O Benfica já ganhou jogos com exibições bem piores do que a desta noite. Lutou, correu, rematou, e além da estrondosa actuação do guarda-redes do Farense, padeceu daquele que é o seu principal problema em jogos desta natureza: a falta de um avançado eficaz.
Escrevi sobre isto há dois posts atrás. E durante o jogo voltei a ter saudades, que mais não fosse, de um Seferoviczinho.
Na verdade, o Benfica manteve no plantel o seu ponta-de-lança suplente (Musa), e o seu terceiro ponta-de-lança (Tengstedt), um destinado a ser lançado nos últimos minutos de algumas partidas, outro para jogar nas taças e suprir eventuais lesões - e com maior ou menor rigor de análise, não nos podemos queixar muito deles.
O grande problema é que a equipa ficou sem ponta-de-lança titular. Gastou 20 milhões numa anedota, que depois de mostrar total incapacidade e incompetência dentro campo, agora também mostra falta de carácter fora dele.
As contratações de Jurasek e Arthur Cabral foram autênticos crimes desportivos, e depois de ter aqui lançado a pergunta sobre quem eram os responsáveis, na conferência de imprensa pré-jogo, em resposta a um jornalista com idêntica questão, Schmidt deixou a ideia (pelo menos foi o que subentendi) de ter sido ele próprio - enfim, deixando no ar que restrições orçamentais não tinham permitido outras opções.
Foi também ele que, de modo totalmente incompreensível, substituiu João Neves, deixando em campo jogadores com muito menos rendimento. Não foi a primeira substituição de Schmidt a roçar o absurdo. Esta irritou particularmente os adeptos no estádio.
Porém, nada justifica o que aconteceu depois. Uma coisa é assobiar e mostrar descontentamento nos timings apropriados, e sempre sem acrescentar pressão a quem está a jogar, outra é atirar objectos para o próprio banco do Benfica (algo que não me recordo de alguma vez ter acontecido antes) e obrigar a uma intervenção policial. Não foi a claque. Foi a bancada central, onde pessoas de cabeça perdida deram uma triste imagem de benfiquismo.
Fui dos primeiros a contestar Roger Schmidt, quando muita gente me acusava de excentricidade. Agora, em nome do equilíbrio e da frieza de análise, tenho de o defender. Foi campeão, ganhou a supertaça, venceu três vezes o FC Porto e também o último dérbi. Não é o sumo pontífice dos treinadores, mas não é dele toda a culpa dos últimos resultados.
O plantel do Benfica tem insuficiências graves, quer nas laterais, quer na frente de ataque. Com Gilberto, Ristic e Seferovic (lembrei-me destes três nomes, como poderia ter-me lembrado de outros quaisquer apenas razoáveis) a equipa estaria bem melhor.
Infelizmente Bah está lesionado, e temos Jurasek e Arthur Cabral, ambos a concorrer para o titulo de maior flop da história do clube. Se foi mesmo Schmidt que os indicou, tem graves responsabilidades. Mas escolher outro treinador e manter este plantel, com estas insuficiências e estes desequilíbrios, não servirá para nada.
Nem Guardiola faria de Arthur Cabral um avançado à altura das exigências do Benfica. Portanto, o primeiro problema a resolver é a contratação de um ponta-de-lança que traduza em golos e vitórias o volume de futebol ofensivo que o Benfica, ainda hoje, foi capaz de criar.
Aí sim, se poderá perceber se Roger Schmidt, com as suas virtudes e defeitos, é mesmo o treinador certo para devolver a equipa ao sucesso que, com ele, já atingiu.
Tudo isto com serenidade e sensatez. Sabemos que o futebol mexe com emoções, mas quem quer ajudar o Benfica a dar a volta a esta situação, não pode, nem deve, alimentar o folclore mediático com atitudes como as que alguns tiveram hoje.