CONTRA A CORRENTE

Dois dos temas que mais estiveram em foco nas últimas semanas foram a petição pela verdade desportiva, e a pausa natalícia. Em ambas, a minha opinião diverge da maioria dos analistas.
Começando pelo segundo caso, é uma falsidade afirmar-se que só em Portugal param os campeonatos. Pelo contrário, só há um país onde não param (Inglaterra), e mesmo nesse há quem aponte o excesso de competição como responsável pela insuficiente prestação dos seus clubes nas fases mais adiantadas das provas europeias – em dez anos de Liga dos Campeões e Taça UEFA, as equipas inglesas só levantaram 3 troféus em 20 possíveis, o que não corresponde ao seu peso desportivo e financeiro. Espanha e Itália param uma semana, Alemanha e França param ainda mais, para referir apenas as principais ligas europeias. Estamos pois muito bem acompanhados.
Falando por mim, que adoro futebol, devo dizer que me sabe bastante bem um período natalício sem ele. Permite pôr as leituras em dia, rever filmes, dedicar mais tempo à família e às suas exigências, tranquilizar emoções, redefinir prioridades, acalmar o espírito. Acredito que quem viva do futebol (jornais desportivos, televisões etc) tome esta paragem por prejudicial. Não creio que seja o caso do adepto comum.
O que esteve em causa foi um fim-de-semana. Um simples fim-de-semana, que por acaso era justamente o de natal. O Benfica-FC Porto disputou-se a 20 de Dezembro, e a 3 de Janeiro já se estava a jogar para as taças. Nada a opor. Talvez devesse apenas fazer-se um esforço para que a paragem coincidisse com o fim da primeira volta, que mais não seja por uma questão de geometria.

Quando às novas tecnologias, há que primeiro definir muito bem o que são elas (o vídeo é uma nova tecnologia?), e como se pretende que façam parte do futebol (só ao nível da linha de baliza? para todos os lances de dúvida?), coisas que talvez não tenham passado pela cabeça de uma larga fatia dos subscritores da petição.
Não discuto as boas intenções de Rui Santos (acredito que gosta de futebol, e faz tudo isto em nome do que acha melhor para a modalidade), mas, quanto a mim, as suas propostas carecem de aplicabilidade.
Estou com Platini e com a FIFA. O futebol existe há mais de um século, e a razão da grande popularidade de que desfruta em todo o mundo está na manutenção das regras, e na sua simplicidade quase infantil. Um jogo do campeonato da Tanzânia é formalmente idêntico a um da Champions League, e assim deve continuar a ser. Mesmo no contexto nacional, ninguém acredita que seja possível aplicar qualquer tipo de tecnologia aos campeonatos distritais, ou mesmo às divisões secundárias, pelo que qualquer alteração de fundo corre o risco de partir o futebol em dois: o dos ricos e o dos pobres. Isso não parece preocupar Rui Santos.
Por outro lado, não sei muito bem como é que as “novas tecnologias” (vídeo?), poderiam decidir lances de fora-de-jogo, ou de penálti, sem se tornarem devastadoras para o ritmo e para o dinamismo dos jogos. No Râguebi ou no Ténis as paragens são já uma constante, mas o Futebol é um desporto corrido, que se pretende com o menor número de interrupções possível. Além disso, subsistem vários problemas de operacionalidade: como recomeçar o jogo após consulta ao vídeo em casos de não-infracção?, em que momento e como interromper os lances para consulta ? quem fornece as imagens ? como são escolhidas as câmaras ? seria possível instalá-las da mesma forma em todos os estádios ? quem iria pagar ? transferir-se-ia a suspeição do campo da arbitragem para o da realização das transmissões, sendo que esta passaria a interferir nas decisões ? São dúvidas que provavelmente resultariam numa resposta pouco satisfatória, mesmo para muitos dos adeptos da implementação destes métodos.

No fundo, as tecnologias são um caminho do qual só vemos o princípio e desconhecemos onde nos leva. Estou em crer que, não só não iriam dissipar as suspeitas (mesmo vendo as imagens raramente há unanimidade nos lances mais polémicos), como as iriam porventura alargar a outros âmbitos.
Para além de tudo isto, clubismos à parte (cuja cegueira por vezes tolhe as almas e os pensamentos), não creio que as arbitragens sejam o problema principal do futebol - todos vemos a Liga Inglesa na televisão, alguém acha importante alterar ali alguma coisa?
Num ambiente de grande crispação competitiva, custa-nos admitir que o nosso clube possa ser de alguma forma prejudicado, e é isto, para além do tradicional gosto do português em polemizar, que, exacerbado por programas televisivos verdadeiramente terroristas, trás as discussões de arbitragem para a ordem do dia. Tudo resulta naturalmente amplificado depois de duas décadas de manipulação de resultados em favor de um certo clube, sem que se tivessem visto as consequências justas. Mas a verdade é que, desde 2004, desde que foi desmascarado o polvo que dominava o nosso futebol, que, prejuízo aqui, benefício ali, não se nota qualquer tendência predominante nas arbitragens portuguesas que não seja a da simples incompetência. Em Portugal preocupa-me neste momento bem mais, por exemplo, o doping, ou a satelização de clubes, do que propriamente a arbitragem, pois esta até é relativamente passível de escrutinar.
Gosto de ver o futebol ao vivo, e quem o vê sabe que a maioria dos “escândalos” só emerge depois de três ou quatro repetições televisivas filmadas de vários ângulos. Já saí muitas vezes do estádio convencido de ter assistido a um bom espectáculo e a uma boa arbitragem, e é na televisão e em seus debates sanguinários que mais tarde vejo a barraca a ser montada por aqueles que nem pagaram o bilhete. Tal como Platini, creio que é justamente a televisão que está a matar o futebol, não só neste aspecto, como na hemorragia de transmissões - eu ficaria bem com quatro ou cinco joguinhos por semana, e só para o próximo fim-de-semana, sem PFC nem parabólica, estão programados cerca de trinta! - ou ainda na forma como impõe horários absurdos, afastando irreversivelmente as pessoas das bancadas. É natural que um homem como Rui Santos, que ganha a sua vida nesta espécie de parafutebol televisivo (um outro desporto, do qual não sou particular apreciador) pense de outra forma.
Para se combater a suspeição havia caminhos muito mais simples e eficazes, para além, naturalmente, de uma maior preparação dos árbitros. Por exemplo: proibir contactos entre eles e dirigentes, proibir empréstimos de jogadores a clubes do mesmo campeonato, alterar regulamentos no sentido de punir com irradiação imediata dirigentes e árbitros envolvidos em praticas de corrupção (desde a visita para o cafezinho à mala cheia de dinheiro) consumada ou não, e com descida de divisão os respectivos clubes. Este sim seria um caminho para um futebol mais puro, mais verdadeiro, sem perder uma gota da sua humanidade. Gosto demasiado do futebol como ele é (jogadores, relva, bola, balizas e árbitro). Espero bem que nunca o estraguem.

10 comentários:

Jotas disse...

Caro LF, tanto num ponto como noutro concordo contigo.

iBenfiquista disse...

LF, totalmente de acordo.

Vasco disse...

Isso é uma atitude conservadora e um contra-senso de tudo aquilo que criticavas, com um chip na bola e outras coisas que existem muita corrupção terminaria. Veja-se na NBA ou em outros desportos, futebol não é um desporto mais dinâmico devido à FIFA e já para não falar dos milhões que se aposta no futebol para depois ir por água abaixo por erros(recordo o Chelsea-Barcelona)..

-=amadorjp=- disse...

No primeiro ponto, acho que se poderiam continuar os campeonatos, mas não se continuando, os clubes que arranjem jogos particulares para rotinarem os jogadores.

Quanto às tecnologias no futebol, esclareço que já é possivel identificar a posição exacta dos jogadores no campo, podendo assim eliminar a totalidade das dúvidas no caso de fora de jogo. Nas balizas basta colocar-se uma barreira volumétrica e caso se quisesse micro cameras como as do hoquei no gelo. No caso dos penalties... penso que a solução são as cameras inteligentes que já se usam em hipermercados e centros comerciais que filmam em pormenor tudo o que é acção real e são altamente programáveis.

Assim o futebol era mais real e não havia tanta suspeição. Acho que todos os que gostamos de futebol, gostaríamos de ter futebol a sério e não penalties inventados, golos fora de jogo e bolas que entram serem anuladas porque o árbitro não viu ou não quis ver.

É simples de colocar em prática, não é muito caro e repunha muita verdade no futebol português.

Platini não aprova, mas quem aprova golos como o do Henry para colocar a sua França no Mundial, não tem grande credibilidade!

troza disse...

Sinceramente? Quem não quer as tecnologias no campo são aqueles que continuam à espera da ajuda dos arbitros.

Os arbitros não conseguem ver tudo, não são protegidos por ninguém mas também não levam castigos por errarem. Isto em Portugal, na UEFA e FIFA... Em Inglaterra já se tem feito experiencias com tecnologia, os arbitros são protegidos e se erram têm de assumir responsabilidades. Resultado: O futebol inglês ainda é o mais atractivo do mundo enquanto que o outro é cada vez menos visto e, inclusivé, menos corrido.

Mas quanto ao facto das novas tecnologias não serem a solução, isso não são. Fazem parte dela. As mentalidades têm de mudar. Os arbitros tem de começar a escrever nos relatórios aquilo que vêm, têm que começar a ser protegidos para ter mais confiança a apitar e ser classificados realmente de acordo com o que apitam e assumir responsabilidades pelos seus erros. Um jogador que faça porcaria é suspenso... porque não um arbitro ao estragar um jogo de futebol?

Os jogadores, treinadores, jornalistas devem falar somente de futebol e deixar as arbitragens para quem é responsável por elas. Isto seria outra forma de começar a mudar mentalidades. Futebol não é arbitragem é jogo.

Outra ideia seria regras para campeonatos e jogos decididos pela arbitragem. Que culpa tem o clube que ganha da incompetencia do arbitro? Que culpa tem o clube que perde? Eu acho que isto sim, é um verdadeiro quebra cabeças e nem sei se é viável. E volto às tecnologias: é necessário garantir que o arbitro faz a melhor arbitragem possivel.


E quanto a outros desportos... Sou um grande fã de basquetbol e o desporto evoluiu. Posso não estar de acordo/gostar da forma como evoluiu na NBA mas o futebol bem que podia aprender muita coisa. Se tudo evolui, que o futebol também evolua. Por acaso, nos últimos anos (pelo menos em Portugal) evoluiu muito no tempo perdido: em poucos anos o jogo jogado diminuiu muito... soluções? Deixar estar foi a escolhida? Foi boa... não!

Por ultimo, a pausa no campeonato... Daqui a pouco só se falta queixarem das férias de verão e sugerirem que o verão devia ter uma liga própria. A verdade é que a pausa fica muito bem. Ok, 2 fins de semana sem campenoato é mau... Quebra o ritmo da coisa? Talvez... Pode mudar o desenho todo? Pode... Uma equipa pode ir muito bem e ir abaixo depois da pausa e a que vai mal consegue recuperar, enquanto que, se fosse tudo jogado de seguida, não era assim... Mas não é o mesmo que se passa quando há jogos de selecção? É. Então não há razão de queixa. Um fim-de-semana sem jogos só faz bem!

Se calhar, em vez de se preocuparem com a pausa, é por o critério do confronto directo para segundo plano e por a diferença de golos como critério de desempate principal. Não faz sentido numa competição entre 16 equipas, as igualdades pontuais não se desfazerem (em primeiro lugar) pela prestação geral desse campeonato e reduzir isso a dois jogos... Mas isso é a minha opinião...

Nuno Figo disse...

Concordo... em parte.

A aplicação de (novas...) tecnologias tem vários problemas, que LF bem aponta. Nomeadamente, a tal criação de um futebol de ricos e pobres... seria lamentável. E a componente prática, sobre a possibilidade de colocar câmaras de forma capaz em todos os estádios, de forma igual (só assim seria uma medida justa).

A utilização de chip para identificar a posição exacta dos jogadores e bola - apesar de só possível no futebol de ricos - é a mais aceitável - acabando-se então com as actuais funções do árbitro auxiliar e removendo as dúvidas de golo, bola fora do campo e fora-de-jogo.

Mas antes de tudo isto, podia ser feita muita coisa... sem alterar as leis.
Dois meros exemplos:
- microfone no árbitro. Em muitos desportos, o árbitro tem de informar ao público (ou à mesa, publicamente), qual a falta que assinalou. É algo que torna de imediato transparente a sua actuação
- cronometragem e outras funções pelo 4º árbitro. O 4º árbitro devia ser responsável pelo cronómetro, por indicação do árbitro. Ficaríamos a saber quando é que o mesmo indicou paragem e reinício do tempo de jogo. O 4º árbitro podia também servir como "mesa" - apontando, por exemplo, as acções disciplinares (acabando a rábula do árbitro a escrever no cartão).

Anónimo disse...

Estas questões são mesmo quem tem o QI medíocre!

Então esta de criar ricos e pobres já não existe?

Será que os clubes são todos endinheirados?!

Será que tem todos os estádios com as condições parecidas?!

Todos tem relvado?!E todos são das mesmas dimensões?!

Os árbitros são de iguais qualidades e ganham todos o mesmo desde os nacionais os distritais?!


Acho que tudo anda a delirar...

Anónimo disse...

Já uma vez escrevi sobre a petição pela Verdade Desportiva para dizer que não a assinaria. Contudo, concordo com a introdução das novas tecnologias na arbitragem do futebol. Mas vamos por partes.
Concordo com a aplicação de todos os meios que nos aproximem da verdade, porque considero que a qualidade da arbitragem é claramente insuficiente para a dimensão mediática do futebol. Não é possível estarmos a ver uma realidade na TV que não é acompanhada pela “justiça” do futebol em campo: o árbitro. E ao árbitro é muitas vezes impossível ver a realidade, como nós a vemos.
O desfasamento que existe entre a realidade visível por um vulgar espectador e a decisão tomada é demasiado evidente nos dias de hoje para ser suportável. Suportável para a dimensão comercial do futebol e suportável para a dimensão humana do árbitro. Estou mesmo convencido que o erro afasta pessoas dos estádios e das audiências. Aconteceu comigo quando a meio da época passada cancelei a minha assinatura da SportTV quando vi Lizandro Lopez cair na área do Benfica… perdeu o futebol!
E estou também convencido que o erro – e a consciência de que o seu erro é percepcionado por milhões no ecrã –, leva hoje os árbitros a condicionarem as suas decisões. Isto é, um árbitro apita hoje também em função do erro com menor impacto, por saber que qualquer das suas decisões pode ser e é escrutinada pelo vídeo.
Eu explico: anular uma jogada por fora de jogo inexistente onde não chega a haver golo tem um impacto menor do que validar um golo em fora de jogo. O “milímetro” onde se joga este jogo é, segundo as regras do futebol, um espaço de dúvida que deveria funcionar a favor de quem ataca. A realidade, contudo, por via do tal escrutínio público medido por tecnologias vídeo, é a contrária. Na dúvida, a bola fica fora da baliza, porque sobre quem toma a decisão, recai um menor odioso se a bola não chegar a entrar.
A partir daqui, não podemos ignorar que a tecnologia já influencia a arbitragem hoje. Mesmo que não esteja admitida a favor da arbitragem, já admitimos todas as semanas a tecnologia a desfavor da arbitragem! E à posteriori, como se fosse um machado sobre a cabeça de cada árbitro. Usamo-la para crucificar pessoas e descredibilizar o sistema, o que influencia o jogo e a arbitragem. Mas não deixamos que o nosso conhecimento ajude a resolver os problemas. A menos que queiramos fazer de Deuses, está errado!

Anónimo disse...

Continuacao...

Há contras no uso das novas tecnologias a favor da arbitragem? Com certeza. Há sempre contras. Mas sinceramente ainda ninguém me convenceu de nenhum. Que nem todos os jogos poderão desfrutar da mesma tecnologia? Qual é o problema? Actualmente todos os jogos são disputados nas mesmas condições desportivas? Claro que não! Alguns, por exemplo, jogam-se em Alvalade e a relva não presta. Noutros chove e em alguns faz sol. Há jogos disputados em campos sintéticos e outros em pelados. Se nem todas as divisões podem ter campos relvados, vamos colocar pelados na 1ª Liga??? Parece-me que não. E já agora, a Justiça em Portugal é igual para todos? Se entregar uma queixa em Vila Nova de Gaia demora o mesmo tempo a ser julgada do que no Porto? E se for em Bragança? E os Tribunais, têm todos os mesmos meios? Claro que não. Será por isso que vamos deixar de usar os melhores meios para encontrar a verdade quando possível?
E já agora: alguns jogos são arbitrados pelo Jorge Sousa, outros pelo Pedro Proença. Será igual? Haverá a mesma justiça com um ou com outro? E se fosse Colina? Se não pudermos ter Colina em todos os campos, retiramos o melhor da arbitragem para que as condições sejam idênticas em todos os campos?
Aliás, esse é o pior dos argumentos. Lá porque em algumas divisões ou jogos não podemos ter a melhor arbitragem com os melhores meios, todos têm que ficar com a pior? Quanto mais não fosse, valeria o exemplo do ténis ou do rugby. Nos torneios do Grand Slam, há jogos com “olho de falcão” e outros sem eles. Nos mais importantes, mais televisionados e mais escrutinados – e onde é possível –, há meios tecnológicos e, em princípio, mais justiça. É bom comercialmente para o ténis e é bom psicologicamente para os árbitros. Os outros ficam prejudicados? Não, os outros fazem o melhor que podem, como antes faziam, com a justiça que já tinham.
Outro argumento que conheço diz mais ou menos isto: “o futebol perde a piada”. Perdoem-me os defensores desse tipo de piada que passa pela “aldrabice” de um jogo. Mas pessoalmente não apoio. Qual é essa piada? Onde se quer chegar quando se diz isto? Sinceramente, ainda assim, parece-me menos idiota o primeiro dos argumentos.
Mas há outro argumento. O argumento de que também perante um vídeo pode haver divergência e erro. Sem dúvida! Mas isso acontecerá menos vezes a ajudará a serenar os ânimos durante um jogo. Por mais benfiquista que seja, não consigo imaginar o sentimento de revolta de Pedro Silva quando lhe foi assinalada uma mão que não deu e que pode ter decidido uma final. Revolta e sentimento de profunda injustiça. O vídeo não resolverá todas as injustiças. Mas teria resolvido aquela. E como benfiquista eu preferia ter esperado para ver se o Benfica conseguiria, de outra forma, dar a volta àquele jogo.

Anónimo disse...

Continuação


Finalmente, o argumento das paragens do jogo. Desafio qualquer pessoa a provar-me que se perderia com vídeos mais tempo do que se perde hoje ao soco e com expulsões em jogos entre os três grandes, sempre que há um penaltie bem ou mal assinalado ou sempre que uma bola entra na baliza e só o árbitro não viu.
Esta é a realidade. Não há outra. E digo mais: mesmo os maiores inimigos da aplicação das novas tecnologias no futebol sabem que isso é inevitável. E não posso deixar de pensar quem são esses que estão contra. São os árbitros? Não! São os derrotados e sistematicamente prejudicados? Também não. São os clubes pequenos ou das divisões inferiores onde a tecnologia não chegará? Também não! É o senhor Platini, cuja França se apurou para o Mundial com uma mão que todos vimos na TV… menos o árbitro, em campo.
Os meios tecnológicos serão falíveis? Sê-lo-ão. Continuará a haver injustiças quando forem aplicados? Claro! Mas alguém vá dizer aos irlandeses que não podem ser aplicados num “play-off” do Mundial porque seria uma diferença de condições face ao Varzim-Visela da II Divisão portuguesa… ou que, às vezes, o vídeo não esclarece, quando naquele caso, esclareceria!
Por fim, a outra questão. A questão a tal da petição. Digo-o e escrevo-o desde o início: a petição deveria ter um título mais explícito onde se perguntasse às pessoas se apoiam as novas tecnologias na arbitragem. Perguntar se apoia a “verdade desportiva”, é como perguntar se quer assinar uma petição para acabar com a pobreza. Claro que toda a gente quer acabar com a pobreza e todos dizem que querem a verdade desportiva, podemos é discordar da forma como isso se faz.
Por outro lado, não vejo nenhuma utilidade, que não a da promoção pessoal de dois ou três comentadores (estou a exagerar, não são tantos), para ir entregar à Assembleia da República uma petição cujo objecto não passa por decisão sua. Ainda me lembro quando um Secretário de Estado disse quase ter lançado pela janela um DVD que lhe foi entregue por um clube. Lançá-lo teria sido uma idiotice e uma falta de respeito, mas entregar filmes com foras de jogo não assinalados a um político é tão inócuo como esta petição pelos meios tecnológicos dar entrada na Assembleia da República.
E o que mais me espantou, nesse número de populismo em que alinharam insuspeitos políticos, foi a presença de Gilberto Madail. Afinal, se alguém em Portugal poderá fazer alguma coisa pela verdade desportiva e, em concreto, pelos meios tecnológicos na arbitragem, é precisamente ele, enquanto membro do órgão da FIFA que tem poderes para o propor e decidir. Ir ele próprio pedir a quem não pode fazer nada aquilo que ele pode e não faz… dispensa mais comentários.
Por isso, volto a dizer: pela verdade desportiva, em princípio, somos todos. Pelas tecnologias na arbitragem só não é quem vai sendo apurado para campeonatos com golos marcados com a mão… e haverá por cá mais alguns, mas prefiro ser apenas indelicado para com um estrangeiro… por hoje.


Nuno Nogueira