INDOLOR

Admito que haja quem pense de forma diferente. Mas, a mim, e creio que à maioria dos adeptos do Benfica, ao contrário da mensagem que muitos portistas (e até sportinguistas) pretendem agora fazer passar (com o insuportável Miguel Guedes à cabeça), a derrota de domingo não aqueceu nem arrefeceu.

Nunca é bom perder com o rival, mas a verdade é que, do lado do Benfica, nada, absolutamente nada, estava em causa. O campeonato há muito escapara, e há já várias semanas que as atenções estão totalmente concentradas na Liga Europa, na Taça de Portugal e na Taça da Liga. Este era, para o FC Porto um momento determinante no ano desportivo, mas para o Benfica, pouco mais que um jogo particular. A prova é que ficaram 25 mil cadeiras por preencher na Luz. No meu caso, confesso mesmo que, de todas as derrotas que me lembro diante do FC Porto, em trinta anos de futebol, esta foi talvez a que menos me perturbou. E estou plenamente convicto que Jorge Jesus e os seus jogadores também dormiram perfeitamente descansados com a perda de um jogo no qual, principalmente a eles (menos sensíveis às rivalidades ou fanatismos), pouco ou nada interessava investir (mesmo que, compreensivelmente, o não possam confessar). Tenho a certeza de que, noutro contexto, a vitória do FC Porto não seria tão linear. O desfecho do jogo foi fortemente condicionado pelo desinvestimento anímico do Benfica face a ele, e já aqui escrevi sobre isso.

As minhas grandes frustrações com este campeonato aconteceram, por exemplo, em Guimarães e em Braga. Foi nesses momentos que senti que o meu clube estava a ficar arredado do título. Foi nesses momentos que senti revolta. Foi nessas noites que custei a adormecer. Como custaria a adormecer, admito, se na meia-final da Taça de Portugal viesse a acontecer alguma coisa inesperada.

Muito antes desta 25ª jornada, o campeonato estava já resolvido. E ver o FC Porto a fazer a festa no relvado da Luz (às escuras ou não), ou vê-lo, pela televisão, a fazê-la no próximo fim-de-semana, seria para mim, e foi (acreditem ou não), totalmente indiferente.

Eis um extracto do que escrevi no jornal do clube, nas vésperas do clássico:

“(…) Já aqui defendi que o Benfica deve, nestas circunstâncias, deixar o romantismo de lado, e apostar fortemente naquilo que tem para ganhar. Nessa medida, o jogo com o FC Porto, apesar da história, apesar da rivalidade, apesar, mesmo, das provocações a que temos sido sujeitos, não deve ser entendido como aquilo que não é. Dito de outra forma, não se poderá atribuir maior importância a este clássico do que a que ele na realidade tem, e essa resulta apenas de questões de orgulho e de estatística – factores manifestamente menores quando comparados com a glória de uma carreira europeia bem sucedida (…) Independentemente dos elementos que o técnico encarnado entenda utilizar neste jogo (e se há jogadores a precisar de descanso, outros haverá a necessitar de maior ritmo), espera-se que a frescura, a motivação e a força da equipa dele não saiam minimamente beliscadas para o compromisso de quinta-feira. Pela minha parte, enquanto adepto, nem me importaria pois que o clássico fosse, tanto quanto possível, colocado ao serviço da preparação da equipa para a partida seguinte, pois é essa que, francamente, mais me preocupa. Todos gostaríamos naturalmente de ganhar ao FC Porto, mas um jogo – mesmo com este opositor - é apenas um jogo, e uma temporada é uma temporada. A partida com o rival nortenho, aconteça o que acontecer, não vai tornar a temporada do Benfica melhor nem pior. Para o adversário, e para os recalcados complexos provincianos dos seus dirigentes, e de alguns dos seus adeptos, talvez seja importante festejar o título em nossa casa, julgando que com isso nos ferem a dignidade. Não nos podemos colocar no mesmo plano. No FC Porto quer-se ganhar ao Benfica. No Benfica quer-se, simplesmente, ganhar. E neste caso específico, aquilo que podemos efectivamente ganhar disputa-se na quinta-feira seguinte. Não me interessa absolutamente nada o local onde o FC Porto vai garantir matematicamente este (fraudulento) título. Se acontecer na Luz, pois que aconteça. Não conto ficar lá para as festividades, e só lamento que tal se traduza necessariamente numa derrota averbada pelo meu clube. Interessa-me também pouco, confesso, se o novo campeão vai ceder mais ou menos derrotas, mais ou menos empates, ou se baterá recordes de pontuação. São aspectos pitorescos, curiosos de analisar, dos quais os adeptos se servem para puxar lustro ao ego clubista, mas que não passam de flores na lapela daquilo que verdadeiramente importa: os títulos. (…) Chegar à final da Liga Europa deverá ser a prioridade das prioridades no seio do benfiquismo, até porque aí também se joga - embora, para já, indirectamente - um Benfica-FC Porto. E, diga-se, claramente mais importante que o deste domingo. Duas vitórias seriam o cenário ideal. Mas a ter de optar, que o coração não se sobreponha à cabeça, que o orgulho não perturbe a oportunidade, para que a honra não se esgote em si própria, e possa servir de suporte à glória.”


PS: O que me tem irritado nos últimos dias é o autêntico assassinato que se está a tentar fazer a Roberto. O mesmo parte fundamentalmente de adeptos de clubes adversários, o que só atesta as qualidades do guarda-redes, e o receio que têm de elas poderem vir, em breve, a sobrepor-se aos defeitos que também ainda revela.

4 comentários:

Anónimo disse...

O impensável foi conseguido!
Ontém, em pleno terreno do Alto do Moinhos, capital do império falido, foi conseguido um milagre na agricultura. Recorrendo a inovadoras técnicas de cultivo, nomeadamente a ausência de luz e chuva inversa(de baixo para cima!) foi conseguida a produção de 6 milhões de melões em apenas 90 minutos...

ahahah

No.Worries disse...

Hoje que estão passados quase 3 dias desde domingo, sou "obrigado" a dar razão a este post...
No dia do jogo não assisti a festa nenhuma, não por causa da falta de luz (ouvi dizer que se ficou a saber que o esterco azul não brilha no escuro... curioso), mas sim porque assim que acabou o jogo fui-me embora, não me cruzei com nenhum adepto azul e bronco, a pé ou de carro, na televisão também não vi nada, em 1º lugar porque não tenho sportêbê (não dou dinheiro a essa escumalha e os jogo do SLB vejo-os na net e com qualidade muito aceitavel), muito (mas mesmo muio) raramente vejo rtp, sic e tvi (e seus derivados), na zona onde moro nem uma buzinadela se ouviu, jornais não os compro (há mais de uma década), e ver as capas dos mesmos na internet só quando me apetece.
Posto isto só posso dizer que não se passou nada!
E como um colega meu de blogue disse e muito bem: os foguetes lançados na provincia (por clubes regionais de corruptos) não se ouvem em mais nenhum lado.
O futebol corrupto do porto não tem expressão suficiente para incomodar...

Pedro disse...

Nem mais. Aquilo que causou tristeza aos adeptos foram os famosos jogos que perdemos graças à arbitragem. O campeonato há muito que estava entregue ao Porto, por isso não houve surpresa nenhuma.

Os adeptos do Sporting que pretendem passar essa mensagem são aqueles que se esquecem daquilo que o nº8 do Porto fez no início da época e das suas declarações após ter ganho o 1º campeonato da carreira. Humilhação é ver esse mesmo jogador celebrar o título com 32 pontos de avanço do antigo clube, que nem umas eleições consegue fazer em condições e que apenas lhe resta lutar pelo 3º lugar. Maior humilhação que essa, confesso que nunca vi.

Em relação ao Roberto, tenho pena dele, pois já foi estereotipado como "frango" e nunca mais vai perder o rótulo, mesmo que faça grandes exibições. Da mesma maneira que outros como o Eduardo, por exemplo, por mais frangos que dê (e esta época têm sido imensos), será sempre visto como um grande guarda-redes. É certo que o 1º golo do Porto é uma falha do Roberto, mas mais uma vez, fez grandes defesas ao longo do jogo. Já por exemplo, o golo sofrido contra o Braga que foi motivo de escândalos e criticas, para mim não passa de mais uma manobra ridícula dos suspeitos do costume para denegrir a imagem do nosso guarda-redes. Quem acha que aquilo é um "frango" que procure vídeos de golos daquele género, que resultem de cruzamentos-remates ou cantos directos e vejam se o guarda-redes fica bem na fotografia.

vitoria do benfica disse...

BEM EU SOBRE ISTOB Tenho a dizer que o benfica foi solidário com o porto. deixou o ganhar na luz para o por as escuras. isto porque o fcp nunca ganhou qualquer campeonato ás claras