O PAI DE TODOS OS JOGOS

Num há já vários dias completamente lotado Estádio da Luz, joga-se amanhã a partida de quase todas as decisões.
Quis o destino que os dois mais representativos clubes nacionais se encontrassem a sete jornadas do fim do campeonato separados por apenas um mísero ponto de distância, jogando assim, para além dos importantíssimos pontos em disputa (na prática seis), a liderança na prova e, digamos, três quartos do próprio título.
Por muito que Fernando Santos e Jesualdo Ferreira o neguem, todos sabemos que este embate é praticamente decisivo. É certo que matematicamente nada ficará resolvido, e em caso de empate a distância de apenas um ponto permanecerá, mas é também verdade que se alguma das equipas vencer dará um passo de gigante rumo ao título, quer pela vantagem pontual que conquista a poucas jornadas do fim, quer sobretudo pelo suplemento anímico que alcançará face a essas jornadas.
Os encarnados, ganhando, ascenderão à liderança pela primeira vez em quase dois anos (desde que foram campeões), com dois pontos de avanço e vantagem no confronto directo com os portistas, quando apenas lhe restam três deslocações (Aveiro, Setúbal e Funchal). O F.C.Porto por seu lado, em caso de vitória, alargaria para quatro pontos a sua vantagem, que na prática representariam cinco devido às duas vitórias nos jogos entre ambos. Se neste último caso (vitória portista) é pacífico que a liga ficaria praticamente entregue, também naquele (triunfo benfiquista), até pela forma como decorreu a prova até aqui, pela evolução inversamente proporcional das duas equipas, não parece credível a hipótese de a equipa de Jesualdo ainda vir a arranjar forças para encetar nova reviravolta num campeonato que teve praticamente nas mãos há não muitas semanas atrás.
Por tudo isto quer-me parecer que quem ganhar o clássico de amanhã terá todas as condições para festejar em Maio próximo a conquista do título nacional.
Interessa saber pois quem parece em melhores condições para o conseguir.
Não fosse a ausência forçada de Luisão – elemento fundamental na equipa encarnada e extremamente difícil de substituir, quer pela sua capacidade de liderança na defesa, quer pela sua inigualável acção nos lances de bola parada em ambas as áreas -, e o maior desgaste físico resultante dos jogos de selecções onde todo o meio campo do Benfica realizou praticamente os dois jogos completos, diria sem reservas que o Benfica era o grande favorito para esta partida. Os encarnados vêm em crescendo de forma, levam várias vitórias consecutivas a nível interno e externo, contam com algumas das suas unidades em grande momento, têm um conjunto mais experiente e assim mais capaz de resistir à fortíssima pressão de um jogo desta natureza, e jogam perante o seu público. Têm aqui uma oportunidade de ouro de traçar a seu favor o destino desta liga.
O F.C.Porto entrou mal no ano de 2007, desbaratando pontos atrás de pontos (três derrotas em casa !!!), vendo-se afastado da Taça de Portugal e da Champions League, patenteando um desgaste físico e anímico para o qual o seu técnico não tem conseguido arranjar antídoto. Jogadores como Lucho Gonzalez ou Hélder Postiga, preponderantes na primeira fase da época, têm-se arrastado nas últimas jornadas pelos relvados (o português até mais pelo banco) de forma confrangedora. Lisandro lesionou-se.
Como se não bastassem todos estes factos, tenho também como opinião que num jogo, onze contra onze, o Benfica tem muito melhor equipa que o F.C.Porto. O problema dos encarnados é a falta de soluções no seu plantel para suprir as ausências, algo que, diga-se, no F.C.Porto também está longe de corresponder aquilo que alguma crítica fez constar no início da temporada. De facto unidades como Simão, Luisão, Léo, Miccoli, Rui Costa, Karagounis, Petit, Katsouranis, sem limitações de ordem física, são capazes de desequilibrar os pratos de uma balança que do outro lado quase mais não encontra do que Ricardo Quaresma (eventualmente Pepe), e ainda assim de forma intermitente. É verdade que Anderson está de regresso, mas não parece verosímil que se apresente na Luz em condições de ser ele a resolver o jogo.
Todo este hipotético favoritismo esbarra – e volto assim ao início – na ausência de um dos jogadores mais fundamentais (juntamente com Simão) no Benfica, substituído por um jovem inexperiente, e no eventual cansaço adicional provocado pela intensidade dos jogos do Euro 2008 – recorde-se que para além dos importantes jogos que Portugal disputou, a Grécia teve um sábado humilhante ao perder em casa 1-4 com a grande rival Turquia, vianjando de seguida até Malta onde venceu. Nestes dois factores, para além da inspiração dos jogadores, poderão estar as hipóteses do F.C.Porto. Por estes dois factores, não sou capaz de afirmar que o Benfica seja de facto favorito, tal o peso que eles podem vir a ter no desenrolar da partida.
Veremos o que irá suceder. Talvez um empate, sendo um resultado que não liquida as aspirações de nenhum dos dois clubes, seja aquilo que se venha a verificar, até porque dificilmente se assistirá a um jogo tecnicamente muito bem jogado.
Espera-se sobretudo que o ambiente seja ruidoso, empolgante mas sereno e sem violência, e que não existam casos de arbitragem, o que, diga-se, com Pedro Proença é de desconfiar que suceda.
Este é o jogo do ano. Que as equipas e adeptos o demonstrem.
Já agora… que o Benfica ganhe !

UM PONTO IMPORTANTE NUMA DEMONSTRAÇÃO DE REALISMO

Ao empatar no terreno de um dos adversários directos, a selecção nacional deu ontem um passo importante rumo ao apuramento para o Euro 2008.
Pode-se argumentar que a vitória esteve perto de ser alcançada – deixando com isso este resultado um travo ligeiramente amargo – mas a verdade é que os apuramentos conseguem-se com pontos, e quando estão em causa dois candidatos, um ponto para um são também menos dois para o outro, sobretudo se o outro joga em sua casa.
Não se pode dizer que a equipa de Scolari não fez por ganhar o jogo, sobretudo na segunda parte onde praticamente só Portugal existiu. O guarda-redes sérvio foi um dos melhores em campo, realizando um punhado de grandes intervenções que impediram a nossa selecção de chegar à vitória. Mesmo no pior período de Portugal – após o golo madrugador seria naturalmente de esperar uma firme reacção de quem jogava em casa – não sucederam grandes ocasiões de golo para os sérvios, pelo menos em número idêntico às que Portugal foi depois criando com o decorrer do jogo. Mas a imagem que fica desta partida foi a de uma equipa madura, experiente, a fazer correr o jogo a seu jeito, e a conseguir um resultado que a favorecia em termos de classificação. É assim este Portugal, e ainda bem.
Já se sabe que agora os habituais críticos do seleccionador português o vão acusar de não ter utilizado de início o jogador querido da crítica e das bancadas (Ricardo Quaresma), insistindo na ideia de que com ele Portugal venceria facilmente o jogo.
Não só não concordo, como percebo perfeitamente a opção de Scolari de, em jogo fora contra o eventualmente mais temível adversário desta fase de qualificação, ter privilegiado o sentido colectivo da equipa dando-lhe o equilíbrio que um jogador como Simão confere, em detrimento de um artista, capaz de momentos de levantar o estádio é certo, mas demasiado intermitente nas suas acções (ao contrário também da exuberante constância de Ronaldo) e algo displicente na sua movimentação em campo, o que naturalmente seria susceptível de causar alguns calafrios à nossa linha defensiva, em jogo, repito, onde convinha correr poucos riscos. Quaresma, ao contrário de Simão, tanto desequilibra no ataque, como na …defesa, perdendo por vezes bolas em zonas perigosas e em situações de descompensação, alheando-se da movimentação da equipa em muitos momentos de jogo, parecendo reservar-se demasiado para as famosas “trivelas”, sua imagem de marca. Mesmo com a Bélgica isso aconteceu. Scolari entende isso, como Adriaanse (que o pôs no banco), Victor Fernandez (que o queria dispensar) ou Rijkaard (que o dispensou mesmo).
No jogo de ontem destacaram-se Tiago e Petit, justamente o duo que permitiu que Portugal fosse crescendo com o tempo, até uma situação de controlo quase absoluto da bola e do jogo. Cristiano Ronaldo esteve a meio gás.
O árbitro da partida esteve mal, perdoando uma grande penalidade por falta clara sobre Simão ainda na primeira parte. Além disso, notou-se, e nota-se, que Portugal está a pagar o preço de alguns episódios do passado (Saltillo, meia-final de Bruxelas em 2000, agressão de João Pinto na Coreia, jogo com a Holanda, campanha inglesa contra Ronaldo), vendo as arbitragens suspeitarem de cada falta, de cada lance, sempre que cai um jogador português, não lhe perdoando pelo contrário qualquer reacção mais ácida, tomando assim uma dualidade de critérios que acaba por ser bastante perniciosa para as cores lusas. Cristiano Ronaldo particularmente, jogador correctíssimo, não pode cair nem reclamar que é de imediato ameaçado como um vilão de uma história muito mal contada.
A derrota da Finlândia deixou Portugal no segundo lugar do grupo, quando em apenas 6 jornadas já se deslocou a casa dos três rivais na luta pelo apuramento (Finlândia, Polónia e Sérvia). Temos pois o caminho aberto para, embora sem facilidades, alcançar o objectivo.
Viva Portugal !

ASSIM JOGOU PORTUGAL


DE CHORAR POR MAIS...

Perante um Alvalade XXI completamente cheio, em jogo fundamental para as contas do grupo de qualificação para o Euro 2008, a Selecção Nacional não desmereceu e foi capaz de oferecer um grande espectáculo aos quase 50 mil presentes, e a todo o país via televisão, goleando categoricamente a Bélgica por 4-0 e mantendo o seu favoritismo intacto face ao apuramento.
Foi preciso esperar 45 minutos para os jogadores lusos soltarem toda a magia dos seus pés. No primeiro período, algum individualismo das unidades mais criativas (Ronaldo e Quaresma) e demasiada prudência nas transições ofensivas – este adversário não justificava tanta cerimónia -, impediram Portugal de sair para o intervalo com uma vantagem que, mesmo assim, pelo seu maior caudal ofensivo, já justificava.
Marcando pouco depois do início da segunda parte por intermédio de Nuno Gomes, e fazendo o 2-0 quase de imediato por Ronaldo, a equipa nacional libertou-se então para uma exibição de luxo, vencendo e convencendo, mostrando a já conhecida classe individual de alguns dos seus jogadores, e vincando a ideia de que afinal os ausentes têm quem os substitua à altura, sendo neste particular a exibição de João Moutinho (no lugar do lesionado Deco) bem elucidativa.
O ponto alto da noite foi o fabuloso golo de Ricardo Quaresma, num pontapé de trivela que transpirou força, confiança e talento, numa execução que por si só valeu bem o bilhete do jogo. O extremo portista teve finalmente a sua noite de glória ao serviço da selecção principal, mostrando, para além do inesquecível golo, mais alguns números do seu extenso repertório, ainda que por vezes insista demasiado em lances individuais e/ou em adornos desnecessários e inconsequentes, algo que é também ainda comum a Cristiano Ronaldo, sobretudo quando joga pela equipa das quinas. Com a juventude de um e outro, é de esperar que o tempo e a evolução das respectivas carreiras, apare esses excessos, e faça sobressair o inesgotável talento que brota dos seus pés, revertendo-o sempre para o colectivo.
Mas em toda a segunda parte destacaram-se também outros elementos como Tiago (finalmente em grande pela selecção), Petit, Moutinho (este o mais constante ao longo de todo o jogo), Miguel e, quando entrou, também Nani.
A Bélgica mostrou muito poucos argumentos, não sendo, de todo, um candidato ao apuramento. As declarações do guarda-redes Stijnen viraram-se claramente contra o próprio e contra a sua equipa, que desde ouvir o hino apupado – reacção desproporcionada e infeliz dum público fantástico durante todo o resto da noite – enfrentaram um coro de assobios sempre que tinham a bola em seu poder. Mostraram alguma agressividade no início da partida, mas pelo tempo fora foram-se rendendo às suas insuficiências face a uma selecção portuguesa muito forte. O resultado de 4-0 apenas peca por escasso, pois se os números ascendessem a 6 ou 7 golos não seria de espantar.
O público de Alvalade, hino belga à parte, esteve soberbo. Ficou-me na retina a imagem de um homem com o cachecol do Sporting ao pescoço a aplaudir de pé Petit quando este foi substituído. O mesmo de resto aconteceu quando todo o estádio se levantou no aplauso a Quaresma. Este sim é o verdadeiro espírito da selecção nacional, e Lisboa deu mais uma vez uma lição a esse respeito - 1-0 à Espanha e 2-1 à Holanda no Euro 2004, 7-1 à Rússia na qualificação para o Mundial e agora 4-0 à Bélgica, 4 jogos 4 vitórias importantes, 14-2 em golos, é este o balanço da selecção no Alvalade XXI.
Cabe aqui um aparte para observar que o tipo de público que assiste aos jogos da selecção é sensivelmente distinto daquele que semana a semana frequenta os estádios dos clubes. Vêm-se muito mais mulheres, muito mais jovens, muitas crianças, muitas pessoas que, tendo naturalmente as suas simpatias clubistas, apenas se mobilizam pelas cores nacionais. O clima de festa que rodeia estes jogos é impressionante, e o papel de Scolari à frente da “equipa de todos nós” não é alheio a esse facto.
Agora venha a Sérvia. Mais uma vitória colocará Portugal numa invejável posição, sobretudo por deixar (mais) um adversário directo em maus lençóis, mas um empate também não será desprezável. De qualquer forma faltam ainda 9 (!!) jogos, pelo que todas as hipóteses estão em aberto, sendo que Finlândia, Polónia, Sérvia e Portugal parecem ser os únicos candidatos às duas vagas do grupo.
Viva Portugal !

NA HORA DAS DECISÕES

A selecção nacional joga esta semana parte importante do seu futuro na campanha do Euro 2008.
Depois de ter sido derrotada pela Polónia, e não indo além de um empate em Helsínquia, a equipa de Scolari não tem muito maior margem para errar, vendo-se por isso obrigada a fazer pelo menos 4 pontos nesta dupla jornada. Se o desafio com a Bélgica se afigura relativamente acessível, já a deslocação a Belgrado para defrontar uma Sérvia bastante forte acarreta enormes riscos, sobretudo sem Deco e com os principais pontas-de-lança (Postiga e Nuno Gomes) em manifesta má forma.
Há que dizer que esta selecção já pouco tem a ver com a matriz do Euro 2004 e do Mundial da Alemanha. Com efeito, Figo e Pauleta, respectivamente o mais internacional e o maior goleador de sempre da equipa nacional, decidiram retirar-se, Nuno Valente, Costinha e Maniche parecem fora do lote de opções de Scolari (os dois primeiros eventualmente de forma definitiva) e temos metade da equipa base desmantelada. Acresce a estes condicionalismos a enorme e dramática crise de forma dos principais avançados do futebol luso, que faz suspeitar que a capacidade goleadora da equipa das quinas se venha a ressentir fortemente no futuro próximo. A agravar temos a lesão do “mágico”, elemento crucial na estratégia de Scolari, e dificilmente substituível, sobretudo estando Simão Sabrosa suspenso por cartões amarelos para o jogo de Alvalade.
Com tudo isto sobra um lote de futebolistas de qualidade, um grande treinador e uma cultura de vitória que esperamos ser suficientes para levar de vencida um grupo difícil mas ultrapassável. Mas convenhamos que não será muito provável os portugueses poderem desfrutar em 2008 dos momentos que nos últimos anos a sua selecção lhes proporcionou.
Agora é a Bélgica que temos pela frente – jogo já envolto em grande polémica antes mesmo de se ter iniciado –, equipa dura e forte fisicamente, com uma defesa difícil de ultrapassar onde avulta o central Van Buyten do Bayern de Munique, não esquecendo a tradição belga de contar com um contra-ataque rápido e incisivo. De qualquer modo, qualquer resultado que não seja a vitória será uma profunda frustração e poderá ter consequências altamente comprometedoras.
Portugal deverá alinhar com Ricardo na baliza, Miguel, Jorge Andrade, Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira no quarteto defensivo, Petit, Tiago e Hugo Viana (ou João Moutinho) no meio campo, Quaresma e Cristiano Ronaldo servindo Hugo Almeida no centro do ataque.
A única dúvida parece estar entre Hugo Viana e João Moutinho. Se o primeiro tem mais experiência internacional, maior robustez e é esquerdino (coisa rara no futebol português), o segundo é mais pendular e teria a vantagem anímica de jogar no seu estádio perante muitos dos adeptos do seu clube. Nenhum se compara a Deco, mas ambos são excelentes executantes e perfeitamente capazes de ter um desempenho positivo. Quanto ao ponta-de-lança, restam poucas dúvidas que Nuno Gomes e Postiga não têm no momento actual condições de garantir a eficácia de que a equipa necessita, ao passo que Hugo Almeida parece ter crescido bastante nesta sua experiência em Bremen.
Escusado será dizer que a principal arma de Scolari passará pelos seus fantásticos extremos, se é que não será redutor tratar Ricardo Quaresma e sobretudo Cristiano Ronaldo como tal. São eles os artistas, é deles que se espera magia, criatividade, dinamismo e até… golos.
VEDETA DA BOLA estará em Alvalade, no regresso ao contacto com a equipa de todos nós. Num momento em que as rivalidades devem ser postas de lado, pelo menos por uns dias, espera-se uma casa cheia que empurre com entusiasmo o nosso onze para uma imprescindível vitória.
Contra ventos e marés, consegui-la-emos.
Viva Portugal !

DIGA O QUE PENSA !

Neste momento feliz em que comemora o seu 1º aniversário, VEDETA DA BOLA desafia os leitores a entrar na caixa de comentários e a dizerem o que pensam sobre o blogue, nomeadamente que aspectos positivos e negativos lhe encontram.

PARABÉNS A VOCÊ !

A casa está de parabéns !
Faz hoje precisamente um ano nascia no mundo cibernauta VEDETA DA BOLA.
A sua origem encontra-se num fórum de discussão fechado criado por alturas do Euro 2004, que a pouco e pouco foi fazendo crescer a vontade de sistematizar e alargar o seu âmbito.
Em 21 de Março de 2006 concretizou-se esse propósito com a publicação de VB. Como curiosidade, refira-se que o nome esteve ainda para ser “Linha de Fundo”, acabando todavia por prevalecer a primeira ideia.
Um ano e 452 posts depois, o balanço só pode ser positivo. Quase 15 mil pessoas visitaram VB, alguns textos originaram bastante discussão, e sobretudo proporcionaram momentos de grande prazer a quem aqui escreve quase diariamente. Foi feita cobertura intensa dos principais momentos do futebol português, com presenças no estágio da selecção nacional com vista ao Mundial, e na quase totalidade dos jogos do Benfica na Luz, bem como alguns em Alvalade, Restelo ou Setúbal - assim vai continuar a ser com presença já assegurada nas importantes partidas Portugal-Bélgica, Benfica-F.C.Porto e Benfica-Espanhol. Foram partilhadas com os leitores histórias do passado, com outros jogos, outros locais e protagonistas.
Nunca foi propósito do autor ceder à popularidade a qualquer preço. Seria relativamente fácil fazê-lo (apostar nas polémicas, nas arbitragens, em textos curtos e incisivos etc), mas esse caminho nunca esteve em equação – sendo isto um mero passatempo, nem tal faria sentido. A ideia sempre foi a de criar um grupo coeso de leitores e participantes, capaz de manter acesa a chama da discussão, mas sempre dentro dos limites da civilidade, do desportivismo e até, se possível, do bom humor, com o gosto pelo futebol - o dos relvados, dos jogadores e das tácticas – como pano de fundo. Grosso modo isso foi conseguido, ainda que alguma preguiça dos leitores na hora de comentar nem sempre tenha favorecido uma maior vivacidade.
Ao longo deste tempo foram levadas a cabo algumas melhorias como a introdução de sondagens, de fotografias, de hipertexto, e mais recentemente a criação de um endereço de e-mail (L-F@sapo.pt) específico para o blogue. Iniciativas como a "Vedeta da Jornada" ou, sobretudo, a "Classificação Real" foram um sucesso, sobretudo nos momentos em que o campeonato mais aquece.
O maior problema com que se tem defrontado VB é naturalmente a falta do tempo suficiente para um maior rigor editorial, quer quanto à criatividade dos textos, quer quanto à revisão dos mesmos. A vida quotidiana obriga muitas vezes a escrever sob grande pressão de tempo, sendo que naturalmente VB não pode assumir para si a prioridade de outros aspectos da vida. Efectivamente, a necessidade de corresponder ao calendário competitivo e de a articular com afazeres profissionais e familiares gera frequentes situações de embaraço que resultam em posts editados à pressa ou a horas impróprias em que o sono nos fala baixinho ao ouvido. Contudo, julgo que os mínimos têm sido de um modo geral mantidos. Os máximos ficam naturalmente ao critério dos leitores.
Para o futuro as ideias são bastantes. A sua materialização difícil.
VB tentou, sem sucesso, que pudessem aqui ser trazidas algumas declarações exclusivas das grandes estrelas do nosso futebol – nomeadamente do Benfica. O moderno relacionamento dos clubes com a imprensa (por maioria de razão com a de natureza amadora), feito de agentes, de bloqueios, burocracias e constrangimentos, isso impediu em mais de uma ocasião. Quem sabe no futuro…
Por falta de tempo, não foi ainda possível avançar com algumas outras ideias que há muito grassam por aqui. Mas a essas prefiro deixá-las guardadas por agora na esperança que a sua concretização se possa dar a breve trecho.
Por agora resta um sentido agradecimento a todos os que este espaço visitaram (e/ou para ele contribuiram), e um convite a que o continuem a fazer.
Este aniversário também é vosso.
OBRIGADO A TODOS !

VEDETA DA JORNADA

PETIT: Nani fez um grande jogo, Tello marcou um golo muito importante, mas Petit, além de fazer ambas as coisas, teve uma semana verdadeiramente fantástica. 3 golos em 3 jogos, todos de fora da área e de grande espectacularidade, assegurando presença do Benfica nos quartos-de-final da UEFA e colando-o ao F.C.Porto na Liga. Mais do que VEDETA DA JORNADA, Petit foi VEDETA DA SEMANA, aparecendo em grande forma nesta fase crucial da época.
E diz ele que tem jogado lesionado...

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Foi uma jornada de boas arbitragens, ainda que não isenta de casos.
Na Reboleira Nuno Gomes foi agarrado pela camisola e impedido de saltar dentro da área com o resultado em branco.
No Dragão ficaram dúvidas sobre o último lance do encontro, no qual Polga talvez tenha tocado em Pepe. Benefício da dúvida para o árbitro, pois o lance é muito difícil de analisar.
Mas o que importa realçar é mais uma excelente actuação de Pedro Henriques, que mesmo quando erra (e naturalmente que erra) deixa aos adeptos a confortável sensação de isenção. O futebol agradece.
Sem correcções, o Benfica com os três pontos conquistados passa a comandar esta classificação.

BENFICA 53
F.C.Porto 52
Sporting 50

UMA BOMBA NO DESERTO

O Benfica cumpriu na Reboleia o guião que esta jornada lhe tinha destinado. Venceu, colou-se ao F.C.Porto na classificação em vésperas de o receber na Luz, e depende agora apenas de si próprio para conquistar o título nacional quando faltam somente oito jornadas para a prova se concluir.
Todas estas verdades, suficientes para deixarem a nação benfiquista em estado de grande euforia, não devem esconder que a exibição de ontem coloca muitas reticências no real poderio desta águia, enfraquecida por importantes ausências, é certo, mas demasiado entregue aos desígnios da sorte num jogo em que tinha todas as condições anímicas do seu lado, e o dever de se impor com autoridade.
Permanece um enigma por descodificar o facto de o Benfica apresentar uma abordagem competitiva totalmente distinta quando joga em casa e fora. Se na Luz os encarnados entram com grande velocidade, circulando a bola com critério, empurrando os adversários para a sua zona defensiva, criando oportunidades, marcando e vencendo com clareza (9 vitórias em 10 jogos), quando actuam em território alheio como que se encolhem, parecendo esperar que, por qualquer toque de magia, mais tarde ou mais cedo, o golo acabe por lhe cair dos céus, deixando com isso que os adversários ganhem alento e se convençam da hipótese de pontuar, com tudo o que isso acarreta no desenrolar dum jogo de futebol. Talvez este seja um problema herdado da fase inicial desta época, quando os homens de Fernando Santos foram várias vezes derrotados de forma expressiva, algo que pode ter deixado a marca do medo e, com ela, o hábito duma excessiva e reverente timidez, da qual a equipa ainda não se terá libertado totalmente. O que é certo é que nas últimas três deslocações o Benfica deixou correr demasiado o tempo, acabando por marcar com alguma sorte em fases já adiantadas das partidas, correndo riscos que, aos olhos do observador, e levando em linha de conta o seu comportamento na Luz, parecem desnecessários e pouco prudentes.
Ontem repetiu-se a história, com Fernando Santos a adoptar uma estratégia que já provou não ser adequada – uma espécie de 4-2-4, com Derlei e Simão abertos nas alas. Neste sistema a equipa fica partida em dois, permitindo que o adversário conquiste superioridade no centro nevrálgico do terreno, zona onde as grandes decisões normalmente se tomam e onde este tipo de adversários, jogando em casa, mais intensifica a sua presença e a sua pressão.
Foi com a entrada de João Coimbra que o Benfica conseguiu finalmente assumir o jogo da forma que seria lícito esperar o tivesse feito de início, desta vez ainda a tempo de vencer, contando para isso com uma grande dose de felicidade, bem expressa na forma como o remate de Petit foi parar dentro da baliza.
A melhoria verificada com a entrada de João Coimbra foi um bom exemplo de como muitas vezes não é por jogar com mais avançados que se ataca mais, pois mesmo sem fazer uma exibição particularmente brilhante, a presença do jovem médio permitiu ao Benfica – por exemplo através da maior libertação de unidades como Petit ou Karagounis - empurrar o seu adversário para linhas mais recuadas, conquistar segundas bolas, criar oportunidades e, em última análise, ganhar.
É claro que estas adulterações ao modelo de jogo que Fernando Santos implementou no Benfica resultam do facto de o plantel encarnado se encontrar bastante dizimado por lesões e ausências várias, situação que não foi devidamente ponderada quando o mercado de Inverno abriu a possibilidade de se dotar a equipa da Luz de um plantel à altura das duas frentes em que o clube ainda está envolvido – e que nesse momento até eram ainda três.
Seja como for – e é importante deixar claro este ultimo parágrafo inocenta Fernando Santos de qualquer crítica face às fragilidades com que neste momento se tem de confrontar – o que interessa são as vitórias e os pontos, e assim sendo os benfiquistas têm bastos motivos para estar felizes, agora que se vêm na perspectiva de discutir a liderança no seu estádio a poucas jornadas do final da Liga. O que não podem nem devem é sonhar demasiado alto, quando está à vista que quem friamente quiser ver, que o plantel que Santos tem à sua disposição, pela pobreza de opções que apresenta, só por milagre (nenhuma lesão, nenhum castigo, poucas baixas de forma e reduzido cansaço) permitirá aos encarnados conciliar uma caminhada rumo ao título com uma presença europeia que vá muito para além do que já foi conseguido, algo que também permanece, à razão dos resultados, no horizonte de todos os apaixonados do clube.
Se o Benfica for campeão e chegar à final da Uefa, bem se poderá falar em milagre. No caso, de um “santo(s)” da casa, por vezes tão heregemente tratado pelos fiéis.
Na noite de ontem há que destacar naturalmente Petit como o homem do jogo. Pelo golo (terceiro numa semana, todos de fora da área), mas também pela combatividade com que enfrentou a sua difícil missão de, sem Katsouranis, se fazer multiplicar por dois na luta do meio campo. Simão também não desmereceu o seu estatuto à parte, realizando um bom jogo.
Por falar em estatuto, parece por vezes ser apenas dele que vive o “avançado” Nuno Gomes, que mesmo manifestando uma desastrada relação com a baliza – que falhanços incríveis, a roçar o ridículo…-, permanece intocável na titularidade do ataque. Miccoli também não está no seu melhor, mas ontem talvez se percebesse melhor a saída do português, mantendo Derlei ao lado do italiano no duo atacante - o Ninja tem sido obrigado a um trabalho que não é bem o que melhor se adapta às suas características, motivo pelo qual começa a ser injustamente questionado. Deficiente foi também a actuação de Anderson – onde está o central elegante e rigoroso da temporada passada ?
O árbitro perdoou uma grande penalidade ao Estrela, precisamente por falta sobre Nuno Gomes, numa fase do jogo em que as consequências podiam ser tremendas em termos de jogo, de classificação e de campeonato. Esse momento mancha indelevelmente uma actuação globalmente positiva.
Pontuações: Moretto 3, Nelson 3, Anderson 2, David Luíz 3, Léo 3, Petit 4, Karagounis 3, Simão 4, Nuno Gomes 1, Miccoli 3, Derlei 2, João Coimbra 3, Mantorras – e Paulo Jorge -.
Melhor em campo: Petit.

BENFICA TAMBÉM FESTEJA

A vitória do Sporting relança o campeonato dos leões, mas sobretudo dá um enorme tónico ao vizinho e rival da segunda circular.
O Benfica passou esta noite a depender exclusivamente de si próprio para conquistar o ceptro nacional, podendo colocar-se a apenas um ponto dos Dragões, caso vença na difícil deslocação à Reboleira depois de amanhã – talvez a mais problemática saída que tem até final do campeonato.
Este resultado foi portanto tão festejado na Luz como em Alvalade, podendo também fazer com que o próximo Benfica-F.C.Porto se transforme numa verdadeira final, capaz de se tornar altamente determinante na questão do título.
Para se perceber bem a importância do resultado de hoje, temos que se o Benfica vencer o Estrela e depois o F.C.Porto, ficará com dois pontos de vantagem sobre os portistas a apenas 7 jornadas do final. Terá então que jogar em casa com Braga, Sporting, Naval e Académica, e deslocar-se aos terrenos de Beira Mar, Marítimo e V.Setúbal – três deslocações apenas, duas delas frente a equipas da cauda da tabela.
A equipa de Jesualdo tem por sua vez o seguinte calendário a seguir ao jogo da Luz: recepções a V.Setúbal, Belenenses, Nacional e Aves, e saídas à Académica, Boavista e Paços de Ferreira.
Assim sendo, cada vez se torna mais verdadeiro aquilo que aqui defendi há alguns dias atrás: a equipa que comandar a classificação na noite de 1 de Abril, será com elevado grau de probabilidade o próximo campeão nacional.

LEÃO RUGE BEM ALTO E RELANÇA CAMPEONATO

Contra a maioria dos vaticínios, o Sporting triunfou categoricamente no Dragão e reacendeu a esperança de poder ainda disputar o título.
Os leões dominaram praticamente todo o jogo, mostrando o habitual rigor nas transições defensivas, o que manietou todo um futebol portista demasiado dependente da inspiração de Quaresma, que nesta noite nunca chegou a emergir sobre o relvado. O Sporting escondeu a bola do F.C.Porto, sendo capaz de sair com perigo, quase sempre através de Nani – o melhor em campo talvez com uma das melhores exibições da sua carreira – a quem o F.C.Porto concedeu demasiadas e inexplicáveis liberdades. Já ao intervalo o empate era penalizador para a superioridade exibida pelos visitantes.
Na segunda parte o F.C.Porto reagiu um pouco, mas nunca foi uma equipa claramente dominadora. Pelo contrário, cada vez que subia no terreno o Sporting dava sinais de poder criar lances de perigo, que só a imperícia de Alecsandro e a verdura de Djaló impediam de transformar em golo.
Foi num livre superiormente apontado por Rodrigo Tello que a equipa de Paulo Bento chegou finalmente a uma vantagem que já justificava praticamente desde o início do jogo.
Até final o jogo manteve a sua toada, registando-se ainda duas flagrantes oportunidades de golo, uma para cada lado.
A justiça da vitória do Sporting é inatacável, e talvez até peque por escassa.
Em termos individuais há que salientar Nani, que foi o fio condutor, o mastro da força com que o leão se exibiu. O jovem internacional mostrou estar regressado à sua melhor forma, realizando uma exibição notável, soltando classe a cada lance em que intervinha, apresentando-se com um fulgor e uma exuberância como talvez nunca se vira na sua curta carreira.
Também Polga, Miguel Veloso e Ricardo estiveram bem, para além de Tello cujo golo marcou obviamente o jogo. Alecsandro foi o elemento menos inspirado da turma leonina.
Nos portistas Raul Meireles e Pepe foram os mais inconformados, mas a equipa sentiu demasiado as faltas de Bosingwa e Lisandro Lopez. Fucile, Alain, Adriano e Postiga estiveram manifestamente mal.Pedro Henriques esteve bem, como lhe é normal.

BOM, MAS...

O sorteio dos quartos-de-final da Taça Uefa pôs o Espanhol de Barcelona diante do Benfica.
Num lote onde figuravam Sevilha, Werder Bremen ou Tottenham os encarnados não se poderão queixar da sorte. Contudo será importante que não seja cantada vitória antes do tempo, como de certa forma o foi com o P.S.G., felizmente sem consequências.
O Espanhol é uma equipa solidamente instalada na fortíssima Liga Espanhola, venceu a Taça do Rei na época passada e não perde há cinco jornadas, tendo até agora efectuado um campeonato em sentido ascendente. Se nos lembrarmos do Villarreal, ou recuando um pouco mais no tempo, do Celta de Vigo, percebemos como as equipas espanholas constituem normalmente ossos muito duros de roer, sobretudo pelo carácter com que abordam a competição e o forte ritmo em que estão rotinadas.Trata-se uma equipa que um Benfica ao seu melhor pode vencer, mas está longe de ser uma pêra doce.
As grandes figuras da equipa catalã são o experiente Dela Peña e o ponta-de-lança uruguaio Walter Pandiani, que curiosamente chegou a ser dado como reforço do Benfica há cerca de um ano atrás. O onze-base dos catalães é composto por:Iraizoz, Torrejon, La Cruz, Jarque, Chica, Hurtado, Yaagobi, Rufete, De la Peña, Luís Garcia e Pandiani.
Neste sorteio foi também já encontrado o alinhamento das meias-finais. Caso o Benfica leve de vencida este seu adversário, discutirá então com o Werder Bremen ou o Osasuna a passagem à final de Glasgow.

UMA HISTÓRIA DE NERVOS COM FINAL FELIZ

Sem fazer uma exibição de encher o olho, o Benfica conseguiu, perante mais de 60 mil almas sofredoras, o seu grande objectivo na noite europeia de ontem.
Numa competição europeia, nuns oitavos-de-final, por maior que seja a crise de forma do adversário, não se podem esperar goleadas. O Benfica entrou bem no jogo, realizou meia hora de grande categoria, sendo depois traído por uma falha do seu mal-amado guarda-redes, o que acabou por aniquilar a tranquilidade que os dois golos apontados, em condições normais, permitiriam. Em toda a segunda parte o Benfica sentiu, para além da saída por lesão de Karagounis – até aí um elemento preponderante na manobra da equipa –, o perigo que representaria a eventualidade dos franceses marcarem, acabando, talvez por isso, por tremer um pouco na indecisão entre atacar de forma audaz em busca do triunfo ou acautelar-se de modo a evitar um golo que seria seguramente dramático para o desfecho da contenda. O Paris St.Germain é uma equipa em crise, disso não restam dúvidas, mas não é o adversário dócil que quiseram fazer dele. Os seus problemas são fundamentalmente de domínio conjuntural, pois conta com uma equipa recheada de internacionais – alguns de grande experiência -, e tem á sua frente um dos treinadores mais conceituados do futebol europeu e um dos mentores do grande Lyon dos últimos anos. A liga francesa, onde tenta evitar a descida, é superior à nossa. Ao contrário do que todas as evidências pareciam provar, a equipa francesa talvez estivesse mesmo fortemente empenhada nesta prova, até como forma de salvar uma época que em termos internos tem sido desastrosa.

Tudo isto, longe do pensamento do adepto comum e mesmo do crítico, terá passado, e bem, pela cabeça de jogadores e técnicos do clube da Luz na abordagem ao jogo, sobretudo a partir do momento em que Moretto “ofereceu” um golo a Pauleta.
Não se pode todavia com isto escamotear o facto de o Benfica ter feito uma segunda parte muito pobre. De facto os encarnados foram uma equipa ansiosa e desinspirada em todo o segundo tempo. O fantasma da eliminação pairou sobre a Luz, e a cada pontapé de canto, ou a cada livre perigoso, os mais de 60 mil presentes suspiravam de susto. Além dessa intranquilidade, que começava na baliza, o Benfica pareceu nesse período uma equipa cansada.
Foi pois quando já se aguardava um desconfortável prolongamento que surgiu o penálti milagroso que leva o Benfica aos quartos-de-final. A um minuto dos noventa, o golo foi um golpe demasiado duro na equipa gaulesa, e já não restava tempo para grandes reacções. O Benfica estava decididamente nos quartos-de-final.
Independentemente daquilo que o conjunto encarnado poderia mais ter feito nos dois jogos, trata-se de uma passagem justíssima da melhor das duas equipas, numa linda noite de enchente numa Luz a reviver mais uma vez as suas grandes noites europeias.
Individualmente o destaque vai necessariamente para Simão (o melhor em campo), autor de dois golos - ironicamente foi a sua frieza a resolver os problemas de nervos da equipa- , se bem que Petit e Léo também tenham estado em plano positivo. Derlei entrou muito bem no jogo, como que a justificar mais minutos de utilização.
Por outro lado, Moretto não se conseguiu mais uma vez libertar de toda a pressão que continua a existir em seu redor, realizando uma exibição manifestamente deficiente, o que não justifica nem desculpa os inacreditáveis assobios de algum público que se diz benfiquista. Nuno Gomes salvou-se apenas por duas assistências primorosas - uma para o primeiro golo e outra que culminou com um remate à barra de Katsouranis. Nélson e Anderson foram também interpretes de alguma intranquilidade.
O árbitro alemão fez uma arbitragem à..portuguesa. Muitas interrupções, grande parte delas desnecessárias, a condicionar um espectáculo que com outro juiz poderia ter sido bem mais atraente.

CLASSIFICAÇÃO "REAL"

Em Alvalade e na Luz praticamente não existiram casos de arbitragem. Pelo contrário, no Benfica-U.Leiria assistiu-se a uma excelente arbitragem do minhoto Paulo Pereira.
Já no Funchal João Ferreira esteve mal, deixando por assinalar duas grandes penalidades, uma para cada lado, para além de perdoar ao F.C.Porto uma falta em zona perigosíssima ocorrida nos últimos segundos dos descontos.
A classificação não sofre todavia correcções:

F.C.PORTO 52
Benfica 50
Sporting 47

VEDETA DA JORNADA

YANNICK DJALÓ: Simão está imparável e Adriano marca em todas as jornadas. Mas dois golos são dois golos, e além do mais ninguém se lembrou de Liedson. Distinção para o jovem leão.

MEIA HORA À BENFICA

Frente a um adversário complicado e entalado no meio de uma importantíssima eliminatória europeia, este jogo com o U.Leiria apresentava à partida um grau de risco relativamente elevado para os comandados de Fernando Santos. Vencendo por 2-0 o Benfica conseguiu tudo o que queria, e que se resume aos três pontos e à manutenção da mesma distância para o líder da tabela, que recebe na Luz dentro de duas jornadas.
Na primeira meia hora foi visível a pressa em resolver cedo a questão para rapidamente poder descansar sobre os rendimentos e assim começar a pensar na Taça Uefa. Foi mais uma vez Simão quem permitiu à águia seguir os seus propósitos, com um golo de grande espectacularidade, surgido na sequência de um período de grande pressão benfiquista.
A partir desse período inicial os encarnados desaceleraram o seu ritmo, deram a bola ao adversário e recolheram-se em terrenos do campo onde o desgaste seria naturalmente bem menor. Fizeram-no talvez cedo demais, mas num plantel que conta basicamente com pouco mais de 12 ou 13 jogadores há que correr alguns riscos, e o Benfica correu-os. Por vezes o risco é prescindir de promover acções ofensivas (e do correspondente desgaste), e neste caso foi isso que aconteceu.
Até ao golo de Petit pouco mais aconteceu no relvado da Luz, pois se uns não se queriam mover muito, outros pareciam não ter inspiração para o fazer – o União de Leiria foi uma enorme decepção na noite de ontem.
Destaque para a exibição do jovem David Luíz – comparado por Fernando Santos a Ricardo Carvalho – e que, embora num jogo sem grandes dificuldades, voltou a mostrar alguns bons apontamentos. Trata-se de facto de um jovem com inegável talento, o qual terá naturalmente de ser moldado e sedimentado de modo a que se possa traduzir a breve trecho em segurança defensiva. Para já apresenta-se como uma alternativa credível, o que há uma semana atrás não era líquido.
Nota também para a lesão de Quim, que pode permitir a Moreira o regresso a um lugar que já foi seu, e onde tão boa conta do recado deu.
De resto foi o habitual: Simão o melhor em campo, Petit enérgico, Katsouranis influente, Nelson irregular, Nuno Gomes inoperante, etc etc. Enfim, uma noite normal…
Gostei bastante da arbitragem de Paulo Pereira. Mesmo que numa ou noutra decisão se possa ter equivocado, privilegiou o espectáculo, deixou jogar e procurou limitar as interrupções ao mínimo indispensável. O futebol português precisa de mais arbitragens deste tipo.
Pontuações: Quim 3, Nelson 2, Anderson 3, David Luíz 4, Léo 3, Petit 4, Katsouranis 3, Karagounis 3, Simão 4, Nuno Gomes 2, Miccoli 3, Moreira 3 e Derlei 3.
Melhor em campo: naturalmente, e como já foi dito, Simão Sabrosa.

Agora vêm aí as duas jornadas que podem e devem decidir o campeonato: F.C.Porto-Sporting dia 17 e Benfica-F.C.Porto dia 31. Caso façam 4 pontos nestes dois clássicos, os Dragões terão o título na mão. Se pelo contrário o Benfica agarrar a liderança na Luz dentro de duas jornadas (para o que seria necessária a ajuda do Sporting), poderá criar uma dinâmica de vitória que não será fácil de contrariar.
Por mim deixo apenas um palpite: quem liderar o campeonato no dia 1 de Abril, e não é mentira, será campeão.
NOTA: Não tive oportunidade de ver os jogos de F.C.Porto e Sporting, pelo que não os irei naturalmente comentar.

DEZ TORMENTOSOS MINUTOS DEIXAM NAU ENCARNADA EM PERIGO

Conforme Fernando Santos referiu na flash-interview da RTP, é de facto uma pena não ser possível apagar os dez minutos posteriores à saída de Luisão, ocorrida ainda na primeira parte deste PSG-Benfica. Se assim pudesse ser, os encarnados teriam vencido por 1-0 de forma justíssima, teriam criado a quase totalidade das ocasiões de golo da partida, e estavam agora numa posição extremamente confortável em termos de eliminatória.
Mas o futebol é aquilo que é, e não aquilo que em certos momentos a nós nos daria jeito que fosse. Este delicioso desporto até faz gala em desprezar frequentemente aquilo que se afigura mais justo ou pertinente face à valia das equipas em presença. Guia-se, pelo contrário, por uma soma de circunstancialismos variados que de forma pouco menos que aleatória convergem para um determinado desfecho.
Tem que se dizer que o Benfica teve muito azar nesta primeira mão e que, se mesmo assim conseguiu transportar a decisão da eliminatória para a Luz, então não há lugar ao desânimo que uma derrota normalmente justificaria. Começando na ausência de última hora do influente Katsouranis, passando pela dramática saída de Luisão, até à lesão do jovem João Coimbra, de tudo aconteceu nesta mal fadada jornada europeia. Talvez sem toda esta tamanha dose de infelicidade o clube da Luz pudesse estar agora com a passagem quase assegurada, tal foi a diferença de valores verificada nos minutos iniciais do jogo, aqueles em que o peso da deusa fortuna ainda não se tinha feito sentir.
Efectivamente, à passagem da primeira meia hora os encarnados dominavam a seu bel-prazer a bola e o jogo, dando a ideia de que mais minuto menos minuto marcariam novo golo, e quem sabe mais outro ainda, resolvendo já hoje a questão.
A lesão de Luisão - sem Katsouranis em campo - tornou-se tremendamente penalizadora para a equipa. Fernando Santos teve de fazer entrar o jovem estreante David Luiz que, sem ter sequer tempo para aquecer, demorou a serenar os seus nervos ( ...e os da equipa), tempo suficiente para o PSG marcar dois golos e virar de pernas para o ar um jogo que estava até então completamente nas mãos do Benfica.
Temeu-se o pior, mas após o intervalo os encarnados fizeram aquilo que tinham de fazer: voltar a atacar, afastar o jogo das imediações da sua área e procurar o segundo golo. Miccoli por duas vezes, David Luiz e Karagounis tiveram excelentes possibilidades de restabelecer um empate que, esse sim, seria um bom resultado, mas a sorte voltou, também aí, a não querer vestir de vermelho.
Na ponta final do jogo o Benfica pareceu algo temeroso de insistir no risco do ataque, enquanto a equipa francesa não mostrava grandes argumentos para lograr o terceiro golo, que seria trágico para as ambições encarnadas.
Em termos individuais há que destacar Simão, Karagounis, Petit e Nelson como os elementos em maior evidência. David Luiz, depois de um período de enorme perturbação, acabou por mostrar alguns bons argumentos, sobretudo na elegância da sua movimentação e toque de bola. Também João Coimbra revelou ser opção credível para batalhas futuras, acabando traído por uma inoportuna lesão.
Miccoli esteve muito abaixo do que pode e sabe, enquanto que Nuno Gomes também nada trouxe de novo. Anderson pareceu sentir fortemente a ausência do seu habitual parceiro, não sendo o patrão que a defesa benfiquista a partir desse momento necessitaria.
Deste jogo resulta também a prova – consubstanciada numa evitável derrota - em como o plantel encarnado é demasiado limitado para sonhar alto, e o quanto errada foi a abordagem da direcção encarnada na abertura do mercado de inverno, no qual ao invés de se reforçar, acabou por destapar bastantes fragilidades, mormente do meio campo para trás. Mau grado algumas boas indicações dadas pelos mais jovens, ao Benfica faltou a tranquilidade que outro tipo de opções de banco asseguraria. E o pior ainda pode estar para vir – veremos que gravidade tem a lesão de Luisão.
Do árbitro não se pode o Benfica queixar, pois em dois momentos ficou no ar a sensação de grande penalidade. Primeiro uma mão de Nélson, depois uma carga de Léo.
Fica assim tudo em aberto para a Luz, se bem que não se possa escamotear a evidência, eu diria, lapalissiana, de que a vantagem está do lado dos franceses. O Benfica terá que fazer um jogo ao seu melhor nível, e não ser tão fustigado pelo azar de hoje para seguir em frente. A esperança mantém-se de pé, mas o panorama da eliminatória apresenta-se hoje bem mais negro que ontem.
Pede-se um Estádio da Luz cheio, que empolgue a equipa para uma grande noite europeia capaz de guindar os encarnados aos seus segundos quartos-de-final europeus consecutivos.

VENHA DAÍ UMA VITÓRIA !


CURIOSIDADES

Mesmo num período que engloba o título europeu do F.C.Porto em 2004 e a final uefeira do Sporting no ano seguinte, é o Benfica que mais tem feito pelo nosso país na Europa do futebol do último quadriénio - ou seja desde que regressou às provas internacionais no pós Vale e Azevedo. Vejamos:

PERÍODO 2003-2004 a 2006-2007 (4 temporadas)

JOGOS: Benfica 40 ; F.C.Porto 35 ; Sporting 29
VITÓRIAS: Benfica 19 ; F.C.Porto 13 ; Sporting 13
PONTOS: Benfica 65 ; F.C.Porto 52 ; Sporting 44
GOLOS MARCADOS: Benfica 52 ; F.C.Porto 45 ; Sporting 41
ELIMINATÓRIAS PASSADAS: Benfica 9 ; F.C.Porto 7 ; Sporting 7

Sendo o único dos três ainda em prova na corrente temporada, estes números ainda se poderão acentuar.
É caso para dizer que a tradição ainda é o que era...

ESCAPOU-SE DAS MÃOS...

Quando estamos perante jogos de elevadíssimo grau de dificuldade, em eliminatórias fechadas e equilibradas, qualquer erro costuma ser fatal. O “frango” sofrido por Helton derrotou o Porto, e não vale a pena adornar muito mais a questão - recordo apenas que uma inacreditável falha do célebre Costa Pereira custou ao Benfica a final de 1965 em San Siro, o que ilustra bem como estas coisas calham a todos.
Qualquer análise que se faça à partida de Stanford Bridge encalha necessariamente no momento em que a equipa de Mourinho logrou chegar à igualdade, depois de uma primeira parte extremamente pobre, em que pareceu sempre manietada por um Porto corajoso e organizado, onde Quaresma brilhava a grande altura.
O golo do "Cigano", na sequência de uma bonita triangulação, deu aos dragões aquilo que parecia mais difícil de conseguir: marcar. Os londrinos ficaram algo atordoados, o que fez acreditar ainda mais na possibilidade de os portistas poderem obter um triunfo histórico.
Em vantagem ao intervalo, se com um golpe de sorte o F.C.Porto voltasse a marcar decidiria a eliminatória, pelo que o Chelsea não poderia arriscar tudo. Seriam 45 minutos de sofrimento, mas as perspectivas eram optimistas para a equipa portuguesa.
Eis que surge aquele momento que, mais do que alterar o resultado, deitou por terra a alma portista, como que lhe mostrando que os deuses da fortuna não iriam estar do seu lado.
Era por outro lado o suplemento tónico que o Chelsea precisava para finalmente se encontrar, como equipa poderosíssima que é, e se encontrar com o jogo e com a eliminatória.
Com a eliminatória igualada Jesualdo terá cometido o pecado da gula. Já não havia para jogar assim tanto tempo como isso, e o técnico portista, ao invés de tentar segurar uma situação de igualdade que remetia para prolongamento e, quem sabe penáltis - ou seja bem mais do que seria de esperar no início deste jogo - procurou voltar a marcar a todo o custo, fazendo entrar Adriano para o lugar de Cech (tomando a troca de Meireles por Ibson como tacticamente neutra).
A equipa partiu-se e deixou que o Chelsea controlasse por completo o meio-campo, acabando naturalmente por marcar o segundo golo, também ele muito consentido (onde estava Bruno Alves ?).
Foi assim por erros próprios que o F.C.Porto perdeu uma soberana ocasião para deitar o Chelsea para fora da Champions League, algo que afinal chegou a estar mais perto de acontecer do que todos supúnhamos à partida para esta segunda mão – curiosamente o Porto acaba por estar em desvantagem apenas nos derradeiros 10 minutos dos 180 de toda eliminatória.

Nos outros jogos bem se pode dizer que nenhum dos favoritos conseguiu o apuramento: Barcelona, Lyon e Inter caíram.
Face aos resultados da primeira mão, a maior surpresa veio de Lyon, onde a Roma se impôs com grande categoria por 0-2. Uma exibição sublime do Liverpool não chegou para a vitória no jogo, mas foi suficiente para eliminar o campeão Barcelona. Em Valência a nota de destaque vai sobretudo para as inusuais cenas de violência ocorridas no final da partida, envolvendo vários jogadores e técnicos de abas as equipas, ao que parece iniciada por…Materazzi.
Jogos para hoje: Arsenal-PSV (0-1); Milan-Celtic (0-0); Bayern-Real Madrid (2-3) e Manchester United-Lille (1-0). Manchester e Milan deverão passar, ficando a maior fatia da curiosidade centrada nos outros dois combates.
Lamentavelmente a SportTV, com dois canais, só nos vai deixar ver um deles na íntegra (ainda que à nossa escolha), como tem sido norma desta temporada – a funcionalidade multijogos é interessante para seguir os resultados, mas não permite dar a atenção devida a jogos como estes.
Para quando o regresso dos diferidos integrais, sem informação do resultado?

PORQUÊ SEGUNDA ?

Mesmo com a segunda mão do confronto com o PSG agendada para quinta-feira dia 15, Benfica solicitou o adiamento do jogo frente ao U.Leiria para segunda-feira dia 12, às 19.45h. Porquê ?
Bem sei que o jogo em Paris envolve uma viagem (curtinha, diga-se), mas não seria a segunda e decisiva mão desta eliminatória o momento em que a equipa se deveria apresentar com maior frescura física ?
Quem parece não ter qualquer peso nesta história são os adeptos que compram lugares cativos e se sentem defraudados ao verificar que, pela terceira vez nesta temporada (fora o que ainda aí vem), os jogos são remetidos para dias de semana, em horários dificilmente compatíveis com uma vida normal de trabalho.
A dois dias de uma jornada europeia, a Luz vai seguramente apresentar neste jogo com o Leiria uma moldura desoladora, o que acontece justamente na altura que a equipa mais precisaria de apoio. Apoio esse que não faltaria se o jogo fosse simplesmente...domingo.
Estranhos critérios estes...

CLASSIFICAÇÃO "REAL" - Ou o regresso da velha ordem

Quando foram conhecidas as nomeações para esta jornada desde logo me interroguei se não estaríamos a regressar a uma velha ordem que tanto mal fez ao futebol português e ameaça a todo o momento, mesmo com o cutelo judicial a pender sobre si, voltar a dele tomar conta.
Fruto (maldita palavra esta…) talvez da inflamada pressão levada a cabo pelos responsáveis portistas na sequência do jogo de Leiria (coincidência ?), desde há umas semanas para cá se nota algo no ar que não indicia nada de bom para o que resta de campeonato. As nomeações de três árbitros do Porto (dois de facto, um por afinidade) para os jogos dos candidatos ao título, adensou essa suspeição, e o que aconteceu neste fim-de-semana, uma semana depois do que se passou em Aveiro, parece confirmar haver fortes motivos para alarme.
Vamos por partes.
F.C.Porto-Sp.Braga: Olegário Benquerença é um dos árbitros sobre os quais, por culpa própria, tem de recair sempre uma grande dose de desconfiança - ninguém esquece o golo de Petit a Baía, nem a arbitragem da meia-final da taça da época passada quando colocou, com as suas mãos e o seu apito, o F.C.Porto na final. Erra demasiado, comete erros demasiado graves e, pior do que isso, sempre em benefício do mesmo clube. Não consigo entender o que a Uefa vê nele, se bem que possa admitir que em critérios como a condição físico-atlética, ou conhecimentos teóricos, o leiriense seja brilhante. O seu problema até pode muito bem não ser simples incompetência, o que, diga-se, torna tudo muito mais grave.
No sábado Benquerença voltou a estar em destaque, favorecendo claramente, em dois momentos, o clube que tem desde sempre – muito antes do golo da Luz – protegido, com arbitragens frequentemente na linha do escândalo.
A grande penalidade assinalada e, a bem do futebol, defendida por Paulo Santos, foi verdadeiramente assassina, e demonstra por si só as intenções que Benquerença levava para esta partida. Se dúvidas houvesse a esse respeito elas ficaram dissipadas quando, após terem sido feitas cinco substituições, terem sido mostrados cinco amarelos, e ter sido assinalada a tal grande penalidade, Benquerença apenas deu míseros três minutos de compensação. Pior ainda foi que esses três minutos praticamente nem foram cumpridos pois o jogo esteve constantemente parado nesse período, com o resultado tangencial e o Braga à procura do empate. Habilidades…
Não se pode dizer que o Porto ganhou devido à arbitragem, mas lá que Benquerença fez por isso…
Desportivo das Aves-Benfica: O portuense Jorge Sousa voltou também a fazer das suas, assinalando uma grande penalidade forçadíssima e, mais grave que isso, enchendo o Benfica de cartões amarelos – alguns perfeitamente grotescos - sabendo-se como o plantel encarnado é limitado. Jorge Sousa foi o mesmo árbitro que em Outubro de 2004 conseguiu ver falta num lance em que Luisão saltou inofensivamente com o avançado Romeu então no V.Guimarães, num dos lances que, pelo absurdo, mais nitidamente recordo da sua carreira.
Mais do que prejudicar o Benfica – Quim acabou por defender o penálti, e a questão dos amarelos há de se ir resolvendo – Jorge Sousa prejudicou o futebol assinalando 44 (!!) faltas num jogo correctíssimo, estragando por completo um espectáculo que sem ele poderia ter sido substancialmente menos feio do que foi assim.
Quando alguns se queixam da qualidade do futebol em Portugal, por contraposição com a excelência dos espectáculos que vemos, por exemplo, na Inglaterra, esquecemo-nos que das 44 faltas assinaladas por Jorge Sousa um qualquer juiz britânico não marcaria mais de 20, fazendo fluir o jogo e permitindo aos espectadores verem aquilo que realmente gostam: futebol.
Esta forma de arbitrar é uma característica genuinamente portuguesa, e emana de uma visão retorcida da função arbitral, veiculada por figuras como Jorge Coroado (também ele especialista em se assumir como figura central dos jogos e estragar os espectáculos, como bem me recordo) e o próprio presidente da comissão de arbitragem, segundo a qual o árbitro deve assinalar todos os pequenos contactos que vão existindo durante um jogo, suposta e falaciosamente em defesa dos artistas. Não se vê isso em mais nenhum campeonato, e é aqui que reside uma das razões para o défice de qualidade estética da maioria dos jogos disputados no nosso país.
É claro que há motivos para este comportamento, e que vão desde uma atitude defensiva das arbitragens, preferindo proteger-se a si próprias do que ao espectáculo, até à assumpção de um protagonismo que lhes garante os holofotes mediáticos, e os deixa de mãos livres para manipular a bel prazer das suas simpatias o desenrolar de jogos que de outra forma lhes fugiriam das mãos.
Há uma excepção: Pedro Henriques, que curiosamente nunca foi promovido a internacional…
U.Leiria-Sporting: Tudo o que disse em relação a Olegário Benquerença se aplica na perfeição ao portuense Paulo Costa (bem como, diga-se, ao seu irmão Rui Costa). Efectivamente a carreira deste juiz tem-se confundido com uma constante e desavergonhada protecção ao principal clube da sua cidade, recordando-se-lhe actuações completamente enviesadas, mas sempre no mesmo sentido.
Em Leiria Paulo Costa, mais do que afastar Liedson do jogo do Dragão – o que, mau grado o zelo, nem se pode em rigor questionar – afastou o Sporting da luta pelo título, com uma exibição repleta de erros, maiores e menores, que manietaram a equipa de Paulo Bento. Foras-de-jogo mal assinalados, faltas ao contrário, de tudo Paulo Costa se socorreu para liquidar os leões, acabando por deixar passar uma grande penalidade em claro, justamente no lance da expulsão do avançado brasileiro.
Na época passada, quando o Benfica de Koeman ainda discutia o título e se deslocou à Amadora, Paulo Costa tudo tentou para, com uma actuação inacreditável, acabar ali mesmo com o campeonato. Não o conseguiu desde logo graças a um golo milagroso de Miccoli nos últimos instantes, através de um pontapé de longa distância no qual Paulo Costa nunca poderia encontrar qualquer tipo de irregularidade, pois caso contrário estou certo que o anularia.
Ontem lembrei-me desse jogo, por muito que o afastamento do Sporting possa ser do meu agrado (que mais não seja pelos milhões da entrada directa na Champions League) – embora fosse de todo conveniente para o Benfica que Liedson pudesse jogar e marcar no Dragão.
Obviamente terei que atribuir dois pontos aos leões, fruto da grande penalidade que ficou por marcar. O lance é complexo, mas o critério é o seguinte: cartões aparte, a eventual falta de Liedson antes da entrada na área não é pontuável para esta classificação, mas já a falta que Rossato faz lá dentro, sendo para grande penalidade, é passível de correcção pontual.

Fica a classificação actualizada, e fica também a nota de grande preocupação para as dez jornadas que restam, nas quais a luta pelo título se vai agudizar e as pressões vão recrudescer.

F.C.PORTO 49 (não prejudicado)
Benfica 47 (prejudicado em 2 pontos)
Sporting 44 (prejudicado em 4 pontos)

VEDETA DA JORNADA

ADRIANO: Depois de uma longa travessia do deserto, durante a qual se chegou a falar inclusivamente da sua dispensa, o avançado portista demonstrou cabalmente nestas últimas três jornadas que tem indiscutivelmente lugar na equipa de Jesualdo. Três golos em três jogos voltam a mostrar o Adriano que na época transacta foi por diversas vezes decisivo no trajecto portista para o título.

LEÃO AFUNDA-SE

O Sporting ter-se-á despedido definitivamente do título ao ceder o quinto empate nos últimos seis jogos, desta vez em Leiria diante do União local.
A equipa de Paulo Bento bem se pode queixar da sorte pois foi melhor que o seu adversário durante quase todo o jogo, não conseguindo todavia, e mais uma vez, materializar em golos o seu domínio. O U.Leiria esteve mal, desastrado no ataque, e ingénuo e desconcentrado na defesa, dando todas as possibilidades ao Sporting para, mesmo reduzido a dez, poder fazer o golo que lhe pudesse garantir os três pontos. Com esta igualdade os leões ficaram a longínquos nove pontos do Porto, e a uma também já considerável distância de cinco pontos do Benfica, o que não lhes permite qualquer optimismo face à luta pelo título e mesmo à batalha do segundo lugar, para a qual também já não dependem de sí próprios.

SALVARAM-SE OS DEDOS...

Com uma exibição muito pobre, o Benfica correu ontem sérios riscos de perder pontos na Vila das Aves e assim ver a sua distância para o líder Porto aumentar numa fase crucial da Liga. A equipa de Fernando Santos acabou por ter a sorte do jogo do seu lado, vencendo com um golo solitário de Nuno Gomes, quando os sinais de preocupação já eram por demais evidentes.
Na exibição dos encarnados estiveram bem patentes algumas das dificuldades que os levaram a perder treze pontos nos primeiros doze jogos, e a criar uma situação extremamente desconfortável em termos de luta pelo título, a qual ainda não lhes foi possível ultrapassar (ainda o será ?).
Jogando frente a uma equipa muito compacta e recuada, o Benfica nunca teve imaginação nem velocidade para abrir espaços por onde pudesse penetrar e criar situações de perigo. Os encarnados nunca conseguiram estender o jogo, e as suas acções ofensivas depararam sempre com uma floresta de pernas que punha a nu uma confrangedora falta de dinâmica.
Ao contrário do que tem acontecido na Luz, nos jogos fora de casa o Benfica raramente conseguiu nesta época dar uma tonalidade autoritária e fluente às suas prestações. A equipa entra em campo apática, dando-se às marcações e parecendo estranhamente esperar por um milagre - foi assim em Braga, no Bessa, na Figueira, em Paços, na Póvoa, e...ontem.
A agravar esta como que doença crónica do conjunto de Fernando Santos, o Benfica das Aves foi um Benfica manco de Katsouranis no seu sector intermediário. O deslocamento do grego para central – necessidade essa fruto de uma inqualificável gestão do mercado de inverno – não comprometeu atrás mas comprometeu no meio, onde nenhuma alternativa credível se lhe coloca neste momento.
Valeu ao Benfica o golo de Nuno Gomes, e valeu um Quim que soube homenagear da melhor forma a memória de Bento, defendendo um penálti num momento crucial da partida.
Para além de Quim estiveram em plano razoável Katsouranis (na sua nova missão) e a espaços Petit. Nuno Gomes salvou-se pelo golo, mas o melhor foi ainda assim um também pouco inspirado Simão – que mesmo a meio gás não deixa de ser a veia inspiradora de todo o conjunto.
Muito infelizes estiveram Miccoli e Derlei. Karagounis também nunca se conseguiu libertar da teia que o professor Neca espalhou para esta partida.
Enfim. Salvaram-se os pontos, mas ficou reforçada a ideia de que esta equipa tem poucas opções, e só por milagre pode aspirar a discutir Campeonato e taça Uefa até final.
O árbitro esteve mal, distribuindo amarelos por tudo e por nada, e interrompendo a partida constantemente, estragando o espectáculo e enervando as equipas, naquilo que constitui uma forma bem portuguesa de utilizar o apito. O penálti é mais que duvidoso.
Pontuações: Quim 3, Nelson 3, Anderson 2, Katsouranis 3, Léo 2, Petit 3, Karagounis 2, Simão 3, Miccoli, 1, Nuno Gomes 3, Derlei 2 e João Coimbra -.
Melhor em campo: Simão Sabrosa.
Nota final para a estranheza que me causa a aparente ausência de qualquer planeamento em termos de cartões amarelos no plantel encarnado. Katsouranis, Simão e Petit (este desde sábado) estão à beira da suspensão, o Benfica tem um jogo em casa entalado entre duas mãos de uma importante eliminatória europeia. Porque não fazer descansar Simão ou Katsouranis frente ao U.Leiria ? Será que vão ficar todos suspensos para a recepção ao F.C.Porto ? Será que Fernando Santos pensa nisto ?

PORTO NÃO CEDE

Uma excelente exibição do Braga de Jorge Costa não foi suficiente para retirar pontos ao líder no Dragão.
Marcando cedo, a equipa portista remeteu-se a uma postura de expectativa que quase lhe ia saindo cara, não fosse a categoria de Helton - com duas intervenções de elevado nível - e a inoperância do ataque bracarense, em particular de um Zé do Gol particularmente desinspirado.
Nota muito negativa para Olegário Benquerença, que mais uma vez não evitou transformar-se na figura do jogo, assinalando um penálti fantasmagórico, e fazendo cumprir menos de três minutos de descontos – quase todos eles com o jogo parado - quando na segunda parte ocorreram cinco substituições, cinco amarelos e o penálti. É um dos maiores enigmas da arbitragem portuguesa o facto de este indivíduo pertencer aos quadros de elite da Uefa, o que diga-se, em nada credibiliza a arbitragem europeia.
Nota positiva para os adeptos do F.C.Porto, que na sua maioria souberam reagir adequadamente à selvagem, saloia e burgessa forma como o grupo de imbecis, marginais, delinquentes e criminosos (segundo confissões fanfarronas dos próprios que as autoridades estranhamente têm ignorado) intitulado "Super Dragões" se comportou durante o minuto de silêncio em memória de Manuel Bento. Em termos de claques todos têm telhados de vidro, mas fica sempre bem constatar que o denominador comum do adepto do futebol se situa bem acima delas.

UM ÍDOLO !

Despertei para o futebol era Bento guarda-redes do Benfica. Foi-o até aos meus vinte anos, altura em que abandonou a carreira depois de vencer 8 campeonatos e 6 taças.
Ainda tive a felicidade de o ver jogar ao vivo em quatro ocasiões. Frente ao Altay em 1980 (o primeiro jogo do Benfica a que assisti), V.Setúbal em 83 e 85, e com o Sporting em 1986, pouco antes da sua grave lesão no mundial mexicano.
Bento foi juntamente com Humberto Coelho, Toni, Nené, Sheu ou Chalana, uma das razões de eu ser benfiquista. Foi um dos interpretes do que de mais profundo tem a minha relação com o futebol. Um ídolo. Uma referência como o futebol actual já não permite.
Recordo também duas esplendorosas exibições ao serviço da selecção nacional, onde foi indiscutível durante uma década - na Escócia em 1980 (0-0), e nas meias-finais do europeu de França em 1984.
Em 1983 Bento deu-me um autógrafo junto aos balneários do antigo estádio após um treino. Recordo a sua simpatia e simplicidade.
Muitos anos depois cruzei-me com ele algumas vezes perto do relvado sintético da nova Luz onde ele preparava os guarda-redes do futuro.
O Benfica e o futebol português ficaram hoje mais pobres. Mas Manuel Galrinho Bento estará eternamente na baliza da nossa memória.
Até sempre Campeão!

JOGOS PARA A ETERNIDADE (6) - A Rota do Título 2004/2005

Ao longo de mais de trinta anos de futebol muitas foram as alegrias, muitas foram as decepções. Três finais europeias em que à frustração de uma derrota corresponderam momentos de grande euforia ao longo da caminhada que as antecedeu, outras tantas meias finais, títulos nacionais (dez ao todo), diversas taças de Portugal, grandes vitórias em Portugal e n estrangeiro, sem esquecer as alegrias dadas pela selecção nacional, quer com as qualificações para as principais provas internacionais da última década, quer sobretudo pelas duas últimas campanhas de que resultaram presenças na final do Euro 2004 e nas meias finais do Mundial 2006.
Seria em princípio difícil definir o momento mais feliz de todas essas fortes e emotivas experiências, mas tendo de optar por algum, não hesitaria em escolher o título de 2004-2005 conquistado pelo Benfica depois de um longo jejum de onze anos. Na verdade não se trata de um momento mas sim de vários. De várias semanas ou mesmo meses. De toda uma época, de uma fase de vida.
Foi um dos títulos mais importantes da história do Benfica, pois os onze anos a seco criaram uma pesada nuvem sobre o clube. Eu próprio cheguei a temer muitas vezes que o Benfica não mais voltasse a disputar e vencer campeonatos, tal a dimensão dos problemas que enfrentava, e a perda de dinâmica de vitória que lhe estava cada vez mais associada. A forma como o campeonato decorreu fez sentir que se poderia tratar de uma ocasião única e irrepetível. Ou se era campeão ali e se tinha o futuro pela frente, ou talvez nunca mais fosse possível sê-lo – recorde-se que o F.C.Porto fora campeão europeu e mundial, embolsara mais de 100 milhões de euros com as vendas de Deco, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira etc, e aparecia como claro dominador do futebol luso.
Não sendo possível relembrar todo esse inesquecível ano futebolístico – para mim, de longe, o melhor campeonato das últimas décadas, tanto em emoção como em futebol jogado -, centrarei a memória nas duas últimas jornadas. Efectivamente uma não faria sentido sem a outra, e seria redundante tratá-las de modo autónomo.
Lembrarei apenas que essa época foi marcada por uma constante agitação no topo da tabela, que chegou a ser comandada por Porto, Sporting, Braga, Boavista, e na sua fase inicial também por V.Setúbal e Marítimo. Foi um campeonato extremamente equilibrado – recordo de já em plena segunda volta termos quatro equipas na frente com o mesmo número de pontos -, e disputado por um lote fantástico de equipas, do F.C.Porto campeão mundial em Tóquio ao Sporting finalista da Taça Uefa, de um Braga em clara ascensão a um Boavista ainda no top do futebol nacional, mais o melhor Rio Ave de sempre, o melhor Marítimo de sempre, a melhor Académica, o melhor V.Guimarães e o melhor V.Setúbal dos últimos anos, excelentes Belenenses, Nacional, Gil Vicente etc. Até o lanterna vermelha Beira Mar ganhou na Luz e no Dragão. À inglesa ! Um mimo de campeonato !
Depois de o Benfica ter conseguido, a sete jornadas do fim, uma vantagem de seis pontos que levou a sua imensa legião de adeptos – ávidos de glórias - a manifestações impressionantes de fervor clubista nos vários estádios espalhados pelo país onde a equipa jogava, uma derrota em Vila do Conde, um empate caseiro com a U.Leiria, e nova derrota em Penafiel, colocaram o Sporting no topo da tabela em igualdade pontual com as águias e com mais três pontos que os dragões. Faltavam então apenas duas jornadas, a primeira das quais contendo um ultra-decisivo Benfica-Sporting, e a última uma viagem ao Bessa.
Bastaria ao Sporting empatar na Luz para poder tranquilamente festejar o título em sua casa no derradeiro jogo frente ao Nacional. Ganhando sagrava-se de imediato campeão. Havia ainda um elemento importante nesta partida: o Sporting disputaria quatro dias depois a final da Taça Uefa em sua casa, vindo então a perdê-la frente ao CSKA de Moscovo.
A equipa de José Peseiro encontrava-se em grande momento de forma, podendo ganhar Liga e Taça Uefa na mesma semana, depois de uma longa sequência de brilhantes vitórias, emolduradas por exibições de fino recorte.
O Benfica por seu turno teria de ganhar para manter acesa a hipótese de, não perdendo depois no Bessa, conquistar o ansiado título. Se ganhasse por 1-0 ou por mais de um golo e o F.C.Porto ao mesmo tempo não vencesse em Vila do Conde, o Benfica também seria campeão logo nessa noite.
A equipa encarnada, orientada por Trapattoni, era extremamente batalhadora, mas algo carecida de opções. O banco era fraco, e o futebol que jogava, fruto do realismo do experiente italiano, era de pouca posse de bola, procurando através de contra-ataques quase sempre conduzidos por Simão Sabrosa, ou por via de lances de bola parada, os poucos golos com que foi sedimentando a sua difícil caminhada.
Dizia-se na altura, e com alguma razão, tratar-se do jogo do século. Não me lembro de facto de nas competições nacionais se ter jogado uma partida de tão dramática importância – mesmo os 6-3 de Alvalade em 1994 foram a cinco jornadas do fim, e o Benfica tinha sido campeão apenas três anos antes.
O ambiente em redor deste derby foi algo de inesquecível. Apesar da derrota em Penafiel, todos os benfiquistas acreditavam ter ali a sua oportunidade para resgatar anos e anos de desilusão.
Nessa manhã de sábado, viam-se inúmeras pessoas com as camisolas de ambos os clubes, e grupos de jovens entoando cânticos, mesmo em zonas bem longe do estádio.
Muita gente terá vivido esse dia com enorme ansiedade. Do lado do Benfica era a hipótese de pôr termo ao longo e angustiante jejum. Entre os leões tratava-se basicamente impedir que isso acontecesse, mas também de dar luz a uma época que entusiasmara fortemente a nação sportinguista.
O estádio estava naturalmente esgotado com vários dias de antecedência, o que foi a nota dominante de quase metade deste campeonato sempre que o Benfica marcava presença.
As equipas alinharam da seguinte forma. O Benfica com Quim, Miguel, Ricardo Rocha, Luisão, Dos Santos, Petit, Manuel Fernandes, Nuno Assis, Geovanni, Nuno Gomes e Simão Sabrosa. O Sporting apresentava-se sem o goleador Liedson castigado com um inoportuno e ingénuo (ou talvez não ?) cartão amarelo nos últimos minutos do jogo anterior. Peseiro fez alinhar: Ricardo, Miguel Garcia, Beto, Anderson Polga, Rui Jorge, Custódio, Pedro Barbosa, Rochenback, Sá Pinto, Douala e Pinilla.
O ambiente no estádio era impressionante. Nunca em momento algum me recordo de ouvir tanto barulho num qualquer jogo, mesmo quando o antigo estádio da Luz levava 120 mil pessoas (efeitos da acústica). Ao mesmo tempo sentia-se uma enorme tensão. À medida que o tempo ia passando o nervosismo adensava-se. O meu coração resistia, o que me deixa absolutamente tranquilo quanto à inexistência de problemas cardíacos, tal a intensidade com que vivi estes momentos.
O jogo foi naturalmente muito táctico, e durante toda a primeira parte há apenas que destacar um remate perigoso de Douala bem defendido por Quim.
No segundo tempo, o Benfica entrou melhor, e criou nos primeiros minutos uma grande oportunidade por Simão. O mesmo Simão, na sequência da melhor jogada de todo o encontro, atirou a milímetros do poste da baliza de Ricardo quando eram passados cerca de 65 minutos de jogo. Lembro-me de pensar que tinha ficado ali o título.
A partir de dada altura, com a entrada de Hugo Viana, o Sporting passou a dominar claramente o jogo. Já dentro do último quarto de hora, o mesmo Viana e também Rochenback puseram à prova Quim com excelentes remates de meia-distância. O resultado mantinha-se em branco e o título parecia perdido.
Faltavam sete minutos para os noventa quando o árbitro Paulo Paraty assinalou um livre perigoso por falta de Pinilla sobre Ricardo Rocha. Petit bateu, a bola sobrevoou a área leonina e eis que surge lá no alto Luisão, saltando com Ricardo, a desviar a bola para dentro da baliza do Sporting.
A minha primeira reacção foi olhar para o fiscal de linha. Confesso que só depois de ver as imagens na televisão fiquei com a certeza de não ter havido falta. Quando vi Paraty a apontar para o centro do terreno e os jogadores do Benfica a festejarem efusivamente, até custei a acreditar.
Foi a loucura generalizada no estádio. Dei comigo já fora do lugar, nas escadas, a saltar agarrado a pessoas que não conhecia de lado nenhum. Estoiram foguetes, lançam-se fumos e very- lights, 60 mil pessoas parecem tomadas por um acesso de histeria absoluta. Teria sido interessante alguém se entreter a observar as reacções àquele momento, com frieza de cientista. Viam-se pessoas a chorar, pessoas ajoelhadas. Tudo !
Ainda havia 6 minutos para jogar, mais os descontos (seriam mais 5). Mas o Sporting desnorteou-se. Beto foi expulso por protestos, sucederam-se as faltas, e praticamente não se jogou mais. As bancadas registaram seguramente os 10 minutos de maior euforia da história do estádio.
Paraty apitou para o final. Estava consumado o triunfo, mas como o F.C.Porto tinha ganho ao Rio Ave a festa só poderia ser total no fim de semana seguinte no Bessa. Os portistas tinham os mesmo três pontos de atraso, mas vantagem no confronto directo – fruto do polémico jogo em que Benquerença não viu a bola dentro da baliza de Baía. O Sporting estava matematicamente afastado do título.
No relvado a festa assemelhava-se à conquista de um troféu. Sentia-se a importância do passo que estava a ser dado rumo ao que todos ansiavam havia tanto tempo.
Depois de dois ou três minutos de euforia, a minha preocupação voltou-se para a necessidade de arranjar bilhetes para a última jornada. Tinha-os visto à venda na véspera e no próprio dia do jogo, mas não tive coragem de arriscar. Os mais baratos custavam 40 euros, e o Benfica corria o risco de ir ao Porto apenas cumprir calendário. Agora, era imprescindível consegui-los.
Fui desde logo para casa na expectativa de me levantar de madrugada prevendo uma enorme afluência às bilheteiras. No trajecto até casa os contactos telefónicos sucederam-se. Quem ia ao Bessa, quem não ia, quantos bilhetes eram necessários, etc. Fui levantar dinheiro por duas vezes, à medida que me acrescentavam interessados.
Já tinha decidido prontamente ser eu a ir à Luz comprar os bilhetes. Nunca correria o risco de deixar tal tarefa nas mãos de outra pessoa, mesmo sacrificando uma noite de sono.
Eram 5.40 h da manhã estava eu a chegar ao Estádio onde horas antes uma multidão vibrara intensamente com o “jogo do século”. Cabe aqui um aparte para dizer que chega a ser chocante a quantidade de lixo que deixa o jogo de futebol pelas imediações do recinto. Estavam lá já mais de uma dezena de pessoas aguardando pelas 10.00 h, altura em que abriam as bilheteiras.
O tempo foi passando entre a conversa e a leitura dos jornais desportivos (cada um comprava jornais diferentes que depois iam circulando). Lá consegui os bilhetes.
A semana passou com ansiedade e…medo. Depois de chegar ali, seria dramático perder aquele campeonato.
Dia 22 de Maio de 2005. O dia do juízo final.
Depois de me ter encontrado com os meus parceiros de viagem junto às Torres de Lisboa, segui rumo ao Porto. Após um leitão na Mealhada, devorado num restaurante apinhado de benfiquistas, quando retomamos a A1 o panorama era impressionante. A baixa velocidade em em fila pouco menos que compacta, milhares e milhares de automóveis com cachecóis, bandeiras e adereços variados faziam da principal estrada do país uma verdadeira procissão a caminho do Bessa. Até hoje me interrogo como foi possível caber tanta gente no estádio quantos os automóveis que para lá se dirigiam a meio da tarde.
Não me recordo porquê, acabamos por passar junto ao Estádio do Dragão onde o F.C.Porto, à mesma hora, defrontaria a Académica – para serem campeões, os portistas teriam de ganhar e esperar que o Benfica perdesse.
O ambiente na cidade do Porto era incrível. Numa parte da cidade os portistas esperando um deslize do Benfica para comemorarem mais um título. Do outro lado, os benfiquistas esperando ansiosos pelo título. Dois estádios lotados para a decisão de toda uma época numa mesma cidade.
Nas imediações do Bessa era naturalmente o vermelho que imperava – recordo que Luís Filipe Vieira comprara toda a lotação do estádio, pelo que à excepção dos cativos boavisteiros, todo o estádio se vestiria de vermelho, levando Trapattoni a dizer que em tantos anos de futebol nunca vira nada igual.
Quando as equipas entraram em campo um nervoso miudinho irrompeu pelas minhas costas acima. Com o passar do tempo foi dando lugar a uma tensão nervosa difícil de suportar, que quase me levou a equacionar abandonar por momentos as bancadas para lavar a cara.
O Benfica alinhou com a mesma equipa que jogara frente ao Sporting e em quase todas as anteriores jornadas. No Boavista, já sem ambições, jogavam Nelson, Hugo Almeida, Cadú e Eder entre outros.
À passagem da meia hora Cadú mete mão à bola num lance disputado com Geovanni. Pedro Henriques não hesitou e apontou para a marca de penálti. Simão converteu e inundou de alegria todo o estádio. Perto do intervalo, todavia, numa falha de marcação na sequência de um pontapé de canto, Eder restabeleceu a igualdade num golpe de cabeça.
Embora o empate chegasse, temeu-se o pior. A pressão era muita e a equipa, sofrendo um golo à beira do intervalo, podia vacilar.
Na segunda parte lembro-me fundamentalmente dos nervos e da quantidade de vezes que olhei para o relógio. Logo no início vieram más notícias do Dragão: o F.C.Porto marcara por Ibson, e agora, um só golo do Boavista deitaria tudo por terra.
Até aos 88 minutos fui roendo as unhas, contorcendo-me na cadeira e olhando o relógio que parecia cada vez mais vagaroso. Nesse momento dá-se uma enorme explosão: golo da Académica frente ao Porto. Assim, mesmo que o Boavista marcasse o Benfica seguraria o título.
Sentiu-se então que o campeonato já não iria fugir aos comandados de Trapattoni. A festa começou aí com gritos de “campeões, campeões, nós somos campeões” a tomarem conta das bancadas do Bessa.
Quando Pedro Henriques apitou muitas coisas me vieram à cabeça. Tinha acabado ali, com final feliz, uma verdadeira epopeia. O Benfica era finalmente campeão.
A festa no relvado e nas bancadas foi bonita, mas havia que regressar a Lisboa. Nova paragem para jantar na Mealhada, recompondo o estômago e os nervos, e viagem (ao som da rádio que reportava o que se ia passando) rumo ao aeroporto de Lisboa para esperar a equipa.
Depois foi a loucura total no aeroporto e a caminhada para o Estádio da Luz onde às 5.00 h da manhã havia 55 mil pessoas aguardando os jogadores.
Não me deitei antes de devorar todos os jornais desportivos da segunda- feira. Eram 8.00 da manhã e ia finalmente dormir tranquilo, após ter vivido os momentos mais altos de toda a minha vida de adepto do futebol.