O Benfica ultrapassou a fase de grupos da Liga dos Campeões
pela sexta vez em trinta anos. Fê-lo num grupo onde figuravam Bayern de Munique e
Barcelona, 2º e 3º do ranking da UEFA da última década. Fê-lo sofrendo golos
apenas da equipa bávara. E embora a segunda parte desta ultima partida frente ao
Dínamo não tenha sido brilhante, os primeiros trinta minutos foram de alta
intensidade, e chegaram para garantir a preciosa vitória - que poderia ter sido ampliada se o árbitro tivesse querido ver um penálti claríssimo por mão na área ucraniana.
Estes são os factos.
Vivemos, porém, tempos muito estranhos. Não só no futebol,
também na política e noutros parâmetros da sociedade e da vida. Hoje confunde-se exigência com
ressentimentos, confunde-se críticas com insultos, mistura-se tudo no caldo doentio de ódio e azedume absolutamente detestável, bem à vista, por exemplo, nas redes sociais, e quem não entra neste
folclore, ou está a fazer propaganda, ou está a soldo de alguma cartilha.
Lamento, mas eu gosto do Benfica, e fico sempre contente quando o
meu clube ganha.
Gosto dos jogadores do Benfica, gosto dos treinadores do
Benfica, e gosto dos dirigentes do Benfica. Enquanto representam o clube, são os meus ídolos.
Não pelas pessoas em si (a maioria nem conheço), mas pelo que representam. São
os do meu lado. São os meus.
É essa a minha matriz enquanto adepto. Foi assim, com
paixão, pela positiva, pela comunhão, que o meu pai me ensinou a ser
benfiquista. Acho mesmo que é a única forma verdadeira de o ser.
Se entendermos o futebol como caixote do lixo para
frustrações individuais ou colectivas, se nos entregarmos ao exercício de deitar abaixo presidente, treinador,
jogadores, se assobiarmos toda a gente (mesmo quando estão a entrar em campo, como
esta noite vi fazerem a Everton), se, mesmo na hora da vitória, olharmos para o copo
totalmente vazio e nos queixarmos de minudências que não contam para o resultado, o
que sobra? Talvez o voo da Águia Vitória? Talvez uma memória mitificada e
enviesada de tempos antigos que na realidade nunca existiram? Ou somente uma
ideia difusa estéril e inútil? Não sei. Não compreendo esse caminho que, a meu
ver, não leva a nada, nem tem nada a ver com futebol ou com uma vivência desportiva saudável.
Se a sportinguização do Benfica parecer alguma vez, de algum modo, ameaçadora,
há que dizer que começa nos adeptos, ou melhor, num certo tipo de adeptos, ora
imaturos, ora frustrados com a vida, ora pouco inteligentes. Aliás, como aqueles de quem
Frederico Varandas, no outro lado da Segunda Circular, fez tábua rasa, para, então sim, e infelizmente para nós, partir para uma onda vitoriosa no seu clube.
Por falar em sportinguistas, ao chegar a casa fiquei estupefacto com as análises de dois marretas fora de prazo que continuam a vociferar na SIC Notícias: David Borges e Joaquim Rita. Da qualificação do Benfica, pouco ou nada. Muito, sim, de uma segunda parte que adjectivaram violentamente, não escondendo a sua própria azia com o desfecho do jogo. Não fossem os tais auto-intitulados benfiquistas "exigentes", e esta gente já não tinha gás nem audiência.
Dito isto, que venha o Lille.