O CIRCO

Longe vão os tempos em que cada manhã de pré-temporada trazia com ela a sofreguidão de conhecer as capas dos jornais, para saber quem entrava, quem podia entrar, quem saía, ou quem podia sair, do plantel do Benfica.

Eram tempos em que a imprensa desportiva mantinha alguma respeitabilidade. E eram tempos em que as “notícias” encomendadas por “Agentes FIFA” (esses parasitas do Futebol) não tinham ainda tomado conta das páginas publicadas – que, pouco a pouco, se foram transformando numa plataforma de interesses negociais e especulações várias.
Hoje, uma espécie de casamento de conveniência entre esses interesses e a aflitiva necessidade de vender papel (agravada pela cruel crise económica em que vivemos), ditou uma verdadeira hemorragia especulativa, que primeiro perdeu a credibilidade, e depois perdeu a piada. Até porque a distância para a mentira mais desavergonhada passou a ser demasiado curta, e, consequentemente, mais fácil de ultrapassar.
Para este estado de coisas contribui também a gritante falta de cultura desportiva do nosso país - capaz de empurrar um Tour de France, um Wimbledon, uma Fórmula 1, um título europeu de Hóquei, um Mundial de Sub-20, ou até mesmo uma Final da Champions, para notas de rodapé face a um qualquer Herrera, Quintana ou Tejada, que ninguém conhece, que quer ir para onde lhe paguem mais, mas que é impingido como objecto jornalístico primário a um povo com coisas bem mais graves com que se preocupar.
Creio que esta lógica comunicacional tem os dias contados. Falando por mim, devo confessar que já nem compro diários desportivos. Leio apenas o nosso “O Benfica”, que além dos artigos de opinião dos meus ilustres parceiros, fornece informação sobre todas as modalidades e escalões de formação do Clube. De resto, procuro na Internet aquilo que me interessa, esperando pelo fim do defeso futebolístico para conhecer os plantéis definitivos. Isto, enquanto vou lamentando a morte anunciada de uma imprensa desportiva que, em tempos, me ajudou a crescer.

UM PASSO À FRENTE

A disponibilização da Benfica TV em novas plataformas, a sua evolução para canal Premium, a entrada na Alta Definição, e o pacote de transmissões prometido para as próximas temporadas desportivas, marcam um novo tempo na vida de um projecto nascido em 2008, do qual muitos duvidavam, e que, passados cinco anos, já é citado na imprensa internacional como ousado, corajoso e pioneiro.

O prato forte desta mudança é, naturalmente, a transmissão, em exclusivo, dos jogos da nossa equipa principal de futebol. Algo que, devo confessar, há pouco tempo atrás não me parecia possível, mas que neste momento é uma realidade que ninguém – dentro ou fora do Benfica – pode ignorar, ou desvalorizar.
O caminho escolhido pelos nossos dirigentes envolve riscos, como, aliás, acontece com qualquer projecto inovador. Numa primeira fase, será difícil obter as receitas que outras opções poderiam proporcionar. Mas - e isso sempre foi assumido -, as razões desta decisão vão muito para além do plano estritamente financeiro.
Por aquilo que tem sido a história recente do nosso Clube, pela espantosa recuperação estrutural e institucional da última década, a qual nos resgatou o grande Benfica do passado, pela força competitiva que nos devolveu o orgulho de lutar por todos os títulos (só pequenos detalhes nos impediram de consumar uma das melhores temporadas desportivas em mais de 100 anos de história), temos todos os motivos para crer que também este importante passo esteja criteriosamente calculado, e conduza efectivamente a uma mudança na correlação de forças que envolve os bastidores do desporto português.
Assim sendo, espera-se dos benfiquistas um envolvimento correspondente ao esforço que o Clube está a fazer. A situação do país leva, infelizmente, a que muitos não possam aderir. Mas aqueles que são hoje clientes de outros canais desportivos - por sinal, bem mais dispendiosos - não terão razões para ficar de fora. Este projecto está feito a contar connosco, e só depende de nós para ser bem sucedido.