SOMOS NÓS!


O futebol, tal como o mundo, está longe de ser aquilo que queríamos.
É o que é. E neste futebol, como neste mundo, há que fazer contas, pois os salários não se pagam com feijões, nem com juras de amor eterno.
Neste futebol ninguém joga pela camisola. Gente de diferentes latitudes procura que a cada passo na carreira corresponda gordura na conta bancária. Os empresários, os fundos e os passes repartidos, acrescentam vinagre a um prato já de si indigesto. E temos o mercado de transferências sobre a mesa. Temos o futebol moderno, de costas voltadas para tudo o que o popularizou. Lamento, mas não existe outro. Só há este, e, com os seus vícios e virtudes, continuamos a amá-lo. Por enquanto.
O Benfica não lhe está imune.
Terão sido cometidos erros nesta pré-temporada? Porventura sim, na forma de comunicar com uma massa adepta jovem, cada vez mais instruída, que exige perceber como, de que forma, e porque razão, são tomadas determinadas decisões.
De resto, lutar contra a voragem dos tempos, e dos dinheiros, é como lutar contra a chuva. Lamento, mas é esta a verdade.
Quanto a jogadores, prevalece a velha máxima segundo a qual só fazem falta os que cá estão. Já vimos sair Di Maria, David Luíz, Ramires, Fábio Coentrão, Witsel, Javi Garcia e Matic, todos eles, a seu tempo, insubstituíveis. Sem eles, em Maio ganhámos tudo. Agora sairão outros. Sem eles, teremos de voltar a ganhar. Iremos voltar a ganhar.
Insubstituíveis somos nós. E nós, sócios, jamais poderemos falhar com o apoio à equipa, ao clube, e a todos aqueles que o servem - compreendendo que é fácil criticar (a quem está de fora), sendo bem mais difícil decidir (a quem está de dentro).
No dia em que o Campeonato tiver início, entraremos em campo com onze jogadores. Essa será a nossa equipa. Com ela, faremos a longa caminhada até ao 34º título. Depois virão outros, e mais outros, e mais outros. Mas nós…, nós estaremos sempre cá. Nós é que somos o Benfica. E o Benfica será tão forte quanto a união que demonstrarmos em seu redor.

BRASIL 2014 - NOTAS FINAIS


Uma esplendorosa fase de grupos prometia mais, mas, ainda assim, assistimos a um excelente Mundial. Tivemos muitos e bons golos, grandes defesas, quebra de recordes, incerteza, emoção, e um campeão justo.
Messi não conseguiu ser Maradona, e, mesmo conquistando o prémio para o melhor jogador do torneio, esteve longe do brilhantismo evidenciado noutras alturas ao serviço do seu clube. Faltou esse toque de Midas para que a Argentina dos “nossos” Enzo Perez e Garay se sagrasse campeã.
Fazendo jus à velha máxima do futebol, no fim ganharam os alemães. E ganharam bem.
Entre todas as selecções, a “Mannschaft” foi a mais compacta, a mais empolgante, a mais refinada, e, sobretudo, a mais eficaz.
Juntamente com a detentora do título Espanha (precocemente afastada), o Brasil de Scolari foi quem mais desiludiu. Realizou um campeonato regular até às meias-finais, mas aí claudicou por completo, entrando para a história pela porta errada. É fácil criticar o antigo seleccionador nacional, e, por cá, muitos têm aproveitado a ocasião para ajustar velhas contas. Talvez seja justo lembrar neste momento que, com ele ao leme, a nossa selecção conseguiu os melhores resultados de sempre, e que, antes ainda, o mesmo técnico havia já sido campeão do mundo pelo seu país. Também me recordo de, com ele, Portugal vencer a Rússia pelos mesmos 7-1 que agora lhe acertaram em cheio. Não gosto de injustiças, nem de gente com memória curta, e ainda menos de lavagens de roupa suja – nas quais a comunicação social portuguesa é fértil.
Por falar em Portugal, talvez seja altura (agora sim) de avaliar a prestação do conjunto de Paulo Bento. Os 0-4 diante da campeã Alemanha parecem-nos hoje francamente mais aceitáveis. E o empate com os Estados Unidos terá sido, também, face a tudo o que se viu, um resultado normal. Podemos pois classificar a participação portuguesa dentro de parâmetros que ficam longe de corresponder à imagem negra que os media - sempre ávidos de sangue -procuraram passar ao longo destas semanas.

LENDAS E NARRATIVAS

1.Tudo indica que na próxima temporada o Benfica marque presença nas provas europeias de seis diferentes modalidades (Futebol, Hóquei em Patins, Basquetebol, Andebol, Voleibol e Atletismo). Relembre-se que o nosso clube é campeão em quatro delas. Ser a maior potência desportiva do país passa, muito provavelmente, por algo parecido com isto. Mas poderia também ser uma definição para o clube com maior número de sócios, para o que tem mais títulos, para o que tem melhores equipas, para o que tem maiores e melhores infraestruturas, etc. Não vejo é que este fato sirva a outro, sem que esse outro caia no ridículo.
2.Ao contrário do que sucede com as competições europeias, ou com as taças, em que podemos ver pela frente adversários distintos, o sorteio do campeonato tem pouca relevância. Os opositores são conhecidos à partida, havendo que jogar com todos, sendo apenas sorteada a ordem das jornadas.
Ainda assim, há que sublinhar o facto de não irmos ao Porto nas últimas rondas – a acontecer novamente, confesso que suspeitaria de fraude -, de iniciarmos a defesa do título em casa, e de recebermos o Sporting à terceira jornada, aspectos que nos são teoricamente favoráveis. Realce ainda para as dificuldades de Novembro e Dezembro, onde um ciclo de jogos terrível, com Champions pelo meio, irá por à prova o conjunto de Jesus.
Com o tempo, perceberemos se o calendário é bom o mau. Por agora, é apenas…um calendário.
3.Domingo disputa-se a Final do Mundial. Desde 1930 que a história do futebol é escrita, em larga medida, pela pena desta competição. Pelé, Maradona, Eusébio e Cruyff tiveram, cada um, o “seu” mundial. Ainda não se sabe de quem será este.  Sabe-se, sim, que assistiremos a uma partida histórica. E espera-se que de nível qualitativo condizente com as dezenas de jogos que nos deliciaram ao longo do mês. Que ganhe o melhor!
4.Alfredo Di Stefano era o ídolo de Eusébio, e isso, por si só, representa muito daquilo que o hispano-argentino foi no futebol internacional. Paz à sua alma.

O REGRESSO DOS CAMPEÕES

Mesmo com o Campeonato do Mundo ao rubro, o regresso ao trabalho do plantel benfiquista não pode deixar de figurar no topo na nossa agenda desportiva.
Os Campeões Nacionais estão de volta.
Alguns – precisamente devido ao Mundial – só mais tarde serão integrados. Outros não regressarão ao Seixal. Entretanto, umas quantas caras novas despertam a curiosidade.
É pena ver partir elementos que se destacaram no histórico “Triplete”. Mas as leis do mercado são incontornáveis, e não podemos escapar-lhes.
Convém lembrar que só pudemos dispor de jogadores da categoria de Garay, Matic ou Rodrigo, porque entretanto vendemos David Luíz, Javi Garcia ou Di Maria. Agora, com a saída de craques com a cotação em alta, há que desenvolver novos activos, alimentando assim a cadeia de negócio que salvaguarda o equilíbrio financeiro da SAD. Havendo competência para escolher, e depois para valorizar, o modelo funciona. E, como recentemente comprovámos, dá títulos.
Outro vetor base é o da formação. Não pode haver competitividade apenas com formação, mas, na conjuntura actual, também não poderá haver equipa sem formação. Neste sentido acredito que alguns elementos da equipa B sejam promovidos ao plantel principal, e possam mais tarde ascender à titularidade.
Julgo ser importante manter o maior número possível de jogadores campeões, e assim garantir um fio condutor de coesão e mística. Já que a algumas propostas não podemos dizer não, a outras - para aqueles cujo pico de mercado já tenha passado (casos de Maxi, Luisão ou Cardozo), ou, pelo contrário, para os que esse pico ainda esteja por chegar (casos de Oblak ou Markovic) -, parece-me prudente resistir. Para além dos aspectos técnicos, há que preservar todos os laços criados no grupo por via das conquistas.
O próximo Campeonato é decisivo para a afirmação de um novo ciclo no futebol português, e nada pode ser deixado ao acaso. A estrutura do Benfica já deu provas da sua competência, e é garante de que o Benfica se apresentará forte, rumo ao “Bi”.

MAIS MUNDIAL


No momento em que escrevo estas linhas, as hipóteses de Portugal prosseguir a sua caminhada no Campeonato do Mundo são mais ou menos iguais às das Honduras.
O saudoso José Torres, em situação semelhante, pediu um dia que o deixassem sonhar. É o que nos resta. Porém, quando esta edição chegar às mãos do estimado leitor, o mais provável é que todo o país já tenha acordado para uma realidade amarga – embora não de todo inesperada.
Mas há mais Mundial para além de Ronaldo, Paulo Bento e lesões musculares. Grandes jogos, golos espectaculares, defesas impossíveis, futebol de ataque, e tudo aquilo que gostamos de ver, tem acontecido quase diariamente no certame brasileiro. Até agora, poderia mesmo qualificar este campeonato como o de maior qualidade das últimas décadas. Porventura, desde os tempos em que o romantismo mágico de Zico, Sócrates e Falcão cedeu a vez ao cinismo calculista de Rossi, Conti e Gentile, num Brasil-Itália que marcou um antes e um depois na história do desporto-rei. Estávamos em 1982.
Se quanto à qualidade de futebol as coisas têm corrido bem, já quanto às arbitragens não podemos dizer o mesmo.
Nunca defendi a introdução de meios tecnológicos que pudessem perturbar o ritmo dos jogos com pausas indesejáveis. Depois do que tenho visto nestas semanas, talvez não mantenha a mesma opinião. Rara tem sido a partida sem erros grosseiros de arbitragem. Juízes da Nova Zelândia, Gambia, Guatemala, Uzbequistão, Tahiti ou El Salvador – sem experiência recomendável para uma competição desta natureza –, e sem falar de outros que infelizmente conhecemos mais de perto, têm desvirtuado, e em alguns casos arruinado, aquilo que os jogadores tanto se vão esforçando por fazer em campo. Há selecções eliminadas por erros de arbitragem. Há selecções qualificadas com erros de arbitragem. Com optimismo, esperemos que na fase eliminatória o panorama melhore substancialmente, pois o futebol praticado tem feito por merecer. Caso contrário, a FIFA não poderá continuar a assobiar para o ar.