Infelizmente, esta é uma imagem bem conhecida de muitos dos sócios do Benfica. Infelizmente, porque a metodologia e os critérios para venda de bilhetes em jogos de enchente - nomeadamente os jogos fora de casa na fase decisiva da temporada - são definidos e idealizados por pessoas que provavelmente nunca compraram um bilhete de futebol na vida.
Já tinha trazido
aqui o assunto noutra ocasião. Para os jogos com o Portimonense, e agora o de Alvalade, o caos foi total, e quase faz suspirar pelo regresso ao tempo em que se tinha de ir dormir para uma fila nas bilheteiras do estádio (coisa que também já fiz no passado).
Neste caso concreto (Alvalade), o critério foi, desde logo, absolutamente obtuso. Uma primeira fase para os detentores de Red Pass que não falharam nenhum jogo na Luz (até aí, de acordo), mas depois, o segundo lote de bilhetes disponibilizado já era para todos os sócios em geral, mesmo sem Red Pass. Ou seja, quem paga Red Pass (até pode ser há vinte anos), esteve em 15 dos 16 jogos na Luz, foi a todos os jogos fora de casa, e é sócio de 50 votos, fica sem qualquer possibilidade objectiva de adquirir bilhete para a partida que pode decidir o título.
E não tem possibilidade objectiva porque a App também não funciona. Ou melhor, é daquelas tecnologias muito bonitas para ganhar prémios, mas que apenas funciona quando não é preciso.
Há quem entre na App (ou no site) a um dado momento e lhe apareça mais de uma hora de espera, e quem entre depois e lhe apareçam apenas alguns minutos. É estúpido, mas irrelevante: uns e outros chegam ao fim do tempo e a mensagem é a mesma "bilhetes esgotados". Quando não é pior, permitindo escolher bilhetes e lugares, depois não permitir o pagamento, e com a demora cair. Ninguém me contou, já me aconteceu tudo isso.
Haveria processos relativamente fáceis. O critério de presenças é justo, mas teria de ser consequente (16, 15, 14 etc). O critério de antiguidade, quer de sócio (que serve, por exemplo, para eleger os órgãos sociais), quer de Red Pass, também me pareceria adequado. Eventualmente, um ranking agregado, que até já existiu, na altura da pandemia. Ou, no limite, um rateio. Tudo menos esta farsa virtual que apenas irrita, causa perdas de tempo e injustiças gritantes, sendo um paraíso para os candongueiros - muitos bilhetes já "voaram" para o Viagogo, e lá estão entre os 136 e os 290 euros, para quem quiser e/ou puder.
Em nome da transparência, e antes de outras auditorias que servem mais para a especulação mediática do que para qualquer outra coisa, era também interessante que os sócios do Benfica soubessem como são distribuídos quantitativamente os bilhetes neste tipo de jogos (tantos para aqui, tantos para ali e tantos para acolá). Desconfio que a maior parte deles nem chegue à bilheteira virtual, e siga directamente para as claques (que, diga-se, formalmente não existem), e para aqueles que atiram tochas às bancadas adversários penalizando reiteradamente o clube com multas avultadas. É que esses aparecem lá sempre (pelo menos os que não revendem os bilhetes no mercado negro), e duvido muito que passem por filas ou aplicações kafkianas. Até desconfio que sei quem lhes faz chegar os bilhetes, mas isso fica para mim.
Quanto à App, é tão ridícula que talvez fosse melhor nem existir.