RAMIRES À LUPA

Tive oportunidade de assistir pela TV ao jogo entre o Cruzeiro e o São Paulo para a Copa Libertadores. Durante noventa minutos não tirei os olhos de Ramires, o novo reforço do Benfica.
Estava à espera de ver um médio, vi um avançado (segundo li, a ausência de um dos dianteiros do Cruzeiro obrigou ao seu adiantamento). Vi um avançado móvel, dinâmico, deambulando por todo o campo, com velocidade e capacidade de remate, poder de impulsão e, aparentemente, mais resistência ao choque que a sua figura poderia fazer supor. Ocupou, no fundo, a mesma posição que Aimar tem ocupado no Benfica, participando em quase todas as acções de ataque da sua equipa.
O sinal mais preocupante da sua exibição foi a aparente indisciplina táctica que denotou, mas que poderá estar relacionada com o papel que o treinador lhe atribuiu. No Benfica não poderá jogar tão livre como o fez neste jogo, nem poderá esperar que a bola lhe chegue aos pés, como em muitos momentos deixou perceber. É novo, tem capacidade, pode adaptar-se. Mas talvez não o faça de imediato.
A opinião global é positiva, mas um jogo é apenas e só…um jogo.

NÃO À ESPECULAÇÃO

O circo da especulação em torno do comando técnico do Benfica continua. Notícias, desmentidos, comunicados, comentários, acusações, mentiras, tudo em doses suficientes para alimentar as vendas de jornais.
Decidi não dar mais para esse peditório.
VEDETA DA BOLA vai talvez perder audiências, mas como nunca ganhei um tostão com elas, dormirei com a mesma tranquilidade de sempre. Quem ganha dinheiro com a especulação que a faça.
Como até agora, nem Luís Filipe Vieira, nem Rui Costa, disseram uma palavra que fosse sobre o assunto, o treinador do Benfica continua a ser Quique Flores. Se o clube eventualmente vier a anunciar um novo treinador (coisa natural em futebol), voltarei então a comentar o tema. O resto é lixo mediático.

RESPOSTA EXPRESSIVA !

Se dúvidas havia, elas ficaram esta noite totalmente desfeitas: o Barcelona é, de facto, a melhor equipa do mundo da actualidade. Provou-o de forma clara e esmagadora, dominando completamente o seu adversário, que a partir dos dez minutos de jogo (altura em que Eto’o abriu o marcador) praticamente não existiu no relvado do Olímpico de Roma.
O Manchester United até entrou bem, fez vários remates à baliza nesses primeiros momentos, e parecia caminhar para uma noite imparável. O Barcelona teve então a sorte que protege os campeões, marcando contra a corrente do jogo, praticamente no primeiro lance de ataque que conseguiu construir.
Esperava-se reacção inglesa, mas foram os catalães que embalaram então para uma exibição de grande classe. Sem a eloquência que se viu no Santiago Bernabeu (2-6) há umas semanas atrás, é certo, mas de enorme segurança nas trocas de bola, de grande eficácia no anular dos pontos fortes do adversário, e de muita imaginação a criar espaços junto da área de Van der Sar, sobretudo na segunda parte, e à medida que o Manchester ia desesperando e arriscando em busca do golo do empate. O Barcelona soube sempre o que fazer da bola e do jogo, ao passo que o Manchester United, manietado pelo adversário, quase nunca conseguiu deixar a mesma ideia.
Messi marcou, com naturalidade, o segundo golo, e daí até final esteve sempre mais perto o terceiro golo do Barcelona do que a redução de distâncias por parte dos ingleses, sobretudo depois de Valdés ter negado o golo a Ronaldo no lance imediatamente a seguir ao 2-0 – momento esse que poderia ter reaberto a discussão do jogo.
É de lamentar que esta equipa do Barcelona – das melhores do futebol internacional dos últimos anos, e que pode inclusivamente marcar, no futuro próximo, uma importante etapa na história do desporto-rei – acabe por ter o seu trajecto ensombrado por aquela meia-final em Stanford Bridge. A magia de Messi, Iniesta, Xavi e companhia não merecia ter passado por aquilo. É caso para dizer que, com este título, se escreveu direito por linhas tortas.
No duelo das estrelas, o argentino saiu duplamente a ganhar - levou a taça e marcou um golo. Mas é justo dizer que Cristiano Ronaldo foi o melhor da sua equipa.

OS GRANDES DA EUROPA

Eis o quadro com os dez emblemas europeus que mais finais disputaram na prova raínha da UEFA :

A GALA DO FUTEBOL

Qual é a melhor equipa do mundo? Quem é o melhor jogador do mundo?
Ao fim da noite de hoje é bem possível que existam respostas claras para estas duas perguntas. Disputa-se em Roma o jogo mais aguardado dos últimos anos no futebol internacional. Estarão em campo dois conjuntos fabulosos, representantes de estilos distintos, orientados por dois treinadores de diferentes gerações, e integrando as duas mais cintilantes estrelas do futebol actual: Messi e Ronaldo. Melhor era impossível.
Pode até tornar-se injusto catalogar valores tão similares em apenas noventa minutos. Mas a história do futebol sempre foi escrita em cima de detalhes. Os vencedores conquistam-na, os perdedores ficam-se pelos rodapés de página. Quem vencer hoje será amanhã “a melhor equipa do mundo”, e se um dos dois “deuses” for decisivo nesse triunfo, ninguém será capaz de lhe negar a coroa respectiva – será ele o rei.
Manchester United (3 títulos) e Barcelona (2 títulos) são equipas habituadas a estes momentos. Cada uma delas saberá bem o que tem a fazer para tentar a vitória. É impossível apontar favoritismos, apesar do estilo eventualmente mais sedutor do futebol dos catalães. Lamentam-se as ausências, que penalizam mais o Barça: Fletcher de um lado, Dani Alves, Marquez e Abidal do outro.
Embora prefira Espanha a Inglaterra, a minha simpatia vai desta vez para o Manchester United. Talvez pela cor, talvez por Ronaldo, talvez pelo antipático regionalismo catalão. Mas ganhe quem ganhar, espero sobretudo poder assistir a um grande espectáculo, recheado da emoção e dos golos que possam dar a esta final o sal de que necessita para se tornar épica e entrar na eternidade do futebol. Será pedir muito? Sabendo do que os artistas em palco são capazes, creio bem que não.
19.45, Estádio Olímpico de Roma, RTP1 (espero que com Luís Freitas Lobo) e SportTv1. Equipas prováveis:
Barcelona – Valdés, Puyol, Touré, Pique, Sylvinho, Busquets, Xavi, Iniesta, Messi, Eto’o e Henry
Manchester United – VanderSar, O’Shea, Vidic, Ferdinand, Evra, Carrick, Scholes, Anderson, Ronaldo, Rooney e Berbatov

NOVOS TEMPOS?

Com a criação do Centro de Estágio do Seixal, a formação do Benfica parece ter entrado numa nova era. Depois do título nacional de Juvenis conquistado na época passada, e do lançamento de um jovem na equipa principal (Miguel Vítor), há cada vez mais sinais de que o futuro poderá mesmo pintar-se de vermelho. Vejamos:
Campeonato de Juniores - Fase Final: BENFICA 4 pts, FC Porto 3, Sporting 3 e V.Guimarães 1
Campeonato de Juvenis - Fase Final: BENFICA 1 pt, Boavista 1, Sporting 1 e FC Porto 1
Campeonato de Iniciados - Fase Final: BENFICA 4 pts, Sp.Braga 3, Sporting 2 e FC Porto 1
Onze inicial da Selecção Nacional de Sub-19, que venceu a Grécia e praticamente garantiu o apuramento para a fase final do próximo Europeu: Anthony Lopes (Lyon), Abel Pereira (BENFICA), Roderick Miranda (BENFICA), Nuno Reis (Sporting), João Pereira (BENFICA), Leandro Pimenta (BENFICA), Sana (BENFICA), Ricardo Dias (FC Porto), Diogo Viana (FC Porto), Rui Fonte (Arsenal) e Nelson Oliveira (BENFICA)
Jogadores do plantel principal com menos de 22 anos: David Luíz (21), Sidnei (19), Miguel Vítor (19), Fellipe Bastos (19), Urreta (19) e Di Maria (21). No próximo ano poderão somar-se também Ramires (22), Patric (20) e Fábio Coentrão (21), não esquecendo outros jovens talentosos que deverão permanecer emprestados, como Romeu Ribeiro, Ruben Lima, Miguel Rosa, André Carvalhas, Freddy Adu ou Yu Dabao.

MAL ME QUER, BEM ME QUER

Há cinco dias atrás parecia certo que Quique Flores não ficaria na Luz, e Jorge Jesus tomaria o lugar dele no banco do Benfica. O que aconteceu daí para cá?
-Em primeiro lugar a equipa voltou a fazer uma exibição agradável, repetindo a boa impressão que tinha deixado em Braga.
-Em segundo lugar, após o jogo com o Belenenses os adeptos presentes no estádio aplaudiram efusivamente o treinador (e devo dizer que também eu o fiz, convencido que se tratava de uma despedida), tendo até sido vistas tarjas a pedir para ele ficar.
-Em terceiro lugar (porventura o dado mais importante), ouviram-se e leram-se nestes dias múltiplas declarações de apoio dos principais jogadores do plantel ao seu treinador, dizendo abertamente que gostariam que ele continuasse o seu trabalho – o capitão Luisão foi o primeiro, mas Maxi Pereira, Pablo Aimar e até Óscar Cardozo (suplente durante grande parte da época), seguiram-lhe o exemplo.
-Em quarto lugar, também figuras do passado recente benfiquista saíram em defesa do técnico espanhol, como foram os casos de Petit e Miguel.
-Em quinto lugar, o Benfica contratou o internacional brasileiro Ramires, investindo 7,5 milhões de euros, naturalmente por indicação (ou pelo menos com o aval) de Quique, pois neste momento é ele, e só ele, o técnico.
-Em sexto lugar, ao que diz a imprensa, o custo da sua rescisão ascende a valores próximos dos 4 milhões de euros, e nem o treinador, nem os seus adjuntos estarão disponíveis para prescindir daquilo a que, por lei, têm direito.
-Em sétimo lugar, também o Sp.Braga parece firme na defesa dos seus interesses, fazendo valer uma cláusula que se diz cifrada em um milhão de euros, o que faz subir o custo total do processo de substituição para valores próximos dos 5 milhões.
-Em oitavo lugar, o clube, não tendo a decisão final tomada, viu-se forçado a comunicar à CMVM que as notícias sobre a substituição do treinador não eram verdadeiras, e que estava a preparar com ele a próxima época.
Por todas estas razões é natural que a SAD encarnada hesite. É natural que tenha muitas dúvidas sobre o que fazer, pois eu também as teria. De um dos lados a possibilidade de despedir um técnico perdedor (são factos) e contratar um outro, relativamente consensual e profundo conhecedor do futebol português; Do outro lado, evitar o risco de se precipitar gastando uma fortuna para despedir um treinador querido dos jogadores e de uma importante parte dos sócios, num momento em que o seu conhecimento do país e do clube já é maior.
No meio desta encruzilhada, o que me parece importante é não deixar arrastar o processo, e levar em conta que qualquer decisão tomada terá de ser mantida até ao fim da próxima época. O pior que pode acontecer ao Benfica é mudar de treinador após as primeiras jornadas de 2009-10.
É Quique Flores um treinador tecnicamente competente, capaz, rigoroso, trabalhador, motivado, disciplinado e disciplinador? Terá a estrutura benfiquista força para suportar um treinador pouco consensual quando o primeiro mau resultado da próxima época acontecer? É no balanço entre as respostas a estas questões que a decisão final deve ser tomada.
Qualquer que seja ela, não sendo uma decisão nada fácil, terá aqui o meu incondicional apoio.

CLASSIFICAÇÃO REAL - FINAL

Não foi uma jornada de casos, o que talvez não tenha sido alheio ao facto do topo da classificação estar à partida definido.

BENFICA-BELENENSES:
O único erro cometido foi talvez a expulsão de Saulo, ou dizendo de outro modo, a diferença de critério em relação a Di Maria. Creio que um cartão amarelo para cada um teria resolvido o problema, mas a expulsar um dos jogadores Cosme Machado teria também de expulsar outro.
No golo anulado ao Belenenses nada há a dizer.
Resultado Real: 3-1

SPORTING-NACIONAL:
Em Alvalade assistiu-se a uma boa arbitragem, que nos lances capitais esteve bem.
No segundo golo do Sporting, Derlei está em fora-de-jogo, mas a bola vem da cabeça de um defensor madeirense. Golo bem validado, portanto.
No penálti assinalado perto do fim, a falta sobre Tiuí é clara, pelo que também se tratou de uma decisão correcta.
Resultado Real: 3-1

FC PORTO-SP.BRAGA:
Não vi nada sobre o jogo (nem sequer os golos), pelo que nada sei sobre a arbitragem. Os relatos da imprensa não falam de grandes casos, pelo que darei o benefício da dúvida a Pedro Proença, que já teve naquele mesmo palco noites certamente bem mais difíceis.
Resultado Real: 1-1

CLASSIFICAÇÃO REAL FINAL
1.F.C.PORTO 67 pontos (beneficiado em 3 pontos)
2.Benfica 63 pontos (prejudicado em 4 pontos)
3.Sporting 59 pontos (beneficiado em 7 pontos)

Como prometido, deixo também o quadro final de erros de arbitragem, independentemente dos pontos que retiraram ou acrescentaram aos clubes:

CHUVA, GOLOS E PALMAS

Não é fácil falar sobre um jogo que para o Benfica pouco ou nada significava, a não ser talvez a remota possibilidade de Cardozo se intrometer na luta pela “Bola de Prata”. O destaque maior da chuvosa tarde-noite da Luz terá de ir assim para os mais de 30 mil espectadores que lá se deslocaram - entre os quais me incluo, não pelo cariz competitivo do jogo (normalmente não perco tempo com jogos a feijões), mas pela tradição familiar de presenciar a última jornada de cada campeonato.
Quando o Belenenses se adiantou com um belo golo de Silas, pensei estar-se perante um daqueles muitos episódios da história do futebol em que a vontade de ganhar de uma equipa suplanta o maior talento da outra. Acontece que o Benfica também pretendeu proporcionar aos seus adeptos uma despedida vitoriosa, e de pronto reagiu, partindo para uma vitória tão clara quanto justa, à qual ainda poderia ter somado mais um ou dois golos.
Falhou o objectivo-Cardozo, mas ficou na retina mais uma excelente exibição do paraguaio (12 golos nos últimos 13 jogos), assim como o fantástico golo do jovem Fellipe Bastos, que passou toda a época na obscuridade para no último jogo deixar um apontamento que talvez lhe possa ter valido um lugar no próximo plantel.
De resto pouco ou nada se passou, a não ser a anunciada descida de divisão do Belenenses (mesmo ganhando não dependia de si). À partida essa era uma situação que me causaria algum constrangimento – simpatizo com o clube e vou algumas vezes ao Restelo -, mas um certo speaker, num certo jogo, encarregou-se de diluir todas as culpas que pudesse agora sentir por ter sido o meu clube a colocar o histórico de Belém na Liga de Honra. Em todo o caso desejo que regressem depressa.
As maiores emoções estavam guardadas para o final, quando Luisão, sinalizando uma provável saída, se despediu dos adeptos com uma tremenda ovação, e quando Quique Flores, pouco precisando já de sinalizar, foi também presenteado com um (menos esperado) aplauso de todos os que ainda se encontravam nas bancadas. Mais do que o trabalho realizado, os benfiquistas quiseram sublinhar a forma civilizada, educada e respeitadora como o técnico sempre se soube expressar, deixando atrás de si um rasto, senão de competência, pelo menos de simpatia.
Agora há que pensar cuidadosamente na próxima temporada, partindo desde logo de um princípio fundamental: quem quer que seja o treinador, quaisquer que sejam os jogadores, o Benfica dificilmente será campeão em 2009-10.

O ÚLTIMO ONZE

Esta é a equipa possível face às lesões e aos caprichos de Soares Dias no domingo passado em Braga. Chega para colocar o Belenenses na II divisão (com a salva de palmas respectiva pedida pelo speaker), e seria bom que chegasse para atribuir a "Bola de Prata" a Óscar Cardozo, o que me parece francamente mais difícil.

RAMIRES: 7º mais caro de sempre

No momento em que acaba de ser confirmada a transferência de Ramires para o Benfica por sete milhões e meio de euros, confira o ranking das maiores contratações de sempre do futebol português:
Fonte: Futebol Finance

O PRINCÍPIO DO FIM

As notícias dos últimos dias dão conta do interesse de vários clubes europeus em Luisão. Manchester City, Roma e Wolfsburgo terão até já adiantado propostas pelo central brasileiro, as quais andarão entre os 12 e os 15 milhões de euros. E o Benfica parece, segundo se diz, receptivo ao negócio.
Já aqui tenho defendido que um dos grandes problemas do Benfica é a falta de referências na sua equipa, algo que só se consegue ultrapassar com a manutenção dos principais elementos no plantel ao longo de várias épocas. Ora se existe referência na equipa benfiquista da actualidade essa é justamente Luisão.
O “Girafa” é o tipo de jogador cujo valor de mercado (os tais 12 ou 15 milhões), pagando eventualmente a sua qualidade técnica, não paga a importância específica que tem na equipa e no clube. Tal como Simão Sabrosa, o central brasileiro vale para o Benfica mais do que para qualquer outro clube, e este tipo de jogador é proibido vender a menos que surja uma improvável proposta que cubra essa importância específica – no caso de Luisão nunca menos de 25 milhões.
Veja-se como o F.C.Porto mantém Lucho Gonzalez, resistindo aos avanços do argentino para sair. Veja-se como o Sporting segura Liedson perante a cobiça dos mais variados emblemas europeus. Olhe-se agora para um Benfica, que vendeu Simão pelo mesmo valor que Paulo Ferreira, e se prepara para ficar sem Luisão por um montante ainda menor.
É em momentos como este que se definem campeões. É sabendo como resistir ao mercado que efectivamente se reforçam as equipas, e não gastando milhões que se não têm, em contratações que se não conhecem.
O Benfica viu nas últimas épocas sairem dos seus quadros os seus melhores jogadores, descapitalizando drasticamente a equipa. E o mais grave é que à maioria destas saídas, por um ou outro motivo, nem sequer correspondeu qualquer verba entrada nos cofres da Luz.
Em 2006: Geovanni, Alcides, Manuel Fernandes e Ricardo Rocha
Em 2007: Miccoli, Simão Sabrosa, Anderson, Derlei e Karagounis
Em 2008: Petit, Nelson, Léo, Rui Costa, Nuno Assis e Cristian Rodriguez
Em 2009: Suazo (confirmado), Reyes e Katsouranis (quase), Luisão (a caminho) e veremos o que sucede com Cardozo, Di Maria e Nuno Gomes.
Se mais razões não houvessem, estas últimas linhas chegariam para perceber porque é que o clube da Luz não alcança sequer o segundo lugar do campeonato desde 2005.

ESTREIA NA DESPEDIDA

Após uma final onde o calculismo ditou as leis, os ucranianos do Shakhtar Donetsk venceram a última edição da Taça UEFA, que no próximo ano será substituída pela nova Liga Europa.
Sob o olhar de Michel Platini, o onze do experiente Mircea Lucescu – com muito perfume brasileiro - foi a equipa que mais procurou o golo, pelo que o troféu acaba por ser merecido. Por outro lado, o Werder Bremen sentiu muito a falta da sua principal estrela, o também brasileiro Diego, realizando uma exibição decepcionante.
Vi esta equipa ucraniana jogar e ganhar na Luz na época passada. Fiquei na altura impressionado, e cheguei a considera-la como a melhor equipa do leste europeu. Daí para cá revelou-se, no entanto, um conjunto muito irregular, sempre capaz do melhor e do pior. Da mesma forma que perdia com Benfica e Sporting em casa (embora com grande dose de felicidade dos portugueses), ganhava categoricamente em Camp Nou.
Nesta Taça UEFA, o Shakhtar terá apresentado a sua melhor face, eliminando inclusivamente os compatriotas do Dínamo de Kiev, que no campeonato doméstico levam 12 pontos de vantagem. Com a armada brasileira (Ilsinho, Fernandinho, Jadson, Willian e Luiz Adriano) em bom plano, o futebol da equipa resulta fluído e por vezes brilhante. Hoje teve bons momentos, mas creio que, ainda assim, foi mais o Bremen a perder do que o Shakhtar a ganhar.
A equipa ucraniana consegue assim o seu primeiro título internacional na primeira final que disputou.
Realce por fim para um erro gravíssimo do árbitro espanhol, que anulou um golo aparentemente limpo aos alemães a poucos minutos do fim do prolongamento.
Não é só na Taça da Liga. Também a Liga dos Campeões, a Taca UEFA, e todas as outras competições, são influenciadas pelas prestações dos árbitros. Ao contrário do que pensará Paulo Bento e os seus defensores, onde há um homem há um erro.

O PADRINHO

"Completaram-se recentemente 27 anos desde que Jorge Nuno Pinto da Costa chegou à presidência do F.C.Porto.
Se para alguns, na cegueira de vitórias conquistadas a qualquer preço, essa é uma data a comemorar, para quem estime a honestidade e a honradez, para quem aprecie a coragem e a seriedade dos homens, para quem preze o fair-play, para quem entenda as competições desportivas como um factor de alegria, de juventude, de civismo e de vida, para quem defenda a coesão de um país pequeno mas com uma longa história, aquele dia nada tem de festivo e simboliza um manto negro de imundície, de ódios mesquinhos, de provocações gratuitas, de provincianismo bacoco, de práticas subterrâneas, que condicionaram, manipularam e subverteram, mais do que os resultados, a própria forma de olhar o fenómeno desportivo em Portugal, e mesmo de entender o país.
Pinto da Costa elegeu, desde o primeiro dia, um objectivo muito claro: acabar com o Benfica. E nunca olhou a meios para o alcançar, fazendo tábua rasa das leis, dos regulamentos e de todos os princípios éticos que deveriam prevalecer no desporto. Seguindo, e depurando, a cartilha criada por José Maria Pedroto, Pinto da Costa utilizou a mais baixa demagogia para instrumentalizar e fanatizar uma população regional descontente com um certo centralismo político-administrativo, e, misturando de forma deliberada e leviana todos os conceitos, fez com que uma parte dela o seguisse no combate àquele que, abusiva e alarvemente, identificou como o rosto desse centralismo: o Benfica. Dividiu o país, entrincheirou-o, erigiu guerras sem fundamento, lançou o ódio, a mentira e o cinismo para cima dos adeptos e do quotidiano desportivo. Será talvez a figura, de entre todas as áreas de actividade, que mais mal fez a Portugal e à sua coesão colectiva no último quarto de século, um mal de consequências que só o futuro poderá apurar, e que é estranhamente tolerado e branqueado por uma comunicação social imediatista, superficial e reverente para com o poder, por dirigentes desportivos e agentes diversos que fazem do servilismo um modo de vida, e até por uma classe política medíocre e bajuladora, capaz de o receber, ano após ano, a expensas dos nossos impostos, nos luxos da Assembleia da República.
Deve dizer-se, de forma bem clara, que o objectivo de vida de Pinto da Costa não foi atingido. Apesar dos títulos conseguidos pelo F.C.Porto – grande parte deles à custa das mais variadas formas de viciação, muitas delas para além das questões vindas a público no âmbito do processo Apito Dourado -, a verdade é que o clube nortenho nunca foi capaz de se afirmar como referência nacional, nem cativar a simpatia, ou mesmo o simples respeito, da esmagadora maioria dos adeptos portugueses, sobretudo fora das fronteiras da sua delimitada região. Pinto da Costa nunca conseguiu matar a alma benfiquista, nem retirar uma pevide à gigantesca massa adepta do clube encarnado, que semana a semana, em Portugal e no mundo, vibra com os jogos do Benfica. Mesmo tendo, ao longo deste período, ganho mais vezes, o F.C.Porto nunca venceu por si próprio, mas sim, e sempre, contra alguma coisa. Contra o Benfica, contra Lisboa, contra o Sul, contra os fantasmas dos seus próprios complexos. Mesmo ganhando aos grandes nunca deixou de ser pequeno. Uma pequenez do tamanho do seu presidente, que transformou uma instituição outrora respeitável num antro de rancor e podridão.
O clube do povo continua a ser o Benfica, de Norte a Sul, do Minho ao Algarve, do Continente às Ilhas, e é por isso que o ódio de Pinto da Costa aos encarnados permanece tão vivo. Ele sabe que não é calçando sapatos maiores que os pés que se torna grande. Ele sabe melhor que ninguém de que forma e com que métodos conseguiu as suas vitórias, e sabe que só assim grande parte delas se tornou possível. Por isso ele não se orgulha das vitórias portistas mas apenas satisfaz odientos e complexados instintos de vingança que, como sempre acontece na vida, se revelam insaciáveis e inconsequentes. Todo esse indisfarçado recalcamento nunca lhe saiu da alma e essa é a maior de todas as derrotas.
Apesar dos cordelinhos que mexeu, das influências que movimentou nos obscuros bastidores do futebol, e não só, Pinto da Costa nunca conseguiu impedir Benfica de ganhar. Desde 1982 (data em que assumiu a presidência), o Benfica conquistou, nos escalões seniores, 18 provas oficiais no Futebol, 18 de Hóquei em Patins, 29 de Basquetebol, 11 de Andebol, 8 de Voleibol, 11 de Futsal, 7 de Râguebi, 19 de Atletismo, 11 de Bilhar e 1 de Ciclismo, para além de muitas outras em modalidades menos divulgadas, escalões de formação ou sector feminino, cujo total nos levaria seguramente às largas centenas. E daqui em diante, com Pinto da Costa ou sem ele, a tendência é para este número crescer. Com Pinto da Costa ou sem ele, o Benfica continuará a ser o maior clube português.
Se alguém fez mal ao Benfica não foi o presidente do F.C.Porto. Pinto da Costa fez mal - muito mal - mas ao futebol, ao desporto e ao país. Fez mal ao Norte. Fez mal, sobretudo, à cidade do Porto, enxovalhando-a, servindo-se dela, e colando-a a práticas e métodos que estão longe de merecer aprovação de muitos portuenses, que já hoje (alguns deles), ou um dia mais tarde (os restantes), se sentirão com elas abusados e envergonhados.
Já passaram 27 lamentáveis anos de presidência de Pinto da Costa. Felizmente, não passarão outros tantos."

LF em "O Benfica"

PS: A propósito de Pinto da Costa, ainda não percebi para que serve e quem beneficia o ridículo tabu em torno da renovação de Jesualdo Ferreira.

POSSÍVEIS REFORÇOS VISTOS À LUPA

Satisfazendo a curiosidade dos leitores, VEDETA DA BOLA pôs-se em campo e, graças ao amigo de longa data Marcel Jabbour (Di Letra), conseguiu saber algumas coisas acerca dos brasileiros apontados nos últimos dias como eventuais novos reforços do Benfica.
Eis o que o Marcel diz de Chicão e Ramires:

CHICÃO (Defesa-central do Corinthians) - Particularmente gosto muito do Chicão. Apesar de já ter 27 anos, ele começou a se destacar após boa campanha do Figueirense em 2007. Chegou ao Corinthians após o rebaixamento e, desde então, faz uma excelente dupla de zaga com o William. Se não me engano têm sido a dupla de zaga menos vazada em todos os campeonatos que disputaram desde o ano passado. Não é um jogador brilhante tecnicamente, mas não grosso de tudo. Destaca-se pela força física e pela raça (por isso caiu nas graças da torcida corintiana no ato). Desarma muito bem, tem velocidade razoavelmente boa. Talvez o maior problema seja sua estatura, razoavelmente baixa para um zagueiro. Um ponto positivo é seu talento em cobrar faltas e pênaltis. Já marcou 22 gols pelo Corinthians. Até Ronaldo marcar duas vezes contra o Santos pela final do Paulista, Chicão era o artilheiro da equipe. Nesse mesmo jogo, abriu o placar em cobrança de falta.

RAMIRES (médio do Cruzeiro) - Ramires é um fora de série. O clamor para que Dunga o convoque para a seleção é antigo, enorme e constante. Inclusive muitos jornalistas se irritaram quando Dunga disse que se chamasse Ramires teria que deixar Kaká no banco. Isso não faz sentido, já que Ramires é volante (meio-campo defensivo), embora tenha qualidade no passe e chegue com muita qualidade ao ataque. Costuma fazer belos gols até. Esses são alguns de seus diferenciais. Também tem muito vigor físico e talento de sobra para chegar à seleção, basta convencer o Dunga a desistir do Josué.

DE QUE SE FALA QUANDO SE FALA DE CRISE

"Quando o Benfica perde, é porque perde, quando ganha, é porque joga mal, quando joga bem é porque os adversários erraram. Não há como calar a gritaria que se ouve sempre que acontece alguma coisa com a nossa equipa, de bem ou de mal, de certo ou de errado, de importante ou de acessório. Aconteceu assim com as últimas derrotas, mas sucedera o mesmo com as vitórias - nomeadamente na Taça da Liga. Em qualquer dos casos as críticas e as polémicas inundaram o espaço mediático do país, pelo menos enquanto o campeonato e o segundo lugar não ficaram entregues.
São problemas de dimensão, dirão uns. É uma campanha montada, dirão outros. A verdade é que a tranquilidade e a paz raramente moram na Luz. A palavra crise é constantemente atirada para cima dos benfiquistas, nela se resumindo todos os adjectivos com que se pretende atingir o clube. E por vezes são eles próprios, na sequência de um resultado ou uma exibição mais pobre, a olharem-se com enfado e a culpabilizarem jogadores, técnicos e dirigentes - por esta ou outra ordem – confundindo o natural sentimento de frustração com questões de natureza mais vasta, que não devem ser analisadas sob o espesso manto das emoções de um jogo de futebol.

Ganhar jogos e títulos é a razão de ser de qualquer grande clube. Mas não os ganhar, não deve, por si só, constituir motivo para tudo colocar em causa, para precipitar revoluções, ou para atrasar processos cujo andamento natural não pode ser quebrado, sob pena de, mais do que os campeonatos, se perderem também as rédeas do próprio futuro.
Quando falamos de crise, devemos pois ter a clara noção daquilo que está em causa, de quais são os problemas do Benfica de hoje, e quais eram os de há uns anos atrás, e saber relativizar o verdadeiro significado de uma ou outra exibição menos conseguida, de uma ou outra derrota mais dolorosa, ou mesmo de uma época futebolística decepcionante, até porque nenhuma equipa joga sozinha, a concorrência é forte, e as influências externas vão-se, aqui e ali, fazendo sentir. A insatisfação natural – apaixonada, mas nem sempre lúcida - pela perda de mais um campeonato, não pode justificar a alienação de todo um capital de crescimento e de vitalidade que o Benfica alcançou nos últimos anos, e que ninguém de boa fé poderá negar.
Ao contrário de um passado não muito distante, o Benfica, em 2009, não têm qualquer problema de credibilidade institucional, tem um modelo empresarial definido e profissionalizado, tem as contas equilibradas, dispõe de boas e modernas infra-estruturas, tem equipas a discutir os títulos de variadas modalidades, tem um canal próprio de televisão, mantém intacta a chama da sua grandeza e o calor dos seus adeptos, tem o futuro diante dos seus olhos. O problema actual do Benfica é meramente desportivo, dentro do âmbito desportivo é estritamente futebolístico. Resume-se, no fundo, aos anos que o clube leva sem conquistar o campeonato nacional, e estará totalmente resolvido no dia em que essa competição lhe voltar a sorrir – o que, para suceder com a frequência desejada, exige um longo caminho de coragem e paciência. Não se trata de desvalorizar aquilo que acima é descrito como a razão de ser do clube, mas sim de contextualizar a situação presente e aferi-la com rigor, até porque só um integral conhecimento dos problemas permitirá chegar às suas soluções. E não é certamente com estados de alma auto-destrutivos que isso se consegue.
A solução para os problemas da equipa do Benfica não é fácil de encontrar, mas não será seguramente tão difícil como foi resgatar o clube do abismo em que se encontrava em 2001. Hoje os problemas são diferentes, e a resposta terá que ser mais serena e ponderada. Não se pode confundir a árvore com a floresta. Não se pode confundir a dificuldade em conseguir os desejados resultados no futebol, com a vitalidade e o crescimento sustentado de um clube tão grande como o Benfica.

É pois importante que os benfiquistas deixem de contribuir para o foguetório de instabilidade, de pressões e de desesperos que, embora dando corpo ao natural instinto de desabafo, apenas servem, na prática, para colorir os interesses dos adversários. Com o esforço e o trabalho de uns, o apoio e a serenidade de outros, o Benfica será no futuro aquilo que os seus adeptos ardentemente desejam. Então sim, calar-se-ão para sempre as vozes da desgraça e do miserabilismo que hoje lhes perturbam os ouvidos e lhes entopem a alma."

LF em "O Benfica"

CLASSIFICAÇÃO REAL

Numa jornada sem qualquer significado nem reflexo na classificação dos primeiros, as arbitragens voltaram, ainda assim, a errar clamorosamente.

TROFENSE-F.C.PORTO:
À semelhança do que sucedeu em muitos jogos, o F.C.Porto viu um golo ilegal ser-lhe validado. Foi o caso do terceiro golo, no qual há um fora-de-jogo do jogador que recebe a bola e a passa depois. Atendendo ao resultado final, não é grave. Mas reflecte algo que se foi repetindo vezes sem conta, nesta e na época anterior, e que prova que, de facto, as arbitragens praticamente não erram contra o F.C.Porto.
Resultado Real: 1-3

MARÍTIMO-SPORTING:
Não vi o jogo. Do resumo destacaria um penálti que ficou por assinalar contra o Sporting, algo que, infelizmente, também se repetiu, por diversas vezes, durante o campeonato. Com o marcador final a cifrar-se numa diferença tangencial, este erro tem pois efeitos na pontuação.
Resultado Real: 2-2

SP.BRAGA-BENFICA:
Para além de um fora-de-jogo mal assinalado a Óscar Cardozo, e que lhe poderia ter permitido o 17º golo da época, o problema da arbitragem de Soares Dias foi a forma como utilizou os cartões, até porque o penálti assinalado não oferece dúvidas.
Já na primeira volta, no Marítimo-Benfica que os encarnados venceram facilmente por 0-6, Soares Dias conseguiu mostrar sete (!) cartões amarelos aos jogadores do Benfica. Ontem repetiu a proeza, com a agravante de dois terem sido para o mesmo jogador (o segundo deles completamente injusto). Ruben Amorim, Yebda e Reyes ficaram afastados da partida seguinte. Seria para beneficiar o Belenenses?
Como se isto não bastasse, o árbitro portuense expulsou ainda Quique Flores do banco, num assomo de rigor tão extremo quanto absurdo. Pela televisão percebem-se todas as palavras do espanhol, e se aquilo desse expulsão, nenhum jogo terminaria com os treinadores sentados no banco. Neste caso, há contudo que culpar mais o quarto árbitro.
Apesar de tudo, o resultado real não merece reparo.
Resultado Real: 1-3

CLASSIFICAÇÃO REAL
F.C.PORTO 66
Benfica 60
Sporting 56
…e o Benfica tinha garantido em Braga a presença nas eliminatórias da Champions.

A VINGANÇA DE QUIQUE

Mesmo no caso de ter saído derrotado de Braga, ao Benfica bastaria uma vitória ante o Belenenses na próxima semana para garantir o terceiro lugar, e evitar assim mais uma eliminatória da nova Liga Europa. Por isso, a importância deste jogo era relativa, e foi apenas apimentada pelas notícias acerca da dança de treinadores no clube da Luz – com a possível saída de Quique e a possível entrada de Jesus.
Nesta medida, há que dizer que foi o espanhol o último a rir, pois além da vitória, conseguiu fazer do opositor uma equipa pouco mais que vulgar, e durante largos minutos ameaçada pelo espectro de uma escandalosa goleada.
É verdade que os dois golos em apenas quinze minutos condicionaram todo o jogo. É também verdade que os mesmos resultaram de erros primários da defesa minhota. Mas, não só isso são elementos também eles integráveis na análise ao próprio jogo (que começa quando o árbitro apita e cujos golos são normalmente precedidos de erros contrários), como tudo o que se seguiu foi uma exibição autoritária do Benfica, que se viu ainda assim, já na segunda parte, injustamente reduzido a dez unidades, fruto (também) de um erro, neste caso, do árbitro Soares Dias.
Esta terá sido mesmo uma das melhores exibições encarnadas na Liga, como que a dizer que as coisas até poderiam ter sido diferentes. Mas este foi também o tipo de jogo em que o Benfica, ao longo da época, menos dificuldades sentiu – dispôs de espaços para o contra-ataque, teve pela frente um adversário aberto e pouco pressionante, para além de generoso nos brindes que concedeu. Afinal de contas a equipa de Quique empatou no Dragão, venceu categoricamente em Guimarães e em Coimbra, goleou nos Barreiros. Foi com os quatro clubes que disputam neste momento da permanência (Belenenses, Trofense, V.Setúbal e Rio Ave) que o Benfica perdeu os pontos (onze) que o impedem de estar ainda na luta pelo título.
O destaque individual vai novamente para Óscar Cardozo, que termina a temporada na sua melhor forma desde que chegou à Luz. Não fossem as jornadas que passou no banco e estaria no comando da lista dos marcadores (bastariam para isso os dois penáltis que então Reyes marcou e aquele que Suazo falhou). Também Di Maria esteve bem - deixando, também ele, a ideia de ter sido mal aproveitado ao longo da época -, tal como Urreta, que com apenas dezanove anos mostra um talento impar, que o Benfica tem de saber aproveitar da melhor forma.
A arbitragem foi má, e prejudicou o Benfica.
No próximo domingo, diante de um aflito Belenenses, o Benfica poderá terminar tranquilamente a época. É um jogo para levar a família, e passar uma tarde descansada. Espera-se apenas que o speaker do estádio da Luz não peça salvas de palmas para mais ninguém que não elementos do próprio clube.

FORMAÇÃO BENFIQUISTA IMPÕE-SE NO OLIVAL

O Benfica venceu hoje fora o F.C.Porto por 0-2, em jogo da fase final do Campeonato Nacional de Juniores.
O avançado Nélson Oliveira marcou os dois golos dos encarnados, que agora comandam a classificação. O F.C.Porto vencera fora o Sporting na ronda anterior.
Na próxima jornada o Benfica recebe o Sporting e o F.C.Porto joga com o V.Guimarães.
CLASSIFICAÇÃO:
BENFICA 4 pts
F.C.Porto 3 pts
Sporting 3 pts
V.Guimarães 1 pts

OS HOMENS DE QUEM SE FALA

Na sequência dos dois últimos artigos dedicados ao momento do Benfica, ficou apenas a faltar falar do…treinador.
Devo dizer que, ao contrário do que por vezes se supõe, a questão técnica, sendo importante, não é a mais decisiva. O Benfica não tem sido campeão pelos motivos que aqui referi num dos textos anteriores, e não por incompetência dos treinadores que, neste período, teve ao seu serviço. José Mourinho vai ser campeão com o Inter de Milão, Jupp Heynckes poderá ser campeão com o Bayern de Munique, Jesualdo Ferreira é campeão pelo F.C.Porto, Fernando Santos pode levar o Paok de Salónica à Liga dos Campeões, e todos eles passaram pelo Benfica, sem que houvesse tempo para poderem ter o sucesso que as suas capacidades justificariam.
Independentemente da sua maior ou menor competência, há contudo aqueles que se adequam a determinado clube em determinado momento, e há os outros. Quique Flores, por muito profissional que tenha sido, por muito grande que seja a sua capacidade técnica, por muito avançada que seja a sua metodologia, cometeu erros demasiados para justificar outra coisa que não a sua inclusão no segundo lote. Não esquecendo que conquistou um troféu, que fez o Benfica andar várias jornadas na liderança, que permitiu à equipa da Luz discutir o título até meados de Março, que sempre se comportou como um cavalheiro, o jovem treinador andaluz cedo deixou a ideia de desconhecer o futebol português, e de pouco fazer para ultrapassar essa limitação. Insistiu num modelo de jogo tipicamente espanhol, queimou jogadores, não promoveu o crescimento de outros e, sobretudo, não conseguiu fazer evoluir a equipa, que quase nunca apresentou uma ideia colectiva de jogo minimamente coerente. Algumas das vitórias com que o Benfica foi disfarçando a sua má temporada, foram conseguidas apesar de Quique e das suas, por vezes incompreensíveis, ideias, e não devido a elas.
Haverá pouca margem para continuar na Luz, até porque, a ficar, o ambiente em seu redor no início da próxima temporada seria insustentável, e ao primeiro desaire a crise ir-se-ia precipitar, com consequências muito mais nefastas do que as originadas por uma tranquila substituição no final deste campeonato.
Para o lugar do técnico espanhol a imprensa desta semana avança com dois nomes: Jorge Jesus e Luíz Felipe Scolari.
Começando pelo sargentão (o menos provável dos dois), devo recordar que sou um profundo admirador das suas qualidades. O antigo seleccionador nacional, mesmo se tacticamente limitado, tem capacidades de liderança extraordinárias, provou na selecção a sua aptidão para construir uma equipa extremamente unida e solidária (algo que encaixaria nas necessidades dos encarnados), é disciplinador, tem experiência e tem carisma. A ideia de o ver à frente do Benfica afigura-se-me sedutora quando imagino o país cheio de bandeiras do Benfica nas janelas, com milhões de adeptos a mobilizarem-se no apoio incondicional e quase fanatizado à equipa, tal como foi possível ver com a selecção portuguesa. Mas também quando imagino onze homens vestidos da cor do sangue a lutar em campo até à morte, profundamente fiéis ao seu líder, ao seu emblema e à sua causa.
Acontece que Scolari está longe de ser, neste momento, por variados motivos, uma figura consensual entre os benfiquistas; é um treinador que se faz pagar muito bem; e ao que se diz, as suas relações com Rui Costa não serão as melhores, desde que o “maestro” viu o seu lugar na selecção nacional ser entregue ao naturalizado Deco. Seria pois um treinador contestado e fragilizado à partida, o que dificultaria a sua tarefa, sobretudo num clube com o mediatismo do Benfica. Creio ser contudo uma opção a não descartar totalmente.
Jorge Jesus é o nome mais falado dos últimos dias, havendo mesmo jornais a afirmar que já terá chegado a acordo com o clube da Luz.
Escrevi sobre ele há uns meses atrás, altura em que, talvez por ser dado como forte hipótese para o F.C.Porto, o técnico bracarense deu mostras de um irritante servilismo para com os dragões, fazendo veementes criticas à arbitragem do Benfica-Sp.Braga, e ignorando, uma semana depois, os gravíssimos erros em seu desfavor cometidos por Paulo Costa no Sp.Braga-F.C.Porto. Se há coisa que tenho boa é a memória, e não me esqueci desses tristes episódios, protagonizados por um ex-jogador do Juventude de Évora, cuja carreira de treinador fui acompanhando desde sempre.
Ao contrário do que é a opinião dominante, também não creio que o Sporting de Braga, à excepção de uma ou outra exibição europeia mais reluzente, esteja a fazer uma época particularmente espectacular. Pode muito bem terminar o campeonato em quinto lugar, posição decepcionante face ao plantel que conseguiu reunir, e que permitiu ao técnico, entre outras opções, deitar fora Roland Linz, Andrés Madrid e Jorginho. O conjunto de jogadores do Braga é aliás, quanto a mim, o melhor das últimas décadas de qualquer clube português à excepção dos três grandes. Se nos recordarmos que Cajuda, ainda há um ano, ficou em terceiro lugar com uma equipa substancialmente mais barata, que Manuel Machado poderá terminar à frente do Sp.Braga ou até do Benfica, que no passado recente treinadores como José Couceiro, Norton de Matos, José Mota, Carlos Carvalhal, Augusto Inácio, e muitos outros, tiveram momentos de grande popularidade e (com excepção de Mota) rapidamente caíram em desgraça, chegaremos à conclusão que Jorge Jesus não será talvez assim tão especial quanto o consenso á sua volta parece querer anunciar.
Apesar deste ligeiro cepticismo (ou menor entusiasmo), dadas as experiências recentes com treinadores estrangeiros, julgo que o Benfica teria a ganhar em descer à terra e apostar num técnico altamente conhecedor das especificidades do futebol português. Nessa medida, o ainda treinador do Sp.Braga parece ser uma opção credível, como seriam, por exemplo, Manuel Cajuda ou Manuel Machado, com a vantagem de Jesus dispor, nesta altura, de um amplo consenso entre os benfiquistas – e eu diria mesmo, entre os portugueses.
Se for Jorge Jesus o escolhido, terá todo o meu apoio. Mas mesmo chamando-se Jesus, não espero dele qualquer milagre. A situação do futebol benfiquista é aquela que aqui descrevi há dias, e muitos daqueles problemas vão levar um, dois, três ou mais anos a solucionar, qualquer que seja o treinador. Aliás, com Jesus, com Scolari, com Quique, ou com qualquer outro, será, no meu ponto de vista, praticamente impossível ao Benfica sagrar-se campeão na próxima época. Até porque tudo indica que os principais rivais (F.C.Porto e Sporting) mantenham os técnicos, os jogadores e as estruturas em seu redor, e não vai ser possível, com apenas alguns meses de trabalho (por muito bem feito que seja), ultrapassar máquinas que levam já muitos anos de funcionamento e sedimentação.

UM OLHAR SOBRE 2009-10

Depois da análise ao futebol do Benfica, e da inventariação dos motivos pelos quais não vence, é altura de passar aos aspectos práticos, ou seja, à definição do plantel para a próxima temporada.
É preciso levar em conta que alguns dos pontos referidos no post anterior não permitem soluções milagrosas no curto prazo. Requerem, pelo contrário, pequenas e cirúrgicas intervenções, que paulatinamente vão aproximando o Benfica daquilo que todos os seus adeptos desejam. Este seria pois um primeiro passo. Um passo no sentido da estabilidade, do rejuvenescimento e do equilíbrio.
Não podemos também passar ao lado de um contexto marcado pela crise económica, pela ausência da Liga dos Campeões e pelo fortíssimo investimento das épocas anteriores. O próximo plantel terá assim de primar pela contenção, e isso é tido em conta, quer na diminuição da massa salarial proposta (10%), quer nos 12 milhões de euros de encaixe líquido destinados a amortizar passivo.
Como é natural, há questões que só um conhecimento absoluto do balneário encarnado permitiriam analisar cabalmente. Construir um grupo de homens unido e coeso requer um conhecimento de temperamentos, inter-relações e diferenças de carácter, que escapa ao adepto comum. Este é pois um exercício que não pode fugir a alguma dose de superficialidade, mas ainda assim capaz, creio, de estimular a reflexão e o debate. É no fundo uma actualização de algo semelhante que aqui foi publicado em Março
Comecemos pela definição de um modelo de jogo, e analisemos depois, sector por sector, com que intérpretes ele poderá ser posto em prática.

DEFINIÇÃO DE UM MODELO DE JOGO
Vejamos as condicionantes:
-Para o campeonato português, e para uma equipa que quer lutar pelo título, há que privilegiar um modelo em que a posse de bola seja um elemento central. Não adianta ficar atrás à espera que os outros ataquem, pois treze das outras quinze equipas não o irão fazer.
-Dado o contexto económico, não será possível contar com Reyes, enquanto, por outro lado, Di Maria parece ser o elemento do plantel com maior valor de mercado, o que, não se tratando de um titular indiscutível, aconselha vivamente a sua venda. Ou seja, o Benfica ficará provavelmente amputado dos seus melhores extremos.
-Como Cardozo, o mais produtivo avançado encarnado, precisa de alguém junto de si, o Benfica terá de utilizar dois pontas-de-lança.
-O jogador mais caro do Benfica, Pablo Aimar, é melhor aproveitado como pivot ofensivo atrás de dois avançados
-Todos os laterais do plantel, os que estavam, e os que, ao que parece, estão para chegar, são de cariz ofensivo.
Ora, todas estas premissas conduzem claramente a um 4-4-2 em losango, que tão bons resultados tem dado na liga portuguesa, com José Mourinho no Porto, com Paulo Bento em Alvalade, com Jorge Jesus no Restelo e em Braga, e até com Fernando Santos na Luz.

GUARDA-REDES
Ao contrário daquilo que parece ser opção da SAD, não creio que o Benfica necessite de gastar muito dinheiro em mais guarda-redes. Quim é o melhor guarda-redes português, e Moreira é uma alternativa válida. Não foi por eles que o Benfica perdeu os últimos campeonatos.
Morettos, Butts, Yannicks, Thorntons e afins, não têm trazido nada à equipa senão um acréscimo de despesa, pelo que outra contratação idêntica seria de evitar.
Como terceira opção poder-se-ia promover um jovem da formação (Pedro Miranda?), que seria mais do que suficiente para, em princípio, se sentar no banco três ou quatro vezes durante toda a temporada.

DEFESA
Notícias de hoje dão conta da contratação do uruguaio Álvaro Pereira do Cluj.
Com esta aquisição para o lado esquerdo, e com a já confirmada vinda do jovem brasileiro Patric para o direito, o quadro do sector mais recuado fica completo, partindo do desejável princípio que todos os defesas do plantel 2008-09 se manterão no clube.
Não conheço Patric nem Álvaro Pereira. As referências sobre o primeiro não são de entusiasmar, mas o segundo parece claramente um jogador para assumir a titularidade.
Uma vez que o flanco direito tem estado entregue a Maxi Pereira, Patric será, em princípio, uma alternativa de banco.
Ao centro da defesa deverá voltar David Luíz para, juntamente com Sidnei e Miguel Vítor, lutar por uma vaga ao lado do patrão Luisão, este absolutamente intocável – e com quem a SAD deveria avançar para a renovação imediata.
Sobra ainda Jorge Ribeiro, que poderá eventualmente ser deslocado para o meio-campo.

MEIO-CAMPO
É o sector nevrálgico do terreno e, devo dizer, aquele que mais tempo me fez perder neste trabalho.
A provável saída de Katsouranis vai causar um problema difícil de resolver. O grego é um jogador experiente, de classe internacional, capaz de fazer vários lugares, e particularmente adequado ao losango que preconizo para a equipa. Não vejo um substituto para ele, nem em Portugal, nem ao nível da bolsa benfiquista face ao mercado externo.
Resta apostar em Yebda e Binya, não pondo totalmente de lado a hipótese do talentoso junior Leandro Pimenta integrar o plantel. É verdade que Ruben Amorim pode jogar no vértice inferior do tal losango, mas julgo ser melhor rentabilizado como interior direito.
A aquisição de Ruben Micael poderia encaixar bem aqui, quer como interior esquerdo (lugar que também Jorge Ribeiro pode fazer), quer como alternativa a Aimar (caso não exista uma boa proposta por ele) na posição “dez”. Sobra ainda o “Joker” Carlos Martins, capaz de preencher três das quatro posições intermédias. Tanto Balboa (muito mal aproveitado com Quique), como Urreta (eventualmente também Fábio Coentrão), poderiam ser as armas para esticar o meio-campo em jogos onde fosse necessário um maior risco ofensivo, transformando o desenho num 4-4-2 mais tradicional, à maneira de Quique.
No entanto, olhando para o meio-campo, parece faltar ainda alguma coisa. Ou melhor, duas coisas: uma seria Katsouranis, outra um interior esquerdo de raiz. Mas como o bom é inimigo do óptimo, a coisa por agora fica assim.

ATAQUE
Óscar Cardozo é o melhor ponta-de-lança que o Benfica teve, desde a meteórica, mas produtiva, passagem de Van Hooijdonk pela Luz. É indiscutível no onze, merece renovação contratual e até uma equipa a jogar em função das suas características – que em Portugal são únicas.
Para jogar ao lado do paraguaio, Miccoli tem sido referenciado pela imprensa. Tem contra si o salário altíssimo que certamente pretenderá e também alguma irregularidade competitiva. A favor tem a simpatia dos adeptos. No caso, mais que provável, de as negociações pelo italiano falharem, talvez Nené (também apontado ao Benfica e com um salário substancialmente mais baixo) possa ser uma boa solução Se não vier Miccoli nem Nené, terá de chegar outro.
Nomes como Afonso Alves, que está gravemente lesionado, e não marca um golo há quase dois anos, é que, creio, serem de evitar. O internacional brasileiro é um jogador muito caro, e o seu rendimento é totalmente imprevisível, ainda que a sua carreira na Holanda tenha sido bastante profícua. É uma estrela, vem do campeonato inglês, parece em trajectória descendente. Onde é que já vimos isto?
Nuno Gomes seria o terceiro ponta-de-lança do plantel, mas como Mantorras é hoje pouco mais que uma bandeira, para jogar em 4-4-2 ficaria a faltar mais um avançado.
Nesse sentido o Benfica poderia avançar para uma contratação modesta (talvez no mercado brasileiro), de um jovem rápido e móvel, que pudesse ser uma alternativa aos restantes.

FINANÇAS
Conforme a figura documenta, com as vendas de Di Maria, Katsouranis, Moretto e mais alguns jogadores actualmente emprestados, prescindindo de Reyes, e com as aquisições dos laterais, dos “nacionalistas” Nené e Ruben Micael, e mais um avançado, o Benfica conseguiria um saldo positivo de 12 milhões de euros (condicionado, naturalmente, ao montante obtido por Di Maria).
Por outro lado, com estas mudanças, o clube pouparia ainda bastante na massa salarial, o que permitiria aumentar os ordenados de Maxi Pereira, Luisão, Miguel Vítor, Ruben Amorim e Cardozo, equilibrando a folha mensal, e diminuindo mesmo assim o seu peso total em 10%.

CONCLUSÃO
Este não seria um super-plantel. Seria um plantel coerente, apontando sobretudo ao futuro (média de idades bastante baixa). Seria um plantel adaptado aos tempos de crise.
É possível fazer diferente (conhecendo o mercado), mas não creio que seja possível fazer muito melhor, partindo da situação actual, e com as restrições orçamentais que se antevêem.
Não revoluciona, mantém os principais jogadores (à excepção de Katsouranis e Reyes), responde a um modelo de jogo previamente definido.
Talvez não desse para o título. Provavelmente não daria. Mas que plantel, de um ano para outro, e sem poder estender os gastos, poderia dar?

BENFICA: DEZ RAZÕES PARA O INSUCESSO

Conforme prometido há uns dias atrás, segue-se um trabalho sobre a situação do futebol do Benfica, incidindo sobre aquelas que considero as dez principais razões para o facto do clube não conseguir chegar às glórias que o seu passado justificaria. Não são de agora, e grande parte delas tiveram origem há quinze anos atrás, quando, em poucos meses, Manuel Damásio e Artur Jorge destruíram um plantel campeão. Algumas têm sido atenuadas, mas a maior parte delas tem, de um modo geral, mantido os seus traços essenciais, triturando os sucessivos (e bons) treinadores que, ao longo destes anos, foram passando pela Luz – de José Mourinho a Jesualdo Ferreira, de Fernando Santos a Manuel José, de Paulo Autuori a Jupp Heynckes.
Para além destes, outros problemas possivelmente existirão. Só quem estiver do lado de dentro os poderá conhecer. Estes são, no fundo, aqueles que saltam à vista do adepto mais atento. E se pudessem ser ultrapassados, nem arbitragens, nem satelização de equipas, nem outras quaisquer situações menos claras impediriam o clube da Luz de lutar activamente pelos títulos.
Vamos a isto:

1- FALTA DE MÍSTICA E SENTIDO DE CONTINUIDADE

PROBLEMA: Desde 1995, quando foram dispensados, de uma assentada, jogadores como Veloso, Vítor Paneira, Neno, Isaías ou Mozer, que o Benfica tem tido grande dificuldade em encontrar referências para o seu plantel, ou seja, jogadores que sintam a camisola, que conheçam os cantos à casa, que, enfim, personifiquem a mística do clube, e a passem para aqueles que vão entrando.
Quando, uma década depois (entre 2004 e 2006) o Benfica voltou a conquistar troféus (Campeonato, Taça e Supertaça) e a brilhar na Europa (quartos-de-final da Liga dos Campeões), ainda chegou a dispor de um naipe de jogadores capazes de constituir uma interessante base para os anos seguintes. Quim, Moreira, Miguel, João Pereira, Ricardo Rocha, Luisão, Tiago, Manuel Fernandes, Petit, Nuno Assis, Nuno Gomes, Mantorras, Geovanni, Anderson, Miccoli, Léo e Simão Sabrosa (grande parte deles portugueses), foram, quer pelo seu talento, quer pela forma como chegaram e se afirmaram no clube, aquilo que, na última década, mais se terá aproximado de uma verdadeira equipa à Benfica. Nem todos jogaram juntos, mas eram, sem excepção, excelentes jogadores, que acabaram inexplicavelmente por sair, na maioria dos casos sem a devida contrapartida financeira. Este grupo, reforçado com um ou outro elemento (Katsouranis?, Rodriguez?, Cardozo?), poderia ter sido o ponto de partida para um grande Benfica nacional e internacional, e quando na altura Luís Filipe Vieira falou na conquista de um título europeu, tal parecia poder mesmo ser possível. Todos aqueles jogadores saíram, e dessa fase apenas restam, além dos guarda-redes, Luisão, Nuno Gomes e Mantorras.

SOLUÇÃO: Não é fácil construir, de um ano para o outro, um conjunto de jogadores de valor e identificados com o clube. É um processo que demora anos, ou mesmo décadas. Quando as referências existem, é fácil a quem chega adaptar-se e poder transformar-se, a prazo, em nova referência. Se não existem, quem vem de novo dificilmente se adaptará, e provavelmente nunca sentirá o clube como seu.
Quando surgem jogadores que mostram perfil para poder ganhar familiaridade com a mística clubista, há que os preservar como tesouros. O primeiro e decisivo passo é pois não deixar sair, de forma nenhuma, aqueles que possam interpretar esse papel. Sobretudo enquanto não existe, dentro do próprio plantel, e com idêntico grau de aculturação clubista, alguém que os substitua. Simão Sabrosa foi um caso paradigmático de um elemento que não era possível (como não foi) substituir, e por quem teria valido a pena abrir generosamente os cordões à bolsa. Tal como Lucho no F.C.Porto, ou Liedson no Sporting, era uma bandeira a segurar com unhas e dentes.
Neste momento há três grupos de jogadores no Benfica: os que já são, de certa forma, e por diferentes motivos, referências (Quim, Moreira, Luisão, Katsouranis, Nuno Gomes, e o caso especial de Mantorras), os que podem vir a sê-lo (Maxi Pereira, Sidnei, Miguel Vítor, David Luíz, Ruben Amorim, Yebda, Carlos Martins, Cardozo), e os que dificilmente o poderão alguma vez ser (os restantes). Do primeiro e do segundo grupo, parece-me absolutamente proibido deixar sair jogadores.
Não se podem repetir as razias de 2006 (João Pereira, Geovanni, Ricardo Rocha), 2007 (Anderson, Miccoli, Karagounis e Simão), e 2008 (Petit, Léo, Nelson, Cristian Rodriguez, Rui Costa, Nuno Assis), pois não haverá milhões que cheguem para colmatar tantas baixas. Se, como já se vai lendo por aí, o Benfica prescindir de Cardozo, Katsouranis, Luisão etc, é absolutamente seguro que dentro de um ano voltemos a estar aqui a dizer a mesma coisa.

2- DEFICIENTE POLÍTICA DE CONTRATAÇÕES

PROBLEMA: Para além da inexplicável forma como o Benfica prescinde, ano após ano, dos seus melhores jogadores, também muitas das contratações não têm tido o critério que se exigia.
Procuram-se, por um lado, estrelas, nomes sonantes, craques para fazer a diferença e encantar plateias. Por outro, jovens imberbes com vista a uma posterior venda, na perspectiva da mais-valia fácil. Gastam-se milhões com eles. Sem enquadramento colectivo, o rendimento é invariavelmente baixo, e, consequentemente, acabam por se desvalorizar desportiva e financeiramente.
Esquece-se que uma equipa não é uma simples soma de individualidades, e que não pode ser apenas feita de solistas. Esquece-se também que as receitas, as grandes receitas, vêm das vitórias, dos títulos - pois são eles que valorizam os jogadores - e não de negócios avulso com jovens sul-americanos. O resultado em campo é o que se vê: um conjunto desarticulado, desmotivado, pouco combativo (o que se revela dramático num campeonato com as características do português), e isso deve-se, não necessariamente à menor entrega ou profissionalismo dos jogadores, mas sim ao perfil dos mesmos, e à sua falta de enquadramento colectivo.
Faltam operários e atletas, sobram artistas e jovens inexperientes. Faltam mais Maxis Pereiras, Rubens Amorins, e sobejam Aimares, Di Marias ou Reyes. Faltam ideias colectivas, sobram talentos avulso.
SOLUÇÃO: Mais do que a habilidade dos jogadores, para vencer campeonatos é necessária uma equipa que funcione enquanto entidade colectiva. Mais do que estrelas, são necessárias peças para um puzzle que, ele sim, tem de apresentar harmonia e qualidade. Só assim é possível vencer, só assim é possível conseguir as valorizações dos passes dos jogadores contratados, e posteriormente, com uma (não mais) cirúrgica venda por época, garantir as receitas que a SAD tanto procura.
Esse puzzle tem que apresentar organização, disponibilidade e força, para o que são necessários jogadores com um perfil que corresponda, em termos físicos e mentais, às exigências de uma época de combate e de profundo desgaste.
Não se podem contratar jogadores para depois fazer uma equipa. Tem que se pensar uma equipa, e contratar jogadores em função dessa ideia, o que é substancialmente diferente. Por exemplo, para jogar em 4-4-2 não se teria contratado Aimar.

3- EXCESSIVA ESTRANGEIRIZAÇÃO

PROBLEMA: Em 1982-83, com um treinador estrangeiro acabado de chegar a Portugal, o Benfica realizou uma época extraordinária. Foi campeão, venceu a Taça, e chegou à final da Uefa. Tinha dez portugueses no seu onze, grande parte dos quais com sete, oito ou mais anos de clube. Foi a melhor equipa do Benfica do meu tempo.
Hoje o Benfica tem apenas sete portugueses em todo o plantel, dois dos quais guarda-redes, e chegou mesmo a utilizar, pela primeira vez na sua história, um onze exclusivamente estrangeiro (no jogo da Taça em Matosinhos). À excepção de Mantorras, Luisão e Katsouranis, nenhum dos estrangeiros do plantel encarnado está há mais de dois anos no nosso país.
Juntando esta realidade a um treinador recém-chegado, auxiliado por adjuntos igualmente estrangeiros, temos um grupo de trabalho francamente desfasado dos terrenos que pisa. E em muitos jogos isso fez-se sentir de forma dramática.
Pode argumentar-se que Chelsea, Arsenal, Liverpool e outros grandes clubes europeus funcionam como verdadeiras multinacionais e mantêm poucos jogadores dos respectivos países nas suas equipas. Contudo, para além das óbvias diferenças de qualidade do recrutamento, estamos a falar de estrangeiros que permanecem no clube quatro, cinco seis anos (Ronaldo, Drogba, Fabregas etc), e são sempre enquadrados por dois ou três elementos da casa (Scholes, Giggs, Lampard, Terry, Gerrard etc).
SOLUÇÃO: À partida seria simples resolver esta questão recorrendo ao mercado nacional para apetrechar a equipa. Acontece que grande parte dos clubes portugueses estão satelizados pelo F.C.Porto, o que dificulta a prospecção e a negociação. Cabe à direcção encarnada combater este estado de coisas, denunciando-o, mas também actuando no terreno. E não é com vinagre que se apanham moscas…
Enquanto esse longo processo não dá os seus frutos, a contratação de um treinador português poderia ajudar. Não há contudo por aí técnicos portugueses aos pontapés, capazes de gerar algum consenso entre os benfiquistas (Fernando Santos foi o melhor treinador do Benfica dos últimos anos e a contestação foi muita…). Em alternativa, impor um adjunto português, com larga experiência do nosso futebol, poderia ser uma boa opção. Álvaro Magalhães é o nome que me vem à cabeça, até porque foi campeão e o motivo da sua saída (José Veiga) entretanto dissipou-se.

4- DÉFICE DE CAPACIDADE ATLÉTICA

PROBLEMA: Estou plenamente convencido que um dos segredos do F.C.Porto passa por privilegiar a capacidade atlética quando decide contratações ou dispensas de jogadores.
Ainda na passada semana, observando ao vivo (e só assim essas coisas se percebem) um jogo de Hóquei em Patins, tive mais uma confirmação dessa ideia, ao verificar a gritante diferença de constituição atlética entre os jogadores do F.C.Porto e do Benfica, algo que creio ser comum a quase todas as modalidades e escalões. No Futebol acontece o mesmo, bastando comparar Cissokho, Cristian Rodriguez ou Hulk com Aimar, Di Maria ou Reyes para o perceber.
Por vezes não se trata apenas de uma diferença de altura ou peso. É uma diferença de atitude mental, de agressividade, de nervo, de combatividade. Há um perfil de jogador portista, que encontra as suas raízes em André, João Pinto, Frasco, Jaime Pacheco e outros, e que, grosso modo, se mantém vivo. E o resultado disto é uma presença física colectiva absolutamente impressionante, que marca todas as diferenças.
Veja-se a força e a combatividade com que Lisandro Lopez joga. Compare-se com qualquer um dos avançados do Benfica. Veja-se o ritmo de Raul Meireles, compare-se com o de qualquer médio benfiquista. Veja-se a agressividade de Bruno Alves, compare-se com a dos defesas encarnados. Só Maxi Pereira consegue aproximar-se da intensidade de jogo da maioria dos jogadores da equipa portista.
Enquanto para quem está sentado na bancada o futebol é apenas um espectáculo, dentro do relvado é, antes de mais, um desporto, onde os atletas mais fortes, mais rápidos, mais resistentes e corajosos quase sempre levam vantagem. Esta realidade torna-se particularmente evidente num campeonato como o português, disputado muitas vezes em campos pequenos, sobre maus relvados e diante de adversários ultra-defensivos, que fazem da combatividade – e mesmo da violência – as suas principais armas.
SOLUÇÃO: O Benfica deve privilegiar a contratação de guerreiros. Tem de basear a sua equipa em jogadores fortes física e mentalmente, corajosos, agressivos, disciplinados, cultos, de rendimento regular e pouco dados a lesões. Tem de ser este o perfil do jogador-Benfica, independentemente da maior ou menor capacidade técnica, da maior ou menor expectativa de valorização individual no mercado. Se for possível introduzir uma estrela que faça a diferença, tanto melhor, o que não se pode é pretender construir uma equipa de craques, até porque os verdadeiros fora-de-série, aqueles que realmente ganham jogos (Messis, Ronaldos, Ibrahimovics), não estão ao alcance dos clubes portuguêses.
Este aspecto cruza-se, creio, também com questões clínicas.
No futebol actual, ou de um modo geral, no desporto de alta competição, a medicina é uma área absolutamente central. Tão ou mais fundamental que o próprio treinador, até porque se trata de um tipo de funções muito mais especializado. O Benfica tem, aparentemente, ignorado esta realidade, laborando em lógicas de funcionamento muito próximas daquelas que eram as do futebol dos anos oitenta e noventa, onde o médico só servia para curar lesões. Não sou médico, pouco conheço das EPOS, ou das CERAS dos tempos modernos, nem defendo que o caminho seja esse, embora outros o sigam. Mas um departamento médico de um clube profissional, que pretende conquistar títulos, para além de não poder errar diagnósticos, nem demorar tanto tempo a tratar uma lesão muscular como se estivéssemos num qualquer centro de saúde do país, não pode também ignorar que todo o acompanhamento do rendimento dos atletas, e da capacidade atlética que apresentam em campo (inclusive, porventura, os índices de agressividade) passa por si.

5- FALTA DE UMA IDEIA DE JOGO

PROBLEMA: Enquanto o F.C.Porto e o Sporting apresentam um modelo de jogo solidificado e repetido desde há três ou quatro épocas, enquanto as grandes equipas europeias jogam praticamente da mesma forma ao longo de décadas (Manchester United, Barcelona, Arsenal, Milan, Bayern de Munique), o Benfica parece querer refazer, a cada início de temporada, toda a sua identidade de jogo, toda a sua estruturação colectiva, e esperar que decorridos apenas alguns meses, ou mesmo semanas, a sua equipa se imponha categoricamente a todos os adversários, e satisfaça adeptos cuja ambição ainda se situa em parâmetros construídos nos tempos de Eusébio. Esta lógica não é minimamente sustentável.
SOLUÇÃO: Há que definir um modelo de jogo que sirva de base de trabalho, e responda aos desafios do campeonato português. Para isso, e também por motivos de ordem económica, deve partir-se dos jogadores que existem, e verificar qual a melhor forma de os aproveitar e rentabilizar (losango?). Depois, introduzir uma ou outra peça, já de acordo com o modelo definido. Por fim, manter essa estrutura durante o maior período de tempo possível, de modo a criar automatismos e coesão colectiva. Ou seja, saber planificar, e saber esperar.
Grandes equipas europeias constroem plantéis para vários modelos e sistemas de jogo. Em Portugal, sobretudo por razões económicas, creio que tal não é possível, havendo que fazer esta definição prévia. Tanto o Sporting como o F.C.Porto apenas dispõem de jogadores vocacionados para a forma como habitualmente jogam, que está previamente definida. No Benfica, creio por exemplo que Suazo, Reyes e Aimar, talvez as três principais aquisições da época, são, nas posições onde mais rendem, tacticamente incompatíveis.

6- CARÊNCIA DE SOLIDEZ DEFENSIVA

PROBLEMA: Se os ataques ganham jogos, as defesas ganham campeonatos. Esta é uma máxima que não tem encontrado eco na gestão desportiva do Benfica.
Se nos últimos dois anos o Benfica gastou perto de sessenta milhões de euros em contratações, não mais de dez terão sido destinados ao reforço da sua linha defensiva (metade deles com Sidnei), que já em 2007, depois da saída de Ricardo Rocha e Alcides na mesma semana (e mais tarde de Anderson), era o principal problema da equipa, e esta época voltou a sê-lo – o Benfica tem mais golos sofridos do que a Académica, e quase tantos o Rio Ave, o Estrela da Amadora ou a Naval.
É verdade que os avançados são mais caros, mas pretender fazer toda uma época, e ser campeão, com apenas um lateral de raiz no plantel, parece uma ideia algo fantasiosa.
Mais do que os próprios elementos da linha defensiva, o Benfica tem denotado grandes dificuldades colectivas, em todo o campo, sempre que perde a bola, o que se deve à forma macia como os seus médios e avançados (não) fazem pressão sobre os adversários. A equipa surge muitas vezes partida entre os que atacam e os que defendem, o que nos remete para o futebol que se praticava há vinte anos atrás. Hoje, tanto os defesas têm que saber atacar, como os avançados têm que ser os primeiros a defender, mas no Benfica essa filosofia ainda não foi devidamente apreendida. Por exemplo Liedson, Lisandro, mas também Drogba, Rooney, entre outros, são autênticos defesas sempre que não têm a bola nos pés, qualquer que seja a zona do terreno que pisem, aparecendo a disputar bolas, tanto na sua área, como junto das bandeirolas de canto da sua zona defensiva.
SOLUÇÃO: Para dotar o Benfica de uma maior segurança defensiva há que garantir, para já, a continuidade de todos os defesas do plantel, e reforçá-lo com dois laterais fortes e capazes de fechar o espaço interior. Mas a equipa encarnada terá também que adoptar um modelo no qual o meio-campo permita menos espaços aos adversários (losango?) ou, em alternativa, encontrar extremos capazes de fazer as imprescindíveis compensações aos laterais e aos pivots, o que não é o caso daqueles de que dispõe. Tem por fim que educar os seus avançados a pressionar os adversários como se vê a qualquer grande ponta-de-lança do futebol europeu, e se tal não for possível, contratar avançados que o façam.
Creio que este aspecto está também interligado com o défice de capacidade física do plantel, já referido num dos pontos anteriores.

7- FALTA DE ACOMPANHAMENTO E PROTECÇÃO AOS JOGADORES

PROBLEMA: Um dos aspectos que mais me tem chocado no Benfica dos últimos anos é perceber que muitos dos seus jogadores não gostam de lá estar. Miguel, Tiago, Ricardo Rocha, Karagounis, Katsouranis, e mesmo Luisão, são os exemplos que no imediato vêm à memória. Todos eles manifestaram, de forma mais ou menos persistente, o desejo de sair, o que não parece normal num clube com a dimensão, prestígio e palmarés do Benfica.
Alguns destes casos terão a ver com questões salariais, que irão ser referidas no ponto seguinte, mas não creio que o acompanhamento dado à integração dos jogadores do Benfica - em particular os estrangeiros - no plantel, no clube e na cidade, seja a mais eficaz, nem que os jogadores tenham, da parte do clube, a protecção, e mesmo, porque não dizer, o carinho, que a sua importância justifica.
SOLUÇÃO: Não sei quanto custaria criar uma equipa de técnicos (psicólogos?) e funcionários especificamente destacados para acompanhar os jogadores no seu dia a dia, que assegurasse a sua integração plena na cultura do clube, mas também na cidade (procurando ao mesmo tempo evitar-lhes más influências, más companhias e maus hábitos, nunca esquecendo que estamos a falar de jovens, nalguns casos pós-adolescentes), que lhes desse apoio psicológico quando necessário, que, enfim, fosse uma voz do Benfica junto deles, não os deixando exclusivamente entregues a empresários e agentes com interesses frequentemente contraditórios face aos do clube. O salário de um dos jogadores mais bem pagos do plantel daria provavelmente para concretizar esta ideia.
Para além deste aspecto, importa também acabar de vez com as críticas públicas a jogadores ou ao seu desempenho, e estabelecer com eles uma relação de maior proximidade e amizade, de modo a que não olhem para a sua entidade patronal com o distanciamento que, por vezes, acabam por revelar. Se se tratarem os profissionais como meros empregados ou mesmo mercenários, será dessa mesma forma que eles se irão comportar. É a psicologia do desporto profissional, é a psicologia do ser humano, é a psicologia da vida.
São os jogadores as estrelas do clube. São eles que escrevem a sua história. São eles que interpretam o sonho dos adeptos. Todos sabem quem é, e o que fez, Eusébio, mas ninguém saberá quem era o presidente ou os directores do Benfica no tempo dele.

8- DESEQUILÍBRIOS SALARIAIS NOTÓRIOS

PROBLEMA: Ao contrário do que sucede no F.C.Porto e no Sporting, a folha salarial do Benfica carece de equilíbrio e equidade.
Não é preciso perceber de futebol para se saber que qualquer organização profissional terá grandes dificuldades em ser eficaz, caso alguns dos seus membros, com as mesmas tarefas, aufiram salários duas, três e quatro vezes maiores do que outros. Sobretudo se a essas diferenças não corresponder um maior rendimento no trabalho.
Enquanto no Sporting a folha salarial é nivelada por baixo, e no F.C.Porto se nota um extremo cuidado com o equilíbrio da mesma (a prova é que Bruno Alves e Pedro Emanuel estarão entre os mais bem pagos), na Luz os que mais ganham não são, provavelmente, nem os melhores, nem os mais importantes.
Pior que isso, a sensação que salta para o exterior é que o Benfica não tem qualquer preocupação com esta questão, limitando-se, em cada momento, a pagar o menos possível a cada um dos jogadores que contrata (o que até é natural) e que mantém (o que já se trata de um tremendo erro, sobretudo quando falamos de elementos fundamentais no conjunto, com provas dadas de rendimento e profissionalismo).
Os jogadores são profissionais e são homens. Desejam o melhor para si próprios, e se não estiverem satisfeitos, se não sentirem o seu trabalho valorizado, se olharem para o lado e virem outros serem injustamente recompensados, o seu rendimento irá necessariamente ressentir-se. À primeira oportunidade vão pretender sair.
SOLUÇÃO: Não se pode resolver esta questão de uma penada. Os contratos estão feitos, há que os cumprir. Por outro lado, não há dinheiro para nivelar todos os salários por cima.
Percebe-se todavia que jogadores como Ruben Amorim, Óscar Cardozo, Miguel Vítor e Maxi Pereira justificariam um salário melhorado, pois o seu rendimento tem suplantado aquilo que deles se esperava. Creio também que Katsouranis estaria provavelmente disposto a renovar o contrato se lhe fosse proposto um vencimento correspondente à sua importância na equipa (e que pode vir a ser muitíssima). O mesmo é válido para Luisão, e, por outros motivos, também para o capitão Nuno Gomes.
Pelo contrário, salários como os de Reyes, Aimar e Suazo não são compatíveis com o futebol português, inflacionam a folha total, e só se justificariam se pagos a um jogador que possa fazer a diferença, por si só e individualmente (por exemplo, Simão Sabrosa). Suazo não volta ao Benfica, Reyes também não deverá ficar. Havendo que realizar mais-valias, talvez a venda de Pablo Aimar (eventualmente para o mercado sul-americano) fosse uma boa solução a este nível.

9- FALTA DE DINÂMICA DE VITÓRIA

PROBLEMA: Sem a conquista de títulos, vai sendo alienada, ano após ano, a auto-confiança que é a base de uma dinâmica ganhadora. Os jogadores deixam de acreditar em si e na equipa, os treinadores perdem ambição, os adeptos não apoiam, os adversários galvanizam-se, as críticas externas acentuam-se, e precipita-se o caminho das derrotas. Tem sido este o trilho percorrido pelo futebol encarnado.
Na Luz perdeu-se o hábito de vencer. Em termos de futebol, o Benfica transformou-se, desde há uma década e meia, num clube perdedor. Essa é uma realidade que não adianta ocultar.
SOLUÇÃO: Para reverter esta situação não há outro caminho senão o das vitórias e dos títulos. Trata-se na verdade de uma "pescadinha-de-rabo-na-boca", pois sem vencer não se cria dinâmica, e sem ela não se vence. Mas ainda assim há algo que se pode e deve fazer.
O Benfica ganhou a Taça da Liga e, por inacção perante todo o folclore que se seguiu à final, ou por uma quase demente mania de grandezas que continua a afectar parte significativa da família benfiquista, não soube, ou não pôde, fazer dessa vitória uma bandeira e uma arma de estímulo para a equipa e para os jogadores.
Quando se ganha poucas vezes, há que explorar bem todas as vitórias, por curtas que sejam. É delas que se parte para outras vitórias e que se iniciam ciclos ganhadores. Não se pode, para este efeito, atirar uma Taça da Liga para o lixo, como muitos benfiquistas têm feito. Essa seria a missão dos adversários e rivais. Não a dos benfiquistas.

10- PRESSÃO EXACERBADA DOS SÓCIOS

PROBLEMA: Também os adeptos do Benfica têm pois algumas culpas na situação em que o futebol do clube tem caído.
Nascidos ou moldados numa realidade diferente, na qual o Benfica era uma das grandes equipas da Europa, e em que tinha um dos melhores jogadores do mundo nos seus quadros, os benfiquistas nunca se souberam redimensionar aos novos tempos, nos quais, queiram ou não, perderam a hegemonia nacional, perderam o comboio internacional, e têm todo um longo caminho pela frente até poderem recuperar a sua identidade, e ver o clube devolvido às glorias passadas.
Exige-se das sucessivas equipas do Benfica aquilo que elas não podem dar. Espera-se ópera onde só se poderão ouvir marchas militares, exigem-se vitórias categóricas quando 1-0 basta, desdenham-se títulos “menores” mesmo não conseguindo chegar aos "maiores". Maltratam-se treinadores e jogadores, como se eles pudessem fazer muito mais do que na realidade, e na maior parte dos casos, fazem.
Fernando Santos terá sido o exemplo paradigmático de um treinador que fez um trabalho extraordinário no clube, foi pouco menos que sabotado pelas indefinições constantes no plantel, ficou a dois pontos do título, qualificou-se para a Liga dos Campeões, chegou aos quartos-de-final da Taça Uefa, e ainda assim nunca deixou de ser assobiado pelos adeptos. Trappatoni, que foi campeão, foi também assobiado insistentemente, e viu lenços brancos em variadíssimas ocasiões. Koeman, que chegou aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, teve o mesmo tratamento. Toni, Heycnkes, Jesualdo Ferreira, Souness, Camacho, nenhum obteve o consenso de um terceiro anel completamente desadaptado aos tempos modernos, e para o qual as vitórias têm de ser esmagadoras e acompanhadas de recitais de bom futebol.
Nem só os treinadores foram atropelados por estas desmedidas e irracionais expectativas. Desde Abel Xavier a Vítor Paneira, de Maniche a Miguel, de Fernando Meira a Nuno Gomes, e mais recentemente Tiago, Derlei, Quim ou Cardozo, muitos foram os jogadores apupados por “adeptos” do Benfica que, aparentemente, ainda vão para o estádio à espera de encontrar Eusébio, Coluna e Simões, e que não têm a noção de quanto estão a prejudicar o seu próprio clube com esses assobios.
Significativa é, por outro lado, também a forma distanciada como uma grande parte dos benfiquistas vive o clube. Ainda esta época, num jogo em que o Benfica poderia saltar para o primeiro lugar (frente ao Vitória de Setúbal), estavam na Luz pouco mais de vinte mil pessoas. Ninguém percebeu que se estava perante um momento importante, pois nesta altura da sua história, ser líder da classificação é um feito suficiente para aglutinar todos os adeptos em redor da equipa.. Mesmo em 2006, depois de vários anos de ausência, o Benfica – com seis milhões de adeptos ! - tinha no seu regresso à Liga dos Campeões frente ao Lille não mais de trinta mil pessoas na Luz. E os festejos da última Taça da Liga praticamente não se viram.
Há um claro hiato entre aquilo que é o verdadeiro poderio futebolístico do Benfica de hoje, e aquilo que grande parte da sua massa adepta, sonhadoramente, espera. Isso traduz-se, por um lado em alheamento, por outro em pressão negativa.
SOLUÇÃO: Apesar de ser de evitar, da parte dos dirigentes, um discurso que caia claramente fora daquilo que são as expectativas reais da equipa - mobilizar é uma coisa, vender ilusões é outra bem diferente, e na Luz nem sempre se conseguiu distinguir devidamente uma da outra –, a verdade é que, ultrapassar ou não a forma como esta pressão (ou falta de apoio) influencia negativamente a equipa, depende fundamentalmente dos próprios adeptos.
Independentemente das ambições de cada benfiquista, a realidade actual do futebol do clube é substancialmente diferente da que se vivia há trinta anos atrás, quando os encarnados dominavam as competições nacionais e eram um nome temido em toda a Europa. O Benfica tinha os melhores jogadores, fazia as melhores equipas, mantinha a sua forte mística num balneário onde era alimentada uma dinâmica ganhadora.
Por várias razões, umas de natureza externa, outras de âmbito interno, o Benfica foi adormecendo á sombra dessa superioridade. Durante muito tempo esteve parado e deixou que outros tomassem o seu lugar. Hoje, se continua a ser o maior clube português, há já muito que deixou de ter a melhor equipa de futebol portuguesa (está claramente atrás do F.C.Porto, atrás do Sporting, e pertence à terceira linha do futebol europeu). É dessa realidade que, com humildade, o clube tem de partir, e só dela tendo consciência, os benfiquistas a poderão contrariar. Não admitindo as evidências estarão a enganar-se a si próprios, e a dar o primeiro e mais perigoso dos passos atrás.
É pois necessária a máxima exigência face ao rigor do trabalho e do caminho seguido, mas também alguma tolerância para com os resultados. Os adeptos do Benfica têm de aceitar e perceber – nunca com resignação, mas sim com paciência e serenidade - os limites se lhes foram colocando, pois só assim, conhecendo-se bem, ignorando provocações exteriores e redimensionando as suas expectativas (ajustando-as à realidade), estarão efectivamente a apoiar a equipa, e a contribuir para que ela se torne mais forte e competitiva no futuro.
A grande força do Benfica é a sua popularidade, mas se não a fizer valer de forma positiva, de pouco ela lhe servirá.
Não seria de excluir, portanto, que a direcção encarnada assumisse, na próxima época, uma não candidatura ao título, de modo a permitir ao grupo de trabalho a tranquilidade necessária para, a dois ou três anos, formar uma equipa campeã, e capaz de discutir, então sim, a hegemonia do futebol português.

PS: Já depois de ter publicado este texto, li com espanto na imprensa que Luís Filipe Vieira e Rui Costa terão estado em Inglaterra a tentar vender Cardozo e Luisão, quanto a mim, conjuntamente com Katsouranis (também de saída), os melhores e mais importantes jogadores do Benfica.
Se esse negócio se vier a concretizar, é absolutamente seguro que, dentro de um ano, por esta altura, estaremos todos a reflectir, uma vez mais, acerca dos problemas do Benfica, depois de mais uma época frustrante.
Sendo a fonte a Cofina (Record), mantenho todavia a esperança de tudo não passar de especulação.