UM PENÁLTI ESPETADO NA ALMA
Pensava que Portugal poderia mesmo ganhar (escrevi-o aqui), e, chegado aos penáltis, julguei poder confiar na queda de Rui Patrício para os defender. Mais ainda depois de ter parado categoricamente o primeiro.
É duro perder assim, e não concordo nem um pouco com a ideia do outro Bento, o Paulo, segundo a qual esta é a melhor forma de sair derrotado de um jogo, e de um Campeonato. Admito que para um profissional – com a sensação de dever cumprido - o seja. Para um adepto, e sobretudo para um adepto cuja paixão pelo passado, e pelos arquivos, leva a valorizar a dimensão histórica dos resultados, isto é uma tragédia.
Por muito que me belisque para desafiar a hipótese de tudo não passar de um pesadelo, a verdade é que Portugal ficou a centímetros da final de um Europeu, coisa que talvez não volte a acontecer nos próximos vinte anos. É este tipo de oportunidade perdida (como a meia-final europeia do Benfica em Braga, como os penáltis de Estugarda), que mais me custa a digerir no desporto. E se Portugal tem encaixado um pomposo 3-0 da campeã mundial, a resignação tomaria o lugar da tristeza.O jogo foi pobrezinho em termos de espectáculo. Fosse um Itália-Alemanha assim, sensaborão, cheio de passes errados, com muitos nervos e nenhum golo, e talvez tivesse adormecido a meio da segunda parte. Com Portugal em campo, os níveis de ansiedade subiram até a um ponto a que só os grandes jogos internacionais do Benfica conseguem chegar.
A equipa lusa equilibrou a contenda, e conseguiu, com rigor e organização, neutralizar a principal arma espanhola (trocas de bola junto à área adversária). Diga-se que também a Espanha neutralizou Cristiano Ronaldo, e as transições rápidas dos portugueses. Vimo-nos assim num jogo de xadrez, em que as equipas encaixaram uma na outra, e onde as poucas oportunidades acabaram por ser desperdiçadas (livres de Ronaldo, e aquele lance aos 89 minutos para Portugal; remates de Iniesta no início do jogo, e já no prolongamento, para os espanhóis).
Chegámos aos penáltis, e na altura (com a equipa nacional a acusar mais desgaste que a Espanha, e com Pedro e Navas a incendiarem as alas) pareceu-me ser esse o caminho ideal para uma vitória histórica, e consequente festa de arromba. Tudo começou bem, mas depois...Um bateu na barra e saltou para fora. Outro foi ao poste e acabou por entrar. A Espanha está na Final. Portugal volta para casa.
Haverá tempo para analisar o Europeu mais friamente. Poderei dizer desde já que ganhámos uma equipa, e que João Moutinho renderá um dinheirão - o que não é boa notícia. O Mundial é já daqui a dois anos, e com a mesma equipa, com um Cristiano Ronaldo ao nível dos jogos com Holanda e Rep.Checa, com Nani e Meireles (ambos da Premier League) em melhor condição física, e com Nélson Oliveira mais crescido, podemos ter esperanças de fazer figura. Mas, terminando como comecei, nada disso me consola hoje de uma intensa dor na alma. Vejo o Futebol como um brinquedo de emoções (quase sempre fortes). Não tenho, felizmente, problemas com a vida ou comigo próprio que me façam utilizá-lo como escape para frustrações, nem como instrumento para canalizar ódios recalcados. Para mim, trata-se simplesmente de alegria e tristeza. Por vezes, euforia e desolação. Ora aqui está esta última, manifestada de forma cruel.