OBRIGADO ODY

A gratidão e o reconhecimento fazem parte da identidade do Sport Lisboa e Benfica. Mas nem dois Campeonatos Nacionais (com duas fantásticas exibições nas respectivas e decisivas vitórias no Dragão), duas Supertaças (5-0 ao Sporting e 2-0 ao FC Porto), duas presenças nos Quartos-de-Final da Champions League (em que foi protagonista central, quer nos apuramentos, quer nas fases subsequentes, e em que nenhum guarda-redes da história do clube jogou mais vezes, ou obteve mais vitórias), um total de 225 jogos pelo Benfica (sexto guarda-redes de sempre com mais jogos, e quanto a mim, o melhor desses seis), ou a titularidade absoluta desde 2018 com cinco diferentes treinadores (Vitória, Lage, Jesus, Veríssimo e Schmidt), criaram unanimidade dos adeptos do em torno de Odysseas Vlachodimos.
Uma parte, na qual me incluo, sempre o achou um excelente guarda-redes, que pagou o preço de suceder a Oblak e Ederson (ambos do top 5 mundial), como se o Benfica tivesses jogadores de top 5 mundial em todas as posições, ou tivesse tido sempre na sua baliza guarda-redes desse nível (só me recordo de mais um: Michel Preud'Homme, se descontar um Júlio César já em final de carreira).
Para a outra parte, foi sempre um mal-amado. Queixavam-se de não agarrar as bolas aéreas (como se algum guarda-redes hoje em dia o fizesse, como se tal não fosse, por vezes, um enorme e desnecessário risco), e de não ser bom com os pés. Ora eu pertenço à velha escola segundo a qual um guarda-redes tem de ser, antes de mais, bom com as mãos - coisa que, por exemplo, o da Selecção Nacional não mostrou no último Mundial, arrastando a "equipa das quinas" para uma eliminação escusada diante de Marrocos, já depois de um erro ridículo no jogo com o Gana. E até me arrepio quando vejo trocas de bola entre centrais e guardiões, por vezes dentro da pequena área, sob intensa pressão de adversários, e cuja utilidade não entendo senão à luz do exibicionismo táctico de alguns treinadores. Se é para isso que interessa jogar assim tão bem com os pés, acho que se deveria antes começar por pontapear alguns treinadores para fora dos bancos - e aqui não falo de Roger Schmidt, mas de coisas que vejo, até em ligas de escalões inferiores.
Ouvindo ou lendo alguns comentadores e adeptos, o grau de exigência e a quantidade de valências que que se colocam hoje em dia aos guarda-redes (ou a alguns deles, ou a todos menos a Diogo Costa) raia o absurdo. Com aquilo que se poderia apelidar de critério-Odysseas, nem Manuel Bento, nem Vítor Damas, nem Vítor Baía, para não falar em Yachine, Maier, Zoff ou Dasaev, resistiriam, ou sairiam da mediocridade. Acresce que, na liga portuguesa, onde a quantidade de trabalho de um guarda-redes de clube grande é quase sempre diminuta, a posição nem sequer é assim tão importante. O Benfica foi campeão com Moreira, com Quim, com Silvino (para falar apenas nos vivos), e ia sendo com Artur Moraes e Bruno Varela. No contexto dos clássicos ou dos jogos internacionais, aí sim se vê a qualidade: e nesses momentos foi precisamente onde Ody sempre brilhou.
Não sei o que se passou no balneário do Seixal entre o grego e Roger Schmidt, cidadãos que não conheço pessoalmente. Pode haver questões que me escapem, nomeadamente de carácter ou falta de respeito. Falo apenas do que vejo, e Vlachodimos foi sempre titular na época passada, a do 38 (como, de resto, na do 37), ganhando a Supertaça já na corrente. E não gostei, não gosto, e não quero ver mais, um treinador do Benfica destruir publicamente um seu pupilo numa conferência de imprensa. A velha máxima, elogios públicos/criticas privadas, é uma das bases para uma liderança sólida, respeitada e respeitável. Se havia algo a apontar (e, naquele caso, admito que houvesse, e eu próprio aqui o escrevi), tal tinha de ser feito dentro das paredes do balneário - a partir daí, o treinador tomava as opções que queria, mas pelo menos não desvalorizava o jogador. Se o critério era o dos erros cometidos, ou o da responsabilidade numa derrota, Otamendi não mais vestiria o Manto Sagrado depois do último Chaves-Benfica. Mas, como disse, só falo do que vejo, e poderá haver situações que desconheço.
O que passou, passado é. Agora não há nada a fazer senão despedirmo-nos de um guarda-redes do qual, espero, não tenhamos demasiadas saudades a muito breve trecho. Não conheço Trubin, que é da idade do Samuel Soares, ou seja, dois rapazitos. Dizem que é o novo Courtois. Tanto que eu gostava que fosse... Mas na última ocasião em que vi o Benfica, muito apressadamente, substituir um guarda-redes campeão que não cumpria os finos critérios de alguns, veio de lá Roberto - que também era, na altura, a última Coca-Cola do deserto.
Enquanto fã do grego, resta-me a consolação de o ver partir para um clube e uma cidade que me dizem muito no plano pessoal e familiar, e defender as balizas do City Ground, onde ainda há pouco mais de um mês andei a passear em pleno relvado.
Tudo de bom para o futuro, e obrigado pelos cinco anos em que dormi sempre descansado com a baliza do Benfica.

4 comentários:

Alma Encarnada disse...

Subscrevo!
Só sublinhar que o Artur Moraes foi campeão, se não estou em erro, por duas vezes.

Pedro disse...

Com todo o respeito o Ody na 1ªa época com JJ perde o lugar a meio do campeonato tb por algo passado num jogo em que ele não gostou que JJ lhe tivesse chamado a atenção no balneário, nessa altura amuou e fez questão de pedir para sair, tal como este ano...problema é que na altura Ody não tinha muito mercado e isto foi em Dezembro/Janeiro, desta vez, perante a mesma situação e perante uma pergunta tão direta o Schmidt foi peremptório...Odysseias não esteve bem contra o Boavista....e na realidade o Alemão tem razão o Vlacho falhou com conta peso e medida contra o Boavista...
Vlachodimos não deixa de ser um bom guarda redes, rápido entre os postes com agilidade...mas falta qualquer coisa....a coragem na saida a cruzamentos, a convicção quando sai numa mancha ou pelo menos a malandrice para conseguir defender um penalty....coisa que em quase 6 anos de Benfica nunca fez....nem um penalty conseguiu defender, por isso considerar Vlachodimos top de alguma coisa no benfica só a nivel de minutos, porque em todos os guarda redes que falaste havia uma coisa que falava mais alto....eram bichos....o Bento cada vez que saltava a uma bola na area era raro o avançado que não fugiu daquelas joelhadas nos dorsais, Silvino era um patrão que mandava toda a gente mais alguma ao alho e ai daquele que respondesse....isto so te falando de 2 que pude presenciar ao vivo e a cores, por isso meu caro não confundas a beira da estrada com a estrada da Beira....Vlacho é bom guarda redes mas não é excelente, é igual ao Artur Moraes...são bons em muita coisa, mas em nada são excelentes....

joão carlos disse...

por partes.
acho que se o queriam mandar embora tinham de o fazer doutra maneira e não às pressas e a deixar o plantel desfalcado.

depois apesar de algumas qualidades que ele tinha também tinha defeitos significativos e considerar dos seis guarda redes mais utilizados o melhor é só delírio, nem sei quem são os outros quatro mas melhor que o bento já não é delírio é só falta de noção.

alem do michel e julio cesar, enke era melhor do que ele e o odysseas era um guarda redes ao nível do quim.

odysseas era péssimo a jogar com os pés e era péssimo nas bolas pelo ar, coisa que ele tinha noção por isso bem a elas saia.
como é óbvio um guarda redes tem de ser bom dentro dos postes e só então o resto mas num clube como o nosso para alem disso tem de saber jogar com os pés e ter uma capacidade mínima para bolas pelo ar ainda mais no futebol de hoje.
e até parece que só existem no mundo bons nos postes e maus no resto e vice versa.

mas o que é que os guarda redes dos outros tem a ver com isso como os defeitos dos outros justificassem não termos melhores.

o que não diz é que não o fomos por causa do varela que nos custou o campeonato.
mérito ao odysseas por ser titular durante vários anos mas a verdade é que as alternativas eram ridículas, todas nem um se aproveitou, é que se todos os guarda redes forem piores do que eu também eu próprio sou titular indiscutível durante anos e anos.

também não sei o que vale o trubin e preferia uma transição durante a época, se tivesse qualidade para isso, e então ai se fosse o caso substituir o odysseas na próxima época a mandar embora agora tinham de ir buscar outro guarda redes com qualidade e experiente ficar com apenas dois guarda redes e dois dois com menos de vinte e dois anos é absurdo e isso não tem nada a ver com a qualidade ou não do odysseas mas a falta de noção de quem dirige.

e já agora sobre dados estatísticos eles são o que são e não são significado de qualidade é que odysseas também era o guarda redes, dos com mais jogos, aquele com pior índice de golos sofridos por jogos disputados.

Anónimo disse...

o Ederson e o Oblack sao estratosfericos..e foram lançados muito novos, rapazinhos como dizes, no nosso clube..se nao me falha a memoria, Ederson ate foi em Alvalade..sabes la tu se o Turbin nao segue o mesmo caminho...é o costume..se correr bem, sao todos uns visionarios..se correr mal, sao todos umas bestas....futebol....

abraço, N.