SEMÁFORO EUROPEU


 

SCHMIDT AO ESPELHO

Será normal um treinador que se sagrou campeão nacional logo na primeira época em Portugal, atingiu os Quartos-de-Final da Liga dos Campeões depois de uma carreira com momentos notáveis, e ainda adicionou uma Supertaça logo a abrir a nova temporada, ser tão questionado como tem sido Roger Schmidt nas últimas semanas? A resposta óbvia é: não! Mas permanece uma pergunta: então porque motivo é isso mesmo que está a acontecer?
Há que puxar o filme atrás. 
De facto, o Benfica fez uma primeira metade da temporada 2022-23 esplendorosa. Apurou-se brilhantemente no 1º lugar de um grupo da Champions onde estavam PSG e Juventus, venceu praticamente todos os jogos do Campeonato (apenas um empate, em Guimarães), e cavou desde logo uma distância considerável para os principais rivais que, por contraponto, entraram mal na temporada, escorregando sucessivamente em terrenos inesperados. À 7ª jornada o Benfica já tinha 5 pontos de vantagem para o FC Porto e 11 para o Sporting. À 11ª, levava 8 para os portistas e 12 para os rivais lisboetas. Como se sabe, isso veio a revelar-se determinante.
Se, por outro lado, isolarmos o que se passou desde a pausa para o Mundial do Catar, verificamos que o Benfica, daí em diante, perdeu 13 pontos, o Sporting 14, o Braga 11, e o FC Porto apenas 7. Não se superiorizou a nenhum deles no confronto directo. Com isso, colocou em risco um Campeonato em que chegou a ter, virtualmente, 13 pontos de vantagem (a meio da primeira parte do "clássico" da Luz, onde, diga-se, acabou por ser claramente manietado pela equipa de Sérgio Conceição, como o foi em alguns momentos dos dois "dérbis" lisboetas, nenhum deles ganho, em nenhum deles tendo estado, um minuto sequer, em vantagem). Não fosse uma surpreendente vitória do Gil Vicente no Estádio do Dragão, e não se sabe (mas calcula-se) o que teria acontecido. E seria catastrófico. Ainda no plano nacional, os encarnados foram eliminados da Taça da Liga por uma equipa que então militava no segundo escalão (Moreirense), e da Taça de Portugal pelo SC Braga. Os dragões venceram ambas as competições.
No plano internacional, depois de uma fase de grupos impressionante, o Benfica beneficiou de um sorteio extremamente simpático, que lhe pôs por diante um Club Brugge mergulhado numa crise gravíssima. Passou facilmente, mas caiu de seguida, dando menos luta ao Inter de Milão do que havia dado o FC Porto na ronda anterior.
Ou seja, desde o Mundial (Novembro/Dezembro de 2022), e, coincidentemente ou não, desde a saída de Enzo Fernandez, e porventura desde o memento em que a equipa deixou de ser capaz de surpreender, não se pode dizer que o Benfica tenha sido brilhante, e muito menos que se tenha superiorizado a um FC Porto com muito menores recursos. E já então se falava da teimosia de Roger Schmidt em insistir no mesmo onze, em desgastar, por vezes de forma desnecessária e incompreensível, alguns jogadores nucleares (não dando oportunidades a outros), e em fazer substituições que só ele parecia entender. Como tudo fica bem quando acaba bem, e o Benfica foi campeão, Schmidt pôde passar umas férias descansadas.
Não terá sido a derrota do Bessa a mudar a perspectiva dos adeptos. Na verdade, essa derrota (com traves, postes, erros individuais de jogadores e árbitros) teve uma componente de infelicidade enorme, bastando dizer que aos 89 minutos o Benfica vencia por 1-2, tendo chegado à vantagem já em inferioridade numérica. E, há que o dizer (e eu disse-o), Vlachodimos não esteve bem nessa partida, realizando a sua pior exibição pelos encarnados.
É precisamente o guarda-redes grego, ou melhor, o modo como Schmidt lidou com o assunto (na praça pública e de uma forma totalmente inusitada numa pessoa inteligente e sempre ponderada nas declarações que faz), que trouxe inquietação ao universo benfiquista, e mais reticências na sua (nossa) identificação com o técnico germânico.
Terá sido uma espécie de gota de água num processo que, como referi, já vinha da fase final da temporada anterior, e que passou também por uma gestão do plantel e dos reforços (a acreditar que as opções foram suas) no mínimo duvidosa, de onde ressalta a insistência num caríssimo Kokçu que não era prioritário, e na renovação de um Otamendi veterano e decadente, a escolha dos duvidosos (e também caros) Jurasek e Arthur Cabral, as dispensas dos razoáveis, mas seguros, Gilberto e agora Ristic, e uma composição de onze que sacrifica desnecessariamente Aursnes (um dos pilares do último campeonato...no meio-campo), deixa de fora sistematicamente Neres, também Morato (e sempre Musa), e, por fim, sacrilégio dos sacrilégios, neste último jogo, o jovem João Neves - que salvou o campeonato passado com um punhado de extraordinárias exibições num momento de grande pressão e em que uma equipa manifestamente extenuada precisava da sua energia como de pão para a boca.
Não defendo, de forma alguma, o despedimento de Roger Schmidt. Acho que só um louco o faria neste momento. Tive dúvidas, isso sim, numa renovação porventura precipitada e que, até ver, não acrescentou nada ao Benfica a não ser uma folha salarial mais generosa. Já foi feita, feita está.
Entendo, porém, que a crítica é livre, e até saudável. Quando os adeptos não puderem criticar as opções dos treinadores, o futebol terá morrido.
Nesse sentido, tenho sido uma das vozes que se junta à daqueles que, ao contrário do que seria de supor após um ano vitorioso seguido de um investimento avultado, não olham com grande entusiasmo para a nova época. E não o fazem, eu pelo menos não o faço, exclusivamente por receio e desconfiança no caminho que está a ser seguido por Schmidt - que, é preciso lembrar, nunca tinha treinado em países latinos, e também, diga-se, aos 56 anos nunca tinha vencido grande coisa. Temo que o balneário esteja a ser minado por opções duvidosas, por simpatias (Otamendi, Di Maria, João Mário, Kokçu) e antipatias (Ody, Gilberto, Morato, Ristic, Florentino, Neres, Musa...), por diferenças salarias substantivas e não sustentadas no rendimento desportivo, e por um técnico de perfil obstinado, pouco focado nos adversários e na forma de os bloquear (ou desbloquear), e que vive muito à custa de uma excelente preparação física do plantel (aí tiro-lhe o meu chapéu). Além de que (isso acontece com todos os treinadores, eu diria mais, com todas as lideranças), o tempo vai causando desgaste: um dia zanga-se com um, na semana seguinte com outro, e se as coisas não são muito bem acauteladas, se não há uma preocupação séria com isso (não estamos na Holanda, e muito menos na China), é fácil perder o controlo total do grupo. Isto não é apenas no futebol, a aí já sei bem daquilo que falo.
O que mais desejo é estar enganado. É concluir, em Maio de 2024 (preferencialmente vivo e de boa saúde), que mesmo após quase 50 anos a ver futebol, não percebo nada disto. E que Roger Schmidt é, afinal tão bom treinador como parecia em Novembro de 2022, que o Arthur Cabral é um craque, que o balneário (depois de tantas torturas) ficou coeso e solidário, e, sobretudo, que o Benfica é campeão. 

E O MEU PLANTEL SERIA:

Caso não tivesse mesmo sido possível chegar a Santiago Gimenez, teria tentado Pavlidis, Beltran ou um outro ponta-de-lança bom. Em qualquer dos casos, sem Trubin, Jurasek, Kokçu, Schjelderup, Tengstedt e Cabral, o volume total investido seria sempre muito menor, e, quanto a mim, o plantel ficava bastante mais equilibrado. Em vez de ter renovado com Otamendi, renovava com Rafa, seis anos mais novo, e que parece continuar, mais uma época, a carregar a equipa ao colo (para já, três jogos, três golos). 

ERROS DELES, MÁ FORTUNA

Numa jornada, o Sporting é claramente favorecido pelo VAR Hugo Miguel, e o Conselho de Arbitragem reage, reconhecendo o facto.
Noutra jornada, o FC Porto é claramente favorecido pelo árbitro Fábio Veríssimo, e o Conselho de Arbitragem não reage, ignorando o facto.
Com ou sem reacção do CA, a verdade é que, em três jornadas, já ambos foram escandalosamente beneficiados. Além de que, uns e outros vão ganhando jogos que só terminam quando, finalmente, conseguem marcar. Seja aos 90+9, seja aos 90+10, seja, se necessário, aos 90+854.
E o Benfica? Também perdeu o seu jogo aos 90+9, e está a três pontos, quando deveria estar, no máximo, a um. E sem este autêntico casino dos descontos, poderia até já ir destacado em primeiro lugar.
Confesso que estou cada vez mais farto do futebolzinho português, que é um esgoto a céu aberto e cheira mal que tresanda.

VITÓRIA (À) JUSTA

O triunfo do Benfica em Barcelos foi justo, inequívoco, mas podia ter sido mais tranquilo. 
Sobretudo após o 1-2, houve momentos de alguma tensão e algum descontrolo, numa partida que, até aí, tinha pouca história para contar.
Uma vez mais, só Roger Schmidt entende o onze que colocou em campo. Mas quando se ganha, tudo está bem. Não estou a ser irónico: para mim, desde que as vitórias pinguem, está mesmo tudo bem.
Não posso porém deixar de estranhar a ausência de João Neves - um dos melhores, senão o melhor jogador da equipa nas últimas partidas. De Neres, já falei o quanto baste. Por mim, era ele e mais dez. Neste caso, eles os dois e mais nove. Frente ao Gil Vicente, estiveram outros nove, mas Neves e Neres ficaram de fora. No caso do jovem médio, quase me deu para rir.
Aursnes a lateral...enfim.
Em sentido contrário, Di Maria, que durante a semana afirmou publicamente não gostar de ser substituído, tendo feito saber isso mesmo ao treinador, permaneceu em campo os noventa minutos. Inclusivamente quando o jogo ficou partido, e ele, com as suas características e com a sua idade, obviamente já não se mexia muito.
Percebo que não possam jogar todos. Percebo que o plantel está sobredimensionado em certas posições. Mas continuo a não entender os critérios de escolha dos onzes, nem das substituições. Como disse atrás, só quero que o Benfica ganhe. E não tenho sombra de dúvidas de que Roger Schmidt percebe infinitamente mais de futebol do que eu. Desejo, ardentemente que tudo isto tenha uma lógica, e que no fim seja ele a ter razão. Entretanto vou dizendo e escrevendo o que penso, que é para isto que serve um blogue. Por vezes também para desabafar, mesmo correndo riscos de cair em exageros ou mesmo divagações, mas sempre de acordo com o que a cada momento vou sentindo. Nada me move contra o treinador benfiquista (pelo contrário, já lhe devemos um campeonato e uma supertaça), até parece simpático, é inteligente e educado. Por vezes não o entendo, e, com quase cinquenta anos que levo a ver futebol, tenho algum receio que isso seja um sinal de perigo.
Quanto aos que jogaram, Rafa foi o melhor. Já leva três golos, e espero que a boa forma seja para manter (o futuro... logo se vê). Musa entrou e marcou, o que tem sido hábito. Mostrou, sobretudo, que neste momento merece a titularidade. Até porque Arthur Cabral está longe de me convencer.
Em relação aos guarda-redes já não tenho muito mais a dizer: Odysseas foi lamentavelmente queimado, Trubin é uma incógnita, e Samuel Soares (que, enquanto for titular, é obviamente o meu guarda-redes) continua a parecer-me um pouco verde, e sinto que corre riscos de um destes dias se vir a svilarizar. Mais uma vez, desejo estar enganado.
Que o Benfica continue a ganhar, pois isso é a única coisa que verdadeiramente me interessa.

O MEU ONZE PARA BARCELOS


 

O QUE EU TERIA FEITO

O mercado ainda não fechou. Ainda pode haver desagradáveis surpresas de última hora (Morato? Ristic? Florentino? Rafa? Neres? outro?). E é mais fácil suceder algo assim, do que vir algum reforço de monta - dado o dinheiro já consumido.
O que está feito, feito está. E mesmo sabendo que o futebol profissional não é propriamente o "Championship Manager", faço aqui um exercício daquilo que, fosse eu a decidir, teria acontecido, ou teria tentado que acontecesse:
1) Não contratava Trubin por 10 milhões. O Benfica precisava de um suplente para Vlachodimos, e não de um guarda-redes tão caro que, até agora, mesmo sem ter jogado, mesmo sem qualquer culpa, parece ter já causado problemas. Os guarda-redes de Arouca, Famalicão ou Gil Vicente eram boas opções para servir de "Heltons Leites", dando espaço e tempo a Samuel Soares para amadurecer. Odysseas não é Courtois, como Rafa não é Mbappé. Infelizmente, o Benfica só pode ter jogadores de nível mundial, ou no início das carreiras (antes de explodirem), ou no fim (como é agora o caso de Di Maria). O grego pagou sempre o preço de ter sucedido a Ederson e Oblak que, esses sim, foram a excepção. Além de que o grau de exigência que alguns adeptos e analistas hoje em dia colocam nos guarda-redes raia o absurdo. Fossem Costa Pereira, José Henrique ou Bento (como Damas ou Vítor Baía, como Yachine Maier ou Zoff)) avaliados pelos mesmos critérios, e nenhum passava da mediocridade.
Um guarda-redes, no campeonato português, numa equipa grande, nem sequer é assim tão importante. Até com Bruno Varela o Benfica ia sendo campeão, como aliás foi com Quim. No Sporting já vi Adán fazer exibições miseráveis, e quanto ao tão idolatrado Diogo Costa, basta recordar o Mundial, onde enterrou a selecção portuguesa (algo que, diga-se, tem sido silenciado como se não tivesse realmente acontecido). Para o Benfica ser campeão e fazer uma boa Champions, Vlachodimos é mais do que suficiente. Temo que já tenha sido queimado - a começar pelo próprio treinador.
2) Tinha mantido Gilberto no plantel. O titular é Bah, e Gilberto era o suplente perfeito, tratando-se de um jogador aguerrido, comprometido, identificado com o clube e com o país. Um campeão. Não sei se se encontrará muito melhor para o banco, e sem gastar mais dinheiro.
3) Não tinha renovado com Otamendi. Trata-se de um veterano, com um salário elevadíssimo, que disfarça com a experiência as claras lacunas de velocidade que vai apresentando. Não me esqueço de Chaves, de Milão e de muitos outros jogos em que se percebeu que o seu tempo passou. Fosse o apertadíssimo critério-Odysseas aplicado ao central argentino e já tinha sido sumariamente despedido. António Silva e Morato seriam a dupla perfeita para a titularidade, com João Victor, Tomás Araújo e, eventualmente, mantendo também Lucas Veríssimo, como opções de banco.
4) Partindo do princípio que não era mesmo possível segurar Grimaldo (nem oferecendo-lhe os 14 milhões gastos em Jurasek),para discutir o lugar com Ristic contratava um lateral-esquerdo verdadeiramente bom. Não sei se o checo o é, ou vai ser. Até agora não gostei nada. Mesmo nada. Além de que estou farto de defesas que não são assim tão fortes a...defender.
5) Jamais gastaria 25 milhões em Kokçu. Parece bom jogador, mas não era, de todo, aquilo que o Benfica, a meu ver, precisava para o meio-campo. O verdadeiro substituto de Enzo Fernandez emergiu na fase final da época passada, e chama-se João Neves. A alternativa era Chiquinho, que também cumpriu aquando da sua comissão de serviço. A posição estava mais do que acautelada, e o turco acaba por ser, pelo menos por enquanto, mais problema do que solução. O salário (bem como as respectivas consequências no balneário), prefiro nem saber. Mas, reafirmo, parece ser, de facto, bom jogador.
6) Contratava, sim, um trinco para competir com Florentino pela posição "seis". De preferência um "gorila", forte, alto e agressivo. Em jogos grandes, e na Champions, o Benfica vai precisar de músculo. E este plantel carece bastante de altura e de largura.
7) Em vez de Otamendi renovava, isso sim, com Rafa. É cinco anos mais novo, e tem sido a estrela do Benfica nas últimas épocas. É o melhor jogador da equipa desde o tempo de Jonas, conquistou vários títulos, e aparece sempre nos momentos importantes, a decidir (veja-se, por exemplo, as duas últimas vitórias do Benfica no Estádio do Dragão, que, aliás, valeram os dois últimos campeonatos ganhos pelos encarnados). O meu Benfica seria sempre Rafa e mais dez, pelo menos por mais duas ou três temporadas. É o jogador mais subvalorizado do clube, e até do futebol português. Talvez a sua personalidade contribua para isso. O empresário também não ajuda. Mas é um craque dos pés à cabeça.
8) Schjelderup, até ver, não tem nada a mais do que jovens que o Benfica tem emprestado ou mesmo dispensado. A diferença é que custou muito dinheiro. Aliás, ele e Tengstedt, terão sido precipitações do último mercado de Inverno - que é um mercado particularmente propício a enfiar barretes. Apostava em Tiago Gouveia, e.. confesso que não sei o que se passa com Henrique Araújo (em quem, há pouco mais de um ano atrás, depositava infinita confiança).
9) Gosto muito de Di Maria. Foi dos maiores craques que passou pelo Benfica. Acontece que vai a caminho dos 36 anos, e duvido seriamente (espero estar enganado), que faça toda a época sem lesões ou grandes oscilações de rendimento. No contexto do plantel do Benfica, tem um estatuto estratosférico, que obrigará o treinador a colocá-lo sempre, independentemente do rendimento desportivo. Tem também um salário elevadíssimo, que além de pesar no cofre, também pesa num balneário onde Grimaldo já não quis renovar, e Rafa pediu uma fortuna para o fazer. Quando se é argentino, e o empresário é Jorge Mendes, tudo se torna diferente. Este é, de tudo o que escrevi neste post, o ponto em que tenho mais dúvidas. Só no fim da época poderemos saber se este Di Maria, aos 35 anos, vindo de uma época atribulada na Juventus, é mesmo o Di Maria, e equivale mesmo ao salário que aufere. Eu teria duvidado, e aproveitado o dinheiro noutras coisas. Mas até ao momento não posso dizer que tenha razões de queixa - a não ser talvez a menor utilização de outro craque, Neres (que com Rafa, João Mário e Aursnes chegava para assegurar o meio-campo ofensivo).
10) Uma dessas coisas podia ser convencer Gonçalo Ramos a ficar mais uma temporada. Entre Trubin, Otamendi, Jurasek, Kokçu, Di Maria e Arthur Cabral, juntando tudo (passes, salários, comissões etc), não estão menos de 100 milhões. É verdade que eu não era o presidente do clube de fãs do jovem avançado algarvio, mas, honestamente, estava convencido de que nesta época ia crescer bastante, e explodir como grande goleador. E estou plenamente convencido de que é melhor (muito melhor) do que o brasileiro contratado à Fiorentina por mais de 20 milhões. Com um salário generoso (dado ser o jogador mais valioso no mercado, não me chocava ter o salário mais elevado do plantel) e algumas promessas (sair daqui a um ano), talvez o rapaz pudesse ficar, pelo menos esta temporada. Ou então é apenas fantasia minha, e resta-me acreditar que Arthur Cabral (suplente da Fiorentina) seja, no mínimo, melhor que Musa. Se assim for, já fico consolado.

Enfim, estão aqui descritas algumas das razões pelas quais não estou particularmente optimista. A Supertaça surpreendeu-me, e no Bessa houve demasiado azar. Mas vejo muita coisa com potencial para correr mal. Obviamente que seguirei atentamente todas estas situações ao longo da temporada. Se pelo menos em metade delas tiver de dar o braço a torcer, já ficarei bastante feliz. Fazer o Totobola à segunda-feira é fácil. Estou a fazê-lo antes, tal como o teve de fazer a estrutura da SAD benfiquista. Há muita coisa que não domino (personalidades dos jogadores, relacionamentos entre eles, relações com empresários, etc), mas por norma gosto de seguir a velha máxima segundo a qual "em equipa que ganha, não se mexe". Ora parece-me que neste Benfica, que foi campeão há três meses, e fez uma belíssima carreira europeia, ter-se-á já mexido porventura demasiado.

QUE FIQUE POR LÁ

Não me interessa quanto vai lucrar o FC Porto com a venda de Otávio. Enquanto adepto do futebol, agrada-me ver o campeonato português livre do seu elemento mais tóxico, e espero ardentemente que o seleccionador nacional também se esqueça dele - caso contrário serei eu, e muitos outros, a esquecerem-se progressivamente da Selecção.
Houve jogadores de clubes rivais que me irritaram pela sua enorme qualidade, pelas exibições e pelos golos que marcaram ao Benfica. Lembro-me, por exemplo, de Fernando Gomes, no FC Porto, e Manuel Fernandes, no Sporting. Ambos me magoavam bastante no plano desportivo, mas sempre se deram ao respeito dentro e fora do campo. Temia-os enquanto adversários, mas, terminadas as respectivas carreiras, não pude deixar de os aplaudir como desportistas exemplares que sempre foram. A Gomes, infelizmente, já não o poderei fazer, mas a Manuel Fernandes ainda gostava de um dia lhe dar um abraço e, pessoalmente, "pedir-lhe satisfações" pelo poker de 1987. São nomes fortes da minha infância e adolescência. Grandes jogadores de um tempo em que a rivalidade desportiva era apenas... rivalidade desportiva. Homens que conquistaram títulos para os seus clubes, marcaram centenas de golos (só ao Benfica, em conjunto, foram 26!!), sem precisarem de achincalhar ninguém. Engrandeceram o desporto português, e, à sua maneira, do lado de lá do campo, também contribuiram para a minha paixão pelo futebol.
Otávio é o contrário de tudo isso, e, diga-se, nunca marcou um golo ao Benfica. 
Admito que até tenha alguma qualidade técnica, não o conheço pessoalmente (nem quereria jamais conhecer), mas simboliza em campo tudo aquilo que é mais desprezível no futebol, e em particular no futebol português. As constantes provocações, as simulações teatralizadas, os protestos por tudo e por nada, a falta de respeito por adversários, árbitros e adeptos, no fundo, uma chico-espertice do mais alto nível levada para os relvados, alimentando o ódio e, em última análise, a própria violência  - que nasce de elementos e comportamentos nocivos como estes.
Prefiro, honestamente, ver o Porto embolsar 40, ou 50, ou lá quantos milhões são (nem que fossem 100), e nunca mais ver este indivíduo nos relvados portugueses.
Não tem a ver com o FC Porto. Tem a ver com dignidade e com cultura desportiva.
Adeus, que fique lá para sempre e nunca mais volte a este país.


NERES CONTRA O MUNDO

E desse mundo, além dos adversários e do azar que surgiu no Bessa (por contraponto com a sorte que outros candidatos vão tendo), fazem também parte as opções de Schmidt, cuja teimosia e personalidade cada vez me irritam mais - mesmo com todo o crédito que o título 38 lhe conferiu.
Desta vez, de uma cajadada, pode ter matado dois jogadores campeões. Na época passada vi Bah, Otamendi (enterrou a equipa em Chaves, em Milão etc, e ainda lhe renovaram o contrato milionário, queimndo também Morato), João Mário, Gonçalo Ramos e até Rafa fazerem alguns jogos miseráveis. O técnico alemão foi insistindo até à náusea em mantê-los, e a coisa acabou por corer bem, embora com sustos desnecessários pelo caminho, e uma eliminação talvez evitável na Champions.
A Vlachodimos bastou uma exibição negativa para merecer estúpidos reparos publicos e perder logo o lugar para um jovem da equipa B (para mais, com o ucraniano de 10M no banco).
Já a David Neres não bastam sucessivas grandes exibições para justificar a titularidade, sobretudo em partidas desta tipologia. Foi ele a resolver um jogo que podia e devia ter sido resolvido mais cedo. E quanto a Ristic, também ainda não entendi a resistência em utilizá-lo, quando me parece o menos mau lateral do Benfica, e neste caso pontual sem sequer ter concorrência à esquerda. Desperdiçou-se Aursnes. Uma vez mais.
Florentino também não tem suplente no plantel, mas nem assim joga de início. Nem assim se acautelou a posição seis no mercado, desconfio que também por capricho de Schmidt.
Quanto a Arthur Cabral, vamos ver quantos golos marca. 
Enfim, mais coisa haveria para dizer sobre tudo isto. O resultado, hoje, foi uma vitória de aflitos contra um adversário de segunda divisão, com o risco, que chegou a ser real, de ficar já a cinco ou seis pontos da liderança.
Veremos os próximos capítulos. Mas há muita coisa a rever. A Supertaça disfarçou erros e insuficiências, que começam na abordagem ao mercado, e continuam na teimosia de um treinador demasiado obstinado para o meu gosto, e no receio que tenho de ver comprometer tudo o que se alcançou na época passada em termos de coesão de grupo e consequente dinâmica de vitória. 
Oxalá o tempo desminta o meu pessimismo.
Para já, não estou a gostar muito. E duvido da renovação do titulo - que só acontecerá por eventual inépcia dos rivais. 

ENTRADA EM FALSO

Muitas incidências. Muito azar (nos lances, nos momentos, nos cartões, nas traves, nas substituições, nas decisões do árbitro, nos descontos... ) . A história do Boavista-Benfica podia, e devia, ter sido totalmente diferente. Ganhou quem não merecia, perdeu quem cometeu alguns erros graves e não teve a mínima sorte do seu lado. No fundo, aconteceu futebol, e, numa jornada em que os encarnados até podiam ter conquistado pontos a todos os rivais, acabam por perdê-los de forma inglória 
Sempre defendi Odysseas. Desta vez não só não o posso fazer, como tenho de o apontar como o pai, ou pelo menos um dos pais, desta derrota. Dois erros clamorosos, que deitaram abaixo um Benfica que lutou, mas não resistiu ao desastre total do seu guarda-redes.
Acontece a todos. Vi Bento fazer o mesmo. Mas a verdade é para se dizer: hoje Vlachodimos não esteve à altura. Terá sido, porventura, a sua pior exibição de sempre em Portugal. 
De resto, também ainda não gostei de Jurasek, nem de.. Kokcu. Só entre eles estão 40M, e até agora, salvo a assistência do turco na Supertaça, pode dizer-se que a equipa passava muito bem sem eles.
Tudo o mais foi azar. Muito azar. Sobrando exibições positivas de Rafa e, uma vez mais, João Neves -  cuja saída de campo não entendi. 
Enfim. Que dizer mais? Nada. Apenas esperar que a equipa supere este choque, e as próximas 33 jornadas sejam bem mais felizes. Esta foi para esquecer. Tudo o que podia correr mal, correu. Não acredito que seja sempre assim, mas três pontos já voaram. 

SEM ESPINHAS

Ah, como eu gosto de me enganar quando a realidade supera as expectativas... 
E se a primeira parte foi exactamente o que eu esperava (Porto intenso e agressivo, Benfica macio e sem saber lidar com a pressão contrária, onde só João Neves parecia saber o que fazer em campo) , na segunda aconteceram duas coisas que me surpreenderam: uma firme reacção de um Benfica revitalizado e reorganizado pelas substituições, e um inusual esgotamento físico do FC Porto.
Então emergiu Di Maria, que foi soltando o talento que tem nos pés, e, com ele, dando o grito que virou definitivamente a contenda. 
No balanço final, a segunda parte do Benfica foi bastante melhor do que a primeira dos portistas, ficando por explicar o que levou Schmidt a tomar algumas opções iniciais que francamente não se entenderam, e podiam ter custado um ou dois golos, e com eles o troféu.
Tudo está bem quando acaba bem. Fica uma saborosissima vitória, que, confesso, não esperava, mas que a dada altura até ameaçou ser mais expressiva. 
O árbitro mostrou amarelos a mais e a menos. Pepe, por exemplo, esteve seis minutos a mais em campo. E quanto a Conceição, o juiz alentejano só tinha de deixar os elementos da PSP retirarem o treinador, não lhe devendo satisfações. Mas não houve, isso é factual, qualquer influência no resultado.

Sobre o técnico portista tem de haver decisões: nem devia ter estado no jogo, soma 25 (!!!) expulsões e começa a estar a mais no futebol. A fita que protagonizou tem de ter consequências. Já deixou de ser trágico. Começa a ser cómico. 

ONZE PARA AVEIRO...SEM RAMOS


 ...e à espera de um milagre.

E OS HORÁRIOS?

A apenas duas semanas de distância, e numa altura em que os portugueses que podem, marcam férias, ainda se desconhecem os horários, e os dias dos jogos da segunda jornada da liga portuguesa. Por exemplo, não sei se o Benfica recebe o Estrela da Amadora na sexta-feira dia 18, no sábado dia 19, no domingo dia 20, ou na segunda-feira dia 21, às 15h, às 17h, às 20h ou a outra hora qualquer. Não sei nada, nem sobre esse, nem sobre nenhuma das outras partidas. Se quisesse reservar um hotel para a próxima quinzena, ou ignorava o futebol, ou esperava que tudo esgotasse. Só se sabe (o que é absolutamente fantástico!!) que nesta temporada não haverá jogos a começar após as 20.45h (!!!) em dias úteis. Muito obrigado Sr. Pedro Proença, por essa extraordinária decisão. Espero que na próxima época, com a evolução que a liga tem trazido ao futebol português, o impedimento seja a partir da 20.44h... Só a título de exemplo, a Premier League está toda calendarizada até Outubro, com pouquíssimos agendamentos depois das 17.30h, e jamais depois das 20.00h, mesmo aos fins de semana.
Vale-nos que, à semelhança do que faz com a Selecção Nacional, um supermercado agora dispõe-se a ajudar a encher estádios como os do Arouca, do Portimonense ou do Casa Pia (se é que existe). Mas se para verem o Cristiano Ronaldo a coisa ainda pega, neste caso, se não for em jogos com o Benfica, talvez seja necessário, além do bilhete, oferecerem também lombo de porco à borla para convencer alguém a ir ver este miserável campeonato ao vivo.

INEVITÁVEL

O mundo é o que é, e não o que gostaríamos que fosse. Gostemos ou não, o futebol moderno transformou-se numa máquina de fazer girar dinheiro. 
Criam-se sad's, abre-se capital a investidores incertos (e tantas vezes obscuros), mudam-se estádios de local e de tipologia, alteram-se emblemas para, segundo especialistas em marketing, se tornarem mais globais, multiplicam-se os equipamentos alternativos e a sua frenética variação (um para casa, outro para fora, um para as provas europeias, outro para quando chove ou faz sol) somente para fazer render as marcas (vendendo por cem, camisolas que neo-escravos produzem no sudeste asiático por cinco), rodam-se jogadores que aos quinze anos já só pensam em ser ricos, tiram-se comissões por intermediação numa cadeia sequencial de múltiplos agentes por cada negócio, vende-se merchandising, desenvolve-se o branding, transformam-se adeptos em customers e clubes em plataformas comerciais corporate (só as próprias palavras já me irritam), publicitam-se lugares premium para conforto de algumas carteiras, e no fim há ainda um speaker (que eu simplesmente despedia, pondo apenas música nos intervalos) a agradecer a presença no estádio do infeliz adepto que, ingenuamente, pensava que a alma de tudo aquilo era ele e os outros como ele que enchem as bancadas, e não uma qualquer empresa abstracta que lhe pretende vender tudo, e tudo, e tudo, como se estivesse num shopping qualquer, onde após lhe apresentarem a conta dizem "muito obrigado". 
Cada vez rola mais dinheiro, e roda, e roda, e rende, e rende, e gira, e gira, até que um dia tudo isto vai esbarrar numa parede - quando se perderem os últimos vestígios de identidade e paixão que, na base, alimentaram o fenómeno, e sem o que este se tornaria absolutamente fútil e inútil. Quem vai enriquecendo está-se nas tintas. É sacar enquanto dá. E agora, com os árabes, ainda vai dar mais, pelo menos até esse tal dia em que chocar de frente com a sua vazia realidade e a bolha rebentar. Talvez seja o reflexo da decadência da sociedade ocidental - que ainda assim, como diria Churchill, é a pior à excepção de todas as outras.
O que vale é que ao futebol podemos virar costas assim que quisermos, e confesso que já estive mais longe de o fazer. A pandemia também nos ensinou que podemos muito bem viver sem ele, que não é assim tão importante para o nosso quotidiano, e que se não for bem tratado por quem tem poder e obrigação de o fazer, irá direitinho para o cano de esgoto junto com a água do próprio banho.
De tudo isto, confesso que já só gosto mesmo do "meu" (enquanto me permitirem senti-lo assim) Benfica. Tudo o resto, no mínimo enjoa-me, no máximo enoja-me. Mas é no meio desse "tudo o resto" que o "meu" Benfica está metido.
E a verdade é que, qualquer clube que pretenda manter-se vivo, aspirar a ser vencedor, tem necessariamente de entrar neste carrossel. Se esse clube for de um país periférico, e estiver encurralado numa liga miserável, atafulhada de equipas-fantasma e que ninguém vê em parte nenhuma do mundo, a única via será vender, ano após ano, o mais caro possível, os seus anéis, e adquirir (ou formar) outros que possam ser rentabilizados para mais tarde serem, também eles, vendidos. Se as coisas forem bem feitas e correrem bem, entretanto ganham-se uns campeonatos nacionais, e de vez em quando consegue-se uma participação honrosa na Liga dos Campeões - que muito dificilmente irá além dos quartos-de-final das duas últimas temporadas.
Não há outra via. O mundo do futebol profissional é isto. A menos que queiramos disputar apenas torneios amadores, estamos condenados a aceitar (ou abandonar) esta realidade. 
Por tudo isto, já se sabia que Gonçalo Ramos ia sair do Benfica. Sobretudo a partir do "hat-trick" do Mundial, a sua cotação atingiu um nível insustentável para o futebol português. De certo ia ter propostas salariais quatro, cinco, sete ou nove vezes mais altas (o que, convenhamos, para qualquer profissional, de qualquer área, como eu ou como o estimado leitor, se tornariam dificilmente recusáveis).  E o clube tinha nele o "ativo" (outra expressão aterradora quando aplicada a jogadores de futebol) mais valioso, cuja receita seria fundamental para novos investimentos, ou meramente para manter os imperiosos equilíbrios financeiros.
Pensei que Ramos ficasse até à Supertaça. Infelizmente, parece que nem isso é possível.
Resta desejar boa sorte ao rapaz, e partir para outra - neste caso, para outro. Gimenez ou Beltran? Talvez preferisse o primeiro, por já estar adaptado ao contexto europeu. Mas o preço também é diferente - e entretanto até renovou contrato com o Feyenoord, o que dificultará ainda mais uma negociação.

Quando pagamos impostos, a melhor estratégia é fazê-lo e evitar pensar muito no assunto. Neste caso é igual. Tinha de ser, pois que seja. Havendo saúde, a vida vai continuar. Com ou sem Gonçalo Ramos, com ou sem futebol.

O MEU ONZE PARA AVEIRO

Não havendo lesões, não havendo mais jogos, e como não posso assistir aos treinos, antecipo desde já o meu onze para a Supertaça:
Isto mesmo: com Otamendi, Jurasek, Kokcu, Di Maria e Rafa no banco.