DOIS ONZES

 

20 MINUTOS À EUSÉBIO

 ...e uma goleada a condizer, com destaque para mais dois golos de Pavlidis, e para a confirmação de Prestianni como potencial craque para os próximos anos.
Acabou 5-0. Podiam ter sido 7 ou 8. No início da segunda parte, o Feyenoord também podia ter marcado.
Foi importante manter a baliza a zeros. Se os holandeses não são, de facto, grandes defensores, no ataque têm jogadores de altíssimo nível. Pode dizer-se, pois, que o Benfica fez uma exibição completa, com momento elevadíssimos, e outros de controlo mais ou menos seguro do adversário.
Isto começa a fazer lembrar 2022, quando a pré-época mostrou  reforços com elevado rendimento (na altura Enzo, Neres etc). Veremos como acaba, mas para já há que abrir alas à esperança. Parece haver boas razões para isso.


COMEÇO A ACHAR GRAÇA A ESTE MIÚDO

O Benfica não ganhou este jogo, mas também ainda não perdeu em toda a pré-temporada. Pavlidis marcou em todas as partidas, o que demonstra aquilo que sempre tenho defendido: um jogador maduro, e com qualidade, não necessita de qualquer período de adaptação. Jonas, na estreia a titular, fez um hat-trick. Obviamente não acho que Pavlidis seja Jonas (bem gostaria que fosse...), mas é um avançado, um bom avançado.
É fantástico voltar a ver um ponta-de-lança no Benfica. E é uma pena que não se tenha saltado directamente de Gonçalo Ramos para este grego. No ano passado, volto a dizer, o problema (ou, pelo menos, o maior problema) residiu precisamente nessa posição, onde quase sempre faltou qualidade e eficácia. Qualidade a Tengstedt e, vamos ser simpáticos, eficácia a Arthur Cabral. Quanto a Marcos Leonardo, além de muito jovem, parece funcionar até melhor no apoio a um verdadeiro "9" - como se tem visto nestes jogos.
Mas a grande surpresa (ou semi-surpresa, porque já se tinha mostrado em Águeda) foi a exibição de Prestianni. Que tinha bom toque de bola, já toda a gente suspeitava. O que se viu esta noite não foi propriamente um "brinca na areia" (como eu temia), mas um verdadeiro jogador de futebol, com técnica, garra, velocidade e critério no passe. É claro que tem muito para crescer, e não sei se na sombra de Di Maria, Neres e, eventualmente, Félix, terá espaço para o fazer. Mas que está ali uma pérola, parece ser um facto. Que tenha juízo e humildade, pois talento não lhe falta. Começo a achar-lhe graça. Muita graça.
Ficam pois boas indicações. Faltam dois jogos de preparação, falta chegar quem ainda está de férias, falta um médio (para o lugar de Neves, pois Barreiro parece mais outro Florentino, o que não é uma crítica) que bem poderia ser Renato Sanches. Se também vier Félix, melhor ainda.
Falta sobretudo união e apoio dos adeptos. A época passada foi muito complexa nesse aspecto, e não pode repetir-se, sob risco de se acentuar um ciclo negativo em torno do clube e da equipa.
Como disse Schmidt, quem não apoia devia ficar em casa. O Benfica não aguenta a turbulência que alguns "pseudo-adeptos" "pseudo-exigentes" têm lançado sobre ele - quer nas plataformas digitais, quer, pior ainda, dentro dos estádios.
Fica o meu apelo aos benfiquistas mais descontentes: quem não gosta da direcção, quem não gosta do presidente, trabalhe serenamente, intensamente até, se quiserem, e de preferência na sombra evitando o espalhafato mediático, para encontrar uma alternativa credível para as próximas eleições. Esse sim, seria um bom serviço prestado ao clube e à sua democracia interna, e uma excelente forma de manifestar o tal descontentamento ou a tal "exigência" por mais e melhor. Esse sim, será o momento certo para avaliar Rui Costa e a sua equipa dirigente, e para aparecerem as verdadeiras alternativas visando o futuro. Não é com insultos e veneno, ou com a crítica mais destrutiva, que o Benfica irá ser mais forte.
Aos que só sabem dizer mal de tudo e de todos (menos deles próprios, claro), lançando veneno e insultos, aos que só buscam protagonismo e visualizações, aos que estão ressabiados por terem sido corridos do clube, aos que estão ressabiados porque queriam entrar no clube e não entraram, para esses não tenho nenhum conselho. Espero apenas que não se lhes dê a importância que não têm. O Benfica não é deles. É nosso. De todos nós.

O QUE SE DIZ...DE BADAJOZ PARA LÁ

Nada como um olhar externo para, friamente, sem manias nem complexos, analisar o que é realmente o Benfica de hoje.
Já tive esta experiência pessoal. A de, no estrangeiro, ao afirmar o meu benfiquismo, não me falarem apenas de Eusébio, mas também de uma gestão desportiva de excelência, de um clube que forma bem e vende caro, que investe o dinheiro nas suas próprias infraestruturas e vai mantendo, contra todas as previsões, um desempenho internacional que impressiona a Europa - com três quartos-de-final  consecutivos (dois deles na Champions), coisa única fora dos chamados "Big Five".
Eis um artigo do Às, que creio não carecer de tradução:

"Ante el rápido crecimiento de los grandes clubes europeos en los últimos años, algunos equipos han tenido que ingeniárselas para seguir siendo competitivos al más alto nivel en Europa. Probablemente, el club que mejor ha sabido moverse en los mercados de fichajes recientemente ha sido el Benfica, pues no solo se ha convertido en un gran destino para comprar jugadores prometedores , sino que también vende a precios muy elevados y siempre lleva la delantera en las negociaciones.
Así, el equipo portugués, que el año que viene jugará la Champions League, se ha convertido en especialista en comprar o formar a jóvenes talentos para luego venderlos por grandes cantidades. En esta línea, el club portugués ya está rentabilizando a su última ganga: Vangelis Pavlidis, delantero del AZ Alkmaar que se convirtió en el máximo anotador de la pasada liga holandesa, por el que el club lisboeta pagó 18 millones de euros.
Por menos de 20 millones, el Benfica ha demostrado que sigue siendo, un mercado de fichajes más, el más listo de la clase. En sus filas ya milita un delantero autosuficiente para encontrar situaciones de disparo e inteligente a la hora de recibir balones al espacio. Un ariete técnico en espacios reducidos, con buena definición e intensidad en cada acción. El proceso es siempre el mismo. Solo el tiempo dirá si se trata de otro de esos jóvenes que el equipo retiene poco tiempo, para luego negociar su venta por cifras millonarias o si desarrolla su carrera en las filas de los de Roger Schmidt. Aprieten sus carteras porque su valor de mercado ya está en alza."

VITÓRIA NATURAL

Como já disse das partidas anteriores, estes jogos de pré-época, sobretudo com metade dos titulares em férias, valem sobretudo para ver os reforços, e para perceber, de entre os mais jovens, quem tem eventualmente condições para permanecer no plantel principal.
Nesse sentido, posso dizer que gostei, uma vez mais, de Pavlidis. Parece-me, de facto, a peça que faltava durante toda a temporada passada. Mas também gostei de Marcos Leonardo, e da dupla entre ambos, responsável pelos melhores momentos da primeira parte do jogo.
Barreiro parece-me novamente uma espécie de Florentino 2 - o que não é mau de todo, mas não assegura, de modo algum, a substituição de João Neves.
Beste fez uma assistência. Enfim, não vou dizer muito mais do que já disse sobre ele: é uma contratação que não me entusiasma nada. Vamos ver. Oxalá me engane.
Quanto aos jovens, gostei em particular de Diogo Spencer. João Rêgo pareceu-me demasiado verde, embora estivesse deslocado da sua posição natural, o que lhe vale o benefício da dúvida. E não gostei mesmo nada de Martim Neto - lento, pesado e desconcentrado. Bajrani e Gustavo Marques são fortes, intensos, e merecem alguma atenção. Mas com Otamendi, António Silva, Morato e Tomás Araújo, não vejo muito espaço para eles. Prestianni mostra talento, mas o seu espaço na equipa estará certamente dependente de terceiros- sendo que, para não jogar, ou jogar pouco, talvez não fosse má ideia emprestar durante um ano.
Quinta-feira há mais.

FUTEBOL MODERNO / JOGADOR MODERNO

Para quem ainda não percebeu, tenho uma má notícia: o futebol, em 2024, é uma indústria.
Não adianta perguntarem-me se gosto. Não perco tempo a discutir inevitabilidades. É assim, e não podemos fazer nada para o evitar. Quem não gosta, não veja.
No chamado futebol moderno, a tal indústria, também o jogador se "modernizou". Longe vão os tempos em que o sonho de qualquer criança que entrava nos iniciados do Benfica (não havia escolinhas) era fazer carreira na equipa principal do seu clube do coração. Hoje, o sonho de qualquer jovem minimamente talentoso das escolinhas do Benfica, do FC Porto, do Sporting ou do Moimenta da Beira, e dos papás desse jovem, é simplesmente... enriquecer. Enriquecer o mais possível e o mais depressa possível, que a carreira é curta e incerta.
Não coloquemos as coisas numa perspectiva moral. Se em 1980 os mais talentosos tivessem a chamar por eles ordenados estratosféricos nas principais ligas do continente, também sonhariam de forma diferente. É da natureza humana.
João Neves até pode gostar muito do Benfica. Acredito que goste, embora, confesso, e sem o conhecer pessoalmente, me pareça um jovem de emoções bastante, diria, controladas. João Félix, Ruben Dias, Gonçalo Guedes, Renato Sanches, Gonçalo Ramos ou Nélson Semedo também talvez gostassem. Todos eles naturalmente saíram, para ir à sua vida e assim que houve hipótese, de forma a garantir a independência financeira deles próprios e das suas famílias. Todos eles cumpriram o seu sonho de criança. E até a Kika Nazareth já se foi embora...
Acredito que alguns deles, em final de carreira, como fez Rui Costa, e como espero que faça Bernardo Silva, depois de acomodarem a vida possam, então sim, ter condições para prescindir de um ano ou dois de salário e fazer uma perninha com a camisola do clube do coração vestida.
Mas enquanto são jovens, enquanto não têm o futuro salvaguardado, não adianta esperar outra coisa: todos querem sair rapidamente.
Até porque quem fica demasiado tempo, corre o risco de causar algum cansaço nos próprios adeptos. Veja-se Pizzi, veja-se Rafa. É que o futebol também é ingrato. Muitos adeptos também o são. Não nos queixemos pois. 
Adeus João Neves, boa sorte para tudo, e que um dia, daqui a dez ou doze anos, já com a conta bancária bem composta, possas voltar a vestir a camisola do Glorioso.

LIÇÕES DE HISTÓRIA

O passado é sempre mais romanceado por quem não o viveu, e apenas conhece os momentos heroicos (aqueles que ficam nas vitrinas da memória), ignorando o quotidiano de cada tempo histórico. Ora à excepção do tempo do Eusébio (doze anos singulares nos 120 da história do clube da Luz ou de qualquer outro clube português), não creio que o Benfica tivesse alguma vez sido aquilo que hoje dele se exige: que ganhe todos os campeonatos, que se apresente forte na Europa, que esmague os rivais, que acerte todas as contratações, que, em suma, seja perfeito.
Na velha antiguidade dos Campeonatos de Portugal, FC Porto e Sporting eram mais fortes e ganhadores. Depois, por exemplo entre 1945 e 1955, o Benfica venceu apenas um campeonato e nem sequer tinha estádio (era o clube dos pobres e desfavorecidos do salazarismo, que andava de casa às costas a mendigar ajuda aos associados). Pouco antes de Eusébio se estrear, o Sporting era dominador e tinha dez títulos nacionais para nove dos encarnados. Chegámos então ao tal período impar, com o "Pantera Negra" e sem FC Porto (entre 1959 e 1978 os nortenhos não só nada ganharam, como nem sequer davam luta, chegando a ficar em 9º lugar), que mudou toda a história do futebol português. Mais tarde, entre 1977 e 1994, o FC Porto, independentemente dos métodos utilizados, assumiu-se como mais vitorioso que os encarnados (nesse período, oito títulos para sete). Entretanto vieram sucessivamente a gestão optimista e gastadora de João Santos, a gestão desorganizada e irresponsável de Jorge de Brito e a gestão incompetente e ziguezagueante de Manuel Damásio, que deitaram o Benfica para a maior crise do seu historial e para os braços do caos, do populismo e da corrupção mais descarada personificada por João Vale e Azevedo. Foi o chamado "Vietname", cujo trauma só pode ser entendido por quem por ele passou. Infelizmente, foi o meu caso - a agravar, numa altura em que, por circunstancias da vida, vivia mesmo ao lado do Estádio da Luz.
Nesse período, que mantenho bem presente na memória, confesso que cheguei a pensar (e não só eu) que o Benfica ia a caminho de uma espécie de belenensização, e não voltaria nunca a ganhar campeonatos - tal chegou a ser a desproporção de meios, de créditos e de futuros. Não havia dinheiro, não havia instalações, não havia organização, não havia activos, não havia credibilidade, não havia modalidades, não havia mística, não havia rumo, enquanto, paralelamente, todas as estruturas subterrâneas do futebol português eram capturadas por um FC Porto organizado, metódico, laborioso, e para quem os fins justificavam todos os meios. 
Quando hoje se invoca, depreciativamente, estupidamente, ignorantemente, o termo SLV2003, é caso para dizer, como Jesus Cristo: perdoem-lhes porque não sabem o que dizem.
Foi o tal SLV2003 que modernizou o clube, o dotou de estruturas e condições para competir, o recentrou num futebol que entretanto já era outro, muito mais mercantilizado, muito mais profissionalizado, muito mais dependente da geração de receitas e de áreas como a comercial e a financeira, isto após o Tratado de Maastricht, a criação da Liga dos Campeões e a Lei Bosman, comboio que o Benfica estava em sérios riscos de perder para sempre.
A exigência é benéfica se exercida com realismo. Caso contrário torna-se contraproducente, não permitindo um crescimento sustentado, e naturalmente feito de altos e baixos, de avanços e recuos, obrigando a começar tudo do zero a cada momento, criando ruído, descrença, desunião, e potenciando um ciclo autodestrutivo utilizável por uma comunicação social também ela muito diferente, para o bem e para o mal, da do século XX, e por rivais que não hesitem em explorá-la em seu benefício.
O Benfica está bem. Mesmo muito bem. Nunca teve tantos sócios, nunca vendeu tantos lugares cativos, nunca gerou tantas receitas, nunca praticou tantas modalidades, nunca teve tão boas infraestruturas, e, que me recorde, nunca teve uma situação económico-financeira tão mais estável e robusta que a dos rivais directos - o que o dota de uma capacidade de investimento sem paralelo no país. Desportivamente, e só no futebol profissional, nos últimos onze anos o Benfica ganhou seis campeonatos, o FC Porto três e o Sporting dois; e vem de três anos consecutivos nos Quartos-de-Final da provas da UEFA, duas delas na Champions League, algo que não conseguia desde a década de sessenta. O clube da Luz tem hoje condições invejáveis face aos seus concorrentes, e essas condições, como diria António Guterres, não nasceram do vácuo.
Tudo isto tem de continuar s ser alimentado com vitórias. Mas não se pode deitar fora o menino com a água do banho. É preciso perceber, por exemplo, o que fez o Benfica efectivamente perder o último Campeonato , e não confundir razões desportivas e circunstanciais com razões estruturais ou de fundo. É preciso saudar a aposta no desporto feminino, que dá ao pioneiro Benfica um domínio esmagador numa área cuja importância só um dia mais tarde será relevada. É preciso valorizar o investimento nas modalidades de pavilhão (onde ninguém ganha mais do que o Benfica) e no projecto olímpico (praticamente só atletas benfiquistas como Pimenta, Ribeiro ou Pichardo, lutarão por medalhas em Paris). Obviamente não serão os rivais a expressar essa valorização.
Hoje há muito mais informação disponível, mas a inteligência humana é a mesma que inventou a roda. Toda essa informação, multiplicada e distorcida por variadíssimos e outrora inexistentes canais, torna-se muitas vezes mero ruído. O Benfica, como clube mais popular, acaba por ser também o mais exposto ao folclore mediático, e à estupidez natural que brota das redes sociais, bem como a um modus vivendi que se traduz em dizer mal de tudo e de todos, e exigir tudo a todos e já, excepto, naturalmente, aos próprios.
É uma pena que uma facção dos adeptos não entenda nada disto, e embarque nessa onda negativista. E se, nos tempos antigos, quando o presidente do clube ia lá uma vez por semana assinar os cheques, a retórica destrutiva, ou não existia, ou resumia-se à tasca do bairro, hoje tem um efeito potenciado e extremamente nefasto para a estabilidade presente e futura do clube. E nem falo dos casos, que também existem, de gente ressabiada por, ou ter cessado ligação ao clube, ou pretender tê-la sem o conseguir.
A mim, nunca me irá pesar a consciência. Sofro pelo Benfica desde que me conheço, já chorei pelo Benfica de tristeza e de alegria - e se chorei de tristeza por várias razões na vida (morte de familiares ou outras situações pessoais), por alegria, meus amigos, só o Benfica me fez soltar lágrimas, tal a paixão que lhe devoto. Gastei e gasto muito dinheiro para acompanhar o clube (já não vivo perto do estádio, nem sequer em Lisboa), nunca tendo dele recebido um cêntimo - embora colabore semanalmente com o jornal, desde 2008, a título 100% gracioso. Pode haver gente tão benfiquista quanto eu,. Mais do que eu, garanto a pés juntos que não há. 
Obviamente isso não faz de mim dono da razão. Mas nada faz de nenhum indivíduo ou grupo de indivíduos donos da razão, pelo que todos temos o dever de respeitar as maiorias. E não tenho dúvidas que a maioria dos sócios e adeptos do Glorioso sabe valorizar o clube que tem, e, mesmo não gostando de perder um campeonato, não dispara tiros que ferem a sua própria alma - como infelizmente algumas minorias, que se julgam vanguardas esclarecidas, fazem quase diariamente por aí. Perdoem-lhes, pois não sabem o que fazem.

MAS É CLARO QUE VAI SAIR

O jogador sonha, a família aconselha, o empresário pressiona, o clube precisa. Alguém tem dúvidas que João Neves vai sair do Benfica? Alguém tem dúvidas que qualquer profissional, a quem seja oferecido um salário cinco vezes maior, sai logo a correr? Ou pensa que os clubes portugueses conseguem viver e manter-se competitivos sem a receita extraordinária da venda dos seus mais preciosos talentos (aqueles que o mercado efectivamente valoriza)? Ou que qualquer instituição portuguesa tem condições de recusar 50, 60 ou 70 milhões de euros?
Não. Não haja ilusões. As coisas são o que são, e não o que gostaríamos que fossem. Portugal é um país periférico, e tem uma Liga miserável que ninguém vê em parte nenhuma do mundo (a não ser nos PALOP's, que não têm dinheiro). Está, e vai estar sempre, exposto a este modelo, que é o único que ainda permite alguma competitividade, e é elogiado na Europa.
Até 31 de agosto, quase cortava uma orelha em como o jovem algarvio vai partir para a sua independência financeira, e o Benfica vai embolsar uns quantos milhões - que lhe permitirão manter-se economicamente saudável. E não fosse uma intervenção cirúrgica (a juntar à ausência da Champions e do Euro), diria exactamente o mesmo de Gyokeres.
Quem atacar o presidente por vender o jogador, ou é profundamente ingénuo e não percebe como funciona o futebol moderno, ou está simplesmente de má fé. Digo mais, é provável que Rui Costa diga e repita que não vende, para esticar o preço o mais possível, até chegar ao maior valor possível e voltar com a palavra atrás. É assim que se negoceia. É assim que se defende o interesse do clube, no meio deste lago de tubarões em que estamos metidos.
Quem não gosta disto, dedique-se aos Iniciados do Polo Aquático enquanto é tempo. Aí ainda não circulam milhões, não são precisos orçamentos exorbitantes, nem salários estratosféricos de fazer qualquer um perder a cabeça. 

CONTAS FINAIS


Com as finais competições continentais de selecções, com o Campeonato Nacional de Atletismo ao ar livre, e com a Taça de Portugal de Hóquei feminino, pode dizer-se que terminou este domingo a temporada 2023-24.
O balanço final de vitórias é o seguinte.
MASCULINOS: Benfica 23, Sporting 18, Porto 9, Braga 3 e outros 17
FEMININOS: Benfica 36, Sporting 4, Braga 2, Porto 1 e outros 21
TOTAL: BENFICA 59, Sporting 22, Porto 10, Braga 5 e outros 38
O acumulado de títulos dita agora que o Benfica soma 1318, o Sporting 1025 e o Porto 753.
Assim se vê quem é, de facto, a maior potência desportiva nacional.

COMO EXPLICAR ISTO?

Entre Mundiais e Europeus, Ligas dos Campeões e Ligas Europa, o futebol do país vizinho venceu todas (!!) as 23 finais que disputou desde 2001. Além destas, houve mais quatro finais discutidas entre eles, pelo que totalizam, no período, 27 vitórias. Mais do que o número de triunfos e de troféus (já de si impressionante), é espantoso como não perdem uma única final. A última derrota, nestas competições, foi precisamente em 2001, cedida pelo Valência diante do Bayern, após desempate por penáltis.
Alguém um dia disse que as finais não se jogam, ganham-se. O problema é que isso valeria para ambas as equipas em campo, e só uma o consegue. Ser sempre a espanhola é já um padrão, que merece ser analisado - por exemplo, pelo Benfica, que tem um historial proporcionalmente inverso.

FEZ-SE JUSTIÇA

Num Europeu que, genericamente, foi de menos a mais, começando com futebol sonolento, maus relvados, arbitragens medíocres e problemas de segurança, terminando com bons jogos e com a vitória justa da melhor equipa em prova, a Espanha alcançou o seu quarto título continental.
Olhando para os plantéis, já houve espanhas mais impressionantes. E havia outras selecções que, à partida, pareciam mais capacitadas (entre elas, diga-se, Portugal). O que é certo é que, com um punhado de jogadores em grande forma, e uma ideia de jogo colectivo muito bem trabalhada pelo seleccionador, esta Espanha foi vencendo sucessivamente Itália, Alemanha, França e Inglaterra, sempre de forma dominante e vistosa, até erguer o troféu em Berlim.
Destaque natural para Yamine Lamal, que foi a estrela do torneio, fez lembrar os primeiros tempos de Cristiano Ronaldo, e cheira claramente a futuro "Bola de Ouro". Mas também Rodri, Nico Williams e Dani Olmo estiveram em evidência.
Pessoalmente, por motivos familiares, preferia que a Inglaterra ganhasse. Mas curvo-me perante esta equipa espanhola, que foi sem dúvida o vencedor mais justo.

JÁ TINHA SAUDADES

Já tinha saudades de ver o Benfica jogar com um ponta de lança.
Depois de uma temporada entregue a um artista de circo, um tosco e uma criança, agora parece, enfim, haver um avançado - não necessariamente um Van Basten, mas um avançado.
Como sempre defendi, a última temporada foi decidida aí, na área contrária. Uns tinham Gyokeres, e os outros... Enfim, não baterei mais no ceguinho.
O que interessa é que Pavlidis existe, e logo nas primeiras oportunidades não desmereceu a confiança. 
Como se viu também na selecção portuguesa, não adianta ter craques a construir se não houver quem finalize. O futebol são resultados, e os resultados são golos. Acredito que, depois dololorosa demonstração ao longo de um ano inteiro, o Benfica o tenha percebido. 

MUITO TRABALHO PELA FRENTE

Quando se sofrem dois golos de rajada, mas a defesa é formada por André Gomes, Leandro Santos, Bajrami, Gustavo Marques e Tiago Parente, não há muita coisa a acrescentar.
Do jogo com o Celta (já agora, porquê insistir neste maldito adversário em todas as pré-épocas?), prefiro guardar a primeira parte, os dois golos de Pavlidis (e estes começos, que dispensam fases de adaptação, são os que eu mais gosto), bem como a frescura que Neres confirmou, parecendo querer desde já assegurar o seu bilhete para a titularidade.
Fica uma nota, que aliás já vem da época passada: Trubin tem dias, mas quer Samu, quer André Gomes deixam-me muitas interrogações quanto à capacidade de serem soluções para o Benfica. Que tal pensar num guarda redes, por exemplo da liga portuguesa, sem gastar muito dinheiro, mas que tenha a experiência suficiente para garantir um eventual azar? 

BOAS SENSAÇÕES

A pré temporada é uma simples ferramenta de trabalho, e raramente permite tirar conclusões. Ainda menos nestes jogos iniciais, com meia equipa de férias.
De qualquer modo, e olhando apenas para as prestações individuais, gostei do que vi.
Rollheiser, Prestianni e Pavlidis deixaram boas notas, enquanto, dos mais antigos, Neres pareceu-me já bastante fresco, tal como Florentino.
A adaptação de Gouveia à linha defensiva também pode não ser má ideia. Para o Benfica, e para o futuro do jogador.
Enfim. Amanhã há mais. 

UMA BOA NOTÍCIA

17 golos e 13 assistências. Foram estes os números de Di Maria na última temporada. Só nas provas europeias marcou cinco vezes, ao FC Porto duas (garantindo a Supertaça e o triunfo na Luz) e ao Sporting uma (que não valeu, mas podia, e devia, ter valido uma presença no Jamor). Foi o segundo melhor goleador da equipa, mesmo sem ser ponta-de-lança, apenas atrás de Rafa, que também não o é - o que também diz muito sobre aquele que foi o verdadeiro problema dos encarnados em 2023-24.
Juntamente com João Neves, e Rafa até certa altura da época, Angelito foi um dos melhores jogadores da equipa. Por vezes, o único a remar contra uma maré de equívocos. Assumiu o seu papel de estrela, no bom sentido da palavra, resolvendo vários jogos - mesmo quando parecia adormecido. Não foi por ele que o Benfica perdeu o Campeonato.
Além disso é um peso pesado no balneário, com toda a sua experiência, profissionalismo e conhecimento dos cantos da casa.
Nesse sentido, a notícia da sua continuidade é tranquilizadora. 
Com a partida de Rafa, Di Maria restava como único criativo do plantel (enfim, para além de Neres, que tem dias). E aos 36 anos ainda pode, no Benfica, e na Liga Portuguesa, ser determinante em muitos jogos.
Já sei que vão chover críticas. Em grande parte vindas daqueles que há uns anos idolatravam Weigl, que odiavam Vlachodimos, Pizzi, Seferovic e Rafa, que toleram Arthur Cabral e Kokçu, tudo por motivos que para mim são ocultos - enfim, só se for por publicarem, ou não publicarem, fotos bonitas nas redes sociais.
Como eu s dou mais valor aos números e ao rendimento, entendo que Di Maria, sim, é um craque. E vai dar muito jeito mantê-lo.


Q.Q.QUEM?????

Beste???!??? Mas qual Beste??!!??
Falava-se de Gosens, falava-se de Tagliafico. Agora aparece um alemão qualquer, que custa 10 milhões de euros, vem de uma equipa de terceiro plano à qual chegou como avançado, e que, a caminho dos 26 anos, nunca fez um só jogo pela selecção, nem nas nas provas da UEFA?
Confesso que, antes de saber o preço e a idade, julguei que vinha para a equipa B. Infelizmente estava enganado.
Isto, obviamente, cheira-me a flop. Tal como me cheirou  Arthur Cabral, tal como me cheiraram  Jurasek, Rollheiser ou Prestianni. Com Kokçu, confesso que me enganei: pensava tratar-se de um grande jogador, coisa que não é, e provavelmente jamais será.
Enfim, entregues a este Beste e a Carreras, lá teremos de andar mais uma época a desviar Aursnes da sua posição natural. E lá vão mais 10 milhões deitados ao lixo..
E este mercado até parecia estar a correr bem...

O BENFICA REAL

Enquanto uns quantos que acham que o mundo é deles se dedicam a destilar ódio nas redes sociais, em fóruns de opinião anónimos ou em podcasts, e se juntam para gritar nas Assembleias Gerais, o Benfica real e profundo trata de renovar o seu Red Pass, ou pacientemente aguardar em lista de espera para o adquirir.
Eu já renovei o meu.

JOÃO FÉLIX? CLARO QUE SIM!

Estou plenamente convencido que o potencial de João Félix ainda está por explorar. É verdade que depois de fracassar (enfim, a partir de certa altura) no Atlético de Madrid, também não brilhou no Chelsea, e só a espaços o fez no Barcelona. Mas Félix tem 24 anos e um enorme talento. Se Deus lhe der saúde, tem uma longa carreira pela frente, e está bem a tempo de mostrar tudo o que vale...desde que, no contexto adequado.
Qual o contexto adequado? Sem dúvida um Benfica onde seria ele e mais dez, onde seria ele a estrela, o criativo, o condutor de todos os ataques, e onde, após as saídas de Rafa e Di Maria, podia soltar-se pelo campo para fazer explodir o seu talento, causar desequilíbrios, fazer a diferença, brilhar na Champions e no Mundial de clubes, tornando-se, de caminho, titular indiscutível da selecção portuguesa. Tudo isso perante adeptos que gostam dele, que sabem o que ele vale e o iriam acarinhar até ele devolver, com exibições, golos e vitórias, todo esse carinho de volta.
Mau profissional? Não acredito. Génio incompreendido? Também não. Apenas um jovem que saiu da sua zona de conforto demasiado cedo e pagou o preço das altíssimas (e exageradas) expectativas que puseram sobre ele. Sejamos francos: João Félix nunca valeu, e dificilmente valerá 120 milhões. Na verdade, nenhum jogador os vale, mas mesmo olhando para o mercado dos últimos anos, talvez seja lícito dizer que Félix apenas valia metade ou mesmo um terço (em todo o caso, montantes para um grande jogador). Além disso, foi para uma equipa que lhe exigia aquilo que tacticamente não era capaz de dar, e em que tecnicamente lhe pediam este mundo e o outro - que é como quem diz, que fosse o novo Cristiano Ronaldo. Talvez também não tivesse a maturidade física e mental para tão grande desafio. Não sendo capaz de corresponder na plenitude, terá entrado num ciclo negativo de falta de confiança, alimentado por uma crescente pressão exterior em seu redor.
O que Félix agora precisa é de inverter esse ciclo, voltar a ganhar confiança, voltar a sentir-se importante, voltar a ser feliz... com z.
Não sei se o Benfica tem dinheiro para o contratar, ou - mais difícil ainda - para lhe pagar mensalmente um salário muito acima da média do futebol português. Se tal for possível, penso que valerá o esforço. Seria um investimento que até poderia ainda vir a trazer retorno. Talvez seja igualmente de pedir ao jogador para fazer a sua parte, dispondo-se a reduzir o salário até ao limite de o Benfica o poder pagar. Perdia dinheiro no imediato, talvez o recuperasse no futuro, e com juros.
Não sei quanto ganha João Félix, nem quanto ganha o jogador mais bem pago do plantel do Benfica (e essa era a diferença a resolver). Também não sei quanto exigiria o Atlético de Madrid, perante outras propostas que possa vir a ter para compra total ou de metade do passe. Neste texto, falo apenas do jogador, e daquilo que eu gostava que acontecesse. Compreendo que não venha a ser possível. Mas, até ao fim do mercado, deixem-me sonhar com João Félix na Luz, de águia ao peito e camisola "dez" como Chalana, Valdo, Rui Costa, Aimar e Jonas.
PS: Muitas destas palavras aplicar-se-iam também a Renato Sanches. Mas o médio vem de um ciclo de lesões preocupante, e tenho mais dúvidas sobre o seu rendimento futuro. Teria mesmo de vir em saldo.

E AFINAL ERA POSSÍVEL...

Portugal não estava a fazer um bom Europeu. A França também não. E o que se viu foram duas equipas com medo uma da outra, 120.minutos à espera de um erro. 
Confesso que estava bastante pessimista. E a forma mais viável que via para a equipa portuguesa seguir em frente era precisamente um desempate por penaltis. Nesse sentido, não me posso queixar muito da exibição nem do 0-0 final. 
Mas os penaltis são cruéis. E percebeu-se que os jogadores franceses estudaram Diogo Costa.
Enfim, pode dizer-se que este Portugal não merecia mais (370 minutos sem um golito) . O que é certo é que esta França também não. E se houve jogo em qie se viu alguma solidez na equipa nacional até foi este.
Resta a pobre consolação de verificar que a meia-final seria frente a Espanha - essa sim, a melhor equipa em prova.
Quanto a João Félix, tem um clube que o estima à sua espera. É só voltar.
De Ronaldo não digo mais nada, por respeito ao seu passado. 

MONEY TALKS

Beijam o emblema, declaram amor eterno, mas quando o dinheiro fala, tudo o resto se cala.
Atenção, isto não é uma crítica aos atletas. Eu no lugar deles faria o mesmo. É uma crítica a alguns adeptos, que teimam em não querer entender o óbvio: um futebol moderno altamente mercantilizado e uma vida moderna também ela mercantilizada - que, quer gostemos ou não, existe e está para ficar.
Se alguém oferece um salário cinco vezes maior, não há nada a fazer. E à pressão dos próprios, da família e dos empresários, junta-se a necessidade dos clubes fazerem receitas para continuar a pagar salários milionários. Talvez no feminino esta última parte ainda seja um pouco diferente, mas o resto é igual ao masculino, a todas as modalidades e a todas as profissões. O que faria o caro leitor se uma outra empresa ou instituição lhe oferecesse um salário cinco vezes maior?
A declaração de Kika Nazareth resume tudo com uma simplicidade desarmante: "era uma proposta irrecusável...".
Propostas irrecusáveis vão surgir até ao fim do mercado para João Neves, que obviamente aceitará a melhor. Para o Benfica, se for por 100 é excelente, mas por 50 ou 60 também se faz. É tentar esticar ao máximo, mas a saída é inevitável. Do João Neves ou de qualquer outro que tenha mercado e valha dezenas de milhões de euros. Aliás, um dirigente português que recusasse 50 milhões por qualquer jogador, devia, esse sim, ser imediatamente destituído por gestão danosa - embora, obviamente, tenha de dizer o contrário para fazer aumentar a parada, como em qualquer negociação.
A verdade é esta, quer queiramos, quer não. Tudo o resto é pura fantasia, areia para os olhos - como quiserem interpretar. Ou aceitamos, enquanto adeptos, viver com esta realidade, ou o melhor é deixar de ver futebol. 
Eu, por enquanto, vou aceitando resignado. Um dia talvez mude de ideias. Mas longe de mim condenar os interpretes por fazerem algo que, eu próprio, no lugar deles, também faria. E digo isto dos jogadores mas também dos dirigentes - que, como disse, todos os meses têm milhões de euros a pagar em salários.
PS1: Não esqueçamos que até Eusébio só ficou no Benfica porque não o deixaram sair.
PS2: As maiores felicidades à Kika, desejando que um dia, depois de ganhar a sua vida, possa regressar ao clube de coração, como Rui Costa fez, e como Bernardo Silva espero ver fazer.

ERA BONITO DE SE VER...

Haverá dinheiro para tudo isto? Pagar os salários de Di Maria, Félix e Gosens, e manter João Neves? Duvido, mas que gostava de ter esta equipa, lá isso gostava.

BONS PRINCÍPIOS

Via-se logo que o guarda-redes da selecção nacional tinha começado pelo caminho certo. Depois desviou-se. Mas deve ter ficado lá alguma coisa.

FALTA DE GOSTO, FALTA DE SENSO

Quando vi, pensei que fosse montagem. Infelizmente parece que é mesmo verdade.
Não sei se a culpa é da Adidas ou do Benfica. Seja de quem for, estas camisolas têm de ir rapidamente para o lixo. É inaceitável que o símbolo do Benfica seja tratado desta forma. No marketing não pode valer tudo. Além do mais, o efeito estético é horrível.
Aliás, os equipamentos, de treino ou de jogo, são das piores coisas que existem no futebol moderno. Criou-se a "necessidade" de inventar novidades todos os anos, e quando não há mais ideias (que obviamente se esgotam), resta a estupidez. Vemos imagens do futebol dos anos sessenta e setenta, e ficamos deliciados a olhar para aquelas cores, aqueles tecidos, aquela simplicidade. Agora, só falta equiparem-se de astronautas. Mas pintar o emblema do Benfica de verde, acho que é ir longe demais. 

NOMES OU EQUIPA?

Roberto Martinez tem, num dos pratos da balança, uma qualificação imaculada só com vitórias e algumas boas exibições. Dir-me-ão que os adversários eram frágeis, mas com outros seleccionadores - por exemplo Fernando Santos - mesmo com adversários frágeis, Portugal poucas vezes evitava os playoffs, ou qualificações apertadas de calculadora na mão.
O espanhol tem também do seu lado uma simpatia natural, que o fez integrar-se muito bem no país, falar um português perfeito e até cantar o hino. Vale o que vale, mas é bonito de se ver.
Porém, nesta fase final, na hora da verdade, está a mostrar insuficiências tácticas e de leitura de jogo confrangedoras. Afinal, lembremos, é um técnico cujo palmarés se resume a uma Taça de Inglaterra à frente do Wigan.
As exibições da equipa, salvo alguns momentos do jogo com a Turquia, têm sido medonhas. E não fossem o golpe de sorte de Francisco Conceição aos 95 minutos diante da República Checa, e a estrondosa exibição de Diogo Costa com a Eslovénia, a selecção nacional já teria regressado a casa, sem honra nem glória - e até mesmo coberta de vergonha, dado o potencial que todos lhe reconhecem.
Este é talvez o melhor plantel de sempre de uma selecção portuguesa. Mas, por isso mesmo, não pode, nem deve, ser gerido em função do estatuto das individualidades. Ora é isso que Roberto Martinez está a fazer.
Os jogadores da Premier League, em particular os do Manchester City (não só os portugueses, à excepção de Rodri, todos eles), apresentaram-se neste Europeu verdadeiramente de gatas. Na parte que nos toca, vemos por exemplo uma sombra de Bernardo Silva. Mas também Bruno Fernandes, não do City, mas igualmente da Premier, anda manifestamente esgotado.
Não sei o suficiente da matéria para poder apontar a fase preparatória pré-Europeu como causa agravante (ou não desagravante) do estado físico destes atletas. O que sei, porque vejo, como todos vemos, é que eles estão a léguas da sua melhor forma. e no banco há muitas e variadas alternativas.
Depois há o caso Ronaldo, que aos 39 anos ainda julga que é o melhor do mundo, faz birra quando é substituído (viu-se na partida com a Geórgia, em que só pela busca de mais recordes individuais terá alinhado de início), e exige que todos joguem para ele. CR7 até podia ser útil à selecção se, com humildade, reconhecesse as suas limitações actuais, e se dispusesse a ser lançado apenas nos últimos minutos de algumas partidas mais fechadas, podendo, com os adversários desgastados, e com a sua experiência, fazer a diferença dentro da área. Ter marcado 50 golos a árabes tê-lo-á convencido que ainda estava em 2014 - mas se fosse para o Juventude de Évora marcaria talvez 80, pois tudo é relativo. Tal como Joe Biden nas eleições americanas, se não partir dele próprio esse entendimento, será difícil alguém tomar a decisão de o afastar. Não esqueçamos, também, que se trata de uma gigantesca máquina de facturar para a FPF.
Ora tudo isto seria assunto para Roberto Martinez gerir. Infelizmente, o técnico espanhol está a optar pelo caminho mais fácil: manter todas as estrelas satisfeitas, e esperar que individualmente se resolvam (nos detalhes, como ele próprio diz) as gritantes lacunas colectivas que a equipa apresenta. O resultado para já é, no mínimo, preocupante.
Nada está perdido, a França também padece de problemas parecidos, em quatro jogos ainda não marcou um golo em bola corrida, e Mbappé e o seu nariz têm estado demasiado acinzentados.
Para chegarmos mais longe, é preciso que Martinez dê um murro na mesa, e assuma (para isso é pago a peso de ouro) decisões difíceis. Por exemplo, tirar Pepe, Ronaldo, Bernardo e Bruno de um onze onde, para além de, por diferentes motivos, não renderem, a sua presença acaba por torturar tacticamente a equipa e impedi-la de explodir em toda a sua plenitude.
No próximo jogo, o onze de Portugal podia ser algo como isto: D.COSTA, CANCELO, G.INÁCIO, R.DIAS, N.MENDES, PALHINHA, J.NEVES, VITINHA, NETO, JOTA e LEÃO. Uma equipa mais fresca, mais jovem, mais disponível, e porventura mais solidária. Talvez as coisas corressem um pouco melhor. Fica o desafio.

SÓ UMA VITÓRIA, MAS QUE VITÓRIA!

Portugal jogou 7 vezes com a França. Só ganhou uma: precisamente... aquela.
Até lá, muito drama, com três eliminações em meias-finais, a cargo de Platini (1984) e Zidane (2000 e 2006), as duas primeiras após prolongamentos agónicos. 
Dos golos de Jordão com assistências de Chalana, passando pelo penálti de Abel Xavier e até ao golo de Eder, este é um confronto com história.
Nenhuma das equipas está a jogar bem. Só que uma tem Mbappé, e a outra já não tem o verdadeiro Ronaldo.
Enfim, é preciso sorte, muita sorte.

OBRIGADO, PÁ

Não há como não agradecer ao homem do jogo. 
Diogo Costa salvou Portugal, salvou Pepe (que não se chama António), salvou Ronaldo (que já não devia andar ali), e salvou... Martinez - que, com substituições incompreensíveis, desorganizou a equipa a um nível preocupante. O guarda-redes do FC Porto limpou também a imagem que deixara no Mundial, quando um erro seu ditou a eliminação da equipa lusa. 
Enfim, por portas e travessas, estamos nos Quartos. Mas contra a França há muito a rever. A selecção não pode ser gerida em função de nomes e estatutos. E tem plantel para muito mais. 

ONZE PARA OS OITAVOS