TERRORISMO MEDIÁTICO

Acho natural, e até saudável, que as autoridades judiciais estejam atentas a um fenómeno como o futebol, que movimenta tantos milhões. As investigações aos clubes são de saudar, e só é pena que não se possam estender a todos eles.


O problema não reside pois nas investigações feitas ao Benfica (que, estou certo e seguro, serão concluídas com um arquivamento), mas antes no aproveitamento mediático que a morosidade deste tipo de processos permite, e até incentiva. Há grupos de comunicação social com interesses directos no Benfica (nomeadamente ao nível dos direitos televisivos, ou, no passado, da Benfica TV), e que não hesitam em utilizar pequenas fugas de informação, para com elas especular, empolar, mistificar, e assim denegrir a imagem de quem se recusa a fazer-lhes favores.


Os dirigentes do Benfica são pessoas de bem, e têm um passado atrás de si que fala por eles. Haverá quem lhes questione a maior ou menor competência, mas creio que ninguém (nem mesmo adversários) porá em causa a honorabilidade institucional que trouxeram ao clube, a qual nunca seria alcançável com práticas desonestas. Infelizmente já houve no Benfica um tempo em que assim não era. Precisamente por isso, é agora talvez mais fácil descobrir as diferenças.


Também Jorge Jesus anda nas páginas dos jornais, e também a ele toda esta onda de mistificação não cola. Quem imagina um treinador recém-chegado a um clube grande, com ambição de ser campeão e de entrar para a história do futebol, começar logo por receber comissões obscuras pela compra de um guarda-redes suplente? Num contexto de algumas confusões relacionadas com o Belenenses (vendas de capital, mudanças directivas, etc), a transferência de Júlio César tornou-se suspeita. O advogado de Jorge Jesus explicou tudo, deixando claro, ponto por ponto, aquilo que realmente se passou. A mim não me deixou dúvidas.


Tenho pois a certeza que os dirigentes e o treinador do Benfica estão absolutamente inocentes daquilo que certos jornais os acusam. Infelizmente, não posso ter a certeza de que todo este conjunto de especulações, de mistificações e de mentiras, não venha a afectar a preparação da próxima época. Esse é o meu único receio.

AQUELA MÁQUINA...

Já aqui disse noutras ocasiões que o futebol do Barcelona, demasiado rentilhado, demasiado circular, não faz muito o meu género. Mas já disse também, e tenho de o repetir agora, que não há no Mundo máquina de futebol mais eficaz que a de Pep Guardiola.

Na final de Londres ficou provada a superioridade catalã, e não fosse Van der Sar, estaríamos provavelmente a falar de uma goleada à antiga.

Este é o terceiro título do Barcelona em seis anos, o que indicia já um ciclo de supremacia continental, do qual Messi, Xavi, Iniesta e Puyol são o denominador comum.



PS: Como facilmente se percebe, o problema de Mourinho não está no Bernabéu. Tal como, por analogia, o problema do Benfica não estará na Luz. À distância é mais fácil observar, mas o que se passa com o Real Madrid, é o mesmo que se passa com o Benfica.

OS DEZ GIGANTES



O LATIM DOS OUTROS





Um alegado funcionário da FIFA terá dito (?) a um alegado funcionário da Lusa que a Taça Latina não era uma competição oficial. Logo houve quem entrasse em histeria, vitoriando o facto de o FC Porto ser já, afinal, o clube português com mais troféus conquistados.






O tema não é do meu particular interesse – o Benfica nunca viveu, nem viverá em função dos títulos de outrem -, e constituindo ele um declarado instrumento para a motivação dos rivais, prefiro vê-lo utilizado já, do que no início da próxima temporada.






Mas como não gosto de mistificações, tenho a dizer o seguinte:






- Em primeiro lugar, tal como já havia escrito, acho de discutível sensatez considerar, nesta contabilidade, a Supertaça, que não é mais do que um simples jogo de pré-época, que durante anos não tinha a chancela oficial, e servia para rodar jogadores suplentes. Muitas vezes foi difícil encontrar datas para a disputar (tendo inclusivamente de passar para épocas seguintes) justamente devido ao desinteresse que os clubes (pelo menos o Benfica) manifestavam por ela. Chegou até a estar, mais de uma vez, à beira da extinção.






- A Taça Latina pode não ter sido uma competição oficial (não havia, na altura, quaisquer competições oficiais de clubes a nível internacional, e creio que nem sequer existia Uefa), mas foi indiscutivelmente a antecessora da Taça dos Campeões Europeus e da Liga dos Campeões. Recordo que todas as primeiras onze edições da Taça dos Campeões foram ganhas por equipas latinas, e em todas elas, só por duas vezes o finalista vencido não foi também latino. Ou seja, nas décadas de cinquenta e sessenta, ser campeão latino era, objectivamente, ser campeão europeu.






- A vitória do Benfica nessa prova foi o primeiro triunfo internacional da história do futebol português, tanto a nível de clubes, como de selecções. Como tal, foi amplamente festejado por quem o viveu, quer os benfiquistas, quer os restantes portugueses orgulhosos da equipa que ali os representava. Conta quem se lembra que foi uma vitória épica, e de grande alcance desportivo e social, comparável aos títulos europeus conseguidos na década seguinte.






- O quadro de vencedores da Taça Latina fala por si. Se descontarmos o Stade Reims (na altura uma potência do futebol, e duas vezes vice-campeão europeu), restam Real Madrid, Milan, Barcelona e…Benfica.






- Olhemos para a Taça Intercontinental (mais tarde Toyota Cup). Também ela não tinha carácter oficial, nunca foi reconhecida pela FIFA (que só organizou o Mundial de clubes a partir de 2006), envolveu equipas que nem sequer tinham sido campeãs da Europa (A.Madrid, Panathinaikos e Malmoe, por exemplo), precisamente por os campeões não mostrarem interesse em participar (nomeadamente Ajax, Bayern e Liverpool), e teve inclusivamente dois hiatos (1975 e 1978) por ninguém a querer disputar (nem campeões, nem finalistas, nem semi-finalistas). Foi, alias, na sequência desse desinteresse generalizado que surgiu o patrocínio da Toyota, levando o jogo para Tóquio, e conferindo-lhe regularidade de datas, e alguma dignidade. O FC Porto venceu duas, uma diante do Peñarol por 2-1 (num campo completamente impraticável), e outra perante os desconhecidos do Onze Caldas (que, honestamente, sem pesquisar, nem sei de que país vinham), no desempate por penáltis. Serão esses troféus de considerar? Se retirarmos o significado de lá estar (conseguido noutros palcos, com outros adversários e outras dificuldades), não sobra quase nada. Ao contrário da Taça Latina, que era a grande competição internacional da sua altura, a Toyota Cup nunca teve qualquer relevância desportiva ou mediática, pelo menos na Europa.







- O Benfica tem mais Campeonatos Nacionais que o FC Porto, tem mais Taças de Portugal que o FC Porto, tem mais Taças da Liga que o FC Porto, tem tantas Taças dos Campeões como o FC Porto (tendo, no entanto, disputado muito mais finais, meias-finais, quartos-de-final), e se existe alguma competição importante em que o FC Porto leva vantagem, essa é unicamente a Liga Europa (com duas vitórias, contra nenhuma do Benfica, aí sim, com muita pena minha).

FÁBIO AGRADECE AOS LEITORES

Acabei de receber um SMS do Fábio Coentrão, que passo a citar:


"É uma honra muito grande para mim ser eleito o melhor jogador da Liga Portuguesa pelos adeptos e leitores desse blogue. É por vocês que treino diariamente, e vou lutar sempre para vos dar alegrias e provar ser merecedor desta distinção.
Muito obrigado a todos. Um abraço amigo,
Fábio Coentrão"


Como comentário, direi apenas que honrado sinto-me eu em poder trazer a este espaço uma mensagem de uma das maiores estrelas do futebol europeu da actualidade.

O PREÇO CERTO

Estes são os jogadores que, creio, maior encaixe podem permitir. E os preços considerados seriam aqueles pelos quais o Benfica não ficaria a perder - no caso de Coentrão, trata-se do valor da cláusula de rescisão.


As situações de Aimar e Saviola são mais difíceis de analisar, dada a idade dos atletas, dado o salário que auferem, e sem se conhecer em pormenor a sua situação física (o Saviola de 2009-10 seria imprescindível, o de 2010-11 não faz falta nenhuma).


Já Maxi Pereira e Luisão, embora com mercado, são inegociáveis. Tanto um como outro nunca iriam render um valor compatível com o seu peso desportivo na equipa. Por mim, seriam eles os dois capitães para a próxima época.


E há ainda Roberto, que, apesar da temporada pouco feliz, talvez tenha algum mercado em Espanha.


Quanto a aquisições, creio ser de privilegiar, para já, a contratação de um central e de um lateral-esquerdo.


Ao longo das próximas semanas, voltaremos naturalmente a este tema.

VEDETA DA LIGA

Encerrada a votação (com a participação de quase dois mil votantes), Fábio Coentrão foi distinguido como Vedeta da Liga 2010-11, à frente de Hulk e Aimar.

Parabéns ao Fábio, que não deu hipóteses à concorrência.

AS VERDADEIRAS CONTAS

Devo dizer que nunca me preocupei muito com este tipo de estatísticas. E compreendo o interesse que o FC Porto tem nelas, como forma de se auto-motivar.

Veja-se, no entanto, como fica o quadro de vitórias, se lhes retirarmos todas as provas de um jogo só (Supertaças e afins), as quais, na verdade, não faz sentido comparar com as restantes. Uma coisa são taças, outra são competições, e a Supertaça não é uma competição – tão só um jogo ao qual é atribuído um troféu (que durante alguns anos nem sequer era oficial).

Cada um faz as contas que quer. Mas estas são, para mim, aquelas que melhor definem a grandiosidade histórica de cada clube.

O COPO MEIO CHEIO

Em cinco anos, só no Campeonato, e só uma vez, o Benfica fez melhor que esta temporada.



Isto confirma aquilo que há dias escrevi: esta foi uma época de emoções muito negativas, mas não foi uma época muito negativa.



Dentro da linha daquilo que tem sido o passado recente do clube, um troféu (Taça da Liga), uma qualificação para a Champions, e uma meia-final europeia, não são de desprezar.



Acresce que das cinco competições em causa, à excepção da Taça da Liga conquistada, todas as restantes foram ganhas pelo melhor FC Porto de todos os tempos. Se isso não consola, pelo menos creio que explica.

BREVES SOBRE A FINAL

- Confirmaram-se as previsões, e venceram os favoritos.


- Depois de ver a final, e perceber que o FC Porto não esteve no seu melhor, ainda mais lamentei a ausência do Benfica. E mesmo perdendo, hoje gostava de trocar de posição com o Braga, e ter podido desfrutar de um jogo histórico.


- Um remate à baliza, um golo, um título europeu. Há gente que tem sorte.


- A inqualificável arbitragem espanhola (golo fora-de-jogo, expulsão perdoada, livre frontal ignorado) mostrou a quem tinha dúvidas que, estrangeiros ou portugueses, mais jantar menos prostituta, a diferença não é substancial.


- Aos benfiquistas que insistem em comparar, injustamente, Cardozo a Falcão, eu sugeria que comparassem antes Saviola a Messi.


- Respeito muito, e até admiro, alguns jogadores do FC Porto (Helton, Moutinho, Falcão…), mas ninguém me tira uma inabalável curiosidade de saber o que poderiam revelar análises ao sangue de alguns outros. Já nem falo de Hulk, mas Varela, Sapunaru, Rolando, Fernando, Guarin, que me parecem, todos eles, jogadores banais, fazem-se valer de uma potência física que se assemelha à de cavalos a correr pelo campo. E nos grandes jogos, essa sensação acentua-se. É estranho, mas o FC Porto é a equipa europeia que maior e mais constante pressão consegue fazer.


- Por outro lado, não posso deixar de elogiar a força anímica com que o FC Porto encara os momentos de decisão. Aquela gente nunca treme, nunca falha, nunca erra, nunca facilita. E é assim há 30 anos. Será muito difícil descobrir-lhes o segredo?


- Por fim, espero que Jorge Jesus tenha visto esta final, e a festa portista que se lhe seguiu, para que nunca mais diga que uma Liga Europa não salva uma época. Por mim, invejo mais este troféu, que todos os títulos juntos que o FC Porto conquistou nos últimos 5 anos.


PS: Acentuei a impressão que tinha de Artur. É um excelente guarda-redes, e a custo zero não é de desperdiçar.

TRISTEZAS QUE PAGAM DÍVIDAS

Estes são dias difíceis para os benfiquistas. Liga-se a televisão, vêm-se directos de Dublin. Compra-se o jornal, e lêem-se manchetes sobre a final portuguesa. Não há como fugir deste cerco, que recorda, e acentua, a frustração de Braga. E o pior ainda está para vir, com as comemorações da vitória, mais do que provavelmente centradas no Porto. Depois virá a Taça de Portugal, e só lá para meados da próxima semana poderemos ter algum sossego.









Como forma de contornar tudo isto, em jeito de catarse, talvez seja apropriado lembrar aqui outros momentos de grande frustração desportiva. Jogos em que as lágrimas ficaram presas aos olhos, noites em que o sono teimava em não chegar, manhãs acordadas com a angústia da derrota a torturar a alma.









É difícil hierarquizar estas situações, e mais ainda explicá-las. Não tenho, efectivamente, razões objectivas para ter sofrido mais com uma eliminação normal ante o Dukla de Praga, do que por uma derrota de 0-7 ocorrida em Vigo, mas a verdade é que assim foi.









Estranharão certamente as ausências dessa, como de outras goleadas (7-1 em Alvalade, 5-0 no Dragão). Na verdade, nunca foram esse tipo de jogos os que mais me custaram a digerir. Sempre vivi o futebol com paixão, e não com ódio pelos rivais. Talvez por isso nunca me senti humilhado por eles. Talvez por isso, outros momentos, com outras expectativas, com outras consequências, me tenham afligido muito mais do que esses episódios - que eu classificaria quase como burlescos.









Resta acrescentar que só considero aqui jogos do Benfica. Houve também momentos da Selecção Nacional (a final com a Grécia, a meia-final com a França em 1984), e do Juventude de Évora (jogo com o Estoril em 1981, que impediu a subida à 1ª divisão) que poderiam caber neste balanço de tristezas.









Eis o top-10:










1º SP.BRAGA-BENFICA, 1-0 (2ª mão da Meia-Final da Liga Europa 2010-11)









Não adianta dizer muito mais sobre este jogo. Nem creio, honestamente, que o tempo, ou o distanciamento histórico, o façam sair tão depressa desta liderança.









Foi uma derrota duríssima, que ainda não digeri, e nem sei quando o conseguirei fazer.










2º BENFICA-PSV EINDHOVEN, 0-0 (Final da Taça dos Campeões Europeus1987-88)









Até Braga, parecia-me impossível suplantar o desencanto de uma final da Taça dos Campeões Europeus perdida nos penáltis.









A situação em si é o que de pior as emoções do futebol nos podem reservar. Durante anos não hesitei quanto a isso, ao recordar a forma como o mundo me caiu em cima após o falhanço de Veloso. Até há uns dias atrás…











3º BENFICA-SPORTING, 1-2 (Penútima jornada do Campeonato Nacional 1985-86)










Um drama. O Benfica preparava-se para festejar o título, bastando-lhe um empate para tal. O Sporting estava em crise, e não parecia poder incomodar aquele desígnio. Mas o inesperado aconteceu, lançando o Estádio da Luz num mar de lágrimas.










Saí a chorar, pelas escadas do terceiro-anel, naquele que foi o primeiro derby a que assisti ao vivo.










O FC Porto, à mesma hora, ganhou em Setúbal (golo de Paulo Futre), e esse título possibilitar-lhe-ia sagrar-se campeão europeu no ano seguinte.











4º BENFICA-DUKLA DE PRAGA, 2-1 (2ª mão dos Quartos-de-Final da Taça das Taças 1985-86)










No meu quarto, a chorar convulsivamente, com os meus pais agarrados a mim dizendo-me que era apenas um jogo de futebol. Eis o que me recordo, com grande precisão, dessa noite de Março de 1986.










O Benfica tinha perdido por 0-1 em Praga, e na Luz rapidamente fez dois golos, colocando-se em vantagem. Eu ouvia atentamente o relato, numa altura em que o futebol não era ainda um fenómeno televisivo.










A poucos minutos do fim, quando a presença nas meias-finais parecia ser uma realidade, um remate fortuito deu a eliminatória aos checos. Não queria acreditar naquilo que ia ouvindo. Afinal o Benfica ia ficar fora da prova, aos pés de um adversário acessível.
Até então, nunca uma derrota me tinha caído tão mal.











5º BENFICA-FC PORTO, 1-3 (2ª mão da Meia-Final da Taça de Portugal 2010-11)


Outro de que não vale a pena falar muito.










Foi a mais dolorosa derrota de sempre sofrida face ao FC Porto, num jogo em que as expectativas de êxito eram totais, dada a vantagem lograda na 1ª mão.










Um autêntico pesadelo, vivido nas bancadas da Luz.










6º PENAFIEL-BENFICA, 1-0 (Antepenúltima jornada do Campeonato Nacional 2004-05)










Na idade adulta, as lágrimas da infância transformam-se em insónias.










Após este jogo (em que Pedro Proença impediu o Benfica de lutar pela vitória), não consegui adormecer. Depois de uma temporada quase inteira na liderança do campeonato, o Benfica perdia o 1º lugar a duas jornadas do fim, tendo ainda de defrontar o Sporting e o Boavista. O título parecia perdido, e os onze anos de jejum iam prolongar-se por tempo indeterminado.
Tudo correria bem, mas naquela noite o desencanto foi total.











7º BENFICA-ESPANYOL, 0-0 (2ª mão dos Quartos-de-Final da Taça UEFA 2006-07)










Mais uma eliminatória europeia mal perdida, após um prometedor 2-3 na Catalunha.










O jogo foi de sentido único, com inúmeras oportunidades claras para o Benfica. Mas a bola não entrou, e a decepção foi profunda.






















8º BENFICA-CARL ZEISS, 1-0 (2ª mão da Meia-Final da Taça das Taças 1980-81)



Recordei esta eliminatória, antes da meia-final deste ano.



O Benfica perdera 0-2 na RDA, e na Luz, depois de Reinaldo marcar (aos 59 minutos), esteve várias vezes perto de igualar a eliminatória.



Ouvi o relato, e cheguei a andar aos saltos pela casa a festejar um golo que afinal não aconteceu (anulado? evitado?).



Poderia ter sido a primeira final europeia da minha vida. Teria de esperar mais dois anos.








9º SPORTING-BENFICA, 5-3 (Meia-Final da Taça de Portugal 2001-08)



Estive no estádio, e saí arrasado.



O Benfica e o Sporting haviam perdido tudo, e esta meia-final (a uma só mão) representava a salvação da época.



A equipa então orientada por Chalana chegou ao intervalo a vencer por 0-2, e a menos de meia-hora do fim o resultado mantinha-se inalterado. A final do Jamor estava bem perto.



Cinco golos sofridos em 20 minutos (a lembrar os 7-1), deitariam por terra as ilusões encarnadas, devastando a alma dos adeptos.








10ºBENFICA-FC PORTO, 0-1 (6ª jornada do Campeonato Nacional 2004-05)



Hesitei entre esta derrota, e uma outra, também com o FC Porto, sofrida no último minuto de um jogo no Dragão (com golo de Bruno Moraes), após recuperar de 2-0 para 2-2.



Optei por esta, que significou um anti-climax total após uma entrada amplamente vitoriosa nesse campeonato – que, recorde-se, viria a ser ganho, com Trappatoni ao leme.



O jogo foi marcado pelo golo anulado por Olegário Benquerença, que daria o empate, a poucos minutos do fim. Antes houvera uma rábula em torno dos bilhetes, que gerou muita confusão. Cabeças partidas, polémica, ambiente escaldante, roubos, uma vitória à Porto.



Mais do que triste, saí do estádio revoltado como nunca.

FACADA NA ALMA

Para recomeço, parece-me pertinente trazer aqui o texto que escrevi para o jornal do Benfica na passada semana:


"Digo-o a frio, e sem hesitações: a derrota de Braga significou a maior desilusão desportiva de toda a minha vida.

Nem os 7-1 de Alvalade, nem os 7-0 de Vigo, nem mesmo os penáltis de Estugarda, me feriram mais fundo que a dramática oportunidade perdida que esta maldita meia-final representou. Perante a ocasião histórica de, 21 anos depois, voltar a um grande palco europeu, o Benfica soçobrou diante de uma equipa valiosa, mas que, sobretudo atendendo ao contexto internacional em que a eliminatória se realizava, não deixava de ser um adversário relativamente acessível – mais ainda depois da vantagem, ainda que curta, lograda na partida da primeira-mão.

Há derrotas e derrotas. Algumas esgotam-se em si mesmas, ou, no máximo, na temporada em que decorrem. Outras entram, como uma seta, para a eternidade da dor e das lágrimas. Esta meia-final fará doer a alma sempre que vier a ser evocada, e nem daqui a décadas nos esqueceremos dela. Por isso, por se ter passado precisamente numa esquina da história, ela se tornou tão cruel, e tão difícil de digerir. Por isso, os momentos vividos no estádio, no fim do jogo, e perante a festa bracarense no relvado, foram os mais angustiantes que o futebol alguma vez me proporcionou.

Faltou apenas um golo. Com um simples golo (uma bola dentro de uma baliza), estaríamos agora a preparar-nos para discutir o segundo troféu mais importante da Europa, e prontos para tocar nos céus. Esse golo poderia ter acontecido num dos remates aos postes (Cardozo em Lisboa, Saviola no Minho), podia ter ocorrido no cabeçeamento de Kardec tirado sobre a linha, poderia ter resultado do tiro de Gaitán a que o guarda-redes contrário se opôs com brilho, ou do remate em arco de Jara, que saiu muito perto do poste. Em cada uma dessas situações, uns centímetros mais para um lado, ou mais para o outro, dariam um rumo totalmente diferente à história, e desenhariam as cores da nossa felicidade. Como é ténue a linha que separa a felicidade da tragédia…

É necessário, pois, não desprezarmos o grau de aleatoriedade que o fenómeno desportivo sempre incorpora, e que tantas vezes é incorrectamente negligenciado. É necessário, pois, perceber que com os mesmos jogadores, com o mesmo treinador, com o mesmo sistema táctico, com as mesmas substituições, com o mesmo fulgor físico, poderíamos ter sido bastante mais felizes, e poderíamos estar agora a festejar ardentemente. É assim, afinal, o futebol: ora mágico, ora verdadeiramente bárbaro na forma como, a partir de pequenos detalhes, devasta as nossas emoções até aos limites da mais profunda angústia.

Vamos ter muito tempo para chorar. Não devemos, portanto, precipitar atitudes e comportamentos, nem deixar que sejam as emoções a falar por nós. É preciso não esquecermos que o Benfica perdeu numa meia-final europeia, à qual só chegaram 4 dos 200 clubes que participaram na prova. Não há muitos anos atrás estávamos no 91º lugar do ranking da UEFA, terminávamos o Campeonato Nacional em 6º lugar, e éramos eliminados da Taça de Portugal, em nossa casa, aos pés do modesto Gondomar. Não podemos confundir a tristeza de uma oportunidade desperdiçada (por mais difícil que ela seja de suportar), com qualquer sentimento de humilhação, vergonha ou desonra, palavras que não devem, sequer, ser aqui chamadas.

2010-2011 será, inquestionavelmente, uma temporada traumática para os benfiquistas. Mas é preciso manter a lucidez suficiente para perceber que esse trauma se deveu mais ao modo como se foram desenrolando, e aniquilando, as expectativas de vitória nas várias competições, do que propriamente aos resultados finais em si mesmos – pobres, é certo, mas muito longe de serem os piores dos últimos 15 anos.

Esta época trouxe-nos emoções extremamente negativas, mas não foi uma época extremamente negativa. A nossa angústia provém mais dessas emoções, do que dos resultados que lhes deram origem. Provém mais da forma, do que do conteúdo.

Foi, de facto, a forma como nos vimos afastados do Campeonato (vendo o principal rival festejá-lo em nossa casa), da Taça de Portugal (deitando para o lixo uma vantagem de 2-0 obtida fora), e da Liga Europa (com uma equipa portuguesa, teoricamente mais modesta, e depois de um triunfo na primeira-mão), que nos deixou destroçados, pois Campeonatos perdidos houve, infelizmente, muitos nas duas últimas décadas, finais de Taça já não as temos há seis anos, e meias-finais europeias não as disputávamos desde 1994. Sobrou ainda assim uma Taça da Liga, uma qualificação para a Champions, uma subida no ranking da UEFA, um recorde de vitórias consecutivas, e momentos de futebol espectáculo que as últimas semanas não podem fazer esquecer.

Qualquer análise objectiva à presente temporada terá de contemplar todos estes aspectos, e relativizar os estados de alma decorrentes de elevadas expectativas que não se puderam concretizar."


LF jornal "O Benfica" 13/05/2011

REGRESSO

Passaram 10 dias sobre a maldita meia-final de Braga.


Não é tempo suficiente para a esquecer (isso, provavelmente, nunca acontecerá), nem o que se tem passado desde então é particularmente estimulante para a ultrapassar. Mais do que eu, o Benfica precisa de férias (pelos vistos não só o Futebol, mas também o Basquetebol e o Futsal), e de força para dar a volta a uma situação de depressão generalizada em que se deixou cair, e que, caso não seja cuidadosamente gerida, pode tornar-se difícil de solucionar - veja-se o que aconteceu ao Sporting nos últimos anos.


A vontade de regressar não tem sido muito alimentada pelas circunstâncias. Mas há algo que não posso ignorar: as inúmeras manifestações de simpatia por parte dos leitores (muitas delas verdadeiramente tocantes), quer aqui nos comentários, quer por e-mail, ou mesmo por telefone, as quais agradeço de forma sentida e calorosa. São vocês que não posso deixar de lado, é por vocês que regresso a este espaço.


Está assim reaberto o VEDETA DA BOLA, depois de dias difíceis em que só o Giro de Itália e a NBA me foram ajudando a matar o vício da paixão desportiva.

Uma das diferenças que existe entre o futebol e os verdadeiros problemas da vida, é que, ao contrário do que sucede com estes, com aquele é sempre possível, nos momentos de maior angústia, apagar a luz, fechar a porta e sair.



Pois é isso mesmo que eu vou fazer, após ter sofrido aquele que considero, desde já, o maior desgosto desportivo de toda a minha vida.



Lamento desapontar os poucos que eventualmente se interessariam por saber o que penso do jogo de Braga. Mas, na verdade, não penso nada. Desejo apenas que os dias passem depressa, e que todo este pesadelo (no qual ainda tenho alguma dificuldade em acreditar) possa enfim dissipar-se.



Cheguei bem tarde a casa, mas nem assim consegui adormecer. O futebol não pode servir para isto, e, como tal, a única coisa a fazer é abandoná-lo como quem rejeita um amor infiel. Custa, mas tem de ser, em nome de uma vida tranquila e compensadora, que, felizmente, posso lograr de muitas outras formas.



Tenho ponderado, nas últimas horas, deixar também a colaboração com o jornal do clube. Decidi não o fazer apenas por respeito a quem me convidou, e a quem lá trabalha, pois, dado que o jornal tem de continuar a sua vida, sair numa altura destas far-me-ia sentir um rato em fuga do navio. Embora vontade de fugir seja coisa que não me falte.



Já o blogue, sendo uma criação exclusivamente minha, é objecto que posso perfeitamente encostar, sem prejuízo para terceiros.



Voltarei, quando, e se, sentir vontade de ver futebol, e de escrever sobre ele. Para já entendo que, algo que me tortura assim, não merece o meu esforço, nem a minha atenção, mas tão só a minha indiferença e o meu afastamento.

Que me perdoem os leitores, mas não posso fazer outra coisa que não esta.





PS: A minha tomada de posição prende-se apenas com questões de carácter pessoal, e não envolve qualquer juízo de valor sobre o clube, sobre a equipa, ou sobre a temporada desportiva – que, embora absolutamente traumática, deverá ser analisada de forma fria e objectiva, estando, quanto a mim, muito longe de ser das piores nos últimos 15 anos.

O PALCO DE UM SONHO

O dia D, o momento M, a hora H.

Este é, porventura, o jogo mais importante das história recente do Benfica.

Um empate basta. Até uma derrota por 3-2 (ou 4-3) poderá ser suficiente.

Qualquer resultado que garanta a passagem, garantirá também uma das noites mais felizes da minha vida de benfiquista. Outra coisa que aconteça, causará um sentimento profundo de frustração. Não há meio termo.

Estarei em Braga. De corpo e alma. Carregado de fé e de esperança.

Espero trazer de volta um sonho.

Mais do que nunca, acredito.

Mais do que nunca, FORÇA BENFICA!

UM PASSO PARA A GLÓRIA

21 anos! Foi há 21 anos que o Benfica disputou a sua última final europeia, na altura em Viena, com o Milan.


Jogavam Valdo, Ricardo, Thern, Magnusson e Vítor Paneira. Do outro lado estavam Rijkaard, Van Basten, Gullit, Baresi e Ancelotti. O Milan era uma espécie de Barcelona da altura, e ganhou por 1-0, depois de um jogo inesperadamente equilibrado. Acabei em lágrimas, mas com o orgulho benfiquista lá bem no alto.


Ninguém imaginava então que, tanto tempo depois, o Benfica não tivesse voltado a marcar presença numa grande decisão internacional. Ninguém imaginava então que, apenas uma década decorrida (1999, 2000…), eu próprio temesse que o Benfica não mais voltasse a sonhar, sequer, com tal coisa, e não mais vencesse qualquer campeonato, despedindo-se, definitivamente, do seu palmarés glorioso – pensei-o, muitas vezes, nos tempos do valeeazevedismo.


Passados 21 anos, passadas muitas convulsões, passados dois títulos nacionais, a oportunidade está aí. O Benfica está a noventa minutos, está a um empate, a um simples empate (e tão difícil ele parece…), de voltar a entrar em campo ladeando uma taça europeia, perante os holofotes do mundo. Para quem tenha menos de 25 anos, esta será a oportunidade para verem, pela primeira vez, o Benfica numa grande final. Para quem não tenha mais de 55, o desafio maior será o de ver erguer a taça – coisa que, em 1961 e 1962, já não chegaram a tempo de saborear. Para todos, este poderá ser um momento histórico, daqueles que fica inscrito na eternidade, daqueles que figura em qualquer livro evocativo do benfiquismo.


Juntamente com o Bessa, em 2005, e com o Rio Ave, na Luz, em 2010, o jogo de amanhã em Braga será um dos três mais importantes dos últimos 15 anos. Como aqui disse, não se trata de salvar coisa nenhuma. Trata-se de buscar a glória. A maior glória das últimas décadas.


Seja o diabo cego, mas, uma eventual eliminação nas meias-finais de uma liga europeia, onde participaram mais de 200 clubes, onde estiveram equipas como Liverpool, Juventus, M.City, PSV, A.Madrid, Leverkusen, Dortmund, D.Kiev, Zenit, Ajax ou Nápoles, não pode ser vergonha para ninguém. A conjugação de uma eliminação aos pés do Sp.Braga, da perda do Campeonato, e do falhanço nas meias-finais da Taça de Portugal, representará, porém, um sentimento depressivo, que não podendo ser confundido com qualquer desastre - desastre seria perder em casa com o Gondomar, ficar em sexto lugar, ou não estar nas competições europeias, o que, de resto, já aconteceu -, não deixará de trazer consequências para a estabilidade imediata do próprio clube, sabendo-se como funciona a arquitectura comunicacional do futebol português, e a forma exacerbada, e pouco lúcida, como tantas vezes se manifesta a paixão dos adeptos.


Estamos pois perante o cruzamento entre uma frustração das grandes, e uma epopeia histórica. Estamos entre o quase tudo, e o quase nada. Estamos, em sentido figurado, entre a vida e a morte. Ou ainda mais do que isso, como dizia Shankly.


Acredito no Benfica. Acredito neste Benfica, com Roberto e tudo. Acho que tem melhor equipa que o seu adversário, é mais experiente, tem mais soluções, e só uma conjuntura particularmente desfavorável (lesões, cansaço, taça) equilibrou a balança da eliminatória.


O que é facto é que ela está mesmo equilibrada, e tudo pode acontecer. Temo o ambiente da “Pedreira” (não em termos pessoais, mas sim na influência que pode ter nos jogadores), temo o jogo subterrâneo em que a equipa minhota se especializou, temo que um qualquer incidente (falha de marcação, erro de arbitragem, expulsão) possa, de um momento para o outro, virar o rumo dos acontecimentos. Mas, como disse na passada semana, creio que o Benfica leva para Braga uma pequeníssima dose de favoritismo.


Palpites? Como em Paris acertei, vou repetir o mesmo resultado: 1-1, golos de Alan e Cardozo.


Deixo também o meu onze:

Roberto, Maxi Pereira, Luisão, Jardel, Fábio Coentrão, Javi Garcia, Gaitán, Carlos Martins, César Peixoto, Saviola e Cardozo.

Que Deus os ajude...

QUE CONVERSA É ESSA?

Acabei de escrever um texto para o jornal “O Benfica” - será publicado na próxima sexta-feira, e depois poderei reproduzi-lo aqui - a elogiar o trabalho de Jorge Jesus, defendendo que a sua continuidade no clube não deverá estar dependente de qualquer resultado que possa acontecer até final da época, e que a sua eventual saída seria um suicídio desportivo para o clube. Jesus é um fantástico treinador, que conseguiu, em pouco tempo, reacender a chama do futebol benfiquista, que valorizou jogadores antes desacreditados, e que, nesta temporada, foi vítima de um conjunto de circunstâncias (mundial, arbitragens, venda de jogadores, super-Porto, etc) que o impediram de chegar ao título nacional.

Sendo pois seu admirador, estou à vontade para discordar em absoluto das declarações mais recentes do técnico encarnado a propósito da Liga Europa.

Disse Jesus que nem uma vitória na Liga Europa salvará a época. Digo eu que, não só salva (termo que nem gosto de utilizar), como fará de 2010-11 um ano histórico para o clube da Luz. E vou mais longe: para mim, pessoalmente, enquanto benfiquista, até uma simples presença na final será motivo de grande orgulho, e de registo no caderno dos grandes acontecimentos do meu benfiquismo.

Acredito que possa existir algum “mind-game” escondido nesta estranha declaração, até porque Jorge Jesus é um homem com cultura desportiva suficiente para perceber o que significa o triunfo numa prova europeia. Se o objectivo for, por exemplo, retirar pressão de cima dos jogadores, pois muito bem. Mas se se trata de uma sincera manifestação de opinião, então, não só não concordo, como nem sequer entendo.

Para mim, uma Liga Europa vale por três Campeonatos (assim como uma Champions valeria por dez), independentemente de quem seja o adversário da final. Assim como um Campeonato Nacional valerá, mais coisa menos coisa, por três Taças de Portugal, por cinco Taças da Liga, ou por dez Supertaças.

Uma Taça de Portugal, ou até uma Taça da Liga, sim, podem, em determinadas circunstâncias, salvar uma época. Uma Liga Europa não se coloca nesses termos.

Neste caso, não se trata de salvação. Trata-se de glória!

NUNCA MAIS ACABA ISTO...

Lamento, mas não me sinto motivado para escrever sobre jogos a feijões, sobretudo em vésperas de um dos momentos mais importantes dos últimos anos.

Quem quiser que o faça. Na minha cabeça só há Liga Europa.

Aliás, se os jogadores tivessem a mesma motivação que eu, nem o empate teriam conseguido.