MÁSCARAS, INSULTOS E VIDEO

Sou assinante da Sport Tv há muitos anos, e tenho do canal a melhor impressão em termos de grelha de programas, grafismo, acompanhamento de diferentes modalidades e qualidade geral das emissões.
Infelizmente não posso dizer o mesmo dos seus comentadores de futebol, que, mais do que tendenciosos, me parecem globalmente incompetentes, monocórdicos e mal preparados, pecado que, diga-se, acompanha a estação desde os seus primeiros tempos.
Os relatos são tão enfadonhos que, quando não se trata da nossa equipa, põem a dormir qualquer um. Os repórteres alternam perguntas absolutamente idiotas, com insistências mal-educadas que, aqui e ali, já mereceram reparos de todos os quadrantes. Os convidados são escolhidos por critérios que ninguém percebe, e se por vezes surpreendem pela positiva (Paulo Bento no Mundial), na maioria dos casos perdem-se na mediocridade. Para não destoar, os comentadores residentes são de uma pobreza que manifestamente não se coaduna com a importância da estação no panorama desportivo nacional.
O episódio do Algarve é o corolário lógico desta insuficiência, mostrando ao país um grupo de indivíduos que, ao invés de profissionais pagos para servir o espectador, mais pareciam pândegos a divertirem-se à custa dele. O desconhecimento revelado sobre o Sunderland é assustador para quem ganha a vida a fazer comentários de futebol (inclusivamente da Premier League), e a forma como se referiram ao guarda-redes, e ao treinador, do Benfica é insultuosa e absolutamente inadmissível, indo de encontro a um anti-benfiquismo que parece reinar naquela casa (como noutras).
Não sou jurista, pelo que não sei que consequências poderá ter este episódio na relação comercial entre o clube da Luz e a Sport Tv. Mas a verdade é que a estação de Joaquim Oliveira sai, pelo menos, envergonhada do caso. Numa altura em que 2013 se aproxima a passos largos, Rui Pedro Rocha, Jorge Goulão e o insuportável Pedro Henriques deram um valente tiro nos pés, e na credibilidade da empresa que lhes paga.

NOVA VITÓRIA, NOVO TROFÉU

À semelhança do que ocorrera na pré-temporada passada, o Benfica de Jorge Jesus parece empenhado em coleccionar troféus. Depois do Torneio de Guimarães, agora a Albufeira Summer Cup. Valem pouco, ou nada, mas é sempre melhor ganhá-los do que perdê-los.
Em termos de resultados, as duas pré-épocas poderão até vir a equivaler-se, caso os encarnados arrebatem também o Torneio do Guadiana e a Eusébio Cup. Já quanto ao futebol jogado, a exuberância exibicional de há um ano atrás não tem estado presente, em larga medida devido às contingências do Mundial – jogadores a chegar a conta-gotas, estados de forma distintos, e dificuldade em apresentar a melhor equipa. Sente-se o suave perfume da temporada passada, nomeadamente quando Aimar (a prometer uma época em grande) e Saviola pegam no jogo, mas a fluidez colectiva do futebol benfiquista não tem sido, nem poderia ser, aquela que valeu o 32º título nacional.
O grande caso do Benfica é, por estes dias, o guarda-redes Roberto, e há que dizer que, sem a sua presença na baliza, os motivos de interesse do jogo de Albufeira diminuíram fortemente. Júlio César e Moreira não tiveram qualquer trabalho ao longo dos noventa minutos, mas o zero registado nas redes encarnadas não deixa de ser irónico, sobretudo porque, se descontarmos o jogo com os amadores do Monthey, foi a primeira vez que aconteceu nesta pré-época – justamente na primeira ocasião em que o espanhol não foi utilizado.

Fábio Coentrão e Cardozo voltaram a ser decisivos. Um a cruzar, outro a marcar, tal como havia acontecido frente ao Mónaco, e tal como se espera vir a acontecer muitas vezes ao longo da temporada, caso ambos permaneçam no plantel.
A propósito de Coentrão, e conhecendo um pouco melhor as características de Gaitán, terei de rever aquilo que escrevi há uns dias atrás, quando considerei o lateral como um dos jogadores cuja saída menos penalizaria o colectivo benfiquista, se é que se pode dizer tal coisa de algum dos titulares da equipa campeã nacional. Na verdade, tenho reparado que o argentino, embora detentor de boa técnica, não verticaliza o jogo da mesma forma que Di Maria o fazia. É uma espécie de Di Maria, sim, mas de 2007-08, ainda à procura do seu espaço no futebol europeu. Pode perfeitamente ser titular, mas necessita de um apoio incisivo na hora de buscar os desequilíbrios. Esse apoio só pode vir de Fábio Coentrão, que se torna assim uma peça indispensável a este Benfica. E nem me espantaria que o vilacondense acabasse por voltar (pontual, ou mesmo, definitivamente) ao seu lugar de origem, onde - ele sim - poderia tornar-se o substituto natural do agora jogador do Real Madrid.
Da partida com o Sunderland fica ainda a confirmação do bom momento de Carlos Martins, e a ligeira subida de rendimento de Javi Garcia e Sidnei. Já David Luíz, em dia de convocatória para a selecção brasileira, voltou a exibir a sua classe, alicerçada também numa tremenda auto-confiança.
Na sexta-feira, novo teste. Será a vez dos holandeses do Feyenoord.

O CAMPEÃO VOLTOU A CASA


Numa bonita tarde de festa, o Benfica voltou à casa para se mostrar aos mais de 40 mil adeptos que, cheios de saudades, lá se deslocaram.
O tipo de sentimentos vividos neste jogo de apresentação não podiam contrastar mais com os da última vez que se tinha jogado naquele estádio. Então, com o Rio Ave, estava em causa o título nacional, e a ansiedade vivida à entrada só teve paralelo na euforia da saída. Agora, a tranquilidade quase sonolenta convidou a uma atitude contemplativa que deixa pouca margem para análises muito elaboradas ao futebol que se praticou. As camisolas são bonitas, o novo relvado parece excelente, a tarde foi bem passada, e, quanto ao resto, pouco há a dizer.
Roberto era uma das atracções do dia, e apesar de todo o apoio que lhe foi dispensado pelos adeptos (exemplares na protecção ao jogador), não só não teve oportunidade para brilhar, como acabou por ficar mal na fotografia do primeiro golo francês. Não se tratou de um “frango” - num jogo como este o lance até passaria despercebido, não fosse o peso dos erros nas partidas anteriores -, mas esperar-se-ia outro tipo de intervenção de alguém que veio para fazer a diferença. Custa-me falar dele, embora mantenha a esperança de que o meu cepticismo venha a ser desmentido. Por enquanto, o que mais me tranquiliza neste caso são dois nomes: Moreira e Júlio César.
Outro caso, mas de sentido diametralmente oposto, é o de Óscar Cardozo. Entrara havia apenas um minuto, e, mesmo ainda a ritmo de férias, ao primeiro toque na bola deu a vitória aos encarnados. É verdade que foi dos mais aplaudidos no estádio, mas não se entende como muita gente continua a desconfiar das suas capacidades, depois de 90 golos marcados em três anos. Como José Torres, Gerd Muller, Ian Rush ou Mário Jardel, Takuara não é avançado de dribles, nem de verónicas ou chicuelinas. É avançado de golos. E já mostrou ao que vem.
Quem não pôde mostrar-se foi o reforço Franco Jara. Quanto a Gaitán, embora tenha voltado a revelar bom toque de bola, esteve bastantes furos abaixo do que, pela televisão, já se lhe vira fazer nesta pré-temporada. Fábio Faria jogou apenas uns minutos.
Outras notas de destaque vão para a luta pelo lugar de pivot defensivo, que parece estar a ser ganha por Airton. Javi Garcia tem estado infeliz (já a sua ponta final da época passada não fora brilhante), e o brasileiro apresenta-se como uma hipótese bastante credível para a titularidade. Ruben Amorim também não esteve muito inspirado (o que é natural para quem vem de lesão, e viu as férias interrompidas pelo Mundial), ao passo que a dupla Aimar-Saviola já nos vai regalando os olhos, indiciando mais uma grande temporada. Fábio Coentrão foi o mais aplaudido, como, diga-se, bem merece; enquanto Mantorras foi assobiado por muita gente, como infelizmente também fez por merecer nos últimos tempos.
No fim, vitória do Benfica por 3-2, e a esperança de que o andamento do mercado permita manter uma equipa que tanta alegria deu aos seus adeptos.

PS: Já o texto estava publicado, e reparei que este era o post nº 2000 do VEDETA DA BOLA. É um número redondo, bonito, e que, sinceramente, em Março de 2006 não me passava pela cabeça vir a alcançar. Estão de parabéns, sobretudo, os leitores, pois foram eles (vocês) que trouxeram este espaço até aqui.

A ANGÚSTIA DO ADEPTO NO MOMENTO DAS TRANSFERÊNCIAS

Se o período do defeso foi, noutros tempos, uma altura de entusiasmo, se nesses anos, na Luz, a carência de futebol e títulos fazia ansiar por cada nova contratação, a verdade é que hoje, com um grande plantel, com o escudo de campeão nos ombros, o que os benfiquistas mais desejam é que esta interminável abertura de mercado chegue rapidamente ao fim.
Não há que enganar. Muitas saídas de jogadores e o Benfica poderá ver cair por terra todo o trabalho dos últimos anos. Não há milagres, e o passado ensina-nos como é difícil substituir jogadores devidamente integrados e adaptados a um clube, trocando-os por tiros no escuro, como serão fatalmente todas as aquisições feitas sob a pressão da urgência.
Estamos pois a passar por dias em que o futuro próximo do Benfica está em equação, o que causa naturalmente alguma angústia entre os adeptos. Eu, por exemplo, já nem compro os jornais desportivos.
Partilhando essa angústia com os leitores, deixo aqui a minha proposta acerca daquilo que penso poder ser feito, sendo que, obviamente, não domino toda a informação sobre o assunto - como sejam, por exemplo, eventuais negociações com o fundo de jogadores, acordos estabelecidos com empresários ou com a banca, situação de tesouraria e questões afins.
Em primeiro lugar, e ressalvado o que fica do parágrafo anterior, defendo a manutenção de todos os jogadores do actual plantel. O Benfica estará na Liga dos Campeões, e essa é uma oportunidade de valorização que não pode ser desconsiderada. Mais do que isso, é a hegemonia no futebol português que está em causa, e o tal novo ciclo só será uma realidade com a manutenção de uma grande equipa.
A haver mesmo necessidade imperiosa de vender, creio que seria aceitável a cedência de apenas um jogador. Di Maria já saiu, e mais duas perdas fariam, seguramente, abanar os alicerces da equipa, deixando-a cair para níveis competitivos irremediavelmente mais baixos.
Vejamos as situações de cada um dos jogadores para os quais se diz existirem propostas:

LUISÃO – Inegociável ! É o jogador mais importante no plantel, quer pela capacidade técnica (insuperável no jogo aéreo e nas bolas paradas), quer, sobretudo, pela liderança que impõe aos colegas, em particular aos jovens sul-americanos que vão chegando. A sua saída poderia fazer tremer muitos dos equilíbrios que existem actualmente no balneário, e a sua cotação de mercado não cobre, nem se aproxima, da importância que tem para a equipa e para o clube. Se for necessário aumentar-lhe o ordenado, pois que se aumente.

DAVID LUÍZ – Sidnei tarda em afirmar-se, pelo que o desfazer da dupla da época passada se afiguraria problemático. Contudo, julgo que 35 milhões de euros (segundo os jornais, aquilo que o Manchester City ofereceu por ele) seria um valor irrecusável, e obrigaria a ponderar um eventual negócio.
Sendo ainda um jovem, preparando-se para disputar a Liga dos Campeões, o seu passe não deverá desvalorizar tão cedo. Pelo contrário, uma eventual chamada à selecção pode torná-lo ainda mais apetecido pelos principais mercados. Estes são aspectos que apontam para que fique mais uma temporada. Mas, 35 milhões de euros são…35 milhões de euros.

FÁBIO COENTRÃO – Outro que pode valorizar-se ainda mais com a Liga dos Campeões, embora o fantástico Mundial que fez já o tenha colocado em alta.
Apesar da saída de Di Maria ter deixado o corredor esquerdo muito dependente da sua capacidade de verticalizar o jogo, não me chocaria que o Benfica o vendesse, caso houvesse uma proposta muito próxima do valor da cláusula. Mais do que 25 milhões, atendendo a que se trata de um defesa-lateral, seria uma proposta praticamente irrecusável.

RAMIRES –Ao que se diz, é o jogador que estará mais perto da porta da saída. É pena.
Metade do passe já foi alienado (por 6 milhões), pelo que uma eventual cedência dos direitos desportivos não trará uma mais-valia grandemente apelativa.
Acresce que se trata de um jogador muito jovem, cuja presença na Liga dos Campeões poderia fazer inflacionar o valor de mercado, e que, no meu ponto de vista, ainda não terá evidenciado no Benfica todas as suas enormes capacidades.
Tem talento e fulgor para ser o melhor jogador a actuar em Portugal, e, mostrando-o, creio que dentro de um ano poderia atingir uma cotação superior a 30 milhões de euros.
Além do mais, a sua versatilidade táctica oferece soluções ao meio-campo da equipa que mais nenhum outro jogador garante. Pode jogar em todas as quatro posições do centro do terreno, sempre com elevado rendimento. É um craque ainda por explodir, e temo que a sua venda seja precipitada.

CARDOZO – Alguns benfiquistas adoram pontas-de-lança tecnicistas, que fazem fintas, conduzem a bola, "criam espaços", vão à linha, jogam "de costas para a baliza", cumprem "missões de sacrifício", e movimentam-se como bailarinos, como muitos que fazem parte da memória do futebol português. Eu, sinceramente, num ponta-de-lança, não ligo patavina a essas ...inutilidades. Gosto é daqueles que metem as bolas lá dentro, como é raro ver-se…no futebol português.
Em três épocas no Benfica, Óscar Cardozo marcou cerca de 90 golos (!), e é um absurdo (para não dizer outra coisa) pensar-se que qualquer outro o teria feito no seu lugar. No nosso campeonato, em muitos anos, só Jardel fez melhor, pelo que "Tacuara" é, seguramente, um dos melhores avançados que passou por Portugal em muitos anos.
Pelo que acabo de dizer, julgo que o paraguaio seria extremamente difícil de substituir no plantel encarnado, pois um jogador com as suas características - de último toque, de sentido de oportunidade, de aproveitamento do espaço, de violência de remate, de eficácia, sobretudo numa equipa ofensiva, o que não era o caso da sua selecção - não existe em Portugal, é caríssimo na Europa, e muito difícil de encontrar no mercado sul-americano.
Kardec marcou uns golos na pré-época? É verdade, mas quando chegar (se alguma vez chegar) aos noventa, então podemos discutir se é um substituto para Cardozo. Para já, não nos precipitemos: continua a ser apenas uma esperança.
A saída de Cardozo obrigaria pois, necessariamente, à contratação de mais um avançado. Se esse avançado fosse, como queria Jorge Jesus, o holandês Huntelaar, então encantados da vida. Acontece que eu não acredito nessa possibilidade (nem noutra de idêntica qualidade), e o que vejo diante de mim, caso Cardozo saia, é um enorme vazio na frente de ataque, um regresso às oportunidades falhadas, à falta de pontaria e eficácia, tantas vezes confundida, no passado, com falta de sorte.
Por menos de 35 milhões de euros, nunca libertaria Cardozo. E se ele exigir um aumento, também não vejo motivos para o negar. É ele que marca os golos, e isso é argumento mais do que suficiente para ser uma das bandeiras da equipa e do clube.

CONCLUSÃO: Se pudesse, não vendia ninguém, e entendo que deve ser feito um esforço, tão grande quanto possível, nesse sentido.
Se razões fortes (tesouraria ou outras) me obrigassem, vendia um, e só um, jogador. Qual? Dependia das propostas, mas atendendo aos valores que se vão ouvindo e lendo, talvez um de dois: David Luíz (35 M) ou Fábio Coentrão (25M), porventura os que, estando num pico de valorização, mais fáceis seriam de substituír recorrendo ao mercado.
Esta é a minha opinião, que não vale absolutamente nada. Mas espero que a opinião de Jorge Jesus seja ouvida antes de qualquer decisão relativamente a esta matéria.

ALGUM FUTEBOL, UMA TAÇA E UMA DOR DE CABEÇA

Três factores contribuem para que esta pré-temporada me esteja a entusiasmar muito pouco:
1) a ressaca do Mundial vivido intensamente, com os seus 64 jogos em 30 dias;
2) a consequente ausência de alguns dos principais jogadores, ainda no gozo das suas férias;
3) e por fim a agradável situação de não haver grandes novidades no Benfica, nem quanto a equipa técnica e respectivo modelo de jogo, nem, para já, salvo dois ou três casos particulares, quanto a jogadores.
Acrescentaria ainda que o mês de Julho traz com ele o Tour, prova ciclista que me apaixona e absorve, ano após ano, desde a infância, deixando pouco espaço para uma actualidade futebolística marcada pela ausência total de competição a sério.
Assim, e como não me pagam para isto, devo confessar que dos cinco jogos disputados até agora pelo Benfica, vi apenas uma parte significativa do Aris de Salónica (cerca de 70 minutos) e a totalidade deste último diante do V.Guimarães. Dos outros, apenas resumos.
Não tendo pois, teoricamente, uma base suficientemente sólida para falar, há um dado que é inelutável: por muito que se diga e escreva, uma equipa amputada de Maxi Pereira, Luisão, Fábio Coentrão, Ramires e Óscar Cardozo não é, nem pode ser, o verdadeiro Benfica, aquele que nos encantou durante a última temporada. Qualquer análise terá de se submeter a esse pano de fundo, o que significa que, tal como eu, mesmo quem tenha visto todos os jogos dificilmente terá condições para acrescentar muita coisa relativamente àquilo que pode ser o Benfica 2010-11.
Conforme disse acima, não creio contudo que existam quaisquer novidades relativamente ao sistema táctico, e modelo de jogo, apresentado por Jorge Jesus. A filosofia é a mesma, mudando apenas, conjunturalmente, algumas figuras, nas posições que os mundialistas têm deixado por preencher. Posse de bola, jogo pelos flancos, pressão constante são as marcas que este Benfica sempre tenta impor, e que nos dois jogos que vi valeram nada menos que nove golos e o primeiro troféu da época.
Como sinal positivo destacaria a prestação de um jogador que, acredito, pode explodir nesta nova temporada: Alan Kardec. Já tinha deixado boas indicações sempre que foi chamado, e tem aproveitado muito bem a ausência de Cardozo para mostrar tratar-se de uma opção credível, e goleadora. Se lhe juntarmos as boas indicações dadas pelo reforço Franco Jara, e não vier a sair ninguém, temos o ataque do Benfica totalmente resolvido, e bem resolvido, com boas e variadas opções.
Também Carlos Martins, Airton, e a novidade Gaitán (muito boa técnica, velocidade e capacidade de passe) tem estado em plano de destaque, com o médio brasileiro a ameaçar seriamente a titularidade de Javi Garcia. Aimar e Saviola têm igualmente mostrado índices físicos apreciáveis.
Os problemas da equipa situam-se mais atrás.
Se, por um lado, as ausências dos titulares (três dos quatro habituais defesas) muito se têm feito notar, por outro, o guarda-redes Roberto tarda em afirmar-se, e vai confirmando, jogo a jogo, as piores expectativas, tornando-se um “caso” nesta pré-temporada benfiquista.
Será problemático para o Benfica continuar a sofrer três golos por jogo, como sofreu neste torneio de Guimarães, pois nem sempre irá marcar cinco. Dos golos sofridos nos dois jogos, três têm a marca pessoal de Roberto, o que significa que, dos nove golos encaixados em toda a pré-época, cinco (mais de metade) deveram-se a erros do espanhol. É demais.
Não vou crucificar o jogador, mas questiono se não seria aconselhado proteger um pouco a sua integração, dando algum espaço a Júlio César e Moreira neste tipo de jogos.
Seja como for, temo que o Benfica, que, quanto a mim, com Quim, não tinha qualquer problema na baliza (recordo que nas competições perdidas, Taça e Liga Europa, não era o minhoto que estava entre os postes), o tenha agora, oito milhões e meio de euros depois. É que, ao contrário de muitos benfiquistas, não acredito, nunca acreditei, que existissem por aí, ao virar da esquina, guarda-redes com o perfil que muitos vulgarmente apontam, daqueles que “valem pontos”, agarram todos os cruzamentos, e não cometem erros, ou seja, perfeitos. Preud’Homme foi único (porventura o melhor em toda a história do clube) veio cá parar por acaso, em fim de carreira, e hoje, os que se lhe comparam são Casillas, Buffon, Cech, e mais dois ou três. Estão, obviamente, inacessíveis, e todos os outros são, nas melhores das hipóteses, como…Quim (discretos e regulares). Terá sido este também o erro de análise da SAD encarnada? O futuro dirá.
No sábado lá estarei, para matar saudades do Estádio da Luz, e do futebol ao vivo. Esse sim, há algum tempo que não vejo.

NO NEWS, GOOD NEWS

Trata-se, na verdade, de um plantel de luxo. Por mim, fechava-o já a sete chaves.
Faço votos para que esta angústia do mercado aberto termine depressa, pois, ao contrário de outros anos, não espero, nem quero, novas contratações. Apenas, que tudo se mantenha como está.

A ACTUALIDADE DOS CAMPEÕES

Com o Mundial concluído, e bem concluído, as atenções voltam-se de novo para o futebol nacional.
Entretanto, e antes de entrar na pré-temporada propriamente dita (período que, digo desde já não me entusiasma particularmente), há que pôr a escrita em dia, trazendo à colação os temas que, devido ao andamento do Mundial, foram entretanto ficando para trás. Falo, claro, da actualidade benfiquista.
Vamos a ela:
DI MARIA - No momento actual dos mercados, vender um jogador por 30 milhões de euros é uma oportunidade que poucos clubes podem desperdiçar. Não havia, pois, nada a fazer para evitar a partida do craque argentino, que julgo ter sido muito bem vendido.
Luís Filipe Vieira tinha afirmado que recusaria qualquer proposta abaixo da cláusula? Sim, e fez muito bem, valorizando o jogador, e seguindo a estratégia negocial que mais servia os interesses do clube, mesmo que à custa da sua imagem pessoal. Se dissesse que vendia por 30, provavelmente o atleta teria saído por 20. Qualquer merceeiro entende isto.
DAVID LUÍZ - Se existem de facto propostas na casa dos 35 milhões, acho, francamente, que seria também de aproveitar, fechando então o plantel a mais saídas.
Gosto muito dele, tal como gostava de Di Maria, mas não há insubstituíveis. Entendo sobretudo que o Benfica não deve, nem pode, vender mais do que dois jogadores da equipa titular. Sendo Di Maria e David Luíz provavelmente os mais valiosos, podiam ser eles os eleitos. Mas naturalmente prefiro que fique.
LUISÃO - Este, pelo contrário, não pode, de forma alguma, sair. É capitão, tem anos de casa, é decisivo na integração dos jovens sul-americanos que vão chegando, e, sobretudo, não tem um valor de mercado compatível com a sua importância na equipa. Se o seu salário não está entre o lote dos mais altos, corrija-se rapidamente esse diferencial, e mantenha-se a "Girafa" no comando da defesa.
ROBERTO JIMENEZ - Faço parte do lote de benfiquistas surpreendidos (para não dizer cépticos) com esta contratação. Custou uma fortuna, sobretudo tendo em conta que se tratava de um jogador que não tinha lugar no seu clube (por isso foi emprestado), e que nunca foi objecto de qualquer convocação para a selecção principal do seu país (exigência que seria lícito colocar a um guarda-redes de 8,5 milhões de euros).
Dito isto (que andava aqui entalado...), e uma vez que o facto está já consumado - sendo ele a aposta para a baliza do Benfica - também não creio que faça sentido colocar-lhe agora mais pressão do que a já expectável num jovem de 24 anos, que muda de paás e chega a um clube com grandes ambições.
Não começou bem, mas é necessário que os benfiquistas se recordem dos primeiros jogos de Luisão ou Cardozo no clube, ou das primeiras épocas de Fábio Coentrão e Di Maria, para perceber que a adaptação de novos jogadores nem sempre é tão rápida como os adeptos, e os próprios, gostariam.
Esqueça-se pois o preço (já está, paciência...), e apoie-se o jovem, certamente talentoso, de modo a que possa exprimir tranquilamente as suas capacidades. No final da época, com dezenas de jogos em cima, ver-se-á então se justificou ou não a aposta.
OUTROS REFORÇOS - Do pouco que vi, gostei. Quer Gaitán (que à primeira vista parece um substituto perfeito para Di Maria), quer Jara, quer mesmo Fábio Faria, deram boas indicações. Veremos se as confirmam.
NECESSIDADES DA EQUIPA - Se não sair mais ninguém, e os novos recrutas confirmarem as melhores expectativas, não vejo francamente que seja necessária qualquer outra contratação. A menos que o mercado apresente uma oportunidade irrecusável, por mim consideraria, desde já o plantel fechado.E ainda era capaz de emprestar o Luís Filipe e o Felipe Menezes, ficando com 23 jogadores, que chegam e sobram para as várias competições.

O MUNDIAL de A a Z

Como forma de fechar o livro deste Mundial, segue-se um pequeno balanço, letra a letra, da grande competição sul-africana:
A de ARBITRAGEM
É verdade que o golo não validado à Inglaterra vai ficar a manchar o desempenho dos árbitros (naquele caso, do fiscal de linha), mas à excepção desse e de outros episódios pontuais, creio que a arbitragem foi genericamente aceitável.
Existiram erros, e, se quisermos ver constantemente o copo meio vazio, iremos rebuscar um fora-de-jogo aqui, um penálti ali, fazendo um drama com cada um deles. Mas o futebol é mesmo assim, no Mundial e em todo o lado. Há erros dos defesas, dos avançados, dos guarda-redes e… dos árbitros.
Sou bastante céptico quanto à utilização de meios tecnológicos que alterem o curso do jogo. Prefiro um futebol fluído, mesmo com um ou outro equívoco de arbitragem. Mas essa discussão daria para um A a Z completo.
O que mais me preocupa é a tendência dos principais juízes (sobretudo os europeus) para apitar por tudo e por nada, interrompendo o jogo ao mínimo contacto. Nessa matéria, Olegário Benquerença mostrou o motivo pelo qual a Liga Portuguesa tem, tantas vezes, tão pouca qualidade futebolística, batendo os recordes de faltas assinaladas nos jogos que dirigiu.
B de BOM FUTEBOL
Tem-se ouvido e lido que o Mundial decepcionou, que os jogos foram aborrecidos, que as equipas jogaram a medo, mas, depois dos primeiros dias em que eu próprio aderi a essa tese, julgo que acabámos por assistir a um dos melhores Mundiais das últimas décadas.
O futebol romântico do Espanha 82 morreu e está enterrado. Não adianta esperar que nos volte a encantar. A Lei Bosman retirou identidade nacional aos clubes, e com isso as selecções descaracterizaram-se, adoptando estilos de jogo semelhantes entre todas elas. A preparação atlética dos jogadores tornou-se muito mais cuidada, mesmo nas selecções tidas como mais fracas, o que equilibrou os pratos da balança, fechando os jogos com as chaves do rigor e do erro mínimo. Este é um processo irreversível, e que dura há já alguns anos.
Não me parece, pois, que o França 98, o Coreia/Japão 2002 ou o Alemanha 2006 tenham tido alguma coisa a mais que este África do Sul 2010. Pelo contrário, tivemos nesta competição várias equipas com pendor ofensivo (à cabeça das quais a campeã), assistimos ao despontar de novas estrelas (Muller, Ozil, Pedro, Vanderwiel, Cavani, Coentrão etc), testemunhámos a consagração do grande futebol espanhol (com um estilo de jogo que não se vira em Mundiais anteriores), tivemos uma grande Alemanha, uma boa Holanda, e várias selecções de segunda linha que surpreenderam pela positiva, desde o Uruguai ao Gana, passando pelo Paraguai, Estados Unidos, Chile ou Eslováquia - além de que partidas como o Alemanha-Argentina, o Uruguai-Holanda ou o Espanha-Alemanha, para falar apenas na fase decisiva, apresentaram qualidade e beleza capaz de pedir meças aos melhores jogos dos mundiais de outras eras.
Os saudosistas que se habituem. Isto agora é mesmo assim. Não existe melhor. E estou em crer que qualquer das principais equipas deste Mundial, com a sua capacidade física, com o seu rigor táctico, com a sua concentração competitiva, ganharia, sem dificuldade, a qualquer das equipas de há 30 anos atrás.
C de CRISTIANO RONALDO
Sempre tive como certo que para um grande Mundial da selecção portuguesa seria imprescindível um grande Cristiano Ronaldo. Ele não apareceu.
Já disse várias vezes tudo aquilo que penso do jogador madeirense: tem capacidades físicas e técnicas para se tornar num dos melhores de sempre, mas infelizmente, nos últimos dois anos, não só não tem evoluído, como tem de certa forma regredido, dando preocupantes sinais de vedetismo e acomodação.
Este Mundial podia e devia ser o seu. Não o das fintas, ou dos toques de calcanhar para impressionar as meninas da bancada, mas aquele em que, com o seu enorme talento, arrastasse toda a equipa para uma dimensão de jogo superior, como em tempos fazia no Manchester United. Por culpas próprias e alheias, falhou redondamente. Sai do Mundial pela porta dos tristes, e, daqui a quatro anos, com 28 de idade, terá talvez (se nos qualificarmos, aspecto em que ele terá também uma palavra a dizer) a última hipótese de entrar para a eternidade do grande futebol.
D de DESILUSÕES
Se Brasil, Inglaterra e Argentina caíram aos pés de outros candidatos ao título, e ainda tiveram tempo de mostrar algumas moléculas das suas capacidades e virtudes, já a Itália e, sobretudo, a França, saíram do Mundial com a cara coberta de vergonha.
Quanto aos transalpinos, e ao contrário do que tem sido comum afirmar-se, julgo que Marcelo Lippi terá errado no timing da renovação, e talvez alguns dos “velhos” que ficaram em casa tivessem dado jeito, até pela experiência que traziam consigo. Nunca seriam campeões, mas provavelmente também não ficariam pela primeira fase. De qualquer forma, é preocupante para a Itália a escassez de recursos que a nova geração apresenta.
Em relação á França o caso é ainda mais complicado. Ninguém entende como Domenech se manteve no cargo durante tanto tempo, mas a culpa não será exclusiva dele. Há toda uma geração de vedetas ricas e acomodadas que não têm já lugar em nenhuma selecção, das quais destacaria Anelka como símbolo maior. Também Gallas, Evra, Henry e outros pertencem ao passado. Ao contrário da Itália, no caso da França haveria que ter tido a coragem de ter romper drasticamente com algum situacionismo, coisa que terá de ser feita agora, mas já sobre as brasas do escândalo e da desonra.
Esperava-se mais também de algumas selecções africanas, como os Camarões ou a Nigéria.
E de ESPANHA
Foi a campeã, e foi uma grande campeã. Esta Espanha, que nascera no Euro 2008 (e foi sendo sedimentada no Barcelona de Guardiola), é talvez a primeira selecção, em muitos anos, que traz de facto alguma coisa de novo ao futebol.
Conforme já aqui confessei, aprecio mais um estilo de passes longos, transições rápidas e cavalgadas pelo campo fora, um pouco à semelhança do que a Alemanha, em várias ocasiões, nos ofereceu. Mas reconheço que este modelo espanhol, quando as coisas saem bem, é praticamente insuperável, e a prova está numas meias-finais em que a equipa germânica foi pouco menos que esmagada, apesar da magreza do resultado poder indiciar um equilíbrio que não existiu.
Assente num meio-campo extremamente móvel e tecnicista, onde Xavi surge como chefe de orquestra, a equipa de Del Bosque pareceu sempre capaz de dar aos jogos o andamento que mais lhe convinha, vencendo e convencendo quem lhe apareceu pela frente. Curiosamente foram duas selecções menores que lhe criaram mais problemas: primeiro a Suiça, com sucesso, depois o Paraguai, com infelicidade. Excesso de confiança? Talvez. Em todos os outros jogos a superioridade foi clara.
Impressionante o que este conjunto de jogadores tem conseguido fazer com treinadores diferentes (Aragonês, Guardiola e Del Bosque). Uma verdadeira geração de ouro de talentos aqui mesmo ao lado, mas neste caso com resultados. E que resultados!
F de FORLÁN
Depois de uma temporada fabulosa, o avançado uruguaio foi eleito pela FIFA o melhor jogador do Mundial.
Eu não iria tão longe (havia Xavi, David Villa, Sneijder, Muller etc), mas seria insensato desligar a performance da selecção uruguaia da excelente forma em que, mesmo depois de 70 jogos, apareceu o seu jogador mais representativo.
Já nos trinta, Diego Forlán tinha aqui a sua oportunidade de entrar na história do futebol internacional. Não a desperdiçou.
Olhando para o Mundial, para toda esta sua temporada, para as duas Botas de Ouro que já havia conquistado, fica a sensação de ter passado o lado dos principais clubes (foi dispensado do Manchester United), e com isso, não ter alcançado a notoriedade que o seu talento justificava.
G de GYAN
Asamoah Gyan foi o rosto da equipa do Gana, e, de certo modo, o rosto da África em todo este Mundial.
Marcou golos, deixou excelentes apontamentos, valorizou-se bastante, acabando todavia por sair em lágrimas, após um dos momentos mais dramáticos de toda a competição.
Aquele penálti, no último segundo do jogo com o Uruguai, tê-lo-ia elevado ao estatuto de herói absoluto de que, por exemplo, Roger Milla ainda desfruta. Ter-se-ia feito história, pois seria a primeira vez que África chegaria a umas meias-finais. Tudo isso foi um fardo demasiado para as costas de um jovem sem grande experiência internacional.
Tal como Óscar Cardozo no dia seguinte, protagonizou um daqueles episódios em que o futebol se torna demasiado cruel, e em que este tipo de competições (resolvidas em detalhes) é pródiga. Mas a imagem do seu talento saiu muito reforçada.
H de HOLANDA
Chega a chocar-me quando oiço dizer (e já ouvi mais de uma vez) que esta Holanda era uma das mais fracas dos últimos mundiais. Essa ideia é totalmente absurda, e entronca naquele saudosismo romântico referido mais atrás na letra B.
É verdade que, em tempos, a selecção laranja praticou um futebol mais aberto, mais entusiasta, mas também mais ingénuo. Mesmo com grandes plantéis, perdia quase sempre que tinha por diante um adversário organizado e com qualidade. Nós, com o Euro 2004 e o Mundial 2006, bem nos lembramos disso.
Para esta competição, a Holanda apareceu desde o início com uma equipa muito homogénea, bem organizada, e eficaz nas suas acções ofensivas e defensivas. Ganhou todos os jogos até à final, tal como havia feito numa espantosa, e imaculada, fase de qualificação. Proporcionou momentos empolgantes, como por exemplo a segunda parte diante do Brasil. Mostrou um excelente guarda-redes, uma revelação do lado direito da defesa, juntou a experiência de Van Bronckhorst e Van Bommel à cor do talento de Sneijder e Robben, formando uma grande equipa, na qual eu apenas trocaria o apagado Van Persie pelo eficaz Huntelaar. Na final, assumiu o favoritismo adversário, e fez o jogo que podia, quase levando a decisão para os penáltis, mesmo depois de ter desperdiçado algumas ocasiões claras de golo. Podia perfeitamente ter sido campeã mundial, e isso diz tudo.
Para mim, esta foi claramente a melhor Holanda desde Rijkaard, Van Basten e Gullit.
I de INDIVIDUALIDADES
Um dos aspectos que mais me agradou neste Mundial foi o claro triunfo do futebol colectivo. Aquele de que mais gosto. Aquele que acho mais belo.
As fintas e refintas de Ronaldo e Messi foram as grandes derrotadas, numa prova que triturou as estrelas que se anunciavam como seus protagonistas. Além da dupla referida, também Rooney, Ribery, Simão, Henry, Gerrard, Kaká, Lampard, Buffon, Pirlo, Milito, Deco, Drogba e Eto’o ficaram longe do sucesso, passando - uns mais que outros - quase despercebidos pela África do Sul.
Além dos jogadores em si, também as equipas cujo futebol assentou mais no aproveitamento do talento individual acabaram por perder. A Argentina será o exemplo mais paradigmático (não me lembro de ver tanto individualismo numa equipa profissional), mas podemos juntar-lhe o Brasil, e, de certo modo, também Portugal.
Quem mais brilhou foram aqueles que tinham uma ideia colectiva de jogo mais definida: Espanha e Alemanha, mas também Holanda, Uruguai ou Paraguai.
J de JOVENS
Já aqui ficou dito que o Mundial africano teve o condão de fazer despontar uma série de jovens até agora pouco ou nada conhecidos do grande público.
Thomas Muller foi aquele que mais me impressionou, mas há que destacar também os seus colegas Ozil, Khedira, Neuer (grande guarda-redes!), e ainda Cavani (que me lembro do Mundial sub 20 do Canadá), o já mencionado Gyan, os seus compatriotas Ayew e Annan, o holandês Van der Wiel, o espanhol Pedro, e, claro, o nosso Fábio Coentrão, para além de alguns outros espalhados pelas equipas que foram mais cedo eliminadas.
Em termos colectivos, a selecção que me parece ter maior margem de crescimento é a da Alemanha, pois a base da sua equipa é genericamente sub 23.
K de KLOSE
Por falar em Alemanha, o seu ponta de lança (já não tão jovem como os colegas acima referidos) esteve muito perto de fazer história, ficando a apenas um golo de igualar Ronaldo como melhor marcador de sempre das fases finais dos Mundiais.
Uma inoportuna gripe afastou-o do jogo de 3º e 4º lugares, e já um cartão vermelho o tinha impedido de marcar presença no último jogo da fase de grupos. Estas duas ocorrências tê-lo-ão deixado às portas da eternidade.
É de realçar, no entanto, a sua regularidade concretizadora (5 golos em 2002, 5 golos em 2006, 4 golos em 2010), bem como a forma tranquila com que lidou com as estatísticas, não se eximindo de oferecer golos a colegas de equipa sempre que foi caso disso.
L de LEO MESSI
Não se pode dizer que tenha jogado mal. Até se esforçou, correu, tentou resolver, e a dada altura (talvez pela 2ª jornada da fase de grupos) deixou no ar a esperança de poder tomar o Mundial como seu.
Foi infeliz nalgumas ocasiões de golo que teve, e que, pelos mais diversos motivos, acabaram por não se consumar. Acabou penalizado por uma selecção onde cada estrela tocava o que sabia (e nalguns casos era muito), e incapaz de fazer frente à força colectiva de um onze talentoso e organizado como o da Alemanha.
Por culpa sua ou indicação técnica, a verdade é que exagerou sempre nas acções individuais, parecendo (como, diga-se, quase todos os jogadores argentinos) querer, a cada lance, imitar o 2º golo de Maradona à Inglaterra em 1986.
Saiu por baixo, vergado ao peso de uma eliminação precoce, e sem qualquer golo marcado. E vão dois mundiais…
M de MULLER
Já falei muito dele, mas nunca é demais dizer que foi o jogador que mais me seduziu nesta competição, e ainda tenho dúvidas se, com ele, a Alemanha não teria ganho à Espanha, e não teria levantado a taça.
Ou me engano muito ou trata-se mesmo de um fenómeno. Na realidade só tem 20 anos (!), e apresenta uma estampa atlética, uma capacidade técnica, uma maturidade competitiva, e uma eficácia goleadora que anunciam estarmos perante um craque absoluto, talhado para ser, um dia, o melhor do mundo.
Os próximos anos vão dizer muito sobre a sua evolução. Há factores, designadamente psicológicos, que só quem está por perto saberá entender, e/ou condicionar. Mas talento não lhe falta, e o Bayern de Munique, por muito bem que pague, já começa a ser pequeno para ele.
N de NEUER
Falou-se pouco dele, mas creio ter sido um dos melhores, senão o melhor, guarda-redes do torneio.
Já havia dado nas vistas, em Portugal, num FC Porto-Schalke04, de má memória para os dragões. No Mundial confirmou a qualidade que fez dele titular indiscutível da selecção alemã. Mostrou-se sempre seguro, defendeu o possível, e por vezes o impossível, mas acabou traído por um cabeceamento fulminante de Puyol.
O título faz pender a balança da notoriedade para Iker Casillas, mas Manuel Neuer, ainda bastante jovem, sai deste Mundial com o seu nome em alta. Também o Schalke parece pequeno para tanta qualidade.
O de ORGANIZAÇÃO
Antes do Mundial ter início temia-se o pior, mas, um mês passado, há que tirar o chapéu á organização sul-africana.
É claro que só estando lá seria possível analisar criteriosamente tudo o que se passou a este nível. Mas os ecos que chegam são os de uma organização, senão perfeita, pelo menos semelhante ao que de melhor tem sido feito na Europa.
Como não há regra sem excepção, diga-se que os relvados ficaram aquém daquilo que seria de esperar numa competição desta importância.
P de PORTUGAL
Já muito foi dito a respeito da participação portuguesa no Mundial. A nossa selecção chegou até onde podia, cumpriu o seu destino, e apenas caiu aos pés do campeão. Independentemente da análise que se faça acerca do desempenho de Queiroz, a verdade é que dificilmente qualquer outro seleccionador teria ganho a esta Espanha.
Diz-se que poderíamos ter perdido de outra forma. Como? Por 4-2 em vez de 1-0? Admito que sim, mas não é por aí que defendo uma mudança.
Sou crítico de Queiroz, mas não me parece que seja uma eliminação nos oitavos-de-final o melhor argumento para a sua substituição. Se nos lembrarmos da fase de apuramento, a conversa talvez mude de figura. Se atendermos aos casos de Deco, Nani ou Ronaldo percebemos, enfim, porque motivo este seleccionador não serve para uma equipa com ambições.
Deste Mundial fica a goleada à Coreia, e o medo de perder em todos os outros jogos.
Q de QUEIROZ
No ponto anterior ficou razoavelmente explicada a minha posição sobre a selecção nacional, e, consequentemente, sobre Carlos Queiroz. Resumindo, creio que Portugal, com ou sem este seleccionador chegaria mais ou menos até onde chegou, mas num contexto diferente (nomeadamente quanto ao alinhamento dos jogos e dos adversários) poderia ter sofrido, em resultados, os efeitos de um líder incoerente, instável, sem carisma, e sem capacidade para gerir todas as componentes de uma presença nacional num Campeonato do Mundo.
A forma como decorreu a qualificação prova as insuficiências de Queiroz, quer ao nível da leitura táctica da equipa e dos jogos, quer em termos de disciplina e comunicação. Um seleccionador não pode ser um simples organizador. Pelo contrário, tem de saber construir uma equipa, fazer substituições, aglutinar jogadores e adeptos. Queiroz não o fez, nem o fará. Uma questão de perfil.
R de ROBBEN
Começou o Mundial lesionado, mas ainda foi a tempo de mostrar todos os argumentos que fazem dele um dos melhores jogadores do mundo na actualidade.
Na fase decisiva da prova, e mais do que Sneijder, foi ele a grande esperança da Holanda. Acabou por falhar, diante de Casillas, a grande hipótese que teve de entrar para a história das finais. Fica na entanto a memória de grandes prestações, de grandes momentos individuais, de arrancadas, dribles e, também, dois golos, mas sobretudo de alguém com quem todos os adversários tiveram grandes dificuldades em lidar.
S de SURPRESAS
Embora a final do Mundial tenha sido inédita, nem Espanha, nem mesmo Holanda, surpreenderam o mundo do futebol. Já o mesmo não se pode dizer da eliminação da Itália aos pés da Eslováquia, da derrota inicial da Espanha diante da Suíça, do desaire Francês, da vitória circunstancial da Sérvia frente à Alemanha, ou do empate imposto pelos Estados Unidos à Inglaterra.
Na verdade, todas as grandes surpresas ocorreram na primeira fase, pois a partir dos oitavos-de-final a lei dos mais fortes foi trilhando o seu caminho. Talvez não se esperasse a vitória da Holanda perante o Brasil, mas, de resto, todos os resultados dos jogos eliminatórios foram, digamos, normais.
No fim, venceu um dos grandes favoritos: a campeã europeia Espanha.
Assim, qualquer polvo consegue acertar.
T de TELEVISÃO
O Mundial televisivo trouxe uma coisa boa, e uma má. Começando pelo negativo, a qualidade da imagem fornecida pelas operadoras ficou aquém do desejável, sobretudo para quem não dispunha de Alta Definição. É fácil fomentar e difundir esta nova opção quando se diminui a qualidade da definição normal, mas parece ter sido isso mesmo que aconteceu.
O melhor foi o programa diário da RTPN, conduzido por Carlos Daniel, que terá sido o mais interessante e cuidado programa desportivo de sempre na televisão portuguesa. Bons convidados, excelentes analistas, curiosidades, memórias, debate, tudo na dose certa, e com a elegância e o rigor que o fantástico moderador foi impondo. Apenas um reparo: a defesa de Carlos Queiroz, de tão efusiva, cheirou, algumas vezes, a amizade pessoal.
De resto, realce ainda para os comentários de Paulo Bento na Sport Tv, que deram brilho a alguns (infelizmente poucos) jogos.
U de URUGUAI
É um histórico do futebol, mas as prestações das últimas décadas nada deixaram na memória dos adeptos.
Comandados por Diego Forlán, mas contando também com Luís Suarez, Cavani, Diego Perez, Lugano e Maxi Pereira em plano de destaque, chegaram às meias-finais, e encantaram pelo futebol arejado que souberam, em quase todas as situações, mostrar ao mundo.
Não creio que o quarto lugar uruguaio seja muito mais do que consequência de um conjunto de circunstâncias (afinal de contas não eliminaram nenhuma selecção poderosa). Mas a verdade é que a história não se compadece com esse tipo de conclusões. Chegaram às meias-finais, e foram uma das quatro melhores selecções do mundo.
V de VILLA
Não confirmou nas últimas partidas as promessas que tinha feito na fase inicial, e que o apontavam como um dos grandes jogadores deste Mundial.
Ainda assim, sai como campeão do mundo, e um dos melhores marcadores da prova, o que é notável, sobretudo para quem já havia alcançado semelhante façanha no Euro 2008.
Foi decisivo nos oitavos-de-final, e nos quartos-de-final, quando com golos solitários seus, a Espanha ultrapassou Portugal e o Paraguai.
W de WESLEY SNEIJDER
Foi, a par de Robben, um dos grandes jogadores da selecção holandesa. Com a ajuda da FIFA, foi também um dos melhores goleadores da prova, o que para um centrocampista não deixa de ser notável.
Sneijder, que tivera uma época repleta de êxito e de títulos, cedo assumiu o controlo da equipa, e uma larga percentagem do sucesso da Laranja deveu-se ao seu inesgotável talento. Da sua prestação fica, como ponto alto, a segunda parte diante do Brasil, onde marcou um golo…e meio, e foi absolutamente decisivo para a vitória da sua equipa.
Figura claramente no top 5 dos melhores jogadores do campeonato.
X de XAVI
Se Villa foi intermitente, Xavi foi regular, tornando-se, quanto a mim, a par de Muller, o melhor jogador deste campeonato.
Se fizermos o exercício de retirar o pequeno médio da equipa espanhola, veremos o quanto tal ausência se reflecte na respectiva manobra colectiva, pois todo aquele jogo rendilhado, de passe curto e busca do momento de ruptura, passa por ele.
Não é o estilo de jogador que mais me fascina, mas nem por isso deixo de reconhecer a qualidade absolutamente superlativa que transmite, quer à selecção, quer ao Barcelona.
Y de YEBDA
Hassan Yebda foi um dos muitos jogadores do Benfica presentes no Mundial. Tal como o compatriota Halliche, o médio cedido ao Portsmouth passou despercebido, mas Maxi Pereira e Fábio Coentrão brilharam a grande altura, Ramires mostrou atributos, e deixou a sensação de que, jogando mais, poderia ter sido mais decisivo, enquanto que Luisão não saiu do banco de suplentes. Cardozo andou entre o céu e o inferno fruto dos penáltis, convertidos e desperdiçados, mas em jogo jogado dificilmente poderia ter feito mais numa selecção bastante defensiva – sendo que ele é tudo menos um jogador de contra-ataque. Esperava-se mais de Di Maria, entretanto transferido para o Real Madrid, mas o modelo de jogo argentino também não o privilegiou, proporcionando pouco jogo pelos flancos, e obrigando-o a cuidados defensivos que no Benfica não tinha.
Maxi, Fábio e Ramires saíram por cima, os restantes desaproveitaram o Mundial para se valorizar.
Z de ZANGAS
Mesmo não tendo termos de comparação com o que se passou na França, os episódios polémicos em torno da selecção portuguesa multiplicaram-se, desde o início do estágio até ao último jogo. Primeiro Nani, depois Deco, mais tarde Cristiano Ronaldo, deixaram para o exterior a ideia de uma falta de liderança gritante, de alguma desorganização, e remeteram a nossa memória para um passado que, com Luiz Felipe Scolari, parecia ter sido definitivamente abandonado.
Os próximos tempos irão fazer luz sobre muito do que realmente aconteceu. Uma coisa é certa: muitos dos jogadores não gostam de Queiroz, o que não pode deixar de ser visto com alguma apreensão, quando estamos à beira de iniciar a fase de qualificação para o Europeu de 2012.

TÃO LONGE, TÃO PERTO

FUTEBOL:
Campeã mundial e campeã europeia
BASQUETEBOL:
Campeã mundial, campeã europeia e vice-campeã olímpica
HÓQUEI EM PATINS:
Tri-campeã mundial e penta-campeã europeia
FUTSAL:
Vice-campeã mundial (2 vezes campeã nas últimas 3 edições) e tri-campeã europeia
ANDEBOL:
Campeã mundial em 2005 e medalha de bronze nos JO de Pequim
VOLEIBOL:
Vice-campeã da Liga europeia (campeã em 2007)
FUTEBOL JOVEM:
4 vezes campeã europeia de sub-19 em 8 anos, actual vice-campeã europeia de sub 17 e 2 vezes campeã em 4 anos; dois segundos lugares e um terceiro nos 4 últimos mundiais de sub 17.
CICLISMO:
4 últimos vencedores da Volta a França (Pereiro, Contador, Sastre e Contador), 2 últimos vencedores da Volta a Espanha (Contador e Valverde), 4 últimos vencedores da Volta a Portugal (Blanco 3 e Tondo), Volta a Itália de 2008 (Contador), campeão olímpico (Sanchez)
TÉNIS:
Rafael Nadal nº 1 do mundo e vencedor de Roland Garros e Wimbledon 2010
MOTOCICLISMO:
Dois primeiros classificados no mundial de Moto GP 2010 (Lorenzo e Pedrosa)
AUTOMOBILISMO:
Carlos Sainz vencedor do Dakar 2010, Fernando Alonso campeão do mundo de F1 2005 e 2006
CLUBES:
-Futebol (Barcelona campeão mundial, Atlético de Madrid vencedor da Liga Europa / 14 troféus internacionais nos últimos 13 anos)
-Andebol (Barcelona vice-campeão europeu / 28 troféus europeus nos últimos 17 anos)
-Basquetebol (Barcelona campeão europeu / 7 troféus europeus nos últimos 8 anos)
-Hóquei em Patins (Barcelona actual campeão europeu e Liceo último vencedor da Taça Cers / 31 troféus europeus nos últimos 19 anos)
-Futsal (Interviu actual vice-campeão europeu / 5 títulos europeus nos últimos 9 anos)
Impressionante !

O MEU ONZE IDEAL

INIESTA...E FIESTA

Tal como se esperava, e até um polvo previu, a Espanha venceu a Holanda e conquistou o Campeonato do Mundo 2010.
Era este o desfecho mais aguardado, sobretudo depois da demonstração de classe que a equipa de Del Bosque havia feito, nas meias-finais, diante da Alemanha. Foi essa, aliás, a verdadeira final deste torneio, pois estiveram então frente a frente as duas melhores selecções da prova - e diga-se também que, de entre elas, ficou aí amplamente demonstrado o claro ascendente espanhol.
O jogo final não foi dos mais bonitos (muitas faltas, muito nervosismo), mas por tudo o que ficou para trás, o triunfo da “Roja” traduziu o encontro entre a história e a sua coerência. O Mundial teve pois o vencedor certo.
Esta equipa já havia deslumbrado a Europa em 2008, realizou uma fase de qualificação imaculada, e só uma inesperada derrota com a Suíça, a abrir esta fase final, lançou algumas dúvidas sobre a sua firme candidatura ao título. Trata-se de um conjunto de jogadores de excepção, alicerçado num modelo de jogo bem definido (o do Barcelona), e que, salvo circunstâncias excepcionais (como essa partida frente à Suíça), é extremamente difícil de contrariar. A Holanda fez aquilo que podia e devia, pressionou, adiantou a defesa, tentou surpreender em contra-ataque e nos lances de bola parada, criou oportunidades, mas não chegou.
Podia ter sido ela a erguer a taça? Podia, e se nos lembrarmos da forma como Robben desperdiçou (e Casillas evitou) o golo, quando a segunda parte já ia adiantada, verificamos como são os pequenos detalhes a determinar o curso destas grandes competições. Mas é também por aí, pelo falhanço de uns, e pela eficácia de outros, que se escreve o destino.
A vitória da Espanha neste Mundial foi também a vitória do bom futebol. Embora com estilos diferentes, todas as selecções semi-finalistas apostaram num jogo positivo, virado para a procura do golo, e essa é a nota de destaque que vai ficar a marcar este campeonato. De entre elas, a Espanha, mesmo sem marcar muitos golos, foi a mais exuberantemente ofensiva, aquela que privilegiou maior posse e a circulação da bola, e a que, em mais ocasiões, por mais tempo, e de forma mais continuada e consequente, encantou os adeptos, com um tic-tac de passes, desmarcações e fluidez de jogo capaz de asfixiar qualquer adversário. E com Casillas, Ramos, Pique, Xavi, Busquets, Iniesta, Pedro e Villa, com muitos anos de futebol pela frente, esta selecção pode continuar a brilhar nas próximas competições.
Para um grande país europeu, onde se disputa uma das melhores ligas do mundo, onde há muito tempo se fabricam grandes campeões em diferentes modalidades (hóquei, futsal, andebol, basquetebol, motociclismo, Contador, Alonso, Nadal etc), este era o momento que faltava. Que o desfrutem, enquanto a nós, aqui tão perto, nos restará olhar para o seu exemplo.

JOGOS PARA A ETERNIDADE (17) - Os Mundiais e as Finais 1978-2006






Quando estamos à beira de mais uma final do Campeonato do Mundo, é altura de recordar outras finais, e outros Mundiais, em mais uma viagem pelos alçapões da memória.

Esta competição representa, e sempre representou, o topo da hierarquia do futebol, e a sua história confunde-se com a história da própria modalidade. As grandes estrelas foram, com poucas excepções, as estrelas dos Mundiais, e durante muito tempo todas as inovações tácticas e estilísticas ocorriam justamente nesta prova, acima da qual não existia, nem existe, de facto, mais nada.

Também para mim, acima dos Mundiais só…o Benfica. Desde criança que me apaixonei pela grande gala do futebol internacional, até porque ainda me lembro de ser esta a única ocasião em que a televisão transmitia jogos em dose suficente para satisfazer a minha gula.

O primeiro Mundial de que me recordo, e de forma razoavelmente nítida, foi o da Argentina em 1978.


ARGENTINA 78

Lembro-me, um por um, dos vários jogos transmitidos pela RTP, numa altura em que apenas a final da Taça dos Campeões e a final da Taça de Inglaterra (sim, estou a dizer bem), chegavam aos nossos ecrãs.

Não me perguntem por tácticas nem modelos de jogo. Com 8 anos, o que me impressionou foram os papelinhos que cobriam as bancadas do Estádio do River Plate, e provocavam um efeito visual espectacular, e infelizmente, não mais repetido em Mundiais.

Argentina e Holanda foram os finalistas. A selecção europeia chegava à sua segunda final consecutiva, mas, francamente, não alcanço nem uma simples frame do Mundial anterior.

Vi o jogo a preto e branco, como era próprio da altura. Mas, curiosamente, uns meses mais tarde, numa montra de electrodomésticos na Rua Morais Soares, assisti pela primeira vez na vida a uma exibição de TV a cores, (re)vendo justamente esta final. Foi um problema para me arrancarem de lá…

O jogo começou atrasado porque o árbitro não gostou de uma ligadura num braço de um dos irmãos Van der Kerkhof, que na altura eram titulares da selecção holandesa.

Na primeira parte , golo de Kempes. Na segunda, já perto do fim, empate por Nanninga de cabeça. À época, não dei muita importância ao caso, mas a verdade é que, com 1-1 no marcador, Rensenbrink atirou uma bola ao poste que daria o título mundial aos holandeses. O extremo do Anderlecht era, aliás, a grande estrela a sua selecção, na ausência de Cruyff, cujo motivo na altura não entendi, uns anos depois lá me explicaram, para recentemente deixar novamente de perceber. Quanto não vale ser criança?

O melhor jogador do mundo era, para mim, Mário Kempes. Foi ele que marcou os dois primeiros golos do jogo de todas as decisões, um dos quais já no prolongamento. Além disso tinha estampa de craque, com um cabelo esvoaçante, meias em baixo, e cara de matador.De Maradona só ouvi falar um ano depois, através das páginas do “Onze”.

“Onze”, ainda bem que falo nele. Em 1978 era uma palavra mágica para mim, de tanto maçar os meus pais para o comprarem. O primeiro número que tive, e ainda guardo, era justamente o da apresentação das equipas para este Mundial, integralmente traduzido em português (creio que só a partir daí foi vendido entre nós). O segundo, que também ainda tenho, e já sem tradução, foi um fantástico álbum fotográfico da competição, que vi e revi centenas…milhares…milhões, de vezes, e conheço praticamente de cor. A dita revista, ensinou-me mais francês - especialmente palavras como “but” ou “pelouse” - que todos os professores da língua que tive na escola.

Com o triunfo argentino terá nascido, por esses dias, o meu fascínio pelo país do tango, que infelizmente ainda não tive oportunidade de conhecer. Maradona faria o resto.

Aqui vai a equipa argentina, que consigo escrever sem qualquer consulta ou hesitação: Fillo, Olguin, Galvan, Passarella, Tarantini, Ardiles, Gallego, Kempes, Bertoni, Luque e Ortiz. Quanto à Holanda, lembro-me de Krol, Rep, os irmãos Vander Kerkhof, Nanninga (que marcou o golo) e Rensenbrink. Ah, e também o Janssen e um guarda-redes sui-generis, que sofria golos sem se mexer, chamado Jongbloed.


ESPANHA 82

Se do Argentina 78 nem todos se recordam, creio que o Mundial Espanha 82, pelo contrário, marcou fortemente a minha geração, e terá sido um dos melhores, senão o melhor, de sempre.

aqui evoquei o Brasil-Itália (2-3) que eliminou a selecção que praticava o mais bonito futebol que alguma vez vi na vida.

Mas este Mundial teve mais do que um dos melhores Brasis de todos os tempos. Foi também uma impressionante parada de estrelas que coincidiram no tempo, como, além de Zico, Sócrates e Falcão, também Maradona, Rummenigge, Platini, Paolo Rossi, Dino Zoff, Kempes, Boniek, Lato, Breitner, Keegan, Dassaev, Roger Milla, isto para referir aqueles que me vêm à cabeça no imediato. Os grandes jogos sucederam-se, e alguns deles figuram ainda hoje na galeria dos grandes clássicos de todos os tempos.

A final foi marcada pela ausência do…Brasil, com quem toda a gente contava. Ainda assim, o Itália-Alemanha foi uma grande final, à altura do resto da competição, com os italianos, orientados por Enzo Bearzot, a darem sequência a uma série de excelentes exibições (Argentina, Brasil, Polónia e Alemanha), quase sempre coloridas com golos de Paolo Rossi, depois de uma fase de grupos apagada, com três empates e apuramento por número de golos marcados.

Já havia televisão a cores no país, mas em minha casa só mais tarde, por alturas do Europeu de França, em 1984, teria direito a tal luxo. Vi todo o Mundial a preto e branco, e vibrei mais com ele do que com qualquer outro, o que para mim é prova suficiente de que a tecnologia não traz felicidade.

Também me lembro bem do onze da Itália, sem necessitar de qualquer consulta,: Zoff, Gentile, Scirea, Collovatti, Cabrini, Oriali, Tardelli, Antognioni, Conti, Grazziani e Rossi.

Que saudades…


MÉXICO 86

Para os portugueses México 86 lê-se “Saltillo”. Deixarei essas recordações para outra oportunidade, e direi que este foi, para mim e para muita gente, o último dos mundiais da era, eu diria, neo-romântica.

Possivelmente graças a Maradona, talvez também à qualidade de muitos dos jogos – não repetida nos eventos seguintes -, mas em larga medida porque nos anos noventa as transmissões televisivas de futebol tomariam de assalto o nosso quotidiano, retirando ao Campeonato do Mundo a exclusividade que então tinha nessa matéria.

Para mim, pessoalmente, existiu também o factor idade. Com 16 aninhos, este foi o último Mundial da minha inocência, e em breve as prioridades seriam outras, depois de uma infância e pré-adolescência totalmente dedicadas ao futebol, e de vários anos ao longo dos quais quase não me lembro de brincar com nada que não fosse, de algum modo, relacionado com bola, jogo, cromos, campeonatos de caricas (lá está, sem a tecnologia dos vídeo-jogos, mas com igual entusiasmo) ou revistas com jogadores.

Depois de vários one-man-shows protagonizados por Diego Maradona (o ás dos ases da minha memória futebolística), chegou o dia da grande final: Argentina e a crónica Alemanha, num domingo ao final da tarde (em Portugal).

Maradona não marcou nesta partida, o que causou um ligeiro desencontro com a história. Mas a Argentina ganhou 3-2, num jogo empolgante, em que depois do 2-0 os alemães, em dois pontapés de canto, chegaram ao empate, para depois, a passe do mestre, Burruchaga evitar o prolongamento e dar o segundo título ao país das pampas.

À medida que a idade avança, um estranho mecanismo deixa a memória um tanto mais turva. Já não consigo dizer toda a equipa campeã sem me engasgar. Talvez isso também suceda pelo facto de toda ela se poder enunciar apenas num nome: Diego Maradona. E fiquemo-nos por aqui.


ITÁLIA 90

Foi provavelmente o pior Mundial de todos os tempos, e foi também aquele que vivi com menor entusiasmo, fruto das circunstâncias da idade: 20 aninhos, já mais ou menos bem vividos.

Assisti ainda assim a bastantes jogos, entre eles, claro, a final.

O jogo foi pobre, defensivo e violento, como a maioria dos que o antecederam. Deste Mundial salvou-se um ou outro pormenor de Maradona (já longe do fulgor mexicano), a brilhante e empolgante selecção dos Camarões (com Milla a fazer das suas), a eficácia alemã (data desta altura a célebre frase de Lineker, dos onze contra onze), e pouco, ou nada, mais.

Muitos empates, muitos zero a zeros, cenas feias (como a cuspidela de Rijkaard a Voller), vários jogos decididos por penáltis, estrelas sem brilho – e não posso deixar de referir Van Basten, o melhor ponta-de-lança que me lembro de ver jogar, e que partia para a competição no auge da sua carreira, deixando a Itália sem honra nem glória.

No fim, como dizia Lineker, ganharam os alemães. E, embora tenham sido a melhor equipa ao longo da prova (ou pelo menos a menos má), a forma como venceram foi equívoca: um penálti muito duvidoso nos momentos finais da partida, convertido por Brehme.

Da selecção campeã recordo apenas as principais estrelas: Matthaus (ainda assim o homem da prova), Klinsmann e o referido Brehme, todos eles jogadores do Inter de Milão.


ESTADOS UNIDOS 94

Realizar um Mundial num país pouco dado a futebóis foi um risco que a FIFA decidiu assumir. E saiu-se bem, pelo menos em termos organizativos e financeiros.

Dentro das quatro linhas as coisas correram melhor que quatro anos antes. Foi pena que a final não correspondesse às expectativas, acabando decidida por penáltis, depois de um bocejante 0-0.

Este foi o último Mundial de Maradona, que, mesmo marcando um golo, acabou por sair pela porta pequena, confrontado com uma análise de doping positiva.

Da final, que era também o tira-teimas entre Romário e Roberto Baggio para se perceber quem era o melhor, recordo que foi justamente a estrela italiana a falhar o penálti decisivo, depois de Baresi (outro dos esteios da equipa) ter também falhado na sua vez.

Ayrton Senna tinha morrido havia pouco tempo, e o Escrete dedicou-lhe o triunfo. 24 anos depois, o Brasil voltava a ser campeão. Era agora tetra-campeão.

Vamos ver se me lembro da equipa toda. Ora aqui vai: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos, Leonardo, Dunga, Mazinho, Raí, Zinho, Bebeto e Romário.


FRANÇA 98

Estava destinado a ser o Mundial de Ronaldo (não este, mas o outro). Foi o Mundial de Zidane, e duma pátria que, jogando em casa, aproveitou para enaltecer as virtudes da imigração.

Da selecção francesa faziam parte vários “aculturados”, e foi o argelino quem mais brilhou, inclusivamente na final, marcando os dois primeiros golos.

Muito se falou duma misteriosa doença que terá afectado o “fenómeno” brasileiro na manhã antes da final. Nunca percebi o que se passou, embora tenha as minhas deconfianças.

O certo é que a constituição das equipas chegou a ser dada sem o número 9, embora ele acabasse por alinhar de início. Debalde, o dia era da França, que, com uma excelente exibição, conseguiu ser campeã pela primeira vez.

Para a história ficaram as excelentes prestações da Croácia e da Holanda, eliminadas nas meias-finais. A qualidade geral da prova foi aceitável, e nem a ausência de Portugal me retirou o entusiasmo que, com 28 anos, e uma série de assuntos resolvidos, começava a voltar paulatinamente aos níveis da infância.


JAPÃO/COREIA 2002

Se exceptuarmos o Itália 90, este será provavelmente o pior dos Mundiais que recordo.

Além da triste prestação portuguesa – com uma selecção cheia de equívocos, com um seleccionador incompetente, muito amadorismo e indisciplina -, a prova ficou marcada pelos gravíssimos erros de arbitragem, sobretudo nos jogos da selecção da Coreia do Sul, levando a equipa da casa ao colo até às meias-finais.

Foi o primeiro Mundial transmitido pela Sport Tv, o que significa que muitos jogos não tiveram cobertura em sinal aberto. Embora já tivesse Sport Tv em casa, por motivos de vida pessoal e profissional tinha de me deslocar bastante na altura, o que me impediu de ver alguns dos jogos.

A final quase salvou o campeonato, pois foi um bom jogo, e teve um vencedor justo: o Brasil de Scolari, e de…Ronaldo (que reapareceu em grande, depois de uma longa lesão, como que resgatando a aura perdida quatro anos antes).


ALEMANHA 2006

Todos se lembram bem dele. Portugal, ainda na ressaca do Euro 2004, e com Scolari ao leme, chegou às meias-finais pela segunda vez na sua história, feito que nem toda a gente soube reconhecer devidamente.

Obviamente que a forma como vivi o Mundial foi totalmente marcada pela prestação portuguesa, e nunca esquecerei o sofrimento de jogos como os dos oitavos-de-final (com a Holanda), e quartos-de-final (com a Inglaterra).

A final foi ganha pela Itália, mas não correu da forma que eu pretendia. Zidane havia sido o melhor jogador da prova, e aquela era a ocasião para o coroar como rei, como melhor jogador da era pós Maradona. A coisa até começou bem, com um penálti à Panenka, mas depois o homem estragou tudo. Cabeçada em Materazzi, expulsão e, talvez por tudo isso, derrota nos penáltis com uma Itália um pouco mais ofensiva do que habitualmente.

Apesar dos jogos não terem sido maus, não houve nenhuma equipa que deslumbrasse.

Na África do Sul, não tem sido bem assim…

QUE FAZ MESSI AQUI? ONDE ESTÁ MULLER?

Eis a lista dos nomeados para o prémio de melhor jogador do Mundial:
Diego Forlan (URU)
Asamoah Gyan (GAN)
Andres Iniesta (ESP)
Lionel Messi (ARG)
Mesut Ozil (ALE)
Arjen Robben (HOL)
Bastian Schweinsteiger (ALE)
Wesley Sneijder (HOL)
David Villa (ESP)
Xavi (ESP)
Tal como os prémios de melhor em campo nos jogos, também este, mesmo sem participação do público, parece estar a perder credibilidade.
Já agora, entre os nomeados, hesitaria entre Xavi e Sneijder. Venha a final para desempatar.

IRRESISTÍVEL ROJA

Uma Espanha exuberante e uma Alemanha dominada e encolhida, determinaram o desfecho da mais aguardada meia-final do Campeonato do Mundo.
A equipa de Del Bosque (que figura simpática) apurou-se com toda a justiça, e é agora a grande candidata a levantar o troféu, feito que, a concretizar-se, seria absolutamente inédito.
Devo dizer que, pessoalmente, gosto mais do estilo de futebol que a Alemanha protagonizou contra a Inglaterra e a Argentina, alicerçado em transições rápidas, passes longos, e com os jogadores a correr pelo campo como cavalos à solta. Foi, até à meia-final, a equipa que mais me apaixonou, como aqui referi há uns dias atrás. Todavia, olhando apenas a este jogo, não há qualquer dúvida sobre a superioridade espanhola, e do seu futebol miúdo e rentilhado, que, em dia de inspiração (como foi o caso), asfixia qualquer adversário, não lhe deixando sequer espaço ou tempo para pensar.
É curiosa, aliás, esta selecção espanhola, que, orientada por uma espécie de Toni do Real Madrid, tinha ontem no onze titular sete (!!) jogadores do Barcelona. Durante anos a Espanha perdeu-se em tentativas frustradas de agradar a todas as capelinhas (recordo que era sempre quase obrigatória a presença de um jogador andaluz, de um galego, e, sobretudo, de um basco), e de cumprir propósitos políticos antes dos desportivos. Isso tolheu a sua competitividade neste tipo de provas. Agora, sem pruridos de formar uma selecção com base num dos seus grandes clubes (aquele que, nesta altura, está claramente por cima, e tem mais jogadores nacionais), os resultados estão à vista. Uma grande equipa, que joga de olhos fechados, encanta o mundo, e ganha.
Voltando ao jogo, há que referir que a ausência de Thomas Muller (quanto a mim o melhor jogador alemão, e, provavelmente, um dos melhores do mundo dentro de pouco tempo) foi demasiado sentida, e isso talvez justifique a incapacidade revelada pelos germânicos para sair do espartilho em que Xavi, Iniesta, Pedro e companhia os foram envolvendo desde o apito inicial. De resto, julgo que a Alemanha não foi mais afirmativa porque a Espanha não deixou, não sendo justo apontar qualquer erro estratégico ao seu treinador. Com a juventude de Khedira, Ozil, Muller e outros, esta sedutora Mannschaft terá certamente novas oportunidades.
A final de domingo promete mais uma grande exaltação ao bom futebol. Se nesta meia-final o meu coração balançava mais para o lado germânico (ainda que não deixe de ter piada ser um dos tristemente chamados PIGS, a vencer, nos relvados, a grande potência económica europeia), já entre Espanha e Holanda, estarei claramente do lado dos espanhóis. Contudo, se Nuestros Hermanos são genericamente considerados favoritos, nem esta soberba exibição me fará pôr as mãos no lume por qualquer resultado. Uma final é…uma final, e para mim, polvos, só no tacho.

DUAS EQUIPAS, DUAS CULTURAS, UM GRANDE JOGO

Não é a final antecipada, mas creio que deste jogo sairá o favorito para domingo. Que não nos desiludam, e ofereçam mais um monumento para a galeria histórica do futebol mundial.

EMOÇÃO, FUTEBOL E GOLOS

Depois de um início pouco prometedor, o Mundial 2010 tem vindo a mostrar grandes momentos de futebol, repletos de emoção, dramatismo e belos golos. A meia-final entre Holanda e Uruguai foi mais um bom exemplo, e se os dois jogos que faltam (a disputa do terceiro lugar pouco conta) confirmarem a tendência deixada pelos oitavos e, sobretudo, pelos quartos-de-final, podemos mesmo estar perante um dos melhores mundiais das últimas décadas.
Os principais responsáveis pelo encanto desta competição são justamente as três equipas que se mantêm em prova, por sinal todas elas europeias. Sobre a Alemanha já aqui falei, a Espanha é aquilo que, infelizmente, bem sabemos, mas a Holanda, orientada por um treinador de quem nunca tinha ouvido falar, está também a revelar-se um caso sério, podendo muito bem ser ela a levantar o troféu no próximo domingo, o que seria absolutamente inédito.
Conduzida em campo pelo inesgotável talento das super-estrelas Sneijder e Robben, com verdadeiros príncipes de honor com a qualidade de Van Persie, Kuyt ou Van Bommel, faltará apenas uma dupla de centrais de maior consistência para estarmos perante uma equipa ao nível das que encantaram o mundo nos anos setenta (com Cruyff, Rep e Rensenbrink), e oitenta (com Gullit, Van Basten e Rijkaard). Esta Holanda não é tão ferozmente atacante como algumas das anteriores, mas, perdendo esse lado romântico (ingénuo?), tornou-se, por outro lado, uma armada muito mais competitiva, que logo nas primeiras partidas deixou excelente impressão. Na fase de qualificação venceu todos (!) os jogos, e nesta fase final...também. Melhor era impossível.
O Uruguai foi esta noite um digno vencido. Lutou com as armas de que dispunha (o querer, a convicção, a determinação e o vigor atlético), e terminou o jogo em cima do adversário, e em busca do seu sonho. A ausência de Luís Suarez fez-se sentir, mas creio que seria demais pedir aos uruguaios que ultrapassassem tão forte Holanda. No fim, seguiu em frente a equipa de maior qualidade individual e colectiva.
Amanhã será o dia daquela a que muitos chamam "final antecipada". A Alemanha, por aquilo que tem mostrado, merece algum favoritismo, mas nesta fase da prova, e com David Villa, Xavi e Iniesta pela frente, será oportuno lembrar que prognósticos certos só se fazem depois dos jogos. Em todo o caso, uma final Holanda-Alemanha, a lembrar Munique há 36 anos atrás, com Robben e Schweinsteiger em vez de Cruyff e Beckembauer - e um outro Muller que, ou me engano muito, ou ainda irá ser melhor que o daquela altura - seria certamente um momento delicioso para quem gosta de futebol. Será ela possível?

CONVERSAS EM FAMÍLIA

ANTERO HENRIQUE – Estou sim? presidente?
PINTO DA COSTA – Bom dia? Então que me conta?
ANTERO HENRIQUE – Está tudo tratado, tal como me pediu.
PINTO DA COSTA – Óptimo. E quando é que ele chega?
ANTERO HENRIQUE – Hoje ainda, ou no máximo amanhã. Isto correu ainda melhor do que eu pensava. Eu sabia que o presidente era um génio, mas esta..., f…-se!!
PINTO DA COSTA – Eu não lhe disse? Aqueles gajos são uns tansos, e este cabeça de cotonete ainda é mais parvo que o outro, mesmo sem beber. Isto é como mudar fraldas a bebés. E o nosso Costa também está a ir muito bem. Sempre acreditei nele (risos).
ANTERO HENRIQUE – Pois é, Maniches e o car……, ao que eles chegaram…
PINTO DA COSTA – Por ali estamos nós descansados. Pongolles, Maniches…Agora tiveram de ficar com o outro gajo que ninguém quer...
ANTERO HENRIQUE – …..humm qual ?
PINTO DA COSTA - Aquele da sérvia ou da macedónia ou lá de onde é… Que esteve para vir para cá. F…-se, do que nos safámos….
ANTERO HENRIQUE – Ah, já sei,…que era para ir para a Grécia… pois foi, livrámo-nos de boa.
PINTO DA COSTA - Coitado do Paulo…Deve estar f….connosco.
ANTERO HENRIQUE – …e agora ficam sem o capitãozinho… coitados (risos)
PINTO DA COSTA – Lembra-se o que eu lhe disse há seis meses, naquele jantar?
ANTERO HENRIQUE – Então não lembro, presidente ? Eu nunca me esqueço dessas coisas. O Zahavi ainda tinha dúvidas, até porque tem lá o puto e tal, mas os gajos caíram que nem uns patinhos. 1 milhão sempre é 1 milhão, mas o gajo trabalhou bem a coisa. O documento estava espectacular. E a questão da selecção também ajudou. Com o brasuca nunca deu para estas coisas...não é? Agora sim... perfeito! ...e ainda ficámos bem vistos com a cena do Nuno André. Com jeito ainda trazemos também o russo.
PINTO DA COSTA – Calma, homem! É preciso ir com calma. Senão os gajos ainda são corridos pelos sócios, e depois tudo se pode complicar para o nosso lado.
ANTERO HENRIQUE – Era bom conseguirmos trabalhar assim também com os outros…
PINTO DA COSTA – Pois…mas isso para aí chia mais fino. Os tempos do amigo Damásio já lá vão…
ANTERO HENRIQUE – Agora é capaz de ser complicado é quando lá formos, os assobios e tal…
PINTO DA COSTA – Onde, à Luz?
ANTERO HENRIQUE – Não presidente, o Moutinho..., a Alvalade.
PINTO DA COSTA – O quê? Nem pense nisso! Os gajos ainda o vão aplaudir, como fizeram ao Ruben. Vocês não está bem a ver o que é aquela gente. E pode ter a certeza que eu irei lá estar, sentadinho ao lado do cotonete... e desta vez até lhe aperto a mão (risos). Depois mando-lhe uns sms’s, para você se rir um pouco. Um corno é sempre um corno (mais risos).
ANTERO HENRIQUE – A vida é bela, presidente. Você consegue sempre surpreender-me. E agora como é que fazemos para ele voltar à selecção?
PINTO DA COSTA – Não se preocupe. Vai voltar, e vai ser titular. Está tudo tratado. Agora é que ele vai ficar em boa forma (risos)…E como sabe, o Raul, sem as nossas "vitaminas", vai perder o lugar. Está tudo tratado. Tudo normal. Aprenda, que eu não duro sempre, e quando eu desaparecer você vai ter de dar muito ao dente, que isto aqui não vai ser fácil.
ANTERO HENRIQUE – Logo se verá, presidente, logo se verá… Sabe que eu aprendo depressa….
PINTO DA COSTA – Olhe, tenho de desligar, que a Fernandinha já chegou…e estas coisas…(risos)
ANTERO HENRIQUE – Está bem, presidente. Um grande abraço.
PINTO DA COSTA – Um abraço. Até amanhã, e mais uma vez obrigado por tudo.
ANTERO HENRIQUE – De nada, presidente. É a minha obrigação.
NOTA: Este texto é de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

UMA ANEDOTA OU UM EMBUSTE?

Se o objectivo estratégico do Sporting ainda é tornar-se campeão, ou simplesmente continuar a ser um grande clube, a transferência de João Moutinho para o FC Porto é uma decisão verdadeiramente inacreditável, e um exemplo do total desnorte que grassa no clube lisboeta.
Se, pelo contrário, e como parece cada vez mais evidente, a finalidade é apenas evitar que o Benfica reconquiste o título, então talvez seja boa ideia reforçar o único adversário que, efectivamente, lhe pode fazer frente.
Seja como for, o que me parece é que esta dupla Bettencourt/Costinha, se deixada à solta, poderá em breve acabar com o que ainda resta do Sporting. Isso a mim não me faz muita diferença, mas não deixa de ser chocante a mansa e reiterada subserviência dos amigos de Alvalade para com Pinto da Costa - que põe, dispõe, faz dali o que quer, desvia-lhes treinadores e jogadores, rouba-lhes o capitão, ri-se deles e ainda os deixa de mão estendida.
De nada adianta a Bettencourt e Costinha (uma espécie de Damásio/Artur Jorge do Sporting) deitar agora areia para os olhos dos adeptos, procurando justificar o injustificável, pois toda a gente que conhece João Moutinho sabe tratar-se de um extraordinário profissional.
Ou me engano muito, ou esta surpreendente transferência explica também o motivo pelo qual o jogador não foi convocado por Carlos Queiroz para o Mundial. Se a uns convinha valorizar, com outros passava-se o contrário. Há quem trabalhe assim, nada deixando ao acaso, quer por cima, quer por baixo da mesa. E, como em tudo na vida, há também aqueles que são sempre os últimos a saber.