ALTA VOLTAGEM

Um contratempo de última hora impediu-me de estar na Luz pela primeira vez nesta temporada. Vi o jogo pela televisão, e só posso dizer que a qualidade do espectáculo e da exibição benfiquista me fez lamentar profundamente a ausência forçada.
Com Pablo Aimar e Carlos Martins em grande plano, o Benfica entrou forte e pressionante como a ocasião impunha. Rapidamente assumiu o domínio da partida, marcou um golo, e só a noite desinspirada de Óscar Cardozo evitou que a vitória ficasse assegurada ainda na primeira parte. Nem mesmo o golo de Nuno Assis arrefeceu o entusiasmo encarnado, e a torrente de futebol rápido e ofensivo não chegou a ser interrompida. Ao intervalo a igualdade era profundamente injusta para a equipa da casa.
Temia-se que não fosse possível manter a intensidade de jogo no segundo período, mas a verdade é que os dois excelentes golos de Carlos Martins acabaram por forçar o Vitória de Guimarães a abrir espaços, e catapultaram o Benfica para excelentes momentos de futebol. Se na primeira parte o Benfica tinha sido forte e afirmativo, na segunda chegou, a espaços, a ser brilhante, e podia perfeitamente ter construído mais uma goleada, algo que só alguma falta de sorte impediu de se verificar. Mesmo após a expulsão de Martins, foram os encarnados a criar as melhores ocasiões de golo, primeiro a remate de Cardozo completamente isolado, depois por Eder Luís, sempre com Nilsson a responder à altura.
Num momento marcante do campeonato, a equipa de Jesus respondeu presente, realizando, quanto a mim (se exceptuarmos uma ou outra desconcentração defensiva após o 3-1), uma das mais conseguidas exibições dos últimos meses. Diga-se que também o Vitória valorizou o espectáculo (em larga medida por via da grande prestação de Nuno Assis), ficando a dúvida sobre o que poderia ter acontecido se não se tivesse visto em desvantagem logo na fase inicial de cada uma das partes do jogo.
Elmano Santos, sem interferir no resultado, mostrou com uma irritante dualidade de critérios na marcação de faltas, que subtraiu pelo menos uns três lances de ataque ao Benfica. É verdade que Javi Garcia deveria ter visto cartão vermelho, mas também Valdomiro podia ter ido para o banho mais cedo.

SERIE X

A nomeação de Carlos Xistra para a Choupana fazia antever o pior. Não houve surpresas. Um penálti claro por assinalar a favor do Nacional, um outro, inexistente, favorecendo o FC Porto, de onde resultou a expulsão de um defesa insular, e eis como o FC Porto, carregado num andor, se mantém na corrida ao título.
Este era um jogo chave para os portistas. Xistra encarregou-se de o resolver.

QUATRO NOTAS DE FELICITAÇÃO

Felicitações: para o Futsal português, que mesmo sem acompanhamento televisivo do canal estatal (será por o Benfica ser o campeão nacional da modalidade?), atingiu a final do Europeu pela primeira vez na história; e, por via do mesmo Benfica, conseguiu trazer a final four da Uefa Futsal Cup para Lisboa.
Felicitações: para Shaffer, Balboa, Jorge Ribeiro, Nelson Oliveira, Fellipe Bastos, Urreta e Freddy Adu, jogadores que o Benfica emprestou nesta abertura de mercado a outros clubes.
Felicitações: para o jornal “A Bola”, que faz hoje 65 anos, e, mau grado um ou outro aspecto particular, continua sendo, de longe, o melhor diário desportivo português.
Felicitações: para Gana e Egipto, que vão disputar a final da CAN; e já agora também para Angola pela organização da prova.

JÁ NÃO ERA SEM TEMPO

Finalmente o Ministério Público pôs-se em campo para investigar aquilo que há muito se comenta nos bastidores, não só a propósito do Leixões, mas de quase metade das equipas da Liga.
Tenho algumas dúvidas que tudo isto parta de Braga, embora acredite na participação do clube minhoto. De resto, esta notícia em nada me surpreende.
Num país como o nosso não é provável que se chegue a condenação alguma, mas pelo menos fica um sinal de alerta e de atenção. É também de saudar a dignidade dos jogadores do Leixões em causa, provando que ainda há quem resista ao caminho da degradação para o qual o futebol português tem sido remetido.
Espero agora que a investigação vá mais longe, e incida sobre as facilidades que o FC Porto tem encontrado em alguns estádios nos últimos anos.
Depois da arbitragem e do Apito Dourado, vem agora a público o aliciamento de terceiros. Talvez em breve ainda cheguemos ao doping.

UM JOGO DE FUTEBOL, OU UMA PEÇA DE TEATRO ?

Com Felipe Lopes a fazer penáltis no último minuto, com Edgar Costa a fazer fretes aos amigos e a fazer-se a uma futura contratação, com notícias repetidas de malas cheias de dinheiro a condicionar resultados, quem pode garantir que a verdade desportiva esteja assegurada este sábado na Choupana ?

UM CRETINO É UM CRETINO

Ruben Micael tem talento nos pés, mas isso não é tudo. As suas declarações mais recentes explicam porque motivo o Benfica não se interessou (ou deixou de interessar) pela sua qualidade futebolística.
A vocação para fantoche nasceu com ele, e quando assim acontece pouco ou nada há a fazer. Ser voz do dono não fica bem a ninguém, mas há cães cujo ladrar já esperamos ao virar da esquina.
Enfim, eis um homem “à Porto”, que está onde deve estar.
Veja-se o que escrevi a propósito dele em Abril do ano passado, quando alguns noticiavam a sua iminente contratação pelo Benfica:
Apesar de todas as notícias veiculadas nas últimas semanas, não acredito ainda muito na hipótese do médio madeirense vir a vestir a camisola do Benfica na próxima época. E confesso que nem me admiraria nada que o viéssemos a ver de azul-e-branco. Não me perguntem porquê, é apenas um palpite.
A primeira vez que reparei nele foi no Benfica-Nacional (Dez 2008), e não foi pelos melhores motivos – ao ser substituído demorou bastante tempo a sair do terreno, e aos assobios dos adeptos respondeu com palmas algo provocadoras

LF, Abril de 2009

UMA HIPÓTESE

Com 9 jogos em 36 dias, não há como evitar proceder a alguma rotatividade no plantel benfiquista. Fica aqui uma hipótese, tendo como pano de fundo a óbvia escala de prioridades: 1º Campeonato, 2º Liga Europa, 3º Taça da Liga.

A SORTE DITOU:

ACTUALIDADES

1) Como qualquer criança sabe, a melhor forma de mentir é dizer quase toda a verdade, omitindo cirurgicamente um ou outro ponto, que tudo altera, que tudo subverte. É isso que Miguel Sousa Tavares faz sempre que fala do Apito Dourado.
Não só os jogos do FC Porto investigados não eram a feijões, como ele afirmou múltiplas vezes e José Diogo Quintela desmascarou muito bem (eu, à minha curta medida, também já aqui o tinha feito), como a conversa escutada entre Luís Filipe Vieira e Valentim Loureiro não partiu de chamada do presidente do Benfica (coisa que ele agora escreve com todas as letras), mas sim do ex-presidente da Liga, o que faz naturalmente toda a diferença.
Esqueceu-se ainda que o presidente do Belenenses confirmou ter sido também consultado sobre a escolha do árbitro para o jogo em causa, e que essa (bem ou mal) era prática comum na Taça de Portugal (havendo também uma escuta relativa a uma final entre FC Porto e U.Leiria nos mesmos termos, que ninguém utilizou), como era o caso. Aliás, desconfio que MST (um verdadeiro especialista da superficialidade) nem saiba qual foi o jogo. É o que dá escrever e falar torrencialmente sobre assuntos de que pouco ou nada se percebe.

2) Durante semanas a fio, o programa “O Dia Seguinte” entreteve-se a analisar todos os encostos, sopros e picadelas de mosquito envolvendo jogos do Benfica, procurando – sem grande sucesso, diga-se – encontrar matéria para sustentar a teoria segundo a qual os encarnados estariam a ser protegidos pela arbitragem, para gáudio do insuportável Guilherme Aguiar (o mais sectário, venenoso e mistificador de todos os membros de todos os painéis televisivos).
Após um fim-de-semana em que uma arbitragem cobarde e sem personalidade quase afastou o clube da Luz da Taça da Liga, eis que o mesmo programa passou quase duas horas sem falar de arbitragem, para só no final, envergonhadamente, passar os lances a correr, já depois do moderador (um portista encapotado, que um ou outro texto denuncia) afirmar, sem se rir, que esta tinha sido uma jornada sem casos.
Eis um belo exemplo do tipo de informação desportiva que temos nas televisões. Eis a prova de que, tal como muitas vezes tenho defendido, o peso do Benfica na comunicação social é (“A Bola” à parte) desproporcionadamente inferior ao seu peso social.

3) Não tenho paciência para falar de túneis, e embora não esqueça o guarda Abel, não me recordo de ter trazido o tema para aqui. Devo contudo observar o seguinte:
- As imagens do túnel de Braga não mostram um único jogador do Benfica envolvido em agressões, sendo que Cardozo foi punido, e o Benfica acabou por ser eliminado da Taça de Portugal num jogo em que o paraguaio fez muita falta. Aliás, as imagens mostram é vários jogadores do Sp.Braga (Ney, Mossoró, Eduardo, Alan) a agredirem elementos do Benfica (entre eles Cardozo), antes ainda de entrarem no túnel, sem que tenha havido qualquer consequência.
- No jogo Benfica-Nacional não se passou nada. Ninguém se queixou a não ser Ruben Micael (e sem concretizar nada), com a credibilidade de ser já, nessa altura, um jogador apalavrado com o FC Porto.
- Quanto ao clássico, parece óbvio (pelas reacções de todos os intervenientes) que Hulk e Sapunaru, provocados ou não, agrediram membros do staff da Luz. A pena preventiva é absurda, mas segundo se sabe foi o FC Porto a propor esta regulamentação.
- Entretanto apareceram umas imagens de 2008, onde se vê, entre outras coisas, um funcionário do Porto a ser empurrado, e depois Helton, Raul Meireles e outros jogadores do Porto a saírem do balneário para tentar agredir alguém.
- As mesmas imagens mostram funcionários do Benfica a alinhar as câmaras de vigilância, procedimento absolutamente normal, e aconselhável em vésperas de jogo importante. A selecção destas imagens prova bem a intenção de quem as apresentou, que era a de concluir tratar-se de uma espécie de emboscada, como se fosse possível alinhar previamente as câmaras para o local onde Hulk e Sapunaru iriam perder a cabeça.
- Em conclusão, será importante que os jogadores do Benfica estejam preparados para as provocações de que vão ser alvo nos próximos jogos fora de casa, e saibam ter a frieza de lhes resistir. Temo que a Liga vá querer arranjar pretextos para compensar os castigos aos jogadores portistas, pelo que qualquer descuido será fatal.

SABOR A POUCO

Afastada da Taça de Portugal prematuramente, a equipa de Jorge Jesus passou desde então a olhar para a Taça da Liga com outros cuidados, apostando seriamente na sua conquista. Com o jogo decisivo a disputar-se num domingo de pausa no campeonato, era de esperar que o Benfica vestisse o seu fato de gala para garantir o apuramento, num terreno tradicionalmente difícil e perante um adversário complicado. Assim foi, e com excepção de Ramires (já precisava de descanso), todas as principais estrelas entraram de início no relvado dos Arcos.
A vitória tangencial acaba por deixar um ligeiro travo a frustração, pois com mais um golito, uma das meias-finais seria provavelmente disputada na Luz. Se o bom é inimigo do óptimo, também é verdade que o óptimo não se concretizou apenas porque Cosme Machado não o permitiu. O árbitro bracarense mostrou cobardia, deixando-se influenciar pela sórdida campanha em redor das arbitragens dos jogos do Benfica, escrevendo a sua assinatura no resultado final ao subtrair um penálti claro a favor dos encarnados, assinalando um outro, inexistente, em benefício do Rio Ave. Um eventual resultado de 0-3, que garantia ao Benfica todos os seus objectivos, ficou assim limitado a um simples 1-2, que lhe dificultou o apuramento, e pode obriga-lo a ter de vencer em Alvalade ou no Dragão para chegar à final da prova.
Além das causas e consequências de tão magra vitória, diga-se que a exibição do Benfica justificava muito mais. Sobretudo ao longo da segunda parte, o Benfica chegou a ser brilhante, bem ao nível de algumas das suas melhores actuações nesta temporada, e até superior à que havia efectuado naquele mesmo estádio para o campeonato. Com Di Maria, Cardozo e Carlos Martins em excelente plano, o futebol encarnado asfixiou por completo o Rio Ave, não lhe permitindo mais do que um ou outro fogacho ofensivo, e causando, por outro lado, desequilíbrios sucessivos na sua zona defensiva, que só por infelicidade não resultaram em mais golos. A mais clara oportunidade de entre as desperdiçadas pelos homens de Jesus foi o duplo remate ao poste do estreante Alan Kardec, já dentro dos últimos dez minutos da partida. O jovem brasileiro deixou um ou outro bom pormenor, acabando por ser infeliz num lance que poderia ter constituído um importante bálsamo para a sua mais rápida integração.
E assim chega o Benfica às meias-finais, onde provavelmente o espera um jogo de grande intensidade e dramatismo, em ambiente hostil, cuja abordagem terá de ser feita com todos os cuidados. Creio que os jogadores que entrarem em campo devem fazê-lo com total ambição e disponibilidade. Por isso mesmo, talvez seja aconselhável resguardar os Aimares, os Saviolas, os Cardozos e os Di Marias, lançando mão dos Carlos Martins, Rubens Amorins, Nunos Gomes e Fábios Coentrões, que podem muito bem formar um onze forte e capaz de discutir a eliminatória.
Do árbitro já ficou tudo dito, mas se lhe chamar cobarde novamente também não se perde nada.

HISTÓRIA ANTIGA

Faça-se um pequeno exercício: compare-se as escutas, e tudo o que se sabe sobre elas, com o livro escrito por Marinho Neves em meados dos anos noventa, e que aqui se volta a publicar.
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6

PRENDA-SE O MENSAGEIRO

Não deixa de ser curioso (e lamentável) o rodopio de almas indignadas com a publicação das escutas, como se esse “crime” fosse mais importante do que aqueles que elas comprovam e que justificam a sua própria existência.
Ocultar, esconder, garantir, evitar, adiar, suspender, retirar, diluir, recorrer, anular. São estes os verbos mais conjugados pela putrefacta ordem jurídica e penal portuguesa, e seus excelsos defensores. São estas as palavras mágicas que salvam criminosos e corruptos, e enchem de dinheiro advogados expeditos.
Que interessa o conteúdo das escutas? Que interessa o que elas evidenciam ao país? A esta gente só parece preocupar como foi possível que nós, pobres cidadãos, tomássemos conhecimento delas.
É esta estranha filosofia feita à medida, que confunde a lateralidade das formas com a centralidade dos conteúdos, que permite a Fátima Felgueiras, Isaltino Morais, Valentim Loureiro, Pinto da Costa, Dias Loureiro e Armando Vara andarem por aí, a rir-se de todos nós.

AINDA O FOLHETIM DE ALVALADE

Mais do que uma tentativa de imitar o Benfica (com Rui Costa), a escolha de Sá Pinto para director desportivo do Sporting foi a forma encontrada por José Eduardo Bettencourt para pacificar os adeptos, leia-se claques, leia-se Juventude Leonina.

Desde há muito que aquele grupo organizado tem excessivo peso no Sporting, e condiciona as suas opções ao mais alto nível. Recordemos, por exemplo, que a Juve Leo foi responsável pela não contratação de José Mourinho em 2001, quando o técnico tinha tudo acordado com Luís Duque para se transferir para Alvalade. Com assento em órgãos sociais e institucionais como o Conselho Leonino, com a confiança dada por dirigentes que frequentam as suas festas, a claque foi ganhando crescente protagonismo no dia a dia do Sporting, o que tem sido mais útil para a satisfação das ambições de poder dos seus lideres do que para qualquer outra coisa.
Sá Pinto sempre foi um jogador particularmente querido da claque, havendo rumores de que pagava generosamente aos seus líderes para o apoiarem (lembram-se das tarjas a exigir o seu regresso de Espanha?). Em larga medida terá sido esse apoio que transformou um jogador banal, um portista de pequenino, num ídolo do Sporting. Escolhendo-o para director desportivo, Bettencourt sabia que estaria a calar uma franja importante dos adeptos, comprando assim a tranquilidade que de alguma forma se foi vendo em Alvalade desde o dia da saída de Paulo Bento (homem que nunca terá dado à Juve Leo a atenção de que ela se achava credora). Esqueceu-se do mais importante: o balneário.
Está agora à vista de todos que a revolução de Novembro último não colheu simpatias entre os jogadores. Liedson é o caso mais visível, mas também Anderson Polga se envolveu com Sá Pinto, sem falar nos jogadores da formação, todos muito ligados a Paulo Bento (basta lembrar as declarações de João Moutinho, as lágrimas de Carriço, e agora o caso Rui Patrício, que certamente ficou mais amigo do luso-brasileiro do que do ex-director após a conturbada noite de quarta feira).
Ao promover uma mudança que agradava a um sector específico das bancadas, minoritário mas barulhento, subavaliando o equilíbrio de forças dentro da própria equipa, o presidente do Sporting privilegiou as aparências em detrimento duma realidade interna que mostrou desconhecer. Com a escolha de Sá Pinto, cometeu mais um erro, dos muitos que têm marcado este seu curto e instável mandato, sendo ele, indiscutivelmente, o responsável último e primeiro de tudo o que agora se passou.
Não tenho nada contra Bettencourt. A forma imbecil como Pinto da Costa fala dele nas escutas, e o facto de ser amigo pessoal de Luís Filipe Vieira, seriam até bons pontos de partida para as batalhas que o futebol português ainda tem de travar, designadamente em nome da transparência e do fim da velha teia de promiscuidade tecida a norte. O presidente do Sporting parece ser um homem sério e bem intencionado, e por isso lamento que demonstre tanta e tão reiterada falta de competência para as funções que desempenha.
Mas desde episódio fica também mais um claro exemplo dos perigos que uma deficiente abordagem às claques representa para os grandes clubes. Já tinha acontecido no FC Porto, acontece demasiadas vezes no Sporting, mas, felizmente, o Benfica tem permanecido imune.
Gosto das claques, aprecio muito as suas cores e os seus sons, e confesso que sem elas talvez me desse menos prazer ir ao futebol. Mas a última coisa que desejo é ver um dia uma qualquer claque influenciar decisões tomadas no meu clube, e por isso aprecio bastante a forma como, na Luz, elas têm sido postas no seu devido lugar – mesmo sabendo que, por esse motivo, os poucos resquícios de oposição interna, se é que se pode assim chamar-lhe, residem justamente no meio dos No Name Boys.

PARE, ESCUTE E OLHE

Pode ouvir aqui algumas das escutas ao sujeito que na foto está acompanhado pelo homicida Bruno Pidá (de gorro, atrás do agente da autoridade), no dia em que foi detido para interrogatório, já depois da fuga para a Galiza, e de ter destruído toda a documentação incriminatória.
Tudo bons rapazes...

EU AVISEI

"Sá Pinto nunca primou pela serenidade que se exige a um cargo da natureza do que vai ocupar (…) Este é o homem que agrediu selvaticamente um seleccionador nacional. Este é o homem que terminou a carreira de jogador com duas expulsões consecutivas. Este é o homem que se incompatibilizou com vários treinadores. Este é o homem que fazia birras para ser ele a marcar os penáltis. Este é o homem que tinha fama de pagar às claques para o apoiarem (…) É uma solução estranha, que creio não vir acrescentar nada ao Sporting"
LF em 13/11/2009

O que francamente lamento é que o Sporting volte à sua proverbial instabilidade logo em vésperas da deslocação a Braga.

DUAS INTERROGAÇÕES

1) O que espera o Benfica para renovar o contrato com Quim?
Trata-se, quanto a mim, do melhor guarda-redes português. É experiente e conhece a casa. É claramente guarda-redes para equipa campeã.
Só eventuais questões extra-desportivas (de que não tenho conhecimento) podem explicar a demora. Espero que esta situação não o perturbe.


2) O que espera o Benfica para contratar o defesa-esquerdo de qualidade?
César Peixoto é um médio adaptado, Fábio Coentrão um extremo adaptado, David Luíz um central adaptado. Os remendos podem servir pontualmente, mas dificilmente asseguram toda uma época.
Shaffer tem dificuldades de integração, e os poucos jogos que realizou mostraram um jogador demasiado verde quanto a aspecto basilares da função defensiva.
Alguns dos pontos que o Benfica perdeu tiveram origem em deficiências neste lugar (Braga foi exemplo claro), e todos os adversários tentam explorar este corredor. Será assim até final da época? Com que consequências?

O VALOR DA PALAVRA

A PALAVRA DE PINTO DA COSTA: "Se o treinador entende que não necessita de jogadores, vou contratar jogadores para quem, para mim?", "Ele está contente com o plantel e eu também, para quê contratar jogadores? Aqui não há petróleo"

A VERDADE: Ruben Micael estava assegurado desde Junho, tendo chegado a passar uma semana no Porto por essa altura.

Fica mais uma vez exposta a arte da mentira, na qual Pinto da Costa se destaca. Fica também explicado o "caso" do túnel no Benfica-Nacional, de que só este jogador falou.

CLASSIFICAÇÃO REAL

Como tem sido norma nos últimos tempos, nesta jornada não irá faltar matéria para discussão. Se em Alvalade não houve casos, nos jogos dos três primeiros classificados verificaram-se erros, alguns deles graves.

FC PORTO-P.FERREIRA
O técnico portista queixou-se de um golo mal anulado, mas a verdade é que o maior beneficiado da arbitragem de Rui Costa (olha quem) foi o FC Porto, senão vejamos: Belluschi deveria ter sido expulso, e a Bruno Alves também não ficaria mal um cartãozinho vermelho; a expulsão do jogador pacense perto do final foi injusta e o perigoso livre mal assinalado; o golo de Falcão foi obtido com a mão, por muito que a Sport Tv o possa ter tentado esconder.
É verdade que o golo anulado ao FC Porto foi um erro, sendo aí a responsabilidade do assistente. Todas as outras decisões erradas favoreceram os dragões, pelo que as palavras de Jesualdo Ferreira são tão absurdas como as do seu chefe há uns dias atrás.
Resultado Real: 1-1

SPORTING-NACIONAL
Não vi o jogo todo, mas não tenho conhecimento de qualquer caso de arbitragem.
Resultado Real: 3-2

ACADÉMICA-SP.BRAGA
Lucílio Baptista voltou a errar, e em dose dupla. Não marcou um penálti existente a favor do Sp.Braga, e depois compensou essa decisão com a marcação de um outro que não existiu. Dois erros, que mancham claramente o seu trabalho em Coimbra.
No lance do segundo golo esteve bem.
Resultado Real: 0-2

MARÍTIMO-BENFICA
Conforme já tinha escrito, creio que houve dois penáltis por assinalar na partida dos Barreiros. Um por mão de Maxi Pereira, outro por falta sobre Aimar, porventura também em forma de compensação.
Terá também ficado por expulsar João Guilherme, que pontapeou Eder Luís, impedindo com isso um ataque perigoso ao Benfica. O facto do Marítimo já se encontrar nessa altura reduzido a nove, pesou seguramente na decisão de João Ferreira.
Quanto às outras expulsões não há muito que dizer. Uma é clara (a do penálti), na outra só o árbitro e o próprio Olberdam saberão em rigor o que se passou. Recordo que o mesmo João Ferreira já tinha expulsado dois jogadores do Nacional no jogo da terceira jornada no Estádio do Dragão, um deles também por palavras, pelo que não se poderá dizer que não manteve os critérios.
O lance do terceiro golo levanta alguma polémica pelo momento da reentrada de Di Maria em campo, depois de receber assistência. Há uma repetição que mostra o instante em que o árbitro dá ordem de entrada ao jogador, e vê-se que a bola está a ser jogada precisamente do outro lado. Sinceramente não sei se as leis do jogo permitiriam interromper o lance à posteriori, uma vez que o argentino tirou claramente vantagem de uma situação que João Ferreira naturalmente não previa. É um caso que deixo para os especialistas. Seja como for, já havia 0-2, e o Benfica jogava contra dez.
Resultado Real:1-6

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 42
Sp.Braga 34
FC Porto 31
Sporting 29

FOLGA INESPERADA

Pode uma equipa ganhar um jogo por 5-0, e dizer-se que o conseguiu com sorte? Pode, e a prova é o Marítimo-Benfica desta noite.
Durante meia-hora os encarnados pouco ou nada mostraram. Não sei se por uma questão estratégica (chamar a equipa contrária para o seu meio-campo, de modo a aproveitar os espaços nas suas costas), se por deficiente abordagem ao jogo, a verdade é que durante esse período saltou à vista um predomínio madeirense na fatia do terreno por onde a bola andava, e simultaneamente alguma passividade benfiquista, um pouco à semelhança do que se viu em Olhão, e na primeira parte de Vila do Conde.
Não há campeões sem sorte, mas a verdade é que o Benfica seguramente não contava com os sucessivos golpes de fortuna que o bafejaram desde os trinta minutos até ao intervalo, e que resolveram o jogo. O golo no primeiro lance de perigo criado, a primeira expulsão, novo golo no segundo lance, nova expulsão, penálti, mais um golo e tudo decidido.
A partir do intervalo (e só faltava um auto-golo, que de pronto surgiu), com os importantes três pontos nas mãos, assistiu-se a um autêntico treino de descompressão para o Benfica, que permitiu poupar alguns elementos, e fazer descansar mesmo aqueles que continuaram em campo.
É difícil analisar um jogo com estas características. Podemos falar apenas da eficácia concretizadora dos encarnados - mais visível na primeira parte, pois na segunda, difícil seria não marcar - e da dignidade do Marítimo, que mesmo reduzido a nove elementos, mesmo contra um placar pesadíssimo, nunca deixou de lutar, chegando até a criar mais do que uma ocasião de golo, e evitando, senão a goleada, pelo menos a catástrofe (0-9?, 0-10?) que se chegou a desenhar no início da segunda parte.
O árbitro teve um trabalho complicado. Terá deixado um penálti por marcar para cada lado, e terá poupado mais uma expulsão ao Marítimo (João Guilherme). No lance do terceiro golo benfiquista, quando dá ordem de entrada a Di Maria a bola está do outro lado do campo, o que chega para o ilibar. O trabalho de João Ferreira foi fraco, mas não justificava as incompreensíveis palavras de Peçanha no final do jogo. Afinal de contas, nem sequer houve qualquer golo de voleibol a adulterar o resultado a poucos minutos do fim.
Disse, antes do jogo com o Olhanense, que a sequência de jogos que ia desde aí até ao final deste mês de Janeiro poderia ser decisiva para apurar o campeão, e a verdade é que se o Benfica tem ganho também esse jogo teria agora oito pontos de avanço sobre o FC Porto, que na próxima jornada joga na Choupana. Quando o fiz não contava com o Sp.Braga, que jornada a jornada se vai revelando um candidato de corpo inteiro, e começa a causar apreensão. Para o FC Porto a vantagem começa a ser significativa, ainda que seja muito cedo para qualquer triunfalismo (até porque o Benfica terá ainda de jogar no Dragão, e como tal qualquer derrota benfiquista deixará a equipa de Jesualdo apenas dependente de si própria). Três coisas tenho como certas: uma é que haverá emoção até ao fim, outra é que o Benfica está no bom caminho, e a terceira é que teremos de contar com o Sp.Braga.

Como VEDETA DA BOLA não anda de olhos fechados ao mundo, e como existem coisas muito mais importantes que um simples jogo de futebol, veja aqui como pode ajudar o povo do Haiti.

HOJE NAS BANCAS

Entrevistas com Eder Luís e Carlos Manuel, a actualidade do clube, e a habitual página da autoria deste vosso amigo, esta semana enunciando as dez ameaças que o Benfica terá pela frente na sua caminhada para o título, mas falando também de santas alianças e poços de petróleo.
A não perder. Custa apenas 75 cêntimos.

O PONTO POSSÍVEL

Num terreno impraticável, V.Guimarães e Benfica fizeram o que puderam para cumprir os noventa minutos da partida, sem esconder o indisfarçável desejo que ela acabasse depressa. Sobretudo do lado dos encarnados foi esta a sensação que ficou, pois à excepção do último quarto de hora (em que tentaram de facto marcar golos), notou-se desde cedo que o pensamento e o espírito dos jogadores estava focado noutros mais aliciantes compromissos, a começar pelo do próximo domingo no Funchal.
O Vitória adaptou-se melhor ao relvado, e foi a melhor equipa durante a maior parte do jogo, merecendo, diga-se em abono da verdade, ganhá-lo (Júlio César terá eventualmente sido o melhor jogador em campo). Mais macio e tecnicista, o Benfica teve muitas dificuldades em fazer correr a bola, e não mostrou – nem se esperaria obviamente que mostrasse, dada a importância relativa dos combates – o espírito guerreiro com que, por exemplo, derrotou o FC Porto em condições não muito diferentes.
Com Aimar, Roderick, Ramires e Eder Luís de início, o futebol encarnado não foi manifestamente ao encontro daquilo que o jogo requeria. Jesus terá privilegiado aspectos de gestão de plantel – o que é natural -, em detrimento da colocação da equipa ideal para vencer esta partida. À luz deste raciocínio, não se compreende todavia a insistência em Ramires (foi mais uma vez o único dos titulares do meio-campo para a frente a jogar os noventa minutos), quando salta aos olhos que o brasileiro precisa de descansar de modo a poder voltar a exibir os impressionantes níveis do início da época. O técnico saberá certamente melhor que eu, mas o que se vê em campo é um Ramires cansado, sem pulmão, a arrastar-se em jogos nos quais a sua presença seria perfeitamente dispensável (para que serve Felipe Menezes?, para que serve Carlos Martins?). Já o caso de Aimar é um pouco diferente, pois vinha de uma lesão e precisava naturalmente de ganhar ritmo, mesmo que num jogo completamente desadequado ao perfume do seu sofisticado futebol. Quanto ao reforço Eder Luís, seria quase cruel analisá-lo à luz de um jogo em que quase não era possível jogar-se. Mostrou boa vontade, o que para começar já não é mau.
Tendo em conta as características da partida, e a forma como decorreu, o resultado acaba por beneficiar mais o Benfica, penalizando a equipa da casa, que ficou praticamente afastada do apuramento. Vendo-se em desvantagem no marcador já em plena segunda parte, a equipa da Luz correu também sérios riscos de comprometer, já nesta noite, as aspirações na prova. O golo de Fábio Coentrão salvou-a, deixando-a dependente apenas de si própria para chegar às meias-finais.
Em desvantagem no número de golos marcados face ao Rio Ave (2-1 e 3-2), o Benfica vai ter mesmo de voltar a vencer em Vila do Conde para se apurar. Se o conseguir por uma diferença clara, tem também francas hipóteses de jogar as meias-finais em casa, aspecto que não é de desprezar, uma vez que se trata de uma eliminatória a uma só mão. Com o jogo a disputar-se num domingo de pausa no campeonato (e, espera-se, em melhores condições meteorológicas), creio ser de apostar tudo nessa partida, não deixando o troféu cair ao chão para que outros o apanhem.
Não se deu pelo árbitro, num terreno extremamente difícil também para ele.

Nos outros jogos, destaque para a eliminação do Sp.Braga depois de duas derrotas em dois jogos. O FC Porto, à semelhança do Benfica, tem de ganhar no Estoril na última ronda (mantendo no entanto, ao contrário dos encarnados, algumas hipótese em caso de empate), enquanto ao Sporting bastará não perder na Trofa para seguir em frente, numa verdadeira e inesperada final em que os da casa também jogam o apuramento. Dos três grandes, o Benfica é pois, claramente, o que tem a tarefa mais complicada, o que se justifica pelo próprio grau de dificuldade do seu grupo.
Poderá dar-se o caso dos segundos classificados ficarem todos com 5 pontos (ou os primeiros todos com 7), e com semelhantes diferenças de golos, pelo que antevejo grandes confusões com os estapafúrdios regulamentos, nomeadamente em face daquela surreal alínea das idades. Gosto da Taça da Liga, é uma excelente ideia, espero que o experimentalismo do formato e dos regulamentos não a venha a matar.

TUDO ISTO É TRISTE, TUDO ISTO É PORTO

Alguns já terão visto, para outros aqui ficam mais alguns factos:
vejam isto,
mais isto,
mais isto,
mais isto,
mais isto,
mais isto.
Falar é mais fácil, sobretudo para quem não tem vergonha nenhuma.

VAMOS A FACTOS

IMPUNIDADE, FALTA DE VERGONHA, NOJO

...e este verme ainda tem descaramento para falar de arbitragens ??!!??
Certamente pretende que o tempo volte para trás, que os campeonatos voltem a ser decididos no "Calor da Noite", e que voltemos a ver coisas como estas.
PS: Como perceberam havia muitos outros videos. Foram apagados do YouTube. Tirem as conclusões que quiserem.

CONTRA A CORRENTE

Dois dos temas que mais estiveram em foco nas últimas semanas foram a petição pela verdade desportiva, e a pausa natalícia. Em ambas, a minha opinião diverge da maioria dos analistas.
Começando pelo segundo caso, é uma falsidade afirmar-se que só em Portugal param os campeonatos. Pelo contrário, só há um país onde não param (Inglaterra), e mesmo nesse há quem aponte o excesso de competição como responsável pela insuficiente prestação dos seus clubes nas fases mais adiantadas das provas europeias – em dez anos de Liga dos Campeões e Taça UEFA, as equipas inglesas só levantaram 3 troféus em 20 possíveis, o que não corresponde ao seu peso desportivo e financeiro. Espanha e Itália param uma semana, Alemanha e França param ainda mais, para referir apenas as principais ligas europeias. Estamos pois muito bem acompanhados.
Falando por mim, que adoro futebol, devo dizer que me sabe bastante bem um período natalício sem ele. Permite pôr as leituras em dia, rever filmes, dedicar mais tempo à família e às suas exigências, tranquilizar emoções, redefinir prioridades, acalmar o espírito. Acredito que quem viva do futebol (jornais desportivos, televisões etc) tome esta paragem por prejudicial. Não creio que seja o caso do adepto comum.
O que esteve em causa foi um fim-de-semana. Um simples fim-de-semana, que por acaso era justamente o de natal. O Benfica-FC Porto disputou-se a 20 de Dezembro, e a 3 de Janeiro já se estava a jogar para as taças. Nada a opor. Talvez devesse apenas fazer-se um esforço para que a paragem coincidisse com o fim da primeira volta, que mais não seja por uma questão de geometria.

Quando às novas tecnologias, há que primeiro definir muito bem o que são elas (o vídeo é uma nova tecnologia?), e como se pretende que façam parte do futebol (só ao nível da linha de baliza? para todos os lances de dúvida?), coisas que talvez não tenham passado pela cabeça de uma larga fatia dos subscritores da petição.
Não discuto as boas intenções de Rui Santos (acredito que gosta de futebol, e faz tudo isto em nome do que acha melhor para a modalidade), mas, quanto a mim, as suas propostas carecem de aplicabilidade.
Estou com Platini e com a FIFA. O futebol existe há mais de um século, e a razão da grande popularidade de que desfruta em todo o mundo está na manutenção das regras, e na sua simplicidade quase infantil. Um jogo do campeonato da Tanzânia é formalmente idêntico a um da Champions League, e assim deve continuar a ser. Mesmo no contexto nacional, ninguém acredita que seja possível aplicar qualquer tipo de tecnologia aos campeonatos distritais, ou mesmo às divisões secundárias, pelo que qualquer alteração de fundo corre o risco de partir o futebol em dois: o dos ricos e o dos pobres. Isso não parece preocupar Rui Santos.
Por outro lado, não sei muito bem como é que as “novas tecnologias” (vídeo?), poderiam decidir lances de fora-de-jogo, ou de penálti, sem se tornarem devastadoras para o ritmo e para o dinamismo dos jogos. No Râguebi ou no Ténis as paragens são já uma constante, mas o Futebol é um desporto corrido, que se pretende com o menor número de interrupções possível. Além disso, subsistem vários problemas de operacionalidade: como recomeçar o jogo após consulta ao vídeo em casos de não-infracção?, em que momento e como interromper os lances para consulta ? quem fornece as imagens ? como são escolhidas as câmaras ? seria possível instalá-las da mesma forma em todos os estádios ? quem iria pagar ? transferir-se-ia a suspeição do campo da arbitragem para o da realização das transmissões, sendo que esta passaria a interferir nas decisões ? São dúvidas que provavelmente resultariam numa resposta pouco satisfatória, mesmo para muitos dos adeptos da implementação destes métodos.

No fundo, as tecnologias são um caminho do qual só vemos o princípio e desconhecemos onde nos leva. Estou em crer que, não só não iriam dissipar as suspeitas (mesmo vendo as imagens raramente há unanimidade nos lances mais polémicos), como as iriam porventura alargar a outros âmbitos.
Para além de tudo isto, clubismos à parte (cuja cegueira por vezes tolhe as almas e os pensamentos), não creio que as arbitragens sejam o problema principal do futebol - todos vemos a Liga Inglesa na televisão, alguém acha importante alterar ali alguma coisa?
Num ambiente de grande crispação competitiva, custa-nos admitir que o nosso clube possa ser de alguma forma prejudicado, e é isto, para além do tradicional gosto do português em polemizar, que, exacerbado por programas televisivos verdadeiramente terroristas, trás as discussões de arbitragem para a ordem do dia. Tudo resulta naturalmente amplificado depois de duas décadas de manipulação de resultados em favor de um certo clube, sem que se tivessem visto as consequências justas. Mas a verdade é que, desde 2004, desde que foi desmascarado o polvo que dominava o nosso futebol, que, prejuízo aqui, benefício ali, não se nota qualquer tendência predominante nas arbitragens portuguesas que não seja a da simples incompetência. Em Portugal preocupa-me neste momento bem mais, por exemplo, o doping, ou a satelização de clubes, do que propriamente a arbitragem, pois esta até é relativamente passível de escrutinar.
Gosto de ver o futebol ao vivo, e quem o vê sabe que a maioria dos “escândalos” só emerge depois de três ou quatro repetições televisivas filmadas de vários ângulos. Já saí muitas vezes do estádio convencido de ter assistido a um bom espectáculo e a uma boa arbitragem, e é na televisão e em seus debates sanguinários que mais tarde vejo a barraca a ser montada por aqueles que nem pagaram o bilhete. Tal como Platini, creio que é justamente a televisão que está a matar o futebol, não só neste aspecto, como na hemorragia de transmissões - eu ficaria bem com quatro ou cinco joguinhos por semana, e só para o próximo fim-de-semana, sem PFC nem parabólica, estão programados cerca de trinta! - ou ainda na forma como impõe horários absurdos, afastando irreversivelmente as pessoas das bancadas. É natural que um homem como Rui Santos, que ganha a sua vida nesta espécie de parafutebol televisivo (um outro desporto, do qual não sou particular apreciador) pense de outra forma.
Para se combater a suspeição havia caminhos muito mais simples e eficazes, para além, naturalmente, de uma maior preparação dos árbitros. Por exemplo: proibir contactos entre eles e dirigentes, proibir empréstimos de jogadores a clubes do mesmo campeonato, alterar regulamentos no sentido de punir com irradiação imediata dirigentes e árbitros envolvidos em praticas de corrupção (desde a visita para o cafezinho à mala cheia de dinheiro) consumada ou não, e com descida de divisão os respectivos clubes. Este sim seria um caminho para um futebol mais puro, mais verdadeiro, sem perder uma gota da sua humanidade. Gosto demasiado do futebol como ele é (jogadores, relva, bola, balizas e árbitro). Espero bem que nunca o estraguem.

CLASSIFICAÇÃO REAL

Jornada em que todos ganham torna-se sempre mais pacífica. Há no entanto erros que não podem passar em claro, e a expulsão de Djuricic entra directamente para a galeria dos mais escandalosos deste campeonato.

SP.BRAGA-NACIONAL
Não me recordo de casos de relevo.
Resultado Real: 2-0

SPORTING-LEIXÕES
Também não me recordo de lances polémicos, a não ser talvez um possível cartão por mostrar a João Pereira.
Resultado Real: 1-0

RIO AVE-BENFICA
Para além do constante festival de apito de Bruno Paixão, que estraga qualquer bom jogo de futebol, há apenas que mencionar dois lances, ambos na primeira parte, e ambos na área do Benfica: um duelo entre um avançado vilacondense e Miguel Vítor, e o livre indirecto assinalado por Quim ter agarrado a bola duplamente.
Quanto ao primeiro caso deve dizer-se que, de facto, existe contacto, mas o toque é tão ligeiro que não pode provocar a queda de ninguém. Esteve bem o juiz setubalense ao não apitar para penálti, ainda que Miguel Vítor deva ter mais cuidado e situações futuras, pois árbitros como este são muito bem capazes de descobrir ali uma falta.
O lance de Quim é mais difícil de analisar, e já ouvi a especialistas interpretações distintas. Eu não marcaria nada, mas aceito que o árbitro tenha tido a percepção de que o guarda-redes do Benfica já agarrara a bola uma primeira vez.
Resultado Real: 0-1

FC PORTO-U.LEIRIA
Foi um jogo cheio de casos, com dois golos anulados, um golo irregular, e um outro a deixar dúvidas, uma expulsão ridícula, e um penalti (e nova expulsão) nos últimos instantes.
De tudo isto, creio que o árbitro cometeu dois erros graves, enquanto o seu auxiliar terá cometido um.
A expulsão de Djuricic dispensa comentários, e só no Estádio do Dragão seria possível ver semelhante coisa. Lembrei-me de um lance idêntico, há uns anos atrás, em que Carlos Xistra fez a mesma gracinha (salvo erro com o Marítimo), assinalando então penálti por ter sido dentro da área.
Mas também o terceiro golo do FC Porto resulta de uma falta, pois Rolando apoia-se claramente nos ombros do adversário para conquistar a bola nas alturas.
Quanto ao erro do assistente, ele terá ocorrido no segundo golo anulado, lance em que Farias parece estar em linha com o último defensor leiriense. Ainda assim as imagens não esclarecem na totalidade, devendo todavia ter sido seguida a máxima de, em caso de dúvida, beneficiar o ataque.
Quanto ao resto, as decisões foram genericamente acertadas.
Resultado Real, retira-se um, acrescenta-se outro: 3-2

CLASSIFICAÇÃO REAL
BENFICA 39
Sp.Braga 31
FC Porto 30
Sporting 26

NOITE DE BRUXAS

Praticamente à mesma hora, tivemos esta noite dois exemplos de como o futebol se arvora por vezes em brinquedo de emoções, tornando-se dramático ou rejubilante, conforme o lado da barricada em que se está.
Na CAN, Angola vencia o Mali por 4-0 aos 79 minutos, e por 4-1 aos 88 minutos. Três golos de rajada (entre os minutos 88 e 93) deram um inacreditável empate aos malianos (4-4), num jogo que ficará certamente para a história da competição.
Pouco depois, no Estádio do Dragão, o União de Leiria dispõe de um penálti ao minuto 92 que lhe daria o empate, e colocaria os dragões a 6 pontos da liderança da Liga. Helton defendeu, e o FC Porto segurou a sofrida vitória, mantendo-se na luta pelo título.

O SUSPEITO DO COSTUME

Há cerca de um mês atrás, tinha aqui dito que a sequência de jogos que então se iniciava (f.Olhanense, c.FCPorto, f.Rio Ave, f.Marítimo e c.VGuimarães) poderia decidir o título e, faltando realizar-se duas dessas jornadas, de certa forma ainda o mantenho - não esquecendo que com um eventual triunfo em Olhão (e na altura falei do pleno de vitórias) o Benfica seria agora lider isolado com seis pontos de vantagem para o FC Porto.
Neste contexto, entendi perfeitamente as palavras de Jorge Jesus, alertando para as dificuldades que a partida de Vila do Conde iria apresentar. O adversário era difícil e combativo, está moralizado por uma boa carreira, o terreno é tradicionalmente complicado, e estávamos assim perante o tipo de jogo em que o Benfica encontra normalmente maiores problemas para fazer vingar os seus argumentos futebolísticos (invariavelmente mais técnicos do que físicos).
Pode dizer-se que a primeira parte acentuou esses receios, pois se o Rio Ave se apresentou como se esperava que o fizesse – extremamente pressionante, com o meio campo muito povoado, e procurando anular as principais unidades encarnadas -, o Benfica mostrou uma vez mais o seu embaraço perante desafios com estas características. Com os dois alas em sub-rendimento, com o centro do terreno inundado de pernas, o futebol benfiquista parecia bloqueado, e a bola raramente chegava a Cardozo e Saviola. Para agravar a situação, os jogadores do sector mais recuado insistiam em mostrar sucessivos lapsos de concentração, perdendo bolas em zonas proibidas (Maxi Pereira, e Javi Garcia), abordando os lances com alguma imprudência (Miguel Vítor), ou provocando livres tão perigosos quanto desnecessários (César Peixoto e Quim). Ao intervalo enviei um SMS a um amigo dizendo “Trofa? Olhão?”, o que revela bem a apreensão com que seguia o jogo.
Na segunda parte tudo foi diferente. Nunca saberemos o que poderia ter acontecido se o Benfica não tem marcado nos primeiros minutos da segunda parte, mas, ao fazê-lo (praticamente no lance inicial), virou todos os equilíbrios do avesso, destruiu as resistências do Rio Ave - que a partir daí pareceu ficar sem saber muito bem o que fazer do jogo - e ganhou a confiança de que precisava para, enfim, fazer transpirar a classe dos pés dos seus jogadores.
O resultado tangencial nunca deixou afastar o sofrimento, mas a verdade é que, vendo as coisas à posteriori, o Benfica controlou por completo a segunda parte, desperdiçando até algumas hipóteses de fazer crescer os números do jogo.
Nada havendo a beliscar o triunfo encarnado, apetece contudo perguntar porque não entrou a equipa no primeiro minuto com a agressividade, velocidade e afirmação competitiva com que o fez após o intervalo. Jesus e os seus jogadores saberão o porquê das gritantes diferenças, mas ao adepto comum custa a entender que em jogos desta natureza se guardem os riscos para o fim, e se dê tanto tempo de avanço ao adversário, desperdiçando dezenas de minutos numa espécie de jogo do gato e do rato em que, como é certo e sabido, o rato leva quase sempre vantagem.
O homem do jogo foi, obviamente, Javier Saviola. Mesmo os que desconfiavam do seu valor (o que não foi, nem por sombras, o meu caso), estarão seguramente rendidos às exibições e aos golos do argentino - entre encontros oficiais e particulares já leva vinte com a camisola do Benfica - que, jogo após jogo, vai cimentando a sua candidatura a figura cimeira deste campeonato. Trata-se de um dos melhores jogadores do mundo, cuja menor utilização no Real Madrid e no Barcelona se terá devido, no meu ponto de vista, à baixa fisionomia para quem joga na sua posição, tendo em conta que falamos de clubes que puderam escolher entre ele e Samuel Eto´o, Ibrahimovic, Thierry Henry, Van Nistelrooy ou Benzema. Para quem conhece "El Conejo" desde os Juniores (e não me esqueço do seu maradoniano Mundial sub-20 em 2001), as suas últimas exibições em nada surpreendem. A continuar assim, estará seguramente no Mundial pois, à excepção de Messi, não vejo nenhum avançado argentino muito melhor que ele.
Bruno Paixão não teve interferência no resultado, mas a cada uma das suas actuações não deixo de manifestar o meu desagrado pelo seu estilo de arbitrar, sempre de apito na boca, interrompendo o jogo por tudo e por nada, marcando faltas e faltinhas onde existem e não existem, cortando o ritmo da partida, matando o espectáculo. Com ele, isto acontece sempre, mesmo quando não prejudica nenhuma das equipas, como foi ontem o caso.

DE REGRESSO

Três dias antes do regresso definitivo, VEDETA DA BOLA volta a dar sinal de vida para fazer uma breve resenha do que de mais significativo se passou nas últimas semanas. No dia 11 terá então aqui a actualidade da jornada, com a qual o ritmo deste espaço voltará à normalidade.

TAÇA DA LIGA – Infelizmente esta competição voltou a ser falada pelos piores motivos. É uma boa ideia, tem futuro, mas os regulamentos e um formato demasiado experimentalista nada a ajudam. Os incríveis erros cometidos pelos árbitros quase parecem propositados para a descredibilizar ainda mais.
A arbitragem de Benquerença na Luz foi fantasmagórica, inundando o jogo de erros e de polémica, como de resto é usual nas suas actuações – nunca percebi como chegou a árbitro de elite na FIFA. Mas daí até dizer-se que beneficiou claramente o Benfica já são outros quinhentos.
Na verdade, o juiz leiriense perdoou duas expulsões a cada equipa (Luisão, Maxi Pereira, Amuneke e Aurélio), e um penalti também para cada lado, o que não o inocenta, mas faz equivaler as coisas. O lance do golo anulado ao Nacional, sendo da responsabilidade do auxiliar, deixa muitas dúvidas a qualquer observador isento, mas se qualquer parte do corpo conta para o fora-de-jogo, o avançado madeirense está efectivamente deslocado. Portanto, quem fala de colos e de outras coisas, não faz mais do que pretender a recompensa no Campeonato, onde tudo doi mais. É aliás curioso que as arbitragens sejam sempre tão simpáticas para o Benfica …na Taça da Liga.
Utilizando, manipulando e exibindo até à exaustão os lances em que uma equipa foi beneficiada, e omitindo sorrateiramente aqueles em que ficou prejudicada, seria fácil concluir que qualquer um dos 16 emblemas da Liga estaria a ser levado ao colo. Bastaria escolher. É usual, quando o Benfica ameaça ganhar alguma coisa, que FC Porto e Sporting se unam para atingir o clube da Luz, lançando mão desta já bem conhecida estratégia. Veja-se o que João Gobern escreveu a propósito disto, artigo ao qual pouco tenho a acrescentar.
Sobre o jogo da Luz também não há muito mais que dizer: exibição qb, vitória justa, com Saviola novamente a fazer a diferença.

REFORÇOS DO BENFICA – Nada conheço de Eder Luís, mas tenho uma ideia sobre os outros dois reforços do Benfica. Vaga sobre Airton, e mais fundamentada sobre Kardec, que vi actuar no Mundial sub-20.
Pelas informações que recolhi, o médio parece-me uma excelente contratação, não tanto para se afirmar desde já no onze titular, mas como a alternativa que faltava a Javi Garcia. A época vai ser longa, a posição é de risco elevado relativamente a castigos e lesões, e só por milagre o espanhol conseguirá manter a regularidade de presenças que teve até aqui. Airton é um jovem, mas foi uma das figuras do Brasileirão, sendo titular indiscutível do campeão Flamengo.
Já de Alan Kardec (que, como disse, conheço melhor) não tenho a mesma opinião. Não foi titular absoluto em nenhum dos clubes por onde passou, e as suas prestações no Internacional de Porto Alegre não foram nada convincentes. Chegou ao Mundial sub-20 como suplente de Wagner, mas com a lesão deste acabou por saltar para a titularidade, marcando então os quatro golos que o tornaram conhecido. Se Keirrison não servia, duvido muito que Kardec venha a trazer alguma coisa ao ataque do Benfica, pelo menos no imediato. Só entendo esta contratação como uma aposta futura, assim como que a ver o que dá.
O que não consigo entender é como o Benfica ainda não avançou para a aquisição de um lateral-esquerdo, sua principal e visível lacuna nesta primeira metade da época. César Peixoto é um médio razoável, mas um lateral medíocre; Fábio Coentrão é um excelente extremo, mas será um crime recuá-lo para a linha defensiva, onde perde criatividade e não ganha nada; David Luíz faz falta na zona central; e Shaffer é um caso claro de inadaptação, que vai demorar tempo a solucionar (um empréstimo seria de considerar). O Benfica, insistindo neste descuido, corre o risco de perder o campeonato devido ao buraco que tem no lado esquerdo da sua defesa, como os jogos de Alvalade e Braga amplamente demonstraram.
Evaldo custa sensivelmente o mesmo que Kardec, tem um ordenado baixo, é um bom lateral, e a sua transferência desfalcava um concorrente directo. Não se arranjam 3 milhõezitos mais?
E já agora, ainda que com menor grau de urgência, que tal evitar que Ruben Micael reforce um dos rivais, quando Pablo Aimar já vai nos trinta, e as alternativas são poucas?
Quanto a saídas, concordo com o empréstimo de Urreta (tapado por Di Maria e Coentrão), jogador que muito prezo e que deve manter-se na calha para o dia em que uma proposta vantajosa faça sair o artista argentino (digo a propósito que os 12 milhões + Nani, alegadamente propostos por Alex Ferguson, me pareceram bastante apelativos). Já não penso o mesmo sobre a cedência de Miguel Vítor, que este fim-de-semana vai ser titular, coisa que pode perfeitamente voltar a ter de suceder até ao fim da época (Roderick ainda está muito verde, e deve, também ele, aguardar pela futura venda de David Luíz, para integrar o plantel principal).
Espero que Nuno Gomes se mantenha até final da época, não só pela sua presença fora do campo, como pela sua experiência dentro dele, que pode ainda ser muito útil. Golo aqui, assistência ali, só não irá ao Mundial se Carlos Queiroz teimar mesmo em não o levar.

REFORÇOS DO SPORTING – Deu-me vontade de rir (não só a mim, como seguramente a quase todos os benfiquistas) quando ouvi Carlos Carvalhal dizer que o Sporting estava a assustar muita gente. A mais de uma dezena de pontos de distância, só na Taça da Liga os leões poderão eventualmente fazer algumas cócegas ao Benfica. Com o FC Porto na luta pelo título, e na Champions League, não sei a quem ele se referia, mas ninguém parece ter sido atingido senão pela gargalhada, pelo que aquela afirmação entra para a galeria das mais disparatadas da época. Enfim, um momento menos feliz pode acontecer a qualquer um.
Não deixo de reconhecer que a inversão de política desportiva do Sporting era absolutamente imperiosa. Só não compreendo como demorou tanto tempo a encetar, comprometendo a época, e desperdiçando a capacidade mobilizadora que estas contratações podiam ter tido no Verão, algo que, por exemplo, o Benfica soube explorar muito bem, criando uma onda de entusiasmo que muito ajudou a equipa. Mas sabe-se como as imitações nunca alcançam os originais…
Relativamente aos jogadores em causa (e deixo de lado Quaresma, Danny, Edinho, Pedro Mendes, Sílvio, Djalma, Baba, Ruben Micael, Rodriguez, Evaldo, Manuel Fernandes, Del Horno, Cristiano e todos os outros nomes de que se falou ou tem falado), direi que João Pereira é um jogador que sempre me agradou - desde os tempos do Benfica, quando era profundamente odiado em Alvalade -, mas que não me parece encaixar bem no perfil atlético que o Sporting precisaria para dotar a sua equipa de mais altura e capacidade de choque. Pongolle conheço menos, esteve na agenda do Benfica, marcou alguns golos no Huelva, mas no Atlético de Madrid foi um fiasco completo. Se Carvalhar queria jogar em 4-2-3-1, não sei como fará este francês conviver com Liedson. E 6 milhões (mais do que Saviola!!) para sentar no banco não parece boa ideia.

PEDROTO – Despertei para o futebol estava ele no auge da sua carreira. Não há como negar que foi um excelente treinador, e o seu currículo (principalmente no FC Porto, no V.Setúbal e no Boavista) fala por si.
Mas não sou hipócrita, e se há coisa que me irrita é a unanimidade que se cria sempre em redor de alguém que parte. Respeito o ser humano, e a sua família, mas tenho de dizer que, enquanto homem do futebol, José Maria Pedroto não me deixou saudades nenhumas.
Não digo isto por animosidade com qualquer derrota, até porque nos seis anos de Pedroto à frente do FC Porto, o Benfica foi campeão três vezes (76-77, 82-83 e 83-84), e um dos campeonatos que perdeu, perdeu-o por diferença de golos e sem qualquer derrota (77-78). Digo-o porque Pedroto, sobretudo a partir de 1976 (quando assumiu o comando técnico dos portistas), foi quase sempre um homem cínico, rasteiro e recalcado, um incendiário bem na linha daquilo que todos vemos hoje em Pinto da Costa - criatura (?) que aliás muito deve ao desaparecido criador (?) -, inaugurando um estilo no qual não me revejo minimamente, mudando efectivamente o futebol português para sempre, mas, no meu ponto de vista, claramente para pior. Nasceu com ele o ódio, a violência verbal, o vale tudo, o obscurantismo, a arrogância, a fanfarronice, a guerrilha, o regionalismo pacóvio, o "contra tudo e contra todos", que, levado á letra, conduziu o FC Porto (embora já sem a sua presença física) no caminho da corrupção, do tráfico de influências, do doping, da violência e do crime.
Pedroto arquitectou (juntamente com Pinto da Costa, não sabendo eu precisar qual foi o ovo e qual a galinha), uma absurda guerra norte-sul, que até pode ter valido vitórias ao clube, mas nada deu à região nem à cidade (a não ser as alegrias desportivas de alguns). Está ainda por fazer o balanço dessa estratégia assassina para com a coesão do nosso pequeno país, por eles dividido, por eles ensanguentado, por eles diminuído na sua alma colectiva.
Tanto ou mais do que o próprio Pinto da Costa, foi Pedroto o pai deste monstro em que se tornou o FC Porto, e da podridão em que, consequentemente, se transformou o desporto português.
Pedroto é, por tudo isto, alguém perante o qual eu não me curvo.
Lamento, mas é a minha franca opinião, que não pode ser alterada pelos ditames da natureza, nem pelos ventos da memória.