GOLPE DE ESTÁDIO (2)

Aproximavam-se novas eleições e Pinto da Costa ia ganhando terreno. O treinador
austríaco(Hermann Stessl) que fora convidado para tomar conta do seu clube sob a gerência
de Américo de Sá não estava a dar conta do recado. Os sócios habituaram-se aos títulos e
queriam mais, mas a bola teimava em não entrar na baliza. Enquanto isso, PC esfregava
as mãos e preparava a sua candidatura. Os apoios eram cada vez mais fortes, e uma nova
estratégia foi colocada em movimento. Ele tinha de apostar forte na vitória eleitoral e,
aproveitando os maus resultados da equipa, organizou por todas as freguesias da cidade
sessões de esclarecimento com uma programação meticulosa. Iniciava-se, assim, a
«Operação Ácido Sulfúrico», cuja alternativa, em caso de falhanço, tinha o nome de código
de «Operação Cicuta». Na organização dos seus comícios, PC deu sempre preferência aos
bairros pobres e à parte velha da cidade. Era aí que estava o povo e a força do clube. PC
organizou o seu staff comandando um grupo de associados aos quais impôs serem eles a
obrigarem-no a partir para uma candidatura. Desenvolveu-se então o célebre grupo dos 500,
do qual saíram elementos devidamente comandados que se distribuíam pelos cantos das
salas onde eram organizadas as tais sessões de esclarecimento. A missão deles era empolgar
as sessões e fazer perguntas previamente combinadas com Pinto da Costa.
Numa dessas noites, na Associação Recreativa de Miragaia, foi assim:
- Presidente, qual é o principal inimigo do clube?
- Antes de mais, repito, ainda não presidente...
Gargalhada geral, e PC tomou as rédeas à sala, não evitando porém a queda de estuque
sobre o novo casaco,
- O principal inimigo está dentro do clube, o servilismo a Lisboa. Estamos fartos de ser
espoliados. Chegou a hora de dizer «basta». Com uma cajadada, PC matava dois coelhos.
Para além do mais, o discurso saía-lhe cada vez mais com mais facilidade e tudo era
acompanhado, comentado e analisado pelo imprensa desportiva e jornais diários. A cidade e
Américo de Sá viviam sob o fogo cerrado de Pinto da Costa. O presidente já não podia sair á
rua sozinho, e as assembleias gerais eram cada vez mais escaldantes, levando mesmo o
doutor Sá ao desespero e a chorar em público. Foi nessa altura que Reinaldo Teles teve o seu
papel mais importante. Organizou um grupo de guarda-costas recrutados nos quadros da
secção de boxe do clube que, com alguns rufias nocturnos á mistura, organizou alguns
ataques a jornalistas que de uma forma ou outra denunciavam a protecção a Pinto da Costa.
Evidenciando alguma inteligência e revelando o seu carácter de hipócrita, Reinaldo Teles
verificou que a derrota de Américo de Sá era mais que evidente, e assim se foi distanciando
da protecção que prometera ao seu presidente. Algumas figuras notáveis da cidade aliaramse
a Pinto da Costa e, no momento das eleições, a derrota foi fatal para Américo de Sá.
Pinto da Costa tinha conseguido realizar o seu sonho, levando como trunfo o seu grande
amigo e companheiro de luta Pedroto, o técnico que tinha conseguido o título para o seu
clube.
Fernando Gomes, o ponta de lança mais cobiçado, tinha sido emprestado a um clube
espanhol e serviu de bandeira para ajudar á vitória. Também ele regressou. Mas António
Oliveira, o ex-capitão que nunca se deixou dominar pelos desígnios de Américo de Sá,
recusando-se terminantemente a regressar ao clube, passou por momentos bem difíceis.
Não de ordem económica, mas psicológica. Tinham-lhe sido vedadas todas as entradas
numa equipa que estivesse ao seu nível. Foi marginalizado e refugiou-se num grupo de
amigos, não recebendo a ajuda de ninguém, mesmo de Pinto da Costa, pelo qual deu a cara.
António Oliveira era uma vedeta do nosso futebol, uma estrela, um génio, e não podias ser
esquecido. Foram meses de desespero. Foi sair da ribalta para o anonimato, mas nada
vergou a personalidade deste jogador, Ficou sozinho, mas manteve a classe que sempre foi a
sua imagem de marca.
Sem clube e sem a mínima vontade de treinar, refugiou-se no ambiente nocturno tão ao
seu gosto. Copos e mulheres eram a alma que mantinha de pé a forte estrutura psíquica do
«Caddilaque» - apelido que carinhosamente lhe fora colocado pelos amigos mais chegados.
Eram bacanais atrás de bacanais devidamente organizados no seu apartamento. Por aquele
espaço passaram os melhores ballets de inglesas que actuavam nos casinos nortenhos, as
melhores strip-teasers, as habituais frequentadoras das discotecas e também travestis que
satisfaziam as delícias de algumas convidadas lésbicas e bissexuais. Sexo em grupo era o
prato forte.
Após alguns meses de paragem, António Oliveira resolveu voltar à actividade, mas antes,
na companhia de alguns amigos foi passar uns dias a Bordéus, onde esteve a ajudar na
vindima. E só no seu regresso, com um visual totalmente novo, de cabelo encaracolado e
sem bigode, aceitou um convite do clube da sua terra natal(Penafiel). Tinha uma equipa
modesta, mas como era treinador-jogador, abria uma actividade totalmente nova no nosso
futebol, revolucionando o sistema e isso teria sempre um enorme impacto mediático. Era a
demonstração cabal de que António era, de facto um homem inteligente, que sabia estar e
conhecia o terreno que pisava. A sua estrela voltava a brilhar e de tal forma que logo foi
cobiçado por um grande clube da capital.
António não sabia viver sem a companhia do seu irmão, o Joaquim Oliveira. Foram
sempre muito chegados. O Joaquim Oliveira tinha uma discoteca de alternos e rivalizava com
Reinaldo Teles. O seu mundo eram as putas, tal como Reinaldo, de quem diferia muito em
termos de personalidade e carácter. Reinaldo era um valentão. Joaquim Oliveira era pacífico e
não era chulo, muito pelo contrário: chamavam-lhe andor porque gostava de se rodear de
putas e pagar tudo. Todas as noites promovia ceias com dançarinas e também com algumas
miúdas ligadas aos alternos. Levava sempre consigo amigos para se querer impor e provar
que também era alguém.
O negócio não dava para tudo, e vieram as dificuldades. As dívidas aumentaram e, com
a ida do seu irmão para um clube da capital(Sporting) tudo piorava. Vieram as penhoras. E
logo que António Oliveira se impôs no seu novo clube, tratou de arranjar um negócio para o
seu irmão, uma queijaria nas imediações do estádio, onde era normal alguns jornalistas
abastecerem-se sem pagar ou apenas por um preço simbólico (mantinha-se assim a tradição
de «pato»). O irmão, pelo seu lado tinha-se assumido novamente como jogador treinador e,
com a ajuda do seu novo presidente, resolveu abrir uma agência de contratações de
jogadores. A sua missão era contratar jogadores não só para o clube do seu primo, mas
também para os outros. Foi criada a Olivedesportos.
Mas Joaquim Oliveira não estava talhado para esta missão cuja actividade em Portugal
ainda era muito pouco reconhecida. A fuga acabou por surgir através de um sistema de
publicidade montado nos estádios, explorando os painéis. António e o seu irmão Joaquim
continuavam de boas relações com Pinto da Costa, mas este quando, quando foi eleito
presidente, resolveu encetar uma pequena guerra com João Rocha, ex-imigrante nos
«States» e presidente do clube onde António estava a jogar e a treinar(Sporting). As relações
entre ambos esfriaram até á altura em que Pinto da Costa resolveu tentar trazer novamente o
António para o seu clube, mas o jogador manteve sempre um comportamento de grande
responsabilidade. Para além de alguns defeitos, tinha uma grande virtude: nunca esquecia os
seus amigos. João Rocha fora o homem que lhe dera uma nova oportunidade para voltar ao
top do futebol português, que o ajudou a montar a agência de publicidade para o seu irmão
num momento difícil para ambos, e António não podia de forma alguma esquecer tudo isso.
Recusou o convite, mas Pinto da Costa não perdoou.
A guerra estabeleceu-se entre ambos até ao ódio e continuou até muito depois de
António ter abandonado o clube da capital e optado pela actividade de treinador.
António e o seu irmão nem queriam ouvir falar em Pinto da Costa. «Dá comichão só de
pensar nele», dizia um deles, o mais novo, mas claramente o mais esperto.
A guerra entre os dois clubes e os respectivos presidentes foi aumentando. Pinto da
Costa tinha feito com que o seu clube voltasse às vitórias e aos títulos e, como sempre foi
amante de uma guerrinha, mantinha a sua bem acesa com João Rocha. A estratégia era de
Pedroto:
- No Norte só há um clube com força e na capital há dois, por isso só há uma forma de
os poder dividir e lutarmos contra eles. Temos de estar sempre bem com um e abrir guerra
ao outro.Pinto da Costa absorveu a filosofia do «mestre» e acrescentou:
- Tens toda a razão e até podemos alternar essa guerra, abrindo fogo sempre sobre o
clube que estiver em melhores condições para poder lutar pelo título.
Frustrada a tentativa de levar para o seu clube o António e em resposta a João Rocha
por este ter ripostado com a contratação de dois jogadores da sua equipa, Pinto da Costa
num acção relâmpago contratou um miúdo que na altura estava a dar nas vistas no clube do
seu inimigo João Rocha. Nessa altura, estava longe de imaginar que seria aquele jogador que
iria dar início ao seu grande golpe de estádio. O miúdo morava no Montijo e era anunciado
como um craque de eleição. Mas o clube de Rocha abriu a guarda e, numa noite de lua cheia,
um funcionário do clube rival do Norte acelerou no seu Renault até ao Montijo, não se
esqueceu de comprar no caminho um pão-de-ló em Rio Maior para oferecer à família do
rapaz e trouxe-o para a «Invicta», onde o craque se manteve como que sequestrado durante
alguns dias. «É o Eusébio branco», dizia-se, se calhar com alguma legitimidade. O craque era
conhecido pelo nome de guerra de Futre.
Entretanto, Reinaldo Teles, depois de ter abandonado Américo de Sá, mesmo antes de
este ter perdido as eleições, insinuou-se perante PC e, como este ainda não se tinha
esquecido da dimensão das dificuldades que lhe foram criadas pelo rapazinho que era
treinador de boxe do seu clube, achou por bem abrir-lhe a porta e oferecer-lhe o lugar de
chefe se segurança. Reinaldo Teles, consta, mandou abrir duas garrafas de champanhe
«Moelas & Cabron», marca que o Fuinha, um dos seus empregados, não conseguiu encontrar
no mercado, mas no fim ninguém reparava que era apenas «Raposeira» o néctar que
entrondeava.
Pedroto nunca esteve muito de acordo com essa acção. Era um indivíduo seguro,
competente e com grande personalidade e não gostava muito, nem sequer apoiava, acções
de violência ou de alguma forma marginais. Lutava por aquilo em que acreditava e tecia
estratégias para a sua luta, contestando, vociferando e acusando de uma forma directa.
Tornou-se polémico, irreverente e estabeleceu uma acção de combate virada
essencialmente para a arbitragem, cujo controlo partia da capital.
Por isso, contratou para a sua equipa um ex-jornalista(Luis César) com a mania das
estatísticas, e a sua primeira missão foi a de elaborar um ficheiro de todos os árbitros de 1ª
categoria, contendo o maior número de informações. Nome, morada, actividade extra,
número de filhos e datas de nascimento de toda a gente do agregado familiar.
Como era contra a violência, e Pinto da Costa não se cansava de gabar os dotes de
Reinaldo Teles, Pedroto pediu ao presidente para lhe entregar a missão de ir a casa dos
árbitros no dia do aniversário destes ou de um dos seus familiares para entregar uma
pequena lembrança, independentemente do facto de esse árbitro ter ou não ter apitado
qualquer jogo do clube. Era o início de uma operação de charme que resultaria em pleno:
- Reinaldo, hoje tens de ir a Setúbal entregar uma prenda para o filho do árbitro Carlos
Fortes, que faz anos- pediu, certo dia, PC.
Reinaldo Teles, sempre pronto para estas acções, lá rumou até Setúbal com um fio de
ouro e uma medalha gravada com o nome do filho do árbitro. Mas, quando lá chegou, não
encontrou ninguém em casa. Uma vizinha, que estava na varanda a estender roupa, disse-lhe
que tinham ido todos a casa da sogra festejar os anos do miúdo. Reinaldo não perdeu tempo:
- Sabe dizer-me onde mora a sogra?
- Mora em Lisboa - respondeu a vizinha, dando de imediato a respectiva morada.
Reinaldo atravessou a Ponte e uma hora depois lá estava na casa da sogra de Carlos Fortes
para entregar a respectiva prenda ao filho do árbitro.
Cenas como esta sucederam-se, e todos aceitavam com agrado tamanha amabilidade.
Era um gesto bonito e que ninguém podia condenar. Não estava em causa qualquer jogo ou
favor, mas uma amabilidade que não era muito normal no futebol.
Pinto da Costa e Pedroto tinham escolhido a pessoa ideal para executar tal missão.
Reinaldo Teles era bem sucedido quando espelhava a face da inocência, do desinteresse, do
bom amigo.
Foram dezenas e dezenas de missões como esta que deram entrada a Reinaldo Teles na
intimidade dos árbitros. Depois de um gesto daqueles, era normal que convidassem Reinaldo
para um brinde ou mesmo para ficar um pouco na festa familiar. Nasceram amizades e
compadrios. Convites para encontros mais para o Norte e de preferência no seu bar de
alternos, com mulheres e copos disponíveis.
Luísa tinha tomado conta do negócio, e a sua experiência de mulher da vida muito batida
ajudava a controlar e a organizar umas cenas de sexo com as miúdas escolhidas pelos
árbitros que visitavam Reinaldo no seu estabelecimento.
Pedroto desconfiava da situação e andava assustado com o negócio, mas a doença
tomou conta dele e perdeu força, muito embora comandasse todas as operações e
estabelecesse estratégias a partir do seu leito, com a cumplicidade do seu fiel adjunto
António.
Pinto da Costa não gostava da política que estava a ser adoptada e, picado por Reinaldo
Teles, com quem tinha relações já muito estreitas, começou a trair o seu grande amigo
Pedroto. Reinaldo sabia que o técnico não gostava muito do seu estilo nem apoiava algumas
das suas acções. Queria dar dignidade ao clube, e um chulo não seria a personagem ideal
para representar em diversas acções a grandiosidade do projecto que ele queria atingir.
Reinaldo Teles sabia insinuar-se perante as pessoas. Começou a convidar o presidente
para uns copos no seu território. PC nunca se tinha visto rodeado de tantas mulheres. Tinha
uma educação de seminarista e nunca lhe passara pela cabeça trair a sua mulher, mas um
dia não resistiu às investidas de uma das funcionárias do seu grande amigos Reinaldo Teles.
A mulher tinha sido bem escolhida por Luísa e educada por Reinaldo. PC sentiu-se no céu,
quando desceu ao leito do amor. Nunca tinha vivido experiência como aquela. Deu consigo a
pensar:
- Como é que foi possível andar 40 anos sem conhecer uma experiência como esta?
Reinaldo tinha ganho a sua primeira batalha. O presidente ficou agarrado a ele através do
amor de terceiras (e de quartas, quintas, sextas... não sendo também incomum aos
sábados...). Vieram outras experiências, outras mulheres e Pinto da Costa andava eufórico.
Depois de Pedroto ter morrido, Reinaldo Teles passou a ser o expoente máximo de Pinto
da Costa, e os outros vice-presidentes do clube não andavam nada contentes com a situação.
Um dos grandes amigos de PC chegou mesmo a comentar:
- O PC tem uma cabeça extraordinária. O seu mal foi ter começado a ir ao pito aos 40
anos. Isto dito assim nem parece nada, mas a verdade é que a vida nocturna transformou
por completo Pinto da Costa, que pensou, por momentos, ter alcançado o paraíso na Terra.
Reinaldo Teles tinha uma influência extraordinária sobre PC, levando-o mesmo a dizer que
só confiava em Reinaldo e no seu gato. Luísa geria o «Play-Girl», o novo bar de Reinaldo,
com uma eficiência extraordinária, mas não passava de uma ex-puta, ou mais propriamente
de uma puta reformada, mas ainda com boa pinta. A amizade entre ela e PC tinha
aumentado graças aos excelentes encontros que ela lhe ia conseguindo com as suas
melhores raparigas.
A ligação de Reinaldo Teles ao futebol proporcionava-lhe bons negócios e passos
gigantescos na sua ascensão na direcção do clube. A acção de charme com os árbitros
evoluía cada vez mais. Os dirigente que não aceitavam Reinaldo iam sendo afastados.
Mesmo aqueles que já tinham uma amizade de longos anos com Pinto da Costa. O sexo
tinha tomado conta da mente do homem e não havia nada nem ninguém capaz de o fazer
parar e encarar a situação de uma forma mais digna.
A assiduidade de Pinto da Costa era quase diária e não havia forma de alterar os hábitos
adquiridos. As mulheres desfilavam pela sua mesa e ele só tinha de escolher qual queria
comer e a forma como o queria fazer. Era norma ser o patrão o primeiro a experimentar as
novas empregadas, mas essa função no «Play-Girl» passou a pertencer a PC.
Era a porta aberta para o êxito e a ascensão de Reinaldo Teles.
O clube de Pinto da Costa tinha atingido o auge tanto em termos nacionais como
europeus. Era o apogeu, o delírio e o júbilo de um povo que nunca se tinha visto em
tamanha aventura. PC fez esquecer o seu velho e grande amigo Pedroto, evitando qualquer
comentário que pudesse recordar o velho mestre. A glória tinha de ser só sua e de mais
ninguém. A cidade caiu-lhe aos pés, e foi a partir dessa altura que PC tomou consciência do
poder que tinha e que Reinaldo Teles começou a alimentar a sua grande esperança de um
dia vir a ser alguém no seu clube.
Reinaldo tinha Pinto da Costa quase na mão, através dos assíduos encontros deste
último com as suas miúdas. As amantes sucediam-se e até entravam em lista de espera. PC
sentia-se um Dom-Juan e conhecia uma vida totalmente diferente daquela a que sempre foi
habituado. O poder alimentou ainda mais a sua ambição e começaram aí as traições aos seus
melhores amigos.
Umas como pura defesa pessoal, outras para abrir caminhos para os que iam chegando
e prometiam uma maior subserviência, o que lhe dava a garantia de poder governar sozinho
e principalmente sem ter de dar muitas explicações.
Os títulos traziam muito dinheiro para os cofres do clube Pinto da Costa já tinha
esquecido os momentos em que era apenas um vendedor de fogões, muito embora
continuasse ligado à mesma firma, onde mantinha uma posição superior. Os milhares com
que tinha de lidar começaram a toldar-lhe a mente e a aumentar a sua ambição.
O seu clube era um grande chamariz para os grandes negócios e não faltaram
oportunistas para tirar partido disso. Foi nessa altura que surgiu um empresário italiano muito
ligado à venda de jogadores, mas com negócios ilícitos à mistura. Luciano D´ Onofrio já tinha
jogado futebol em Portugal, e acabou por criar raízes no nosso país, mais propriamente a sul,
aproveitando uma grande parte do seu tempo para entrar nas redes ligadas ao tráfico de
droga... e era mesmo vital aquele ponto geográfico para o negócio!
Luciano D´ Onofrio, um indivíduo baixo, magro e com cara de rato, de nariz afilado mais
parecendo um bico, apareceu pela mão de Reinaldo Teles e recebeu a benção de PC.
D´ Onofrio era um empresário sem escrúpulos e com alguns mandatos de captura em
diversos países europeus, precisamente por tráfico de droga, mas foi acolhido como uma
pessoa de grande interesse para o clube. Pinto da Costa foi quem mais lucrou com a sua
vinda. Os jogadores do seu clube inflacionaram-se no mercado europeu, e D´ Onofrio viu ali
um grande negócio para si e para PC. Em todos os jogadores que fossem negociados para o
clube ou que saíssem dele, o presidente teria sempre a sua percentagem, desde que mais
ninguém interferisse no negócio. Após o recebimento das primeiras comissões Pinto da Costa
via-se rodeado por dois elementos ligados ao mundo do crime. Não era segredo para
ninguém que Luciano D´ Onofrio tinha ligações com a Mafia italiana e que Reinaldo mais
alguns familiares viveram sempre de habilidades e negócios marginais, negócios centralizados
na prostituição e na receptação de objectos roubados. «Pena é que estes ramos não estejam
inscritos nos fundos comunitários», costumava dizer Reinaldo, que um dia ficou deliciado
quando em Amesterdão viu umas garinas expostas em montras. Por um só momento,
Reinaldo viu a rua de Santa Catarina transformada um gigantesco bordel, imaginando
situações do tipo «leve três e pague duas» ou «pague o seu bacanal em dez suaves
prestações». Mas era sonhar muito alto.
Foi este tipo de gente que fez engolir em seco muitas pessoas honestas e com dignidade
que estavam ligadas ao clube. Alguns protestaram, defenderam a ideia de que o clube tinha
de ser gerido com mais transparência e acabaram por ser afastados. Como aconteceu com
Alberto Magalhães, reputadíssimo empresário.
PC, cada vez mais lá no alto, qual Deus do Olimpo, qual César à frente das legiões, não
dava tréguas:
- Aqui quem manda sou eu, e quem não estiver bem que se afaste!
O clube vivia momentos conturbados em termos directivos, mas os resultados
desportivos eram óptimos. Consequentemente, Reinaldo Teles ia subindo na hierarquia do
clube. Já tinha subido de chefe de segurança a chefe de departamento de futebol, uma
ascensão que deixou muita gente de boca aberta, mas que foi aceite sem grande
contestação, pois nessa altura já Reinaldo tinha todo o seu staff de segurança organizado.
Reuniu alguns dos maiores rufias da cidade, alguns dos seus conhecidos dos negócios
marginais e de prostituição, e impôs um cordão de silêncio tanto a jornalistas como a
dirigentes. Quem contestasse ou denunciasse algo que não convinha, recebia a visita de um
desses marginais e ficava sem vontade de dizer mais nada, subordinando-se ao silêncio e à
aceitação dos factos.
Nem os sócios conseguiam fugir a esta perseguição.
Mas quando as derrotas surgem ou os resultados demoram a aparecer e as exibições
não são as melhores, há sempre associados que contestam. No final de um jogo em que o
clube tinha perdido, um associado, passando ao lado dos balneários, não se coibiu de lançar
alguns insultos ao presidente e seus pares.
Filhos da puta, chulos, vão trabalhar!
Pinto da Costa, que estava de sobretudo e mãos nos bolsos, tendo a seu lado Reinaldo
Teles e mais dois dirigentes de menor importância, todos rodeados por quatro capangas, deu
de imediato uma ordem em surdina:
- Fodam-me esse gajo!
Os quatro capangas deram meia volta, seguiram o indivíduo até às imediações do
estádio e deram-lhe uma sova, perante o olhar incrédulo das outras pessoas que não sabiam
muito bem o que se estava a passar. Era a lei da força e do silêncio.
O esquema estava montado, e dirigente que ousasse abandonar o clube e falar do que
ouviu ou viu, sabia bem o que lhe poderia acontecer.
O grupo de seguranças foi-se refinando alicerçado pela parcialidade e impunidade com
que os próprios jagunços era tratados e alongou-se até alguns agentes de autoridade que
não se importavam de ostentar as suas armas como forma de intimidação. Foi sobre esta
onde de poder e segurança que Pinto da Costa construiu o seu império e imperializou a sua
própria imagem. Ele sentia-se um Al Capone à portuguesa, com a vantagem de não poder ser
apanhado pelo fisco, pois não tinha rendimentos legais que justificassem qualquer
tributação. Tinha, isso sim, o poder nas mãos e ficou ainda mais seguro disso a partir do
dia em que se aliou a um bruxo muito conceituado em terras brasileiras que dava pelo nome
de Pai João (Delane Vieira), um bruxo que não se limitava aos orixás, fornecendo também a
equipa de futebol com frasquinhos de vidro que continham um guaraná em pó muito
especial, esmagado por uma tribo de índios do interior do Brasil. O speed, normalmente
recomendado para os gulosos do sexo, ajudava os craques e, aliado à normal injecção de
«vitaminas», tornava-os super-homens dentro do campo. E era certo que a aparelhagem do
anti-doping estava completamente desajustada para detectar o que quer que fosse. Mas até
este sector, a seu tempo, foi devidamente controlado.
Entretanto, Reinaldo Teles não cessava a sua actividade, continuando a arranjar as
melhores amantes para Pinto da Costa e a dar-lhe toda a protecção. Rodeado de poder, mas
ainda sem dinheiro, o presidente, como lhe chamava Reinaldo, tinha algumas limitações, mas
nunca esqueceu o velho amigo Ilídio Pinto, a quem continuava a extorquir o dinheiro que
queria para efectuar alguns negócios, sempre com a promessa de que um dia este viria a ser
vice do futebol profissional.
- É uma questão de tempo. Você tem de ter paciência. Necessito de si em lugares
mais importantes para a vida do clube. Um dia o futebol será seu.
Com estas palavras de Pinto da Costa, o Ilídio lá ia passando uns cheques e cobrindo
algumas despesas, porque fortuna pessoal foi coisa que nunca se conheceu ao presidente.
O grande negócio acabaria por surgir.
Um clube espanhol (Atlético de Madrid) interessou-se pela aquisição de Futre, e o seu
presidente resolveu vir a Portugal contactar o jogador, sem antes consultar o clube de Pinto
da Costa. Mas a organização, constituída por mais de uma dezena de guarda-costas, estava
sempre bem informado de tudo quanto se passava na cidade e essencialmente dos assuntos
que diziam respeito ao clube. Por isso, quando chegou a boa nova de que o presidente do
clube espanhol estava em Portugal para falar com Futre, foi de imediato colocado um plano
de ataque em marcha, cujo nome de código era «A Caça à Peseta».
Apesar de Gil y Gil estar, no seu país, bem à altura de Pinto da Costa, quando veio a
Portugal estava muito longe de saber o que lhe ia acontecer. Chegou ao Porto e combinou
encontro com um empresário, para avaliar a possibilidade de levar Futre para Espanha. O bar
era pequeno e decorado de uma forma simples. No fundo da sala, um pouco na penumbra,
estava sentado Gil y Gil à espera do tal empresário quando irromperam pela sala dentro
quatro indivíduos que, sem darem cavaco a ninguém, o rodearam e apertaram contra a
parede, lançando o aviso:
- Se voltas aqui sem primeiro falares com o presidente do nosso clube, podes ter a
certeza que não sais daqui vivo. Na próxima, não há aviso! - rugiu Reinaldo, decalcando o
final da sua declaração de um filme que tinha visto em Pinheiro da Cruz.
Estas palavras foram ditas com tanta certeza e segurança que Gil y Gil quase se mijou
pelas pernas abaixo. Fora a sua primeira lição como futuro presidente de um dos melhores
clubes espanhóis. «Coño, em Portugal não se brinca», suspirou, ainda com as pernas a
tremer como varinhas verdes.
Gil y Gil não disse palavra, limitando-se a sair do bar e a enfiar-se na sua viatura,
acelerando, sem olhar para trás, até Espanha. Gil até se esqueceu de comprar um queijo da
serra em Vilar Formoso, como prometera a Carmen, a sua amante de Madrid/Sul.
Já no seu território, contactou directamente com Pinto da Costa, e este, sem muitas
palavras, indicou-lhe um interlocutor: Luciano D´Onofrio.
- O seu braço direito? - quis saber Gil.
- Mais ou menos, pois será ele a conduzir o assunto - informou PC.
Gil y Gil ficou tão impressionado com a acção de Pinto da Costa que resolveu oferecer um
extra ao seu congénere português: uma vivenda em Madrid.
- Sim senhor, mas numa zona fina, se faz favor - aceitou PC de pronto.
D´Onofrio entretanto colocou outro jogador (Rui Barros)de PC num clube italiano
(Juventus) e a soma da venda de Futre e desse jogador vendido para Itália foi de 1 milhão e
200 mil contos, uma verba que PC nunca teria imaginado poder passar pelas suas mãos. De
imediato, PC juntou todo aquele dinheiro e abriu uma conta particular, prometendo aos seus
parceiros de direcção que aquela verba iria servir exclusivamente para a compra de jogadores
para o clube. Todos acreditaram, mas esse dinheiro desapareceu como o fumo. Para amostra
não ficou nem sequer um mísero escudo.
As ligações de Pinto da Costa com situações marginais começaram a ser comentadas, e
isso criou um certo descontentamento entre alguns directores, nomeadamente no patrão da
sua empresa, Alfredo Costa, e presidente do Conselho Fiscal do clube. Ninguém como Alfredo
Costa conhecia a vida de Pinto da Costa e, por isso, sabia muito bem que este andava a
vivera além das suas reais possibilidades, entrando em outros negócios e noutras sociedades,
sem se lhe conhecer a proveniência do dinheiro. Desconfiado desta situação, como
presidente do Conselho Fiscal do Clube, Alfredo Costa um dia interpelou Pinto da Costa sobre
o milhão e duzentos mil contos da venda dos dois jogadores, mas como resposta obteve
apenas:
- Não tenho de dar contas a ninguém.
Alfredo Costa estava de pé frente à secretária de Pinto da Costa e quase não acreditou
no que estava a ouvir. Aquela era a confirmação de que o dinheiro tinha mesmo
desaparecido e não pactuou mais com a situação, demitindo-se do seu lugar de presidente do
Conselho Fiscal do clube, ao mesmo tempo que intimava Pinto da Costa a abandonar a sua
empresa.
Alfredo Costa não teve contemplações:
- Recuso-se a trabalhar com gente desonesta. Na minha empresa não posso ter
indivíduos do seu quilate.
Pinto da Costa estava na mó de cima e não ficou muito preocupado com a situação. Uma
grande parte daquele milhão tinha sido investido em várias empresas com ligações a
familiares seus, mas sem o mínimo de capacidade de gestão, e todas acabaram por falir. O
dinheiro fácil nunca é bem gerido, e o clube já estava a pagar as aventuras do seu
presidente.
Mas os fiéis associados pouco se importavam com essas contas. Eles não queriam saber
de gestão, mas de golos, e esses não faltavam. Pinto da Costa e Reinaldo Teles também
sabiam disso e tinham de se organizar no sentido de garantir que esses golos e essas vitórias
nunca haveriam de faltar.
Para deixar a empresa onde trabalhava, Pinto da Costa ainda teve que pagar sete mil
contos e ficou sem carro por uns tempos. O milhão e tal de contos tinha desaparecido sem
deixar rastos e tinha deixado de...rastos PC, a contas com a justiça, por cheques sem
cobertura e penhoras a bens pessoais. Foi um momento difícil, mas que não abateu o
presidente, levando-o antes a pensar que o seu negócio era o futebol. Era nessa área que se
movia como peixe na água, e a modalidade não estava a ser devidamente explorada. Todos
os movimentos foram reprogramados, de forma a que o clube tivesse uma gestão capaz de
alimentar o seu presidente.
Reinaldo Teles acabou por subir na escala do poder no clube. O vice para o futebol foi
afastado, e Reinaldo chegou-se mais ao presidente, ocupando o lugar deixado vago.
A vaidade pessoal de Reinaldo levou-o a abrir mais uma casa de alternos, desta vez mais
chique e refinada. As putas eram de melhor qualidade e o champanhe também. Pinto da
Costa não perdia um strip-tease, e quando lhe agradava, saboreava ao vivo a estrela do
espectáculo. PC sentia-se cada vez mais um Al Capone à portuguesa.
Sempre rodeado de guarda-costas, assumia a pose do gangster e já tratava as raparigas
da forma que um dia vira num filme americano, nos seus tempos de liceu.
Tinham surgido alguns escândalos e alimentava-se a desconfiança em relação à forma
como os dinheiros estavam a ser geridos e distribuídos, mas aos poucos a organização
refinou-se, de forma a não deixar rastos. Luciano D´Onofrio era um gangsterzinho e foi-se
apercebendo da forma pouco cuidada e pouco profissional como os assuntos eram tratados e
em alguns negócios governou-se com mais dinheiro do que aquele que ficara combinado, e
para anular essas fugas, Pinto da Costa resolveu montar uma sociedade secreta na Suíça
para que existisse um maior secretismo. D´Onofrio era uma figura envolta em algum
mistério. Tanto aparecia como, quase por artes mágicas, desaparecia, o que acontecia
normalmente quando se adivinhavam maus momentos. Estas artes de prestidigitador livramno
de muitos sarilhos, embora alguns anos mais tarde Luciano não tivesse conseguido evitar
alguns dias de detenção num calabouço suíço, por suposta ligação a um caso futebolístico
que abalou o futebol francês(Marselha).
PC confiava cegamente no seu amigo Luciano.
- D´Onofrio, vamos legalizar a nossa situação montando uma empresa de compra e
venda de jogadores. No meu clube só você vende e compra todos os atletas, mas podemos
estender o nosso negócio até outros clubes desde que se mantenha segredo absoluto.
Está bem , presidente, você é que manda. Um dia ainda há-se ser como o Berlusconi.
Pinto da Costa não perdeu tempo.
Vamos já formar essa sociedade, porque tenho um negócio para ser feito já.
Na semana seguinte já estavam os dois na Suíça para legalizarem a empresa de compra
e venda de jogadores.
O seu primeiro negócio foi com um clube francês(Matra Racing de Paris) cujo
treinador(Artur Jorge) já tinha passado pelo clube de PC.
- Temos de realizar dinheiro, porque as coisas não estão muito boas. As empresas que
tenho montado têm dado uma grande barraca e levam-me o dinheiro todo. Temos o Plácido
para vender a um clube francês.
Luciano D´Onofrio arregalou os olhos e disse com espanto.
- Mas, presidente, esse jogador não tem cotação europeia.
- Não se preocupe com isso, porque quem lá está vai querê-lo.
D´Onofrio, ainda sem acreditar no que ouvia, apesar de toda a sua experiência no mundo
das vigarices, perguntou:
-Como vai ser feito o negócio?
-O nosso clube vende o Plácido à nosso empresa por 60 mil contos e nós vendemo-lo ao
clube francês por 160 mil contos.
Desses negócios é que eu gosto. Ganhamos mais que o clube.
-Tenho que dar uma volta à minha vida e começar a ganhar dinheiro, porque o que já
perdi não foi pouco. No futebol é que está o nosso grande negócio.
Luciano D´Onofrio arregalou os olhos e pensou de imediato em ir um pouco mais
adiante, mas resolveu não falar disso com o presidente. Preferia colocar o problema a
Reinaldo Teles, que era um elemento mais acessível para as situações de ilegalidade.
Logo que pôde, encontrou-se com Reinaldo Teles e convenceu-o a falar com o
presidente.
-Reinaldo, temos um negócio que dá dinheiro que se farta, mas tens de ser tu a falar
disso ao presidente.
-Reinaldo olhou-o pensativo, mas lá acabou por se decidir.
-Não venhas com tangas p´ra mim. Diz lá que o que queres que proponha ao
presidente.
-Tenho feito aí uns negócios com cocaína e nem imaginas o lucro que isso dá.
-Estás maluco. Pensas que o presidente vai numa coisa dessas?
-As coisas estão más e é necessário realizar dinheiro. Com a protecção que o futebol dá,
podemos trabalhar à vontade.
Reinaldo Teles convenceu-se de que, de facto, havia alguma razão nas palavras de
Luciano D´Onofrio e comprometeu-se a falar com o presidente sobre o assunto.
Pinto da Costa ouviu atentamente Reinaldo e mandou-o avançar com a ideia, mas ele
queria ficar de fora.
-Resolvam lá isso vocês os dois, mas deixem-me de fora para poder controlar melhor a
situação.
Reinaldo Teles não era burro e ficou desconfiado. Naquele momento não disse nada
mas, passados dias, voltou a falar do assuntos.
-O melhor é ficarmos os dois de fora, e eu arranjo alguém para tratar do assunto
directamente com D´Onofrio.
De início, o negócio correu bastante bem, mas passados alguns meses, a polícia
começou a ameaçar com algumas buscas, tendo inclusive ido esperar o autocarro do clube à
portagem dos Carvalhos para o revistar de alto a baixo. Mas nunca encontrou nada, porque a
rede estava bem montada e não faltavam informadores. No entanto, Pinto da Costa sentiu o
perigo que essa situação podia estar a criar e, como tinha consciência de que inimigos era
coisa que não lhe faltava, depois das primeiras prisões de pessoas ligadas ao grupo que
actuava em paralelo com D´Onofrio, deu ordem para se terminar com o negócio da cocaína
que começava a ser vendida um pouco descaradamente pelos jogadores de futebol.
Pinto da Costa não perdia tempo. Não dormia só para pensar. A «coca» garantia muitas
horas de espertina, no fim de contas.

14 comentários:

Anónimo disse...

já li este livro há uns anos valentes.

Anónimo disse...

já li este livro há uns anos valentes.

Anónimo disse...

ainda estou à espera de um envolvimento do sporting em escutas, etc.

Anónimo disse...

Não sei se estão envolvidos em escutas ou não.
Mas sei que no ano do Jardel ganharam o campeonato com 21 penaltys a favor, que é record absoluto talvez em toda a Europa.

No ano passado também não têm muito que se queixar...


O livro é de 1996, mas na versão das livrarias tinha nomes fictícios

Anónimo disse...

Mas não tenho dúvidas que a equipa mais beneficiada pelas arbitragens nos últimos vinte anos em Portugal foi o F.C.Porto.Basta ver o que se passava nos relvados. Não é necessário ouvir escutas.
Aliás, se olharmos aos títulos vemos logo quem mais beneficiou com o chamado "sistema".

Penso que os campeonatos de 1992 e 1993 foram o apogeu do escândalo, com Lourenço Pinto (actual advogado de Pinto da Costa no caso APito DOurado na presidência do Conselho de Arbitragem).

A ascenção do F.C.Porto ao topo do futebol nacional deveu muito a esses anos, e à forma estranha como então conseguia vencer campeonatos.
Depois foi ganhando dinheiro na Champions, beneficiou das más gestões alheias, e transformou-se naquilo que hoje é : um clube de primeiro plano europeu.

Anónimo disse...

E digo mais,

Um verdadeiro processo "Apito DOurado", deveria ir mais longe e esmiuçar questões relacionadas com doping e com subornos a adversários.
Acho que há muito também a investigar nessa matéria, também nos anos que referi e daí em diante.
Este livro dá algumas pistas.

Toupeira disse...

Tanta lenga-lenga de coisas inventadas há dezenas de anos e que já estão mais que comentadas (mas que nunca foram provadas!) e nada sobre as notícias actuais?

Ou o facto de Luís Filipe Vieira e José Veiga terem sido apanhados nas escutas do processo Apito Dourado não tem importância?

Assim como o facto de todos sabermos que a gloriosa justiça à moda da segunda circular não os tratou da mesma maneira que tratou outros dirigentes desportivos, alguns com menos culpas no cartório!

Por falar nisso, não é estranho que árbitros lampiões e anti portistas como Paulo Paraty, Lucílio Baptista, Bruno Paixão e outros, sejam arguídos no processo Apito Dourado? E o Veigarista? E o presidente do Benfica que prefere o Paulo Paraty e o João Ferreira aos outros que lhe foram oferecidos? É tudo normal? E também é normal que agora que se sabe que os lamps gostam de falar ao telefone com Valentim Loureiro, os jornalistas e juristas da segunda circular se tenham lembrado que afinal esta porcaria é toda inconstitucional? Pois...;)

Anónimo disse...

volto a perguntar:
então e o sporting, que ainda ganhou um ou outro dos muitos que poderia ter ganho?
não aparecem notícias?
ahh pois é...

LF disse...

Caro Álvaro,

Não me parece que as escutas reveladas da conversa de Vieira com Valentim Loureiro tenham, nem de perto, a gravidade de algumas das acusações constantes do Apito Dourado.
Uma coisa á fazer lobby para evitar certas nomeações de árbitros hostis, outra é subornar árbitros com prostitutas e promessas de promoção.

Parece-me evidente quem nos últimos trinta anos mais beneficiou do sistema. Basta fazer a contabilidade dos títulos, sobretudo se nos lembrarmos quem dominou anos a fio o conselho de arbitragem da FPF, e a forma como os jogos decorriam.

Mas, sejam quem forem os envolvidos, acho que o caso Apito Dourado deve ir até às últimas consequências, o que cada vez duvido mais que venha a acontecer. Infelizmente.
Digo isto sobretudo como adepto do futebol, mas também como benfiquista...
Estou absolutamente seguro de onde estão as maiores culpas.


NOTA: Lucílio Baptista lampião ????
É talvez o árbitro mais próximo do Sporting de toda a Liga, desde há muitos anos para cá.
Tenho um post sobre ele. Está nos arquivos (vésperas do Sporting-Boavista da temporada passada, salvo erro)

LF disse...

Cj,

Eu não punha as mãos no lume.
Na época passada, desde que Carlos Freitas e Miguel Ribeiro Telles (re)entraram para a direcção do SPorting, foram a equipa mais beneficiada pelas arbitragens.
Terá sido coincidência ?

Anónimo disse...

A propósito deste post, lembro-me de ver um Penefiel / Porto nas Antas com o Oliveira como treinador/jogador. O Penafiel tinha um tipo africano na frente extremamente rápido (não me lembro do nome) e o Oliveira no meio-campo a meter-lhe as bolas. Do outro lado uma equipa do Porto apostada em queimar o Walsh que se calhar ganhava mais que os outros.
Já não me lembro da marcha do marcador mas o resultado final foi de 2-2. Ao segundo golo do Penafiel, uma massa imensa de gente subiu as bancadas direito ao camarote presidencial, para fazer não sei o quê se o Dr. Américo de Sá ainda lá estivesse...o resultado poderia ter sido 2-3 se o Oliveira no final não tivesse falhado um golo com a baliza aberta. Segundo alguém presente no local onde o Oliveira jantou nessa noite, ele explicou que falhou o golo senâo não sabia como acabava aquilo com os sócios do Porto em polvorosa. Além de que o Penafiel ficava todo contente com o empate...

Anónimo disse...

Como já dizia o nosso inefável Toni, as contas dos prejuízos e benefícios acabam por ficar equilibradas no fim de cada época.
No jogo da Madeira, o golo foi nítidamente irregular (o Nani ganha a bola em falta ao defesa do Nacional e continua a jogada até ao golo). O tipos deveriam ter empatado (1 ponto) e ganharam (3 pontos, logo 2 a mais);
Ontem sofreram um golo irregular (com a mão) e perderam quando deviam ter empatado. (1 ponto a menos)
Logo, nos dois jogos, deveriam ter feito 2 pontos no total e fizeram três! Ainda devem um...

Toupeira disse...

Não podes olhar para o Porto como um clube corrupto só porque em Portugal venceu mais títulos que os outros. Isso seria o mesmo que dizer que um tipo é corrupto só porque é rico e esquecermo-nos que a maioria dos ladrões e corruptos até são pobres. Vê o exemplo do José Veigarista!

Porque nos últimos vinte anos o Porto também venceu uma SuperTaça Europeia, foi duas vezes Campeão da Europa e duas vezes Campeão do Mundo!

Algo que lamps e lagartos nem sequer cheiraram! E tirando os adeptos deste país de terceiro mundo que é Portugal, ainda não vi um único adepto de outro país europeu e mundial vir dizer que ganhamos à custa da putas ou as merdas que os anti portistas imaginam, até porque se formos falar em putas os únicos clubes portugueses acusados de comprar árbitros europeus com putas foram precisamente o Benfica e o Sporting.

"As mulhares que amaram Mr. King" diz-te alguma coisa? Veio no jornal A Bola...orgão oficial do Benfica.

http://jorgenunopintodacosta.blogspot.com/2006/01/o-sistema-poca-200506-3.html

Anónimo disse...

Álvaro,

Não quis dizer que o F.C.Porto era um clube corrupto em si, nem que o era ´somente porque ganhava mais campeonatos.

O que digo é que o apogeu do chamado "sistema" (que agora se percebe muito bem o que era) coincidiu com a ascensão do F.C.Porto e com a queda do Benfica em termos de resultados, o que não deixa de ser uma coincidência engraçada.
Outra coincidência é o facto de justamente no ano em que a arbitragem começou a ser investigada o Benfica ter voltado a ganhar títulos.

O F.C.Porto ganhou muitos campeonatos por ter a melhor equipa (nos anos de Mourinho tinha uma das melhores equipas de sempre do futebol português), mas também ganhou alguns beneficiando de arbitragens favoráveis.
Para mim o período mais escandaloso foi o de 91-92 e 92-93 (quando foram campeões com Bandeirinha, Tozé, Kiki, Vlk, Mitarski etc), quando cada jogo era uma guerra total, com casos incríveis de arbitragem, penaltis inventados nove minutos depois da hora como uma vez em Famalicão, very lights lançados aos guarda-redes aquando da marcação de penaltis e um sem número de decisões absurdas e atropelos aos regulamentos que sempre favoreciam o mesmo lado.

O presidente do conselho de arbitragem era então Lourenço Pinto, agora advogado de Pinto da Costa e conhecido portista.

Quantas vezes foi nos últimos trinta anos o Benfica prejudicado nas Antas ?
Lembro-me de golos limpos de Kandaurov, de Amaral (em épocas diferentes), de expulsões injustas de Ricardo Rocha, de Eder, de Rojas etc, de penaltis inventados, para além de um clima de intimidação generalizada que nunca teve paralelo em Lisboa, e que contou sempre com a complacência das arbitragens e mesmo da polícia (lembram-se do guarda Abel ?).

Não conheço essa história (Mr.King), mas não sou ingénuo ao ponto de pensar que o tráfico de influências se situa só no Porto.
Mas é claro que enquanto os clubes de Lisboa mudaram várias vezes de orgãos gerentes, o F.C.Porto manteve sempre o seu presidente, o que fez com que ele lidasse muitíssimo melhor com o sub-mundo do futebol portugues, e contribuisse para o edificar de uma teia em seu redor que muito ajudou o F.C.Porto a tornar-se num grande clube europeu.

Já que se fala em Ligas dos Campeões, temos que recordar que em Manchester o F.C.Porto foi francamente beneficiado pela arbitragem. Mas ainda bem que ganhou a taça.
Tinha uma grande equipa nessa altura.


Agradeço a participação.
É extremamente enriquecedor contar também com portistas neste espaço.