Quem frequenta este espaço há mais tempo sabe que, para além de português,
sou adepto da Selecção Nacional, e que em alguns momentos cheguei a senti-la
quase como se do Benfica se tratasse.
Sobretudo no final da época clubística – como é o caso – consigo, e
consegui muitas vezes, engolir alguns sapos em nome do patriotismo. E desde
criança sofri com as derrotas (então bastante frequentes) e vibrei com as
vitórias, quer em fases de apuramento, quer, sobretudo, em fases finais. Além
das histórias que o meu Pai me contava de Eusébio, no Benfica, mas também no
Mundial 66, e com as quais despertou a minha paixão pelo futebol.
Um dos jogos da minha vida foi o Portugal-Inglaterra, do Euro 2004, a
que assisti na Luz, e durante o qual dei comigo a gritar por Ricardo, por Deco
ou por Postiga. Lembro-me igualmente da batalha de Nuremberga, dois anos
depois, e de roer as unhas em frente ao televisor durante nova série de
penáltis ante os ingleses. Muitos anos mais tarde fui para a rua festejar a
vitória no Europeu de França.
Isto tudo para dizer que a Equipa das Quinas está longe de me ser
indiferente.
Porém, há limites. Ver “macacos” na bancada financiados pela FPF para
viajar à conta e assistir aos jogos é um deles. A convocatória de Otávio ultrapassa-os.
Não vou alongar-me sobre a questão dos naturalizados, que dava pano
para mangas, e onde encontramos casos de verdadeiros refugiados que precisam do
nosso país (Pichardo ou, para falar de outros clubes, Obikwelu), dão-nos mais
do que recebem, e contam com o meu apoio incondicional (à semelhança de tantos
milhares de imigrantes anónimos que chegam cá para poder ter a vida digna que
pelos mais diversos motivos não encontram nos seus países de origem, e com os
quais estarei sempre solidário), e outros casos, como Deco ou este Otávio, profissionais
de futebol pagos a peso de ouro, em que, independentemente dos direitos de cidadania, a naturalização é meramente
instrumental com vista ao aumento da cotação dos respectivos passes no mercado
europeu. Deco, como é óbvio, depois de fazer carreira como jogador comunitário nas
ligas espanhola e inglesa, partiu para aquele que sempre foi o seu país: o
Brasil. Com Otávio acontecerá o mesmo.
Mas se Deco, enfim, além de ser um jogador diferenciado, teve também
um comportamento profissional genericamente dentro do aceitável, já Otávio,
sendo um jogador mediano, é um indivíduo ordinário, que grava vídeos a insultar
clubes rivais, e que dentro do campo passa o tempo a simular faltas, a provocar
adversários, não tendo um mínimo de estatura moral para representar o país. A
agravar, tem um processo disciplinar a decorrer contra si justamente por
questões de comportamento ético-desportivo, razão mais do que suficiente para
Fernando Santos evitar a sua convocatória, pelo menos neste momento.
O Engenheiro diz que para ele não há clubes na Selecção. Percebo-o, e
se estivesse no seu lugar diria, e faria, o mesmo. Mas aqui não é uma questão
de clubismo. Não é por Otávio ser jogador o FC Porto que se torna um problema
(colocado, de resto, pelos jornalistas, e não por acaso). Já houve muitos
jogadores do FC Porto na Selecção, e isso, obviamente, nunca pôs em causa o meu
apoio. É pelo seu perfil, pelo seu comportamento, pela sua manifesta falta de condições
éticas para representar um país que nem é, e nunca será, o dele.
Volto ao princípio: é precisamente por ser adepto da Selecção que isto
me dói mais. Mas com Otávio na equipa, não contem comigo.
Nem perderei tempo a ver o jogo de uma equipa que, com Otávio, deixa
de me representar.