ESTE JOGO MERECIA OUTRO ÁRBITRO

As razões pelas quais a claque do Benfica assobiou o hino da Champions não terão sido as melhores. Mas depois do jogo, tocasse outra vez o hino e até eu assobiava.
Vindo da sua terrinha, e de dirigir um Tukums-Daugavpils qualquer, esta anónima criatura da Letónia apareceu em Lisboa para apitar uma partida da Liga dos Campeões – um clássico, com dois ex-campeões europeus, que disputaram a final de 1965 e os quartos-de-final da época passada, e que era bastante importante, pelo menos para o Benfica.
Como seria de esperar a coisa correu mal. Muito mal.
A equipa de Roger Schmidt tem problemas no seu plantel que se revelam, sobretudo, perante este tipo de adversários. O Inter teve sorte ao marcar dois golos a abrir a segunda parte, transformando, quase acidentalmente, um jogo que até já teria dado por perdido. Depois entraram as estrelas, e podia mesmo ter chegado ao triunfo. O técnico encarnado mexeu demasiado tarde (porquê tanta insistência em Di Maria, mesmo quando se vê a olhos nus que se arrasta em campo?). Tudo isto é verdade, mas…
Não me recordo de uma arbitragem tão má na Liga dos Campeões. É certo que quando o Benfica (ou, diga-se, outro clube português ou de fora dos big-five) chega longe, há sempre uma mãozinha habilidosa a evitar surpresas. Está muito dinheiro em jogo, há clubes muito mais ricos e com mais implementação nos mercados mundiais que importa proteger em nome do negócio. Logo, um bom árbitro para a UEFA tem de ter três atributos: falar bem inglês, apresentar boa forma física, e...conseguir manipular resultados sem dar demasiado nas vistas. É assim há muitos anos. Viu-se sempre que, na última década, o Benfica ou o FC Porto chegaram aos quartos-de-final da liga milionária e para milionários.
Nem foi o caso deste letão, que não sei que idiomas domina, tem ar de atleta, e nem se pode dizer que tenha manipulado o resultado (muito menos sem dar nas vistas). Foi simplesmente incompetente. Insuportavelmente incompetente, irritando jogadores, adeptos, e estragando um espectáculo que tinha tudo para ser extraordinário.
Não foi apenas a expulsão caricata, ou o penálti precedido de uma falta do tamanho do estádio sobre João Neves perto da área do Inter. Foi um sem número de decisões, interrupções inapropriadas, lançamentos para o Benfica transformados em cantos para os italianos, faltas marcadas ao contrário, péssima gestão da lei da vantagem, e por fim, descontrolo total. Só faltou pedir para o tirarem dali. Estivesse lá eu ou o caro leitor, e a arbitragem não teria sido tão má.
Ponho a tónica na arbitragem também porque não vejo nada a apontar à prestação do Benfica e dos seus jogadores – que deixaram tudo em campo, tiveram momentos de brilhantismo individual e colectivo, e mereciam vencer. Defendesse Trubin o penálti, e estávamos aqui a falar de uma grande vitória, com uma exibição de luxo. Este jogo foi até muito parecido com o Benfica-Juventus do ano passado. Só que a Juve não obteve um quarto golo, e então ficou 4-3.
Está tudo bem? Não! A este Benfica faltam laterais, o que se sente no plano defensivo (neste tipo de jogos), e no plano ofensivo (em todo o tipo de jogos). A equipa suspira por Bah. E - ainda tenho esperança - por um Bernat em mínimos físicos. Nenhum deles  será Grimaldo. Mas podem disfarçar aquela que é, claramente, a maior debilidade dos encarnados nesta altura. Aursnes faz o que pode, mas exposto na Champions vê-se que não é aquela a sua posição natural. Morato defende bem, mas é inexistente com bola. Quanto ao ponta-de-lança, Tengstedt parece estar a ganhar vantagem à concorrência, e mesmo sem marcar fez uma excelente partida. Veremos se se afirma como um grande avançado e surpreende toda a gente (incluindo eu próprio, que continuo bastante desconfiado das suas qualidades para ser “o nove” do Benfica).
João Mário? Era seguramente quem menos merecia o que se passou na segunda parte. Melhor em campo, exibição de sonho, talvez a melhor da carreira. Muito bons sinais para o futuro próximo de um Benfica que precisa dele assim. João Neves? Igual a si próprio. 
Enfim, o empate do Salzburgo em San Sebastian deixa tudo como estava. O Benfica precisa de vencer por dois golos de diferença na Áustria para se manter na Europa. Não vai ser nada fácil. Também não é impossível. Eu acredito.
Apesar de tudo, os dois objectivos maiores para esta jornada foram cumpridos: afastado o fantasma dos zero pontos, e Liga Europa em aberto para Salzburgo.
Comecei pelos assobios ao hino antes do jogo. Vou terminar com os aplausos e cânticos na parte final da partida, que fizeram justiça a uma equipa que, apesar da frustrante evolução do marcador, realizou uma das melhores exibições da temporada.
E agora, ainda mais do que ontem: Eu Amo o Benfica!

ONZE PARA O INTER

Um empate na Luz, uma derrota do Salzburg em San Sebastian, e era uma noite feliz. Por um lado, afastava-se desde logo o fantasma dos zero pontos. Por outro, o Benfica ficava a uma vitória na Áustria de garantir o terceiro lugar e a passagem para a Liga Europa. É o que há, e tem de se agarrar.
  

MISSÃO CUMPRIDA

Num jogo vistoso, mas nem sempre sólido, o Benfica ganhou ao Famalicão e seguiu em frente na Taça de Portugal.
Os golos denoraram, mas acabaram po chegar. E em poucos minutos 1-0 de auto-golo, uma expulsão e o 2-0 qie fechou a eliminatória.
Segue-se o Inter, e a esperança de continuar nas provas europeias. A equipa parece, de facto, mais confiante, mas a permeabilidade defensiva, sobretudo nos corredores, continua a assustar. O Famalicão não soube aproveitar, mas na Champions... 

ONZE PARA SÁBADO


 

VINTE ANOS, DUAS TAÇAS

Como se percebe, nesta competição, o Benfica está em dívida para com os seus adeptos. Ainda continua a ser o clube mais ganhador, mas duas taças em vinte anos é muito pouco. No mesmo período, o FC Porto conquistou sete e o Sporting quatro. Será também um dado interessante verificar que os encarnados foram, nesse período, dez vezes eliminados por equipas que não os seus rivais históricos, o que deixa subentendido que em alguns casos talvez não tenham levado a prova tão a sério como era de esperar.
Fôssemos mais atrás e víamos que em 37 anos as vitórias do Benfica resumem-se a 5 (14 para o FCP e 6 para o SCP). Depois da Supertaça (entretanto, de algum modo, reabilitada) agora parece ser a Taça de Portugal a prova nacional amaldiçoada para o clube da Luz.

SURPRESA?

Tratando-se de uma mera eleição para escolha de novo (ou velho) presidente do FC Porto, e ninguém me ouviria um pio: não tenho, nem quero ter, nada a ver com o assunto. Nem mesmo uma Assembleia Geral tumultuosa me impressionou - infelizmente já vi e presenciei parecido noutros sítios. 
Quando um dos candidatos, a partir do momento em que é candidato, vê a sua casa vandalizada, um seu empregado espancado e a sua família ameaçada, então o assunto deixa de ser exclusivamente do FC Porto e dos seus associados. Passa a ser um assunto de polícia, e como tal, um assunto do país.
E chegados aqui, não posso deixar de apontar a hipocrisia da generalidade da nação desportiva, designadamente da comunicação social portuguesa, que durante décadas se curvou perante os poderes, ou o poder, que agora finalmente se começa a escrutinar. 
O FC Porto, em abstrato, é um clube desportivo como qualquer outro. Mas "este" FC Porto foi sempre muito mais do que isso, e infelizmente, ao contrário do FC Barcelona, não pelas melhores razões. O próprio André Vilas-Boas, quando cresceu e se tornou adepto daquele clube, já sabia ao que ia. Nessa altura só lhe interessava, a ele e a todos os outros, ganhar jogos e títulos ao Benfica. Não importava como. Mas tudo "aquilo" já existia, por cima, por baixo, e por trás da cidade e do emblema de um clube centenário.
Ao mesmo tempo, jornais, televisões e os seus comentadores (com raras e honrosas exceções) assinalavam a fina ironia de um presidente ganhador, o mais ganhador de todos os tempos, eras e idades; e por medo ou reverência pacóvia, ignoravam os métodos, como se no desporto, ou na vida, todos os fins justificassem todos os meios.
Passaram-se os anos, e o FC Porto, este FC Porto, não só era reiteradamente tolerado, como branqueado e até gabado e apontado como exemplo para os demais.
Apito Dourado? O que é isso? Roubo de correspondência privada? Hum, até dá audiências. Tweets incendiários de diretores de comunicação dementes? Idem, vamos citar. Agressões e intimidação a árbitros? Ora, as claques são todas iguais. E assim sucessivamente, quando, na verdade, ali nada era ou foi alguma vez igual a outra coisa qualquer. 
O monstro foi criado e alimentado por muita gente a norte. E tolerado por outra tanta a sul. Até crescer e se tornar incontrolável.
Agora, que privilégios ocultos e dinheiro aos milhões começam a fazer franzir o sobrolho de alguns ilustres adeptos do FC Porto, talvez seja tarde demais. Vai ser extremamente difícil acabar com uma rede tentacular habilmente construída ao longo de décadas, e que passa pelos mais diversos domínios: da chico-espertice à mais grave criminalidade.
A questão das claques dava pano para mangas, e ainda há poucos dias aqui escrevi sobre a do Benfica. É preciso dizer, porém, que só por má fé se pode confundir um bando de delinquentes que atua com o cachecol de um clube, com uma milícia profissional ao serviço de um "padrinho". Essa é agora a parcela mais visível de um problema que não se esgota aí.
Não tenho, obviamente, qualquer motivo para apreciar André Vilas-Boas. Mas não posso deixar salientar a coragem que está a revelar. É preciso, de facto, gostar muito de um clube para se sujeitar a tanto. No Sporting, Frederico Varandas tem sabido resistir a grupos de pressão internos, sendo (ainda assim, ou talvez por isso mesmo) bastante mais ganhador do que o seu antecessor. Já a Vilas-Boas não acredito sequer que o deixem ganhar eleições.

QUE TRISTEZA, MANUEL...

Tinha (e ainda tenho) respeito por Manuel Fernandes. É uma das figuras da minha infância, que, embora do lado oposto, e fazendo-me sofrer bastante com os seus golos ao Benfica (14 no total), também contribuiu, à sua maneira, para a minha paixão pelo futebol - onde os adversários fortes fazem falta, sobretudo se leais e corretos, dentro e fora do campo.
Lamentei bastante quando foi mal tratado pelo clube que tanto ama, nos negros tempos de Bruno de Carvalho.
Habituei-me a ver nele um Senhor do futebol. E talvez essa ideia que tinha (e ainda tenho) dele, possa ter colocado a fasquia do seu comportamento a um nível bastante elevado (a que ele, de resto, sempre correspondeu e sempre nos habituou). Certamente muito acima daquilo que revelou na sua intervenção no pós-dérbi na Sporting TV.
Dou de barato que se queixe da arbitragem. Afinal de contas é a cultura do seu clube, como é a cultura de todos os clubes que não ganham, ou quando não ganham. Faz parte de uma estratégia de comunicação e vitimização, que procura desviar o olhar da derrota para fatores externos, e ao mesmo tempo condicionar as arbitragens das jornadas seguintes. No Sporting, como apenas festejou um campeonato em vinte anos, esses lamentos tornaram-se culturais. E quem tenha a experiência de assistir a um jogo em Alvalade, verá com os seus próprios olhos como adeptos aparentemente normais, conseguem pedir penáltis e cartões pelas situações mais inusitadas, como se toda a gente lhes devesse alguma coisa, como se não fossem beneficiados tantas e tantas vezes, como qualquer outro clube. A quem está de fora parece apenas ridículo, mas é assim, e suspeito que continuará a ser. Manuel Fernandes, como sportinguista, e comentador da Sporting TV, mesmo sem razão nenhuma (para quê?) foi, nesse particular, apenas mais um.
O que já custo a entender é que ele se "atire" ao Benfica, à equipa do Benfica e, sobretudo, aos jogadores do Benfica, com a deselegância com que o fez. Frases como "não jogam nada, são sempre ajudados", ou "têm instruções para se deitar para o chão para o árbitro apitar falta", não são do Manuel Fernandes que sempre conheci, do Manuel Fernandes da minha infância. São de outro Manuel Fernandes qualquer, que não sabia que existia, que nunca tinha visto ou ouvido.
É certo que a azia foi muita, e todos nós temos testemunhado ao longo da semana casos de frustração desportiva extrema entre o mundo sportinguista, a um nível que já não víamos desde o golo de Luisão em 2005. É certo que foi a quente, mal a partida terminou (e não é tarefa fácil estar em estúdio nesses momentos, como um dia também me sucedeu a mim). Mas uma coisa são os adeptos no café. Outra é um homem do futebol, com responsabilidades para com o seu próprio nome e legado desportivo, a falar para o país.
Enfim, como escrevi, ainda mantenho o respeito por Manuel Fernandes. Vou pois acreditar que se tratou apenas de um momento menos feliz. Talvez da idade. Talvez do jantar. Mas gostava de o ver pedir desculpa, senão aos adeptos, pelo menos aos jogadores do Benfica, profissionais tal como ele foi. Ficava-lhe bem, e isso sim, recolocava-o no lugar onde sempre esteve - e eu gostaria que se mantivesse até ao fim da sua, e da nossa vida.

MISTIFICAÇÕES

Na ressaca do dérbi, ouvi e li alguns comentadores afirmar que o Sporting havia sido melhor, que é como dizer que o resultado havia sido injusto. 
Confesso que não entendo. 
Olhando para as estatísticas, o Benfica teve mais posse de bola, fez mais remates e conquistou mais pontapés de canto. Creio ter batido o recorde do campeonato em cruzamentos para a área. Quanto a oportunidades de golo, já na primeira parte (com duas bolas ao poste, um remate de Rafa ao lado, e um chapéu desenquadrado de João Mário) a vantagem do Sporting era lisonjeira. O resultado justo ao intervalo seria um 1-1, ou mesmo 2-2, nunca o Sporting a vencer.
Quanto à segunda parte, é certo que a expulsão condicionou a equipa de Amorim. Pode até dizer-se que, jogando com dez, resistiu bastante bem, durante bastante tempo, ao assédio do Benfica. Pode também dizer-se que este nem sempre foi organizado ou assertivo. Daí a concluirmos que o Sporting foi melhor, vai uma longa distância, que só por má fé se poderá percorrer.  Até porque se jogou fundamentalmente no meio-campo leonino.
A expetativa depositada nesta equipa do Benfica era bastante elevada. O Sporting é o...Sporting. E se uns não têm estado ao nível que prometiam, outros têm feito a sua vidinha. Mas não podemos subverter a realidade. O Benfica tem, genericamente, melhores jogadores do que o Sporting (como sempre teve nos últimos 15 anos). Neste dérbi foi bafejado por alguma sorte (como no Bessa, por exemplo, foi penalizado por enorme azar...). O resultado poderia ter sido outro (como tantas vezes pode), e face ao que se passou, um empate até se aceitava. Mas uma vitória do Sporting teria sido manifestamente injusta. 
Se fizermos o exercício mental de imaginar os golos, não aos 94 e 98, mas aos 74 e 78, ninguém iria questionar o triunfo encarnado. Ora os jogos terminam quando o árbitro apita. O FC Porto, por exemplo, já conquistou oito pontos no tempo de descontos. Podemos discutir se o tempo extra foi bem ou mal concedido (e em alguns jogos do FC Porto foi, como sabemos, deveras exagerado), mas não podemos separar o que aí se passa do resto do tempo de jogo.
No ano em que foi campeão (só um nos últimos vinte), o Sporting marcou 22 golos depois dos oitenta minutos. Muitos deles depois dos noventa (inclusivamente em Alvalade contra o Benfica). Ganhou vários pontos assim. Deixou por isso de ser um campeão justo?

SEM PALAVRAS

UM ESPERTALHÃO

Lamento, lamento mesmo que Ruben Amorim tenha transformado a sua equipa num compêndio de esperteza saloia, que é como quem diz, num tratado de anti-jogo, sobretudo nos "Clássicos".
Tácticas e água benta, cada um toma a que quer. E não condeno ninguém por ir à Luz, ou a outro lado qualquer, com dez defesas em redor da sua área, apenas para impedir o adversário de lá chegar. Isso faz parte do futebol, e cabe a quem quer atacar encontrar os antídotos necessários para ultrapassar o bloco que tem pela frente. 
Outra coisa é simular faltas e quedas por tudo e por nada, entrar num registo de provocações constantes, jogar às canelas, aos tornozelos ou aos joelhos sem piedade, discutir com o árbitro e com os adversários, retardar a reposição da bola até aos limites da boa vontade, quebrar o ritmo de jogo sempre que possível, transformar cada substituição numa lesão com assistência médica incluída, agredir apanha-bolas, e só faltava mesmo comemorar golos em direção às bancadas adversárias. Tudo isto é o Sporting de Amorim nos "Clássicos". Tudo isto me mete nojo, mesmo sabendo que não tem dado frutos - em 15 jogos com FC Porto e Benfica para o campeonato, Amorim apenas ganhou 2...
Na Luz, houve justiça poética, e tiveram o que mereciam, depois de uma segunda parte (todo o jogo, mas sobretudo a segunda parte) em que fizeram de tudo, mesmo de tudo, para estragar o espetáculo, evitar que se jogasse futebol, e enervar o público e os jogadores adversários.
É verdade que o Sporting adotou um perfil de jogador propenso a estes filmes (Pote, Nuno Santos, Paulinho, Reis, etc). Mas isso também é responsabilidade do treinador, que até conseguiu transformar um japonês num ordinário.
Não adianta nada ser simpático (cínico?) nas conferências de imprensa, e depois colocar a sua equipa a "jogar" daquela forma. Ao menos o Sérgio Conceição é mais genuíno.

ESMAGADOR


Em dezoito anos de dérbis para o campeonato, 35 jogos, 17 vitórias do Benfica, 13 empates e apenas 5 triunfos do Sporting. Um domínio esmagador, que não deixa dúvidas.

PARA A HISTÓRIA

Uhff… Que vitória, que jogo, que emoções!
Daqui a décadas, este dérbi ainda vai ser lembrado.
O dos descontos? O do Tengstedt? O do João Neves? O futuro escolherá o epíteto, mas que a história o vai manter na galeria dos inesquecíveis, disso não tenho dúvidas.
É preciso dizer que houve um jogo de futebol até aos 94 minutos, que estava a correr mal ao Benfica, e que toda a gente já esqueceu (eu também, e ainda bem). E depois, a partir daí, houve algo inexplicável, que só se poderá remeter para o domínio do sobrenatural, para o domínio dos deuses. Coisas que acontecem no futebol, e fazem deste um desporto extraordinário.
Dizer que a vitória é justa ou injusta não faz agora muito sentido. Se se pode dizer, por um lado, que o Sporting talvez não merecesse perder, também é verdade que não soube segurar a vantagem no momento em que, porventura, tal seria mais fácil de conseguir. Se alguém disser que o Benfica não merecia ganhar, há que contrapor com a forma determinada, empolgada e vibrante com que disputou o resultado até ao apito final. E naqueles minutos, sobretudo naqueles minutos, correu muito, lutou até não ter mais forças e mesmo para além disso, e esse esforço – que tira quaisquer dúvidas sobre o grau de compromisso dos jogadores com o treinador e com o clube -, acabou por ser premiado com a vitória, com os três pontos e com a liderança.
Para outra altura ficará a discussão sobre as diferenças entre as versões 1.1 e a 2.1 da equipa de Schmidt, que passam, a meu ver, em larga medida, pela ausência de laterais, e da consequente menor profundidade nas alas. Mas quando se ganha um dérbi de reviravolta com golos aos 94 e 98 minutos, isso não interessa para nada.
No plano individual, não há como não destacar João Neves. Ele corre, ele luta, ele defende, ele ataca, ele marca. Um jovem prodígio que o Benfica terá muita dificuldade em segurar por muito mais tempo. De longe, o melhor jogador da equipa neste momento.
Segue-se a pausa da FIFA. Quero acreditar que este jogo, este resultado e a forma como foi obtido, possam estabelecer uma barreira entre o antes e o depois, e que daqui em diante o Benfica ganhe confiança, ganhe entusiasmo, e arranque para um resto de temporada ao nível daquilo que dele se espera. Se na frente europeia o futuro está já comprometido, nas competições domésticas tem tudo para triunfar, e fazer de 2023-24 uma temporada de sucesso.
Para os adeptos, há que respirar fundo, e saborear uma das vitórias mais empolgantes dos vinte anos deste estádio.

ONZE PARA O DÉRBI

Nos últimos 34 dérbis para o campeonato em casa e fora, o Benfica apenas perdeu 5 (ganhou 16 e empatou 13). Confesso que desta vez não estou mesmo nada otimista. Se não for a tradicional tremideira do Sporting a valer-nos, não vejo outra forma de vencer este jogo. E até compro desde já um empate.

A ÚNICA BOA NOTÍCIA

Numa noite em que até o basquetebol perdeu, a única boa notícia veio mesmo da Áustria, onde um penálti milagroso convertido por Lautaro Martinez aos 85 minutos, ditou a derrota caseira do RB Salzburg, e assim permitiu que o Benfica ainda dependa apenas de si para continuar nas provas europeias - neste caso, claro, na Liga Europa.
Simplificando as contas, temos dois caminhos para o apuramento:
1) Fazer melhor resultado com o Inter do que o RB Salzburg em San Sebastian, e depois ganhar na Áustria;
2) Fazer o mesmo resultado com o Inter que o RB Salzburg em San Sebastian (ex: vitória/vitória, empate/empate ou derrota/derrota), e depois ganhar na Áustria, por pelo menos dois golos de diferença.
Nesta hipótese 2), se o Benfica perder com o Inter por diferença de golos maior do que o RB Salzburg no País Basco, ou ganhar por diferença menor, então terá de vencer na Áustria, não por duas, mas por três bolas de diferença - pois aí haveria necessidade de se superiorizar no confronto direto, ao ficar com um goal-average desfavorável.  Ainda no âmbito desta hipótese 2), também há possibilidade de suceder algo parecido com a temporada passada (então face ao PSG para o 1º lugar), e o desempate vir a ser por cartões amarelos - com resultados paralelos na próxima jornada (1-0/0-1, 0-0/0-0, 2-3/3-2 etc), e um 0-2 na Áustria simétrico ao da primeira jornada na Luz. Em cartões, a vantagem, neste momento, é benfiquista.

Academicamente, o Benfica até pode, por exemplo, perder com o Inter por 0-19, e ainda se apurar. Seria preciso o RB Salzburg perder no País Basco por qualquer diferença, e depois perder por 0-3, ou mais, na última ronda em casa diante dos encarnados. Obrigatório é mesmo vencer em Salzburgo, condição absolutamente necessária para qualquer contabilidade.
A independência, digamos assim, advém da possibilidade de ganhar ao Inter e ganhar na Áustria por 0-3. Neste caso, mesmo que o RB Salzburg goleasse a Real Sociedad em San Sebastian por 0-25, a equipa de Schmidt seria sempre terceira classificada.. 
Em sentido oposto, se o Benfica fizer menos pontos com o Inter do que o RB Salzburg no País Basco, fica desde logo arredado da Europa.
Portanto, o que há a fazer é simples: primeiro que tudo, ganhar ao Inter - que, recordemos, vem à Luz já qualificado. Nesse caso, ceteris paribus, o Benfica garante vida para a sexta e última jornada.

LIXO

Os rostos foi a Real Sociedad que desfocou. Os emblemas do Benfica fui eu que apaguei.
Eis o tipo de gente que não faz falta nenhuma ao clube, nem ao futebol, nem à sociedade. São uma vergonha para o Benfica, e um cancro a infectar os estádios. Há que os banir sem contemplações.
Provavelmente o Benfica-Inter vai ser jogado à porta fechada. A nossa equipa não vai ter apoio. O clube vai pagar multas avultadas, e os verdadeiros adeptos ficam com a imagem manchada na Europa. A culpa é destes animais e de outros como eles, que semearam a violência no centro da cidade basca, agrediram pessoas de forma bárbara e cobarde, e depois, no estádio, de forma igualmente cobarde, atiraram tochas para cima de bancadas cheias de gente, como, de resto, já haviam feito em Milão e noutros sítios.
Segundo me contou quem esteve presente, os benfiquistas ficaram retidos mais de duas horas na bancada, para que as forças policiais (que em Espanha, e particularmente no País Basco, nada têm a ver com as portuguesas) identificassem os criminosos e procedessem às detenções.
Se querem violência, juntem-se e batam uns nos outros. Deixem o futebol em paz. Sobretudo, deixem o Benfica em paz.
A UEFA terá certamente mão firme. E bem. Exijo que o clube também a tenha, expulsando-os sumariamente de sócios (se é que o são), retirando-lhes os lugares cativos (se é que os têm) e impedindo-os de entrar em qualquer instalação do Sport Lisboa e Benfica.

MISERÁVEL

Envergonhado. É como me sinto, enquanto benfiquista.
Envergonhado com a exibição fantasmagórica da equipa na primeira parte, em tudo a fazer lembrar Vigo - enfim, na segunda o jogo foi "apemas" medíocre...
Envergonhado, sobretudo, com o inenarrável comportamento de alguns animais que se dizem benfiquistas, e mancham, jogo após jogo, deslocação após deslocação, a imagem internacional que o clube tanto lutou por construir. Espera-nos certamente um jogo à porta fechada, e é preciso identificar com rapidez, e expulsar sumariamente de sócios, os delinquentes responsáveis por isso. Numa hora tão negra, não posso esquecer que é a esta gente que chegam bilhetes para os jogos fora de casa, outro aspecto que merece reflexão dentro do clube. 
Depois disto, quase não me apetecia dizer mais nada. 
Mas, falemos de futebol. 
Não sei se a culpa é dos jogadores (como confessou Di Maria), se é do treinador (como o próprio assumiu), ou da SAD, que manifestamente preparou mal a época. O mais certo é ser de todos, o que em nada me surpreende - basta ver o que escrevi ainda na pré-época, logo que me apercebi que o Benfica se preparava para intoxicar com múltiplas, caras e duvidosas contratações, um grupo campeão.
O mal está feito. Agora é preciso minimizar danos, concentrar energias nas provas internas, onde a vida também não será fácil, desde já no próximo domingo. 
Um segundo lugar na liga e uma taça já eu comprava, de caras. Infelizmente até isso me parece difícil, tal o grau de indigência em que caiu a equipa de Schmidt.
A única certeza que tenho é que, aconteça o que acontecer, vou continuar benfiquista. Até morrer! 

ONZE PARA GANHAR

Embora, numa perspectiva de Liga Europa, e caso o Salzburg perca com o Inter, um empate talvez não fosse de deitar fora. Até para matar, desde já, o fantasma dos zero pontos.
 

DEIXEM-ME SONHAR...

...
4ª JORNADA:
Real Sociedad-Benfica, 0-1
Salzburg-Inter, 0-1
5ª JORNADA
Benfica-Inter, 1-0
Real Sociedad-Salzburg, 0-0
6ª JORNADA
Salzburg-Benfica, 0-1
Inter-Real Sociedad, 1-0

CLASSIFICAÇÃO 
1º INTER 13
2º BENFICA 9
3º Real Sociedad 8
4º Salzburg 4

3 PONTOS

Não foi uma exibição brilhante. Até ao primeiro golo foi mesmo sofrível. Mas apareceu João Neves, que com um golpe de magia resolveu a partida, e deu 3 pontos aos encarnados. 
Com o resultado desbloqueado, o jogo ficou diferente. O autocarro do Chaves cedeu, e tudo ficou mais fácil para o Benfica. 
Para trás, uma enorme dificuldade, ao longo da primeira parte, em furar uma densa barreira defensiva contrária, muita passividade na construção e medo de perder mais pontos. Tal como algumas exibições individuais preocupantes. Tudo está bem quando acaba bem, e este jogo acabou bem. 
Não me conformo com golos anulados por 9 cms.  É importante que os adeptos percebam que isto é uma fraude. As linhas não são traçadas no relvado, mas sim num ecrã em que um jogador mede, ele próprio, não mais do que os 9 cms. Não é geometricamente possível garantir que Musa está offside. E assim havia que validar o golo - tal como o do Boavista frente ao Sporting. 

ONZE PARA CHAVES

Não há laterais, caça-se com gato.
 

RETOMA?

Era preciso mudar alguma coisa. E Roger Schmidt mudou.
Um jogo com o Arouca para a Taça da Liga vale o que vale, mas a verdade é que gostei bastante da ideia, e dos primeiros 30 minutos. 
Depois, o estado do relvado dificultou o bom futebol. Mas a atitude manteve-se, o que é muito bom sinal.
Com um penalti por assinalar, e um golo anulado por centímetros, a vitória podia ter sido mais robusta. Mas em principio chega para atingir a Final Four, e para dar alguma tranquilidade à equipa e aos adeptos.