A APOSTA NA FORMAÇÃO


O debate inunda os espaços de opinião ligados ao Benfica, e não só. “Devíamos apostar mais na formação”, “Jesus não aposta na formação”, etc., são frases que entraram no léxico futebolístico, e no universo benfiquista em particular. Mas antes de concluirmos seja o que for a este respeito, importa esclarecer do que falamos quando falamos de “formação”.

Será essa aposta a construção de infraestruturas de ponta, dotadas da mais avançada tecnologia? Isso já o Benfica faz, desde que criou o Centro de Estágio do Seixal. Será ela a composição de uma estrutura técnica competente, capaz de juntar aos conhecimentos genéricos a mística benfiquista? Isso também tem sido feito. Será a prospecção de talentos, o seu acolhimento, e o seu desenvolvimento desportivo e humano? O nosso clube é quem mais alimenta as selecções jovens. À pergunta se o Benfica aposta ou não na formação, a resposta só pode, pois, ser claramente afirmativa.

Outra coisa é o reflexo dessa aposta na equipa principal. Mas isso depende do talento individual, e não da escolha do treinador – que, obviamente, quer vencer. Pretenderíamos ver já Bernardo Silva no lugar de Enzo? Quereríamos Cavaleiro no lugar de Gaitán? Gostaríamos de ter Cancelo no lugar de Maxi? Pese embora o valor dos jovens em causa, e a esperança que neles depositamos, não me parece que fosse esse o caminho para os títulos que se exigem. E estes, caro leitor, são o objectivo último (eu diria mesmo único) de um clube como o nosso.

Custará a admitir, mas a verdade é que há muitos anos não sai da nossa formação alguém com capacidade para se fixar como titular indiscutível no onze principal (um Chalana…um Rui Costa…). Há uma crise de talento no futebol português em geral, fruto de circunstâncias várias, algumas delas extra desportivas (vejam-se os efeitos na Selecção A). Assim sendo, não me parece prudente impor jovens, apenas porque são jovens. Há, do outro lado da rua, quem tenha feito algo como isso. Mas nós não queremos lutar pelo terceiro lugar, pois não?

 

PLANTEL GLORIOSO


Em boa hora, o meu caro João Tomaz e o Fernando Arrobas levaram a cabo a iniciativa de promover a escolha dos melhores jogadores da história do Benfica.
O resultado é um livro – que aconselho vivamente -, onde 100 pessoas, de alguma forma ligadas ao benfiquismo, elegem 26 jogadores e 3 treinadores da sua preferência.
Tive a honra de ser um dos votantes, e devo dizer que as minhas opções pouco diferiram do plantel vencedor. Como se calcula, o exercício não foi fácil, pois, para nossa felicidade, da história centenária do Benfica constam muito mais do que 26 nomes merecedores de uma distinção como esta. Dos que escolhi, apenas Pietra, Vítor Paneira, Simão Sabrosa e Di Maria, não figuram na lista final. De entre estes, confesso que foi a ausência do extremo argentino a que maior estranheza me causou, por estar convencido de se tratar de um dos melhores - senão o melhor… - estrangeiros de sempre a vestir o Manto Sagrado. Democracia é democracia, e os escolhidos são também, todos eles, craques de primeiríssimo plano. Todos nos orgulham, e alimentam a nossa memória colectiva. E nem me atrevo a dizer, neste momento, quem deixaria de fora para colocar Di Maria, ou qualquer outra das minhas preferências pessoais.
Quanto a treinadores, tive menos dúvidas. Optei por Béla Guttman, pelo impressionante palmarés, por Eriksson, por ter revolucionado o futebol do Benfica na minha adolescência (nunca esquecerei a equipa de 82-83…), e por Jorge Jesus, por tê-lo feito nos anos mais recentes. Foi, de resto, este trio que venceu a votação, se bem que Otto Gloria, Jimmy Hagan e Toni também merecessem uma menção honrosa. Nem percebo a relativa polémica que a escolha de Jesus causou nalguns meios (mais externos do que internos): quem fere uma hegemonia de décadas do FC Porto, quem alcança todos os títulos nacionais numa temporada, quem chega a duas finais europeias consecutivas e coloca o clube no top 5 do ranking europeu, tudo com um futebol bonito e empolgante, entra claramente para a eternidade.

MAIORIDADE


Puxemos o filme atrás, até à pré-época, até às 6 derrotas nos 7 jogos de preparação que antecederam a Supertaça, e ao cepticismo com que muitos olhavam para a debandada de jogadores como Oblak, Garay, Siqueira, Markovic, André Gomes, Rodrigo ou Cardozo. Recordemos o que então se disse.

Depois de anos sucessivos em que um forte investimento na equipa escancarava as portas à esperança, o último Verão parecia deixar-nos uma amarga sensação de fim de festa: por motivos vários, o Benfica deixaria inevitavelmente a dianteira do panorama futebolístico nacional, devolvendo-a ao todo poderoso, e reinventado, FC Porto.

Confrontemos com a realidade actual. 11 vitórias em 13 jogos do Campeonato, 6 pontos de vantagem para o 2º classificado, e vitória categórica no reduto do principal adversário. Nem os mais optimistas julgariam possível tão eloquente desempenho. Mas ele aí está, e tem um nome: Jorge Jesus.

Se em épocas anteriores alguns argumentavam que o técnico do Benfica usufruíra de plantéis luxuosos, com os quais qualquer um seria capaz de brilhar (afirmação que, diga-se, está longe de corresponder à realidade do futebol moderno), nestes meses, com uma equipa desfalcada – além dos que saíram, também as lesões de Sílvio, Eliseu, Ruben Amorim, Fejsa, Jara e Sulejmani reduziram o lote de opções -, o que Jesus conseguiu é digno dos mais vivos encómios. E a vitória no Dragão (a sua 8ª sobre o FC Porto), alicerçada numa estratégia de jogo imaculada, apenas confirmou aquilo que se vai tornando evidente desde 2009: temos, neste momento, um dos melhores treinadores da história do Benfica.

O triunfo de domingo significou, também, o atingir de uma certa maioridade desta equipa, na qual poucos confiavam no início da temporada. Aqueles jogadores mostraram estofo, e garantiram-nos que podemos contar com eles.

Com um calendário desanuviado, com uma vantagem pontual confortável, a aposta no Bi-Campeonato terá, agora, de ser um desígnio de todos. Chegados aqui, não podemos deixar escapar este título. 

TRANSPARÊNCIA...OU BOAS-FÉS?


Defendo, há muito, a impossibilidade de clubes do mesmo escalão partilharem direitos sobre um mesmo jogador – seja a título de empréstimo, seja mediante qualquer outro enquadramento contratual.

Todavia, a regulamentação em vigor (ainda) não aponta nesse sentido, privilegiando os interesses dos atletas, e acreditando que a boa-fé proteja, por ela própria, o interesse do adepto pagante e a verdade desportiva.

Neste contexto, parece-me mais razoável que um ou outro jogador, num ou noutro jogo, se vejam impedidos de defrontar clubes com os quais têm ligação, do que fazê-lo, e, então sim, abrir espaço a todas as suspeitas – sobretudo se o seu desempenho não for o mais feliz.

Vivemos no país do Apito Dourado. Vivemos num país em que uma partida decisiva para a atribuição do título teve frente a frente aqueles que viriam a sagrar-se campeões, e o seu futuro treinador e alguns dos seus futuros jogadores. Vivemos num país em que certas exibições, de certos defesas ou guarda-redes, deixaram no ar um certo sentimento de estranheza, sempre que enfrentavam clubes com os quais se viriam a vincular pouco depois. Ainda me recordo, também, do caso Cadorin, e, mais remotamente, de um auto-golo de Manaca. Tudo isso deixou-me um irreversível sentimento de desconfiança no futebol português, e na grande maioria dos seus agentes. Por isso, quando se trata de futebol português, a boa-fé é uma treta.

O Benfica-Belenenses foi um jogo transparente. Não que, com a presença de M.Rosa e Deyverson, deixasse de o ser. Mas, nestas coisas, além de ser, é importante parecer. Quer se trate de um Benfica-Belenenses, de um P.Ferreira-FC Porto, de um Leixões-FC Porto, ou de um V.Guimarães-Sporting.

PS: No domingo a liderança estará em jogo. Não sendo uma partida decisiva trata-se, porém, de um momento importante para o futuro do campeonato. Espero que tudo decorra dentro da normalidade, e que não haja qualquer interferência externa ao normal desempenho dos jogadores. Assim, o Benfica ficará mais perto da vitória.

TUDO PELO TÍTULO!


Se, no início da temporada, o Campeonato já era apontado como o principal objectivo do nosso futebol, depois da eliminação europeia não resta nenhuma dúvida acerca de onde concentrar energias.

Não é a primeira vez que o Benfica sai cedo da cena internacional. Recordo que nem mesmo Eusébio e seus pares evitaram algumas eliminações prematuras, como por exemplo em 1964 ou em 1967 – anos em que os encarnados não resistiram à segunda eliminatória. Mais tarde, muitos se recordarão de um Aris de Salónica, de um FC Liegeois ou, pior ainda, de um Celta de Vigo. Nem só de glórias se escreve a história de qualquer grande clube.

A novidade é que, com duas finais, uma meia-final e dois quartos-de-final em cinco anos (que valeram o brilhante 5º lugar no ranking da UEFA), ficámos mal habituados. E esta época, tudo correu mal. Desde o sorteio, ao fatídico primeiro jogo em casa, seguido de uma arbitragem hostil na Alemanha, de pecados de concretização no Mónaco e na Rússia, e de resultados inesperados noutros jogos do nosso grupo – que levaram a que eventuais 7 pontos não cheguem, sequer, para sonhar com um 3º lugar.

O que lá vai, lá vai. Agora importa concentrar todas as forças naquilo que há para conquistar, e que é…quase tudo. Quem comanda isolado o Campeonato com 9 vitórias em 11 jogos, quem mantém as aspirações na Taça de Portugal e na Taça da Liga, e já guarda a Supertaça na bagagem, só pode estar confiante numa temporada triunfante.

O grito “nós só queremos Benfica campeão!” nunca fez mais sentido. É, de facto, esse o nosso desígnio. Há que fazer de cada jornada uma final, e disputar cada lance como se fosse o último. Com o regresso dos lesionados (Sílvio, Eliseu, Fejsa e Ruben Amorim), o lote de opções aumentará. E sem o desgaste europeu, a capacidade física da equipa poderá manter-se a top.

Não nos falta nada. Temos jogadores, treinador, estrutura envolvente, motivação, um mar vermelho de milhões a apoiar. E agora também um calendário desanuviado.

Em Maio, estaremos no Marquês.

24 x BENFICA


Já o fim-de-semana anterior havia sido gordo: mesmo sem futebol, as várias modalidades, de pavilhão e não só, nos sectores masculino e feminino, haviam contado por vitórias os jogos disputados. Depois, a meio da semana, o basquetebol deu-nos mais uma alegria, ao vencer brilhantemente na Finlândia, fazendo renascer a esperança de apuramento na Eurochallenge.

A série de vitórias continuou imparável no sábado e no domingo. Triunfos no futebol, no futebol de formação (Juniores, Juvenis e Iniciados), no hóquei em patins masculino (em França) e feminino, no basquetebol masculino e feminino, no futsal masculino e feminino, no andebol (dupla jornada europeia, com apuramento para a fase seguinte da Challenge Cup), e no voleibol (dupla jornada nacional, com vitórias amplas). Se considerarmos todos estes registos, o balanço daqueles nove dias poderá traduzir-se em algo como 24 jogos e 24 vitórias. Ou seja, uma semana em cheio. Uma semana à Benfica!

Destaque naturalmente para os sucessos europeus em três frentes (hóquei, basquete e andebol), esperando que a elas se possa juntar um bom resultado do futebol na bela cidade de São Petersburgo. O voleibol entrará em cena na próxima semana, completando a mão cheia de presenças internacionais de alto nível.

As classificações reflectem, naturalmente, esta onda triunfante . Lideramos em futebol, hóquei em patins (masculino e feminino) e futsal (masculino e feminino). Estamos bem perto (é uma questão de tempo, direi eu) no basquetebol e no voleibol. Caso tenhamos ganho ao Madeira, ascendemos ao segundo posto também no andebol.

Mais uma vez as nossas modalidades colocam-se em posição de escrever história. Mais adiante se verá, mas o caminho é este.

Já amanhã temos novos desafios. As nossas equipas sabem bem que camisola vestem. Há que manter as lideranças que conseguimos, e tomar de assalto as que ainda nos escapam. Com vigor, com alma e com paixão. Com milhões a apoiar. Para ganhar tudo!

Somos do Benfica, e isso nos envaidece.