PÁTIO DAS CANTIGAS

Sempre que o Benfica se aproxima da conquista de um Campeonato, logo ouvimos os sons cacofónicos de uma orquestra que procura desvalorizar méritos, encontrar desculpas, e produzir ruídos. Tais ruídos não passam de arrotos causados por uma difícil digestão. Mas, de tão intensos, acabam por deixar que o embuste tome o lugar da realidade, num espaço mediático onde - graças a alianças nada santas - a proporção de forças surge quase sempre invertida face ao enorme peso popular do nosso Clube.
Foi assim em 2005, a propósito de um jogo disputado no Algarve. Foi assim em 2010, quando, no túnel da Luz, os agressores foram convertidos em vítimas, e a verdade convertida em mentira. Voltou a verificar-se o mesmo após o Dérbi do passado fim-de-semana, o qual deixou o FC Porto mais longe de alcançar o único objectivo que lhe resta na temporada, e o Sporting apeado daquela que seria a única ocasião capaz de proporcionar alegria aos seus adeptos (a de nos atrapalhar na corrida ao título).
Desde as bancadas do estádio, assistiu-se a um bom espectáculo, a um excelente golo (na primeira parte), e ao mais belo lance de toda a época futebolística nacional (na segunda). Viu-se também um Sporting motivado - o que não é notícia quando joga contra o seu invejado vizinho -, e feliz por ter evitado uma temida goleada. Presenciou-se uma vitória justa da melhor equipa, e uma arbitragem que, desde o primeiro instante, dentro e fora das áreas, dos dois lados do campo, adoptou um critério largo e equitativo, contribuindo para a fluidez do jogo como poucas vezes se vê em Portugal.
Cometeu erros? No estádio não dei por eles, embora a televisão demonstre um ou outro. Ficaram penáltis por marcar? Dentro do critério seguido pelo juiz, apenas um lance, aos 88 minutos, parece deixar dúvidas. Foi uma arbitragem perfeita? Não. Foi uma boa arbitragem? Sim.
A razão para tanto barulho é pois a mesma de sempre: a dificuldade em engolir os sucessos do Benfica, e em travar uma onda que nos vai tornando imparáveis.

15 DIAS À BENFICA

Passamos já o meio de Abril, e temos um mundo diante de nós.
Recordo-me como, não há muitos anos atrás, esta era normalmente uma fase de resignação, e de esperança…na temporada seguinte.
Neste momento, com nove jogos oficiais por disputar, podemos estar a caminho da melhor época de todos os tempos. Sim, de todos os tempos!
Esse sonho pode, porém, desmoronar-se num ápice. Como disse nestas páginas o meu amigo Pedro Ferreira, estamos entre um “quase tudo” e um “quase nada”, não sabendo ainda em que ponto exacto iremos terminar tão estimulante (e angustiante…) caminhada.
Estou convicto que os próximos quinze dias darão respostas mais conclusivas.
Acredito, por exemplo, que, ganhando ao Sporting na Luz, e ao Marítimo no Funchal, o Campeonato dificilmente nos irá escapar. Ultrapassando os turcos do Fenerbahce, voltaremos a uma Final Europeia - quase um quarto de Século depois da derrota de Viena ante o AC Milan de Gullit, Rijkaard e Van Basten -, na qual tudo será possível. Estes quatro jogos (a que devemos acrescentar um quinto: a recepção a um surpreendente Estoril-Praia), jogam-se em apenas quinze dias. Quinze loucos dias, que podem deixar-nos à beirinha do paraíso, mas, durante os quais, qualquer passo em falso nos fará cair no inferno, ou, pelo menos, num purgatório difícil de gerir e digerir.
Fui defendendo, ao longo da época, que, dada a aleatoriedade das provas europeias (decididas por detalhes), a prioridade deveria ser posta no Campeonato. Disse também que, eventualmente chegados a umas Meias-Finais, a equação poderia ter de ser reformulada. Ora aí estamos nós, com (os) três troféus para conquistar, e jogos decisivos atrás uns dos outros. Ninguém me peça agora para escolher. Quero ganhar tudo. Queremos ganhar tudo. E podemos ganhar tudo.
Acredito na equipa. Acredito no treinador. Acredito na estrutura. Só não sei como o meu coração irá resistir a cada jogo, a cada minuto e a cada lance, sabendo que de todos esses instantes dependerá este nosso encontro com a História.

FANTASIAS

Nada tenho contra o Boavista. Pelo contrário, creio que o Benfica teria a ganhar com a existência de um segundo clube na cidade do Porto, de forma a equilibrar os pratos de uma balança que tem em Lisboa um contra-peso a puxar-nos constantemente pelos calcanhares – e cujo fardo se faz sentir, não tanto nos relvados, mas principalmente no espaço mediático em redor dos mesmos.
Jogadores marcantes na história do Benfica, vieram do Boavista. Recordo-me, por exemplo, de João Pinto, Isaías ou Nuno Gomes.
Tive o privilégio de festejar um título (porventura o mais saboroso da minha vivência desportiva) nas bancadas do Bessa, sendo essa uma recordação que jamais irei esquecer.
Pese embora tudo isto, não posso estar de acordo com a recente decisão da Liga de Clubes, que não só aponta para a reintegração do Boavista no principal Campeonato, como, a reboque disso, impõe um alargamento suicida.
Deixo de lado o facto de tal decisão estar sustentada numa prescrição, que, pelo menos aos meus olhos, não inocenta ninguém. Detenho-me nos aspectos económicos.
A situação do país é conhecida. Os patrocinadores desaparecem como areia por entre os dedos. O flagelo dos salários em atraso atinge a maioria dos clubes. E, perante este panorama, eis que corremos o risco de ver um Campeonato inflacionado por equipas medíocres, com muito menor competitividade (e, esta época, à 25ª jornada, os dois primeiros ainda não perderam um só jogo), muito menos dinheiro para dividir, e, certamente, muito mais problemas, inclusive ao nível da verdade desportiva (ou da falta dela).
Defendo, há muito, uma Liga profissional com dez clubes (ou mesmo apenas oito), a quatro voltas, deixando tudo o resto por conta do amadorismo. Nem sei se uma II divisão fará sentido. Talvez apenas Campeonatos Regionais, com uma fase final para apurar uma equipa a promover. Tudo o resto é fantasia, de quem ainda não percebeu que o (nosso) mundo mudou, e que esta é uma actividade deficitária que poucos clubes têm condições para sustentar.

CUMPLICIDADES

Podemos acusar a Associação de Futebol do Porto de muita coisa. Podemos lembrar-nos de tudo o que aconteceu no dramático consulado de Lourenço Pinto no Conselho de Arbitragem da FPF. Podemos recordar escutas telefónicas, e fugas para a Galiza com avisos prévios. Mas há algo que todos temos de reconhecer àquela gente: a gratidão para com quem lhes presta bons serviços. Aliás, já vimos disto em filmes.
À Gala promovida pela referida Associação, e pelo seu sinistro presidente, não faltou ninguém. E, na maioria dos casos, não se pode dizer que não merecessem o convite. Falo, por exemplo, do impagável Pedro Proença.
Devo fazer, porém, um pequeno reparo. Achei algo injusto o lugar que lhe foi destinado na sala. O treinador André Villas-Boas, que deu somente um Campeonato Nacional ao FC Porto, tinha assento reservado na primeira fila, bem próximo de Pinto da Costa. Enquanto isso, o árbitro da brilhantina, que, com idêntico zelo, ofereceu, pelo menos, dois Campeonatos ao FC Porto - e nunca percebi se é o FC Porto o filiado na AF Porto, ou se, pelo contrário, é esta a funcionar como um mero departamento do clube -, ficava-se por uma modesta segunda linha, bem atrás daquilo que o seu protagonismo sempre fez por justificar. Pormenores à parte, há que dizer que o homem estava em família, e rodeado pela sua gente.
Não sei se, desta vez, houve lugar a prémios. Mais uma medalha, não lhe ficaria nada mal, embora fossem necessários muitos e muitos troféus para premiar todas e cada uma das ocasiões em que o juiz lisboeta ajudou os seus amigos.
Também desconheço quanto vale, nesta sombria contabilidade, uma final da Liga dos Campeões, e uma final de um Europeu. Saldo para um lado, ou saldo para o outro, o certo é que tanto a coluna do crédito, como a do débito, parecem neste caso muito bem preenchidas. Demasiado bem preenchidas.
Entre galas, relvados portugueses e nomeações internacionais, veremos como decorrem os próximos episódios desta saga, algures entre o romance e o “film noir”.

MULTI BENFICA

Quem tiver lido aquilo que escrevi, nesta mesma coluna, há uma semana atrás, percebeu ser minha convicção que cinco vitórias consecutivas do Benfica, nas próximas cinco jornadas da Liga de Futebol, representarão (com o devido respeito ao Moreirense) a conquista do respectivo título.
Para além dessa minha convicção pessoal – que, acredito, seja partilhada pela maioria dos benfiquistas, e também por muitos não benfiquistas -, está a matemática. Esta, mesmo com a implacável frieza dos seus cálculos, acrescenta apenas um número aos cinco triunfos que “pedi” aos jogadores encarnados. Ou seja, cinco vitórias mais uma, valem matematicamente o título, e aí não haverá Moreirenses que nos atrapalhem a vida.
As seis vitórias de que o nosso Futebol necessita para fazer a festa estendem-se, numa curiosa similitude, àquilo que se passa noutras modalidades.
Seis triunfos consecutivos garantem, também, a revalidação do título nacional de Hóquei em Patins, sendo que cinco deixarão as coisas praticamente à nossa mercê (tal como no Desporto-rei). Seis vitórias asseguram, igualmente, o título nacional de Andebol, que nos escapa há já alguns anos. Seis vitórias serão igualmente suficientes para erguer o ceptro de Voleibol, contando com os jogos que faltam da segunda fase, e com as duas primeiras partidas do Play-off final. Só o Basquetebol e o Futsal, dada a especificidade do formato dos respectivos Campeonatos, carecem de mais tempo, e mais vitórias, para renovar as conquistas do ano passado.
À semelhança do que sucede nos relvados, também nos pavilhões as próximas semanas serão decisivas. Elas determinarão até que ponto será possível repetir, ou (porque não?) superar, o feito histórico de 2011-2012, quando fomos vencendo sucessivamente Hóquei, Basquetebol e Futsal, acrescentando-lhes o Atletismo – que, também ele, tem somado títulos nos últimos tempos.
Isto sim, é Eclectismo com E grande. Não de palavreado (como se vê em alguns vizinhos invejosos), mas de competições, de vitórias, e de títulos.