SURPRESA?

Tratando-se de uma mera eleição para escolha de novo (ou velho) presidente do FC Porto, e ninguém me ouviria um pio: não tenho, nem quero ter, nada a ver com o assunto. Nem mesmo uma Assembleia Geral tumultuosa me impressionou - infelizmente já vi e presenciei parecido noutros sítios. 
Quando um dos candidatos, a partir do momento em que é candidato, vê a sua casa vandalizada, um seu empregado espancado e a sua família ameaçada, então o assunto deixa de ser exclusivamente do FC Porto e dos seus associados. Passa a ser um assunto de polícia, e como tal, um assunto do país.
E chegados aqui, não posso deixar de apontar a hipocrisia da generalidade da nação desportiva, designadamente da comunicação social portuguesa, que durante décadas se curvou perante os poderes, ou o poder, que agora finalmente se começa a escrutinar. 
O FC Porto, em abstrato, é um clube desportivo como qualquer outro. Mas "este" FC Porto foi sempre muito mais do que isso, e infelizmente, ao contrário do FC Barcelona, não pelas melhores razões. O próprio André Vilas-Boas, quando cresceu e se tornou adepto daquele clube, já sabia ao que ia. Nessa altura só lhe interessava, a ele e a todos os outros, ganhar jogos e títulos ao Benfica. Não importava como. Mas tudo "aquilo" já existia, por cima, por baixo, e por trás da cidade e do emblema de um clube centenário.
Ao mesmo tempo, jornais, televisões e os seus comentadores (com raras e honrosas exceções) assinalavam a fina ironia de um presidente ganhador, o mais ganhador de todos os tempos, eras e idades; e por medo ou reverência pacóvia, ignoravam os métodos, como se no desporto, ou na vida, todos os fins justificassem todos os meios.
Passaram-se os anos, e o FC Porto, este FC Porto, não só era reiteradamente tolerado, como branqueado e até gabado e apontado como exemplo para os demais.
Apito Dourado? O que é isso? Roubo de correspondência privada? Hum, até dá audiências. Tweets incendiários de diretores de comunicação dementes? Idem, vamos citar. Agressões e intimidação a árbitros? Ora, as claques são todas iguais. E assim sucessivamente, quando, na verdade, ali nada era ou foi alguma vez igual a outra coisa qualquer. 
O monstro foi criado e alimentado por muita gente a norte. E tolerado por outra tanta a sul. Até crescer e se tornar incontrolável.
Agora, que privilégios ocultos e dinheiro aos milhões começam a fazer franzir o sobrolho de alguns ilustres adeptos do FC Porto, talvez seja tarde demais. Vai ser extremamente difícil acabar com uma rede tentacular habilmente construída ao longo de décadas, e que passa pelos mais diversos domínios: da chico-espertice à mais grave criminalidade.
A questão das claques dava pano para mangas, e ainda há poucos dias aqui escrevi sobre a do Benfica. É preciso dizer, porém, que só por má fé se pode confundir um bando de delinquentes que atua com o cachecol de um clube, com uma milícia profissional ao serviço de um "padrinho". Essa é agora a parcela mais visível de um problema que não se esgota aí.
Não tenho, obviamente, qualquer motivo para apreciar André Vilas-Boas. Mas não posso deixar salientar a coragem que está a revelar. É preciso, de facto, gostar muito de um clube para se sujeitar a tanto. No Sporting, Frederico Varandas tem sabido resistir a grupos de pressão internos, sendo (ainda assim, ou talvez por isso mesmo) bastante mais ganhador do que o seu antecessor. Já a Vilas-Boas não acredito sequer que o deixem ganhar eleições.

3 comentários:

Rui dos Santos disse...

Drº JERRYL já não tem mãos no Mrº HIDE...

Mark Trencher disse...

Boas. Longe de mim querer ser advogado de defesa do FC Porto, primeiro porque não tenho competência para tal, segundo porque não tenho o mínimo interesse em sê-lo, no entanto há que começar a fazer a distinção entre o FC Porto clube, e essa máfia que gravita à volta e porventura dentro do clube. Posto isto está na hora das autoridades de um país de um bloco do primeiro mundo, estou a falar da União Europeia à qual Portugal pertence, despirem a camisola do clube e fazerem aquilo para o qual são pagas pelo dinheiro dos nossos impostos. Caso contrário estamos a falar de conluio entre as autoridades e os criminosos, e tal como diz a sabedoria popular "é tão ladrão o que rouba como o que fica à porta", portanto autoridades que agem em conluio com criminosos são também elas autoridades compostas por outros criminosos, talvez até mais criminosos que os criminosos "oficiais", pois ao menos os segundos não são financiados pelo erário público. Resumindo e concluindo, não só esses meliantes "oficiais" têm que ser severamente punidos, como também os seus cúmplices nas autoridades deverão sofrer punições exemplares. Que eu saiba Portugal apesar das semelhanças com o Sul de Itália não é o Sul de Itália. Que haja vergonha na cara da autoridades deste país e se faça uma limpeza de alto a baixo como fizeram em Itália nos anos 80. Para tal basta haver coragem e igualmente sentido de dever e honestidade, não podemos nem devemos compactuar com autoridades criminosas, isso é a negação de um Estado de Direito, e daí até se avançar para um estado mais ou menos autoritário e corrupto vai uma pequeníssima distância. Por favor não estejam à espera de levarem ralhetes dos países do Centro e Norte da Europa para se começarem a mexer, porque quando eles o fizerem o passo seguinte será com certeza fecharem a torneira de todos os fundos comunitários, qual a organização gerida por gente minimamente séria que vai aplicar fundos num país de corruptos? Nenhuma, a não ser que essa organização seja também ela composta por elementos da mesma "quadrilha".

Anónimo disse...

'No Sporting, Frederico Varandas tem sabido resistir a grupos de pressão internos'

Não é verdade: Varandas lançou areia para os olhos de toda a gente, fazendo-se passar por moralista-mor do futebol português, lançando acusações atrás de acusações ao Benfica, quando a verdade é só esta:

https://observador.pt/2022/06/23/um-acordo-de-paz-que-vai-a-meio-sporting-assina-protocolos-com-duas-das-quatro-claques-incluindo-a-juventude-leonina/

Que protocolos são estes?! E :

"Os GOA assumem ainda a obrigação de promover e incentivar o espírito ético e desportivo junto dos seus membros e dos demais associados do SCP, participando nos espectáculos desportivos sem recurso a práticas violentas, racistas, xenófobas, ofensivas ou que perturbem a ordem pública ou o curso normal, pacífico e seguro da competição e de toda a sua envolvência, nomeadamente, nas suas deslocações e nas manifestações que realizem dentro e fora de recintos”, frisou."

O 'espírito épico e desportivo sem recurso a práticas violentas, ofensivas e que perturbem a ordem pública ' não inclui, certamente, cânticos ofensivos constantes dirigidos aos adeptos do Benfica, nos estádios e pavilhões, nem a vandalização do património do Benfica, como assistimos há quase duas semanas no Seixal. O Varandas não sabe disto? Não ouviu, não viu nada? Teve alguma palavra, algum pedido de desculpas público para o Benfica?

Espanta-me, sinceramente, como é que as pessoas são tão ingénuas e continuam a proclamar que o maior hipócrita do futebol português depois de Pinto da Costa é apaziguador e desportivista, e que luta contra a violência física e verbal no futebol e no desporto em geral. Isto deve ser uma piada. Qual é a resistência de Varandas a grupos de pressão internos? Nenhuma. Fez-se com eles depois de tentar fazer passar para fora a ideia de que estava contra eles. Estratégia que já tem barbas mas em que toda a gente acredita, infelizmente. O Varandas foi um membro activo da claque do sporting, para quem não sabe. Também estaria no meio daqueles que, nos anos 90, exibiam tarjas no estádio do sporting chamando 'macaco' a Eusébio? Não, coitadinho. Ele é apaziguador. Um santo moralista. Uma vítima das claques, querem ver?