A APOSTA NA FORMAÇÃO
O debate inunda os espaços de opinião ligados ao Benfica, e não só.
“Devíamos apostar mais na formação”, “Jesus não aposta na formação”, etc., são
frases que entraram no léxico futebolístico, e no universo benfiquista em
particular. Mas antes de concluirmos seja o que for a este respeito, importa
esclarecer do que falamos quando falamos de “formação”.
Será essa aposta a construção de infraestruturas de ponta, dotadas da
mais avançada tecnologia? Isso já o Benfica faz, desde que criou o Centro de
Estágio do Seixal. Será ela a composição de uma estrutura técnica competente,
capaz de juntar aos conhecimentos genéricos a mística benfiquista? Isso também tem
sido feito. Será a prospecção de talentos, o seu acolhimento, e o seu
desenvolvimento desportivo e humano? O nosso clube é quem mais alimenta as
selecções jovens. À pergunta se o Benfica aposta ou não na formação, a resposta
só pode, pois, ser claramente afirmativa.
Outra coisa é o reflexo dessa aposta na equipa principal. Mas isso
depende do talento individual, e não da escolha do treinador – que, obviamente,
quer vencer. Pretenderíamos ver já Bernardo Silva no lugar de Enzo? Quereríamos
Cavaleiro no lugar de Gaitán? Gostaríamos de ter Cancelo no lugar de Maxi? Pese
embora o valor dos jovens em causa, e a esperança que neles depositamos, não me
parece que fosse esse o caminho para os títulos que se exigem. E estes, caro
leitor, são o objectivo último (eu diria mesmo único) de um clube como o nosso.
Custará a admitir, mas a verdade é que há muitos anos não sai da nossa
formação alguém com capacidade para se fixar como titular indiscutível no onze
principal (um Chalana…um Rui Costa…). Há uma crise de talento no futebol
português em geral, fruto de circunstâncias várias, algumas delas extra
desportivas (vejam-se os efeitos na Selecção A). Assim sendo, não me parece prudente
impor jovens, apenas porque são jovens. Há, do outro lado da rua, quem tenha
feito algo como isso. Mas nós não queremos lutar pelo terceiro lugar, pois não?