A FORMAÇÃO

A indecorosa derrota da Selecção Nacional diante da Albânia acentuou o debate sobre a Formação.
Também no Benfica o tema tem sido recorrente, quer para aqueles que vêm nele a cura para todos os males, quer para os que olham com alguma prudência para tão grande optimismo (nos quais me incluo).
Desde logo, quando se fala em Formação, há que distinguir o interesse do futebol português, dos interesses dos clubes portugueses. Se a Selecção teria a ganhar com uma política desportiva que reforçasse a utilização de jovens jogadores portugueses nas principais equipas e nas principais competições, para os grandes clubes o compromisso é vencer, com ou sem juventude, com ou sem portugueses. Perante gerações bastante apagadas de futebolistas lusos, é natural que a aposta de quem busca títulos e presenças internacionais de relevo incida noutro perfil de jogador - mais agressivo, mais disponível, e mais resistente, que os mercados sul-americanos vão fornecendo.
Seria interessante perceber se esse apagamento é conjuntural, ou se, pelo contrário, se deve à agonia de um certo futebol de rua (que conferia criatividade e robustez aos Futres, aos Figos e aos Ronaldos), e ao recrudescimento das gerações “Play-Station” (mais acomodadas e sem grande capacidade de sofrimento), assumindo então uma matriz estrutural, logo mais difícil de inverter. A verdade é que, na última década, contam-se pelos dedos os jogadores de classe internacional que o futebol português produziu. Mau trabalho de base, ou inexistência de talento natural? Suspeito que a segunda hipótese também seja de considerar.
Sendo este um problema do âmbito da FPF, das selecções jovens, ou, no limite, da regulamentação desportiva, não me parece que o Benfica deva ter pruridos em recorrer aqueles que lhe dão mais garantias imediatas, independentemente de nomes, nacionalidades ou datas de nascimento. É verdade que existe, bem perto, quem alinhe com seis ou sete jogadores formados internamente. Mas…quantos títulos têm eles conquistado?

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom texto, LF. Partilho as mesmas ideias. A maioria das pessoas tem a ilusão que basta ir buscar miúdos aos escalões de formação, lançá-los na equipa principal e está feito. Obviamente que para isso acontecer é preciso haver talento, especialmente no caso do Benfica, onde o grau de exigência é muito alto. Uma coisa é ser uma vedeta nos escalões júniores, outra é manter o nível nos seniores. Conheço pessoas ligadas ao futebol que acompanham os júniores e ao longo dos anos já me falaram de dezenas de "nomes a ter em conta". De todos esses potenciais craques só 2 ou 3 é que confirmaram o potencial quando passaram a seniores (um deles foi precisamente o Cristiano Ronaldo).

É preciso compreender que apesar de o futebol ser o desporto-rei em Portugal, nós não somos um país de futebol, isto é, não somos como o Brasil ou Argentina onde nascem constantemente novas vedetas e nem se dá pela renovação das selecções. Somos como a Rep. Checa, Suécia, Dinamarca, Roménia, Bulgária, Croácia, Bélgica, entre outras. Ou seja, temos ciclos onde há um conjunto de grandes jogadores e outros ciclos menos frutuosos. Actualmente estamos a entrar num ciclo onde não há jogadores com qualidade de topo e isso começa a reflectir-se nos resultados da selecção.

É verdade que há quem jogue com muitos jogadores formados internamente, mas o nível de exigência nesses clubes comparado com o nosso é baixíssimo. No Benfica não há vitórias morais, são exigidas vitórias concretas e a maioria das vezes isso não é compatível com jogar com meia equipa formada no clube. Curiosamente, nos últimos 30 anos, o clube que aposta na formação (mas contratou estrangeiros às dúzias e novos Messis para a equipa B), foi duas vezes campeão e em ambas as vezes quantos jogadores da formação é que faziam parte do 11 base? Um, dois no máximo.