Três dias antes do regresso definitivo, VEDETA DA BOLA volta a dar sinal de vida para fazer uma breve resenha do que de mais significativo se passou nas últimas semanas. No dia 11 terá então aqui a actualidade da jornada, com a qual o ritmo deste espaço voltará à normalidade.
TAÇA DA LIGA – Infelizmente esta competição voltou a ser falada pelos piores motivos. É uma boa ideia, tem futuro, mas os regulamentos e um formato demasiado experimentalista nada a ajudam. Os incríveis erros cometidos pelos árbitros quase parecem propositados para a descredibilizar ainda
mais.
A arbitragem de Benquerença na Luz foi fantasmagórica, inundando o jogo de erros e de polémica, como de resto é usual nas suas actuações – nunca percebi como chegou a árbitro de elite na FIFA. Mas daí até dizer-se que beneficiou claramente o Benfica já são outros quinhentos.
Na verdade, o juiz leiriense perdoou duas expulsões a cada equipa (Luisão, Maxi Pereira, Amuneke e Aurélio), e um penalti também para cada lado, o que não o inocenta, mas faz equivaler as coisas. O lance do golo anulado ao Nacional, sendo da responsabilidade do auxiliar, deixa muitas dúvidas a qualquer observador isento, mas se qualquer parte do corpo conta para o fora-de-jogo, o avançado madeirense está efectivamente deslocado. Portanto, quem fala de colos e de outras coisas, não faz mais do que pretender a recompensa no Campeonato, onde tudo doi mais. É aliás curioso que as arbitragens sejam sempre tão simpáticas para o Benfica …na Taça da Liga.
Utilizando, manipulando e exibindo até à exaustão os lances em que uma equipa foi beneficiada, e omitindo sorrateiramente aqueles em que ficou prejudicada, seria fácil concluir que qualquer um dos 16 emblemas da Liga estaria a ser levado ao colo. Bastaria escolher. É usual, quando o Benfica ameaça ganhar alguma coisa, que FC Porto e Sporting se unam para atingir o clube da Luz, lançando mão desta já bem conhecida estratégia. Veja-se
o que João Gobern escreveu a propósito disto, artigo ao qual pouco tenho a acrescentar.
Sobre o jogo da Luz também não há muito mais que dizer: exibição qb, vitória justa, com Saviola novamente a fazer a diferença.
REFORÇOS DO BENFICA – Nada conheço de Eder Luís, mas tenho uma ideia sobre os outros dois reforços do Benfica. Vaga sobre Airton, e mais fundamentada sobre Kardec, que vi actuar no Mundial sub-20.
Pelas informações que recolhi, o médio parece-me uma excelente contratação, não tanto para se afirmar desde já no onze titular, mas como a alternativa que faltava a Javi Garcia. A época vai ser longa, a posição é de risco
elevado relativamente a castigos e lesões, e só por milagre o espanhol conseguirá manter a regularidade de presenças que teve até aqui. Airton é um jovem, mas foi uma das figuras do Brasileirão, sendo titular indiscutível do campeão Flamengo.
Já de Alan Kardec (que, como disse, conheço melhor) não tenho a mesma opinião. Não foi titular absoluto em nenhum dos clubes por onde passou, e as suas prestações no Internacional de Porto Alegre não foram nada convincentes. Chegou ao Mundial sub-20 como suplente de Wagner, mas com a lesão deste acabou por saltar para a titularidade, marcando então os quatro golos que o tornaram conhecido. Se Keirrison não servia, duvido muito que Kardec venha a trazer alguma coisa ao ataque do Benfica, pelo menos no imediato. Só entendo esta contratação como uma aposta futura, assim como que a ver o que dá.
O que não consigo entender é como o Benfica ainda não avançou para a aquisição de um lateral-esquerdo, sua principal e visível lacuna nesta primeira metade da época. César Peixoto é um médio razoável, mas um lateral medíocre; Fábio Coentrão é um excelente extremo, mas será um crime recuá-lo para a linha defensiva, onde perde criatividade e não ganha nada; David Luíz faz falta na zona central; e Shaffer é um caso claro de inadaptação, que vai demorar tempo a solucionar (um empréstimo seria de considerar). O Benfica, insistindo neste descuido, corre o risco de perder o campeonato devido ao buraco que tem no lado esquerdo da sua defesa, como os jogos de Alvalade e Braga amplamente demonstraram.
Evaldo custa sensivelmente o mesmo que Kardec, tem um ordenado baixo, é um bom lateral, e a sua transferência desfalcava um concorrente directo. Não se arranjam 3 milhõezitos mais?
E já agora, ainda que com menor grau de urgência, que tal evitar que Ruben Micael reforce um dos rivais, quando Pablo Aimar já vai nos trinta, e as alternativas são poucas?
Quanto a saídas, concordo com o empréstimo de Urreta (tapado por Di Maria e Coentrão), jogador que muito prezo e que deve manter-se na calha para o dia em que uma proposta vantajosa faça sair o artista argentino (digo a propósito que os 12 milhões + Nani, alegadamente propostos por Alex Ferguson, me pareceram bastante apelativos). Já não penso o mesmo sobre a cedência de Miguel Vítor, que este fim-de-semana vai ser titular, coisa que pode perfeitamente voltar a ter de suceder até ao fim da época (Roderick ainda está muito verde, e deve, também ele, aguardar pela futura venda de David Luíz, para integrar o plantel principal).
Espero que Nuno Gomes se mantenha até final da época, não só pela sua presença fora do campo, como pela sua experiência dentro dele, que pode ainda ser muito útil. Golo aqui, assistência ali, só não irá ao Mundial se Carlos Queiroz teimar mesmo em não o levar.
REFORÇOS DO SPORTING – Deu-me vontade de rir (não só a mim, como seguramente a quase todos os benfiquistas) quando ouvi Carlos Carvalhal dizer que o Sporting estava a assustar muita gente. A mais de uma dezena de pontos de distância, só na Taça da Liga os leões poderão eventualmente fazer algumas cócegas ao Benfica. Com o FC Porto na luta pelo título, e na Champions League, não sei a quem ele se referia, mas ninguém parece ter sido atingido senão pela gargalhada, pelo que aquela afirmação entra para a galeria das mais disparatadas da época. Enfim, um momento menos feliz pode acontecer a qualquer um.
Não deixo de reconhecer que a inversão de política desportiva do Sporting era absolutamente imperiosa. Só não compreendo como demorou tanto tempo a encetar, comprometendo a época, e desperdiçando a capacidade mobilizadora que estas contratações podiam ter tido no Verão, algo que, por exemplo, o Benfica soube explorar muito bem, criando uma onda de entusiasmo que muito ajudou a equipa. Mas sabe-se como as imitações nunca alcançam os originais…
Relativamente aos jogadores em causa (e deixo de lado Quaresma, Danny, Edinho, Pedro Mendes, Sílvio, Djalma, Baba, Ruben Micael, Rodriguez, Evaldo, Manuel Fernandes, Del Horno, Cristiano e todos os outros nomes de que se falou ou tem falado), direi que João Pereira é um jogador que sempre me agradou - desde os tempos do Benfica, quando era profundamente odiado em Alvalade -, mas que não me parece encaixar bem no perfil atlético que o Sporting precisaria para dotar a sua equipa de mais altura e capacidade de choque. Pongolle conheço menos, esteve na agenda do Benfica, marcou alguns golos no Huelva, mas no Atlético de Madrid foi um fiasco completo. Se Carvalhar queria jogar em 4-2-3-1, não sei como fará este francês conviver com Liedson. E 6 milhões (mais do que Saviola!!) para sentar no banco não parece boa ideia.
PEDROTO – Despertei para o futebol estava ele no auge da sua carreira. Não há como negar que foi um excelente treinador, e o seu currículo (principalmente no FC Porto, no V.Setúbal e no Boavista) fala por si.
Mas não sou hipócrita, e se há coisa que me irrita é a unanimidade que se cria sempre em redor de alguém que parte. Respeito o ser humano, e a sua família, mas tenho de dizer que, enquanto homem do futebol, José Maria Pedroto não me deixou saudades nenhumas.
Não digo isto por animosidade com qualquer derrota, até porque nos seis anos de Pedroto à frente do FC Porto, o Benfica foi campeão três vezes (76-77, 82-83 e 83-84), e um dos campeonatos que perdeu, perdeu-o por diferença de golos e sem qualquer derrota (77-78). Digo-o porque Pedroto, sobretudo a partir de 1976 (quando assumiu o comando técnico dos portistas), foi quase sempre um homem cínico, rasteiro e recalcado, um incendiário bem na linha daquilo que todos vemos hoje em Pinto da Costa - criatura (?) que aliás muito deve ao desaparecido criador (?) -, inaugurando um estilo no qual não me revejo minimamente, mudando efectivamente o futebol português para sempre, mas, no meu ponto de vista, claramente para pior. Nasceu com ele o ódio, a violência verbal, o vale tudo, o obscurantismo, a arrogância, a fanfarronice, a guerrilha, o regionalismo pacóvio, o "contra tudo e contra todos", que, levado á letra, conduziu o FC Porto (embora já sem a sua presença física) no caminho da corrupção, do tráfico de influências, do doping, da violência e do crime.
Pedroto arquitectou (juntamente com Pinto da Costa, não sabendo eu precisar qual foi o ovo e qual a galinha), uma absurda guerra norte-sul, que até pode ter valido vitórias ao clube, mas nada deu à região nem à cidade (a não ser as alegrias desportivas de alguns). Está ainda por fazer o balanço dessa estratégia assassina para com a coesão do nosso pequeno país, por eles dividido, por eles ensanguentado, por eles diminuído na sua alma colectiva.
Tanto ou mais do que o próprio Pinto da Costa, foi Pedroto o pai deste monstro em que se tornou o FC Porto, e da podridão em que, consequentemente, se transformou o desporto português.
Pedroto é, por tudo isto, alguém perante o qual eu não me curvo.
Lamento, mas é a minha franca opinião, que não pode ser alterada pelos ditames da natureza, nem pelos ventos da memória.