CINCO ANOS DE PRESIDÊNCIA
Ao fazer o balanço do seu trabalho devem, quanto a mim, ser considerados três períodos distintos. Um desde a sua entrada no clube até ao fim do primeiro mandato (2006), outro desde o início do segundo mandato até Julho passado, e um terceiro – assim espero – iniciado nestes últimos meses.
O primeiro mandato de Luís Filipe Vieira foi notável, colocando-o ao nível dos melhores presidentes da história do clube. Herdando uma situação extremamente complicada sob todos os pontos de vista, Vieira e a sua equipa credibilizaram institucionalmente o clube, encetaram uma recuperação económica e financeira que quase se assemelhou a um verdadeiro milagre, conseguiram dar sequência a projectos como a construção das instalações desportivas – estádio, pavilhões e centro de estágio -, descobriram novas formas de criação de receitas, das quais o naming das bancadas ou os kits de sócio foram apenas os mais elucidativos exemplos, apostaram fortemente no tradicional ecletismo e, qual cereja no topo do bolo, ainda viram a equipa de futebol regressar aos títulos após longo jejum, o que também só foi possível graças a uma gestão desportiva criteriosa e afirmativa, capaz de trazer para a Luz nomes como Simão Sabrosa, Petit, Nuno Gomes, Geovanni, Luisão, Tiago, Ricardo Rocha ou Quim.
Quando tudo parecia caminhar para a perfeição, e o Benfica parecia imparável rumo ao seu destino ganhador, eis que a partir de 2006, à medida que outros projectos avançavam (ex: canal tv), a gestão desportiva foi sendo estranhamente negligenciada.
Custa a entender como se cometeram tantos e tão repetidos erros. Fundamentalmente, parece não ter havido capacidade de perceber que na equipa campeã de 2005 estava uma base com condições para - com mais um ou outro reforço - chegar longe até em termos internacionais, como de resto a evolução da carreira dos seus jogadores o veio a demonstrar.
Neste período, compreendido entre 2006 e 2008, desmantelou-se a equipa, desprezou-se a dinâmica de vitória que o título de Trappatoni trouxera, destruiu-se um balneário coeso e unido, carregado de mística e profissionalismo. Sobre esses destroços, lançou-se um grupo de jovens sul-americanos contratados avulso, sem conhecimento do clube nem experiência do futebol europeu. Criaram-se, enfim, todas as condições para uma das piores épocas de sempre do Benfica, até porque o despedimento do técnico Fernando Santos (que ficara a dois pontos do título) se revelou precipitado e injusto, e, mais tarde, a decisão de promover Chalana uma inexplicável aventura de custos bastante elevados e nunca devidamente contabilizados.
Quero acreditar que com as escolhas de Rui Costa e Quique Flores o Benfica tenha, neste último defeso (apesar do mal explicado caso Petit), entrado numa nova fase. Numa fase em que a competência – então aparentemente exclusiva de outras áreas de actividade do clube – tenha chegado enfim à gestão do futebol. Numa fase que possa levar o Benfica de novo aos títulos (já vão tardando…), e que possa redimir esta administração dos erros cometidos a nível desportivo, dando ao final deste segundo mandato de Vieira um impulso capaz de lhe permitir a reeleição em Outubro de 2009.
Se for dada autonomia de decisão a quem percebe de futebol – sem serem os directores financeiros a decidir as contratações em função de avaliações meramente mercantis -, se houver preocupação com a estabilidade do grupo, evitando as constantes entradas e saídas de jogadores, se se interiorizar que só com resultados desportivos o clube estará em condições de aproveitar devidamente todo o seu potencial de criação de receitas, respirando o ar saído de toda a retaguarda institucional e empresarial que o Benfica conseguiu sedimentar nestes anos, estou certo que o futuro será pintado de vermelho, e que a história de Luís Filipe Vieira no Benfica poderá acabar bem melhor do que, em certas alturas, se chegou a supor.