A CRÓNICA DE UM FRACASSO ANUNCIADO

Um verdadeiro benfiquista não pode enterrar a cabeça na areia quando alguma coisa está manifestamente a correr mal. Identificar falhas, apontar caminhos, discutir estratégias, é algo de que, quem vive o Benfica, quem sofre com o Benfica, e quem chora pelo Benfica, jamais poderá abrir mão. Muita coisa está a correr bem (a área comercial, a Btv, as modalidades, e as infraestruturas, são apenas alguns exemplos), mas o epicentro do clube, o dínamo que o faz rodar, aquilo que o tornou popular e mobiliza milhões de pessoas espalhadas pelo mundo, não tem correspondido às exigências. E é isso – que se traduz numa frase que bem poderia ser a mãe de todos os lemas da casa  “ser campeão nacional de futebol” – que leva a um sentimento de angústia que não pode ficar refém de qualquer silêncio cúmplice.
Estamos ainda a alguns dias do Natal, e o Benfica já perdeu a Supertaça, já foi eliminado da Taça de Portugal e está praticamente afastado da luta pelo Campeonato Nacional. Partindo do pressuposto que ganhar a Champions League é tarefa quimérica, e que um eventual triunfo na Taça da Liga seria mero paliativo para as dores, facilmente se conclui que a época está perto de se considerar perdida. E, a ser assim, não encontro outra palavra para a definir que não seja: fracasso.
Quando, no último verão, a direção benfiquista anunciou a adoção de um novo "paradigma”, assente numa crescente “aposta na formação”, confesso que senti um arrepio na espinha. Infelizmente, os meses decorridos estão a dar razão ao meu ceticismo.
A não renovação de contrato com Jorge Jesus – justificada tacitamente por esse “novo paradigma” – representava o fim de um ciclo, e o princípio de uma nova era, na qual o Seixal assumia preponderância (aliás, é preocupante o histórico de treinadores campeões empurrados do Benfica, de Mortimore a Toni, de Trappatoni a Jesus).
Até aceitaria o propósito, não viesse o Benfica da conquista de um Bi-Campeonato, totalmente assente no anterior “paradigma” (ou lá o que se lhe queira chamar), e nas ideias ganhadoras do agora treinador do Sporting. Então, nesse velho "paradigma” , o que interessava era ser campeão, independentemente dos nomes, idades, caras, cores, nacionalidades ou penteados dos jogadores que entravam em campo. Agora, com o novo "paradigma”, parece haver uma subversão de prioridades. O que interessa é formar jogadores, e lançá-los. Primeiro na equipa, depois no mercado. Os títulos? Logo se vê. Se esta não é a verdade, anda lá próximo.

Para protagonizar esse novo “paradigma”, foi contratado um treinador cujo cartão-de-visita consistia precisamente no lançamento de jovens jogadores na equipa principal do Vitória de Guimarães. O facto de se tratar de um clube sem responsabilidades de lutar por títulos, de os resultados não terem sido empolgantes, e de tais jogadores, com uma ou outra exceção, se terem perdido entretanto no anonimato, não foi tido em conta. Foi prometido, na altura, que o novo técnico teria à sua disposição meios idênticos aos usufruídos pelo anterior, promessa que de forma alguma foi cumprida – o que, pelo menos em parte, até iliba o pobre Rui Vitória dos onze pontos já desperdiçados no Campeonato, da derrota na Supertaça, e da eliminação da Taça de Portugal.
Aceitaria o argumento de que esta alteração abrupta e inoportuna de uma política desportiva que se revelava altamente ganhadora (e financeiramente rentável) tivesse sido imposta por circunstâncias externas, impossíveis de contornar (colapso do BES?). Ou seja, tal não teria constituído uma opção estratégica voluntária, mas sim uma necessidade premente, ditada pela tesouraria, ou qualquer outra questão semelhante e inultrapassável. A ser o caso, e tomando de barato algumas contratações estranhas e caras (porquê, e para quê, aquele "pack-dez"? porquê, e para quê, trazer jogadores com o perfil e o histórico de Taarabt?), a situação carecia de uma explicação cabal, frontal e exaustiva, onde não faltasse um redimensionar de expetativas em baixa, capaz de satisfazer uma massa associativa cada vez mais jovem, cada vez mais letrada e esclarecida, e cada vez mais exigente quanto a todos os aspetos da vida do clube que ama…e que paga. Esse exercício não foi feito, o que abre naturalmente o espaço à crítica. À construtiva – como pretende ser esta -, mas também à daqueles que estão sempre na linha da frente para usar, exponenciar e alimentar os fracassos do futebol encarnado, com fins alheios, e nada inocentes.
O erro estratégico é evidente, e pode detalhar-se em onze parâmetros de análise. Tantos quantos os jogadores de uma equipa de futebol. A saber:
1)      Tendo a equipa sofrido um colossal desinvestimento no verão de 2014 (só para recordar: Oblak, Garay, Siqueira, Markovic, Matic, André Gomes, Enzo Perez, Cardozo e Rodrigo…), não foi relevado o indiscutível mérito do treinador na conquista da Liga de 2014-15. De uma manta de retalhos, de um plantel dizimado e substancialmente mais fraco que o do principal opositor, Jorge Jesus conseguiu o milagre de vencer quinze dos primeiros dezassete jogos do campeonato, embalando a equipa para mais um título nacional (o terceiro em seis anos). Foi a dinâmica imposta pelo treinador, a sua base de trabalho, e o seu modelo de jogo, que ganharam uma competição que, no papel, se antevia como quase impossível por quem, em agosto de 2014, olhasse os factos com alguma lucidez. Na hora de festejar, muitos rostos apareceram. Mas se o campeonato de 2013-14 tinha sido de Luís Filipe Vieira (honra lhe seja feita), o último foi claramente de Jesus. E por muito mal que possamos pensar do homem, do seu caráter, da sua teimosia, da sua má educação, das suas atitudes ou declarações, da forma extemporânea com que bateu com uma porta que lhe haviam entreaberto, manda a verdade reconhecer que só talvez José Mourinho esteja hoje no mesmo patamar de competência técnica e de capacidade ganhadora. Ou seja, tínhamos o ouro, e demo-lo ao bandido.
2)      Foi e continua a ser sobrevalorizada a relevância do Centro do Seixal como potencial alimentador de jogadores para a equipa A. Por muito que se tente demonstrar o contrário, desde o tempo de Rui Costa (vá lá, com boa vontade, talvez de Manuel Fernandes) que não surge na formação benfiquista um jogador capaz de se afirmar na equipa principal, e desde logo fazer a diferença, ou trazer benefícios (é disto que se trata, pois pô-los a jogar é fácil, ganhar com eles, nem tanto). Aliás, independentemente das infraestruturas criadas (mérito indiscutível desta direção), está por demonstrar que o Seixal, em termos de know-how e de resultados práticos, represente por ora uma mais-valia relativamente aos principais rivais. Podíamos falar de Gelson Martins, de Matheus Pereira, de André Silva ou de Ruben Neves (ao nível dos quais talvez não haja ninguém entre os jovens da Luz). Mas, também, de um FC Porto campeão nacional de Juniores, de um Sporting campeão nacional de Iniciados, ou da classificação das equipas B na corrente Liga de Honra (onde o Benfica B de Hélder Cristóvão corre riscos de descida). Aliás, por falar em Juniores, o Benfica tem apenas um campeonato ganho nessa categoria nos últimos doze anos. É verdade que há argumentos em sentido oposto (maior número de convocados para as seleções jovens, ou presenças na Youth League), mas aqueles também são válidos. No global, creio que o deve e o haver se equilibram, logo, essa mais-valia não existe, não traduzindo, em linguagem empresarial, qualquer vantagem comparativa notória face aos rivais.
3)      Pelé ou Maradona à parte, jovens de 18 ou 19 anos não têm, nem podem ter, o perfil competitivo que se exige a uma equipa que quer vencer todas as competições em que participa, e que carrega o peso dessa responsabilidade perante milhões de seguidores. Por muito talento que exista, os erros de posicionamento e de passe, as inconsistências técnicas, táticas e físicas, a falta de capacidade de choque e de frieza na hora da decisão, a ansiedade perante os grandes momentos, para além de um eventual, fácil e pernicioso deslumbramento, são razões mais do que suficientes para ter cautelas na hora de lançar um novo jogador para o estrelato. O desenvolvimento de futebolistas não pode ser feito à custa de derrotas. No Vitória de Guimarães, talvez. Na equipa B, certamente. Na equipa principal do Benfica, nunca. Nomes como Gonçalo Guedes, João Teixeira, Nuno Santos, Nélson Semedo, Lindelof, Clésio, Victor Andrade ou Renato Sanches têm futuro, mas não podem ser eles a alicerçar o presente do futebol encarnado. É um peso excessivo nos seus ombros, e um perigo para eles próprios e para a equipa. Em condições normais, seriam emprestados, para um dia voltarem – então sim – em condições de se tornarem verdadeiras mais-valias. Foi assim, num passado mais distante, com Diamantino. Foi assim com o próprio Rui Costa (cujo empréstimo ao Fafe, ele próprio o admitirá, foi muito importante para a sua carreira). Há bons exemplos também noutros clubes (William Carvalho, Adrien Silva, João Mário...). Outra alternativa seria constarem de um plantel que, para além deles, tivesse mais 20 jogadores feitos e de grande qualidade, capazes de suprir todas as posições nos momentos capitais, sobrando para os mais jovens o espaço da Taça da Liga, da Taça de Portugal, ou de alguns minutos em jogos disputados na Luz com resultado já definido. Aos poucos iam assumindo maior responsabilidade e protagonismo. Iam crescendo e, a seu tempo, se aproveitassem essas oportunidades, afirmar-se-iam como titulares. Pode argumentar-se, com alguma razão, que o anterior treinador nunca se preocupou com isso. Mas…nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
4)      A este propósito, é importante questionarmos quantos são, e quem são, os jogadores da formação na equipa principal do Real Madrid, do Bayern de Munique, do Manchester City, do Manchester United, da Juventus, do Paris Saint-Germain, do Chelsea, da Roma, do Liverpool, ou do Inter. Pode falar-se, é certo, do Barcelona, mas essa é a exceção (fundamentada num poderio financeiro que permite manter todas as jóias em casa) e não a regra. Mesmo em Camp Nou, o número de jogadores da cantera têm diminuído à medida que se vai esbatendo a prodigiosa geração dos Valdés, Puyol, Xavi e Iniestas. Messi, como um dos melhores jogadores mundiais de todos os tempos,  é um caso singular. Mas, por exemplo, Piquê andou emprestado até se fixar na equipa. Serve isto para dizer que raramente existem clubes simultaneamente formadores e ganhadores. No campo dos primeiros, poderia mencionar o West Ham, o Ajax, o Southampton, o Dínamo de Zagreb, o Auxerre, o Espanyol, ou o Sporting das últimas décadas. Nenhum serve de exemplo às ambições do Benfica, tal como eu as entendo, e como a esmagadora maioria dos benfiquistas exige.
5)      Nos tempos de Nené, Shéu, Humberto Coelho, Chalana ou Bastos Lopes, qualquer júnior aspirava fazer carreira na equipa principal. Estes conseguiram-no, outros não tiveram o mesmo destino, mas o objetivo era comum: chegar ao plantel principal, ganhar lugar no onze, e ficar no clube até pendurar as chuteiras. A realidade de hoje é substancialmente diferente, e qualquer adolescente, realizando dois ou três jogos com o Manto Sagrado, logo sonha ser transferido para um Chelsea ou para um Real Madrid, de forma a enriquecer depressa e bem. A vulnerabilidade ao parasitismo dos empresários é total. Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro, João Cancelo e André Gomes já foram vendidos (nada a opor a negócios milionários como estes), sendo que se tratavam das maiores promessas da academia benfiquista. Renato Sanches, Nélson Semedo ou Gonçalo Guedes apenas esperam a primeira oportunidade para dar o salto. Se os melhores rapidamente saem, quem ficará? Daqui se conclui ser impossível alicerçar uma equipa competitiva, a médio prazo, com base em jogadores da casa – como acontecia nos anos setenta. O futebol de hoje é composto por grandes multinacionais, é extremamente volátil, e o romantismo do amor à camisola pertence a um passado cada vez mais distante. Não adianta lutar contra a chuva, pois ela continuará a cair. Um clube, mesmo com a dimensão do Benfica, tem pouca margem para alterar as regras de um fenómeno global, que veio para ficar – goste-se muito, pouco ou nada dele.
6)      De um modo mais genérico, coloco também grandes reticências ao perfil do jogador português lactu sensu, seja ele oriundo do Seixal, de Alcochete, do Olival ou de Carrazeda de Anciães. Não fosse Cristiano Ronaldo (caso raro, apenas com paralelo no Rei Eusébio), e a Seleção Nacional estaria hoje num nível paupérrimo, bem abaixo do potencial natural que existe por cá. O padrão do jogador português saído das academias está recheado de características negativas. Normalmente traz-nos jovens talentosos sim, mas também algo mimados, demasiado preguiçosos, muito dados a vedetismos precoces e a presenças reluzentes nas revistas cor-de-rosa. Veja-se o contraste com jovens argentinos, colombianos ou uruguaios, e note-se a diferença em termos de atitude guerreira, de trabalho físico, e mesmo de humildade. Acresce que, demasiados jogadores portugueses num plantel, num universo altamente mediatizado como é o futebol profissional dos dias de hoje, com a pressão social e comunicacional inerente, é meio caminho para fugas de informação, desestabilização jornalística, e casos passíveis de minar por dentro qualquer balneário saudável. Nada como um exército de sul-americanos concentrado num condomínio fechado, vivendo em circuito interno, longe dos prazeres da noite, da pressão dos fãs, e da curiosidade jornalística, para manter a disciplina e a coesão de um grupo ganhador.
7)       “Estrutura” foi talvez a palavra mais ouvida e lida nos dias que se seguiram à saída de Jorge Jesus. Com essa palavra mágica, tudo se resolveria. Mas a verdade é que o pilar de qualquer estrutura futebolística é o treinador principal, e ao mexermos nessa peça, todo o edifício abana. Por analogia com a vida política, uma boa constituição e um bom presidente da república, não fazem, por si só, com que um governo seja bem sucedido. O enquadramento ajuda, mas não é tudo. O futebol português ofereceu-nos um caso em que, suportado por uma certa "estrutura" (chamar-lhe-ia antes "sistema"), qualquer treinador triunfava. Mas aí, no FC Porto dos anos noventa, não só a metodologia era dúbia (perdoe-se-me o eufemismo) , como a oposição era fraca. Tal não é passível (nem desejável) de ser reproduzido no Benfica dos tempos de hoje. Aliás, nem o atual FC Porto resiste a uma má escolha para o seu comando técnico, conforme se tem visto ultimamente.
8)      Não podendo, ou não querendo, manter o técnico, talvez se justificasse, pelo menos, um maior esforço na manutenção do onze titular, e campeão, da época anterior. A verdade é que, à fatalidade de Salvio, juntaram-se as evitáveis perdas de Maxi Pereira e Lima. Quanto a reforços, ficaram em falta (no mínimo) um lateral-esquerdo e um médio-centro, para fazer esquecer nomes como Siqueira e Enzo Perez. Não sei porque saiu Ruben Amorim, e, dada a referida lesão do extremo direito argentino, também não se entende a guia de marcha simultânea para Ola John e Sulejmani, seus substitutos naturais no plantel campeão. Já que se fala no plantel, relembremos as dez contratações feitas no mercado de verão. Os nomes falam por si: Ederson, Diego Lopes, Pelé, Dálcio, Taarabt, Carcela, Marçal, Léo Natel, Francisco Vera e Murillo. Depois ainda vieram Raúl Jimenez (demasiado caro para o valor que tarda em demonstrar) e Mitroglou (o único reforço que, enfim, mesmo sem deslumbrar, com um golito aqui, outro ali,  lá tem cumprido o seu papel). Por fim, uma dúvida: o que aconteceria se, além de Luisão, também Jardel se lesionasse, ou, acidentalmente, visse um qualquer cartão vermelho? Quem acompanharia Lisandro no eixo da defesa?
9)      Perante tudo isto, pode dizer-se que, ao invés de um novo ciclo, estamos sim perante uma inversão de ciclo, na qual o Benfica tomou lamentavelmente o papel do Sporting e vice-versa. O vizinho de Alvalade apostou na formação durante décadas, com os resultados que se conhecem, e que quase levaram ao fim do clube - enquanto emblema ganhador. O Benfica deu um salto competitivo gritante a partir de 2009, fruto de um forte investimento em jogadores de qualidade, mas, sobretudo, da escolha sagaz de um treinador com perfil adequado, e competência singular. Foi imposto um crescente grau de exigência a todos os jogadores no treino e no campo, foi feita uma aposta na experiência e na segurança, visando a redução do erro a níveis mínimos, e com isso conquistaram-se vários títulos. Manteve-se o espírito ganhador quando, em 2013, o presidente Luís Filipe Vieira percebeu que um pontapé fortuito do improvável Kelvin não podia relativizar uma época futebolisticamente espantosa. Infelizmente, em 2015 não houve a mesma perspicácia (ou a mesma resistência a pressões internas, movidas mais por aspetos de relacionamento pessoal, do que por interesses desportivos do clube).
10)   Um grupo acessível, e uma vitória também fortuita, em Madrid, perante um adversário claramente superior, permitiu ao Benfica ultrapassar o seu grupo europeu, e iludir, até ver, uma temporada que corre o risco de se aproximar do desastre. Ao contrário do discurso que entretanto se foi ouvindo e lendo, importa porém lembrar que os resultados europeus de 2010 a 2015 se saldaram por um enorme êxito, com duas finais e umas meias-finais da Liga Europa, uns quartos-de-final da Liga dos Campeões, e a ascensão até ao quinto lugar do Ranking da UEFA. Neste período estivemos sempre presentes na fase de grupos da principal prova de clubes do mundo (seis presenças consecutivas, tantas quantas no total dos quinze anos precedentes). Temo seriamente que também esse “ciclo” venha a terminar em breve. Oxalá me engane.
11)    Por fim, importa relembrar o único motivo pelo qual o Benfica existe, e mantém milhões de adeptos espalhados pelo mundo. Esse motivo reduz-se a uma palavra: TÍTULOS. E, de entre os títulos, o Campeonato Nacional de Futebol é a expressão máxima do triunfo. Conquistar títulos tem de ser o lema absoluto, e único, de todos os que trabalham no clube, do cortador de relva ao presidente. Tudo o resto é paralelo. Tudo o resto é acessório. Formação, infraestruturas, patrocínios, mercado, comunicação, expansão da marca ou direitos televisivos são aspetos importantes para o presente e futuro do clube, mas não passam de meios para alcançar o fim último. O fim último, e único, é ganhar títulos. Novos paradigmas, velhos paradigmas, apostas estratégicas, novos ciclos, não passam de folclore retórico se não estivermos no Marquês de Pombal, em maio, a comemorar campeonatos. É isso o Benfica, e é para isso, apenas e só para isso, que ele serve. É isso que os adeptos pagam, é nisso que os patrocinadores investem, é disso que consta a nossa história. No museu Cosme Damião não estão negócios, nem resultados operacionais, nem patrocinadores. Estão troféus. Não pode haver anos zero. Ano zero foi 1904 (e, vá lá, também 2001). E se é um erro hipotecar o futuro em nome do presente, maior erro será hipotecar o presente em nome de um futuro incerto. Não tenho a certeza de que toda a gente que trabalha no clube pense deste modo. A profissionalização trouxe vantagens e desvantagens. Admito que em maior medida as primeiras do que as segundas. Percebo também algum vício profissional de quem vem de áreas de negócio (quase todas, exceto o futebol) onde as prioridades são outras. Nesta SAD o principal não é o lucro. O objetivo é vencer, e há que sofrer por isso. Creio que talvez faltem lágrimas nalguns setores do clube. Lágrimas como as que tantas vezes nós, adeptos, derramamos na hora da derrota, ou na hora da vitória. 
Dito tudo isto, e na convicção de que este leite está derramado, importa agora que os benfiquistas apoiem jogadores e treinador, pois nem uns nem outro têm qualquer culpa de ali estar em nosso nome. E percebam que também os dirigentes têm o direito a errar – sobretudo depois de tantas e tão grandes realizações ao serviço do clube. Há que contribuir para terminar a época com dignidade, e dentro dos melhores resultados possíveis. Insultos ou protestos gratuitos não levam a nada, e apenas empurram a equipa ainda mais para baixo. Além de que, neste caso, são imerecidos por quem os ouve.
Não me recordo de qualquer momento da temporada em que me tenha ficado a sensação de que quem estava em campo não estivesse comprometido com o jogo e com a vitória. Nem mesmo nesta última partida. O problema desta equipa não é falta de atitude ou de trabalho. É falta de qualidade. E não vai resolver-se do pé para a mão. É mais fácil destruir uma equipa do que construí-la. Mas não será com jovens imberbes que a reconstrução se poderá fazer rapidamente. As soluções só podem vir do mercado, e não da Liga de Honra ou do Campeonato de Juniores.
Ou me engano muito (e tanto que desejo ter de engolir todas estas palavras…), ou o tempo que irá demorar até se desistir desta ideia, ou deste “paradigma”, será menor do que aquele que resta até à conquista do 35º campeonato. 

10 comentários:

Anónimo disse...

https://www.youtube.com/watch?v=mjdabyxvzwM

Podia ter sido dito hoje. Só não viu quem não quis.

NauBenfica disse...

Completamente de acordo. Se eu pudesse sugerir, diria: à atenção de todos quantos, neste momento, têm sobre si a responsabilidade de dirigir o Benfica.
VIVA O BENFICA!

hooligan disse...

É isto. Só não vê quem não quer.

ZERO de ambição, ZERO de competência

antonioSLB disse...

Olha só como os Lagartos estão contentes com o Cérebro Basófias JJ!

"Jesus esquece o Benfica e as bazófias à Carvalho e concentra-te no Sporting
City Lion, em 17.12.15


Ontem aconteceu o que seria inevitável com tantas bazófias e provocações gratuitas aos adversários, mesmo quando não os defrontamos. Já estou farto de ser gozado hoje. Acho que a arbitragem ajudou a que tivéssemos perdido mas ficar só por aqui (como o Bruno Carvalho fez) é muito redutor. Temos que saber crescer e aprender com as derrotas e com os nossos erros e não é com posts do Facebook a falar em árbitros que vamos a algum lado.

A derrota de ontem, tal como a muito penalizadora eliminação contra o CSKA tem um grande culpado: Jorge Jesus. É inacreditável como alguém que está entre os dez treinadores mais bem pagos do mundo faz ainda erros de principiante ao fim de tantos meses com a equipa. Sem querer ser exaustivo destaco estes:

1. Entrada em campo com uma equipa com poucas rotinas num jogo dificil e decisivo (parece que era habitual nele no Benfica e quase sempre com maus resultados);
2. Substituição prematura do João Mário (dá-me ideia que embirra com ele e já me irrita a sucessão de críticas publicas que lhe fez nomeadamente no ultimo Domingo e no jogo com o Rio Ave);
3. Desorganização defensiva permanente com erros colectivos e individuais (Jefferson e Paulo Oliveira são mesmo muito limitados apesar das poucas contratações aproveitáveis na era Carvalho) e só não levámos ainda mais golos porque vários jogadores do Braga, que têm evidentes deficiências técnicas, falharam muitas recepções depois de ganhar as costas dos nossos defesas;
4. Adiamento das substituições (tal como na Russia com o CSKA) que poderiam nomeadamente ter estancado a pressão do Braga depois do 3-2;
5. Preocupante forma física de vários jogadores que deram o berro antes dos do Braga (e jogaram até agora os mesmos jogos).

Eu acredito que a obcessão do Jesus com o Benfica tira-lhe o foco do que deve ser o principal que é pôr a nossa equipa a jogar bom futebol, coisa que na verdade ontem vimos a espaços mas que tem sido muito raro ver esta época, apesar de estarmos à frente do campeonato (em terra de cegos quem tem olho é rei). Lembro que no campeonato ainda não jogámos com o Porto e com o Braga, que me parecem superiores neste momento ao Benfica.

Estou triste por termos perdido o troféu que tão brilhantemente ganhámos o ano passado e não termos entrado na Liga dos Campeões mas não tenho duvidas que o principal culpado é o Jorge Jesus (e talvez os sportinguistas que o veneram). É claro que é bom estarmos hoje a liderar o campeonato mas aqui temos tido sem duvida muita estrelinha (que espero seja de campeão).

Confio que o Jesus saiba arrepiar caminho e não julgue que lá por ter carta branca da Direcção, que está completamente nas suas mãos, e por ter trocado o Benfica pelo Sporting os sportinguistas sejam todos acríticos e seus vassalos. Pelo contrário, com o seu perfil lampiónico e o dinheiro que ganha, a nossa exigência deve ser ainda maior.

Espero que acabem as bazófias do Jesus porque isso não é o Sporting e vamos lá mas é ganhar o campeonato (quero lá saber da porcaria da Taça Lucilio de que tanto ele fala) e, já agora, eliminar o Leverkusen (herança da derrota inenarrável na Albânia)!"
Blog Camarote Leonino

Anónimo disse...

(1/2)
Concordo com parte do que o LF disse. Outra parte nem tanto.

É um facto que o Rui Vitória tem um cartão-de-visita fraco, mas nós levámos uma lição quanto a isso, há 6 anos atrás. Contratámos um treinador com 20 anos de carreira, sempre em Portugal, sempre em clubes pequenos e médios, com um currículo que só tinha descidas de divisão, promoções à 1ª liga, uma final de taça e uma Intertoto. No entanto, isso não o impediu de ser bem-sucedido. As aparências às vezes iludem e não há nada como o tempo para demonstrar se o cartão-de-visita é relevante ou não.

É importante perceber que o ciclo do JJ estava mesmo no fim. Eu "congelei" todas as opiniões que foram dadas quer por Benfiquistas, quer por "analistas" acerca do JJ, quando ainda não se sabia que ele ia sair. Após a conquista do Bicampeonato e de 7 títulos nacionais seguidos, se bem nos recordamos, uma percentagem considerável de Benfiquistas (onde eu jamais me incluí) não queria a continuidade do JJ, porque achava que o salário de 4M era excessivo para um treinador que não apostava na formação, tinha campanhas medíocres na Champions, e claro, porque nunca lhe perdoaram os 2 campeonatos que perdeu para o Vítor Pereira. Não foi só 1, nem 2, mas vários Benfiquistas que eu conheço pessoalmente que diziam na altura para deixarmos o JJ sair e irmos buscar o Marco Silva, indesejado em Alvalade, que era uma solução melhor e mais barata. Se na altura eu fiquei escandalizado com a ideia, hoje quando falamos, começo a dar-lhes alguma razão nesse desejo deles, que me soava ridículo naquela altura. Os analistas iam pelo mesmo caminho, frisando que o Benfica precisava pelo menos de passar a fase de grupos da Champions e apostar na formação, porque não fazia sentido o Bernardo Silva, João Cancelo e André Gomes estarem a brilhar noutros clubes e no Benfica terem jogado tão pouco. O JJ não conseguia dar mais do que aquilo. Se ele continuasse, este ano era-lhe exigido não só o tri, como uma boa campanha na Champions e a aposta na formação. Não nos esqueçamos das fortes críticas destes últimos 2 anos, muitas delas alimentadas por Benfiquistas, contra o JJ, por causa dos resultados na Champions e de jogar com jogadores maioritariamente estrangeiros. O JJ já não é propriamente novo e procurou sair numa altura em que estava altamente valorizado, para poder fazer um contrato ainda melhor, num clube onde não há tanto peso mediático nem tanta responsabilidade para com as vitórias. Se ficasse mais um ano, talvez não conseguisse um contrato tão bom e talvez não continuasse no Benfica, porque todos sabemos que depois de todos os traumas que passámos, a tolerância dos adeptos para com ele era zero.

Julgo que ainda é cedo para falar e para tirar conclusões. O Benfica está a passar por uma fase inédita, nesta era do futebol moderno. O Benfica teve um ciclo, que se pode considerar bem-sucedido, tendo em conta os últimos 20-30 anos. O ciclo acabou e tal como em todo o lado onde acabam ciclos positivos, quem vem a seguir tem uma tarefa espinhosa. Que o digam por exemplo, David Moyes, Avram Grant, Tata Martino ou... Victor Fernandez. Nunca nestas últimas décadas o Benfica teve um treinador por tantos anos (6), nem trocou de treinador após estar a dominar o futebol nacional (porque nas últimas décadas, nunca o dominou). Treinadores que chegaram para construir (ou tentar) equipas, tivemos aos montes. Treinadores que chegam após uma herança de vitórias, só mesmo o Rui Vitória. Este é o ano zero do Benfica. Resta analisar as coisas a frio, racionalmente e perceber se este é o treinador certo para construir um ciclo vitorioso no Benfica. Quando o anterior durante 3 épocas (2011-2013) ganhou unicamente 2 taças da liga e sofreu várias derrotas profundamente traumatizantes, eu fui um (dos poucos) que defendeu a sua continuidade, porque via-lhe méritos e não considerava haver alternativas à altura. Felizmente, o presidente manteve-o e deu bom resultado. É importante não haver precipitações com o Rui Vitória.

Anónimo disse...

(2/2)

Na minha opinião, não se pode julgar um treinador apenas porque empatou na Madeira e perdeu em Arouca, como também não se pode julgar só porque ganhou em Braga e em Madrid. Muito menos se deve julgar porque perdeu com o Sporting, nestas circunstâncias que todos sabemos. Os sportinguistas ainda hoje recordam com saudade e consideram um marco histórico uma vitória por 7-1 sobre o Benfica. O Sporting acabou esse campeonato em 4º lugar, tal como acabaria os dois seguintes. Foi o pior ciclo da história do clube, onde entre 87 e 92 ficou em 4º 4º 4º 3º 4º, sendo que já afastado dos títulos, acabaria por ficar 18 anos sem ser campeão nacional. Celebrar algo vindo desse período negro, é sinónimo de pequenez. Problema deles, agora nós não somos assim. É por isso que nós nestes últimos 2 anos temos tantos campeonatos como o Sporting em 30. Por essa razão custa-me ver que o Rui Vitória está a ser julgado essencialmente por ter perdido 3 jogos (um só após prolongamento) contra o Sporting. Nós temos identidade própria, não vivemos em função dos resultados contra os outros e tratam-se de derrotas numa circunstância muito específica.

Continuo a dizer que ainda é cedo para tirar conclusões e não me parece que o Benfica esteja afastado do título. O Sporting revela muitas fragilidades, depois de cair da Champions e de se ter apurado de forma sofrida num grupo acessível da Liga Europa (onde a seguir não vai ter vida fácil), também já está fora da Taça de Portugal, ganha o ano passado pelo Marco Silva, que se formos comparar a prestação dele por esta altura do ano passado com a do JJ este ano, vemos que não há muitas diferenças, tirando o salário do treinador que passou a ser 20x maior e o investimento na equipa que também foi muito mais avultado. Ao contrário do Benfica, o Sporting ainda não defrontou nem Porto, nem Braga. Uma derrota nesses jogos, conjugada com vitórias do Benfica e ficamos a 1 ponto. O Sporting lembra o Benfica do Quique Flores, que liderou ainda algum tempo o campeonato e terminou mesmo o ano na liderança, mas ninguém acreditava que fosse para durar, dado o nível de exibições e as vitórias sofridas. Acabámos em 3º lugar. Se o Sporting não convence, o Porto não está melhor. Depois de pagar 20M por um jogador, que se está a revelar um flop e gastar balúrdios em salários quer para uma vedeta em fim de carreira, quer para um ex-Benfica, sempre odiado no Dragão, o resultado é desapontante. O treinador continua sem convencer, a equipa joga mal e tem tido vários desaires e vitórias sofridas. O Benfica tem sido irregular. Temos tido exibições convincentes, alternadas com um ou outro jogo fraco. No geral, ainda não vejo razões para estar preocupado, a fase de grupos da Champions foi passada e a aposta na formação está a revelar-se uma agradável surpresa. Eu tenho uma posição semelhante à do LF em relação à formação e continuo a dizer que no futebol moderno, especialmente em Portugal, sucesso desportivo e aposta na formação nunca apareceram na mesma fórmula. No entanto, ver o Nélson Semedo em poucos meses a fazer esquecer um tal de Maxi Pereira, ver um Gonçalo Guedes a não nos fazer sentir tanta falta do Sálvio como imaginávamos há uns meses e ver um Renato Sanches a mostrar jogo após jogo que tem um potencial muito alto, leva-me a achar que a aposta na formação não está a ser nada má, até porque os miúdos não estão a ter responsabilidades de liderança. O Luisão, Gaitan, Jonas e companhia continuam a ser os pilares da equipa. Os miúdos estão a ajudar e a integrar-se muito bem.

Para terminar, os média deram-se ao trabalho de concluir que nunca o Benfica foi campeão a ter 7 pontos de desvantagem. Curioso. Nunca o Benfica tinha perdido um campeonato com 4 pontos de vantagem para o 2º, a duas jornadas do fim… até 2013, com o treinador que agora tem essa tal vantagem.

artnis disse...

Para infelicidade de quase todos nós, Benfiquistas, é uma excelente análise do passado recente e sobretudo em relação ao 'novo' paradigma.
O regresso a meados dos anos 90 e a esportinguização do Clube estão em marcha. Só precisamos de paciência e união. A assumpção de erros sucessivos é que nunca faz parte do discurso.

E agora, antes que os 2 (dois) donos do Sport Lisboa e Benfica, me rebentem completamente com a paixão, vou lavar os olhitos com água de rosas, é que logo depois de não precisarem de vendas de 'desportistas', 400 milhões de metros cúbicos é muita areia, pra minha 'caminheta'.

Pessimismo Crónico disse...

Crónica de um pessimismo anunciado

Exemplos dos últimos 10 anos:

2004/2005:
O Benfica não tem equipa! Não tem banco e tem um treinador velho, senil e que só sabe defender! Vamos continuar a contestá-lo nos treinos e a assobiá-lo nos jogos. As faixas contra o Trapattoni têm de continuar a aparecer no Estádio da Luz. É altura desse treinador velho se reformar e voltar para casa. Isto é uma miséria de equipa.
Resultado: Benfica campeão

2009/2010:
Vieira é um mau, péssimo, horrível presidente. Agora vai buscar o Jorge Jesus? Quem é esse estronço? Nem falar sabe, quanto mais treinar! Obviamente vamos ficar a ver o título por um canudo. A equipa é fraca e ainda andam a investir em deconhecidos como o Ramires e conhecidos em fim de carreira como o Saviola? Por favor... mandem mas é embora o cepo do Cardozo, que não acerta uma e esse tal de Di Maria, que é um flop mais que certo.
Resultado: Benfica campeão

2013/2014:
Filhos da ****! Rua com esse anormal desse Jesus e desse Vieira! Essa dupla está a arruinar o Benfica! Rua já! Queremos um novo rumo para o nosso clube! Obviamente esse palhaço desse Jesus não é treinador para nós! Mantêm-no e vamos perder tudo outra vez! Bandidos! Demissão já!
Resultado: Benfica ganhou tudo a nível interno

2014/2015:
Incompetentes! Rua com o Vieira! Então destroem completamente a equipa campeã? Que é isto? Obviamente que não temos condições de defender o título! Temos a equipa mais fraca dos últimos anos! Isto é entregar o campeonato de mão beijada aos rivais, que estão fortíssimos, ao contrário de nós que estamos uma manta de retalhos. Claro que não vamos conseguir o bicampeonato, está mais que visto.
Resultado: Benfica campeão


Seja qual for o resultado no fim da época, todos os anos a conversa é a mesma.

Anónimo disse...

http://global-vote.blogspot.pt/2015/12/FEYENOORD-vs-BENFICA.html?m=1

Tudo a votar mais que uma vez!

Juntos damos a volta a isto!

apostas betclic disse...

O Benfica sofreu algumas mudanças e é preciso dar algum tempo ao treinador. Para o Benfica ter ganho o que ganhou nos últimos 6 anos foi necessário ter paciência com o treinador anterior. E isso deu os seus frutos!