A ONDA A CRESCER






Num fim de tarde chuvoso, em altura de acentuada crise económica, e com o fim do mês ainda longe, estiveram no Estádio da Luz mais de 56 mil pessoas. Este número espelha inteiramente o entusiasmo que começa a crescer em torno da equipa do Benfica, que, pelo menos no plano estatístico, está a fazer o melhor campeonato que há memória desde o início da década de oitenta do século passado.


Não vou omitir que desconfiei desta equipa. Em certos momentos (Outubro, início de Novembro) pareceu-me temerosa, encolhida e com muito pouca dinâmica colectiva. Aí (em Aveiro, com o Olhanense, etc) terá tido a protecção da estrelinha que sempre acompanha os campeões, e que lhe permitiu acumular pontos, e chegar à sua melhor fase (esta) com as aspirações absolutamente intactas. Agora, tenho todo o gosto em dar a mão à palmatória, e reconhecer que o Benfica-2012 começa a assemelhar-se muito com aquele que, há dois anos atrás, encantou o país. Terá sido, este crescendo de forma, uma estratégia calculada e planeada? Só Jorge Jesus e o seu staff o saberão. O que é um facto é que os últimos jogos (e já são vários, os suficientes para definir uma tendência) mostram-nos um Benfica esmagador, brilhante, goleador, extremamente afirmativo e confiante, prometendo uma ponta final de temporada repleta de glória. É, no momento, não só a melhor equipa portuguesa, como o principal favorito ao título.


O Vitória de Setúbal é uma equipa constituída em redor de um núcleo de jogadores muito experientes, mas para quem a fase mais fulgurante da carreira já ficou para trás. Seria um adversário perigoso se o Benfica deixasse correr o jogo a ritmos baixos, por entre os quais Neca, Pitbull, Hugo Leal e outros, tenderiam a impor a capacidade técnica que ainda lhes resta. Deste trio, apenas Neca entrou de início, mas ao longo dos primeiros vinte minutos, foi precisamente ele que conduziu todo o futebol sadino, o qual, beneficiando justamente do ritmo lento permitido por alguma apatia benfiquista (e de algum espaço concedido no corredor central fruto das ausências simultâneas de Aimar e Javi Garcia), levou perigo até perto da baliza de Artur. Aos 24 minutos o Benfica perdia por 0-1, golo de…Neca, e o Vitória de Setúbal estava como queria.


Mas as campainhas de alarme depressa tocaram. E foi precisamente naquela situação de algum desconforto que veio ao de cima o nível de confiança que este Benfica manifesta, e a dinâmica de vitória em que começa a navegar.


A desvantagem no marcador e no jogo espicaçou os encarnados, que a partir do golo de Nolito (que, desde logo, tranquilizou os espíritos mais inquietos), soltaram os cavalos (expressão feliz do insuspeito Miguel Sousa Tavares), e arrancaram para uma exibição de gala, que duraria até meio da segunda parte, altura em que – com os três pontos no bolso – a torneira pôde, enfim, ser novamente fechada.


Nesses cerca de 40 minutos (vinte, mais vinte), o Benfica foi avassalador, não dando tréguas a um adversário que foi lutando como podia, mas que rapidamente se sentiu incapaz de resistir a tão grande caudal de futebol ofensivo. Mesmo sem Garay, Javi Garcia, Aimar e, de início, Nico Gaitán, o espectáculo empolgou as bancadas, sobretudo por via das excelentes prestações de Witsel, Cardozo e, sobretudo, Rodrigo – cada vez mais explosivo, cada vez mais rompedor, cada vez mais craque.


Os números ficaram pela chapa quatro (tal como em Guimarães e em Leiria), mas não fosse Diego, poderiam ter subido até a uma conta bastante mais expressiva. Em 2010 foram oito, ontem poderiam ter sido seis ou sete.
O FC Porto também ganhou, e não perde há mais de cinquenta jogos consecutivos. Em termos de números, está também a fazer uma campanha assinalável. Mas quando uma equipa, já a meio da temporada, exibe a dinâmica de vitória que o Benfica está a criar (como fez há dois anos, e como o FC Porto de Vilas Boas fez na época passada), não é normal que não seja campeã. Ainda faltam muitos jogos, mas daqui para a frente há que contar, para além de um elevadíssimo nível de confiança dos jogadores, também com o peso das bancadas, e com o entusiasmo de seis milhões de portugueses a torcer por fora. Não marcam golos, mas ajudam a marcá-los, pois (sobretudo) em altura de vitórias a nação benfiquista, com o seu apoio, com a sua força social, consegue, de facto, ser muito poderosa.


Os destaques individuais já ficaram registados. Witsel fez muito bem de Aimar, Rodrigo vai fazendo de craque. E Cardozo faz dele próprio, levando já 117 (!!!) golos em provas oficiais com a camisola do Benfica.

Quanto ao árbitro, estreante em jogos com equipas grandes, pode dizer-se que teve a sorte de apanhar um jogo sem casos, realizando assim uma actuação discreta, como se pede à função. A expulsão de Cardozo pareceu-me, contudo, demasiado rigorosa. É a segunda vez que Tacuára é expulso esta temporada, ambas por acumulação de amarelos, e creio que nenhum desses quatro amarelos (dois com o Sporting, e dois agora) é, eu diria, óbvio. Entendo que os árbitros têm, naturalmente, de aplicar as leis, mas a gestão do espectáculo também tem de ser acautelada. Um pouco de bom senso evitaria este tipo de expulsões (sem qualquer violência, sem indisciplina, sem incidência desportiva), que por vezes estragam os jogos, amputando-os, e não trazendo nada em troca – nem mesmo um qualquer sentido de justiça.

7 comentários:

B3M disse...

Partilho o comentário em absoluto, mas gostava de deixar uma nota adicional sobre o cartão vermelho do Cardozo.

Eu sou, tal como o LF, um dos principais defensores do Cardozo. Relembrando um post seu, pontas de lança destes que marcam golos com fartura, já não havia no Benfica há muito tempo, pelo que não se percebe a forma como alguns (muitos, demasiados) adeptos apupam o Carodozo.

No entanto, não podemos branquear o facto de qualquer um dos dois cartões vermelhos serem da exlusiva responsabilidade do Cardozo.

Mesmo havendo momentos em que um sucessivo número de faltas sofridas motiva uma reacção do avançado (e Hulk será neste contexto o mais massacrado), importa não perder a cabeça sob prejuízo de prejudicar a equipa (foi a reagir a sucessivas faltas dos defesas que Cardozo viu o 2º Amarelo com o Sporting e o 1º com o Setúbal).

As leis são para cumprir e ser duas vezes expulso dessa forma deveria valer um puxão de orelhas de Jorge Jesus.

Resta ainda dizer que as leis devem ser iguais para todos. Se assim fosse, talvez o FCP não tivesse ganho em Aveiro, onde uma simulação do Hulk lhe teria valido uma expulsão, com o jogo ainda empatado...(por coincidência, haveria de ser o Hulk a marcar o golo da vitória, minutos depois).

1234567vv disse...

LF,
Jesus foi extremamente pragmático na forma como encarou o início de época.
Depois de vários erros no ano passado, ele prioritizou a qualificação na champions e chegar ao fim de dezembro na frente.
Foi um calendário duro que começou (oficialmente) a 27 de Julho (enquanto os outros candidatos começaram em meados de Agosto) com alguns jogadores a terem de ser recuperados da Copa América, e muitos excelentes jovens jogadores (Nolito, Rodrigo, Witsel, Bruno César) a terem de ser integrados e a terem que aprender a jogar à Benfica de Jesus.
Este Benfica pode não ter deslumbrado nos primeiros 5 meses da época (Fim de Julho a Fim de Dezembro) mas a cada jogo que passava se via que era mais equipa. Que era uma equipa compacta e lutadora.
Em Braga e Dragay e na Luz contra as osgas submissas, mostrou que não tem medo de ninguém. Em Manchester fez um jogo sublime.
Mas precisou que Nolito aprendesse a se posicionar melhor defensivamente, que Witsel acreditasse mais no seu potêncial e aprendesse a jogar com Javi e Aimar, que Rodrigo ganhasse a confiança dos adeptos, que Garay fizesse esquecer David Luiz, que os adeptos confiassem em Artur, que Bruno César calasse muitas bocas.
Foi um proceso que levou o seu tempo. Sim, tivemos jogos menos conseguidos, mas isso acontecesse a todas as equipas.
Mas enquanto uns se achavam os melhores do mundo por 2 ou 3 jogos bons, outros acham que são sempre os melhores mesmo jogando com Sapunarus, Maicons, etc... nós vamos trabalhando.
É preciso calma, mas é preciso também saber confiar em JJ e na direcção da SAD.

Vitória do Benfica disse...

Bem! È um regalo ver este Benfica, para além dos golos é ver um jogo de equipa é ver jogadas de conjunto, eu adorei o segundo golo de cardozo. Insupeita eu! Quanto à expulsão de cardozo é preciso dizer que ele já foi expulso duas vezes, depois de Vitor Pereira ter reclamado a sua expulsão no Dragão, é muito para um ponta de lança. Eu estava ao pé quando o arbitro mostrou o segundo amarelo e quero dizer que não vi o atleta fingir. Ao pé do Hilk que no jogo contra o Sporting chama maluco com o gesto ao fiscal de linha depois do amarelo.

Quanto ao Vitória de Setúbal o pior é Pitbull e Neca mas coitado do Jorge Gonçalves ele ainda está doente do pontapé nas costas que o Bruno Alves lhe deu. Porque será que esse cavalheiro nunca foi expulso, na liga Portuguesa

Vitória do Benfica disse...

Bem! È um regalo ver este Benfica, para além dos golos é ver um jogo de equipa é ver jogadas de conjunto, eu adorei o segundo golo de cardozo. Insupeita eu! Quanto à expulsão de cardozo é preciso dizer que ele já foi expulso duas vezes, depois de Vitor Pereira ter reclamado a sua expulsão no Dragão, é muito para um ponta de lança. Eu estava ao pé quando o arbitro mostrou o segundo amarelo e quero dizer que não vi o atleta fingir. Ao pé do Hilk que no jogo contra o Sporting chama maluco com o gesto ao fiscal de linha depois do amarelo.

Quanto ao Vitória de Setúbal o pior é Pitbull e Neca mas coitado do Jorge Gonçalves ele ainda está doente do pontapé nas costas que o Bruno Alves lhe deu. Porque será que esse cavalheiro nunca foi expulso, na liga Portuguesa

jfk disse...

Creio ser da mais elementar justiça salientar o jogo de Maxi Pereira. A omissão talvez se deva ao facto de ... estarmos habituados às suas boas exibições. Isto na minha perspectiva, claro.

Que belo momento benfiquista, com o habitual envolvimento entre a massa adepta e os profissionais do clube. Singular.

Rolo Compressor II.

Dylan disse...

Na época passada, o Benfica quebrou a partir da lesão de Sálvio (estavamos na fase decisiva da temporada). Esperemos que as lesões não nos tramem.

Nós Sébio disse...

Não quero agourar, mas espero que não haja uma quebra física como no anos passado.