pipa da massa pelo mexicano, e não é fácil encontrar finalizadores do mercado (por isso são tão valorizados). Temos pois aqui um grande desafio de mercado.
Rafa ficar, pelo menos este ano, é uma excelente notícia. Musa ainda está longe do que pode fazer. Já quanto a Tengstedt, confesso que ainda não vi nada que tivesse justificado a contratação (e a ideia já vem de há vários meses). Nem talento, nem capacidade física, nem eficácia. Espero que ainda me possa fazer mudar de opinião, e tornar-se uma espécie de Musa 2. Jamais será titular indiscutível do Benfica, isso parece-me claro.

CONCLUSÃO - O plantel é forte, precisando apenas de pequenos ajustes na baliza e laterais, e de tratar (bem) a questão do ponta-de-lança, quando Ramos sair. As dinâmicas de Schmidt estão para manter, mas há ainda elementos demasiado longe da melhor forma para poder aplicar a receita, tendo em conta que a Supertaça já não tarda. A construção de jogo ofensivo tem sido o ponto forte, a eficácia e a solidez defensiva, os pontos fracos. Jurasek e Kokcu terão de mostrar muito mais. Se isto dá para ganhar ao FC Porto? Ao do ano passado, até pelas características tácticas de ambas as equipas,, temo que não. Mas não vi, nem tenho qualquer ideia de como está a equipa de Sérgio Conceição neste momento, e muito menos como estará daqui a duas semanas.

O ONZE NO MOMENTO: Ody, Bah, António, Morato, Ristic, Tino, Neves, Di Maria, Rafa, Neres e Ramos.

COMEÇAR A GANHAR

Estes amigáveis de pré-temporada, sobretudo os primeiros, têm pouco que contar. Na prática são apenas treinos mais intensos. Ferramentas de trabalho para o treinador e para os jogadores.
Da partida com o Southampton, registo apenas a boa forma de Neres e a certeza de que o 4-2-3-1 de Schmidt é para manter. Tudo o resto seriam considerações inúteis e talvez até injustas para este o aquele elemento do plantel.
No domingo, novo teste frente ao Basileia.

RIDÍCULO

O castigo aplicado a Neres é absolutamente ridículo, e esbarra numa tremenda falta de critério do CD da FPF. Coisas graves são ignoradas e branqueadas. Um comentário totalmente inócuo nas redes sociais, que até pode ser entendido com algum humor (quando o futebol não tiver este tipo de picardia entre adeptos e intervenientes, perde a graça) é castigado com ausência numa partida que decide um troféu.
Ou me engano muito, ou também estão a preparar o caldinho para Odysseas - pasme-se, por ter dito um palavrão no balneário !!!???!!!
Gostava de ver o dia em que a pandilha que constitui este CD (quase todo com geografia a norte) fosse varrida para longe do futebol. Se procuraram a isenção de quem vinha de fora, encontraram incompetência, absoluto desconhecimento do fenómeno...e a mesma falta de isenção de sempre.
O futebol português está doente. Tanto Liga como FPF estão pejadas de mediocridade. A primeira vive à conta de resultados de uma ou duas equipas nas provas europeias (pois do quarto lugar para baixo, o campeonato é absolutamente miserável, e cada vez pior). A segunda, à conta de uma geração excepcional de jogadores, formados nos clubes (e não pela FPF), que vão criando expectativas (também quase sempre defraudadas) nas competições de selecções.
E depois, ainda colocam gente desta (com lábia, ambição, oportunismo, mas total impreparação) em cargos de decisão.
Pobre futebol.

PONTO DE SITUAÇÃO

GUARDA-REDES: Bento, não só pelo nome, parece-me uma boa opção para discutir a titularidade com Odysseas. Dependerá do preço. Um dos três jovens será terceiro guarda-redes, sendo que André Gomes vai estar parado alguns meses. E Samuel Soares talvez devesse ser emprestado a clube da primeira liga, para mais tarde poder voltar em grande. Resta Kokubo.
DEFESAS: Espero que António Silva fique, mas... Disso depende a constituição do lote final de centrais, sendo que ainda há Otamendi, Morato, Tomás Araújo, João Victor e também Lucas Veríssimo. Se o jovem português ficar, Lucas Veríssimo deve ser o sacrificado - pela lesão, da qual não mais recuperou na plenitude, e por ter mercado no Brasil. Entre Tomás Araújo e João Victor, também não me admirava que um deles acabasse emprestado, pois não sei se Schmidt quer 4 ou 5 centrais.
Nas faixas, ou ficam Gilberto e Ristic e então a contratação de Jurasek (Kerkez está fora de hipótese) resolve tudo, ou se algum deles sair, terá(ão) de ser acautelada(s) a(s) rectaguarda(s) da(s) posição(ões). Não creio que os jovens João Tomé e Rafael Rodrigues estejam preparados para se assumir desde já como verdadeiras alternativas às laterais. 
MÉDIOS: Espero ardentemente que Rafa fique, renove e termine a carreira no Benfica. Acho que merecia um esforço do clube, pois é claramente um craque, que muito admiro. Se é irregular? Então e Otamendi? Então e João Mário? Então e Ramos? Enfim, mais vale cair em graça do que ser engraçado. Os valores pedidos (10M à cabeça, e 3,5 limpos por mais 4 épocas), a serem verdadeiros, parecem-me, porém, claramente exagerados. Eu tentaria baixar alguma coisa. E se as exigências exorbitantes se mantivessem, o melhor talvez fosse mesmo vendê-lo para o Médio Oriente, antes que, dentro de um ano, ainda vá parar ao FC Porto. Com o empresário que tem, nunca se sabe.
Não me passa pela cabeça que Aursnes ou João Neves (nesta fase) possam ser vendidos. E gostava que também Florentino ficasse. Não sei qual a arrumação do meio-campo que Schmidt pretende face à contratação de Kokçu. Mas entre estes quatro nomes, talvez haja um a mais. Esse, naturalmente, será Florentino - com valor de mercado bastante razoável.
Duvido que haja espaço para Paulo Bernardo ou Martim Neto (que acabou de renovar). Tiago Gouveia talvez mereça uma oportunidade no plantel principal, pelo menos até Janeiro. Já Schjelderup, ou evolui rapidamente, ou terá de ser emprestado. Di Maria parece confirmado.
AVANÇADOS: Sinceramente não acredito que o Benfica segure Gonçalo Ramos. Até porque o modelo de negócio prevê vender, pelo menos, um jogador por ano. Se António Silva e João Neves ainda estão a maturar, Ramos já está no ponto (embora eu ache que ainda pode, e deve, evoluir mais). O Benfica pede 80M. Acredito que acabe por vender acima de 60M. Seja como for, caso saia, é imprescindível contratar o ponta-de-lança para ser titular de caras. Castellanos? Gimenez? Quanto a Henrique Araújo e Tengstedt, julgo que pelo menos um deles deva ser emprestado. Do português esperava francamente que tivesse crescido mais depressa. Do nórdico, temo que não passe do pouco que já mostrou.