DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO

A simpático convite do jornalista brasileiro Marcel Jabbour, VEDETA DA BOLA colaborou no blog "Di Letra na Copa", com uma coluna sobre a nossa selecção.
Veja AQUI o que lhes contámos sobre Portugal, e confira também tudo o que ELES sabem sobre as restantes selecções, estádios e histórias de outros mundiais.

MAIS DOIS "NOVOS HERÓIS" COM AS MALAS À PORTA

Apesar da actualidade apontar inteirinha para o mundial e particularmente para a selecção nacional, nem por isso as movimentações de mercado estão esquecidas, sobretudo quando se prendem com o Benfica, clube cá da casa.
Não se consegue entender a dispensa de Geovanni.
É certo que tem sido um jogador irregular, mas nos grandes momentos foi sempre capaz de se superar e já deu grandes alegrias aos benfiquistas.
Recordamos o golo em Alvalade há dois anos (que valeu uma presença na pré-eliminatória da Champions), os dois golos ao Sporting para a Taça na Luz e o golo no estádio do Dragão em 2004-2005 (que talvez tenha valido um campeonato),o passe para um dos golos de Nuno Gomes no mesmo estádio nesta última época, o golo ao Manchester United, etc.
O extremo brasileiro marcou vinte e dois golos nas últimas três temporadas pelo Benfica, e esteve sempre presente nos melhores momentos do clube. Trata-se de um jogador com experiência internacional e apenas vinte seis anos, e por quem o Barcelona deu no verão de 2001 mais de vinte milhões de euros.
Ao lado de Luisão, Nuno Gomes, Petit, Simão, Ricardo Rocha, Moreira, Mantorras, Manuel Fernandes e Quim era, na minha opinião, um dos elementos do núcleo duro do plantel encarnado, ao qual só mediante uma proposta irrecusável deveria ser aberta a porta.
Sai praticamente a custo zero e com um ano de contrato ainda por cumprir. Não se entende, excepto talvez à luz das suas desastradas declarações dos últimos meses à imprensa, certamente já fruto de um mal estar acumulado, e originado, entre outras coisas, pela inqualificável gestão de plantel que o holandês Ronald Koeman imprimiu ao clube da águia.
Paralelamente surgiram notícias que dão conta da intenção de vender Quim, e assim manter no plantel Moretto. Não tenho dúvidas que se fosse realizado um referendo entre os sócios do Benfica para se saber qual dos guarda-redes deveria sair, Moretto recolheria mais de noventa por cento dos votos.
Bem sei que estas questões não devem ser tratadas dessa forma, e só quem convive diariamente com o plantel estará em perfeitas condições para tomar decisões desta natureza. Todavia não podemos ignorar que Quim é internacional português, está no mundial, foi campeão pelo Benfica, nunca cometeu erros de monta desde que veste a camisola do Benfica revelando sempre uma segurança a toda a prova, enquanto que o brasileiro Moretto se mostrou sempre intranquilo e inseguro, cometendo inúmeros e graves erros, e contruindo por culpa sua e também (sobretudo) de Koeman, uma relação muito pouco simpática com os sócios.
Depois de Miguel, Dos Santos, agora Geovanni, Quim, e provavelmente também Simão e Nuno Assis.
O Benfica campeão, o Benfica dos "novos heróis", parece estar a entrar num suicidário processo, cujo desenlace final se desconhece por completo.
José Veiga tem este ano a sua definitiva prova de fogo, e com esta gestão de plantel - às saídas referidas e também de Tiago e Armando, podemos juntar as entradas de Robert, Marcel, Moretto, Marco Ferreira, Paulo Almeida, Everson, Karyaka entre outros - se não recuperar o título nacional, habilitar-se-á seguramente a uma despedida do Glorioso sem que ninguém venha a chorar a sua falta.

CAÇADORES DE PERDIZES

Sou leitor regular de “A Bola” que aliás considero, sem favor, o melhor jornal desportivo do país. Habituei-me desde criança a ler (e por vezes reler) os extraordinários textos de senhores do jornalismo desportivo como Vítor Santos, Carlos Pinhão, Alfredo Farinha, Carlos Miranda, Aurélio Márcio, João Alves da Costa, entre outros, com os quais fui sedimentando a minha paixão pelo futebol e pelo desporto em geral, num tempo em que as imagens televisivas pouco passavam de alguns minutos de resumo do principal jogo da semana.
Com o tempo, mais mudança menos mudança, “A Bola” foi mantendo uma qualidade que faz dela, ainda hoje, a referência máxima do jornalismo desportivo no nosso país.
Às terças, quartas e quintas, este jornal atribui uma coluna a conhecidos jornalistas externos à redacção, e mediáticos adeptos de F.C.Porto, Sporting e Benfica, respectivamente Miguel Sousa Tavares, José António Lima e Leonor Pinhão. A ideia é boa, os jornalistas são bons, e todos eles acompanham razoavelmente o fenómeno futebolístico. Todavia, exceptuando o caso de José António Lima, fanatizado adepto do Sporting (ou será mais anti-Benfica ?), os dois restantes têm dado nos últimos tempos alguns sinais de que talvez não estejam a escrever no local certo.
Esta semana Miguel Sousa Tavares proclama, num dos seus inflamados artigos anti-selecção nacional e anti-Scolari, que a selecção nacional “não lhe desperta o espírito patriótico”, e que o patriotismo para ele é “fazer algo pelo país e pagar impostos”.
A dúvida que se impõe desde logo é o que é que Miguel Sousa Tavares já terá feito de relevante pelo país, para a qual eu não tenho, com franqueza, resposta.
Quanto aos impostos, não sabendo se Sousa Tavares os paga ou não, há certamente milhões de portugueses que, a eles não podendo fugir, não se sentirão particularmente patriotas por esse motivo.
A mesma figura, filho de gente muito importante diga-se (muito mais importante que ele e, esses sim, tendo feito algo pelo país), afirmava há umas semanas atrás que trocava qualquer jogo de futebol por uma caçada de perdizes. O que há de errado nesta afirmação ?
Não haveria nada se a mesma fosse feita noutro jornal e noutro espaço. Numa crónica sobre futebol, onde é suposto assumir a paixão pelo jogo e pelas suas cores, a vontade com que o leitor fica é fechar de imediato o jornal.
Cada pessoa é livre de preferir os passatempos que muito bem quiser e mais gostar, mas a quem escreve num diário desportivo, supostamente sobre futebol, e de certo modo representando os adeptos do seu clube, procurando personificar a paixão futebolística, não assenta bem dizer que prefere caçar perdizes do que ver um qualquer jogo de futebol (entende-se que mesmo uma final de um mundial ficaria para segundo plano), até porque não sendo coisas comparáveis, a afirmação, por desnecessária, acaba por revelar implicitamente que o seu autor, no fundo e de certa forma, despreza o futebol, ou pelo menos considera-o menor.
Se houvesse dúvidas, voltando ao texto desta semana, o jornalista diz ainda que sente muito maior orgulho em Maria João Pires ou António Damásio do que em Cristiano Ronaldo ou Figo. Pois bem, eu por exemplo sinto o mesmo orgulho em todos eles (cada um tem o seu talento e é bom na sua actividade), e ainda acrescentaria o conterrâneo de Sousa Tavares, Manoel de Oliveira, ou o nosso “nobel” José Saramago, entre muitas outras figuras que prestigiam o nosso país no mundo. Mas uma coisa reconheço, e Sousa Tavares também deveria reconhecer, é que Cristiano Ronaldo e Figo (como o seu amigo Mourinho) são muito mais conhecidos em todo o globo - e assim acabam por difundir muito mais a imagem de Portugal - do que os exemplos que ele apresentou, sem que isso lhes belisque minimamente todo o mérito que têm.
Leonor Pinhão é outro caso semelhante, embora não tão reiterado. Há umas semanas confessava que tinha deixado de assistir (mesmo pela TV) a um importante jogo do seu clube, pois nesse dia tinha ido, simplesmente, jantar fora.
O Benfica tem milhões de adeptos, e muitos deles fariam a mesma coisa (“que se lixe o Benfica por uma boa jantarada...”), só que esses não escrevem num jornal desportivo em representação do seu clube, e se assim fosse, seguramente que não se lembrariam de dizer tal coisa aos outros, ou seja, àqueles que procuram nessas páginas um eco da sua voz clubista, que fazem importantes sacrifícios monetários por bilhetes, cativos e viagens, que largam a família ao fim de semana e são capazes de dormir nas bilheteiras para acompanharem o seu clube. Esses sim são os verdadeiros adeptos do futebol, e eles não merecem ver a sua paixão tratada com tanto desdém por que os devia, supostamente, representar.
Fica o reparo.

DOIS MIL

E entretanto o VEDETA ultrapassou os dois mil visitantes...

TARDE E A MÁS HORAS

Acabou, como já se esperava, a participação de Portugal no europeu de sub 21.
Apesar da merecida vitória sobre a Alemanha, a situação de partida da selecção nacional para esta jornada era demasiado frágil para se aspirar a mais do que um milagre. Ontem a equipa mostrou vontade de ganhar, mas voltou a faltar-lhe eficácia na hora do remate final.
Contudo, a razoável exibição de Guimarães não pode passar uma borracha sobre um torneio para esquecer, onde a desorganização colectiva foi a nota dominante numa equipa recheada de estrelas, mas que esteve muitíssimo longe de corresponder ao que dela se esperava.
Agostinho Oliveira não será seguramente o único culpado, mas a verdade é que vai sair muito enfraquecido desta competição, pois não soube ou não pôde, rentabilizar os excelentes recursos de que dispunha (em jogadores profissionais como estes será excessivo falar em formação como o professor quis deixar no ar na conferência de imprensa após o jogo).
Quaresma (ainda assim bastante esforçado), João Moutinho, Nani e Nelson foram os melhores de uma equipa que teve várias unidades em desacerto total e outras bem longe da ideia que eventualmente terá sido criada a seu respeito.
Uma nota final: porque é que esta competição, de carácter internacional, se cingiu ao Minho e ao Porto ? Não se justificariam alguns jogos mais a sul do país ?

VEDETA DO JOGO

PAULETA: Por tudo o que já foi dito, o que se pudesse vir a acrescentar seria certamente redundante para definir a prestação do açoriano na tarde de sábado. Que continue assim na Alemanha.

CICLONE DOS AÇORES VARREU O ALENTEJO

A selecção nacional realizou um interessante teste no passado sábado frente a Cabo Verde. Para além da vitória e da moral com que os jogadores (sobretudo o goleador Pauleta) saíram desta jornada, foi útil também perceber que ainda existem algumas arestas por limar nesta equipa, designadamente em termos defensivos, as quais o adversário africano foi capaz de colocar a nu, mormente durante a primeira parte e enquanto as forças lhe permitiram.
Portugal entrou bem, marcando ainda no primeiro minuto e mostrando agressividade sobre a bola, mas com o decorrer do primeiro tempo foi abrandando o ritmo, talvez algo inebriado pelas facilidades que o golo inicial poderia fazer supor. Cabo Verde foi aproveitando esse afrouxar português, marcou um golo e ainda criou oportunidades para chegar à vantagem o que, conforme decorrera o jogo, não escandalizaria ninguém. Seria contudo novamente Pauleta a facturar, na sequência de um pontapé de canto, repondo a vantagem portuguesa com que se chegou ao intervalo.
Para a segunda parte o jogo mudou de figurino, por um lado devido ao cansaço evidenciado pelos caboverdianos (sem opções de banco capazes de manter o ritmo dos primeiros quarenta e cinco minutos), e por outro, fruto de uma maior rapidez imprimida pelos portugueses, decididos a demonstrar rapidamente a sua superioridade e traduzi-la em golos. Petit num excelente remate de fora da área, e novamente Pauleta num livre directo muito bem marcado, construíram um resultado que nos últimos minutos até poderia ter chegado a números mais desnivelados.
Se a forma evidenciada por Pauleta no ataque tranquiliza os portugueses quanto à capacidade de concretização da equipa nacional, já o sector defensivo ainda tem algum trabalho pela frente, pois a ausência de Nuno Valente fez-se sentir do lado esquerdo e a articulação entre Meira e Ricardo Carvalho está ainda uns furos abaixo do necessário.
No meio campo as dúvidas permanecem, sobretudo devido à indefinição da condição física de Costinha. Pelo que se percebeu deste jogo, Petit tem o lugar mais ou menos assegurado, enquanto a outra vaga será disputada por Costinha, Maniche e também Tiago. Se Costinha recuperar os índices físicos adequados será ele o “trinco” da equipa, podendo jogar Petit mais liberto e adiantado. Caso contrário Petit será o “seis” e Maniche e Tiago discutirão a posição “oito” (com vantagem para o primeiro, que sábado até nem esteve mal).
Mais atrás, a grande dúvida residirá no lado direito, onde Paulo Ferreira ainda terá seguramente uma palavra a dizer na luta com Miguel, que no entanto saiu claramente em vantagem desta partida.
Na esquerda Marco Caneira não esteve feliz, deixando a ideia de se tratar de uma terceira solução atrás de Nuno Valente e Paulo Ferreira (que jogou desse lado toda a segunda parte).
Mas vejamos como se comportaram , um a um, os jogadores portugueses:
RICARDO (3) Não teve muito trabalho, mas quando chamado a intervir não comprometeu, realizando até duas boas intervenções.
MIGUEL (4) Integrou-se muito bem no ataque, participando em inúmeras iniciativas quer com Figo quer com Ronaldo. Terá sido dos jogadores mais em foco, marcando pontos com vista à titularidade.
FERNANDO MEIRA (3) Parece estar em vantagem na luta pelo lugar, mas ainda terá que trabalhar muito de forma a conseguir uma articulação com Ricardo Carvalho próxima da que Jorge Andrade seria capaz de garantir. Acabou por ser infeliz no auto-golo.
RICARDO CARVALHO (4) Uns furos acima do colega do lado no aspecto defensivo, foi dele também o magistral passe para o primeiro golo de Pauleta, além de ter sido cometida sobre si a falta que originou o hat-trick do açoriano.
MARCO CANEIRA (2) Não passou no teste, demonstrando algum nervosismo e uma insegurança que nunca patenteou em toda a temporada no seu clube. Foi pelo seu lado que Cabo Verde imprimiu a maior parte das suas acções ofensivas mais perigosas, e foi de um mau passe seu que nasceu o lance do golo africano. No ataque foi inexistente.
PETIT (4) À semelhança de Miguel, aproveitou muito bem este particular para marcar a sua posição entre os titulares. Foi dos mais combativos como é habitual, e acabou por ser premiado com um excelente golo.
MANICHE (3) Começou muito bem, procurando dar ao meio campo o dinamismo que a sua movimentação normalmente permite, mas com o tempo foi-se apagando, talvez fruto da sua natural falta de ritmo de competição. Parece todavia ter a predilecção de Scolari para um lugar no onze.
DECO (2) Foi um sub-Deco aquele que esteve em Évora no sábado. Pouca movimentação e quase nenhuma inspiração, fizeram dele uma sombra daquilo que é capaz de fazer. Precisa de descanso, muito descanso, de modo a apresentar-se no mundial ao seu melhor nível. E Portugal bem precisa dele.
FIGO (2) As palavras utilizadas para Deco, assentam também na perfeição ao desempenho de Luís Figo. Um canto para golo e um ou outro passe bem medido foram o que se aproveitou da sua exibição. Esperemos que possa melhorar bastante.
PAULETA (5) O homem do jogo. Um hat-trick num jogo internacional não acontece todos os dias, mas para além dos golos (ainda marcou um outro, limpo, que não valeu), o açoriano foi um moiro de trabalho no ataque português, arcando quase sozinho com todas as despesas ofensivas da equipa, tal a desinspiração dos seus colegas da frente. Promete vingança de um Euro 2004 menos conseguido.
CRISTIANO RONALDO (2) Individualista e complicativo serão os adjectivos que melhor podem caracterizar a exibição do jovem prodígio português. Nos treinos a que assistimos esteve sempre muito bem, demonstrando uma excelente forma física, mas neste jogo a sorte não o acompanhou. Foi substituído na sequência de um incompreensível lance que no mundial teria certamente valido um vermelho directo.
PAULO FERREIRA (3) Entrou numa fase em que os caboverdianos pouco atacavam já, pelo que não teve necessidade de brilhar para manter o seu flanco a salvo de qualquer risco. Integrou-se menos no processo ofensivo do que seria de esperar, o que pode indiciar uma condição física mais deficitária. Entrou na luta por um lugar à esquerda.
COSTINHA (3) Praticamente não se mexe, mas o seu exímio sentido posicional (elogiado por Scolari) faz dele uma unidade tremendamente importante para esta equipa. Que bom seria se ainda fosse a tempo de recuperar a sua melhor forma, pois ninguém neste lote de jogadores faz o seu trabalho táctico com idêntica eficácia.
TIAGO (1) Esteve pouco tempo em campo e pouco se viu, ele que era à entrada para este estágio o centrocampista em melhor forma de todos os convocados.
HUGO VIANA (3) Entrou pouco seguro e teve alguns problemas na abordagem aos primeiros lances em que participou. Com o tempo foi tranquilizando e atingiu um nível surpreendentemente positivo para alguém que passou os últimos meses no banco de suplentes do seu clube.
SIMÃO SABROSA (3) Outro elemento que entrou com muita vontade de brilhar, prometendo nos primeiros instantes uma performance ao seu melhor, ideia que contudo se foi desvanecendo com o desenrolar do jogo. Foi veementemente repreendido por Scolari após um canto à maneira curta mal executado, do qual resultou uma perda de bola. Salvo qualquer lesão, não será ainda este o seu mundial, pois os lugares da frente parecem absolutamente fechados.
HÉLDER POSTIGA (2) Ensaiou durante alguns minutos uma parelha com Pauleta que até nem foi mal conseguida, nomeadamente através de progressões em tabelinha. Contudo não conseguiu criar perigo, o que pouco abona para a exibição de um ponta de lança.
Pode parecer paradoxal o facto de serem os elementos do ataque menos pontuados, quando os maiores problemas que este jogo deixou entender se situam na defesa. Isso acontece em virtude de duas evidências: uma delas foi a esplêndida exibição de Pauleta, que resolveu sozinho o jogo, e a outra é que os problemas defensivos de Portugal começaram justamente na pouca predisposição que elementos como Figo ou Cristiano Ronaldo mostraram para as acções defensivas, algo que no mundial tem de ser corrigido.
Duas notas finais apenas. Uma para os inacreditáveis intervalos para beber água, que além de uma falta de respeito para com os espectadores (também eles com sede e com calor, e tendo pago um bilhete para ver um jogo internacional) podem causar alguns problemas perante a Fifa. Outra nota vai justamente para os dez mil espectadores presentes que fizeram deste jogo uma verdadeira festa, apoiando sempre a equipa, aplaudindo os adversários, e vibrando com um espectáculo que souberam fazer por merecer.

SUB-RENDIMENTO

Que lástima o jogo, o resultado e a exibição da selecção nacional de sub-21. Tanta desorganização e tantos nervos.
Apesar de matematicamente o apuramento ainda ser possível, ao fim de dois jogos ninguém apostará um cêntimo nesta equipa.
Que se passa com estes jogadores, quase todos titulares de grandes clubes ? Onde está a brilhante equipa da fase de qualificação ?

OS 32 FINALISTAS

Clique aqui para ficar a saber tudo sobre cada uma das trinta e duas equipas finalistas do Mundial Fifa 2006.

BENVINDO A CASA !

Durante muitos anos a família benfiquista suspirou ansiosamente pelo momento em que Rui Costa pudesse voltar a vestir a camisola dez do clube da Luz. Ao que parece vai ser agora, doze anos depois de ter saído para a Fiorentina numa transferência record, à época, para o futebol luso.
Não sendo bem o mesmo que se Rui tivesse regressado há três ou quatro anos, quando estava ainda no auge da sua brilhante carreira, a verdade é que esta contratação não pode deixar de constituir um forte motivo de alegria para os adeptos encarnados.
Rui Costa já não joga na selecção (apenas porque não quer, caso contrário seria a principal alternativa a Deco), e caminha para o final da sua vida de futebolista, mas sendo um jogador extremamente dotado em termos técnicos pode certamente - caso nenhuma lesão o venha a penalizar - ser de grande utilidade na equipa do Benfica, carenciada desde há anos de um jogador de classe na sua posição.
Jogadores que afirmem a sua qualidade com base em factores de índole eminentemente física, como força, velocidade ou agressividade, chegados aos trinta e poucos anos ressentem-se invariavelmente do peso de uma menor disponibilidade sob esses pontos de vista (vejam-se os exemplos de Sá Pinto ou Jorge Costa). O caso de Rui Costa é diferente.
O agora ex-jogador do Milan baseia toda a qualidade do seu jogo no talento que brota dos seus maravilhosos pés, e quase se poderia dizer, caricaturando, que até parado ele seria sempre um grande jogador. Por exemplo Valdo, outro grande numero dez que passou pela Luz, jogou até depois dos quarenta anos.
Deste modo parece evidente que Rui Costa, muito experiente e seguramente motivado para uma despedida de acordo com o prestígio que foi construindo ao longo de mais de uma década de futebol ao mais alto nível, será uma importante mais valia no Benfica de Fernando Santos.
Se a camisola dez será seguramente sua, penso que também a braçadeira de capitão lhe assentaria bem no braço, ele que fez todo o percurso das camadas jovens no clube, tendo inclusivamente sido apanha bolas no antigo estádio da Luz. Não se sabe se Simão poderá ou não ficar no Benfica, mas mesmo ficando, entenderia certamente a situação, ele que tem sido, diga-se, um capitão bem à altura do clube que representa.
Depois da frieza holandesa, com a contratação de dois grandes benfiquistas para treinador e, possivelmente, capitão de equipa, bem se pode dizer que está a começar da melhor forma o Benfica 2006-2007.

ENSAIO DE ORQUESTRA

VEDETA DA BOLA voltou ao centro de estágio da selecção na tarde de ontem e bem se pode dizer que teve a sorte do seu lado, podendo assistir ao primeiro treino de conjunto da equipa das quinas, e certamente o último, antes do jogo de preparação com Cabo Verde no próximo sábado ainda em Évora.
Logo no aquecimento – exercício com trocas de bola dois a dois – foi perceptível que a sessão que se iria seguir nada teria a ver com o calmo treino de domingo passado. Muito mais rapidez e muito maior intensidade anunciavam uma sessão muito mais exigente, o que de facto se veio a verificar.
Nota de curiosidade e intriga para os espectadores foi a presença de quatro ilustres desconhecidos, jovens jogadores do Lusitano de Évora, que viriam a participar (dois de cada vez) na peladinha, e diga-se desde já que sem destoar muito do desempenho das estrelas, á parte alguns e naturais erros de posicionamento e movimentação próprios de quem está habituado a jogar no terceiro escalão nacional.
Procedeu-se então ao treino de conjunto, com duas partes de aproximadamente trinta e cinco minutos cada, e onde a única diferença face ao que podemos encontrar num verdadeiro jogo (para além da duração) foi a repetição constante dos lances de bola parada que foram sendo ocasionados (duas, três e mesmo quatro vezes, com intervenções correctivas de Scolari).
Na equipa do colete amarelo (presumíveis titulares) jogaram de início e durante toda a primeira parte: Ricardo, Paulo Ferreira, Fernando Meira, Ricardo Costa, Nuno Valente, Costinha, Tiago, Deco, Figo, Pauleta e Ronaldo.
Do lado oposto: Quim, Miguel, Ricardo Carvalho, Caneira, Jogador do Lusitano I, Petit, Maniche, Hugo Viana, Jogador do Lusitano II, Postiga e Simão.
Nuno Gomes e Luís Boa Morte limitaram-se a alguns exercícios com bola, alternados com corrida à volta do relvado.
Em termos tácticos a disposição dos jogadores foi a habitual (4-2-3-1), com uma pequena variante testada durante alguns minutos, com Deco descaído para a direita, Figo para a esquerda, Tiago com maior liberdade, e Ronaldo nas costas de Pauleta, ensaiando um 4-4-2 perto do convencional.
Ao intervalo o resultado era de 3-1 favorável aos titulares, com dois golos de Ronaldo, o primeiro num livre directo em que Quim teve bastantes culpas e depois a passe de Pauleta, que por sua vez marcou aquele que na altura era o segundo golo a passe de...Ronaldo. Postiga reduziu de cabeça, na sequência de um belo cruzamento do jovem extremo direito do Lusitano.
Neste primeiro período notou-se uma superioridade flagrante da equipa titular, sobretudo impulsionada pelo endiabrado Cristiano Ronaldo, em grande forma e a muito prometer para a Alemanha, pela classe de Tiago no meio campo, também ele muito bem posicionado na luta pela titularidade, e pelo sempre perigoso e influente Pauleta. Deco e Figo não estiveram muito em acção e manifestaram algum desgaste físico, sendo até de suspeitar que tivessem indicações para não forçar muitoa sua condição física nesta sessão.
Costinha foi uma sombra, parecendo claramente sem ritmo e em dificuldades para segurar um lugar que Petit, ainda em recuperação de uma pequena lesão, ameaça conquistar. Mais atrás, surpreendeu a colocação de Ricardo Costa, que se viria a manter na equipa principal todo o tempo, deixando boas indicações de poder ser opção para a vaga deixada em aberto por Jorge Andrade no centro da defesa.
Do outro lado, apenas Simão procurava remar contra a maré, pois tanto Maniche como Hugo Viana, Postiga e Miguel se mostraram muito longe da sua melhor forma, enquanto Petit, sem treinar durante alguns dias, ainda não estaria em perfeitas condições físicas para assumir o jogo. Mais atrás Scolari testou Caneira na posição de central, deixando o lugar de lateral esquerdo para um dos jovens do Lusitano.
Para a segunda parte, bem menos interessante, Felipão trocou Costinha e Deco (ligeiramente tocado) por Petit e Maniche, e foi nesse período que Pauleta, após desmarcação primorosa, fez o quarto e último golo do treino.
Tiago, já a jogar na posição de Deco (com Maniche na posição oito), viria então a protagonizar um episódio curioso quando foi veementemente repreendido pelo técnico (desta vez muito mais interventivo) na sequência de um passe de primeira para Pauleta cortado por Ricardo Carvalho, lance que, segundo Scolari, devia ter merecido um maior trabalho a meio campo e não um passe directo do qual resultou uma perda de bola. Tiago recebeu então ordem para despir de imediato o colete, sendo substituído entre os titulares por Hugo Viana (que também viria a ser repreendido pela deficiente marcação de um canto, que foi repetido até à exaustão). Depois saíram da equipa principal também Figo (que foi para o banho mais cedo, entrando um terceiro jogador do Lusitano para a segunda equipa), Paulo Ferreira, Nuno Valente e Fernando Meira, por troca com Simão, Miguel, Caneira e Ricardo Carvalho. Pauleta também saiu mais cedo, mas aí Scolari optou por deixar a equipa a jogar com dez, simulando assim uma situação de inferioridade numérica.
Antes da saída de Pauleta foram também perceptíveis as intenções de realizar, a espaços, uma pressão bem subida no terreno, procurando dificultar a saída com bola da equipa adversária.
Os coletes amarelos acabaram assim vestidos em: Ricardo, Miguel, Ricardo Carvalho, Ricardo Costa, Caneira, Petit, Maniche, Hugo Viana, Ronaldo e Simão.
Pode-se então dizer que as principais conclusões extraídas deste treino em termos de construção do onze nacional foram as seguintes:
-Paulo Ferreira e Nuno Valente parecem ter as alas da defesa asseguradas.
-Ricardo, Deco, Figo, Pauleta e Ronaldo (os dois últimos ao seu melhor nível, o barcelonista e o interista em contenção de esforço) têm obviamente a titularidade garantida, formando assim um grupo de sete posições já praticamente definidas, a menos que alguma lesão venha a baralhar as contas do técnico brasileiro.
-Petit e Tiago (este em super-forma) levam clara vantagem sobre a dupla Maniche e Costinha, sem ritmo, sem mobilidade e ambos muito longe do seu melhor.
-No centro da defesa, Ricardo Costa pode vir a ser uma surpresa, e nem Ricardo Carvalho (também algo longe da sua melhor condição) parece ter o lugar seguro, pois a ausência de Jorge Andrade veio baralhar a conjugação de características necessárias a uma boa dupla de centrais.
Assim, pelo que pude constatar, neste momento seria de apostar no seguinte onze: Ricardo, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Ricardo Costa, Nuno Valente, Petit, Tiago, Deco, Figo, Pauleta e Ronaldo. Mas até ao jogo com Angola dia 11 de Junho, muita coisa poderá ainda acontecer, esperemos que somente melhorias de forma de alguns jogadores e não qualquer inoportuna lesão.
Resta acrescentar que Scolari privilegia a posse e circulação de bola a meio campo em detrimento do jogo directo; que todo o processo ofensivo da equipa vai passar pela entrega de bola nos pés de Cristiano Ronaldo, com muitos passes de Deco e Tiago para as costas da defesa procurando aproveitar a extrema rapidez do avançado do Manchester; que nos pontapés de canto, preferencialmente marcados por Luís Figo, vai fazer subir os dois centrais e um dos médios (Costinha ou Tiago) para além de Ronaldo e Pauleta, colocando assim cinco jogadores na grande área; e que Deco vai marcar os livres perto da área, enquanto Ronaldo se ocupará dos que ocorram um pouco mais longe.
Depois de amanhã, VEDETA DA BOLA estará no Portugal-Cabo Verde onde poderá tirar mais conclusões sobre os jogadores e a equipa nacional, para as trazer na próxima segunda feira a este espaço de modo a poder partilhá-las com todos os amigos leitores.

ÁRVORES DO ALENTEJO

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

FLORBELA ESPANCA

ÉVORA E O FUTEBOL

Muitos se interrogarão como é possível que uma cidade como Évora, com uma população a rondar os setenta mil habitantes, com uma localização geográfica que lhe permite estar a pouco mais de cem quilómetros de Lisboa e a menos de setenta de Espanha, com características polarizadoras em termos regionais (é inquestionavelmente a capital de uma região que ocupa cerca de um terço do território nacional), com um dinamismo cultural apreciável , com uma intensa procura turística nacional e internacional (é considerada património mundial desde os anos oitenta), não tenha nenhum clube a disputar as competições profissionais de futebol.
Nem sempre foi assim, pois o Lusitano – tradicionalmente mais ligado às elites da região e outrora também ao poder latifundiário - permaneceu catorze anos consecutivos no principal escalão, de 1952 a 1966, chegando a classificar-se em quinto lugar e a fornecer jogadores à selecção nacional (como o guarda-redes Vital e o avançado José Pedro), enquanto que o eterno rival Juventude – mais popular entre camponeses e assalariados - no final dos anos setenta e princípio de oitenta (nos pós 25 de Abril portanto, e ainda num contexto muito marcado pela reforma agrária), chegou a estar também muito perto de ascender à primeira divisão, acesso que veio a perder por apenas um golo em 1978 (na então “liguilha” para o Académico de Viseu, na qual voltou a participar, também sem êxito, na temporada seguinte sendo suplantado pelo Rio Ave), e com uma derrota em casa frente ao Estoril na última jornada de 1981 (com o estádio Sanches de Miranda a abarrotar para a comemoração da subida).
A partir de meados da década de oitenta o panorama alterou-se substancialmente, e ambos os clubes (os principais da cidade, entre outros mais pequenos, de bairro e que disputam normalmente os distritais) foram caindo para patamares distantes do primeiro plano do futebol nacional.
As razões para isso encontram-se facilmente após uma breve reflexão sobre a região e as suas idiossincrasias económicas, geográficas e sociais.
No plano económico, Évora, embora com um rendimento per-capita bem superior (e razoavelmente bem distribuído, diga-se) ao da média da região e, por exemplo, ao da maioria dos concelhos limítrofes de Lisboa - sobretudo graças ao turismo e aos serviços, albergando uma interminável série de direcções regionais e distritais de organismos públicos e privados -, não dispõe de uma actividade empresarial de relevo, sendo uma cidade que edificou a sua matriz identitária em redor de referências culturais, históricas e artísticas (nas últimas décadas também turísticas), bem longe do arquétipo de iniciativa empresarial de outras zonas do país, designadamente no centro e norte, que normalmente sustenta, directa ou indirectamente, o desporto profissional. Em Évora há poucas empresas, e as que há não são de grande dimensão (à excepção de uma unidade industrial da Tyco) nem terão provavelmente muito a ganhar num apoio decidido e sistemático ao futebol profissional, de retorno bastante duvidoso sobretudo em tempos de crise como os que o país, no seu todo, atravessa.
Se o apoio económico não abunda, o mesmo se poderá dizer relativamente ao apoio político. As câmaras municipais da região nunca foram muito dadas, por motivos eventualmente ideológicos, a apoiar o desporto profissional numa lógica de afirmação local ou regional como a que se vê no norte e centro do país, o que em Évora ainda resulta agravado em virtude da existência de dois clubes com ambições semelhantes, a reclamarem para si idênticas fatias do, já de si pequeno, bolo orçamental que a autarquia se propõe a distribuir. A isto não será também alheio o facto de o Alentejo, com distâncias de dezenas de quilómetros entre localidades, nunca ter sido uma região onde se identificassem grandes rivalidades locais ou regionais, o que nunca favoreceu a competitividade desportiva entre as suas equipas. A população alentejana adora futebol, é do Benfica ou do Sporting (muito mais daquele que deste), até tem a Sport tv em casa e vibra semanalmente com o Chelsea, o Barça ou o Milan, mas não sente grande entusiasmo em que o seu clube ganhe ao da localidade vizinha, que nem é tão vizinha como isso, e muito menos rival. Em Évora existe também, a agravar, um certo distanciamento em redor das performances actuais dos seus clubes, fruto de um desencanto nostálgico (algo que o povo alentejano é, em si, muito dado a sentir) de tempos cada vez mais remotos em que, navegando numa estrutura futebolística ainda pré ou semi profissional, Juventude e sobretudo Lusitano se batiam com os grandes, ou pelo menos por figurarem entre eles.
Por fim, sendo esta uma região com uma muito baixa densidade populacional e, à semelhança de todo o interior do país, também algo envelhecida, nem uma aposta forte na formação poderá constituir o caminho para a saída deste complicado puzzle.
Neste panorama não se poderia esperar outra coisa que não a presença destes históricos emblemas na terceira divisão nacional, onde ainda assim disputam anualmente os lugares de promoção na sua série F (Juventude na época passada e Lusitano nesta, apenas na última jornada se despediram da hipótese de subida à II B), em estádios que raramente congregam mais de quinhentas pessoas, e têm a sua grande enchente anual quando ambos se defrontam e dão assim vida a uma rivalidade que, embora cada vez menos fratricida (há trinta anos atrás os derbys faziam parar a cidade), continua a ser a força motriz e razão de existir destes dois clubes, os “ervanários”(do verde e branco Lusitano) e os “cacaruças” (do azul e branco “rasga a roupa”, que é como quem diz Juventude).
Veremos que novidades poderá trazer o novo estádio, mas a avaliar pelo que está a acontecer no Algarve, será lícito concluir que as boas e modernas infra-estruturas estão longe de representar a alavanca desportiva esperada por quem nelas investe ou deposita a sua esperança.

POUCAS ESPERANÇAS

Decepção é a palavra que melhor define a prestação portuguesa na noite de ontem em Braga. Os nossos sub-21 apresentaram-se apáticos, complicativos, desorganizados, nervosos e talvez também cansados (sempre à espera que da cartola do mágico Quaresma saísse algum coelho), e quando assim é torna-se impossível ganhar, sobretudo quando se tem pela frente uma excelente equipa com nomes como Flamini (titular do Arsenal), Berthod (titular do Lyon) ou Diarra (frequentemente utilizado no Chelsea).
Depois de uma primeira parte em que a França dominou por completo, criando algumas boas oportunidades, e marcando um golo num lance feliz onde Bruno Vale não fica isento de responsabilidades, o segundo tempo trouxe um Portugal mais agressivo e pressionante. O meio campo, onde Manuel Fernandes nunca se entendera com João Moutinho, pareceu mais equilibrado com menos um elemento, e a frente de ataque mais perigosa com um apoio (Varela) para o estático e inofensivo Hugo Almeida (impressionante como um jogador da sua estatura se mostra tão pouco agressivo na batalha da área). Contudo a defensiva francesa, sempre muito segura, foi obstando ao golo e com o tempo a passar foi ganhando confiança, em contraste com o cada vez maior nervosismo da equipa nacional.
Agora há que levantar a cabeça, aprender com os erros e vencer a Sérvia e a Alemanha. Todos se lembram do Euro 2004 e da derrota inicial com a Grécia, que não impediu Portugal de acabar por chegar à final.
Veremos se a história se repete, mas os sinais dados pela equipa no jogo de ontem são muito pouco animadores.

ÉVORA POR VERGÍLIO

“(...) Évora do silêncio com sinos nas manhãs de domingo, estradas abandonadas à vertigem da distância, ó cidade irreal, cidade única, memória perdida de mim. Sou do Alentejo como da serra onde nasci, a mesma voz de uma e outra ressoa em mim a espaço, a angústia e solidão. E a minha biografia deve ter findado aqui. (...)”

VERGÍLIO FERREIRA - Autobiografia

SANTOS DA CASA

Depois de muita especulação, o Benfica apresentou este sábado Fernando Santos como seu treinador para as próximas duas temporadas.
Para os adeptos que esperavam Eriksson ou Scolari, pode dizer-se que se tratou de uma semi-desilusão. Todavia, analisando com alguma frieza a questão, tem que se concluir que o “engenheiro do penta” é, dentro das possibilidades, uma boa escolha.
O Benfica não nada em dinheiro, e os milhares de euros conquistados este ano na Champions League não são mais que um paliativo para uma situação económico-financeira que, à semelhança de quase todos os clubes portugueses, está longe de ser um conto celestial.
Eriksson terá seguramente, logo após o mundial, propostas de trabalho na casa dos 200 a 300 mil euros por mês, e o próprio Scolari, a ganhar mais de 150 mil euros mensais na FPF, fazendo um bom campeonato do mundo, como todos desejamos, não quererá seguramente passar a receber um montante inferior ao actual salário, em Portugal ou noutro qualquer país. O mesmo é válido para Paul Le Guen, entretanto contratado pelo Glasgow Rangers.
Infelizmente, os adeptos do Benfica têm que entender que o seu clube não tem condições orçamentais para disputar os melhores do mundo, quer se fale de técnicos ou de jogadores (Ronaldinho ou Henry também são inacessíveis), e se tivemos entre nós um senhor do nível de Giovanni Trapattoni, foi graças a uma conjuntura muito favorável em virtude da precoce eliminação da Itália no Euro 2004 e de certa forma também devido à sua idade, já pouco apelativa para os grandes emblemas europeus. O caso de José António Camacho é um pouco diferente e julgo que não fosse o seu difícil relacionamento com José Veiga, poderia já ter regressado ao clube da Luz ainda que o Real Madrid seja sempre para ele uma prioridade, quer como técnico, ou noutras quaisquer funções como ultimamente se tem falado.
Deste modo, os nomes que circularam em cima da mesa dos responsáveis encarnados não terão passado muito para além de Carlos Queiroz, Alberto Zaccheroni e o próprio Fernando Santos, mais um ou outro menos conhecido do grande público.
Dentro das hipóteses que se deparavam (e ainda contando com a menor disponibilidade de Carlos Queiroz, bem perto de poder, mais ano menos ano, assumir o lugar de treinador principal do Manchester United, o que iria certamente condicionar as suas exigências contratuais), parece que Fernando Santos acabou por ser uma opção óbvia.
O engenheiro é um profissional rigoroso e dedicado, é um homem de grande carácter, é um técnico experiente (inclusivamente a nível de Liga dos Campeões) e conhecedor do futebol português, e é um benfiquista assumido (foi jogador do clube nas camadas jovens e nos primeiros anos de profissional, tendo sempre mantido a condição de associado), o que não sendo um factor de grande relevância – eu não serei seguramente menos benfiquista que ele, e se me entregassem a equipa do Benfica nas mãos, o mais certo era nem à Uefa chegar – é um aspecto simpático, que pode contribuir para aglutinar a massa associativa do clube em torno do técnico e da equipa, sobretudo se as coisas começarem a correr bem.
Por outro lado, é necessário reconhecer que Fernando Santos não tem um curriculo muito preenchido de títulos. É verdade que foi campeão no F.C.Porto mas o clube já era tetra-campeão quando ele para lá foi, e acabou por ser justamente Santos a interromper essa saga portista, permitindo o título do Sporting em 2001, e no ano seguinte do Boavista, em campeonatos nos quais o comportamento da sua equipa não foi brilhante. Quando esteve em Alvalade, apesar de ter conseguido uma série de nove vitórias consecutivas a meio da temporada, acabou com três derrotas nos últimos quatro jogos que custaram o segundo lugar aos leões (uma delas frente ao Benfica, em casa, com um pontapé de Geovanni no último minuto) e o seu despedimento (muito pouco cortês, diga-se). Na Grécia foi também despedido do Panathinaikos ao fim de três jornadas, e se fez um assinalável trabalho no AEK de Atenas, a verdade é que nunca foi campeão em quatro épocas que trabalhou por terras helénicas.
Fernando Santos tem fama de não ter um trato muito fácil, o que lhe tem custado alguns dissabores com jogadores mais irreverentes. Vai ter no Benfica a oportunidade de relançar a sua carreira no futebol português.
Se não é um treinador cuja contratação entusiasme fortemente o universo benfiquista, também não constitui para o mesmo um motivo de preocupação, pois garante alguma segurança, nomeadamente ao nível da preparação da época e construção do plantel.
Penso que merece, pelo menos, o benefício da dúvida dos adeptos do clube da águia.
Que tenha sorte.

À ALENTEJANA

Não fosse o facto de se saber que, nesta altura, a prioridade é recuperar os índices físicos de jogadores, desgastados por uma longa temporada, e bem se poderia dizer que a selecção nacional estaria a sentir fortemente o peso da atmosfera alentejana, tal a tranquilidade quase sonolenta com que decorreu a sessão de treino de ontem à tarde no novo complexo desportivo de Évora.
Numa sessão de cerca de hora e meia (como mandam os cânones) em que Scolari foi praticamente mais um dos espectadores, os jogadores começaram por fazer um breve exercício de aquecimento, dois a dois, com trocas de bola (guarda-redes à parte, trabalhando com Brassard), perante a observação de Darlan Schneider, e do lado oposto à bancada onde se encontravam espectadores e imprensa.
Desde logo se notaram quatro ausências. Bruno Vale ainda nos sub-21, Nuno Gomes e Boa Morte que permaneceram no hotel, e Petit, que apareceria mais tarde mas apenas para fazer corrida à volta do relvado, e durante a qual, a cada vez que passava perto da bancada onde estavam os convidados era brindado com manifestações de grande entusiasmo e apoio.
De seguida procedeu-se à constituição de três equipas (coletes verdes, vermelhos e azuis), que jogaram entre si períodos de dez minutos em metade do campo, orientados por Flávio Murtosa, e só com um guarda redes. Pretendia-se, suponho, trabalhar a circulação de bola, o processo defensivo e a saída em transição ofensiva sob pressão.
Nestas peladinhas ocorreram três golos, um de Nuno Valente (numa incrível falha de Ricardo), um de Cristiano Ronaldo e o outro de Deco (estes já com Quim na baliza).
Assistiram-se a alguns lances agradáveis, mas a tonalidade geral foi de grande lentidão e muito pouca agressividade.
Num treino tão calmo, a maioria do tempo só poderia mesmo ser passada com a bola parada.
Numa das balizas foram trabalhados os livres directos e na outra os pontapés de canto (depois de na véspera terem sido abundantemente exercitadas as grandes penalidades).
Na baliza dos livres foi colocada uma barreira de bonecos e Simão, Deco e Hugo Viana (depois também Figo) testaram a colocação dos seus remates perante Ricardo (e depois Quim). O mais concretizador acabou por ser Deco, seguido de Simão. Ricardo pôde aí redimir-se da falha que teve durante a peladinha e realizou duas fantásticas intervenções. Um reparo apenas: não sei se por alguma razão específica mas os bonecos eram da altura de Simão Sabrosa e, obviamente, não saltavam...
Do outro lado, e ao mesmo tempo, Figo (depois também Deco e Simão) marcava pontapés de canto para a área onde se encontravam Costinha, Cristiano Ronaldo, Ricardo Costa, Postiga, Pauleta e Fernando Meira, que tentavam cabecear para a baliza (directamente ou em dois toques). Apenas pude testemunhar um golo (de Ronaldo), pois quer Quim, quer depois Ricardo chegavam frequentemente primeiro à bola, e quando o não conseguiam fazer, a pontaria também não era a mais afinada.
Os jogadores que sobraram destes grupos permaneciam entretanto num dos cantos do relvado a jogar uma espécie de fut-volei, onde se notava a boa disposição reinante, com constantes e sonoras gargalhadas.
O treino terminou com Cristiano Ronaldo - que já havia sido o primeiro a entrar no relvado, e a deliciar os presentes com alguns toques de mágica como só ele sabe - sozinho a exercitar livres a maior distância da baliza, nos quais Quim pouco necessitou de fazer para evitar golos tal a desinspiração do jovem avançado.
E lá saíram todos, saudando os presentes, tomando o autocarro para mais um banho de multidão pela cidade a caminho do hotel.
Na quarta feira VEDETA DA BOLA voltará a presenciar o treino da selecção nacional, e na quinta contar-lhe-á, mais uma vez, tudo o que viu.
Por agora, segue a animação numa cidade que tem a selecção nacional a estagiar (para além da equipa de Cabo Verde, que também já chegou a Évora, para uma semana noutro dos bons hotéis da cidade), a queima das fitas a decorrer (muito perto do centro de estágio da selecção), para além de, neste fim de semana, ter tido ainda jogos decisivos da terceira divisão (o Lusitano lutava pela subida), e uma das mais prestigiadas corridas de toiros da temporada tauromáquica nacional. Assim se compreende também que, além do trânsito me ter feito demorar quase de uma hora a fazer cerca de 4 km, bem atrás de mim no treino, duas figuras bem conhecidas da televisão portuguesa discutissem qual dos dois se tinha deitado mais tarde na noite anterior.
Ah este Alentejo...este Alentejo...

VEDETA DISTINGUIDO

Que bela notícia !
VEDETA DA BOLA foi considerado o Blog da semana em Controvérsias do Futebol.
Muito obrigado por esta distinção, que é mais um importante estímulo para prosseguir.
Bem hajam, amigos "controversos".

EM ÉVORA COM A SELECÇÃO

O VEDETA DA BOLA conseguiu hoje garantir a possibilidade de acompanhar o estágio da selecção nacional em Évora.
O seu blog vai estar assim junto dos craques, presenciando, não só o jogo de preparação com Cabo Verde de dia 27, como também os treinos técnico-tácticos dos dias 21 e 24, para os quais conseguiu obter convite. O hotel, esse já foi visitado, e o que se pode para já adiantar é que condições de tranquilidade e conforto não faltarão aos nossos jogadores.
A título de curiosidade diga-se que este hotel – situado num antigo convento no meio do campo, e o único de cinco estrelas em todo o Alentejo - já recebeu a cimeira luso-espanhola (com as presenças dos primeiros ministros Sócrates e Zapatero), tem 59 luxuosos quartos e mais de 70 empregados, ginásios, igreja, piscinas exteriores e interiores, e uma fabulosa vista sobre a cidade, entre outras coisas (uma noite por lá, nesta altura, custa entre 240 e 480 euros, dependendo do tipo de quarto) ficando a partir de amanhã exclusivamente ao serviço da equipa de todos nós. VEDETA apurou também que todos os empregados do hotel estão rigorosamente proibidos de abordar as estrelas, seja para autógrafos ou qualquer outra coisa.
O hotel (2 km a leste da cidade-museu) fica a cerca de vinte minutos do estádio (2 km a oeste), obrigando a que os jogadores atravessem diariamente a cidade, o que sendo algo perturbador em termos de trânsito, não deixará de constituir mais um motivo de entusiasmo para a população eborense.
O estádio foi construído em tempo record (menos de três meses, aprovações incluídas !!), o que prova que no Alentejo também se sabe trabalhar depressa. No dia do jogo com Cabo Verde terá capacidade para 10 mil pessoas (serão montadas bancadas amovíveis), enquanto que para os treinos as entradas estão limitadas a 500 convidados (excepto os que forem à porta fechada, nos quais nem a imprensa poderá estar presente). Os acessos foram concluídos ontem mesmo.
Na próxima segunda feira poderá ler neste espaço tudo o que o VEDETA tiver para lhe contar acerca do treino de domingo.
Fique atento.

ESTÁ FARTO DE BOLA ?

Se deseja uma pausa do lado de fora do estádio, visite:

Fumo Sem Fogo

Tudo o que fica para trás das bancadas, sob a pena de LF.

OLÉ BARÇA

Sem surpresa, o Barcelona conquistou em Paris a sua segunda Liga dos Campeões.
Esta vitória foi o corolário lógico duma fantástica época desta super-equipa, construída meticulosamente desde que Joan Laporta assumiu os destinos do clube catalão (e que Frank Rijkaard chegou ao comando técnico da equipa), e assente na extrema classe individual de alguns dos seus futebolistas, com Ronaldinho Gaúcho à cabeça, e assim, numa noção de futebol espectáculo que parecia já arredada da filosofia generalizada nos principais clubes europeus.
Enquanto o Real Madrid contratava ex-“Bolas de Ouro” já em curva descendente nas suas afamadas carreiras, o Barça entretinha-se a contratar ambiciosos e futuros “Bolas de Ouro”, ou pelo menos candidatos a isso. Ronaldinho, Deco, Eto’o e Messi são do melhor que o futebol mundial dispõe neste momento, e todos eles cresceram significativamente desde que chegaram a Nou Camp, numa antítese perfeita com o percurso de jogadores ricos e aburguesados como Ronaldo ou Beckham, que foram as principais bandeiras dos últimos anos em Madrid.
Ontem no Stade de France, o Barcelona nem sequer foi a melhor equipa, mas quem tem os artistas de que os blau-grana dispõem, e as soluções de banco em qualidade e abundância que mais uma vez demonstraram possuir, também merece de vez em quando ser feliz.
O Arsenal surpreendeu pela forma afirmativa como abordou os minutos iniciais da partida, não temendo o adversário e partindo para cima dele com movimentações rapidíssimas dos seus médios mais criativos, e contando com a inspiração individual de Henry no ataque (que grande exibição!) construiu dois lances de golo ainda nos primeiros cinco minutos.
O lance da expulsão de Lehmann – mal ajuizado pelo árbitro norueguês, pois a lei da vantagem deveria ter sido concedida e o golo de Giuly validado - foi um duro golpe nos londrinos, que ainda assim conseguiram suster alguns momentos de avalanche atacante dos catalães, para nos momentos finais da primeira parte conseguirem, quando menos se esperava, colocar-se em vantagem no marcador, com um livre milimétrico de Thierry Henry para a cabeça de um Sol Campbel deixado só por desatenção de um pouco inspirado Oleguer.
Na segunda parte esperar-se-ia um Arsenal remetido às suas zonas mais recuadas, com menor audácia dos seus médios - agora em menor número em virtude da necessária substituição de Robert Pires - e um Barcelona de pendor ultra-ofensivo em busca dos golos de que precisava para dar a volta ao jogo. Nada disto aconteceu, e o que vimos foi um Arsenal rapidíssimo e sempre muito perigoso, beneficiando da subida da equipa espanhola no terreno para construir transições ofensivas de extrema rapidez, nas quais ora Hleb, ora Ljungberg, com espaço, eram quase sempre capazes de levar a bola até à zona de remate, onde Henry funcionava como uma seta apontada à baliza de Victor Valdés, e chegou a ter ocasiões soberanas para resolver de vez a contenda. Enquanto isso, o Barça parecia algo atordoado perante a força e a velocidade dos homens de Arséne Wenger, e embora dispusesse de mais posse de bola, não conseguia ter imaginação nem rapidez suficiente para desarticular o rigoroso e determinado processo defensivo dos Gunners. Riijkaard arriscou tudo, recuando Ronaldinho e atirando com Larsson para o centro do ataque (Eto’o continuava a descair para o flanco esquerdo e Giuly para o direito), já depois de ter trocado o defensivo Edmilson pelo rápido e criativo Iniesta no meio campo, mas com essas alterações parecia a dada altura apenas fragilizar mais as suas linhas recuadas, vulneralizando-as às venenosas transições atacantes dos londrinos. Ronaldinho, de quem se esperava um safanão que pudesse dar a volta à situação, fez uma segunda parte tristonha, em que quase nada lhe saiu bem, e quando chegámos ao último quarto de hora o Arsenal parecia ter tudo para conquistar o seu primeiro título europeu.
E eis que, quando tudo parecia perdido, surgem por via dos suplentes entrados, as soluções que o Barcelona não tinha encontrado até aí. Um passe magistral de Iniesta, ligeiro toque de Larsson a deixar fora do lance o central Sol Campbel, e Samuel Eto’o, no limite do fora de jogo, a arrancar para a baliza, atirando fora do alcance do guardião Almúnia, que havia entrado aquando da expulsão de Lehmann. Estava restabelecida a igualdade, e suspeitou-se que, a partir daí, com o empolgamento que o golo naturalmente emprestaria aos jogadores catalães, todo o magnífico esforço do Arsenal poderia cair por terra.
Não foi preciso esperar muito para confirmar esta tendência, e foi mais uma vez o veterano sueco Henrik Larsson a “inventar” uma fabulosa assistência para a entrada do brasileiro Belletti, que com a colaboração de Almúnia – muito infeliz no jogo, fazendo imaginar que com Lehmann em campo o Barcelona poderia ter tido ainda muito maiores dificuldades – acabou por marcar o golo da vitória do Barcelona. O jogo terminou aí.
Para a história fica obviamente o segundo título do Barça, mas quem viu esta final não vai esquecer a extraordinária exibição dos Gunners, que mesmo com apenas dez jogadores em campo conseguiram quase sempre superiorizar-se aos catalães, deixando uma bela imagem das suas capacidades nesta final de Paris.
Em termos individuais, no Arsenal, terão que se destacar os desempenhos de Henry (um perigo à solta e quanto a mim o melhor em campo), o possante Hleb e o fantástico e super-sónico Ljungberg, além de Gilberto Silva, implacável na marcação ao seu compatriota Ronaldinho. Pela negativa, e como já ficou dito, parece ser de lamentar a falta que Lehmann fez na baliza arsenalista, pois, para além da inferioridade numérica – que até nem se sentiu assim tanto – lançou “às feras” um Almúnia nervoso e infeliz. Nos novos campeões, com um meio-Ronaldinho (uma boa primeira parte, mas um segundo tempo muito longe do seu nível) e um Deco também pouco interventivo, destacaram-se sobretudo Larsson, com duas assistências para golo, Eto’o com um golo e uma bola no poste, em magnífico lance individual, Iniesta, que deu algum dinamismo ao meio campo catalão, Belletti, pelo golo, e a espaços também Giuly. Valdez, ao evitar em lances quase sucessivos o segundo golo arsenalista (primeiro a remate de Ljungberg, e logo de seguida com Henry isolado pela frente), revelou-se mais uma vez absolutamente decisivo.
Se ao longo dos noventa minutos de ontem se pode falar de alguma injustiça, há todavia que reconhecer que, pelo que fez ao longo da temporada e nesta competição (com momentos verdadeiramente sublimes como as segundas partes de Stanford Bridge e de San Ciro), o Barcelona é um justíssimo campeão europeu.
Se se vier a confirmar a contratação de Thierry Henry pelos blau-grana, poderemos contar seguramente com novas conquistas desta fabulosa equipa, que parece capaz de marcar uma época no futebol europeu, à semelhança do que fizeram no passado Ajax, Bayern, Real Madrid, Liverpool ou Milan. Para quem gosta de bom e bonito futebol, esta é uma boa notícia.

A GALA DE PARIS

Eis-nos chegados ao mais imponente jogo da temporada futebolística europeia.
Mesmo em ano de mundial, e quando as atenções dos adeptos começam a estar viradas para a Alemanha, a final da Liga dos Campeões é sempre um momento de grande espectáculo, e seguramente que esta, dada a qualidade dos artistas envolvidos, não vai desmerecer da ocasião.
Para enfrentar um super-Barcelona, que faz as delícias de todos os que amam esta modalidade,temos um Arsenal orientado por Arséne Wenger, que foi permanecendo ao longo dos últimos anos no topo do futebol inglês sem nunca conseguir atingir posição de destaque em termos internacionais, para nesta época, em que parecia viver um fim de ciclo chegando apenas ao quarto lugar da Premiership (o que conseguiu só na última jornada), acabar por surpreender na Europa, graças sobretudo a um sistema defensivo quase insuperável e a um Thierry Henry ao seu melhor nível.
Mas está longe de se esgotar em Henry a força desta equipa, que dispõe nos seus quadros de alguns dos mais promissores jogadores do futebol europeu da actualidade, como são os casos do espanhol Cesc Fabregas ou da nova coqueluche da selecção inglesa Walcott.
Na baliza dos gunners surgirá o titular da selecção alemã, o veterano Jens Lehmann, que é uma garantia de segurança total. À sua frente terá Eboué e o experiente internacional Ashley Cole nas laterais, enquanto que o centro da defesa está normalmente a cargo do também experiente e também titular da selecção de Eriksson Sol Campbell, acompanhado por Touré, Cygan ou o Senderos. No meio campo Wenger tem deslocado esta temporada Robert Pires para o centro do terreno, fazendo companhia a Fabregas como elementos criativos da linha de construção da equipa, em parte devido à boa performance de Hleb (ex:Estugarda) pelo lado direito. Na esquerda surge normalmente o internacional sueco Ljungberg, e atrás deste quarteto, como pêndulo do meio campo, temos o possante brasileiro Gilberto Silva, renascido das cinzas depois de duas temporadas de algum apagamento após a sua chegada a Londres, na sequência de um excelente mundial 2002, onde foi titular e campeão pelo seu país. Na frente, muitas vezes de forma solitária, o temível goleador francês Thierry Henry a fazer uma das melhores épocas de sempre da sua carreira, e a englobar o estrito lote de jogadores que pugna pelo segundo posto na hierarquia dos melhores do mundo nesta altura, atrás do inatingível Ronaldinho Gaúcho. Para outras opções Wenger dispõe de um banco de luxo, com Reyes, o veteraníssimo holandês Dennis Bergkamp, o seu compatriota Van Persie, o togolês Emanuel Adebayour e o já referido Walcott.
Este modelo, menos britanizado e mais continental, devido à influência do seu técnico francês, tem revelado uma extraordinária coesão defensiva, fruto de um hábil e harmonioso posicionamento das suas unidades de meio campo, e apenas passível de se tornar eficaz graças à superforma do seu principal (e muitas vezes único) avançado.
Mas não vai ser fácil a missão dos londrinos. Pela frente têm uma das mais entusiasmantes equipas da última década na Europa e no mundo.
Aquando da eliminatória com o Benfica, já aqui tivemos oportunidade de dissecar todas as virtudes deste colosso catalão.
Com um modelo de jogo assente numa pressão asfixiante dos homens mais recuados, e na liberdade criativa das suas fantásticas unidades da frente, este Barcelona de Frank Rijkaard é, no momento, uma equipa quase imbatível.
Na baliza tem um jovem e elástico guarda-redes, Vitor Valdés, que oferece toda a segurança à equipa. À sua frente, numa linha de quatro homens, jogam habitualmente Oleguer, o capitão Puyol, o mexicano Rafael Marquez e o lateral holandês Gio Van Bronckhorst. A estes quatro elementos se junta frequentemente o trinco brasileiro Edmilson, que em processo defensivo funciona quase como um terceiro central, permitindo assim uma maior liberdade aos dois médios que complementam o triangulo de meio campo, o “nosso” mágico Deco e ultimamente a grande promessa do futebol catalão, Iniesta, que depois de “roubar” o lugar sucessivamente a Van Bommel e Thiago Motta se afirmou como indicutível na equipa e presença entre os eleitos da selecção. A harmonia entre estes sete homens é total, e a forma como pressionam os adversários e como compensam os espaços entre si chega a ser inebriante.
À frente já todos sabemos. O fantástico ponta-de-lança camaronês, melhor jogador africano, Samuel Eto’o, bem em cunha entre os defesas contrários, principescamente servido pela fantasia do melhor jogador do mundo Ronaldinho Gaúcho, e por aquele que será nesta altura talvez já o segundo melhor, o prodígio argentino Leo Messi, que no entanto, a recuperar de uma grave lesão poderá estar ausente do Stade de France, sendo então substituído pelo gaulês Ludovic Giuly, justamente quem marcou, em San Ciro, o golo que colocou o Barça nesta final.
O Barcelona não pode deixar de ser considerado favorito, mas finais são finais e em noventa minutos tudo pode acontecer, principalmente quando do outro lado também existem unidades capazes de desequilibrar. Se o Arsenal não tem grande pergaminhos nesta competição (é a sua primeira final), também o Barça não tem sido muito feliz na Taça/Liga dos Campeões, sendo campeão apenas uma vez (em 1992 com golo de Ronald Koeman), e chegando a perder uma final em Sevilha por penalties frente a um surpreendente Steaua de Bucareste, entre algumas outras finais perdidas (uma delas com o Benfica).
Terá chegado a hora de ambos se cruzarem com o destino. Veremos qual leva a melhor. Na época passada tivemos uma deslumbrante final entre uma equipa latina e outra inglesa. É isso que se deseja para logo à noite.
A voz aos artistas. Siga o baile !

ÁGUA NA FERVURA

Tal como em todas as anteriores ocasiões em que Portugal se conseguiu apurar para fases finais de grandes competições internacionais, também desta vez a euforia está a tomar conta do país.
Em 1984, cinquenta e quatro anos após o primeiro mundial disputado no Uruguai, a selecção portuguesa apenas por uma ocasião (Eusébio e os magriços em 1966) havia disputado uma grande competição internacional. De então para cá, com quanto se tenha que reconhecer o enorme salto qualitativo em termos de metodologias de treino e atitude profissional dos atletas, foi sobretudo o constante crescimento do número de países participantes que permitiu a Portugal entrar mais frequentemente no lote dos apurados. Assim sucedeu, quer em mundiais, quer em europeus, em 1986, 1996, 2000, 2002 ,2004 (como organizador) e agora. Este será o nosso quarto mundial.
Se compararmos o palmares de Portugal em mundiais com o de países como a Suécia, Espanha, Rússia, Republica Checa, Hungria, Polónia ou México (do nosso grupo), verificamos o quão pequenos somos no histórico desta competição, e o quanto ela tem sido madrasta para as nossas cores, quer ainda em fases de qualificação (quase sempre), quer nas poucas fases finais disputadas, onde só por uma vez passámos da primeira fase (justamente a de 1966).
Em 1986 Portugal partiu para o México, depois de uma miraculosa qualificação (o célebre pontapé de Carlos Manuel em Estugarda), com a confiança que emanava da sua performance no europeu anterior onde havia chegado às meias finais (derrota com a anfitriã e campeã França de Platini, nos últimos minutos do prolongamento). Também na altura se dizia que Portugal ia disputar o título mundial, e num grupo em que se poderiam até qualificar três (na altura os melhores terceiros eram também apurados para os oitavos de final), como se veio a verificar, e onde teríamos pela frente Inglaterra (que vencemos logo no primeiro jogo), Polónia e Marrocos, ninguém lhe passaria pela cabeça que Portugal não ultrapassasse essa primeira fase, com uma equipa onde brilhavam Futre, Carlos Manuel, Gomes, Diamantino, Sousa, Rui Águas, Jaime Pacheco, Bento, João Pinto, Inácio ou Álvaro.
Aconteceu o que todos sabemos. O célebre caso Saltillo, graves e reiterados tumultos durante o estágio, ameaças de greve, polémicas entre jogadores e federação, e derrotas humilhantes perante a Polónia e Marrocos. Fomos o último classificado do grupo, e única equipa do mesmo a não se apurar para a fase seguinte.
Em 2002, também após um bem sucedido europeu, onde também chegámos às meias finais, também com a França (que também se viria a sagrar campeã e com quem também fomos derrotados apenas no prolongamento), a nossa selecção partiu para a Coreia com uma equipa recheada de estrelas, de Figo (melhor do mundo na altura) a Rui Costa, de Sérgio Conceição a Fernando Couto, passando por Vítor Baía, Paulo Sousa, Paulo Bento, Jorge Costa, Nuno Gomes ou Pauleta, e assumiu-se também claramente como candidata ao título. O grupo que nos saiu no sorteio, com Coreia, Polónia e Estados Unidos, fez a todos pensar que a primeira fase seria um mero passeio de preparação para os jogos seguintes.
Sabemos o que aconteceu. Derrotas com Estados Unidos e Coreia, casos de indisciplina, expulsões e uma eliminação sumária, com saída pela porta dos fundos, e um tumultuoso regresso a Lisboa, onde jogadores, técnicos e dirigentes não foram poupados à ira de adeptos sequiosos de explicações para a tragédia ocorrida a oriente.
A história não se repete, e neste momento há razões para acreditar que, pelo menos em termos disciplinares, nada do sucedido em 1986 e 2002 se venha a repetir. A maior dessas razões dá pelo nome de Luiz Felipe Scolari.
Todavia merece reflexão este passado fado português, onde todas as expectativas foram sempre criadas, e tão alto subiram como tão depressa caíram, envoltas em desilusão e drama.
Serve tudo isto para dizer que considero um abuso, perante o qual a comunicação social tem muitas responsabilidades, considerar-se neste momento Portugal como um dos candidatos ao título no mundial germânico. Dito de outra forma, seria uma tremenda surpresa, um escândalo quase, que Portugal viesse a ser capaz de conquistar um título mundial, até hoje ganho por apenas sete países, perante a concorrência que tem pela frente.
Portugal tem alguns excelentes jogadores (de topo mundial destacaria apenas Ronaldo, Figo, Pauleta, Deco e Ricardo Carvalho), tem uma equipa formada e um grande treinador, mas se olharmos para Brasil, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Argentina, ou mesmo Espanha, Holanda, Suécia e República Checa, chegamos à conclusão que, não só não temos nada a mais que eles, como também, que alguns deles (nomeadamente os sul-americanos) têm argumentos em qualidade e quantidade muitíssimo superiores aos nossos. Basta atentar ao plantel do Brasil, onde pontificam entre outros Kaká, Ronaldo, Robinho, Adriano, Emerson, Edmilson, Roberto Carlos, para não falar de Ronaldinho Gaúcho, ou ao da Argentina com Messi, Tevez, Riquelme, Crespo, Saviola ou Sorin, para se perceber o que são verdadeiros candidatos ao título mundial.
O que será então uma boa participação para o seleccionado nacional ?
Creio que a única coisa que se pode exigir à equipa de todos nós é a passagem à segunda fase, algo que, ainda assim, não será tão fácil como se pretende fazer crer (o México está praticamente ao nosso nível no ranking da Fifa, e o Irão é um desconhecido, do qual apenas se sabe que vai seguramente jogar com o “fanatismo” que o próprio presidente da república lhe pediu, e que será de certo modo também comum a Angola quando nos enfrentar).
Nos oitavos de final teremos provavelmente pela frente Holanda ou, o que seria de evitar a todo o custo, a Argentina. Quem pode falar em favoritismo ? Não será já motivo de regozijo se conseguirmos passar essa fase ?
E depois ? quem aparecerá ? o Brasil ? a anfitriã Alemanha ? a França ? bem... Trinitad e Tobago não será certamente, e a Arábia Saudita também não.
Este vai ser já o oitavo campeonato de mundo de que me lembro, e por muitas voltas que se dê, uma competição com este grau de exigência acaba sempre por pender para quem a ela está mais habituado.
Somos vice-campeões da Europa ? É verdade, mas não podemos esquecer que o fomos a jogar em casa, num clima fantástico de apoio que será absolutamente impossível de transpor para a Alemanha - mau grado todo o empenho das comunidades emigrantes – e que a selecção campeã desse europeu nem sequer estará presente no mundial, o que prova bem a diferente natureza e grau de exigência das duas competições.
Portanto há que ter os pés bem assentes no chão, e encarar o mundial com confiança, mas também com a humildade correspondente ao nosso pobre palmares. Só assim poderemos fazer uma surpresa. Caso contrário poderemos ver repetido o filme do México 86 ou do Coreia 2002, e a verdade é que já o conhecemos de cor.

A LISTA DE SCOLARI

As escolhas do seleccionador são, como resulta da clareza semântica, as escolhas do seleccionador. Não são as minhas, não são as dos jornalistas ou comentadores, nem são as de Pinto da Costa ou qualquer outro dirigente.
Scolari é que escolhe, e ele é que será o responsável por aquilo que os seus escolhidos forem capazes de fazer na Alemanha. Só após a competição se poderá fazer o balanço final, e até lá, esta deve ser, esta tem que ser, a selecção de todos nós.
De qualquer modo, e pela última vez até ao mundial, gostaria de deixar um breve comentário aos jogadores que Felipão convocou, nomeadamente àqueles que não figuravam nos “meus” vinte e três.
BRUNO VALE: Embora eu tivesse optado por Paulo Santos, libertando Vale para os sub-21 a cem por cento, entendo perfeitamente a lógica do seleccionador, repetindo no fundo aquilo que fez com Moreira no Euro 2004. O terceiro guarda-redes muito dificilmente irá jogar um minuto que seja, e percebe-se que assim sendo se opte por um jovem, de modo a proporcionar-lhe uma experiência importante para o seu processo de formação enquanto profissional de topo.
RICARDO COSTA: Se Ricardo Rocha garantia uma extraordinária versatilidade e Tonel uma grande capacidade no jogo aéreo, parece ser lícito afirmar que Ricardo Costa faz a síntese entre os dois. Preferiria Rocha por entender que, sendo mais agressivo, podia ser uma mais valia nas marcações individuais que fosse necessário empreender (poderemos apanhar com Leo Messi logo nos oitavos de final, por exemplo), mas por outro lado entendo o problema político-institucional que poderia ser criado caso nenhum jogador do F.C.Porto, campeão e vencedor da taça, fizesse parte da lista de convocados. Nessa medida aceita-se a opção por este jogador, com um elevado número de internacionalizações nas camadas jovens, e que já por diversas vezes capitaneou o F.C.Porto.
HUGO VIANA: Não tem jogado no Valência, e desde que saiu para Inglaterra há quatro anos, a intermitência e a irregularidade têm sido a nota dominante da sua carreira, que inicialmente parecia destinada a um sucesso retumbante, tal o seu talento.
Na minha opinião, João Moutinho, de capacidade técnica semelhante, é neste momento um jogador mais regular e consistente em termos competitivos. Seria uma alternativa mais credível a uma eventual infelicidade de Deco.
Julgo que a opção se prendeu com a necessidade de manter uma selecção sub-21 forte e capaz de vencer a competição que disputa em sua casa, mas não é despiciendo pensar que o facto de Viana se tratar de um esquerdino possa ter contribuído para a decisão final, tal como, aliás, a justificou Scolari..
LUÍS BOA MORTE: Numa selecção que tem Figo, Ronaldo e Simão, tanto Boa Morte como Quaresma dificilmente seriam primeiras escolhas. Ao optar pelo jogador do Fulham, Scolari libertou o portista para os sub-21 onde é elemento preponderante e capaz de fazer a diferença.
Em termos mediáticos é a decisão mais polémica do seleccionador nacional, mas mesmo sem levar em linha de conta os aspectos referenciados nos comentários deixados neste espaço no dia de ontem, poder-se-ia acrescentar ainda que Boa Morte, sendo regularmente chamado, e tendo ficado “à porta” do Euro-2004, não merecia ser novamente preterido, justamente depois da excelente época que realizou na Premier League onde pontificou como uma das principais estrelas da sua equipa.

A partir de agora são estes os melhores vinte e três jogadores nacionais, e serão eles que teremos de apoiar rumo à glória. Este seleccionador já nos deu fortíssimos motivos para confiarmos no seu trabalho. Tem uma personalidade fortíssima, tem experiência (sabe inclusivamente o que é ganhar um mundial), tem carisma e é respeitado pelo grupo. A sua lógica de trabalho, utilizando uma base de jogadores fixa, é inatacável, e há muito tempo que todas as grandes selecções do mundo, aquelas que ganham títulos, funcionam assim. Só assim é possível ter uma verdadeira equipa, e não um mero conjunto de bons jogadores como era infelizmente habitual nas nossas selecções, nas quais depois, só por acidente, os bons resultados apareciam.
Pela minha parte, acabaram as polémicas, e bom seria que todos os agentes do futebol, da comunicação social aos dirigentes dos clubes, interiorizasse que só com total união será possível criar a envolvente necessária a uma boa prestação.
Força Scolari !
Força jogadores !
Força Portugal !

AINDA QUARESMA...

A polémica em torno da não convocação de Quaresma para o mundial parece estar para durar. No entanto, é possível vislumbrar um conjunto de motivos capaz de justificar a decisão de Scolari.
Se juntarmos aos episódios relembrados no comentário anterior, a reacção de Quaresma à sua substituição em Alvalade - depois de um lance em que deveria ter sido expulso por agressão a Tonel - e ainda o seu suposto distanciamento face aos colegas aquando do estágio antes do Portugal-Arábia Saudita na Alemanha, onde terá passado o tempo todo isolado e a ouvir música (para mais sabendo que estava a ser testado), teríamos encontrado razões suficientes para um seleccionador com o perfil de Luiz Felipe Scolari o não convocar para um evento onde se exige, além de um grupo coeso, profissionais capazes de representar o país de forma cuidada e exigente, em todas as situações que se lhes venham a deparar.
Todavia, parece óbvio que a razão da não convocação do extremo portista se prendeu basicamente com dois aspectos fundamentais, e do âmbito desportivo:
-A aposta que a federação faz no "seu" Euro-sub 21, onde Quaresma é um elemento nuclear.
-A fortíssima concorrência existente no grupo de Scolari para as posições de extremo, que inclui Figo, Ronaldo, Simão e Boa Morte, o que faria com que Quaresma não viesse provavelmente a ser titular na Alemanha.
Fossem quais fossem as razões nada justificaria contudo a ira do presidente portista e de alguns dos seus mais fiéis seguidores, perante um seleccionador que, além de ter conduzido Portugal à sua melhor performance de sempre em europeus, se prepara agora para dar corpo às nossas esperanças num mundial para o qual nos qualificou “com uma perna às costas”, o que também nunca – dessa forma - acontecera na história do nosso futebol.
Infelizmente existem pessoas com responsabilidades no futebol português, e Pinto da Costa é uma delas, a quem as atitudes mais ignóbeis são desculpadas e branqueadas por uma comunicação social sistematicamente de cócoras perante quem detém o poder, o que aliás parece também suceder com a justiça, ao contrário do exemplo que nos vem de outros países bem mais desenvolvidos que o nosso (na Itália ainda poderemos ver a Juventus na segunda divisão, tal como já sucedeu com o Milan)
Além de ter edificado e promovido, ao longo das décadas que leva no dirigismo, uma falsa e absurda guerra norte-sul, contribuindo para o acentuar de clivagens regionalistas sem razão de ser num país da dimensão do nosso, além do constante clima de guerrilha que implementou no futebol, com as suas insuportáveis ironias e cinismos, além de se ter achado no direito de enfrentar o poder autárquico democraticamente eleito na sua cidade logo que este não lhe satisfez os caprichos a que parecia estar habituado, Pinto da Costa parece agora apostado em, do alto do seu título nacional, afrontar a selecção nacional, o seleccionador e todos os portugueses que não fazem parte do seu séquito de fanáticos e arruaceiros.
Se esta não é a selecção do “seu” país, pois ainda bem. Esta é a selecção de Portugal, de Trás os Montes ao Algarve, do litoral ao interior, dos Açores, da Madeira, de Lisboa e...do Porto (que felizmente está muito para além do senhor Pinto da Costa).
É esta selecção que vai disputar o mundial, e é este o seleccionador, nem sequer adiantando nesta fase discutir as suas capacidades que, aliás, pelo que já fez, deveriam estar acima de qualquer polémica estéril como aquela a que estamos a assistir.
Hoje, a partir das 20.00 horas, os vinte e três que Scolari escolher, serão os vinte e três melhores jogadores de Portugal, e serão eles que todos teremos de apoiar incondicionalmente. No final da competição poder-se-á fazer então o balanço. Qualquer outra atitude será inaceitável, e este espírito tem de começar pela comunicação social, se é que quer contribuir para o sucesso da missão portuguesa na terra de Goethe.

UNS TÊM, OUTROS NÃO

João Moutinho aquando da eliminatória europeia entre Benfica e Barcelona : "O Benfica é uma equipa portuguesa, e como tal desejo-lhes toda a sorte e que passe a eliminatória"
Ricardo Quaresma na mesma altura: "Torço pelo Barcelona !"

João Moutinho ao saber que tinha sido convocado para o europeu de sub-21, falhando assim o mundial: "Estou satisfeito de ter sido convocado para esta grande competição (sub-21), pois é sempre um orgulho representar o meu país"
Ricardo Quaresma, exactamente nas mesmas circunstâncias : "Fiquei triste, pois pelo que fiz esperava ser convocado para os AA. Se não me convocaram foi porque não quiseram"

João Moutinho, que venceu os dois jogos que disputou com o Benfica, após o jogo em que, com um golo seu, o Sporting garantiu o segundo lugar e se apurou para a Liga dos Campeões: "Estou satisfeito pelo golo, mas sobretudo pela importante vitória do clube"
Ricardo Quaresma, que perdeu os dois jogos com o Benfica, no dia em que o seu clube festejou o título gritando em cima do autocarro: "Slb, Slb, Filhos da P..., Slb"

Veremos onde estarão, dentro de uns cinco anos, estas duas jovens promessas do futebol luso.

VEDETA DA LIGA

O central benfiquista LUISÃO foi considerado pelos cibernautas visitantes do VEDETA DA BOLA como o melhor jogador da Liga Portuguesa em 2005-2006.
O brasileiro obteve 31 votos e ficou à frente do seu compatriota Liedson com 21, e do argentino Lucho Gonzalez com 20.
Ficam os parabéns a Luisão, e um agradecimento a todos os que participaram nesta iniciativa.

DE UMA GOLADA APENAS, BEBEU O DRAGÃO A SUA TAÇA

Um excelente golo de Adriano foi suficiente para o F.C.Porto fazer a “dobradinha” e vencer a sua décima terceira Taça de Portugal, igualando assim o Sporting no segundo lugar do histórico da competição.
Foi um jogo agradável, sobretudo na segunda parte quando o Vitória de Setúbal perdeu a vergonha e concluiu que, se queria ter pretensões a ganhar a taça, teria que fazer por isso. Até ao golo, os sadinos haviam sido demasiado cautelosos e permitiram com isso ao F.C.Porto fazer o que mais gosta, ou seja, assumir o jogo e empurrar o adversário para a sua defensiva.
Brilharam os dois guarda-redes brasileiros, com um conjunto de grandes defesas, em maior número de Rubinho, que foi fazendo com que se mantivesse alguma incerteza no resultado até final.
Destaque individual também para Carlitos - com alguns lances de grande classe, e finalmente a justificarem o porquê de ter sido contratado pelo Benfica – e para Quaresma, que pareceu jogar de “raiva”, querendo mostrar a Scolari que tinha lugar na selecção principal. Adriano fez o que se lhe pedia, marcando um grande golo.
Ao contrário da época passada, não houve surpresa no Jamor. Então, um Vitória bem mais forte que este (com Jorginho, Meyong, Moretto e Manuel José entre outros), venceu um Benfica em descompressão após a conquista, poucos dias antes, de um título que lhe fugia havia onze anos. Desta vez, os setubalenses não foram capazes de derrotar um Porto com os seus festejos já feitos havia várias semanas, e fortemente motivado para mais esta conquista. De qualquer forma, com os problemas que o clube tem vivido, só o facto de chegar ao Jamor por dois anos consecutivos já é um motivo de orgulho para este histórico do futebol nacional.
Nota final para os lamentáveis distúrbios nas bancadas de que resultou um ferido (para quando acabar de vez com os petardos nos campos de futebol ?) e para os inúmeros problemas registados nas entradas no estádio. Já na época passada as coisas não haviam corrido muito bem, e na altura, tendo presenciado o jogo, fiz as seguintes considerações:

“O Estádio Nacional é muito bonito, deve ser preservado na sua monumentalidade, mas não tem de todo condições para um jogo de enchente como este. Não sei o que poderia acontecer caso houvesse desacatos graves e necessidade de intervenção policial, mas poderiam até morrer pessoas (o que infelizmente já sucedeu neste palco). A FPF, ainda no mesmo amadorismo de há vinte anos, vendeu mais bilhetes (ou convidou mais gente, pois os bilhetes enviados para os clubes foram em número bastante limitado) do que cabia nos lugares e as escadarias estavam cheias de gente espalmada contra os muros de pedra. Os acessos são caóticos em termos de trânsito (estive quase duas horas às voltas até estacionar), e há que contar com a incompetência das nossas forças policiais que, nestes momentos, ao invés de flexibilizar as regras de trânsito facilitando a vida a todos, parecem empenhadas em ser ainda mais rígidas, em nome de...não sei o quê, mas suspeito bem que a preocupação fosse apenas salvaguardar a passagem e o estacionamento dos inúmeros VIP convidados para uma festa que deveria, antes de mais, ser popular”.

Se nada for feito, temo que nos próximos anos seja necessário acabar com esta bonita festa, e jogar a taça noutros estádios com mais segurança e conforto para quem paga (e bem) o seu bilhete, e que é afinal a razão de existir deste fabuloso espectáculo que é o futebol.

VINTE E TRÊS VEDETAS PARA A ALEMANHA

Quando estamos a poucos dias de Luiz Felipe Scolari revelar a lista definitiva de convocados para representar o nosso país no mundial da Alemanha, VEDETA DA BOLA, dando largas ao seleccionador de bancada que existe dentro de cada um de nós, avança também com a sua proposta. Ora aí vai ela:

GUARDA-REDES- Ricardo, Quim e Paulo Santos
DEFESAS- Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Fernando Meira, Nuno Valente, Miguel, Ricardo Rocha e Marco Caneira
MÉDIOS- Costinha, Maniche, Deco, Petit, Tiago e João Moutinho
AVANÇADOS- Luis Figo, Pedro Pauleta, Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma, Nuno Gomes, Simão Sabrosa e Hélder Postiga.

AFINAL TAMBÉM HÁ FUMO SEM FOGO

Para quem estiver farto de bola, LF fala de outros temas em:
Fumo Sem Fogo

A Liga Portuguesa 2005-2006 de A a Z

A de ADRIAANSE – Depois de muita contestação, insultos e até agressões, o técnico holandês acabou por conseguir levar a água ao seu moinho, conquistando o título, marcando presença no Jamor, e silenciando os críticos. Cedo enveredou por um experimentalismo radical, a que os portugueses estariam pouco habituados. Prescindiu de Jorge Costa, Postiga, Diego, Nuno Valente e até, de certa forma, de Vítor Baía, atitudes que o fizeram comprar uma guerra com a poderosa claque oficial dos dragões. Para a história nada disso será relevante, mas sim um título ganho com todo o mérito, com poucos pontos perdidos, com bastante regularidade e ainda com a valorização de vários jogadores do plantel.

B de BENFICA – O anterior campeão evidenciou desde cedo uma irregularidade não compaginável com a revalidação dum título que, à partida, tinha tudo para se consumar. Mantendo a estrutura da época anterior, e reforçando-se no defeso com elementos de inegável qualidade (Nelson, Anderson, Leo, Karagounis ou Miccoli), a equipa de Koeman nunca chegou, estranhamente, a encontrar um modelo de jogo coerente, mau grado alguns brilharetes pontuais. A dada altura da temporada pareceu estabilizar, conseguindo sete vitórias consecutivas e não sofrendo golos, mas esse trajecto não teve continuidade. Não se pode contudo dissociar a prestação encarnada na liga doméstica, da excelente presença europeia que aglutinou esforços e vontades, e dispersou atenções e motivações, fez os adeptos sonhar, e não fosse o madrasto sorteio dos quartos de final poderia ter sido ainda mais faustosa. Com a saída do técnico holandês, o Benfica tem uma boa base de trabalho para um novo treinador, e poderá recuperar a rota que vinha a percorrer, e que lhe valeu um título e uma taça.

C de CASOS – Embora a arbitragem não tivesse sido tão criticada nesta edição da liga como na anterior, fruto de um maior equilíbrio então verificado, a verdade é que casos bastante estranhos foram-se sucedendo, de entre os quais se poderia destacar o golo do União de Leiria em Alvalade, que incrivelmente só um fiscal de linha não viu, um golo fantasma de César Peixoto frente à Académica, outro do Estrela em Barcelos, ou um penálti assinalado e depois emendado por Carlos Xistra no F.C.Porto-Marítimo, entre muitos outros erros claros que foram, aqui e ali, adulterando a classificação. Globalmente pode-se dizer que o Sporting (apesar da sua já tradicional postura contestatária) acabou por ser esta época a equipa mais bafejada pela sorte das arbitragens, vendo passar incólume uma série de grandes penalidades cometidas pelos seus centrais no primeiro terço da segunda volta, o que coincidiu justamente com o período da sua recuperação na tabela classificativa.

D de DIVISÕES – Se no Sporting as divisões se situaram no plano directivo e não interferiram no desempenho da equipa em campo - pelo menos desde que Peseiro e Dias da Cunha saíram de Alvalade - e no F.C.Porto afectaram o relacionamento entre técnico e claques, já no Benfica os episódios mais polémicos se passaram no interior do balneário. Karagounis e Luisão, Miccoli e Anderson, Luisão e Marcel, entre outros, protagonizaram episódios de aparente conflito à vista todos, e esses terão sido importantes contributos para o desagregar de um balneário, que no final da época anterior era verdadeiramente de betão.

E de ESTREIA – Paulo Bento estreou-se como técnico principal a meio desta temporada, e pode-se dizer com propriedade que constituiu uma enorme revelação. Não obstante a sua reiterada estratégia de pressão de arbitragens – manifestando de algum modo, também nesse aspecto, um profundo conhecimento das idiossincrasias do futebol português – o jovem técnico demostrou uma personalidade fortíssima, uma capacidade de liderança notável e conseguiu transformar, para melhor, um plantel bastante limitado, levando-o com todo o merecimento à entrada directa na liga dos milhões. A próxima época poderá confirmar todas as capacidades que esta revelou.

F de F.C.PORTO – Foi o justo campeão, e como tal não podia deixar de figurar neste balanço. Já se falou de Adriaanse – e este Porto tem indelevelmente a sua impressão digital – mas a equipa foi também um grupo de jovens e talentosos jogadores, como Quaresma, Pepe, Meireles entre outros, conjugados com a classe e o comando do argentino Lucho Gonzalez e, na fase final, também com a eficácia goleadora de Adriano. Não foi brilhante mas foi regular, não vacilou no momento decisivo e merece o título. Fica todavia por saber o que teria sido a temporada portista, se porventura tem ido mais longe, como decerto desejaria, na Champions League.

G de GOLOS – Golos foi o que não houve em abundância nesta competição. A média global baixou drasticamente, e nas últimas jornadas foi frequente ver, em nove jogos, um pobre pecúlio de onze ou doze golos. Mau futebol e pouca eficácia foram as notas dominantes desta liga, que teve desde cedo um número inusitado de equipas lutando apenas pela permanência no escalão principal.

H de HELTON – Protagonizou uma das surpresas da temporada, ao remeter o consagrado e idolatrado Vítor Baía para o banco de suplentes. Mesmo com essa enorme sombra atrás de si, conseguiu tornar-se num dos pilares do título azul e branco, revelando-se um dos melhores guarda-redes a actuar no nosso país.

I de INVERNO – Foi no mercado de inverno que o Benfica comprometeu, em parte, a sua época. A intenção era boa, ao aproveitar os dividendos do apuramento na primeira fase da Liga dos Campeões para dotar a equipa de um plantel mais denso, capaz de resistir ao desgaste das três competições em que nessa altura participava. Os reforços foram extremamente elogiados pela imprensa na altura, e criou-se a ideia de que o Benfica, mais cedo ou mais tarde, iria chegar facilmente ao primeiro lugar. Na verdade jogadores como Marcel, Marco Ferreira e Manduca pouco trouxeram ao futebol da equipa, mas sobretudo o apagado desempenho de Laurent Robert, agravado por notícias acerca do seu milionário vencimento, e a telenovela em torno da contratação do guarda-redes Moretto, a quem Koeman atribuiu inexplicavelmente a titularidade, sem que quase tivesse treinado com a equipa, originaram polémica, quer fora, quer dentro do clube, acabando por revelar-se autênticos tiros no pé das ambições benfiquistas.

J de JOÃO MOUTINHO – Não começou bem a temporada mas com o decorrer da liga, e sobretudo após a chegada de Paulo Bento ao comando da equipa, o jovem algarvio arrancou para um belíssimo desempenho, onde nem sequer faltaram os golos. Poderá não estar no mundial em virtude da sua influência na selecção de sub 21, mas decerto que tem um lugar assegurado na selecção principal para a próxima década. Também fora dos relvados se revelou um jovem extremamente maduro e senhor de si, o que deixa total garantia de se tratar de um elemento de larguíssimo futuro no futebol nacional e internacional. Um verdadeiro craque.

K de KOEMAN – Agora que saiu, é possível fazer um balanço mais frio daquilo que foi o seu trabalho na Luz. Nunca conseguiu organizar a equipa em campo, perdeu-se em declarações pouco prudentes e que acabaram por servir apenas para dar força aos adversários, e contribuiu com opções incompreensíveis para o desagregar de uma mística que tinha renascido com Camacho e que Trapattoni soube muito bem aproveitar. Deixou sempre a sensação de conhecer muito mal o futebol português, a história recente do Benfica, e alguns dos jogadores que tinha ao dispor, algo que nem após um ano de trabalho conseguiu ultrapassar devidamente. No outro lado da moeda, conseguiu armar muito bem os jogos internacionais (para os quais é fácil motivar os jogadores, diga-se) proporcionando ao clube uma caminhada muito bem conseguida na principal competição da Europa, chegando a dar a sensação de que o sonho de uma nova final seria possível, o que não se deve desprezar. Saiu pela porta da frente, deixando gratos elogios ao clube. Que seja feliz.

L de LUCHO GONZALEZ – Vinha rotulado de craque e pode-se dizer que não desiludiu. Foi de uma regularidade impressionante, tornando-se inclusivamente o melhor marcador dos portistas. Não fosse alguma lentidão de processos, estaríamos perante um dos melhores jogadores do mundo. Claramente acima da média, neste nosso pobre campeonato.

M de MORETTO – Foi uma das estrelas da primeira volta, quando esteve largas centenas de minutos sem sofrer golos num Vitória de Setúbal onde por vezes nem salário recebia. A sua bombástica contratação pelo Benfica fez cair sobre ele uma pressão inusitada, e entrou na Luz como um fora-de-série que de facto não era. Koeman poderia tê-lo protegido aos primeiros sinais de intranquilidade, ganhando o seu futuro, e também a confiança e o respeito de Quim e do restante plantel. O técnico holandês insistiu nele até ao absurdo e o último jogo em Paços de Ferreira foi apenas mais um triste capítulo desta sua epopeia de águia ao peito. Nas competições europeias teve momentos de brilhantismo (nomeadamente um penálti defendido de Ronaldinho Gaúcho), o que mostra que tem valor. Mas nunca justificou uma titularidade tão persistente. Ficou com pouco espaço para integrar a equipa no próximo ano.

N de NACIONAL DA MADEIRA – Foi a equipa sensação da primeira metade da prova, e chegou a dar a sensação de se poder imiscuir na luta pelos lugares de acesso à Liga dos Campeões. Na sequência de algumas declarações desajustadas do seu presidente (que poderão ter criado uma pressão adicional no grupo de trabalho), e do desgaste de um plantel com poucas opções de banco, a equipa madeirense foi caindo, acabando no entanto por assegurar, in-extremis, um merecido lugar na Taça Uefa. O desempenho nacionalista confirmou também as potencialidades de Manuel Machado, um dos melhores treinadores da futebol português da actualidade.

O de ORDENADOS EM ATRASO – Nota dominante em muitos períodos desta temporada foram as constantes notícias de salários em atraso, sobretudo em em grande parte dos clubes da Liga de Honra, mas também em alguns da Liga principal. O caso mais significativo foi o do Vitória de Setúbal, que a venda de Moretto acabou por disfarçar. Depois também se falou do Boavista, Marítimo, Rio Ave, Académica, Belenenses, Estrela da Amadora e até do Sporting. Dez anos depois da implementação das SAD’s, na altura apresentadas como a solução para todos os problemas do futebol português, o panorama não podia ser mais sombrio, com um grande número de clubes a afundarem-se perante modelos competitivos completamente desajustados da dimensão do país, e formas de gestão arcaicas e irresponsáveis. Veremos até quando esta enorme avestruz se consegue manter com a cabeça debaixo de uma areia cada vez mais movediça.

P de PINTO DA COSTA - Teve uma época em cheio, conquistando um título no qual apostou muito forte, de forma inclusivamente pessoal e extremamente arriscada, e quase em simultâneo viu sair-lhe de cima o pesado fardo do processo Apito Dourado, que o atormentara no ano anterior. Um autêntico Jackpot, que pode indiciar estarmos perante mais uma vida deste histórico “gato” do futebol português.

Q de QUARESMA - Começou a época no banco, mas desde pronto se assumiu como um elemento preponderante no ataque da sua equipa. Durante várias jornadas inundou os estádios portugueses com a sua classe, as suas prodigiosas assistências e alguns golos de compêndio, chegando a ser considerado por muitos como o melhor jogador da liga. Apagou-se na ponta final, o que voltou a levantar dúvidas sobre a sua presença no mundial da Alemanha, dado que também o europeu de sub-21 clama pela sua presença. Ainda assim, juntamente com Lucho, Luisão, Simão, Liedson e Moutinho, foi uma das estrelas máximas da Liga.

R de REVELAÇÕES – Os limites do abecedário não permitem uma referência exaustiva a todos os nomes que se revelaram nesta prova. Contudo, não se pode deixar de mencionar Nani (sensacional jogador), Nelson (soberba primeira volta), Tonel (sempre muito seguro e forte no jogo aéreo), Raul Meireles (táctica e tecnicamente um elemento valiosíssimo), Paulo Assunção (o pêndulo do F.C.Porto), Pepe (um dos melhores centrais da liga) e Léo (mau grado a sua idade, chegou a deslumbrar) como os jogadores que mais surpreenderam durante a temporada . Entre os treinadores nota de realce para a afirmação de Jorge Jesus e sobretudo para a revelação absoluta de Toni. Na ponta final é de salientar também os trabalhos do estreante Paulo Alves e de Horácio Gonçalves, que conseguiram, contra todas as previsões, salvar as suas equipas da Liga de Honra.

S de SPORTING – Quando à entrada para as últimas quinze jornadas, o Sporting se encontrava em sexto lugar com cinco derrotas e quatro empates, a seis pontos do Benfica e a nove do F.C.Porto, ninguém imaginaria que semanas depois estivesse a discutir o título palmo a palmo. Uma impressionante sequência de dez vitórias seguidas, iniciada em pleno Estádio da Luz, durante a qual apenas sofreu dois golos, ambos de penálti, foram o ponto alto da época leonina. A equipa conseguiu alhear-se de toda a convulsão directiva em que o clube se foi deixando enlear, e denotou dentro do campo uma alma, uma organização, uma disciplina e uma força de vontade, que atestam vigorosamente os méritos do seu jovem técnico. Já nenhum adepto do Sporting se recordará dos tempos de Peseiro, dos constantes casos disciplinares, nem da humilhação perante o Halmstad. Os leões partem para a nova época com um capital acrescido de confiança. Mas a presença na Champions não é suave, e exige muito mais do que uma equipa esforçada e disciplinada. Exige por exemplo um banco de suplentes à altura do onze titular, coisa que a equipa de Paulo Bento ainda não tem.

T de TÁCTICAS – Depois de um ano marcado pelo realismo italiano de Trapattoni, pelo seu futebol cínico de contra-ataque e de menosprezo pela posse de bola, por antagonismo com um Sporting de Peseiro, plasticamente sumptuoso, mas deficitário em capacidade de choque e nas transições defensivas, tivemos esta época nos treinadores holandeses que por cá trabalharam, elementos de estudo interessantes no que à cientificidade do futebol diz respeito. Muito deram que falar os três defesas de Adriaanse, que afinal eram quatro (nos jogos mais importantes Paulo Assunção funcionou como quarto central), e os quatro avançados quer do F.C.Porto, quer em muitos jogos do Benfica (apenas com Manuel Fernandes e Petit no meio campo). Dos três grandes, o que menos "inventou" foi Paulo Bento, aplicando com pragmatismo um meio campo em losango (inspirado no F.C.Porto de José Mourinho) e dois pontas de lança, indo de encontro às principais características do plantel de que dispunha, e com isso foi quem melhor terá rentabilizado os recursos. Adriaanse foi determinado e persistente nas suas ideias, e acabou por vencer, Koeman, periclitante e inseguro, foi o maior derrotado. Uma das curiosidades que fica para a próxima época, será a de verificar como se poderá adaptar ao futebol internacional o modelo, entretanto já rotinado, de Co Adriaanse.

U de ÚLTIMOS – Com dois terços das equipas a lutar desesperadamente contra a descida de divisão durante jornadas a fio, este campeonato foi de certo modo uma autêntica Liga dos Últimos. O resultado prático deste facto foi um futebol paupérrimo, pouquíssimos golos, tácticas ultra-defensivas e anti-jogo generalizado.

V de VITÓRIA DE GUIMARÃES – Se o Belenenses foi uma desilusão de última hora, o também histórico clube vimaranense desde o início demonstrou uma série de problemas que acabaram por culminar numa dramática descida para a Liga de Honra, algo que não acontecia há muitas décadas. Um plantel mal estruturado, com demasiados criativos, sem jogadores para as alas, e com pouca capacidade de combate, constituíram o pecado original dos minhotos. A partir de certo momento se percebeu que também o ambiente interno não era o mais saudável. Jaime Pacheco deixou o clube e Vítor Pontes parecia o homem indicado para encetar a recuperação, mas o que é certo é que nunca conseguiu fazer o clube sair da linha de água, nem pareceu ser capaz de motivar um plantel a cada semana mais destroçado em termos anímicos. Nas últimas jornadas a intranquilidade instalou-se entre jogadores, treinador e adeptos, e as hipóteses de salvamento esfumaram-se. O Vitória minhoto, com as condições que tem, irá seguramente voltar para o convívio dos grandes dentro de um ano.

X de XADREZ – O Boavista foi outra das muitas desilusões desta liga. Uma sequência de sete vitórias consecutivas (quase sempre sob a batuta de um renascido João Vieira Pinto) gerou a expectativa de reaparecimento de um “Boavistão” capaz de se bater pelos primeiros lugares. No fim das contas nem a presença na Uefa conseguiu segurar, fruto de alguns resultados decepcionantes na fase final da competição, de um desinvestimento no plantel no mercado de Janeiro, e também, ao que se sabe, de alguma instabilidade interna resultante do célebre ditado popular que diz que em “casa onde não há pão, todos ralham mas ninguém tem razão”. O técnico Carlos Brito, sempre muito intranquilo, é talvez quem sai mais chamuscado desta fogueira que foi o Boavista 2005-2006. Vem aí um novo ciclo com Jesualdo Ferreira.

Z de ZONA CENTRO – A tremenda crise económica em que vivemos, e à qual o futebol obviamente não escapa, tem deixado as suas marcas na configuração geográfica da liga portuguesa. O futebol é uma industria que carece de investimentos significativos (designadamente em publicidade ou afins), e naturalmente acompanha a tipologia da estrutura empresarial das respectivas regiões. Os anos setenta e o período pós-revolucionário marcaram o declínio, até agora irreversível, das equipas de uma margem sul do Tejo economicamente assente na tradicional indústria pesada (chegaram a estar ou passar pela primeira divisão V.Setúbal, Montijo, Barreirense, CUF, Seixal e Unidos), e paralelamente incrementaram o poder das áreas de pequena e média indústria do grande Porto e Vale do Ave. Esta realidade parece agora estar em vias de ser alterada. Varzim, Salgueiros, Leixões, Riopele, Famalicão, Tirsense, Vizela, Moreirense, Feirense, Espinho ou Felgueiras, com passagens mais ou menos conseguidas pela primeira divisão, estão agora remetidos para escalões secundários ou mesmo desaparecidos do mapa futebolístico nacional. A eles se juntaram este ano Rio Ave e Penafiel, sendo que V.Guimarães é um caso especial, e Gil Vicente e Paços de Ferreira conseguiram evitar a despromoção na última jornada.
Pelo contrário, quem parece estar a querer emergir nesta conturbada fase do futebol nacional, com uma representatividade crescente na liga principal, é a zona centro do país. Aos Naval, União de Leiria e Académica, junta-se na nova época o Beira-Mar. Quatro equipas, num total de apenas dezasseis, do curto espaço de território compreendido entre Leiria e Aveiro, podem ser apenas mera coincidência, mas também podem constituir a génese de uma nova estruturação geográfica do nosso campeonato, respondendo a uma realidade económica na qual vão perdendo força os apoios resultantes de envolventes industriais alicerçadas na exploração de mão de obra pouco qualificada e barata, arcaísmo produtivo, pouca ou nenhuma inovação, e frequentemente também trabalho infantil, em muitos casos verificáveis nas tradicionais industrias têxteis e de calçado mais a norte do país, sectores em profunda degradação fruto também da fortíssima concorrência asiática, para darem lugar a pólos de modernização industrial de carácter predominantemente inovador, ligados frequentemente às novas tecnologias, onde o sentido empreendedor floresce, e que parecem, grosso modo, situar-se numa órbita geográfica mais a centro do nosso território. Os próximos anos vão com certeza confirmar ou desmentir esta tendência.