SOMBRAS E NEVOEIRO

1.Em Guimarães, neste domingo, o Benfica tem oportunidade de calar de vez todas as vozes que, ao primeiro percalço, logo se apressaram a antecipar o abismo. Ironicamente, teremos pela frente o mesmo adversário que, no último mês de Maio, nos lançou na amargura, abrindo espaço a todas as especulações e censuras – que foram alimentando um defeso jornalístico marcado pela ausência de grandes competições, e logo, de assuntos com que vender papel. Passados alguns meses, Jorge Jesus continua a treinar o Benfica, Cardozo continua na frente de ataque da equipa, nenhum dos titulares saiu, e recebemos vários reforços de nível internacional. Começámos mal o Campeonato, mas, se exceptuarmos a tristonha derrota no Funchal, tudo o resto se tem passado dentro da maior normalidade: duas vitórias nos dois jogos em casa, e empate no “Dérbi” de Alvalade perante um revigorado Sporting. Um triunfo em Guimarães poderá fechar de vez o ciclo, e recolocar o Benfica no rumo competitivo que, em finais de Abril, tanto nos empolgava. 2.Trata-se de uma velha estratégia: colar-nos à boca coisas que não dissemos, e utilizá-las depois como arma de arremesso. Recordo Vítor Pereira quando, há duas épocas, tanto falou de faixas, tendo sido ele próprio a encomendá-las, semanas antes, para um silencioso e prudente Benfica. O presidente Luís Filipe Vieira manifestou o sonho, legítimo, de ver o Benfica chegar à final da Champions League marcada para o Estádio da Luz. Daí até ter ouvido um comentador televisivo afirmar, abusivamente, que a fasquia do Benfica para a presente temporada era a vitória na Champions, foi um pequeno passo de mágica, e de mistificação. Percebe-se a intenção, mas não cola. Estamos sobejamente habituados. 3.Caso Cristiano Ronaldo se sagre melhor marcador do próximo Mundial no Brasil – …e oxalá o consiga -, poderemos então discutir se atinge, ou não, o estatuto de Eusébio. Até tal acontecer, contas bancárias à parte, continua a existir apenas um Rei, e, quando muito, um príncipe herdeiro.

MAIS DO MESMO

Seria preciso recuar até 2004 para encontrarmos uma vitória do Benfica em jogo de abertura do Campeonato. Daí para cá, pese embora algumas pré-temporadas bastante prometedoras, entrámos invariavelmente com o pé esquerdo – mesmo em 2009, quando, meses depois, viríamos a conquistar o título. Ao longo destes anos, nessas partidas iniciais, sofremos muitas vezes os efeitos de arbitragens habilidosas, mas também nos deparámos, com demasiada frequência, com jogadores ainda de chinelos e toalha de praia aos ombros, esperando que as camisolas do Benfica fossem suficientes para garantir os pontos. Pode dizer-se que no jogo da Madeira as duas situações se cruzaram, pelo que o resultado acaba por nem surpreender. Um penálti sobre Lima, nos instantes finais da partida, poderia ter-nos poupado à derrota. Mas a indolência revelada pela equipa durante longos minutos também nos deixou distantes da vitória. O valor do adversário fez o resto, cumprindo-se, pois, a negra tradição. Não acredito em gatos pretos, nem em gatos brancos, pelo que tento sempre encontrar uma razão para tudo. E, neste caso, talvez o calendário das competições ajude a explicar alguma coisa. Com o mercado em aberto, com jogadores a sair e a entrar, e muitos debaixo da ombreira da porta, é impossível manter uma equipa concentrada a cem por cento. A qualquer pessoa de bom senso parece absurdo iniciar um Campeonato nestas circunstâncias, e se os poderes internacionais insistem em colocar o Futebol ao serviço dos interesses parasitários de uns quantos agentes, a Liga Portuguesa, caso quisesse, teria um bom remédio: começar o Campeonato em Setembro, reservando o mês de Agosto, por exemplo, para a Taça da Liga. O que é certo é que ninguém dá o primeiro passo nesse sentido, e o Benfica parece sentir particular dificuldade em lidar com esta situação. Até porque outros, quando a sentem, têm uma mão protectora a impedi-los de cair – bastando lembrar os penáltis que deram ao FC Porto 3 vitórias nos últimos 4 começos de época.

FACES POUCO OCULTAS

O Campeonato só agora vai começar, mas há já muito que os nossos adversários o preparam a seu jeito. Não falo de jogadores e técnicos de outros clubes, nem mesmo daqueles que estavam (ou deveriam estar) de um lado no jogo decisivo da última jornada da época passada, e estão agora confortavelmente instalados na cadeira do lado oposto. Falo antes de todo um vasto “plantel” de tribunos que, com mais ou menos oratória, com mais ou menos verborreia, insistem em falar do que não sabem, escrever sobre o que não conhecem, sempre com o fim, mais ou menos explícito, de perturbar a estabilidade do nosso Clube. Ao fim e ao cabo, os mesmos que durante anos silenciaram tudo o que - então sim - sabiam acerca dos escândalos que as escutas do processo “Apito Dourado” deixaram a nu. Desde a Final da Taça de Portugal que não param de especular. Logo nessa tarde, e nos dias que a seguiram, o veredicto foi lançado: ou Jesus, ou Cardozo! Primeiro, tentaram empurrar o nosso treinador para a porta da saída. “Não ganhou nada”, diziam, omitindo alguns dos motivos pelos quais não venceu, e esquecendo toda a valorização desportiva e financeira que implementou na equipa encarnada – que a levou, por exemplo, a um brilhante sexto lugar do ranking da UEFA. Consumada a renovação de Jorge Jesus, os focos desestabilizadores viraram-se para Tacuára. Na impossibilidade de se verem livres do técnico que relançou o Benfica para a discussão de todos os títulos, tentaram então ver-se livres daquele que é o melhor goleador benfiquista deste século. E, ao verem-no desculpar-se perante as câmaras de televisão, o desespero lançou-os numa última empreitada, a de descredibilizar esse pedido de desculpas (claro que induzido pelo Clube, ou alguém esperaria outra coisa?). É fácil percebê-los. É fácil entender porque motivo querem Jesus e Cardozo longe da Luz. Mas não podemos deixar que nos enganem. O Benfica é dirigido desde dentro, e jamais andará a reboque de comentadores televisivos ou jornalistas de duvidosa isenção.

NOVES FORA NADA

Por maior que seja o prestígio que vai granjeando, por mais pesado que seja o nome que carrega, a Eusébio Cup não deixa de ser um troféu particular, e uma ocasião para preparar as competições que se avizinham - essas sim, a doer. Obviamente, é melhor ganhá-la do que perdê-la. Mas não será menos óbvio que uma derrota nesta altura traz com ela a virtude de ajudar a perceber aquilo de que a equipa necessita, expondo uma ou outra fragilidade a tempo de ser corrigida. Nessa medida, a derrota diante do São Paulo terá até sido útil. Ficaram por exemplo patentes algumas dificuldades na finalização, e alguma falta de peso perto da área adversária. Isso levou a que uma parte dos adeptos se lembrasse de quem não estava em campo. Já aqui escrevi sobre o caso-Cardozo. Já lembrei que, nem eu, nem qualquer outra pessoa fora da estrutura do nosso futebol, tem condições para avaliar devidamente o problema, e muito menos a forma de o solucionar. Enquanto adepto, gostava que Tacuára continuasse a marcar golos no Benfica. Acho que o seu valor de mercado é substancialmente inferior à importância que tem na equipa, e até na própria história do Clube. Temo, porém, que o equilíbrio entre a sua condenável atitude no Jamor, e a necessária preservação da saúde do balneário, possa sugerir outro tipo de decisão. Uma coisa é certa: chame-se Óscar ou não, o Benfica precisa de um “Cardozo”. E tem pouco tempo para o encontrar. Pontas-de-lança eficazes são uma espécie rara, e por isso tão valorizada. Tivéssemos por cá um Lewandowski, ou um Cavani, e a coisa resolvia-se. À nossa medida, Cardozo é um jogador com características incomuns, quer no último toque, quer na capacidade física com que aguenta a pressão dos centrais adversários. Todo o modelo de jogo encarnado assenta num finalizador com aquelas especificidades, e, sem ele, o nosso futebol ofensivo corre riscos de se esterilizar. Essa é a principal lição a extrair do último fim-de-semana, e não pode deixar de pesar na balança de qualquer decisão.

UM HOMEM PARA A HISTÓRIA

Quis o destino que apenas dois dias após a inauguração do nosso Museu, desaparecesse do mundo dos vivos um dos nomes que bastante contribuiu para a riqueza nele depositada. Fernando Martins assumiu a presidência do Sport Lisboa e Benfica em 1981, e esteve ligado a um dos períodos mais importantes da história do clube. Não só pelos títulos conquistados (dois Campeonatos, três Taças e uma Supertaça, para além da presença na final da Taça UEFA), mas sobretudo pelas bases estruturais deixadas, que pouco depois permitiriam o ansiado regresso à alta-roda do futebol internacional – arredia desde meados da década de sessenta. As finais europeias de Estugarda e Viena, pese embora se situem já fora do âmbito temporal dos seus mandatos, e sem retirar mérito à equipa directiva que lhe sucedeu, tiveram também o “dedo” de Fernando Martins. Foi a sua gestão criteriosa, e sempre pautada pela defesa intransigente dos interesses da instituição, que deixou o Benfica em condições de vencer em Portugal, e de se bater com os melhores fora de portas. Foi Fernando Martins que, por exemplo, trouxe Eriksson para o Benfica, numa aposta que teve tanto de ousada como de bem sucedida. Foi Fernando Martins que transformou o antigo Estádio da Luz no maior da Europa. Foi Fernando Martins que, depois de um período relativamente incaracterístico, marcado pelo fim da Era-Eusébio, devolveu a Mística aos benfiquistas, fazendo crescer o número de sócios, levando-os para o Estádio, e apaixonando-os pela equipa. Foi com Fernando Martins na presidência que, em 1986, me tornei sócio do Clube. Embora as palavras sejam muitas vezes menores do que os Homens, quem viveu esses anos sabe bem do que falo. Infelizmente, nem todos os sucessores estiveram à altura do seu legado. Porém, dada a vitalidade que o Clube tem demonstrado nesta última década – diga-se até que com algum paralelismo face ao seu tempo -, Fernando Martins terá certamente partido tranquilo quanto ao futuro do clube que tanto amou, e ao qual tanto deu.

DESONRA

No baú das muitas memórias que o Futebol já me vai deixando, tinha da Taça de Honra da AFL uma ideia longínqua, de quando, ainda criança, vivia cada jogo como se fosse o único, e cada Dérbi como se fosse o último. Lembro-me da alegria proporcionada por uma vitória nos penáltis sobre o Sporting (1978?, 1979?), a que correspondeu um desses troféus. Aconteceu numa pré-temporada, quando as saudades do Futebol mais apertavam. Jogavam Bento, Humberto, Shéu, Chalana e Nené. Foram tempos que me ajudaram a crescer, e me ensinaram a ser benfiquista. Com o passar dos anos, entre dificuldades de calendarização, e rotatividades de plantel, a Taça de Honra foi perdendo importância e interesse, definhando progressivamente até à morte. A ideia de a recuperar pareceu-me excelente. Adoro (vencer) o Campeonato, mas também a Taça de Portugal, a Taça da Liga, e até a Supertaça. Para quem o Futebol significa festa, quanto mais competições se disputarem, melhor. E gosto de comemorar todas elas, independentemente da importância relativa de cada uma. Com transmissão televisiva em canal aberto, em estação pública e horário nobre, sem outros jogos a atrapalhar, esperava, no passado Sábado, um Dérbi mais ou menos a sério, e uma competição mais ou menos oficial, que definisse, mais ou menos, um Campeão de Lisboa. Nada disso aconteceu. A verdade é que esta Taça de Honra foi um fiasco absoluto, e envergonhou aqueles que, ingenuamente, nela depositavam alguma expectativa. Não fui ao Estoril porque não pude, e só depois me apercebi do logro em que poderia ter embarcado. Talvez a AFL não merecesse muito mais. Mas também me custa a entender porque jogámos com todos os titulares frente ao Etoile Carouge, e nos expusemos, entre suplentes e juniores, a uma desnecessária derrota perante o Sporting - no qual, francamente, já custo a distinguir a equipa B da equipa A. Gostava de reviver as tais Taças de Honra do passado. Mas, a ser assim, bem pode a prova regressar lá para 2033, que não lhe sentirei a falta.

ROLA A BOLA

Parece que foi ontem. Mas já vai para dois meses que perdemos a Taça de Portugal no Jamor, e, com ela, a possibilidade de colorir com um troféu aquela que foi uma das temporadas mais entusiasmantes da história recente do Benfica. Talvez devido a esse entusiasmo - que foi elevando a fasquia das expectativas ao longo de vários meses -, quando voltei a ver os nossos jogadores entrar em campo para os primeiros compromissos de pré-época, senti-me perante um grupo de Campeões, mesmo sem que os livros de registos os tenham inscrito como tal. Reencontrei Artur, Luisão, Matic, Enzo, Lima, Sálvio, Gaitán, e outros, não como aqueles que perderam tudo, mas sim como aqueles que quase ganharam tudo. Não como os que me fizeram chorar, mas como os que me fizeram sonhar. Épocas houve em que a frustração da derrota trazia com ela uma indómita vontade de mudança. Neste caso, mesmo sem títulos, não é esse o sentimento generalizado. Pelo contrário, a grande preocupação dos benfiquistas prende-se justamente com os profissionais que iremos ter de perder em função dos ditames do impiedoso mercado, e das necessidades de equilíbrio que os cofres exigem. Isto porque existe a noção muito clara que em dez hipotéticas temporadas semelhantes à última, só numa delas terminaríamos de mãos vazias – logo por infelicidade aquela que, entre pontapés inesperados, e golos aos 92 minutos, nos calhou em sorte... É pois com confiança e optimismo que partimos para a nova época. Sabemos que jogando o mesmo futebol, a glória voltará a andar por perto. E o azar - tanto azar…- dificilmente se repetirá. Já percebemos também que há por ali bons reforços. Falta então saber quem sai, esperando que venham a partir apenas aqueles cujo encaixe financeiro se torne absolutamente impossível de negligenciar. Parece-me não ser o caso de Óscar Cardozo, de quem espero apenas um pedido de desculpas público aos sócios, aos colegas, ao treinador e ao presidente, para podermos voltar a festejar os seus golos durante mais alguns anos.

O CIRCO

Longe vão os tempos em que cada manhã de pré-temporada trazia com ela a sofreguidão de conhecer as capas dos jornais, para saber quem entrava, quem podia entrar, quem saía, ou quem podia sair, do plantel do Benfica.

Eram tempos em que a imprensa desportiva mantinha alguma respeitabilidade. E eram tempos em que as “notícias” encomendadas por “Agentes FIFA” (esses parasitas do Futebol) não tinham ainda tomado conta das páginas publicadas – que, pouco a pouco, se foram transformando numa plataforma de interesses negociais e especulações várias.
Hoje, uma espécie de casamento de conveniência entre esses interesses e a aflitiva necessidade de vender papel (agravada pela cruel crise económica em que vivemos), ditou uma verdadeira hemorragia especulativa, que primeiro perdeu a credibilidade, e depois perdeu a piada. Até porque a distância para a mentira mais desavergonhada passou a ser demasiado curta, e, consequentemente, mais fácil de ultrapassar.
Para este estado de coisas contribui também a gritante falta de cultura desportiva do nosso país - capaz de empurrar um Tour de France, um Wimbledon, uma Fórmula 1, um título europeu de Hóquei, um Mundial de Sub-20, ou até mesmo uma Final da Champions, para notas de rodapé face a um qualquer Herrera, Quintana ou Tejada, que ninguém conhece, que quer ir para onde lhe paguem mais, mas que é impingido como objecto jornalístico primário a um povo com coisas bem mais graves com que se preocupar.
Creio que esta lógica comunicacional tem os dias contados. Falando por mim, devo confessar que já nem compro diários desportivos. Leio apenas o nosso “O Benfica”, que além dos artigos de opinião dos meus ilustres parceiros, fornece informação sobre todas as modalidades e escalões de formação do Clube. De resto, procuro na Internet aquilo que me interessa, esperando pelo fim do defeso futebolístico para conhecer os plantéis definitivos. Isto, enquanto vou lamentando a morte anunciada de uma imprensa desportiva que, em tempos, me ajudou a crescer.

UM PASSO À FRENTE

A disponibilização da Benfica TV em novas plataformas, a sua evolução para canal Premium, a entrada na Alta Definição, e o pacote de transmissões prometido para as próximas temporadas desportivas, marcam um novo tempo na vida de um projecto nascido em 2008, do qual muitos duvidavam, e que, passados cinco anos, já é citado na imprensa internacional como ousado, corajoso e pioneiro.

O prato forte desta mudança é, naturalmente, a transmissão, em exclusivo, dos jogos da nossa equipa principal de futebol. Algo que, devo confessar, há pouco tempo atrás não me parecia possível, mas que neste momento é uma realidade que ninguém – dentro ou fora do Benfica – pode ignorar, ou desvalorizar.
O caminho escolhido pelos nossos dirigentes envolve riscos, como, aliás, acontece com qualquer projecto inovador. Numa primeira fase, será difícil obter as receitas que outras opções poderiam proporcionar. Mas - e isso sempre foi assumido -, as razões desta decisão vão muito para além do plano estritamente financeiro.
Por aquilo que tem sido a história recente do nosso Clube, pela espantosa recuperação estrutural e institucional da última década, a qual nos resgatou o grande Benfica do passado, pela força competitiva que nos devolveu o orgulho de lutar por todos os títulos (só pequenos detalhes nos impediram de consumar uma das melhores temporadas desportivas em mais de 100 anos de história), temos todos os motivos para crer que também este importante passo esteja criteriosamente calculado, e conduza efectivamente a uma mudança na correlação de forças que envolve os bastidores do desporto português.
Assim sendo, espera-se dos benfiquistas um envolvimento correspondente ao esforço que o Clube está a fazer. A situação do país leva, infelizmente, a que muitos não possam aderir. Mas aqueles que são hoje clientes de outros canais desportivos - por sinal, bem mais dispendiosos - não terão razões para ficar de fora. Este projecto está feito a contar connosco, e só depende de nós para ser bem sucedido.

UM ANO DE ECLECTISMO

Apesar de ter terminado com uma derrota (no Futsal), a temporada das modalidades benfiquistas terá de se considerar, uma vez mais, amplamente positiva.
Começámos com a inédita conquista de 5 Supertaças, todas as relativas às modalidades de pavilhão. Acrescentámos-lhes dois troféus oficiais de Basquetebol (António Pratas e Hugo dos Santos). Terminámos com a conquista dos títulos nacionais de Basquetebol, Voleibol e Atletismo, e com um improvável, saborosíssimo, e também inédito, título europeu de Hóquei. Em Futsal e Andebol fomos vice-campeões.
Feito o balanço, em número total de troféus ultrapassámos o já imponente pecúlio do ano anterior. Em termos de Campeonatos Nacionais obtivemos menos um (numa matemática simplista, Futsal pelo Voleibol, menos o Hóquei), mas “trocámo-lo” por uma importante Liga Europeia. Ou seja, se 2011-12 havia sido uma época histórica para o eclectismo encarnado, 2012-13 não lhe ficou atrás. Bem pelo contrário.
Na última meia-dúzia de anos o Benfica ganhou quase tudo o que havia para ganhar, em praticamente todas as principais modalidades em que participa. Foi Campeão Europeu em duas delas (Futsal e Hóquei), chegou a finais europeias noutras tantas (Andebol e Futebol). Foi Campeão Nacional em todas. Conquistou Taças e Supertaças. Trouxe adeptos aos pavilhões. Deu audiências televisivas.
Os tempos que se avizinham não são fáceis. A crise económica sente-se a todos os níveis, e o desinvestimento em algumas modalidades torna-se imperioso para salvaguardar o futuro das mesmas, e manter o Clube na rota que o fez sair do buraco em que se encontrava mergulhado há pouco mais de uma década.
Não seremos os únicos a fazê-lo: FC Portos, Sportingues, e, sobretudo, Ovarenses, Oliveirenses, ABC’s ou Espinhos, terão igualmente de reduzir custos. Talvez seja difícil repetirmos, no imediato, glórias internacionais como a do Atlântico, em 2010, ou a do Dragão, em 2013. Mas, por cá, certamente continuaremos a jogar e a vencer. Com menos meios, mas com a mesma Mística.

162 LAMENTOS

Golo do Benfica! Marcou, com o número sete, Óscar….,Óscar…”
Este é o som que nos habituámos a ouvir, com frequência, na instalação sonora do Estádio da Luz. Este é o som que tem acompanhado os nossos principais momentos de euforia. Segundo a imprensa, é possível que não o voltemos a ouvir.
Se muitos benfiquistas há que, com inteira justiça, lamentam a despedida de Aimar, permitir-me-ão que – caso venha a confirmar-se - lamente também eu a perda daquele que é, de longe, o maior goleador encarnado do Século XXI, e, seguramente, o jogador que mais vezes me fez levantar da cadeira ao longo dos últimos 6 anos.
Cardozo marcou 162 golos vestindo o Manto Sagrado (quase 200, se contarmos jogos particulares). É, na minha modesta opinião, o melhor ponta-de-lança do Benfica desde os tempos de Magnusson. Aos 30 anos, será doloroso vê-lo partir por uma simples e fria cotação de mercado – valor substancialmente abaixo daquilo que já representa na história desportiva do nosso Clube, e da importância que ainda tem para a equipa.
Dir-me-ão que foi ele próprio a abrir a porta da saída. É verdade. Não é aceitável que um profissional desrespeite a figura do seu líder. Mas devo também dizer que, enquanto adepto sofredor, engulo com maior dificuldade imagens de atletas sorridentes e passivos na hora da derrota, do que reacções a quente de quem não gosta de perder – afinal de contas semelhantes às de muitos benfiquistas que, naquela tarde, se deslocaram ao Jamor.
Nunca tive contacto directo com um balneário de uma equipa profissional de futebol. Não sei até que ponto tal tipo de atitude é tolerada na escuridão dos bastidores. Ainda menos se ela foi meramente extemporânea, ou antes corolário de algo já latente. Em suma, não consigo avaliar, com rigor, a gravidade do caso.
Mesmo sabendo que nem Eusébio foi insubstituível, espero e desejo, porém, que sejam esgotadas todas as hipóteses de manter um jogador que, juntamente com Luisão e Maxi, é uma das grandes referências do Benfica dos novos tempos.

HISTÓRIA E... HISTORIETAS

1. Por motivos de força maior, na passada semana não me foi possível partilhar este espaço com os estimados leitores. Nunca é tarde, porém, para relembrar, e enaltecer, a extraordinária conquista da Liga Europeia de Hóquei em Patins, ocorrida há quase quinze dias, mas ainda bem presente na nossa memória, e no nosso orgulho.
Tratou-se, porventura, do momento mais alto e significativo em mais de um século de eclectismo benfiquista. É verdade que também comemorámos um título europeu de Futsal, mas em Lisboa. É verdade que Nélson Évora foi campeão olímpico, mas vestindo as cores do país. No caso do Hóquei, fomos campeões contra todas as circunstâncias, contra todas as adversidades, contra todas as previsões, e em pleno recinto do nosso grande rival, numa histórica final entre clubes portugueses.
Tudo estava devidamente preparado para outros festejarem. Mas fomos nós, com crença, e, direi mesmo, com heroísmo, que trouxemos um troféu que ainda não constava na vasta colecção encarnada. Por variadíssimas razões, nunca esquecerei esta vitória, que leva o Benfica ao topo da Europa, numa modalidade que me é tão querida.
2. As últimas semanas foram também marcadas por definições no comando técnico das principais equipas portuguesas de futebol. No Benfica, saúde-se a coragem de Luís Filipe Vieira ao reconduzir um treinador que nada venceu, mas que tão bem trabalhou a equipa, e tão perto nos deixou da glória. É este o caminho certo, e não aquele para o qual certa comunicação social, sem pingo de inocência, nos queria empurrar. No FC Porto, anote-se a contratação do treinador que orientou o respectivo adversário, na partida que decidiu o título nacional. A tal, some-se a disponibilização do estádio a esse mesmo clube para os jogos internacionais, e a contratação de (pelo menos) um dos seus principais jogadores. Não são insinuações. São factos, que cada um poderá interpretar como muito bem entender. Espero, contudo, que, depois disto, não venham mais falar-nos de Jardéis ou Djaninys.

DECIDIR A FRIO

Na ressaca de três semanas terríveis para o futebol benfiquista, confesso que me é difícil expressar uma opinião que fuja à ligeireza para a qual a emoção nos remete. É assim o futebol. E são assim os adeptos que, como eu, sofrem apaixonadamente pelo seu clube.
Mas importa, neste caso, tentar estabelecer uma barreira clara entre a tristeza – comum a todos os benfiquistas, e perfeitamente natural face aos frustrantes resultados alcançados neste mês de Maio -, e o realismo com que deve ser analisado o trabalho desenvolvido ao longo de toda uma época.
O Benfica 2012-13 fez-nos sonhar. Fez-nos sonhar muito alto. Porém, devido a uma impressionante série de infelicidades, e devido, também, a alguns erros próprios e alheios, acabou sem os troféus que a qualidade do seu jogo justificava.
Se, na partida do Dragão, o pontapé de um tal Kelvin tem batido no poste, mais taça menos taça estaríamos agora em festa, e ninguém ousaria contestar os méritos daqueles que tudo fizeram para vencer. É preciso não esquecer, também, que não chegávamos a uma final europeia havia 23 anos, e não íamos ao Jamor havia oito. Somos cabeças-de-série na próxima Liga dos Campeões, e praticámos, amiúde, um futebol de altíssima qualidade, elogiado por todos, dentro e fora de fronteiras. Temos um plantel fortemente valorizado. E conseguimos no Campeonato, afinal de contas, mais pontos do que em qualquer um dos últimos 15 anos - incluindo aqueles em que fomos campeões.
É muito ténue, pois, a fronteira que separa os vencedores dos vencidos. É essa fronteira que atribui a glória a uns, deixando outros mergulhados no desalento. Não pode, todavia, ser esse exíguo fio a definir méritos e capacidades daqueles que trabalham para o sucesso, naquilo que, sendo um espectáculo, sendo um desporto, sendo até um combate, é também - e muitas vezes, principalmente – um simples jogo.
A crise que afecta muitos portugueses, e por consequência, muitos benfiquistas, deixa os ânimos mais quentes, e leva a atitudes nem sempre ponderadas. Infelizmente, também é normal que assim seja.
Cabe a quem decide triar todas essas pressões, resistir-lhes, separar o trigo do joio, ignorar estados de alma apressados, e pensar a frio naquilo que é efectivamente melhor para a estabilidade, competitividade e crescimento de um clube que, não há muitos anos atrás, ficava arredado dos títulos antes do Natal.

CAMPEONATO MIGUEL

Na antevisão à última jornada do Campeonato, tive oportunidade de dizer, na nossa Benfica TV, que para fundamentar a esperança na conquista do título, precisaria de ter a certeza de que nada de anormal se passaria no outro estádio onde se jogavam as grandes decisões. Não foi necessário esperar muito tempo para confirmar os meus piores receios.
Aos vinte minutos da partida da Mata Real, o mesmo indivíduo que na temporada passada, em Coimbra, transformara um claríssimo penálti sobre Aimar numa falta contra o Benfica, resolveu, desta vez, transformar um cartão amarelo por simulação de James Rodriguez fora da área, numa grande penalidade a favor do FC Porto, com expulsão do defesa pacense. Percebi, de imediato, que não valia a pena sonhar. A realidade mantinha-se, igual a si mesma, como há já muitos anos nos habituámos a ter de suportar.
Concluído o Campeonato, gostava, com sinceridade, de poder atribuir a perda do Título apenas ao mérito do adversário, ao cansaço dos jogadores do Benfica, ou simplesmente ao azar. Porém, ao lembrar-me de Carlos Xistra em Coimbra, de Pedro Proença na Choupana, e, sobretudo, deste Hugo Miguel em Paços de Ferreira, não sinto que o possa fazer. Este, para mim - que também tenho direito a usar alcunhas - ficará na memória como o Campeonato Miguel.
Depois de vermos fugir o Título deste modo, depois de perdermos a Liga Europa (essa sim, de forma limpa, honrada, mas meramente infeliz), resta-nos a Taça de Portugal. Não a encaro como um consolo, ou como um prémio menor. Pelo contrário, vejo-a como uma competição importante e bonita, que há muitos anos escapa ao Glorioso, e que quero fervorosamente vencer. Além de que, terminar a temporada com um troféu nas mãos, parece-me ser o mínimo que a justiça pode fazer ao brilhante futebol que a nossa grande equipa apresentou durante meses.
Esperemos que desta vez não haja Miguéis a condicionar o jogo, e que a grande festa do Jamor seja limpinha. Pois o Campeonato, depois de tanta conversa, acabou bem sujinho.

SER BENFIQUISTA

Escrevo antes da final de Amesterdão.
Não faço ideia daquilo que se passou na bela cidade holandesa, sabendo porém, de antemão, que a presença numa final da Liga Europa é, por si só, motivo de orgulho para qualquer clube, pelo que a campanha internacional desta temporada ficará necessariamente gravada na nossa história – ao menos na mesma medida em que ficou a de 1983, quando estivemos bem perto da glória.
Escrevo, todavia, depois de uma das derrotas mais cruéis dos últimos anos, consumada aos 91 minutos de uma partida que parecíamos já ter sob controlo, e que podia valer um Campeonato. É preciso dizer que ainda não o valeu, e da mesma forma que um Estoril nos fez cair das nuvens, também um Paços de Ferreira – que veste igualmente de amarelo - nos pode dar uma ajudinha que nos devolva aos céus.
Foi precisamente na difícil ressaca do FC Porto-Benfica que presenciei, e participei, numa das mais impressionantes manifestações de benfiquismo de que me recordo em tempos recentes.
Ainda a enxugar as lágrimas, e a digerir a frustração, parti para o Estádio da Luz com o objectivo de adquirir bilhetes para a festa do Jamor, que é como quem diz, para a Final da Taça de Portugal. Confesso que não esperava encontrar muitas pessoas, nem grande entusiasmo, pois o golpe sofrido na véspera havia sido duro, e não tinha passado o tempo suficiente para o luto de tão azedo momento.
A verdade é que quase me comovi ao ver o mar de gente que ali estava, triste como eu, a maioria certamente mal dormida, como eu, esperando várias horas de pé, e ao sol, mas comungando, de forma firme, daquela ardente paixão que não se consegue explicar por palavras, mas que todos sentimos lá bem no fundo da nossa alma: o benfiquismo.
Uma fila de espera é, por norma, aborrecida. Naquele domingo foi revigorante.
Já com os bilhetes na mão, fui para casa a pensar: afinal o que vale um golo de um tipo de penteado esquisito, perante esta imensidão de crença, de mística e de fé, que só o Benfica é capaz de proporcionar?

ACREDITAR

Não há que iludir a realidade: o empate frente ao Estoril foi um resultado decepcionante, que nos deixou angustiados, e que torna mais difícil o caminho que conduz ao título. Esperávamos chegar lá por uma larga avenida, mas teremos de fazer um desvio por uma estrada um pouco mais estreita. Não deixaremos, porém, de chegar ao destino.
O futebol é isto. Numa quinta-feira saímos do estádio em clima de justificada euforia, ao garantirmos presença numa final europeia, 23 anos depois da última vez em que tal aconteceu. Quatro dias volvidos saímos cabisbaixos, tristes, e com a sensação de termos desperdiçado uma oportunidade óbvia de quase garantir ali a conquista do Campeonato. Alegrias e tristezas. É precisamente o que o futebol oferece aos adeptos, e por isso cativa tanta gente com a sua magia.
Agora vamos a factos. O Benfica é líder isolado da classificação, e se vencer o próximo jogo sagra-se de imediato Campeão Nacional. Em caso de empate, deixa também o título muito bem encaminhado. Depois, na quarta-feira, em Amesterdão, poderá voltar a erguer um troféu europeu, 51 anos depois de - na mesma cidade - Eusébio e seus pares terem mostrado o Glorioso ao mundo. Dia 26, no Jamor, podemos também conquistar a Taça de Portugal, prova que nos escapa desde 2004. Ou seja, estamos, continuamos a estar, a três vitórias da melhor temporada de todos os tempos. E se nos dissessem, no início da época, que chegaríamos a esta data com tão grandes possibilidades de fazer história, tal seria suficiente para nos deixar empolgados, e ansiosos por cada um desses embates, por cada uma dessas finais.
A primeira é amanhã. Eu arriscaria a dizer que é a mais importante de todas. Depois de uma temporada brilhante, não ser Campeão seria, não só uma injustiça, como uma anormalidade. Perder no Dragão poderia também afectar o ânimo da equipa para as decisões seguintes. Por isso, estou convicto de que iremos ter em campo o melhor Benfica. E, a ser assim, as hipóteses de sucesso serão muitas. Serão todas!

PRAIA À VISTA

No momento em que esta edição chegar às bancas, já será conhecido o desfecho da Meia-Final da Liga Europa. Já saberemos se o Benfica regressou a uma Final, 23 anos depois de Viena, ou se, pelo contrário, se quedou por uma presença honrosa – que, em condições normais, será suficiente para na próxima temporada nos colocar como cabeças-de-série do sorteio da Fase de Grupos da Champions League, e como brilhantes sextos classificados no ranking da UEFA, apenas superados por Barcelona, Bayern de Munique, Real Madrid, Manchester United e Chelsea.
Independentemente do que a frente europeia nos tenha reservado, o principal objectivo da temporada (a conquista do Campeonato) está cada vez mais perto de ser atingido. Há umas semanas atrás, nestas mesmas páginas, referi ser minha convicção que cinco vitórias consecutivas seriam suficientes para, senão festejar o título, pelo menos encomendar as faixas. Essa série de cinco jogos termina justamente na próxima segunda-feira, quando, no nosso estádio, recebermos uma das grandes revelações da época: o Estoril-Praia.
Caso consigamos ultrapassar esta etapa – cuja dificuldade, para além do valor do adversário, encontrará razões no desgaste do jogo com o Fenerbahce, e de toda uma época cada vez mais longa -, entraremos no Estádio do Dragão com uma vantagem que nos põe a salvo, quer de uma noite menos conseguida, quer dos subterfúgios a que o FC Porto recorre quando vê as coisas escaparem ao seu controlo (chamem-se eles Proenças, Casagrandes ou bolas de golfe). Pelo contrário, uma escorregadela diante do Estoril deixar-nos-á à mercê de todos esses factores, podendo pois dizer-se que - segunda-feira sim - estamos perante “o” jogo do título.
Importa deste modo perceber a relevância da ocasião, e criar uma onda de apoio capaz de, a partir das bancadas, ajudar a equipa a chegar à vitória. Um estádio cheio será a força suplementar que, depois de tanto mar (como dizia Chico Buarque), nos conduzirá à terra prometida, e ao cheiroso alecrim da festa.

PÁTIO DAS CANTIGAS

Sempre que o Benfica se aproxima da conquista de um Campeonato, logo ouvimos os sons cacofónicos de uma orquestra que procura desvalorizar méritos, encontrar desculpas, e produzir ruídos. Tais ruídos não passam de arrotos causados por uma difícil digestão. Mas, de tão intensos, acabam por deixar que o embuste tome o lugar da realidade, num espaço mediático onde - graças a alianças nada santas - a proporção de forças surge quase sempre invertida face ao enorme peso popular do nosso Clube.
Foi assim em 2005, a propósito de um jogo disputado no Algarve. Foi assim em 2010, quando, no túnel da Luz, os agressores foram convertidos em vítimas, e a verdade convertida em mentira. Voltou a verificar-se o mesmo após o Dérbi do passado fim-de-semana, o qual deixou o FC Porto mais longe de alcançar o único objectivo que lhe resta na temporada, e o Sporting apeado daquela que seria a única ocasião capaz de proporcionar alegria aos seus adeptos (a de nos atrapalhar na corrida ao título).
Desde as bancadas do estádio, assistiu-se a um bom espectáculo, a um excelente golo (na primeira parte), e ao mais belo lance de toda a época futebolística nacional (na segunda). Viu-se também um Sporting motivado - o que não é notícia quando joga contra o seu invejado vizinho -, e feliz por ter evitado uma temida goleada. Presenciou-se uma vitória justa da melhor equipa, e uma arbitragem que, desde o primeiro instante, dentro e fora das áreas, dos dois lados do campo, adoptou um critério largo e equitativo, contribuindo para a fluidez do jogo como poucas vezes se vê em Portugal.
Cometeu erros? No estádio não dei por eles, embora a televisão demonstre um ou outro. Ficaram penáltis por marcar? Dentro do critério seguido pelo juiz, apenas um lance, aos 88 minutos, parece deixar dúvidas. Foi uma arbitragem perfeita? Não. Foi uma boa arbitragem? Sim.
A razão para tanto barulho é pois a mesma de sempre: a dificuldade em engolir os sucessos do Benfica, e em travar uma onda que nos vai tornando imparáveis.

15 DIAS À BENFICA

Passamos já o meio de Abril, e temos um mundo diante de nós.
Recordo-me como, não há muitos anos atrás, esta era normalmente uma fase de resignação, e de esperança…na temporada seguinte.
Neste momento, com nove jogos oficiais por disputar, podemos estar a caminho da melhor época de todos os tempos. Sim, de todos os tempos!
Esse sonho pode, porém, desmoronar-se num ápice. Como disse nestas páginas o meu amigo Pedro Ferreira, estamos entre um “quase tudo” e um “quase nada”, não sabendo ainda em que ponto exacto iremos terminar tão estimulante (e angustiante…) caminhada.
Estou convicto que os próximos quinze dias darão respostas mais conclusivas.
Acredito, por exemplo, que, ganhando ao Sporting na Luz, e ao Marítimo no Funchal, o Campeonato dificilmente nos irá escapar. Ultrapassando os turcos do Fenerbahce, voltaremos a uma Final Europeia - quase um quarto de Século depois da derrota de Viena ante o AC Milan de Gullit, Rijkaard e Van Basten -, na qual tudo será possível. Estes quatro jogos (a que devemos acrescentar um quinto: a recepção a um surpreendente Estoril-Praia), jogam-se em apenas quinze dias. Quinze loucos dias, que podem deixar-nos à beirinha do paraíso, mas, durante os quais, qualquer passo em falso nos fará cair no inferno, ou, pelo menos, num purgatório difícil de gerir e digerir.
Fui defendendo, ao longo da época, que, dada a aleatoriedade das provas europeias (decididas por detalhes), a prioridade deveria ser posta no Campeonato. Disse também que, eventualmente chegados a umas Meias-Finais, a equação poderia ter de ser reformulada. Ora aí estamos nós, com (os) três troféus para conquistar, e jogos decisivos atrás uns dos outros. Ninguém me peça agora para escolher. Quero ganhar tudo. Queremos ganhar tudo. E podemos ganhar tudo.
Acredito na equipa. Acredito no treinador. Acredito na estrutura. Só não sei como o meu coração irá resistir a cada jogo, a cada minuto e a cada lance, sabendo que de todos esses instantes dependerá este nosso encontro com a História.

FANTASIAS

Nada tenho contra o Boavista. Pelo contrário, creio que o Benfica teria a ganhar com a existência de um segundo clube na cidade do Porto, de forma a equilibrar os pratos de uma balança que tem em Lisboa um contra-peso a puxar-nos constantemente pelos calcanhares – e cujo fardo se faz sentir, não tanto nos relvados, mas principalmente no espaço mediático em redor dos mesmos.
Jogadores marcantes na história do Benfica, vieram do Boavista. Recordo-me, por exemplo, de João Pinto, Isaías ou Nuno Gomes.
Tive o privilégio de festejar um título (porventura o mais saboroso da minha vivência desportiva) nas bancadas do Bessa, sendo essa uma recordação que jamais irei esquecer.
Pese embora tudo isto, não posso estar de acordo com a recente decisão da Liga de Clubes, que não só aponta para a reintegração do Boavista no principal Campeonato, como, a reboque disso, impõe um alargamento suicida.
Deixo de lado o facto de tal decisão estar sustentada numa prescrição, que, pelo menos aos meus olhos, não inocenta ninguém. Detenho-me nos aspectos económicos.
A situação do país é conhecida. Os patrocinadores desaparecem como areia por entre os dedos. O flagelo dos salários em atraso atinge a maioria dos clubes. E, perante este panorama, eis que corremos o risco de ver um Campeonato inflacionado por equipas medíocres, com muito menor competitividade (e, esta época, à 25ª jornada, os dois primeiros ainda não perderam um só jogo), muito menos dinheiro para dividir, e, certamente, muito mais problemas, inclusive ao nível da verdade desportiva (ou da falta dela).
Defendo, há muito, uma Liga profissional com dez clubes (ou mesmo apenas oito), a quatro voltas, deixando tudo o resto por conta do amadorismo. Nem sei se uma II divisão fará sentido. Talvez apenas Campeonatos Regionais, com uma fase final para apurar uma equipa a promover. Tudo o resto é fantasia, de quem ainda não percebeu que o (nosso) mundo mudou, e que esta é uma actividade deficitária que poucos clubes têm condições para sustentar.

CUMPLICIDADES

Podemos acusar a Associação de Futebol do Porto de muita coisa. Podemos lembrar-nos de tudo o que aconteceu no dramático consulado de Lourenço Pinto no Conselho de Arbitragem da FPF. Podemos recordar escutas telefónicas, e fugas para a Galiza com avisos prévios. Mas há algo que todos temos de reconhecer àquela gente: a gratidão para com quem lhes presta bons serviços. Aliás, já vimos disto em filmes.
À Gala promovida pela referida Associação, e pelo seu sinistro presidente, não faltou ninguém. E, na maioria dos casos, não se pode dizer que não merecessem o convite. Falo, por exemplo, do impagável Pedro Proença.
Devo fazer, porém, um pequeno reparo. Achei algo injusto o lugar que lhe foi destinado na sala. O treinador André Villas-Boas, que deu somente um Campeonato Nacional ao FC Porto, tinha assento reservado na primeira fila, bem próximo de Pinto da Costa. Enquanto isso, o árbitro da brilhantina, que, com idêntico zelo, ofereceu, pelo menos, dois Campeonatos ao FC Porto - e nunca percebi se é o FC Porto o filiado na AF Porto, ou se, pelo contrário, é esta a funcionar como um mero departamento do clube -, ficava-se por uma modesta segunda linha, bem atrás daquilo que o seu protagonismo sempre fez por justificar. Pormenores à parte, há que dizer que o homem estava em família, e rodeado pela sua gente.
Não sei se, desta vez, houve lugar a prémios. Mais uma medalha, não lhe ficaria nada mal, embora fossem necessários muitos e muitos troféus para premiar todas e cada uma das ocasiões em que o juiz lisboeta ajudou os seus amigos.
Também desconheço quanto vale, nesta sombria contabilidade, uma final da Liga dos Campeões, e uma final de um Europeu. Saldo para um lado, ou saldo para o outro, o certo é que tanto a coluna do crédito, como a do débito, parecem neste caso muito bem preenchidas. Demasiado bem preenchidas.
Entre galas, relvados portugueses e nomeações internacionais, veremos como decorrem os próximos episódios desta saga, algures entre o romance e o “film noir”.

MULTI BENFICA

Quem tiver lido aquilo que escrevi, nesta mesma coluna, há uma semana atrás, percebeu ser minha convicção que cinco vitórias consecutivas do Benfica, nas próximas cinco jornadas da Liga de Futebol, representarão (com o devido respeito ao Moreirense) a conquista do respectivo título.
Para além dessa minha convicção pessoal – que, acredito, seja partilhada pela maioria dos benfiquistas, e também por muitos não benfiquistas -, está a matemática. Esta, mesmo com a implacável frieza dos seus cálculos, acrescenta apenas um número aos cinco triunfos que “pedi” aos jogadores encarnados. Ou seja, cinco vitórias mais uma, valem matematicamente o título, e aí não haverá Moreirenses que nos atrapalhem a vida.
As seis vitórias de que o nosso Futebol necessita para fazer a festa estendem-se, numa curiosa similitude, àquilo que se passa noutras modalidades.
Seis triunfos consecutivos garantem, também, a revalidação do título nacional de Hóquei em Patins, sendo que cinco deixarão as coisas praticamente à nossa mercê (tal como no Desporto-rei). Seis vitórias asseguram, igualmente, o título nacional de Andebol, que nos escapa há já alguns anos. Seis vitórias serão igualmente suficientes para erguer o ceptro de Voleibol, contando com os jogos que faltam da segunda fase, e com as duas primeiras partidas do Play-off final. Só o Basquetebol e o Futsal, dada a especificidade do formato dos respectivos Campeonatos, carecem de mais tempo, e mais vitórias, para renovar as conquistas do ano passado.
À semelhança do que sucede nos relvados, também nos pavilhões as próximas semanas serão decisivas. Elas determinarão até que ponto será possível repetir, ou (porque não?) superar, o feito histórico de 2011-2012, quando fomos vencendo sucessivamente Hóquei, Basquetebol e Futsal, acrescentando-lhes o Atletismo – que, também ele, tem somado títulos nos últimos tempos.
Isto sim, é Eclectismo com E grande. Não de palavreado (como se vê em alguns vizinhos invejosos), mas de competições, de vitórias, e de títulos.

VENHAM MAIS CINCO!

Rio Ave, Sporting e Estoril, na Luz. Deslocações a Olhão e aos Barreiros. São estas as cinco próximas jornadas do Campeonato. São estas, creio, as cinco vitórias que nos separam do título.
A semana passada correu particularmente bem ao futebol encarnado: apuramento europeu em Bordéus, e dilatar da vantagem doméstica em Guimarães, num jackpot de emoções que temos de saber gerir com entusiasmo, com confiança, mas de pés bem assentes no chão.
Se na frente internacional, com Chelsea, Tottenham e Lazio ainda em prova, o sonho de uma subida aos céus permanece mais distante do que aparenta, intramuros o Benfica depende agora apenas da sua concentração competitiva para alcançar o grande objectivo da temporada. É verdade que o pássaro europeu vai esvoaçando cada vez mais perto dos nossos olhos. Só que o de raça lusitana está já na nossa mão, e não o podemos deixar fugir.
Não é impossível vencer no Dragão na penúltima jornada. Muito menos trazer de lá um empate. Porém, nós sabemos, que eles sabem, que nós sabemos, que eles sabem, que nesta altura, ao contrário do que faria supor a mais inocente das matemáticas, a diferença entre quatro e três não é apenas um. Quatro pontos - estes mesmos que levamos de vantagem - podem dispensar uma decisão dramática, num terreno hostil, onde valerá quase tudo. Para nos salvaguardarmos dessa eventualidade, dispomos agora de um caminho alternativo. Ele passa por cinco vitórias, em cinco “finais” que terão de ser encaradas como os jogos das nossas vidas.
Há um Newcastle para ultrapassar, que acredito estar ao alcance de um bom Benfica - onde jogadores menos utilizados como Aimar, Carlos Martins, Rodrigo, Luisinho, ou os dois jovens Andrés, podem muito bem caber. Mas, mais do que nunca, julgo que a prioridade absoluta terá de ser o Campeonato, que no passado Domingo nos piscou ostensivamente o olho.
Quem tudo quer, tudo perde, diz o povo com sabedoria. Queiramos pois, com muita força, este 33º título. Se alguma coisa vier por acréscimo, tanto melhor.

HERÓIS DA LUZ

Se não estou errado, passaram já cerca de três meses desde a última vez que o Benfica jogou para o Campeonato em horários adequados. Leia-se, sem ser nas noites de Domingo.
É pois sem surpresa que se verifica um decréscimo de espectadores, facto a que, diga-se, também não será alheia a crise económica em que o país vive mergulhado - e, em menor medida, o rigoroso Inverno que a meteorologia nos destinou.
O clube vai fazendo os possíveis por chamar pessoas ao estádio. Quer dentro do campo, mantendo o 1º lugar, a invencibilidade, e a veia goleadora que tem caracterizado a era-Jesus; quer através da prática de preços convidativos, de que é exemplo o chamado “pacote-família”.
Não me parece fácil, porém, atrair multidões, quando sistematicamente se joga a horas em que quem ainda tem emprego (e pode pagar o bilhete) privilegia normalmente o conforto do lar. Acresce que, sendo o nosso Clube de matriz vincadamente nacional, e estando a maioria dos seus adeptos espalhada pelo país (ou pelo mundo), torna-se difícil encher a Luz apenas com benfiquistas de Lisboa. E não vejo como qualquer Casa do Minho, de Trás-os-Montes, ou da Beira Alta, possa organizar uma excursão apelativa em horários desta natureza.
Esta é uma das chagas do futebol português.
Em Inglaterra também há televisão, e quase todos os jogos se disputam de tarde. Em Itália também há televisão, e são poucas as partidas jogadas à noite (normalmente apenas uma por jornada). Na Alemanha também não há notícia de jogos nocturnos, excepto às sextas-feiras. Só em Espanha temos uma realidade mais parecida com a nossa, embora a capacidade desportiva e financeira dos principais clubes lhes permita encher os estádios, desde logo, com bilhetes de época.
Ir ao futebol no nosso país, em altura de austeridade, suportando viagens e bilhetes, apanhando frio e chuva, e regressando a casa a horas impróprias, é quase para heróis.
Espera-se que a Benfica TV ajude a resolver este problema nos próximos anos, devolvendo o futebol aos adeptos.

PRIMEIROS!

Com sorte, mas também com alma e capacidade de sofrimento, o Benfica saiu de Aveiro na liderança isolada da Liga Portuguesa de Futebol, acendendo as luzes da esperança na sua gigantesca massa adepta.
Faltam nove jogos, tudo continua por decidir, e a equipa dá mostras de não vacilar. A nota artística vai alternando, enquanto as vitórias se vão sucedendo, sendo necessário recuar quarenta anos na história para encontrarmos uma tão eficaz campanha.
É altura, pois, de recriarmos uma onda vermelha capaz de invadir as bancadas do nosso estádio, e percorrer todo o país, empurrando o Benfica rumo ao 33º título. É altura de entrarmos também nós em campo, para erguer a moldura que habitualmente enquadra os campeões.
Há quem fale de penáltis, atirando as razões da liderança benfiquista para as costas das arbitragens. Se nos lembrarmos das expulsões de Proença na Choupana, dos penáltis de Xistra em Coimbra, e das ”defesas” de Alex Sandro em vários locais, percebemos que tudo não passa de manobras de diversão de quem avista o perigo. Até porque as duas últimas grandes penalidades marcadas a nosso favor foram inequívocas, escapando a qualquer racionalidade as dúvidas levantadas por algumas vozes acerca delas.
Somos primeiros porque somos melhores, e não é só no Futebol que o Benfica mostra a sua força. Somos líderes também em Basquetebol, Hóquei em Patins, Voleibol e Andebol, mantendo todas as esperanças intactas no Futsal. Permanecemos nas Taças de Portugal de todas estas modalidades, com a excepção do Voleibol. Estamos entre os oito melhores da Europa do Hóquei. E como se tudo isto não bastasse, recebemos recentemente a doce notícia relativa à aquisição dos direitos de transmissão, para a Benfica Tv, da melhor e mais bonita liga nacional de todo o mundo - facto que traz dados novos ao mercado audiovisual português, e ao nosso posicionamento perante ele.
Tudo isto é Benfica. Tudo isto é, um grande Benfica. Acima de tudo e de todos, voando como uma águia que procura atingir os céus.

NÚMEROS HISTÓRICOS

Seria preciso recuarmos até 1984 para vermos um Benfica ainda mais forte nas primeiras vinte jornadas de um Campeonato Nacional de Futebol. Então, com Eriksson ao leme, e ainda com Bento, Humberto, Chalana e Nené na equipa, os encarnados chegaram a esta altura da prova sem qualquer derrota, mas apenas com dois empates consentidos (contra os quatro de 2012/13). Esse é, de resto, o único Campeonato do pós-Eusébio em que os números do Benfica se sobrepõem aos do actual. Diga-se, porém, que em 1983/84 já caíramos da Taça de Portugal, e agora estamos a um pequeno passo de chegar ao Jamor. Ou seja, olhando estritamente para os resultados, em cerca de quarenta anos é difícil encontrar paralelismo com a notável temporada que a nossa equipa está a realizar – sendo que, na frente externa, só uma estranha carambola de resultados nos impediu de prosseguir na Champions, e que, na Liga Europa, o primeiro e difícil obstáculo está já ultrapassado.
É certo que a competitividade deste Campeonato se resume aos dois principais emblemas, e que nem sempre assim foi. Havia Sporting, houve também, a seu tempo, Boavista, e do meio da tabela para baixo, a força da maioria das equipas era genericamente superior à que manifestam nos austeros tempos que vivemos.
Nada disto, nem o facto de (ainda) não estarmos em primeiro lugar, retira mérito ao trabalho destes jogadores, e, sobretudo, deste treinador. Recordemo-nos daquilo que se disse em Agosto, quando, por muitos milhões, Javi Garcia e Witsel partiram para outras paragens. Confesso que eu próprio duvidei, na altura, que tão rapidamente os esquecêssemos. Hoje vemos Matic (um dos melhores jogadores a actuar na nossa Liga), vemos Enzo Perez, e percebemos que mantemos uma “Senhora Equipa”, à qual Lima e Olá John também vieram acrescentar qualidade.
Ainda não ganhámos nada. Nem temos garantias de que o possamos fazer. Há muitas barreiras a transpor (equipas de futebol, e não só). Mas o caminho é este, e está a ser percorrido com eficácia e brilhantismo.

PRIORIDADES

Escrevo estas linhas antes da 2ªmão da eliminatória da Liga Europa. O resultado obtido na Alemanha deixou as coisas bem encaminhadas, mas neste tipo de competição, contra este tipo de adversário, não é possível cantar vitória antes do tempo.
O que quer que se diga aqui não perderá, porém, aplicabilidade. Nesta época (seria bom sinal), ou nas próximas, e sempre que nos virmos envolvidos em várias frentes, sabendo que dificilmente temos condições para triunfar em todas elas. Está em causa a dicotomia entre o sonho e a realidade, e a escolha entre o bom e o possível, sabendo que o óptimo tem poucos amigos.
Se alguém me perguntar se prefiro ganhar a Liga Europa ou o Campeonato, escolho, sem hesitações, a primeira hipótese. Avaliamos a dimensão histórica de cada conquista, e lembramo-nos que um título europeu é algo que nos escapa há mais de 50 anos. Sobretudo para a minha geração, que não viu José Águas erguer à Taça dos Campeões, seria muito importante ver Luisão com um troféu internacional nas mãos – e manda o pragmatismo perceber que só na Liga Europa tal sonho tem condições de se concretizar.
Mas este desejo não pode chocar com o grande desígnio estratégico do Benfica do presente, que passa por disputar a liderança do futebol português com o FC Porto. E sabemos que um plantel como o nosso terá dificuldades em aguentar a exigência de dois jogos de alta intensidade por semana, condição fundamental para conciliar o título nacional com uma grande prestação extramuros.
Creio, pois, que só um Campeonato prematuramente resolvido (a bem ou a mal, que é como quem diz, ganho ou perdido) permitiria apostar todas as fichas numa aventura europeia. No ponto em que estamos, onde cada jogo doméstico é absolutamente decisivo, não podemos levantar os pés do chão.
Se, com rotatividade e sorte, conseguíssemos porventura chegar a umas meias-finais, então seria de reequacionar prioridades. Até lá, não deve haver lugar a dúvidas. Nem na estrutura do clube, nem, sobretudo, na cabeça dos jogadores.

BASTA!

Já não há desculpas. Só é enganado quem quer.
Desde 2001 que ele anda por aí.
Teve tempo de resolver (pelo menos) dois Campeonatos, recebeu todas as insígnias que lhe deviam, não faltou às merecidas homenagens, e deixou cair todas as máscaras.
Começou por se auto-intitular “benfiquista”, certamente para dissimular vontades. Depois, sempre muito bem penteado, foi lançando as sementes de uma carreira frutuosa, que o levou Europa fora, até aos mais cintilantes palcos, para dirigir os mais importantes jogos, recebendo os louvores e prémios correspondentes.
Pelo meio, fez o que fazem aqueles que, nos meandros da arbitragem portuguesa, pretendem chegar longe: protegeu os poderes instalados, com o seu apito sempre afinado segundo a mesma escala, sem variações, sem uma só colcheia ou semi-fusa a destoar.
Não irei repetir-me. Não vou voltar a descrever todo o vasto e negro historial da criatura. Nem esta coluna daria para tanto.
Quero apenas manifestar o meu desejo, ou melhor, a minha exigência, de que isto não fique assim. Quero acreditar que a força social e institucional do meu Clube seja suficiente para impedir este indivíduo de continuar, época a época, a transformar jogos do Benfica num repetido Carnaval.
Não acredito em coincidências. Nem em azares – sobretudo quando se sucedem em série. E não duvido da sabedoria, da preparação nem da perspicácia de quem tão galardoado é. Sobram pois poucas hipóteses.
Achei graça a uma entrevista concedida nas vésperas do último Clássico. Diverti-me com as acrobacias retóricas de quem pretendia estar nesse jogo, certamente para fazer dele o que fez de outros. Mas esperava que o bom senso não permitisse voltar a vê-lo por perto.
Eis que regressou, em todo o seu esplendor, para dar mais um bailinho - agora na Madeira - a todos os que, ingenuamente, ainda crêem na sua isenção.
O homem continua a sua luta. Talvez queira tornar-se imortal. Talvez sonhe ser uma espécie de Calabote ao contrário. E enquanto o deixarem, enquanto o deixarmos, ele não irá parar.

PROENÇAMENTOS

A saborosa vitória em Braga significou um passo importante na luta pelo principal objectivo da época. Em teoria, tratava-se do segundo mais difícil compromisso do Campeonato, pelo que os três pontos alcançados não podem deixar de constituir um estímulo para jogadores, técnicos, dirigentes e adeptos, neste combate que se prevê renhido até final.
Com os dois “grandes” igualados na liderança, sem cederem pontos a ninguém, todo o país desportivo antevê uma penúltima jornada escaldante e decisiva, quando ambos se encontrarem frente a frente. E desde já se vai falando do nome do árbitro a escalar para a ocasião. Pedro Proença, com todos os galões regionais, nacionais e internacionais que alguém se encarregou de lhe conceder, é, obviamente, aquele que surge no horizonte dos que pretendem voltar a vencer um Campeonato à custa de lances irregulares – como o penálti de Lisandro em 2009, ou o golo de Maicon em 2012.
Não adianta recordar aqui o longo cadastro do homem, que começa no Bessa em 2002, passa por Penafiel em 2005, e, depois de muitos outros episódios, continua a deixar marcas, como se viu em Setúbal há pouco mais de uma semana.
Proença pode até ser considerado, por quem quiser, o melhor árbitro do universo. Por mim, sou livre de ter as minhas dúvidas de que seja o mais honesto; e o seu negro historial em jogos do Benfica demonstra que não é, seguramente, o mais imparcial.
Há já algum tempo escrevi que, por aquilo que me era dado a ver do mundo do futebol, o problema principal não estava na Liga, nem na FPF, nem no Gomes, nem no Pereira, nem na Olivedesportos. O grande vício residia nos próprios árbitros em pessoa, e, em particular, no grupo de internacionais que vai sendo homenageado, à vez, por Lourenço Pinto e amigos.
Os últimos tempos têm sedimentado essa ideia. E só espero que a recta final deste Campeonato não venha a confirmá-la de vez, com um qualquer fora-de-jogo a decidir o título, e um tipo de brilhantina a pedir desculpa em público, rindo-se de nós em privado.

STRONG...COMO OUTROS

A recente confissão de Lance Armstrong sobre as práticas de dopagem que o levaram a tornar-se num dos mais bem sucedidos desportistas de sempre, chocou o mundo, e, em particular, os fãs do Ciclismo, como é o meu caso.
Na verdade, ao longo da sua triunfante carreira, o hepta-campeão do Tour de France foi objecto de centenas de análises para despiste do consumo de substâncias proibidas, e nenhuma delas acusou qualquer ilegalidade. Só a denúncia de antigos colegas de equipa desencadeou o processo - que terminou agora, com o ex-campeão de joelhos perante o mundo.
Se a história do Ciclismo tem sido fértil em casos de doping, também é justo dizer-se que a modalidade tem estado quase sempre na vanguarda da luta contra ele. De recolhas sanguíneas surpresa efectuadas durante as férias, até aos chamados “passaportes biológicos” (onde vão sendo registadas as variações hematológicas de cada atleta), tudo tem sido feito para combater a fraude, pelo que não deixa de causar alguma inquietação a forma como foi possível, ainda assim, alguém enganar tudo e todos durante quase todo o tempo.
Ora, sabendo-se que o tipo de controlo aplicado ao Futebol, comparado com o do Ciclismo, não passa de uma mera e inocente formalidade, a suspeita de que a verdade desportiva nos relvados não passe, também ela, de um embuste, torna-se dramaticamente verosímil. Até porque os muitos milhões de euros envolvidos - bem mais suculentos no Desporto-Rei - são o convite que normalmente seduz os infractores.
Em Portugal, temos casos comprovados de tentativas de falsear a verdade desportiva por outros meios, nomeadamente através da corrupção de árbitros. Ninguém me convencerá facilmente que, esses mesmos corruptores, na ânsia de ganhar a qualquer preço, não se sirvam também de outros expedientes que a fragilidade da vigilância lhes coloca à disposição.
Não me surpreenderia, pois, que um dia o Futebol português revelasse um monstro de dopagem à medida de Armstrong. E com muito mais do que sete títulos para devolver.

AFIRMA PEREIRA

Há empates com sabor a vitória (Bessa, 2005). Há empates com sabor a derrota (Camp Nou, 2012). Mas há também empates com sabor a…empate. Foi o caso do último “Clássico”.
O Benfica fez mais remates, teve mais cantos, criou mais ocasiões de golo e sofreu mais faltas. O FC Porto controlou o jogo, impediu o adversário de fazer aquilo que gosta, e conseguiu o que queria, saindo do relvado em efusivos festejos. A arbitragem foi boa, deixando jogar, evitando até ao limite a mostragem de cartões, favorecendo assim um espectáculo que começou em grande estilo, manteve intensidade e emoção até final, mas não conseguiu cumprir aquilo que o frenético ritmo do primeiro quarto-de-hora parecia prometer. Houve, genericamente, correcção, quer dentro quer fora do campo. E o resultado acabou por ser justo, premiando com um ponto o empenho das equipas, e penalizando com dois os erros cometidos.
Num jogo desta natureza, com toda a pressão que o envolve, há sempre quem esteja menos feliz. O nosso Artur, por exemplo, costuma fazer muito melhor. Mas o figurão da noite, pela negativa, foi o acidental treinador portista.
Já sabemos que naquele clube ninguém tem voz própria, e todos se limitam a dizer aquilo que lhes mandam. Mas alguns, no passado recente, sabiam trazer os recados com maior assertividade. Este Pereira, que revela gritantes dificuldades em se afirmar como o verdadeiro comandante das suas tropas, espalhou-se ao comprido numa conferência de imprensa em tons de surrealismo.
Até poderíamos compreender que, mal habituado a penáltis de Lisandro, ou golos de Maicon, tenha estranhado não dispor, desta vez, do habitual obséquio dos juízes. Mas dizer do Benfica aquilo que disse, além de fazer rir o país desportivo, foi insultuoso, até para com os seus próprios jogadores.
Não é a primeira vez que o homem se enxovalha em público. Mas talvez seja uma das últimas. É que, fora do contexto em que herdou este FC Porto, não o vejo com nível para muito mais do que um qualquer Santa Clara desta vida.

"À PORTO"

Ninguém me contou. Eu vi, ao vivo e in loco. Estupefacto e revoltado. Com o meu filho ao lado.
Um guarda-redes de Hóquei do FC Porto agrediu, selvática e cobardemente, com uma violenta stickada, adeptos do Benfica que se encontravam na bancada perto do túnel de acesso aos balneários.
Pensei tratar-se do suplente, que, sentado no banco, tivesse sido alvo de especial provocação ao longo da partida, e jurasse vingança à saída de palco. Vim a saber tratar-se do titular (de capacete parecem iguais), que passou todo o tempo na baliza, sem que alguém, desde o local da agressão, o pudesse ter perturbado até àquele momento.
Acredito que tenha ouvido, de passagem, alguns impropérios, coisa natural num jogo entre rivais, em qualquer parte do mundo. Não vi ser arremessado qualquer objecto, ou algo que explicasse tamanha manifestação de brutalidade num indivíduo que é suposto ser desportista profissional, que tem idade suficiente para ter juízo, e que, para mais, acabara de vencer o jogo.
Minutos depois, entrou a Polícia, e deteve…um adepto do Benfica. Não percebi porquê, mas, infelizmente, tenho a preocupante certeza de que no Dragão as coisas seriam diferentes. Aliás, para aqueles lados, tudo é diferente. Entre Madureiras, Abeis e Lourenços Pintos, há um território sem lei, e uma protecção, não da ordem pública ou da cidadania, mas antes daqueles que representam uma dada ideologia de guerrilha regionalista e provinciana - extensível, de resto, a certos meios de comunicação social, o que se viu na forma como este caso foi tratado.
Não sei se o meu filho quererá voltar ao Hóquei. Nem o que lhe dizer se, por absurdo, voltar a ver aquele guarda-redes numa baliza. Mas, pelo menos, a tarde serviu-lhe para perceber aquilo que é jogar à Porto (com intimidação, provocações e teatro na pista), ganhar à Porto (com uma inaceitável dualidade de critérios da arbitragem), e sair à Porto (com ódio, arrogância, violência e impunidade). Coisas que nós, mais velhos, há trinta anos bem conhecemos.

2012. UM BALANÇO

Chegados aos últimos dias de mais um ano, é altura de recordar aquilo que ele nos trouxe - quer de bom, quer de menos bom, quer, sobretudo, de ensinamentos úteis para o futuro.
Para o Benfica, pode dizer-se que 2012 foi genericamente positivo. É verdade que não fomos campeões nacionais de futebol - não nos deixaram sê-lo…-, mas essa foi a única lacuna num ano recheado de êxitos. Não podemos esquecer que estivemos entre os oito melhores da passada Champions League (só uma infeliz carambola de resultados nos afastou da presente edição), nem que conquistámos, uma vez mais, a Taça da Liga, nem que chegámos a esta altura da nova época invictos, na liderança do Campeonato principal, e com francas possibilidades de regressar ao Jamor.
No Verão, conseguimos realizar negócios do outro mundo, com as vendas dos passes de Javi Garcia e Witsel por valores irrecusáveis, e sem que tais ausências se reflectissem sobremaneira no rendimento colectivo da equipa (méritos ao treinador). E aí estamos nós, carregados de legítima esperança para os meses que se avizinham.
Nas modalidades conseguimos fazer história, alcançando títulos nacionais de Futsal, Basquetebol (este em circunstâncias particularmente saborosas), Hóquei em Patins (colocando ponto final num longo jejum) e Atletismo, entre muitas outras vitórias e troféus – dos quais se destaca, já na corrente temporada, uma inédita colecção de cinco (!) Supertaças.
Também no Futebol Formação alcançamos sucessos, quer por via do título de Iniciados, quer pelo elevadíssimo número de jovens benfiquistas chamados às respectivas selecções nacionais, quer, ainda, pelo surgimento de nomes como André Gomes na órbita da equipa principal.
Em termos institucionais, as eleições ocorridas em Outubro, para além de responderem afirmativamente à nossa antiga tradição democrática, trouxeram a clarificação necessária para prosseguirmos na rota do reencontro com a nossa história.
Temos hoje mais e melhor Benfica. Estamos no caminho certo. 2013 espera por nós.

DE TRÊS EM TRÊS

De três em três pontos se vai construindo uma cada vez mais sólida candidatura ao título. De três em três golos vai o nosso artilheiro, Óscar Cardozo, convencendo os mais cépticos de se tratar, desde já, de um nome para entrar na mais fina prateleira da história do Glorioso Benfica.
É espantoso como um avançado que, apenas em jogos oficiais, marca 146 golos – dos quais 7 ao FC Porto, 10 ao Sporting, 27 nas provas europeias…- em cinco temporadas e meia (melhor média de sempre atrás de Eusébio e José Águas), não recolhe, ainda assim, a unanimidade das simpatias dos adeptos. Mesmo depois de dois “hat-tricks” consecutivos (um dos quais em Alvalade), talvez haja ainda quem não entenda a forma de jogar do paraguaio – que não assenta em requintes técnicos, toques de calcanhar, sprints inúteis ou dribles para a bancada ver, mas antes naquilo em que consiste a essência do futebol, e faz ganhar jogos: os golos.
Com um sentido posicional notável dentro da área, com movimentos de desmarcação que lhe permitem aparecer repetidas vezes na cara do guarda-redes, com um pé esquerdo fulminante (quer de bola corrida, quer de bola parada), e com uma capacidade de choque sem paralelo no futebol luso, Cardozo é, de longe, o melhor ponta-de-lança que o Benfica teve neste século XXI, bastando recorrer aos números para esclarecer tamanha evidência. Terá sido vítima, a dada altura, de uma injusta comparação com Falcao (o melhor do mundo na actualidade), mas já era tempo de todos perceberem que não é por haver sol que outras estrelas se apagam. Luisão não é Piqué, Aimar não é Messi, e nem Artur será Casillas.
Para a nossa realidade, não me parece crível que possamos ter, nem agora, nem num futuro próximo, um goleador com tão elevado grau de eficácia a comandar o nosso ataque. Vibremos pois com os golos de Tacuára, sabendo que no dia em que nos deixar, a saudade irá fazer com que finalmente todos compreendam aquilo que perderam. É que, em futebol, o que parece fácil é, quase sempre, o mais difícil.

UM QUATRO, UM TRÊS E UMA ESPERANÇA


Em poucos dias, o Sport Lisboa e Benfica deu-nos três diferentes motivos de orgulho.
A nossa Benfica TV cumpriu o seu quarto aniversário, afirmando-se cada vez mais como uma presença indispensável ao universo benfiquista. Nasceu de um projecto arrojado – como tantos que o Clube tem levado à prática -, e passados estes anos pode dizer-se que tem sido acompanhada de inteiro sucesso. A prova é que os rivais se apressaram a tentar copiá-la, uns com um arremedo de imitação barata, outros sem passar de pomposos, e eternamente adiados, manifestos de intenções. O futuro aponta para um reforço desta aposta, eventualmente em novas plataformas, e com um modelo que permita rentabilizar as transmissões dos jogos de futebol no nosso estádio.
Outro motivo de contentamento foi a vitória esclarecedora obtida em Alvalade, num jogo que até começou por nem correr de feição. Não sei, honestamente, se ganhar ao Sporting, mesmo fora de casa, significa hoje o que significava na minha infância. Sei que, terminada a partida, a incontrolável euforia com que outrora vivia estas jornadas se transformou numa agradável, mas simples e tranquila, sensação de dever cumprido. Sinal dos tempos. Sinal de um clube que soube retomar a sua dimensão, e manter-se na disputa pela liderança do futebol nacional, e de um outro que parece caminhar em direcção ao abismo.
Antes, em Barcelona, a nossa equipa ficara à beira de um feito histórico. Com uma pontinha de sorte teríamos vencido em Camp Nou, perante um adversário onde pontificavam Puyol, Pique, Song, David Villa, e…Lionel Messi, entre alguns jovens (Montoya, Tello, Thiago, etc) utilizados com maior ou menor frequência no onze principal – ou seja, perante uma grande equipa. O acumulado de resultados do grupo afastou-nos caprichosamente do apuramento. Mas não foi neste jogo que o Benfica sucumbiu. Pelo contrário, aquilo que fizemos em Camp Nou deve ser valorizado, e servir como uma boa base para a Liga Europa - que se aproxima, e para a qual devemos olhar com ambição.

TOP-DEZ

A vitória obtida sobre o Celtic trouxe com ela a possibilidade de continuarmos a sonhar com uma noite épica em Camp Nou, e com o correspondente acesso à fase seguinte da principal prova mundial de clubes. Mas, independentemente da concretização, ou não, desse objectivo, aquele triunfo garantiu-nos a continuidade na Europa do futebol, o que, por sua vez, nos pode encaminhar para um lugar no Top-dez do ranking da UEFA no final da corrente temporada – coisa que não se via desde há mais de quinze anos.
Recordo, a propósito, que em 2001 o Benfica ocupava um humilhante 91º lugar, atrás de nomes como Slovan Liberec, Union Berlim, Roda, Rayo Vallecano, Paok, Vitesse, Grasshopper ou…Boavista. O trajecto internacional do Benfica tem tomado, na última década, um rumo de constante e sustentado crescimento, apenas intercalado por uma temporada francamente negativa (com Quique Flores, em 2008-2009). Desde que Jorge Jesus assumiu o comando técnico da nossa equipa, não mais ficámos fora de competição antes dos Quartos-de-Final (uma vez na Liga Europa, outra na cintilante Champions League), e voltámos, dezassete anos depois, a marcar presença numas Meias-Finais europeias (embora a forma como, aí, desperdiçámos a oportunidade de chegar à respectiva final, nos tenha deixado um profundo amargo de boca). São dados concretos, que nos devem orgulhar, e aos quais nem sempre é concedido o devido reconhecimento.
Se a estes números acrescentarmos mais uma campanha de bom nível, entraremos pois no tal Top-dez, onde só cabem os grandes nomes do futebol europeu e mundial.
É verdade que, entre eles, está também o nosso grande rival interno. Mas isso, ao invés de nos diminuir, deve, pelo contrário, ajudar a explicar porque motivo nos tem sido tão difícil alcançar o desígnio estratégico da recuperação da hegemonia no futebol português. Não jogamos sozinhos, e a verdade é que nunca na nossa história centenária (exceptuando talvez os anos dos “Cinco Violinos”) tivemos de nos bater com tão forte adversário.
30/11/2012

O REGRESSO POSSÍVEL

Para que este espaço não morra definitivamente, e mantendo-se a impossibilidade de o actualizar ao ritmo do passado, decidi publicar aqui as crónicas que semanalmente escrevo para o Jornal "O Benfica". Com uns dias de atraso, para que ninguém deixe de comprar o jornal...

COMUNICADO

Por motivos profissionais, este espaço terá de ficar suspenso por tempo indeterminado.
É porém com alegria que "deixo" o Benfica na frente das classificações de praticamente todas as competições que disputa, nas várias modalidades que já tiveram início - entre as quais, naturalmente, o Futebol. Por isso mesmo, custo a entender acontecimentos tristes como os da última AG.
Assim que possível, voltarei.

NÚMEROS ESMAGADORES

Listas de Melhores Marcadores da Liga Portuguesa, de 2007/08 até agora:
2007/08: 1º LISANDRO 24; 2º Cardozo 13; 3º Weldon 12
2008/09: 1º NENE 20; 2º Cardozo 17; 3º Liedson 17
2009/10: 1º CARDOZO 26; 2º Falcao 25; 3º Liedson 13
2010/11: 1º HULK 23; 2º Falcao 16; 3º Cardozo 12
2011/12: 1º CARDOZO 20; 2º Lima 20; 3º Hulk 16
2012/13: 1º CARDOZO 4; 2º Rodrigo 3; 3º Jackson 3

Total de golos de Cardozo no Campeonato pelo Benfica: 92
Total de golos de Cardozo em Jogos oficiais pelo Benfica: 133
Total de golos de Cardozo, incluindo amigáveis, pelo Benfica: 163

Melhores goleadores do Benfica no sec.XXI
CARDOZO 133
2º Simão Sabrosa 96
3º Nuno Gomes 90
Melhores goleadores do Benfica (média por temporada) de sempre:
1º EUSÉBIO 31,5/época
2º José Águas 29,0/época
Cardozo 22,2/época
4º Julinho 20,2/época
5º Nené 19,9/época

Quem faria melhor?
Como é possível assobiar um jogador com estes números?!?

XISTRA, 2 - BENFICA, 2

"À quarta jornada, está encontrado o árbitro que vai ser homenageado por Lourenço Pinto no próximo ano" JOÃO GOBERN na RTP.
Eu não diria melhor. Uma arbitragem desastrada retirou o Benfica da liderança. De resto, vi uma exibição bem agradável da equipa, com muitas oportunidades criadas, duas concretizadas, e um domínio total do jogo. Mas contra o factor X (de Xistra) é muito difícil ganhar.

POSITIVO

Dadas as circunstâncias em que o Benfica partiu para Glasgow, tanto a exibição, como o resultado, são de enaltecer. Foi, afinal de contas, a primeira vez na história que o clube não saiu derrotado do Celtic Park. Além de que, começar a poule empatando no terreno de um dos adversários directos, não é coisa de somenos.
Podia ter vencido? Sim. Mas no futebol, como na vida, o bom é inimigo do óptimo. Um maior risco ofensivo, na fase derradeira da partida, poderia ter ditado uma indigesta derrota – sobretudo sabendo-se das limitações com que a equipa se apresentava do meio-campo para trás. Não tenho muitas dúvidas que o Benfica teria mais a perder com uma maior abertura táctica da partida, pois jogava fora, e o resultado era-lhe (e foi-lhe) muito mais favorável do que ao seu opositor.
O jogo não começou bem, mas pode dizer-se que, pouco a pouco, o Benfica se foi adaptando a ele. Não era ocasião para requintes, e foi de fato-macaco que a equipa acabou por impor-se, alcançando os objectivos mínimos, podendo dizer-se que até ficou mais perto da vitória do que da derrota.
Em termos individuais há que destacar as prestações de Jardel, Garay e Enzo Perez, embora Melgarejo também tenha deixado indicações de rápido crescimento enquanto dono da ala esquerda da defesa.
O árbitro não deixou que se desse por ele.
Em suma, mesmo não tendo assistido a um grande jogo, mesmo não tendo visto qualquer golo, posso dizer que fiquei satisfeito com o que se passou. Com o Barcelona será para...ver Messi. A luta pelo apuramento segue em Moscovo.

INVENTANDO O MENOS POSSÍVEL

Artur;
Miguel Vítor, Jardel, Garay, Melgarejo;
Matic, Salvio, Aimar, Enzo Perez;
Rodrigo e Cardozo.

COISAS DA VIDA

E o que foi de borla (Saviola), deu bailinho ao dos 40, perdão, 60 milhões (Hulk).

ESPERTEZA SALOIA

Primeiro lança-se um simulacro de castigo a Jesus, num timing estapafúrdio, com uma ridícula declaração de vencido , para "indignar" as vozes do anti-benfiquismo, e preencher o espaço público com frenéticas acusações de favorecimento.

Depois, com o caldo bem quente, castiga-se à séria, de forma injusta, na sala ao lado, um jogador imprescindível, para "compensar" uma balança minada.

Quem não os conheça que os compre. E quem acredita (ou acreditou) neles, que acorde.

A mim, resta-me apenas o consolo de não me deixar enganar. Com 43 anos, de chico-espertismo já levei a minha dose. E também li Maquiavel.

UM CLUBE DIFERENTE...

Dinheiro depositado na conta de um árbitro.




Fraude fiscal na compra de um jogador.

...E EM JANEIRO

...fazendo regressar Airton, concretizando o empréstimo de Sílvio, vendendo Gaitán ao melhor preço (15 M, neste momento, já seria aceitável), e cedendo Ola John para rodar noutro clube, o Benfica poderia ficar com um plantel muito mais equilibrado, sem gastar um cêntimo, e ainda embolsando mais uns milhõezitos. Qualquer coisa como isto:
GUARDA-REDES - Artur, Paulo Lopes e Mika
DEFESAS - Maxi Pereira, Luisão, Garay, Melgarejo, Sílvio, Jardel, Miguel Vítor e Luisinho
MÉDIOS - Matic, Airton, Salvio, Enzo Perez, Aimar, Carlos Martins, Nolito e Bruno César
AVANÇADOS - Cardozo, Rodrigo e Lima
Até lá, rezar para que ninguém se lesione, e perder o menor número de pontos possível.

O NOVO BENFICA



O LOUCO MERCADO

Depois de um saboroso período de férias, VEDETA DA BOLA volta hoje ao seu convívio.
Devo dizer desde já, e por respeito aos leitores, que motivos relacionados com a minha vida profissional vão necessariamente impor, nos próximos tempos, um aligeirar de conteúdos. Não sei ainda de que forma, nem em que medida. Não posso prometer nada. A coisa vai andando assim até ver, e enquanto puder ser.
Mas vamos ao Futebol.
Neste momento impõe-se, claro, um comentário aos surpreendentes (ou talvez não) desenvolvimentos do mercado de transferências. Como as situações são diferentes, aqui vai uma breve análise, também ela segmentada:
JAVI GARCIA - Quando um jogador chega por 7 milhões, e sai por 20, estamos sempre perante um bom negócio. Sobretudo em tempos de crise, quando o crédito é difícil (ou impossível), e quando, em função dessa mesma crise, as receitas correntes vão minguando a todos os níveis (patrocínios, quotizações, bilheteira, merchandising, etc).
Acresce que, no momento em que Javi é negociado, há a perspectiva de manter Witsel (já lá vamos). Tratando-se do último dia da janela de transferências (arrastamento levado ao limite pelo comprador no sentido de diminuir os argumentos negociais do vendedor), as hipóteses de recrutar mais alguém credível para o meio-campo não eram muitas. O jogador, claro, queria sair, pelo que pouco ou nada havia a fazer senão aceitar os desígnios do destino…e o dinheiro. É assim o futebol moderno, gostemos ou não dele.
Javi tinha um peso enorme nos equilíbrios da equipa. Vai deixar saudades. Mas nem eu perdoaria aos dirigentes do Benfica se, no contexto daquele momento, deitassem fora mais de vinte milhões de euros, mantendo um jogador certamente contrariado e pouco motivado para render a top. Há comboios que não passam duas vezes no mesmo sítio. Este poderia ser um deles.
WITSEL – Se nada havia a fazer para segurar Javi, que dizer do belga, cuja cláusula de rescisão foi accionada, sem que o Benfica, aparentemente, tivesse voto na matéria.
40 milhões são um autêntico jackpot para os cofres da Luz, fazendo do investimento de 6,5 milhões, de há um ano, uma simples bagatela. O problema da saída de Witsel foi…a saída de Javi. E, sobretudo, o timing de ambas, esburacando o coração da equipa, sem tempo para reagir no mercado.
Ao contrário de Javi (do qual, confesso, não conhecia qualquer sinal de saída), creio que o Benfica deveria estar prevenido para a eventual perda de Witsel, e precisamente para o… Zenit. A sustentar esta tese direi que, por um daqueles acasos da vida, fui neste Verão parar à porta do Estádio do Heysel, no dia de um Bélgica-Holanda de preparação. Não pude ver o jogo, pois tinha comboio para Amesterdão à hora do mesmo. Mas, por entre visitas ao Atomium, e à Mini-Europa, que ficam ali mesmo ao lado, ainda tive oportunidade de conviver com alguns dos muitos adeptos belgas que, vestidos a rigor, com ar festivo, e muita cerveja a circular, aguardavam o derbi da região. O tema de conversa foi, obviamente, Witsel. E enquanto em Lisboa se falava insistentemente de Real Madrid e Milan, os belgas asseguravam-me (estávamos, creio, a 15 de Agosto), que o médio iria para o Zenit. Pensei tratar-se de especulação, mas agora, com o facto consumado, chego à conclusão que era a imprensa portuguesa que andava mal informada. Acredito que o Benfica o não estivesse. Mas acredito também que ninguém, nos corredores da Luz, achasse possível que os russos chegassem tão longe nos números, ao ponto de deixarem sem pio os seus interlocutores do lado de cá. A saída de Witsel foi, pois, também ela uma fatalidade.
…E AGORA? – Agora, não há meias palavras para dizer isto: o meio campo do Benfica ficou decapitado, os equilíbrios do conjunto perderam-se, e a equipa ficou substancialmente mais fraca. Lamento que, perdendo a oportunidade de Sílvio (esta, sinceramente, mais difícil de justificar), deixando Airton no Brasil e Ruben Amorim em Braga, o Benfica não tenha agora, sem custos acrescidos, algumas soluções capazes de disfarçar os seus problemas. Esperemos para ver o que reserva Janeiro, tendo em conta que o Sp.Braga já jogou na Luz, o FC Porto só chega em 2013, havendo apenas nove jogos do Campeonato até ao Natal. Também Sp.Braga e FC Porto perderam os seus melhores jogadores, embora – diferença substancial – não tenham perdido os equilíbrios colectivos. Quem pode lucrar é o Sporting, mas conhecendo-se o que aquela casa gasta, duvido que o venha a fazer. Para já coloco o FC Porto, mesmo sem Hulk, como o grande favorito ao título. O Benfica vai ter de suar as estopinhas, puxar pela prodigiosa imaginação táctica de Jesus, e esperar que a sorte o acompanhe (designadamente afastando lesões), para se manter na luta pelos seus objectivos.
LIMA – Algumas palavras também para a aquisição de um grande jogador. Não sei se o Benfica perderia muito em ter mantido Nélson Oliveira, poupando o dinheiro do bracarense. Mas tendo em conta que, a não vir para a Luz, aterraria muito provavelmente no Dragão, creio que a contratação de Lima se aceita, esperando-se agora que o seu rendimento em campo possa sedimentar essa ideia.
HULK – Por 40 milhões é bem vendido. Era totalmente irrealista esperar que alguém fosse muito mais além disso face a um jogador cujo prestígio que desfruta em Portugal (amplamente justificado, há que o reconhecer) não encontra paralelo noutros quadrantes, a começar pelo próprio Brasil – onde sempre desconfiam de jogadores que não sabem fazer fintas, nem dão toques de calcanhar.
O problema dos números foi contrariarem a palavra de Pinto da Costa, que na véspera havia garantido ter recusado 50 milhões (uma mentira em que o bom senso não deixaria quase ninguém acreditar). Mas palavra é coisa que, em Pinto da Costa, tem um valor sempre muito relativo.

ATÉ JÁ!

Caríssimos leitores, chegou a minha hora.
Entrarei a partir de amanhã num período de férias, este ano um pouco mais longo do que é habitual. Regressarei apenas em Setembro, já com o Campeonato em vivo andamento, e às portas da Fase de Grupos da Champions League.
Sendo único editor deste espaço, o mesmo terá de encerrar – a menos que alguém se candidate para o ir actualizando…
Espero que este período traga boas notícias. Vitórias nos primeiros jogos oficiais (se possível, acompanhadas de perda de pontos dos principais adversários), manutenção no plantel de figuras como Witsel e Cardozo (admito a saída de Gaitán), contratação de um lateral-esquerdo de raiz, para ser titular indiscutível da equipa, e um bom grupo nas sortes da Europa.
Veremos o que se passa.
Até lá, boas férias, ou bom trabalho, conforme os casos.

MESTRE NA DISCIPLINA


Não é o 155º golo de Cardozo com a camisola do Benfica que domina as discussões. É antes uma reprimenda de Jorge Jesus a Ola John, feita aos olhos de todos, no final da partida.
Se há virtude absolutamente intocável no técnico encarnado, é a de disciplinador. Pode dizer-se que é arrogante, que inventa tacticamente, que despreza o momento defensivo, que esgota fisicamente os jogadores, mas ninguém pode dizer que Jesus não sabe como liderar um grupo de trabalho. Nos últimos trinta anos, não me recordo de um fase com tão poucos casos de indisciplina no plantel benfiquista como desde que Jorge Jesus chegou. Diria mesmo que essa é a sua principal mais-valia – que também se reflecte no rendimento dos atletas, na sua disponibilidade, e consequentemente no futebol apresentado. Neste aspecto, sim. É mestre!
Não o queiram pois ensinar como se lida com jogadores de futebol, muitos deles ricos e mimados (como dizia um certo senhor), e sem fazer corresponder a sua vida profissional e privada ao grau de responsabilidade que altíssimos salários lhes conferem. Ninguém sabe que instruções deu o treinador ao jogador antes do jogo, ou nos treinos prévios. Ninguém sabe de que forma (mais ou menos ostensiva, mais ou menos desleixada) ele as incumpriu. Neste, como em muitos outros casos, não falta quem fale de cor.
Ola John, ele sim, começa a ser um caso neste Benfica. Obviamente ainda é cedo para conclusões definitivas, mas cheira demasiado a… Balboa. Não lhe vi ainda absolutamente nada de positivo (nem técnica, nem velocidade, nem remate, nem cruzamento, nem sentido colectivo). Não tivesse custado oito milhões de euros, e estaria seguramente na primeira linha dos jogadores a dispensar.
Como atenuantes tem o factor idade, e também o facto de ser proveniente de um país e de um futebol onde as liberdades são bastantes diferentes das nossas. Por acaso irei à Holanda durante o mês de Agosto, e prometo tentar informar-me sobre as qualidades que justificaram tão elevado investimento. Mas lá que começo a temer um enorme fracasso, lá isso…
Quanto à partida (que os Jogos Olímpicos não me deixaram ver na totalidade), as indicações pareceram-me genericamente positivas, ainda que a Juventus – à semelhança do Real Madrid – se apresentasse bastante desfalcada, e com menos tempo de preparação.
No sábado, novo teste. Agora com o Fortuna Dusseldorf. Será o último jogo antes de se iniciar o Campeonato.