O fantasma de Guttmann parece estar a afectar as fases de grupos da Liga dos Campeões, onde o Benfica, de uma forma geral, tem sido infeliz. Mas ainda assim o panorama está longe de ter as cores negras para que um olhar mais superficial poderia apontar. Nos últimos cinco anos o Benfica é o 16º clube com mais pontos nas fases de grupos da Champions. E mesmo nos últimos três aparece em 28º lugar entre 55 equipas participantes (não esquecer todas as que nem sequer participaram...), o que, tendo em conta os orçamentos, não sendo brilhante, está longe de envergonhar.
É verdade que o FC Porto tem feito mais pontos (entre outras razões, porque normalmente defende melhor, e isso na Europa tem um peso preponderante). Mas, por exempo, PSV Eindhoven, Spartak de Moscovo, Galatasaray, Feyenoord, Olympiakos, Monaco, Bayer Leverkusen ou... Zenit, têm menos pontos que o Benfica. E, se contabilizarmos os cinco anos, até Arsenal, Valencia, Ajax, Inter ou, pasme-se, o campeão europeu Liverpool, estão atrás.
Que razões explicam então o enorme desencanto dos benfiquistas? Sobretudo três: o fantasma dos zero pontos de 2017-18 (essa participação foi vergonhosa, mas, na verdade, mais nenhuma o foi), a performance do FC Porto (que todavia, neste período, só chegou uma vez aos quartos-de-final, tal como os encarnados), e, também, o discurso irrealista de Luís Filipe Vieira, que repetidamente (e desnecessariamente, digo eu) fala de Europa, quando o clube não tem, nem terá nos tempos mais próximos, qualquer hipótese de disputar uma final da Champions, sejam quais forem as expectativas dos seus adeptos - também elas normalmente irrealistas e sedentas de discursos de glória.
Este Benfica, ainda mais agora recheado de jovens inexperientes (bem mais do que quando tinha nomes como Garay, Luisão, Aimar, Saviola, Gaitan, Enzo Perez, Matic, Di Maria ou Cardozo), está talhado para consumo interno, onde tem tido grande sucesso. É fundamental participar na Champions , assegurar os prémios de participação, jogar os jogos pelos jogos, ganhar experiência, tentar fazer uns pontinhos, mas se se pretende mesmo conquistar uma prova europeia, tal só poderá acontecer um dia na Liga Europa, se houver muita sorte, uma grande equipa, e um campeonato resolvido cedo para permitir aposta total na frente externa. A Champions é grande de mais para o orçamento do Benfica, e isso deveria ser claramente assumido, evitando o clima de frustração que este tipo de derrotas vai gerando.
Gritar ambição é fácil. Para a concretizar seria preciso dinheiro, muito dinheiro. Num mercado periférico como o português, numa Liga nacional sem qualquer visibilidade, num modelo de negócio em que há que vender (e bem), ano após ano, os maiores talentos, não adianta sonhar alto.
A realidade é: ganhar o campeonato e as provas nacionais, estar sempre na Champions para garantir a receita da presença, e um dia aproveitar um contexto favorável para tentar um triunfo na Liga Europa. Tudo o que se disser para além disto será iludir os mais incautos.