LUCÍLIO BAPTISTA – Foi o grande protagonista da novela. Errou, como muitas vezes ao longo da carreira, mas desta vez penalizando o Sporting, e logo numa final com o Benfica (uii…). Voltou a errar no dia seguinte, aceitando uma entrevista televisiva para a qual não estava manifestamente preparado.
Tenho para mim que Lucílio Baptista terá ficado com dúvidas no lance do David Luíz, ocorrido pouco antes, e não quis correr riscos de deixar dois penáltis por assinalar contra a mesma equipa. É claro que muitas das decisões dos árbitros são tomadas por intuição – só por ingenuidade o poderemos negar – e o que é certo é que ninguém pode afirmar com honestidade que teve certezas antes de ver as repetições televisivas. Mas as justificações dadas pelo árbitro não o ajudaram nada.
Viu, com este jogo, a sua carreira posta em causa, mas nenhum dos grandes clubes irá chorar uma lágrima por ele.
PEDRO SILVA – O que ele fez não tem perdão, e só a má consciência de Lucílio Baptista o poderá poupar a uma punição exemplar.
Compreende-se o seu desespero, e até se entenderia a destemperada reacção inicial. Mas, passada mais de meia hora, fazer novo número de circo atirando a medalha ao ar, desrespeitando liga, espectadores, patrocinadores, adversários e colegas, já é mais difícil de aceitar.
Três mesinhos sem jogar só lhe fariam bem, e talvez percebesse que um profissional de futebol tem responsabilidades éticas e de comportamento que não pode nunca pôr de lado. Veja-se o comportamento de Yebda no jogo do Dragão, e perceba-se a diferença.
Também a declaração sobre o filho era dispensável, fazendo lembrar as ridículas juras pintodacostistas.
PAULO BENTO – Desde que o vi ter o desplante de vociferar contra uma arbitragem numa flash interview, apenas cinco minutos depois de Moutinho rasteirar impunemente Adu dentro da área do Sporting num dos últimos derbies na Luz, perdi todo o respeito pelas suas considerações sobre o tema. Nunca disfarçou – nem muito menos agora – que, conhecendo bem o futebol português, utiliza os microfones para tentar influenciar as arbitragens futuras, e foi ele o único treinador que falou das mesmas antes ainda de se iniciar o campeonato. Foi ele também o único personagem desta história a falar objectivamente do segundo lugar, como que a pedi-lo em jeito de indemnização.
A sua voz não tem pois credibilidade alguma em matéria de arbitragem, e está mais do que gasta. É um excelente treinador, mas devia falar menos.
QUIQUE FLORES – Se o tenho criticado pelo comportamento da equipa em campo, a sua atitude fora dele é absolutamente exemplar.
Tem, como ninguém, a autoridade moral de levantar a taça sem baixar a cabeça, pois nunca, desde que está em Portugal, falou de qualquer arbitragem. E motivos não lhe faltaram.
LIEDSON – Acabou por ser, de entre as vozes leoninas, o que mais ponderação teve no que disse. Lamentou o prejuízo, mas, mesmo falando a quente, foi capaz de olhar para a frente e não só para trás. Uma postura surpreendente de quem, no passado, nem sempre primou pelo desportivismo.
DI MARIA – No meio do caldeirão criado, chegou a pedir-se um castigo para o jovem argentino por ter reclamado um penálti que as repetições vieram depois a demonstrar não existir.
Só quem nunca tenha visto futebol, ou queira fazer dos outros parvos, pode afirmar tal coisa, como se simular faltas fosse o mesmo que reclamá-las.
SOARES FRANCO – Nunca perdeu a compostura, o que abona em seu favor. Excedeu-se nas palavras, mas isso percebe-se face à frustração que, como todos os sportinguistas, naturalmente sentiu, e também à conjuntura leonina – vésperas de congresso, período eleitorial, naufrágio europeu etc.
Errou ao exigir uma reacção a quem não tinha nada para dizer: Luís Filipe Vieira. Mas errou sobretudo ao confundir questões estruturais (presença na Liga, credibilização do futebol etc) com um simples penálti mal assinalado.
ADEPTOS DO SPORTING – Entende-se a sua revolta, pois ninguém gosta de ser prejudicado pelas arbitragens, sobretudo numa final contra um rival.
Não quiseram entender porém, na sua cegueira clubista, que o erro cometido foi absolutamente normal, e igual a tantos outros que acontecem em vários estádios de vários países.
Os que têm presença no espaço mediático (Dias Ferreira, Eduardo Barroso, Rui Oliveira e Costa etc) reagiram de forma ainda mais violenta do que se esperava. As suas vozes valem o que valem, mas os disparates foram tantos que acabaram por marcar a semana pelo ridículo. Desde pedir a repetição do jogo (!!??!!), até indemnizações, tudo foi lançado para o ar.
COMUNICAÇÃO SOCIAL – Aproveitou a polémica para aumentar as vendas – até o nosso VEDETA DA BOLA bateu recordes… -, o que é legítimo. Mas aqui e ali abusou um pouco, sobretudo quando deixou que certos jornalistas dessem largas às suas parciais opiniões, ora em reportagens, ora em noticiários que se queriam isentos.
Sondagens a sugerir a repetição do jogo vão ficar como um dos momentos mais caricatos dos programas desportivos da nossa televisão nos últimos tempos.
JOÃO GABRIEL – Não consegue evitar um certo ar de malandreco-que-acaba-de-fazer-uma-partida-sem-ser-apanhado. Mas a verdade é que, de tudo o que ele disse, eu apenas não subscreveria a questão do segundo e do primeiro lugares – na verdade, jogavam os dois para o primeiro, mas vão inevitavelmente lutar pelo segundo.
A taça ao seu lado também era escusada, mas entende-se o objectivo – mostrar, e bem, que o Benfica não tem vergonha de a ter conquistado.
HERMÍNIO LOUREIRO – É uma pessoa estimável, e tem desenvolvido grandes esforços para lavar a cara ao futebol profissional português. Não merecia isto.
As suas declarações foram certeiras, mas a caldeira já estava a ferver demasiado. Sai deste folhetim como o mais injustiçado de todos os que, de algum modo, o protagonizaram. Ainda por cima, coitado, é sportinguista…
RUI COSTA – Colocou água na fervura, evidenciando a classe a que nos habituou quando estava nos relvados, e que mantém, agora fora deles.
Disse entender a frustração, mas apelou à calma e criticou exageros. Pode-se dizer que é fácil ter calma quando se ganha, mas… o que poderia mais ele fazer?
CARLOS MARTINS – Li toda a sua entrevista, e concluí que a manchete feita a partir da mesma é manifestamente abusiva. Não desrespeitou minimamente o Sporting, que julgo ser o seu clube de coração.Enquanto profissional, fez o que devia, e o que os benfiquistas dele esperam.
SÁ PINTO - Só faltava mesmo este vir atear ainda mais o fogo. Ele que sempre foi um exemplo de desportivismo. Ele que agrediu um seleccionador. Ele que terminou a carreira como merecia - com um cartão vermelho.
A TAÇA – Se em polémica se tornou uma autêntica bomba, a verdade é que a Carlsberg Cup tomou entre nós, para o bem e para o mal, um mediatismo comparável a uma final da Liga dos Campeões. Foi, como eu suspeitava, um dos momentos futebolísticos do ano, senão mesmo o principal de todos eles.
Terá que acertar os seus regulamentos mas, pelas pessoas que arrastou, pela visibilidade que teve, pela importância que assumiu, ficou a certeza de que tem tudo para se tornar uma competição de referência do futebol português.
VÍTOR PEREIRA – É sportinguista, é emblema de ouro, e é, creio, uma pessoa séria. Tem feito algumas nomeações difíceis de entender – e esta foi uma delas -, mas não tenho dúvidas de que põe as melhores intenções no trabalho que faz.
Neste caso particular, talvez lhe tivesse ficado bem uma declaração pública, até para proteger o árbitro (completamente imolado nas chamas da comunicação social).
LUÍS FILIPE VIEIRA – Esteve bem ao não falar, pois não haveria nada para dizer.
Não comemorou efusivamente – o que poderia ser mal interpretado -, mas, seguramente, não se esperaria que fosse pedir desculpas por um crime que não cometeu.
Ele até tinha criticado Lucílio antes do jogo…