ATÉ BREVE

Chegou a hora.
VEDETA DA BOLA vai ausentar-se por uns tempos do seu convívio, marcando regresso para os primeiros dias de Setembro.
Lamentavelmente não vai ser possível acompanhar os primeiros jogos da Liga, mas aspectos pessoais e profissionais, paralelamente à antecipação do início das competições oficiais, obrigaram a esta pequena incomodidade. Caso os estimados leitores entendam promover uma colecta para me financiar as próximas férias, prometo dar um jeito nos calendários. Até lá, tem de ser quando mais me convém a mim.
Para entreter os mais impacientes, deixo aqui um passatempo: trata-se de escolher aquela que foi (ou é) a melhor equipa do Benfica nos últimos 15 anos. Ficam os onzes, os suplentes, e a escolha pode ser feita na caixa de escolha aqui ao lado.
Chamo também a atenção para as próximas edições do jornal “O Benfica”, onde, embora ausente, irei continuar a aparecer (maravilhas da tecnologia…). Será publicado, durante seis semanas, um texto que julgo ser do interesse de todos.
Desejando bons mergulhos e boa disposição a toda a gente, faço naturalmente votos para que sejam os benfiquistas a estar mais felizes no início de Setembro.
Saudações desportivas.
Aqui vão as equipas, desde 1995:







EUROMILHÕES PARA ALVALADE

Ultrapassar uma eliminatória europeia com um auto-golo ao minuto 94 assemelha-se a conquistar o Euromilhões com um boletim encontrado no chão. Foi mais ou menos isso que o Sporting conseguiu na Holanda: encontrar a sorte, não sabe ainda muito bem como.
Sofrendo um golo logo na alvorada do jogo, os leões nunca mais se encontraram. Não pressionaram, não criaram perigo, entregaram-se a um adversário, também ele demasiado passivo, e confiante na magra vantagem alcançada. O relógio foi avançando sem que se vislumbrassem alterações na toada do jogo. Havia intensidade, alguma velocidade, mas total desacerto de parte a parte – sobretudo do Sporting, que estava em desvantagem e tinha de fazer pela sua vida.
Devo dizer que até à entrada do último quarto de hora acreditei que, num ressalto, num lance individual de Liedson, o Sporting acabasse por marcar, pois a equipa holandesa defendia com o seu bloco muito baixo, e os seus centrais não davam garantias de grande segurança. É óbvio que aos 94 minutos (é muito raro um árbitro dar tanto tempo de compensação das provas internacionais), em clima de descrença, e com a bola já a jogar-se predominantemente no meio terreno leonino, não passaria pela cabeça de ninguém (exceptuando talvez Rui Patrício) que o Sporting conseguisse aquilo que nem sequer tinha ameaçado conseguir em outros 183 minutos de futebol. Conseguiu-o, de forma fortuita mas suficiente para alcançar o seu objectivo. O futebol é assim, por isso cativa multidões.
Saudando o apuramento de uma equipa portuguesa, não deixo no entanto de temer (falo no plano nacional) que este resultado, da forma como foi obtido, acabe por significar para o Sporting aquilo que a vitória em Kiev – obtido em idênticas circunstâncias, num momento em que Jesualdo Ferreira tinha o lugar preso por um fio (sim, há menos de um ano isso acontecia!) - significou para o F.C.Porto no ano passado. Bem sei que a força das duas equipas não é sequer comparável, mas o futebol e as suas dinâmicas fazem-se muitas vezes destes momentos de profunda sorte ou profundo azar. Para já, o Sporting (mesmo continuando sem ganhar jogos) sacudiu a crise, e vai encarar o campeonato com muito mais confiança, ao passo que sem aquele golpe de fortuna, a instabilidade total habitaria neste momento em Alvalade.
Destaque para Rui Patrício, não só pelo lance do golo, mas sobretudo pela segurança que transmitiu à equipa nos dois jogos – já em Alvalade havia salvo o Sporting da derrota, num jogo em que a arbitragem teve, não o esqueçamos, influencia decisiva.

QUASE TUDO OU...QUASE NADA

Em caso de passagem, o Sporting recupera da sua aparente depressão, e pode partir para um início de época mais tranquilo. Caso veja esfumar-se na Holanda o sonho de participar novamente na Champions League, os seus próximos tempos não se afiguram fáceis. Até porque o seu principal problema do momento, e causa maior do seu estado depressivo – o crescimento competitivo do rival da Luz –, ameaça acentuar-se.
Neste contexto, um apuramento poderá significar bem mais que um apuramento, e uma eliminação representará bem mais que uma eliminação.
Bastando um empate, creio contudo que o Sporting seguirá em frente, e aliviará tensões.
Às 19.45h, na TVI

PONTO DE SITUAÇÃO

F.C.PORTO
PLANTEL: Helton, Beto (ex Leixões) e Nuno Espírito Santo / Jorge Fucile, Bruno Alves, Rolando, Álvaro Pereira (ex Cluj), Miguel Lopes (ex Rio Ave), Maicon (ex Nacional), Nuno André Coelho (ex Estrela da Amadora) e Cristian Sapunaru / Fernando, Raul Meireles, Belluschi (ex Olympiacos), Sebastién Prediger (ex Colon), Freddy Guarin, Diego Valeri (ex Lanús) e Tomás Costa / Hulk, Radamel Falcão (ex River Plate), Cristian Rodriguez, Mariano Gonzalez, Ernesto Farias, Silvestre Varela (ex Estrela da Amadora) e Orlando Sá (ex Sp.Braga).
INVESTIMENTO TOTAL: 22,6 milhões de euros
SAÍDAS: Ventura, Benitez, Stepanov, Pedro Emanuel, Cissokho, Lucho Gonzalez, Lisandro Lopez, Andrés Madrid, Tarik Sektioui e Rabiola.
PONTOS FORTES: dinâmica de vitória, agressividade competitiva, manutenção de oito titulares e de quase toda a estrutura defensiva, capacidade de desequilibrar de Hulk, alguns bons reforços, organização táctica rigorosa, poder físico sobrenatural, arbitragens simpáticas e várias equipas adversárias domesticadas.
PONTOS FRACOS: saídas de Lucho e Lisandro, eventual perda de ambição de alguns jogadores e falta de peso na área.
FAVORITISMO: 50%

SPORTING
PLANTEL: Rui Patrício, Tiago e Ricardo Baptista / Abel, Anderson Polga, Tonel, Marco Caneira, Pedro Silva, Daniel Carriço, Leandro Grimi e André Marques (ex Vitória de Setúbal) / Fábio Rochemback, João Moutinho, Matias Fernandez (ex Villarreal), Simon Vukcevic, Miguel Veloso, Marat Izmailov, Bruno Pereirinha e Adrien Silva / Liedson, Felipe Caicedo (ex Manchester City), Hélder Postiga, Yannick Djaló e Carlos Saleiro (ex Académica).
INVESTIMENTO TOTAL: 4,5 milhões de euros
SAÍDAS: Ronny, Romagnoli, Rodrigo Tiuí e Derlei.
PONTOS FORTES: manutenção de uma estrutura de vários anos, eficácia de Liedson e expectativas baixas .
PONTOS FRACOS: défice de qualidade nas faixas laterais, nulo aproveitamento de bolas paradas, plantel curto, pouca ambição e dificuldade em surpreender os adversários.
FAVORITISMO: 20%

BENFICA
PLANTEL: Quim, Moreira e Júlio César (ex Belenenses) / Maxi Pereira, Luisão, Sidnei, Shaffer (ex Racing Avellaneda), Patric (ex São Caetano), Miguel Vítor, David Luíz e César Peixoto? (ex Sp.Braga) / Javi Garcia (ex Real Madrid), Ramires (ex Cruzeiro), Pablo Aimar, Angel Di Maria, Hassan Yebda, Ruben Amorim, Carlos Martins e Fábio Coentrão (ex Rio Ave) / Óscar Cardozo, Javier Saviola (ex Real Madrid), Keirrison (ex Palmeiras), Weldon (ex Sport Recife), Nuno Gomes e Pedro Mantorras.
INVESTIMENTO TOTAL: 23,3 milhões de euros
SAÍDAS: Moretto, Jorge Ribeiro, Katsouranis, Binya, Balboa, Fellipe Bastos, David Suazo, Reyes e Urretavizcaya.
PONTOS FORTES: contratações de qualidade, modelo implementado por Jorge Jesus, aparente ressurgimento de Aimar, Saviola, Di Maria e Cardozo ao melhor nível, e opções em quantidade e qualidade para todos os lugares do meio-campo para a frente.
PONTOS FRACOS: muitas dúvidas sobre as capacidades dos laterais contratados, problemas no jogo aéreo se Luisão eventualmente faltar, fragilidade físico-atlética de jogadores fundamentais, pressão mediática em redor do clube, arbitragens hostis e agressividade dos adversários mais pequenos.
FAVORITISMO: 30%

VÃO TRÊS!

Não tenho memória de uma pré-época benfiquista tão bem sucedida.
O entusiasmo dos adeptos é crónico, e repete-se ano após ano. Não há novidade quanto a isso. Outra coisa é a qualidade que a equipa demonstra, as vitórias que consegue, e a forma clara como as consegue. E isto há muito não se via.
Sem um tal de Hugo Miguel, seriam 8 vitórias em 9 jogos. Não frente ao Tourizense ou ao Atlético do Cacém, mas diante de duas equipas da Liga Espanhola, duas da Premier League, do detentor da Taça Uefa, do Ajax e do V.Guimarães em suas próprias casas, do Olhanense no Algarve. Três taças já levantou Nuno Gomes esta pré-época, feito que julgo ser único nos últimos anos do futebol português e europeu. Valem pouco? É verdade, mas a qualidade do futebol praticado não engana.
Já não tenho muitas dúvidas de que esta equipa vai jogar bem, vai empolgar os adeptos, vai encher os estádios, e vai lutar bravamente pelos títulos. Se os conseguirá ou não, depende dos Jorges Sousas que encontrar pela frente. Depende também do F.C.Porto, da sua força (natural ou farmacêutica) e da aplicação dos seus adversários/parceiros. Há muitas coisas em equação, dentro e fora dos relvados. E quanto melhor estiver o clube da Luz, mais problemas terá de enfrentar.
Mas olhando para os últimos 15 anos, não me lembro de um Benfica tão forte, tão organizado, tão personalizado, tão afirmativo, tão empolgante. Creio mesmo que com um lateral fora-de-série (alto, capaz de jogar pelos dois lados, e de fechar o espaço interior), esta equipa seria candidata a triunfar... na Europa.
Preocupem-se portistas e sportinguistas! Preocupem-se que o caso é mesmo sério!

..."i" DEPOIS ?

Qual o problema de utilizar as verbas de um contrato de publicidade muito bem negociado (40 milhões de euros), para investir naquela que é a área de actividade fundamental do clube?
Se estivessem em causa as receitas televisivas (unas e esgotáveis), ainda se percebia a polémica. Tratando-se de um simples contrato de publicidade (que não inviabiliza outros semelhantes), só por má fé se pode fazer uma manchete como esta.

ENCANTAR, MESMO CONTRA DOZE

Ao ver Nuno Gomes levantar o terceiro troféu da pré-temporada, após mais uma demonstração de poder individual e colectivo da equipa do Benfica, interroguei-me: como resistir à onda de euforia, quando se está perante algo que não se via há tantos anos?
Na verdade, o conjunto de Jorge Jesus caminha, dia após dia, jogo após jogo, para um nível qualitativo elevadíssimo, do qual nenhuma das últimas equipas do Benfica foi sequer capaz de se aproximar. Domina os jogos, impõe-se em campo, constrói lances maravilhosos de futebol, marca golos, e começa a ser capaz de impedir os adversários de jogar, obrigando-os a cometer erros e a perder bolas sucessivas.
Cada jogador do Benfica parece saber exactamente o que tem de fazer em campo, e nem a substituição de vários titulares retira organização ao conjunto. As individualidades crescem a olhos vistos, o desenho do jogo colectivo empolga, e a equipa ganha (mesmo a feijões, já lá vão três taças).
Mas nem tudo é ainda perfeito. Muito embora do meio-campo para a frente o Benfica já mostre um poderio e uma qualidade próprias de um sério candidato ao título, as laterais da linha defensiva oferecem ainda bastantes interrogações, sobretudo com esta paragem forçada de Maxi Pereira, que remete também para o lado direito os problemas que se verificavam à esquerda.
É de lamentar profundamente esta lesão, pois com Maxi o Benfica teria o seu onze mais ou menos definido, vendo-se agora Jesus com um problema complicado para resolver a duas semanas do início da competição. Patric foi precisamente o elemento de menor rendimento de todos que participaram neste torneio (e em toda a pré-época), e mostrou que, por agora, não é ainda opção credível para o lugar; ao passo que também Ruben Amorim não convenceu na função, parecendo um peixe fora de água quando teve de recuar no campo- dentro do plantel, talvez Miguel Vítor seja mesmo a melhor escolha, mas será sempre uma opção de recurso.
Faltando contratar um lateral-esquerdo, porque não esquecer César Peixoto e procurar um ambidestro, que no imediato suprisse a ausência do uruguaio, e posteriormente se posicionasse como alternativa para o flanco esquerdo, cedendo de caminho Patric a outro clube? Fica a sugestão.
O teste diante do Vitória de Guimarães era também importante para perceber se a capacidade de choque da equipa resistiria a um adversário de “faca na liga”, como são a maioria das equipas do nosso campeonato. A resposta foi positiva, ainda que se tenha de falar de uma arbitragem absolutamente desastrada, ao nível do pior que o futebol português nos apresentou nos últimos anos.
Efectivamente o jogo ficou marcado pela prestação de Jorge Sousa, que terá talvez decidido mostrar aos novos jogadores do Benfica aquilo que vão ter de enfrentar ao longo da época. Nessa medida pode até ter sido útil, mas, um penálti claríssimo e um livre perigoso por assinalar, agressões a Miguel Vítor e Di Maria que passaram impunes, um fora-de-jogo mal tirado a Cardozo quando seguia isolado para a baliza, uma dualidade de critérios quase anedótica na marcação de faltas e mostragem de cartões, e múltiplos equívocos na aplicação da lei da vantagem, foram demasiados casos para apenas noventa minutos de futebol, e todos eles em desfavor da mesma equipa. Assim, nem com Messi e Ronaldo será possível ganhar um campeonato em Portugal, pois como sabemos nem todas as equipas têm o mesmo tratamento.
Com outra arbitragem o Benfica teria goleado o V.Guimarães, assim como com outra arbitragem teria vencido o Atlético de Madrid na apresentação aos sócios. Ambas foram protagonizadas por árbitros portugueses, daqueles que têm medo de marcar faltas a favor do Benfica, e daqueles que infelizmente vamos ver, domingo a domingo, nos relvados lusos.
Se esta equipa encarnada é, creio bem, uma séria candidata a um percurso europeu notável, quanto ao campeonato nacional é de temer que possa vir a ser abatida por adversários violentos (incrível a forma como jogam, por exemplo, Flávio Meireles e Milhazes, que não se vê em nenhuma liga europeia), e por árbitros permissivos ou mesmo hostis. Pensando nisto, a euforia desfaz-se num sopro…

MAGIA

A melhor exibição da pré-época, materializada na primeira goleada (sobre uma equipa da Premier League), confirmou as mais elevadas expectativas para o Benfica de Jorge Jesus.
Empolgante e mágico a atacar, este Benfica parece agora também dar os primeiros sinais de alguma consistência defensiva, sobretudo na forma como pressiona os opositores à entrada do seu meio-campo. Ontém não deixou o adversário respirar, impondo com naturalidade o tipo jogo que mais pretendia, no momento que mais lhe convinha.
Mais do que a valia dos reforços, os encarnados têm beneficiado nesta pré-época do rendimento superior de três unidades provenientes da temporada passada: Aimar, Cardozo e, sobretudo, Di Maria. São estes os três principais artífices da qualidade do futebol benfiquista, aspecto que se deve, em larga medida, ao trabalho do treinador. O caso de Di Maria é o mais exuberante, prometendo uma época de afirmação plena.
Nota negativa apenas para a lesão de Maxi Pereira, que não tem substituto à altura no plantel.