Quem me conhece sabe que não tenho a mais pequena simpatia por Rui Santos. É um tipo que vive e sempre viveu dos escândalos, da podridão, e da face mais negra do futebol português. E quando não há nada para dizer, inventa. Isso parece ter-lhe rendido, pois há anos que se mantém na ribalta televisiva.
Dito isto, o que se está a passar com ele, e com a família, é absolutamente inqualificável. E só é possível num clima criado há quarenta anos por Pinto da Costa, a partir de uma obsessão invejosa e doentia por Lisboa - a qual soube explorar em seu proveito, arregimentando massas e um exército de terroristas à disposição, o que lhe garante poder, dinheiro, influência e meios para manipular o desporto português com sucesso estatístico.
O que se passa com o FC Porto, com a comunicação do FC Porto, com o Porto Canal, com a claque do FC Porto, e, desconfio, com a polícia do Porto, não é um problema do futebol: é um problema do país, um problema de segurança pública, que não pode ser resolvido com paninhos quentes, nem medos de desagradar a adeptos e populações, ou de perder votos. Requer uma intervenção do Estado, que tem de ser necessariamente musculada e assertiva.
Quem se lembra de montar uma estratégia de roubo e manipulação de correspondência privada para tentar destruir um clube rival, quem envia um batalhão de delinquentes ao restaurante de um árbitro, quem ameaça árbitros no seu centro de treinos, quem agride fotógrafos e jornalistas reiterada e impunemente, quem alimenta um clima de intimidação, provocação e confrontação dentro e fora dos recintos desportivos, é capaz de tudo. Passando impune, sentindo-se inimputável, continua e continuará a fazê-lo.
Esta gente tem nomes e rostos. Todos sabemos quem são. E fazem isto há décadas. Porque não se faz nada para combater este tipo de criminalidade, é um mistério que escapa ao meu entendimento.
Dir-me-ão que também há delinquentes nas claques de Benfica e Sporting. É verdade, mas em nenhum dos casos funcionam como exércitos amestrados e organizados no culto a uma estratégia e a um "padrinho", bem ao estilo siciliano, e sempre um passo adiante em técnicas de criminalidade organizada. Além disso, em Lisboa tem sido frequente haver detenções. Ainda recentemente aconteceu. Se em Lisboa há crime, também há castigo.
Além do mais, Lisboa é uma cidade grande, cosmopolita, com gente de todo o país, sem um enraizamento forte, com paixões desportivas divididas, e não susceptível de ser controlada por qualquer gangue ou milícia. Há problemas dispersos com elementos das claques de Benfica e Sporting - por vezes graves, é certo, mas dispersos e avulsos - enquanto no Porto existe "um" problema estrutural, orquestrado, denso e muito grave, que já é do país, e tem de ser rapidamente resolvido. Ou então o estado de direito em que vivemos é uma quimera. Ou uma farsa.
É óbvio também que nenhum dos dois clubes de Lisboa tem uma estratégia de comunicação terrorista, segundo a qual vale tudo para ganhar, como aquela de que alguns programas do Porto Canal são espelho (basta comparar o perfil e a intervenção pública dos diretores de comunicação dos três grandes). Tudo isto faz parte do mesmo pacote, como o caso Rui Santos bem demonstra.
É preciso perceber-se que, ou o país se une para acabar com isto, ou esta gente vai acabar com o desporto português, e pôr em causa o estado de direito em que queremos viver. Não sei se o futebol ainda tem remédio. Mas gostava de acreditar que o país o pode ter.