MELHOR ERA IMPOSSÍVEL

Sem treinador no banco, com vários jogadores ainda ausentes, outros regressados de paragem Covid, pode dizer-se que seria injusto exigir mais do que aquilo que o Benfica apresentou.
E não foi pouco: vitória clara, três golos marcados, zero sofridos, e pedaços de bom futebol, sobretudo na segunda parte.
O caminho para o Jamor parece aberto. Já no campeonato, uma derrota em Alvalade pode deitar tudo a perder. Com a equipa dizimada, sem JJ, sem os dois principais guarda-redes, confesso que temo o pior. E estão eles preocupados com um Palhinha...
Nota para Cervi, cuja saída só poderei entender por motivos financeiros (ordenado eventualmente alto para um suplente). É um jogador generoso, que defende e ataca razoavelmente, e até marca golos. Um excelente elemento de plantel, que se vai perder, e deixará saudades.

O "MEU" PRIMEIRO TREINADOR

1976. Eu tinha seis anos, e John Mortimore chegava ao Benfica.
Ainda tenho uma memória remota e difusa de um Bayern-Benfica da temporada 75-76, com a equipa orientada por Mário Wilson. Mas o "meu" primeiro treinador do Benfica é, de facto, Mortimore - que ficaria na Luz até 1979, regressando nos anos oitenta para uma segunda passagem.
Num total de cinco temporadas, deixou ao Benfica dois Campeonatos, duas Taças de Portugal e uma Supertaça. Chegou aos Quartos-de-Final da Taça dos Campeões em 77/78, caindo aos pés do poderosíssimo Liverpool.
Teve pouca sorte nos campeonatos perdidos. Em 77/78, com os mesmos pontos do FC Porto, sem qualquer derrota, perdeu por diferença de golos. Fosse o regulamento o actual e teria sido campeão (no confronto directo empatou 1-1 nas Antas e 0-0 na Luz). Na época seguinte perdeu por apenas um ponto (se as vitórias valessem três pontos teria ficado em primeiro). E em 85-86, uma inesperada derrota em casa com o Sporting na penúltima jornada, por 1-2, sem ele no banco por castigo, estragou uma festa anunciada, naquele que foi o primeiro dérbi a que assisti ao vivo. Ou seja, nas cinco temporadas na Luz, foi campeão em duas, e ficou muito perto de o ser nas restantes. Com uma equipa ainda órfã de Eusébio e Simões, lançou jovens como Alberto, José Luís, e sobretudo Chalana. Foi também com ele que Manuel Bento se tornou titular indiscutível da baliza encarnada.
Saiu do Benfica com uma "dobradinha" em 1987, marcado ainda assim pela derrota por 7-1 em Alvalade (sem dúvida o seu momento mais negro), e indirectamente também pelo facto do FC Porto se ter sagrado campeão europeu nessa mesma temporada. Mas saiu de pé, com toda a dignidade, e com o estatuto de um treinador rigoroso, disciplinador e muito bom no plano físico.
Morreu hoje. Descanse em Paz!

PENÁLTIS 2020-21

Campeonato, após 15 jornadas:

 Note-se que, na Liga Europa, o Benfica beneficiou de 4 grandes penalidades em 6 jogos.

UM ROUBO

Esta temporada ainda não se vira nada assim.
Um golo anulado que deixa muitas dúvidas (já disse várias vezes que as linhas não me convencem, são apenas uma mentira bem contada) . Três lances de penalti que o VAR parece ter ignorado (um deles bastante óbvio). Dualidade de critérios chocante. Cinco minutos de compensação depois de várias paragens. E, mesmo com substituições no tempo de descontos, apenas oito segundos a mais, cortando um lance de ataque do Benfica.
Lamento que os comentadores da BTV tenham praticamente ignorado tudo isto, destacando até à náusea a fraca exibição de uma equipa que se apresentou dizimada.
Este jogo nem devia ter sido disputado. A esperteza saloia do Nacional, e a inércia da Liga, assim o impôs. Era difícil jogar bem. Contra 14, ou 15 ou sei lá quantos são, tornou-se impossível vencer.
Aquele golo não se sofre. Mas com terceiras opções a compor a linha defensiva era de esperar falhas. A equipa de arbitragem apresentou-se completa, e foi o que se viu. 

O POSSÍVEL...

..para continuarmos a brincar aos campeonatos.
 

COVID 2 BENFICA 1

Não há milagres.
Defrontar uma equipa madura e competitiva como o Braga, com uma defesa de terceira linha e feita à pressa, dificilmente daria bom resultado. 
Os dois golos foram naturalmente consentidos, e duas vezes em desvantagem seria difícil dar a volta. Alguma ineficácia, sobretudo na primeira parte, fez o resto. 
Nada a acusar a esta equipa, que já tantas vezes critiquei nesta temporada, mas que hoje não podia fazer muito mais. Há que recuperar, e centrar atenções no campeonato. 
Os dois últimos jogos deixaram bons sinais quanto ao carácter do grupo, pelo que há lugar para a esperança. 

PS: O Braga não tem culpa dos problemas do Benfica. Mas ficaria bem a Carvalhal uma palavrinha, nem que fosse a desejar melhoras. Alarvemente, ignorou tudo isso, como se tivesse ganho à melhor equipa do Benfica, como se tivesse sido justo disputar sequer esta partida. Enfim, não surpreende. 


JOGAR COM ONZE

Recuperar o modelo da "Reconquista", com os "Manéis" João Ferreira, Jardel, Todibo e Chiquinho nos lugares de André Almeira, Ruben Dias, Grimaldo e João Félix. Não é, obviamente, a mesma coisa, mas nas circunstâncias actuais parece-me a forma menos arriscada de ir a jogo. Na ala esquerda poderia também ser lançado Cervi, ou alguém da equipa B.
No banco ficariam: Helton Leite, Morato, Weigl, Taraabt, Pedrinho, Gonçalo Ramos e Darwin.
Não me preocupa tanto a Taça da Liga. Preocupa-me mais Alvalade, jogo que o Benfica tem de vencer se quiser ser campeão, e onde terá de alinhar sem nenhum dos defesas titulares.

ASSIM NÃO DÁ


Em condições normais estaria aqui a propor um onze para defrontar o SC Braga, ou a recordar bons momentos da Taça da Liga. A verdade é que nem Jorge Jesus poderá nesta altura prever o onze a apresentar, nem se sabe se há jogo, ou mesmo Taça da Liga.
Custa-me muito dizer isto, mas não me parece que estejam reunidas condições para se continuar a jogar normalmente. A competição profissional não pode ser uma espécie de roleta de número de infectados, e quem tem menos ganha. E a continuar-se a jogar, é isso que vai fatalmente acontecer.
Ao contrário das escolas, o futebol é algo de que todos podemos prescindir durante algum tempo. Podem falar-me das receitas televisivas, mas esse problema seria igual para todos, e quanto ao destino das Sportvs e Elevens, lamento mas não sou particularmente sensível - seguramente não mais do que face a muitos dos sectores de actividade já encerrados.
Estive a olhar para o calendário, e de facto é difícil encaixar mais datas (a menos que o Europeu seja novamente adiado ou mesmo cancelado). Mas jogar assim não faz qualquer sentido, sejamos do Benfica, do Sporting ou do FC Porto.

SABE A POUCO

Dado o que tem acontecido nos últimos clássicos, e aquilo que tem sido o desempenho da equipa do Benfica ao longo desta época, se me dessem o empate antes do jogo, mais a mais depois do resultado do Sporting, certamente teria aceitado.

Depois dos 98 minutos sabe a pouco. 

Nesta partida viu-se finamente um excelente Benfica, capaz de se superiorizar ao seu rival durante quase todo o tempo, igualando-o na raça e na agressividade, jogando rápido e com fluidez, faltando apenas eficácia na área para construir uma vitória que seria o resultado mais adequado ao que se viu.

Não ganhou o jogo, fica um sabor amargo, mas penso que pode ter ganho uma equipa.

Acredito que nada será igual daqui em diante, e numa altura em que ainda há margem e tempo para recuperar, esta exibição é sem dúvida uma boa notícia.

Por fim, é preciso dizer: Jorge Jesus está vivo e continua um super-treinador. Independentemente do empate, tacticamemte deu um banho a Conceição. 

O MEU ONZE


 

EM FRENTE

Estes jogos de Taça, com elementos pouco utilizados e nada rotinados entre si, contra equipas de escalões inferiores arreganhadas, raramente resultam em bons espectáculos.
A primeira parte da partida da Reboleira confirmou esse padrão: futebol lento, previsível, desajeitado. 
No segundo período o Benfica melhorou. Ajudaram as substituições, e também os golos que foram soltando a equipa para um jogo mais fluído e agradável. Entraram quatro, poderiam ter sido sete ou oito. Há que dizer porém que o Estrela não merecia resultado mais pesado, podendo inclusivamente ter marcado em mais do que uma ocasião (chegou a fazê-lo, mas em fora-de-jogo).
Nota para a estreia absoluta de Todibo, que não pareceu tão mau como o pintavam. Já vi Ferro, e até Jardel, fazer bem pior.
A notícia da eliminatória acaba por ser o afastamento do Sporting (em bom rigor, o FC Porto também deveria ter sido eliminado, mas uma arbitragem à antiga evitou-lhe esse destino), que deixa o Benfica com total favoritismo para chegar até à final - espera-se, no Jamor.
Agora, centrar atenções no Dragão.

RODAR


CAMINHO ATÉ À FINAL:

- Estrela da Amadora, fora;

- Belenenses ou Fafe, casa:

- Marítimo ou Estoril, a duas mãos.
 

SEM CONVENCER

Não quero bater no ceguinho. Mas dos três candidatos ao título, o Benfica era o único que jogava em casa, e foi o que esteve mais próximo de perder pontos. E voltou a dar 45 minutos de avanço.
As indicações para sexta-feira não são boas. Ou acontece uma surpresa, ou este Benfica pode ficar já bastante longe do primeiro lugar, ainda antes do final da primeira volta.
Espera-se que algo mude. Mas já se espera isso há longas semanas. Veremos se é agora.


PORQUE NÃO?


Os nomes até podem ser alterados, mas parece-me que o plantel do Benfica daria para tudo isto e muito mais. Aqui vão, a título de exemplo, um 4-3-3, um 3-5-2 e um 4-2-3-1. Em qualquer das hipótese a equipa parece (no papel, claro) mais consistente, e a defesa mais protegida. É claro que a contratação de um médio ajudaria...

UMA TRAGÉDIA EM TRÊS ACTOS - ou uma história que se repete

 

   1) Em 2018 pensava-se que o problema era Rui Vitória.
É verdade que tinha sido Bi-Campeão, e conquistara seis títulos. O Benfica realizara exibições brilhantes durante duas épocas, com garra, personalidade e ambição. Dizia-se que a força residia no balneário, onde nomes como Luisão, Jonas, Salvio, Gaitán, Fejsa, Júlio César, Paulo Lopes ou Eliseu ditavam regras. Houve até relatos de jogadores que entravam em campo em lágrimas, tal a emoção que punham em cada partida. Grandes alegrias tivemos, talvez das maiores de que me recordo nos últimos anos (Mitroglou em Alvalade, Jonas no Bessa, Jimenez em Vila do Conde, etc etc)
Mas a partir de dada altura a equipa emperrou e estranhamente deixou de render. As exibições passaram a ser miseráveis, e rapidamente os resultados passaram a condizer.
Os primeiros sinais foram dados num estranho empate 3-3 na Luz com o Boavista.
Enfim, a coisa compôs-se, veio o “Tetra” e a “Dobradinha”. Já em 2017-18, não houve desculpa para a horrível carreira europeia (zero pontos!), ainda que o desinvestimento no plantel possa ser circunstância atenuante.  O início de 2018-19 não trouxe melhorias, e Rui Vitória caiu sem surpresa, depois de derrotas comprometedoras com Belenenses, Moreirense e Portimonense. A nau estava a afundar, e a culpa era do treinador – que afinal só ganhara porque tinha tido a sorte dos deuses do seu lado.

   2) Veio Bruno Lage, e durante meses pareceu confirmar-se a tese: o Benfica voltou a jogar, a marcar, a ganhar e a bater recordes. Entre a segunda volta de 2018-19 e a primeira de 2019-20, a equipa de Bruno Lage ganhou 36 em 38 jogos do campeonato (!!!). Na segunda volta de 2018-19 marcou 66 golos (!!!). Nas primeiras 18 jornadas de 2019-20 sofreu apenas 6 (!!!). Pelo meio deu-se a “Reconquista”, sob fortíssima aposta na formação (Ruben, Ferro, Tino, Gedson, Jota, Félix…). Tudo corria sobre rosas, e até podíamos contratar jogadores de 20 milhões (primeiro RDT, depois Weigl e Pedrinho).  O Benfica estava um patamar acima da concorrência. Era opinião unânime.
Só que…o bicho voltou a morder a equipa da Luz, e subitamente também Lage perdeu o pé. Depois daquela impressionante sequência, apenas duas vitórias em dez jogos entregaram, em circunstâncias que nenhum adepto consegue ainda descortinar, o título 2019-20 a um FC Porto intervencionado, com cortes salariais e longe de qualquer brilhantismo. Nessa série negra, que atravessou a pandemia (mas começou antes), houve apedrejamentos, houve gritos do presidente no balneário (após o jogo com o Tondela), e sobretudo exibições tão deploráveis que tornaram impossível a permanência do técnico setubalense. Dizia-se que o modelo de jogo estava esgotado, e entendido por todos os adversários, e que Lage não conseguia apresentar plano B. Mas cheguei a escrever, aqui e no jornal, que sem apurar verdadeiramente as causas de tão súbito decréscimo de rendimento competitivo, as coisas podiam repetir-se.

   3) Veio Jesus, pois com ele não havia hipótese de falhar. Nem em campo, nem no balneário – que JJ segurara com unhas e dentes em todos os clubes por onde passou.
Ainda por cima, com um investimento de quase 100 milhões de euros, nunca antes visto em Portugal, contrataram-se internacionais belgas, argentinos, brasileiros, uruguaios e alemães.
A época começou mal com a eliminação da Champions (com atenuantes face ao tempo de treino, à integração de novas pedras na equipa, e ao facto de a eliminatória se ter disputado em jogo único no campo do adversário). Mas depois a equipa pareceu equilibrar-se, e arrancou para uma série de sete vitórias consecutivas (22-5 em golos), altura em que Gabriel parecia imprescindível, André Almeida ainda assegurava o lado direito, Waldschmidt e Darwin brilhavam na frente, e Everton parecia crescer de rendimento. Tudo dentro do esperado, e é neste contexto que ocorrem as eleições, certamente por coincidência (não é ironia, não vejo mesmo qualquer possível relação, apenas o registo de um facto).
Eis que chegamos ao Bessa, e a uma estrepitosa derrota 0-3 frente a uma equipa que não ganhara nenhum jogo até então, nem voltou a ganhar depois dessa estranha noite. Seguiu-se uma semana negra, com nove golos sofridos em três jogos, empate milagroso com o Rangers (que terá custado o primeiro lugar no grupo da Liga Europa, e derrota caseira com o Braga (2-3 depois de se chegar, novamente, a 0-3). O pior é que não foi algo circunstancial, e a verdade é que a equipa não mais se recompôs, padronizando o seu comportamento em exibições medíocres com resultados mais ou menos milagrosos. Um FC Porto repleto de Manafás e Zaidus foi adversário demasiado forte na Supertaça, e tantas vezes o cântaro foi à fonte que se partiu nos Açores com este empate.
E agora? Encetar mais um capítulo desta novela, chegar novo treinador, fazer meia dúzia de jogos bons, e depois afundar-se no mesmo precipício? Mudar meio plantel?
Sinceramente, gostava de saber. Este Benfica assemelha-se cada vez mais a um filme de David Lynch, em que as pistas estão todas por ali, mas é difícil concluir o puzzle.
Está mais do que visto que o problema não é de treinador. Será de balneário? Faltarão os Luisões e os Jonas, mas também os Eliseus e os Paulos Lopes? Haverá indisciplina ou simples desenquadramento de novos jogadores? Faltará um Director-Desportivo? Será de estrutura de rectaguarda? Alguma coisa mudou na preparação dos jogadores?

PARA REFLECTIR

"O Benfica gastou 98,5 milhões em reforços, feito o desconto conseguido com Pedrinho – e antes de Lucas Veríssimo –, e terá recebido 76 milhões. Além dos 68 milhões por Rúben Dias, houve ainda a venda de Lema, os empréstimos de Florentino e Carlos Vinícius, além de uns trocos aqui e ali com outros jogadores. Contas feitas, os gastos ficam em 22,5 milhões, embora tenha de sublinhar-se a perda da maior referência defensiva, titular da Seleção Nacional e, hoje, do Manchester City, com os elogios a serem praticamente diários, inclusive do treinador Pep Guardiola, como podem ler neste jornal. No entanto, se afastarmos a parcela recebida deste nosso exercício, a conclusão mais óbvia a retirar dos resultados e exibições é que, 98,5 milhões de euros depois – 99,5 se somarmos a cláusula de Jorge Jesus de um milhão – o Benfica está muito longe de ser um plantel completo e equilibrado, estar consolidado no processo de jogo e ser, nesta altura, em janeiro, o mais forte candidato ao título, mesmo perante rivais a atravessar momentos financeiros muito difíceis. Pior, o investimento de 100 milhões, se nos permitirem arredondar, nada alterou o status quo dentro do grupo: Pizzi, Rafa e o hoje lesionado André Almeida – jogadores com qualidade, mas que têm mostrado, ao longo dos anos, dificuldades em manter o registo elevado sempre que a exigência sobe, seja nos confrontos com rivais diretos ou nas competições internacionais – continuam a ser as maiores referências. Ou seja, se aplicarmos aqui a lógica, os encarnados não fizeram crescer o nível médio de qualidade do grupo de trabalho. Mesmo em termos de carisma, os jogadores contratados deixam bastante a dever em termos de capacidade de liderança, com tamanha timidez que apresentam. A braçadeira tem passado de braço para braço, com Ferro a usá-la hoje, ao segundo jogo de início, depois dos 90 minutos com o Paredes.

Há a questão do treinador e, vivamos ou não um momento de anormalidade com a questão da pandemia – que é argumento válido para todas as equipas –, este talvez seja o pior trabalho, ainda que a meio e recuperável, reconhecido a Jorge Jesus. Se o gosto pelo jogo partido continua lá, há erros contínuos nos passes em fase de construção – que aumentam com Taarabt e/ou Gabriel em campo – e que expõem o setor mais recuado, e ainda uma primeira e segunda linhas de pressão que deixam constantemente a bola descoberta e que possibilitam ao adversário colocá-la nas costas da defesa. Depois, também os erros individuais que alguns jogadores acrescentam – o caso de Otamendi tem sido o mais flagrante – não ajudam. Se Jesus nada pode fazer neste último ponto, a equipa não parece ter evoluído muito nos anteriores. Mesmo que Gilberto agora se posicione mais por dentro, quando a bola circula do outro lado, para prever uma mais forte reação à perda.

Se defensivamente, as coisas não melhoram, o excessivo jogo interior em ataque posicional torna a equipa demasiado previsível. Everton é um jogador que não consegue jogar por fora, precisa que Grimaldo esteja em overlappings constantes, o que também o desprotege defensivamente. Rafa ataca muito mais o canal interior entre lateral e central do que a linha e já se sabe que Gilberto não consegue grande profundidade. Além disso, mesmo a forçar o jogo interior, os elementos mais adiantados estão sempre muito estáticos sem procurar movimentos de rotura. Waldschmidt continua a ser o único a tentar encontrar espaço entre linhas, mas atravessará um momento de menor confiança – e acaba quase sempre como sacrificado, ainda que com outros em pior momento.

Mesmo que apresente largura, se ninguém se movimentar, o impasse continua. Nos Açores, verificaram-se algumas melhorias no primeiro tempo, mas a verdade é que o Santa Clara deu 45 minutos de avanço.

O que piorou bastante foi a transição ofensiva, com o desperdício de inúmeras situações de superioridade e igualdade numérica em determinados jogos, e que se explica pela tomada de decisão geralmente deficiente dos atacantes, nomeadamente Rafa, Seferovic e Darwin. O uruguaio tem também outro defeito grave, que é o primeiro toque – a receção simples ou orientada – e que o tem prejudicado em muitos momentos. Apresenta outras valências e não são poucas, mas se quer singrar ao mais alto nível, tem de começar a reagir melhor ao momento em que recebe a bola. A isso e ao posicionamento no momento do passe de rotura.

As declarações do técnico também fazem parte do pacote. O vamos arrasar vai ter eco cada vez maior sempre que os jogos não correrem bem, mas têm surgido igualmente declarações menos adequadas sobre alguns jogadores, como Gonçalo Ramos e agora Diogo Gonçalves, que nada lhes acrescenta em termos de confiança. E, sobretudo, aquela em que colocou o futebol brasileiro ao nível da Premier League terá deixado os adeptos preocupados. Será que Jesus pensa mesmo assim, e daí a aposta em Everton, os suspiros por Gerson e Bruno Henrique, e agora a chegada de Lucas Veríssimo? É que se é verdade que JJ beneficiou de um pensamento e método europeu – e talvez do melhor plantel do Brasileirão, reforçados com jogadores acabados também de chegar da Europa – para ganhar o que ganhou pelo Flamengo, a realidade no Velho Continente é bem outra.

Há questões mais profundas, que se prendem com o regresso à Luz depois da passagem pelo rival – com acusações e palavras feias, entretanto certamente já esquecidas pelas partes, embora não pelos adeptos –, mas sobretudo depois da mudança de rumo. Primeiro, a questão de princípio: ao fazer regressar Jesus, Luís Filipe Vieira resignou-se àquele que passou a ser o melhor treinador que o Benfica poderia contratar, fosse ou não verdade na altura. Uma espécie de fim da história, como professava Fukuyama.

Depois, o paradigma. O emblema da Luz chegou a ter um dos melhores departamentos de scouting da Europa e ainda terá também uma das melhores academias de formação, com jogadores que estão à porta da equipa principal. A porta parece fechada para os dois circuitos, enquanto Jesus estiver no banco. Contratado quase com um selo de garantia de sucesso imediato – que passava pelo apuramento para a Liga dos Campeões e que se estende ao título e, agora, a uma boa participação na Liga Europa –, é difícil não olhar para estes primeiros meses com alguma desconfiança.

O Benfica parece parado no tempo. Em campo, não evolui. Na política desportiva, terá involuído."


Com a devida vénia, Luis Mateus em "A Bola"

PORQUÊ?

Com um plantel de milhões, com um treinador que, até agora, tinha brilhado em todo o lado, nem mesmo assim o Benfica apresenta um futebol consistente e compatível com uma equipa que quer ganhar títulos.

A Champions foi logo por água abaixo, a Supertaça também já lá vai, a Taça da Liga escapou por pouco, e no Campeonato alguma sorte tem evitado o total descalabro. Como a sorte não dura sempre, alguma vez a coisa acabaria mal. Foi hoje.

É incompreensível aquilo que se passa no Benfica. E a história já vai longa. Começou nos últimos tempos de Rui Vitória, repetiu-se na segunda época de Lage, e agora é o que se vê. Sempre com plantéis mais caros e extensos que os dos adversários, sem renderem o que podem e deles se espera, a afundarem-se na mediocridade competitiva. Jogadores apáticos e entregues, sem rendimento nem alegria, nem reacção. 

Zero remates na última meia hora, com o jogo empatado?!?!? Mas o que é isto? 

Porquê?

Urge uma explicação. Exige-se uma explicação. Não podemos pagar quotas e não perceber o que se passa no clube que amamos.

O Benfica está doente, e enquanto não houver um murro na mesa, e não se identificar essa doença, as coisas não vão melhorar.

Neste momento, Sporting, Porto e Braga jogam mais, e gastaram muito menos. 

E se olharmos para as restantes modalidades do clube, o padrão mantém-se. Se há relação, não sei. 

Mas, volto a dizer, espero e exijo explicações. E parece-me que seria altura do presidente dizer alguma coisa.