Depois de um saboroso período de férias, VEDETA DA BOLA regressa hoje ao seu convívio - tal como prometido, antes do pontapé de saída da Liga 2008-2009.
Muita coisa se passou entretanto, e seria fastidioso e inoportuno comentar agora de forma minuciosa cada uma das transferências ou cada um dos jogos de preparação efectuados, até porque, para ser franco, tenho dado muito mais atenção aos Jogos Olímpicos do que propriamente à actualidade futebolística, seguindo avidamente - ao longo de noites sem dormir - as fabulosas performances de Michael Phelps, Usain Bolt ou da nossa Vanessa Fernandes, acompanhando modalidades que normalmente me escapam (tiro, canoagem, esgrima ou ginástica, por exemplo), seguindo as lutas pelas medalhas, os records, os dramas próprios da competição e todo o colorido em seu redor, pois para além de benfiquista gosto sobretudo de futebol, e para além do futebol amo a o desporto em geral.
Deste período de ausência, ressaltam todavia alguns assuntos que não gostava de deixar passar em claro, e aos quais me irei agora referir para que nos próximos dias possa então entrar definitivamente na actualidade. São os seguintes:
TRANSFERÊNCIA DE PETIT – A saída do internacional do Benfica caiu-me como uma bomba, e estranhei profundamente a forma superficial e ligeira como foi tratada por uma comunicação social sempre lesta a vislumbrar grandes vedetas em jogadores vulgares que chegam, quase diariamente, do outro lado do atlântico.
Petit foi titular da selecção nacional no último Europeu, era um dos capitães de equipa, e um dos mais antigos jogadores do clube. Sempre demonstrou total empenho e profissionalismo, sendo dos poucos que conferia alguma experiência e segurança competitiva a um plantel recheado de jovens à procura de afirmação.
Durante a época transacta, tive conhecimento da existência de alguns problemas de relacionamento entre Rui Costa e Petit, que inclusivamente terminaram um jogo em acesa discussão ainda no relvado. Não creio contudo que tal possa justificar uma dispensa – é disso que se trata -, pois uma equipa de futebol, como qualquer estrutura profissional, não pode ser formada com base em critérios de amizade. A ser assim, também Óscar Cardozo, entre outros, teria guia de marcha garantida, pois também ele, ao que sei, não faz parte do núcleo de simpatias do novo director-desportivo – foi aliás o único jogador em campo a não felicitar Rui Costa quando o “maestro” foi substituído no seu jogo de despedida.
Não terá sido também por aparecer de quando em vez num qualquer local de diversão nocturna que Petit se tornou dispensável, pois as contratações entretanto efectuadas – e já lá irei – abrangeram mais do que um jogador com fama de boémio, epíteto que o médio, diga-se, estava longe de justificar. É importante lembrar que o seu rendimento na última temporada foi altamente condicionado por sucessivas lesões, que nunca o deixaram atingir um estado de forma ideal.
Havendo uma proposta vantajosa para o clube entender-se-ia, dada a sua idade, uma venda do respectivo passe (ainda que o valor tivesse de ser dividido com o Boavista). Uma dispensa a custo zero custa a aceitar, até porque se Rui Costa jogou, e bem, até aos 36, se Léo, aos 32, viu renovado o seu contrato, não seriam os 32 anos de Petit a obstar a mais uma ou duas boas épocas, fazendo valer a sua experiência, a sua cultura táctica, a sua alma de lutador.
O futuro dirá quanta falta Petit fará no meio-campo benfiquista. Mas uma coisa já é certa: com as saídas de Petit, depois de Simão, Miguel, Tiago, Manuel Fernandes, Ricardo Rocha, e agora também Nuno Assis (veremos ainda se Mantorras e Nuno Gomes), morre definitivamente um certo Benfica. Um Benfica que chegou aos títulos rompendo um prolongado jejum, e deu esperança aos adeptos de finalmente poder devolver o clube ao lugar que o seu historial nunca deixou de justificar.
Mais uma vez tudo terá de começar de novo…
CONTRATAÇÃO DE REYES – Espero estar francamente enganado, mas este é um exemplo paradigmático do perfil de jogador que eu nunca contrataria para o Benfica.
Não pela sua qualidade técnica, que é inegável, mas por tudo aquilo que indicia uma carreira errante e em quase constante e galopante decadência, pelo dinheiro que já ganhou (e continua a ganhar), pela ambição que provavelmente não conseguirá encontrar numa liga como a portuguesa.
Reyes despontou no Sevilha, chegou à selecção espanhola e foi contratado pelo Arsenal. A partir daí foi a queda total. Do banco londrino para o banco do Bernabéu, e deste para a lista de dispensas do Atlético de Madrid, sempre com salários elevadíssimos, e com fama (e possivelmente proveito) de levar uma vida recheada de descontracção, noite e prazeres vários.
Espero que Quique Flores consiga fazer com ele o que, por exemplo, Mourinho tem feito com alguns sobre os quais eu não apostaria um pau de fósforo queimado. O técnico espanhol deve conhecê-lo bem, e supõe-se que saiba como motivá-lo. Mas se no fim do ano nos lembrarmos, por exemplo, de um Laurent Robert – curiosamente de quem o “Special One” também dizia maravilhas -, não ficarei muito admirado.
Deixo aqui a aposta em como, com o decorrer da época, Di Maria o irá sentar no banco.
A PRÉ-ÉPOCA DO BENFICA – Embora os últimos dois jogos tenham deixado melhor impressão que as horripilantes exibições anteriores, não me parece haver motivo para as grandes euforias que já se vão vivendo, como de resto tem sido habitual, ano após ano, suceder na Luz.
É verdade que em apenas duas semanas Quique Flores conseguiu ultrapassar uma fase de total indefinição de plantel, e chegar a um onze-base mais ou menos estabilizado. E é também verdade que a qualidade do futebol apresentado a espaços diante de Feyenoord e Inter não se viu muitas vezes durante toda a época que passou.
Mas, deixando de lado os princípios de jogo que permanecem por adquirir, as rotinas que demorarão a estabelecer, e olhando exclusivamente às saídas e entradas do plantel benfiquista, se verificarmos que saíram “apenas” Petit, Rui Costa, Cristian Rodriguez, Nuno Assis, Freddy Adu e o mais que se verá (Nelson ?, Nuno Gomes ?, Di Maria ?, Makukula ?), e que os mesmos foram substituídos por apostas de risco elevado em jogadores à procura de afirmação (Sidnei e Urreta) ou reabilitação (Carlos Martins, Aimar ou Reyes), se nos lembrarmos que o Benfica ficou a mais de vinte (!!!) pontos do F.C.Porto no último campeonato, que o Sporting se reforçou bastante, e que tal panorama impunha ao Benfica um incremento real de qualidade, alma e identidade (não necessariamente de estrelas mediáticas), de modo a poder reaproximar distâncias, chegaremos à conclusão que o mundo benfiquista não está tão cor-de-rosa como certa imprensa já o pinta, e que talvez tivesse sido mais prudente - e seguramente menos oneroso - evitar esta profunda revolução, que leva implacavelmente os encarnados mais uma vez para a terceira posição na grelha de partida de favoritos para o campeonato que se aproxima.
É preciso ter a frieza suficiente para perceber que o plantel do Benfica não é superior ao da época passada, e está, grosso modo, à mesma distância qualitativa que estava do ainda bastante superior F.C.Porto (quer em individualidades, quer sobretudo em termos físico-atléticos e de organização táctica), tendo entretanto visto também o Sporting (carregado de talento e opções em quantidade e qualidade) afastar-se na hierarquia do futebol português corrente. Acredito que deste plantel, Quique possa fazer uma equipa melhor que a da última época – mal de nós que assim não seja. Mas não creio ser possível a este Benfica sonhar com o título nacional, pois a concorrência não pára, enquanto o clube da Luz, olhando ano sobre ano para o seu próprio umbigo, persiste em cometer constantemente os mesmos erros, deixando sair os seus melhores jogadores, contratando a eito, quase sempre sem critério e a ver o que dá, enterrando as aspirações em defesos erráticos, e depois, esperando que por milagre divino os títulos lhe voltem a sorrir, apontando por fim as baterias da desilusão e da resignação para a temporada seguinte.
Quer isto dizer que me sinta desmotivado enquanto sócio e adepto, ou que vá deixar de apoiar a equipa ? Nem pouco mais ou menos !
O Benfica precisa de apoio, os jogadores que lá estão, bem como os que chegaram, precisam de sentir a força da massa adepta do clube. Apesar do que disse acima, acredito na seriedade do trabalho de Rui Costa e Quique Flores. Penso contudo que seria prudente e sensato falar verdade aos sócios e expor os verdadeiros objectivos do Benfica para esta temporada. Julgo que, com esta equipa, apontar para mais do que um segundo lugar no campeonato, e a eventual conquista de um troféu (Taça de Portugal ou Taça da Liga), será sonhar demasiado alto, e correr o risco de proporcionar mais uma profunda decepção no povo encarnado, sobretudo entre aqueles que, ao contrário de mim, se deixam embarcar no ilusionismo mediático reiteradamente criado em redor do clube da águia.
SUPERTAÇA – A abrir a época oficial assistiu-se a um banho de futebol do Sporting ao F.C.Porto, consubstanciado numa vitória tão clara como justa, e numa superioridade tal que nem um penálti falhado foi capaz de disfarçar.
Confirmou-se a tendência de Paulo Bento para vencer o F.C.Porto, e confirmou-se também a fortíssima candidatura ao título de um leão cada vez mais compacto, mais afirmativo e mais empolgante. Nos últimos oito meses os leões derrotaram o F.C.Porto por três vezes (todas por 2-0), e o Benfica por duas (5-3 e 2-0). Mantiveram toda a estrutura da época anterior, reforçando-a vigorosamente. Que mais será necessário para lhe conceder algum favoritismo na luta pelo título ?
O F.C.Porto, por seu turno, denunciou fragilidades que podem comprometer a sua época – aqueles laterais…- e abrir espaço para a intromissão de um dos rivais no seu ciclo de hegemonia (Sporting ?). Os portistas não terão ainda resolvido devidamente as saídas de Bosingwa e Paulo Assunção, evidenciando problemas em impor o seu modelo de jogo, bastante ancorado naqueles dois jogadores . Isto para além do caso-Quaresma que pode também ter de algum modo viciado um edifício habitualmente inexpugnável.
Não estive no Estádio do Algarve, mas chegaram-me ecos dos problemas organizativos que se por lá se verificaram. Infelizmente, já é hábito que as provas organizadas pela FPF resultem no caos. É espantoso como – à semelhança dos jogos da selecção e da Taça de Portugal – os dirigentes federativos continuam a reservar um terço da lotação dos estádios para “convites”, muitas vezes um eufemismo utilizado para designar o pagamento de favores privados concedidos a dirigentes federativos e associativos nacionais e locais, e aos quais o futebol pouco ou nada deve de bom, e muito tem a haver de mau.
Já agora, também a presença de Pinto da Costa na tribuna oficial merece reflexão. Toda esta história do Apito Final tem sido aliás um verdadeiro compêndio acerca da impunidade que faz do nosso país aquilo que infelizmente ele é. Foi dado como provado que houve corrupção (ou tentativa, para mim é igual), e quais foram afinal as consequências objectivas para clube e dirigente envolvidos ?
JOGOS OLÍMPICOS – Sendo este um espaço dedicado ao futebol, e frequentado basicamente por adeptos de futebol, não o irei utilizar para falar de modalidades que por estes dias têm feito as delícias televisivas dos amantes do desporto em todo o mundo.
É precisamente do futebol olímpico que quero escrever, e para dizer que me parece fazer pouco sentido a sua existência.
Em cada uma das modalidades programadas figuram invariavelmente os melhores do mundo. Se no futebol também assim fosse, tudo estaria bem. Não o sendo, o que ganham as olimpíadas, e o que ganha o futebol, com esta situação nebulosa de jogadores sub-23, disputando um torneio cujo mediatismo é claramente abafado pelas proezas do atlestismo, da natação ou da ginástica, e para o qual os clubes tentam a todo o custo evitar enviar os seus principais jogadores ?
Seria boa ideia a FIFA e o COI reflectirem sobre isso. Porque não substituir o futebol pelo futsal e/ou pelo futebol de praia, onde, então sim, estivessem presentes os melhores do mundo de cada selecção, deixando o futebol dos relvados exclusivamente para as competições da FIFA ?
Fica a sugestão.
Entretanto Di Maria está na final com a sua Argentina, na qual tem sido titular ao lado de Messi, Riquelme e Aguero. É assim o segundo benfiquista medalhado nestes jogos, depois da prata de Vanessa Fernandes.
Venha o terceiro: Nelson Évora, já agora com o ouro…