OLÉ BARÇA

Sem surpresa, o Barcelona conquistou em Paris a sua segunda Liga dos Campeões.
Esta vitória foi o corolário lógico duma fantástica época desta super-equipa, construída meticulosamente desde que Joan Laporta assumiu os destinos do clube catalão (e que Frank Rijkaard chegou ao comando técnico da equipa), e assente na extrema classe individual de alguns dos seus futebolistas, com Ronaldinho Gaúcho à cabeça, e assim, numa noção de futebol espectáculo que parecia já arredada da filosofia generalizada nos principais clubes europeus.
Enquanto o Real Madrid contratava ex-“Bolas de Ouro” já em curva descendente nas suas afamadas carreiras, o Barça entretinha-se a contratar ambiciosos e futuros “Bolas de Ouro”, ou pelo menos candidatos a isso. Ronaldinho, Deco, Eto’o e Messi são do melhor que o futebol mundial dispõe neste momento, e todos eles cresceram significativamente desde que chegaram a Nou Camp, numa antítese perfeita com o percurso de jogadores ricos e aburguesados como Ronaldo ou Beckham, que foram as principais bandeiras dos últimos anos em Madrid.
Ontem no Stade de France, o Barcelona nem sequer foi a melhor equipa, mas quem tem os artistas de que os blau-grana dispõem, e as soluções de banco em qualidade e abundância que mais uma vez demonstraram possuir, também merece de vez em quando ser feliz.
O Arsenal surpreendeu pela forma afirmativa como abordou os minutos iniciais da partida, não temendo o adversário e partindo para cima dele com movimentações rapidíssimas dos seus médios mais criativos, e contando com a inspiração individual de Henry no ataque (que grande exibição!) construiu dois lances de golo ainda nos primeiros cinco minutos.
O lance da expulsão de Lehmann – mal ajuizado pelo árbitro norueguês, pois a lei da vantagem deveria ter sido concedida e o golo de Giuly validado - foi um duro golpe nos londrinos, que ainda assim conseguiram suster alguns momentos de avalanche atacante dos catalães, para nos momentos finais da primeira parte conseguirem, quando menos se esperava, colocar-se em vantagem no marcador, com um livre milimétrico de Thierry Henry para a cabeça de um Sol Campbel deixado só por desatenção de um pouco inspirado Oleguer.
Na segunda parte esperar-se-ia um Arsenal remetido às suas zonas mais recuadas, com menor audácia dos seus médios - agora em menor número em virtude da necessária substituição de Robert Pires - e um Barcelona de pendor ultra-ofensivo em busca dos golos de que precisava para dar a volta ao jogo. Nada disto aconteceu, e o que vimos foi um Arsenal rapidíssimo e sempre muito perigoso, beneficiando da subida da equipa espanhola no terreno para construir transições ofensivas de extrema rapidez, nas quais ora Hleb, ora Ljungberg, com espaço, eram quase sempre capazes de levar a bola até à zona de remate, onde Henry funcionava como uma seta apontada à baliza de Victor Valdés, e chegou a ter ocasiões soberanas para resolver de vez a contenda. Enquanto isso, o Barça parecia algo atordoado perante a força e a velocidade dos homens de Arséne Wenger, e embora dispusesse de mais posse de bola, não conseguia ter imaginação nem rapidez suficiente para desarticular o rigoroso e determinado processo defensivo dos Gunners. Riijkaard arriscou tudo, recuando Ronaldinho e atirando com Larsson para o centro do ataque (Eto’o continuava a descair para o flanco esquerdo e Giuly para o direito), já depois de ter trocado o defensivo Edmilson pelo rápido e criativo Iniesta no meio campo, mas com essas alterações parecia a dada altura apenas fragilizar mais as suas linhas recuadas, vulneralizando-as às venenosas transições atacantes dos londrinos. Ronaldinho, de quem se esperava um safanão que pudesse dar a volta à situação, fez uma segunda parte tristonha, em que quase nada lhe saiu bem, e quando chegámos ao último quarto de hora o Arsenal parecia ter tudo para conquistar o seu primeiro título europeu.
E eis que, quando tudo parecia perdido, surgem por via dos suplentes entrados, as soluções que o Barcelona não tinha encontrado até aí. Um passe magistral de Iniesta, ligeiro toque de Larsson a deixar fora do lance o central Sol Campbel, e Samuel Eto’o, no limite do fora de jogo, a arrancar para a baliza, atirando fora do alcance do guardião Almúnia, que havia entrado aquando da expulsão de Lehmann. Estava restabelecida a igualdade, e suspeitou-se que, a partir daí, com o empolgamento que o golo naturalmente emprestaria aos jogadores catalães, todo o magnífico esforço do Arsenal poderia cair por terra.
Não foi preciso esperar muito para confirmar esta tendência, e foi mais uma vez o veterano sueco Henrik Larsson a “inventar” uma fabulosa assistência para a entrada do brasileiro Belletti, que com a colaboração de Almúnia – muito infeliz no jogo, fazendo imaginar que com Lehmann em campo o Barcelona poderia ter tido ainda muito maiores dificuldades – acabou por marcar o golo da vitória do Barcelona. O jogo terminou aí.
Para a história fica obviamente o segundo título do Barça, mas quem viu esta final não vai esquecer a extraordinária exibição dos Gunners, que mesmo com apenas dez jogadores em campo conseguiram quase sempre superiorizar-se aos catalães, deixando uma bela imagem das suas capacidades nesta final de Paris.
Em termos individuais, no Arsenal, terão que se destacar os desempenhos de Henry (um perigo à solta e quanto a mim o melhor em campo), o possante Hleb e o fantástico e super-sónico Ljungberg, além de Gilberto Silva, implacável na marcação ao seu compatriota Ronaldinho. Pela negativa, e como já ficou dito, parece ser de lamentar a falta que Lehmann fez na baliza arsenalista, pois, para além da inferioridade numérica – que até nem se sentiu assim tanto – lançou “às feras” um Almúnia nervoso e infeliz. Nos novos campeões, com um meio-Ronaldinho (uma boa primeira parte, mas um segundo tempo muito longe do seu nível) e um Deco também pouco interventivo, destacaram-se sobretudo Larsson, com duas assistências para golo, Eto’o com um golo e uma bola no poste, em magnífico lance individual, Iniesta, que deu algum dinamismo ao meio campo catalão, Belletti, pelo golo, e a espaços também Giuly. Valdez, ao evitar em lances quase sucessivos o segundo golo arsenalista (primeiro a remate de Ljungberg, e logo de seguida com Henry isolado pela frente), revelou-se mais uma vez absolutamente decisivo.
Se ao longo dos noventa minutos de ontem se pode falar de alguma injustiça, há todavia que reconhecer que, pelo que fez ao longo da temporada e nesta competição (com momentos verdadeiramente sublimes como as segundas partes de Stanford Bridge e de San Ciro), o Barcelona é um justíssimo campeão europeu.
Se se vier a confirmar a contratação de Thierry Henry pelos blau-grana, poderemos contar seguramente com novas conquistas desta fabulosa equipa, que parece capaz de marcar uma época no futebol europeu, à semelhança do que fizeram no passado Ajax, Bayern, Real Madrid, Liverpool ou Milan. Para quem gosta de bom e bonito futebol, esta é uma boa notícia.

6 comentários:

cj disse...

e ainda não percebi como é que o mourinho não contratou o deco quando foi para londres.

Anónimo disse...

Ele tentou, e ainda esteve quase a conseguir, mas o Deco já tinha tudo alinhavado com o Barça mesmo antes da contratação de Mourinho pelo Chelsea, que só aconteceu depois da final de Gelsenkirchen.
O palmarés de Deco é impressionante nos últimos 4 anos:
4 campeonatos (2 em Portugal e 2 em Espanha, o que significa que foi sempre campeão)
2 Ligas dos Campeões
1 Uefa
Foi ainda vice campeão europeu de selecções.

cj disse...

e oxalá seja campeão do mundo...

Anónimo disse...

É difícil, mas vamos ver...
O Eusébio e a sua gente, ficaram em terceiro. Se repetíssemos já era extraordinário...

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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