Estes são dias difíceis para os benfiquistas. Liga-se a televisão, vêm-se directos de Dublin. Compra-se o jornal, e lêem-se manchetes sobre a final portuguesa. Não há como fugir deste cerco, que recorda, e acentua, a frustração de Braga. E o pior ainda está para vir, com as comemorações da vitória, mais do que provavelmente centradas no Porto. Depois virá a Taça de Portugal, e só lá para meados da próxima semana poderemos ter algum sossego.
Como forma de contornar tudo isto, em jeito de catarse, talvez seja apropriado lembrar aqui outros momentos de grande frustração desportiva. Jogos em que as lágrimas ficaram presas aos olhos, noites em que o sono teimava em não chegar, manhãs acordadas com a angústia da derrota a torturar a alma.
É difícil hierarquizar estas situações, e mais ainda explicá-las. Não tenho, efectivamente, razões objectivas para ter sofrido mais com uma eliminação normal ante o Dukla de Praga, do que por uma derrota de 0-7 ocorrida em Vigo, mas a verdade é que assim foi.
Estranharão certamente as ausências dessa, como de outras goleadas (7-1 em Alvalade, 5-0 no Dragão). Na verdade, nunca foram esse tipo de jogos os que mais me custaram a digerir. Sempre vivi o futebol com paixão, e não com ódio pelos rivais. Talvez por isso nunca me senti humilhado por eles. Talvez por isso, outros momentos, com outras expectativas, com outras consequências, me tenham afligido muito mais do que esses episódios - que eu classificaria quase como burlescos.
Resta acrescentar que só considero aqui jogos do Benfica. Houve também momentos da Selecção Nacional (a final com a Grécia, a meia-final com a França em 1984), e do Juventude de Évora (jogo com o Estoril em 1981, que impediu a subida à 1ª divisão) que poderiam caber neste balanço de tristezas.
Eis o top-10:
1º SP.BRAGA-BENFICA, 1-0 (2ª mão da Meia-Final da Liga Europa 2010-11)
Não adianta dizer muito mais sobre este jogo. Nem creio, honestamente, que o tempo, ou o distanciamento histórico, o façam sair tão depressa desta liderança.
Foi uma derrota duríssima, que ainda não digeri, e nem sei quando o conseguirei fazer.
2º BENFICA-PSV EINDHOVEN, 0-0 (Final da Taça dos Campeões Europeus1987-88)
Até Braga, parecia-me impossível suplantar o desencanto de uma final da Taça dos Campeões Europeus perdida nos penáltis.
A situação em si é o que de pior as emoções do futebol nos podem reservar. Durante anos não hesitei quanto a isso, ao recordar a forma como o mundo me caiu em cima após o falhanço de Veloso. Até há uns dias atrás…
3º BENFICA-SPORTING, 1-2 (Penútima jornada do Campeonato Nacional 1985-86)
Um drama. O Benfica preparava-se para festejar o título, bastando-lhe um empate para tal. O Sporting estava em crise, e não parecia poder incomodar aquele desígnio. Mas o inesperado aconteceu, lançando o Estádio da Luz num mar de lágrimas.
Saí a chorar, pelas escadas do terceiro-anel, naquele que foi o primeiro derby a que assisti ao vivo.
O FC Porto, à mesma hora, ganhou em Setúbal (golo de Paulo Futre), e esse título possibilitar-lhe-ia sagrar-se campeão europeu no ano seguinte.
4º BENFICA-DUKLA DE PRAGA, 2-1 (2ª mão dos Quartos-de-Final da Taça das Taças 1985-86)
No meu quarto, a chorar convulsivamente, com os meus pais agarrados a mim dizendo-me que era apenas um jogo de futebol. Eis o que me recordo, com grande precisão, dessa noite de Março de 1986.
O Benfica tinha perdido por 0-1 em Praga, e na Luz rapidamente fez dois golos, colocando-se em vantagem. Eu ouvia atentamente o relato, numa altura em que o futebol não era ainda um fenómeno televisivo.
A poucos minutos do fim, quando a presença nas meias-finais parecia ser uma realidade, um remate fortuito deu a eliminatória aos checos. Não queria acreditar naquilo que ia ouvindo. Afinal o Benfica ia ficar fora da prova, aos pés de um adversário acessível.
Até então, nunca uma derrota me tinha caído tão mal.
5º BENFICA-FC PORTO, 1-3 (2ª mão da Meia-Final da Taça de Portugal 2010-11)
Outro de que não vale a pena falar muito.
Foi a mais dolorosa derrota de sempre sofrida face ao FC Porto, num jogo em que as expectativas de êxito eram totais, dada a vantagem lograda na 1ª mão.
Um autêntico pesadelo, vivido nas bancadas da Luz.
6º PENAFIEL-BENFICA, 1-0 (Antepenúltima jornada do Campeonato Nacional 2004-05)
Na idade adulta, as lágrimas da infância transformam-se em insónias.
Após este jogo (em que Pedro Proença impediu o Benfica de lutar pela vitória), não consegui adormecer. Depois de uma temporada quase inteira na liderança do campeonato, o Benfica perdia o 1º lugar a duas jornadas do fim, tendo ainda de defrontar o Sporting e o Boavista. O título parecia perdido, e os onze anos de jejum iam prolongar-se por tempo indeterminado.
Tudo correria bem, mas naquela noite o desencanto foi total.
7º BENFICA-ESPANYOL, 0-0 (2ª mão dos Quartos-de-Final da Taça UEFA 2006-07)
Mais uma eliminatória europeia mal perdida, após um prometedor 2-3 na Catalunha.
O jogo foi de sentido único, com inúmeras oportunidades claras para o Benfica. Mas a bola não entrou, e a decepção foi profunda.
8º BENFICA-CARL ZEISS, 1-0 (2ª mão da Meia-Final da Taça das Taças 1980-81)
Recordei esta eliminatória, antes da meia-final deste ano.
O Benfica perdera 0-2 na RDA, e na Luz, depois de Reinaldo marcar (aos 59 minutos), esteve várias vezes perto de igualar a eliminatória.
Ouvi o relato, e cheguei a andar aos saltos pela casa a festejar um golo que afinal não aconteceu (anulado? evitado?).
Poderia ter sido a primeira final europeia da minha vida. Teria de esperar mais dois anos.
9º SPORTING-BENFICA, 5-3 (Meia-Final da Taça de Portugal 2001-08)
Estive no estádio, e saí arrasado.
O Benfica e o Sporting haviam perdido tudo, e esta meia-final (a uma só mão) representava a salvação da época.
A equipa então orientada por Chalana chegou ao intervalo a vencer por 0-2, e a menos de meia-hora do fim o resultado mantinha-se inalterado. A final do Jamor estava bem perto.
Cinco golos sofridos em 20 minutos (a lembrar os 7-1), deitariam por terra as ilusões encarnadas, devastando a alma dos adeptos.
10ºBENFICA-FC PORTO, 0-1 (6ª jornada do Campeonato Nacional 2004-05)
Hesitei entre esta derrota, e uma outra, também com o FC Porto, sofrida no último minuto de um jogo no Dragão (com golo de Bruno Moraes), após recuperar de 2-0 para 2-2.
Optei por esta, que significou um anti-climax total após uma entrada amplamente vitoriosa nesse campeonato – que, recorde-se, viria a ser ganho, com Trappatoni ao leme.
O jogo foi marcado pelo golo anulado por Olegário Benquerença, que daria o empate, a poucos minutos do fim. Antes houvera uma rábula em torno dos bilhetes, que gerou muita confusão. Cabeças partidas, polémica, ambiente escaldante, roubos, uma vitória à Porto.
Mais do que triste, saí do estádio revoltado como nunca.