À PORTUGUESA

À hora a que este jornal chegar às mãos do estimado leitor, já se conhecerá o desfecho do Portugal-Polónia. Antes dessa partida, é-me difícil fazer uma análise profunda ao desempenho do conjunto luso no Europeu de França: chegar às meias-finais será uma coisa, ser eliminado pelos polacos será outra bem diferente.
Além do mais, esta selecção tem viajado da terra ao céu, e do céu à terra, a uma velocidade que nem o proverbial oito-oitentismo português consegue acompanhar. Uma fase de grupos muito modesta levou à depressão generalizada dos adeptos portugueses. Mas logo uma vitória sofrida, e bastante feliz, sobre a Croácia, mergulhou o país nas ondas da euforia. No momento em que escrevo, já vamos outra vez ser campeões.
O seleccionador Fernando Santos é soberano nas suas escolhas. E, se chegar à final, todos os que o criticaram nas últimas semanas terão de meter as violas no saco. Também eu - um dos dez milhões de seleccionadores de bancada -, que não só teria feito outras opções desde o início da prova (Renato Sanches, Quaresma…), ou até antes dela (André Almeida, Pizzi, André Silva…), como teria adoptado um discurso bem mais prudente face às limitações de uma equipa que depende em demasia de um só jogador, e que tem alguns pontos fracos… bastante fracos (o jeito que faria um ponta-de-lança a sério...).
O que me parece inegável é que, até aqui, temos tido a sorte do nosso lado: na fase de qualificação, no grupo que nos calhou, nos enquadramentos desta fase eliminatória, e, pelo menos, no jogo com a Croácia.

Que os deuses nos tenham continuado a proteger na partida de quinta-feira.

HERÓIS

Perder custa. Perder com rivais, custa a dobrar. Sobretudo havendo troféus em disputa.
O nosso Hóquei registou uma amarga derrota no domingo passado, em Ponte de Lima, diante do FC Porto, não conseguindo juntar o Tri na Taça, ao Bi-Campeonato e à Liga Europeia.
Não pude assistir ao jogo, pelo que não me seria lícito comentar a arbitragem. Seja como for, há que lembrar a fabulosa temporada da nossa equipa, a qual terá chegado a esta final-four em inteligível clima de descompressão, depois das glórias nacionais e internacionais recentemente alcançadas, e das semanas que entretanto se passaram.
Estamos a falar daquela que é, presumivelmente, a melhor equipa de sempre do Hóquei em Patins encarnado. E aos saudosistas de outros tempos respondo desde já com um facto irrefutável: fomos duas vezes campeões europeus (2013 e 2016), e só desta vez juntámos o título doméstico à conquista internacional.
Aliás, estes triunfos vêm na senda de várias temporadas de grande fulgor. Nos últimos seis anos, somámos três Campeonatos Nacionais, três Taças de Portugal, duas Supertaças, duas Ligas Europeias, uma Taça Cers, duas Taças Continentais e uma Taça Intercontinental. Um palmarés impressionante, ao nível do Clube que, ininterruptamente, pratica a modalidade há mais tempo no mundo.

Houve Cruzeiro e Perdigão, houve Ramalhete e Livramento, houve Paulo Almeida e Rui Lopes, houve ainda Panchito. Um dia também falaremos de Trabal, Valter Neves, Diogo Rafael, João Rodrigues, Adroher ou Nicolia, como grandes figuras de uma época dourada. Que estamos a viver, e esperamos ver prolongada por mais uns anos.

O TETRA

O Benfica existe para ganhar. Apenas para ganhar.
Foi a ganhar que cresceu. Foi a ganhar que se tornou popular e gigantesco, que nos cativou e envolveu.
Diz-se que perder e ganhar é desporto. Mas não é de desporto (muito menos de indústria ou de comércio) que se fala quando se fala de Benfica. É de amor. É de paixão. De uma paixão sem limites, que não admite outra coisa que não a vitória, que somente aceita a glória absoluta.
Somos Tri-campeões. Mas se em Maio de 2017 não festejarmos o Tetra, ninguém se lembrará dos maios anteriores. Todas as conquistas passadas serão meras peças de museu. Dignas de orgulho, mas carentes de sentimento. Serão outros a festejar, ou a verde, ou a azul. Já não estamos habituados. Custa-nos, só de imaginar o cenário.
A estes axiomas, que nos moldam a alma, e que nos exigem superação constante, acresce um contexto estratégico muito peculiar. Temos um dos rivais desportivamente moribundo, à procura de uma oportunidade para se reerguer. Temos outro em bicos de pés, a tentar afirmar-se por todos os meios – mesmo os mais estapafúrdios e indecorosos. Depende de nós deixá-los, ou não, renascer das cinzas. Depende de nós estabelecermos, ou não, um ciclo de manifesta hegemonia no futebol português, que pode levar décadas a ser quebrado, mas que, no sopro de uma temporada menos conseguida, rapidamente se esfumará, como areia que se escapa pelos dedos das mãos.

O Benfica não irá certamente ganhar todos os campeonatos até ao fim das nossas vidas. Mas alguns não os poderá perder. O próximo é um deles. 

MODALIDADES

A gloriosa saga do ecletismo encarnado de 2015 era difícil de repetir. Então, só o Andebol escapara ao pleno dos campeonatos nacionais entre as modalidades mais significativas. Foi o melhor ano de sempre a este nível.
Em 2016, se Futebol e Hóquei repetiram o título (no caso do Hóquei acompanhado de brilhante conquista europeia), e se Futsal e Atletismo mantêm em aberto essa possibilidade, Basquetebol, Andebol e Voleibol falharam o principal objectivo - pese embora a conquista de Taças e Supertaças.
Os casos são diferentes, bem como o contexto e as expectativas que rodeavam cada uma das equipas. Se a de Andebol era, à partida, a menos favorita, a forma como deixou fugir o campeonato acabou por ser, porventura, a mais dolorosa. O meu grau de benfiquismo não me permite aceitar com naturalidade derrotas como a do último Sábado, quando, com quatro golos de vantagem a pouco mais de três minutos do fim, o título estava no bolso. A não repetir.
Também o Basquetebol desiludiu. O Benfica era o grande favorito à conquista do penta. Mantinha a estrutura e reforçara-se com nomes sonantes. Mas durante os play-offs percebeu-se que as coisas iriam correr mal. Jogámos pouco. As sete (!) derrotas com o FC Porto obrigam necessariamente à reflexão.
O Voleibol foi, sobretudo, infeliz. Perdeu no último set da última partida, depois de 24 vitórias em 25 jogos até chegar à final. Creio que nesta modalidade recuperaremos o título rapidamente.
De Futsal falarei no fim do campeonato. E o Hóquei, pela estrondosa época que fez (ainda falta a Taça), merece um texto inteiro, assim que a oportunidade espreitar.


A ANGÚSTIA DO ADEPTO NO MOMENTO DO MERCADO

O tema é recorrente. A cada defeso, a angústia do adepto cresce à medida que as notícias da saída de jogadores se avolumam nos jornais.
Quase não nos deixam comemorar os títulos em paz. Em poucos dias, a crer na imprensa, praticamente não temos equipa.
Para além de Renato Sanches, pelo menos Ederson, Jardel, Lisandro, Lindelof, Fejsa, Salvio, Talisca, Carcela, Gaitán e Jonas, foram, por estes dias, dados como negociados, ou negociáveis, para outros destinos. Na maioria dos casos tal não passa de especulação. O problema é que por vezes o fumo traz fogo, e alguns deles podem mesmo ter de vir a sair.
Sabe-se como funciona o modelo de negócio em clubes como o nosso, de países periféricos, e sem o poder financeiro de outros mercados. Sabe-se que, para manter contas equilibradas, e não comprometer o futuro, há que vender jogadores. Sabe-se que os mais procurados, os mais valiosos, os mais rentáveis, são, obviamente, os melhores. Sabe-se que os próprios, aliciados por salários principescos, são frequentemente os primeiros a forçar a saída. Sabe-se da pressão de agentes e intermediários. Sabe-se que, sobretudo em anos de Europeu ou Mundial, é difícil planificar o que quer que seja nesta matéria.
Porém, existem princípios orientadores que convém não desprezar.

Há jogadores em picos da valorização, mas susceptíveis de ser bem substituídos. Por outro lado, há jogadores cujo valor de mercado, por motivos etários ou outros, é manifestamente inferior ao valor desportivo – leia-se, ao peso na equipa. Poderá ser boa gestão vender os primeiros. Será sempre mau negócio perder os segundos.