Ao contrário da opinião generalizada, não me parece que o dérbi tenha sido um grande jogo de futebol. O Benfica realizou uma exibição sofrível ao longo de quase toda a primeira parte, e uma exibição, digamos, esforçada, ao longo da segunda. O Sporting preocupou-se o tempo todo em não deixar jogar, recorrendo à habilidade do seu treinador em bloquear adversários mais fortes, e a algum jogo sujo com a complacência de Soares Dias. No fim, nenhum dos intervenientes tem motivos para satisfação.
Não houve muita qualidade. Houve, isso sim, emoção, intensidade (até demasiada) e golos. Para além dos habituais casos de arbitragem neste tipo de partidas, desde logo com uma grande penalidade que jamais seria concedida na Premier League - e na Champions, só se fosse a favor de algum clube rico.
A primeira meia-hora mostrou um Benfica aparentemente desconhecedor daquilo que o esperava, insistindo em sair a jogar curto desde trás, quando era precisamente aí que o Sporting acentuava a sua pressão. Mais adiante, com Aursnes a flectir para o meio, faltava claramente um Neres a abrir a ala. O treinador do Benfica dava ao rival tudo aquilo que ele queria. Os erros sucederam-se, uns mais forçados do que outros. Um golo sofrido, desvantagem no marcador, fantasmas da temporada passada, e se o jogo terminasse aos 30 minutos, diria que Ruben Amorim tinha dado um banho táctico a Roger Schmidt.
Naturalmente a equipa encarnada acabou por se redescobrir, e perceber que assim não ia lá (até porque do outro lado não estava lá nenhum Matheus Nunes, nem nenhum Sarabia). Acelerou o seu futebol, procurou o espaço nas costas da defesa leonina, e intensificou os duelos perante um adversário de faca nos dentes (ou javardo, nas próprias palavras do seu treinador há uns tempos atrás).
O empate apareceu, e a partir daí, na minha cabeça, estava convencido de que a segunda parte iria mostrar um Benfica amplamente dominador, e capaz de derrotar uma equipa tecnicamente muitos furos abaixo. O penálti condicionou naturalmente essa reacção, colocando novamente os encarnados atrás do prejuízo, e o Sporting confortável no tipo de jogo que mais lhe agrada (de notar que sofreu os golos com oito e nove jogadores dentro da área respectivamente).
Ainda assim, até final, o Benfica (com alma e esforço) soube tomar novamente conta da partida, chegou ao empate com naturalidade, e ficou a dever a si próprio uma vitória que, pela segunda parte, fez por merecer. Até porque o Sporting começava a parecer esgotado fisicamente, e tinha de recorrer a um banco medíocre de onde saíram cromos que eu nem conhecia - e com os quais o seu contra-ataque morreu por completo.
Individualmente destacaria Gonçalo Ramos, pela eficácia, e Rafa por ser...Rafa. Pela negativa, creio que António Silva fez um jogo confuso e irregular, pareceu-me que João Mário se intimida a jogar contra a ex-equipa (tanta indecisão...nos minutos finais esperei em vão por Draxler), e o próprio Aursnes não esteve no seu melhor. O pior foi, no entanto, Bah. Não sei que mal fez Gilberto para agora nem sequer ser convocado, mas o dinamarquês está claramente fora de forma, e já não é a primeira vez que compromete, mostrando-se bastante displicente no plano defensivo.
Do lado do Sporting apenas Porro jogou futebol. Os outros espanhóis, uruguais e nortenhos que constituem o onze, entraram em campo só para enervar o Benfica e o árbitro, e para evitarem a derrota que temiam. Destaque neste particular, para os portistas portugueses Nuno Santos, Pedro Gonçalves e Paulinho - três javardolas, recorrendo uma vez mais a citações de Ruben Amorim.
Soares Dias foi igual a si próprio: errante, complacente e tendencioso no plano disciplinar, cobarde no lance da grande penalidade (que o VAR nunca poderia ter indicado, por ser tudo menos um lance claro).
Ficam cinco pontos de vantagem. Fica também uma série de apenas duas vitórias em seis jogos, que, pese embora a naturalidade de haver pequenas oscilações de forma durante uma longa época, permite aos rivais, falo do FC Porto, a possibilidade de se manterem objectivamente na luta pelo título.
O calendário é, no entanto, prometedor, senão vejamos as próximas seis deslocações dos três principais candidatos (até ao "Clássico" da Luz):