PARA A CHOUPANA

DA VIDA DAS MARIONETAS

Faz pouco mais de um ano, Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar da Liga de Clubes, anunciava com pompa os castigos a F.C.Porto e Boavista no âmbito do processo Apito Dourado, para as instâncias desportivas entretanto baptizado de Apito Final. O Boavista era despromovido, o F.C.Porto, vá lá saber-se porquê, ficava com uma simbólica pena de seis pontos subtraídos na classificação, num momento em que o campeonato estava já totalmente resolvido.
Rejubilaram então algumas almas, gritando aos sete ventos que finalmente o F.C.Porto era punido por aquilo que andara a fazer, e pelos métodos que utilizava para vencer campeonatos. Indignaram-se os portistas, que à boa maneira da casa colocaram de imediato Ricardo Costa na sua vastíssima lista negra, onde cabem todos aqueles que, de uma forma ou de outra, não se ajoelhem aos pés do seu sumo-pontífice.
Devo dizer que não compreendi. Nem uns, nem outros.
Se quanto aos segundos, nunca me preocupei em perceber, aceitar ou concordar com o que fazem ou pensam, já relativamente aos crentes numa justiça desportiva equitativa e isenta protagonizada por Ricardo Costa, devo confessar que perdi algum tempo a tentar encontrar algum assomo de razão e optimismo em tudo aquilo, sem o conseguir. Na verdade, ainda hoje hesito em considerar aquelas decisões um acto de cobardia ou um mero simulacro, em as entender como um arremedo de temor ao poder ou uma forma de enganar os tolos.
Ricardo Costa não puniu o F.C.Porto – puniu o Boavista, e fingiu que puniu o F.C.Porto, o que é algo bem diferente. Por medo? Por vontade própria? Por incompetência? Qualquer dos casos é grave.
Nunca percebi porque é que a corrupção portista se processou “na forma tentada” e a do Boavista se tratou de “coacção”, isto para além de não entender porque é que a segunda merece um tratamento regulamentar mais duro (ou menos brando, para melhor dizer) que a primeira, muito embora com Guilherme Aguiar a redigir regulamentos tudo seja possível. Mas pior que isso – e aqui percebi tudo muito bem - foi o timing da decisão, que, na prática, transformou um possível castigo (por brando que fosse) numa mera manifestação inconsequente de opinião, a qual, à boa maneira portuguesa, tentou castigar não castigando, punir não afrontando, mudar alguma coisa para que tudo ficasse na mesma.
Obviamente que, desde então, suspeito de tudo o que saia desta Comissão de Disciplina. Vem isto naturalmente a propósito do ridículo castigo imposto a Rui Costa, na sequência de declarações totalmente inócuas, e bem mais suaves do que aquelas que, aproximadamente de quinze em quinze dias, ouvimos a Paulo Bento após os jogos, e que passam impunes, ora porque o árbitro não viu nem ouviu, ora porque o árbitro viu e ouviu, ora porque chove, ora porque faz sol.
Também aqui tenho dúvidas. Serão os delegados imbecis absolutos, ou será a própria C.D. a procurar, a cada decisão que toma, recuperar os amens e as bênçãos daquele que todo o edifício do futebol português parece continuar a temer? É que os episódios já são muitos (castigos a Luisão, Katsouranis, Nuno Gomes etc), e parecem-se cada vez mais com uma espécie de ajuste de contas, ou procura de pazes...

HERÓI ACIDENTAL

Nem Messi, nem Ronaldo, nem Drogba, nem Adebayor. O único golo das meias-finais da Liga dos Campeões foi da autoria do improvável John O’Shea, talvez aquele de quem menos se esperasse tal feito, evidenciando-se assim uma vez mais a incerteza que rodeia o fenómeno futebolístico, mesmo ao seu mais alto nível.
A primeira parte do jogo de Old Trafford prometeu espectáculo. Prometeu, sobretudo, um festival Manchester, que só a inspirada exibição de Almunia terá evitado que se concretizasse – o guarda-redes espanhol, com um punhado de grandes intervenções, foi negando à equipa da casa a construção de um resultado que, logo nesse período, poderia muito bem ter sentenciado a eliminatória.
Com o avançar do tempo, com as oportunidades perdidas pelos Red Devils, com o marcador a assinalar uma vantagem tangencial que parecia não aborrecer muito nenhum dos treinadores, o jogo foi perdendo emoção. E tudo se manteve assim até final.
O Manchester sai a vencer e sem golos sofridos, o que numa meia-final significa uma tremenda vantagem. Mas o Arsenal não está derrotado, e vai seguramente vender cara a eliminatória.
Arséne Wenger tem à sua disposição homens capazes de tudo, e com equipas inglesas as contas só se fazem com o último apito do árbitro. Ou não nos lembrássemos do recente Chelsea-Liverpool.

...E A MONTANHA PARIU UM RATO

Esperava-se um jogo de sonho, mas as amarras tácticas impostas pelo experiente Guus Hiddink envolveram Messi e o Barcelona num colete de forças do qual nunca se conseguiu libertar. Foi mesmo dos londrinos a principal ocasião de golo do jogo, quando Drogba, isolado, não conseguiu bater o guarda-redes catalão.
Não tendo sofrido golos, a equipa de Pep Guardiola parte para a segunda-mão com uma ligeiríssima vantagem - qualquer empate lhe serve, o que a este nível pode significar muito. Em casa, o Chelsea vai procurar mais o golo e, consequentemente, abrir espaços para o Barcelona desenvolver o seu futebol. Em equipas tão experientes o ambiente pesa muito pouco.
Acredita-se e espera-se, sobretudo, que o jogo de Stanford Bridge traga de volta o futebol espectáculo à Liga dos Campeões. Sobretudo agora que a competição nos aparece finalmente limpa de equipas suspeitas de corrupção.
Hoje, em Old Trafford, Manchester United e Arsenal iniciam a disputa da outra meia-final.

A NÃO PERDER

Inspirado na figura de Cosme Damião, é hoje apresentado o livro infantil "Cosminho", da autoria de Filipe d'Avillez, que relata aos mais pequenos as principais aventuras da história do Benfica.
Um livro a não perder, sobretudo para quem tem crianças na família.
É hoje apresentado, pelas 18.30, na loja do Estádio da Luz, com a presença de Ricardo Araújo Pereira.

BAILE DE MÁSCARAS

Ao minuto 58 do jogo F.C.Porto-V.Setúbal, o técnico Carlos Cardoso decidiu tirar de uma assentada, numa estranhíssima substituição, aqueles que a crítica foi unânime em considerar como os dois melhores jogadores da equipa sadina até ao momento – Leandro Lima e Bruno Gama, por sinal, ambos emprestados pelo F.C.Porto.
Tenho acompanhado a carreira de Carlos Cardoso, que inclusivamente já treinou clubes na minha terra. Não ponho as mãos no lume por ninguém, mas se há técnico que me parece andar no futebol com seriedade é este, que para além do mais é um grande vitoriano. Por outro lado, não creio que qualquer treinador, de qualquer clube (sobretudo sendo seu ferrenho adepto, como é o caso), por maior ou menor competência que tenha, seja capaz de substituir, de sua vontade e em simultâneo, os dois melhores jogadores da sua equipa num jogo importante, com cerca de meia-hora ainda pela frente e o resultado em branco. Se nem eu, nem qualquer um dos leitores, faria uma substituição daquelas, Carlos Cardoso, um treinador experiente e com provas dadas no clube, também não.
Assim sendo, a conclusão só pode ser uma: Carlos Cardoso foi obrigado a fazê-lo.
Não sabemos se existiria algum acordo prévio, não assumido, para aqueles dois jovens (um mais jovem que o outro…) só poderem jogar 60 minutos, ou, pior ainda, se alguém terá telefonado aos responsáveis do Vitória, durante ou após o intervalo, a explicar que seria melhor para o clube sadino que Bruno Gama e Leandro Lima não estivessem em campo daí em diante. Mas mostram-nos as evidências que algo do género se passou.
Dir-se-á que foi melhor saírem do campo do que ficarem e facilitarem a vitória portista. É verdade, do mal o menos, mas esta não deixa de ser uma situação grave, que deveria fazer pensar os responsáveis da Liga.
Substituições forçadas (V.Setúbal), lesões simuladas (E.Amadora), pouco empenho (Leixões e sabe-se lá mais quem…), penáltis estranhíssimos no último minuto (Nacional) e outras situações menos claras, tendo como pano de fundo jogadores emprestados, apalavrados ou mesmo (quem sabe?) subornados, podem matar, mais ainda do que os problemas com a arbitragem, a credibilidade do futebol português. Desde que este espaço nasceu, em 2006, que ando a dizer que um verdadeiro e rigoroso Apito Dourado teria de ter avançado por este campo (há pouco tempo publiquei aqui, e no jornal do Benfica, um texto a propósito do tema intitulado “Freeporto”). As suspeitas são muitas e existem desde há muito tempo, mas só nesta época saíram do armário, fazendo hoje parte da actualidade.
Como sempre, onde há suspeitas, onde há desconfianças de corrupção, de tráfico de influências, de qualquer tipo de obscuridade, aparece o F.C.Porto. São os portistas que têm dezenas de jogadores emprestados, são eles que conseguem vitórias estranhas, são jogadores seus, ou quase seus, que protagonizam episódios suspeitos, a cada jornada que passa, a cada campeonato que vencem. São eles os campeões, pelo que, ou fazem coisas que outros não fazem, ou fazem-nas melhor. Essa é uma evidência. Esse é um facto.
Das dezasseis equipas da Liga, só seis não têm qualquer jogador emprestado, nem pré ou recém-contratado por Pinto da Costa. São elas, além do Benfica e do Sporting (mesmo assim com Hélder Postiga a meias), o Paços de Ferreira, a Naval, o Nacional (não, não me estou a esquecer de Felipe Lopes) e o Vitória de Guimarães (este só desde o verão passado). Em todas as outras há uma influência clara do F.C.Porto, quer com empréstimos, quer com ofertas de jogadores, quer com aquisições que lhes enchem os cofres, e que normalmente começam a ser tratadas em plena competição. Nalguns casos essa influência assume proporções que tornam os clubes autênticos satélites, onde para além dos próprios jogadores (por vezes em grande número), os treinadores - de sua confiança - se prestam a fazer relatórios sobre os seus desempenhos nos treinos, o seu estado de forma física e anímica, e um conjunto de informações que, mesmo sem entrar em suposições mais graves, configuram claramente casos de concorrência desleal.
O F.C.Porto sabe tudo o que se passa nos balneários de grande parte dos outros clubes, ajuda financeiramente (com os negócios que faz) quase todos eles, torna-os dependentes de si, amacia-os competitivamente. Por fim, ganha-lhes facilmente, e ainda ouve speakers de estádio a pedir salvas de palmas para o benemérito Pinto da Costa. Assim se domina o futebol português. Assim se viciam campeonatos.
Em Portugal não se pode contar com a justiça, nem com as forças policiais. Para além da total incompetência que revelam, por vezes até elas – sobretudo a norte – parecem actuar de camisola vestida. Quando não há justiça, o único caminho que resta (excluindo a violência) são as restrições.
Creio que qualquer saída para este problema passará pois por duas limitações muito simples:

1) PROIBIÇÃO ABSOLUTA DE EMPRÉSTIMOS DE JOGADORES A CLUBES QUE DISPUTEM O MESMO CAMPEONATO

2) PROIBIÇÃO ABSOLUTA DE QUALQUER NEGOCIAÇÃO COM JOGADORES DO MESMO CAMPEONATO, FORA DO PERÍODO LEGALMENTE ESTABELECIDO PARA TRANSFERÊNCIAS

Com estas duas medidas – que, temo, nunca sejam aprovadas na Liga –, ainda que as hipóteses de corrupção não ficassem totalmente eliminadas, o grosso da suspeição seria em larga medida dissipado, as influências diminuiriam, e os inocentes – como acredito ser o caso de Carlos Cardoso – não veriam os seus nomes associados a esquemas pouco claros. A partir daí, Miguel Sousa Tavares, Rui Moreira, Miguel Guedes e outros ingénuos adeptos portistas teriam, por fim, o gosto de ver diminuir drasticamente o número total de jogadores do seu clube espalhados por outras paragens (como tantas vezes pedem, sem que aparentemente percebam as verdadeiras razões para tal), com as devidas consequências ao nível do respectivo orçamento. Talvez depois lhes fosse também difícil entender as razões pelas quais o F.C.Porto iria deixar de vencer jogos e campeonatos com a mesma facilidade…

OS 39 GOLOS DE TACUARA NO BENFICA


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CLASSIFICAÇÃO REAL

Não há muito que dizer sobre as arbitragens deste fim-de-semana. Isto se nos cingirmos a lances com influência no resultado, pois a arbitragem de Rui Costa na Luz foi muito fraca.

SPORTING-E.AMADORA:
Não vi o jogo. Pelos resumos não dei conta de qualquer lance polémico.
Se for caso disso voltarei a falar desta partida. Por agora resta-me validar o resultado.
Resultado Real: 2-1

FC PORTO-V.SETÚBAL:
As palavras utilizadas acima aplicam-se também na perfeição a este jogo. O resumo que vi do jogo do Dragão foi mais amplo, pelo que creio ter-se mesmo assistido a uma boa arbitragem de Paulo Baptista.
Resultado Real: 2-0

BENFICA-MARÍTIMO:
Foi o único jogo de futebol que vi em todo o fim-de-semana, e ainda assim pela televisão e numa tarde dominada por confrontos decisivos de outras modalidades.
Nos lances mais polémicos, Rui Costa esteve bem: o segundo golo de Cardozo é limpo, e o penálti aceita-se. O pior foi o resto.
Ao longo do jogo, em particular na segunda parte, Rui Costa (que raio de nome…) decidiu brincar com os jogadores e espectadores, apitando sucessivos lances ao contrário, não assinalando pontapés de canto, interrompendo jogadas limpas, ignorando faltas claras, quase sempre em prejuízo do Benfica, coisa que aliás já lhe estamos habituados a ver fazer.
O jogo foi correcto, e pouco relevo tinha para a classificação. Por isso mesmo, a conclusão a que se chega é que a postura deste árbitro do Porto foi meramente provocatória, assumindo um protagonismo absolutamente dispensável, de carácter tendencioso, característica que encontramos também no seu irmão mais velho, e que é já uma longa tradição nos Costas da arbitragem.
Resultado Real: 3-2

CLASSIFICAÇÃO REAL
FC PORTO 57
Benfica 54
Sporting 51

VELHOS HÁBITOS

Não fui à Luz, e depois de uma tarde televisiva de emoções fortes com o Andebol (vitória) e com o Hóquei em Patins (derrota), o jogo de futebol com o Marítimo, de uma competição cujos primeiros lugares considero entregues, mais não foi do que um tranquilo meio para descomprimir os nervos. Sobretudo depois de uma primeira parte que o Benfica dominou claramente, e ao longo da qual marcou os golos suficientes para resolver qualquer jogo normal.
Quando Óscar Cardozo, dando sequência a uma excelente série de boas exibições e vários golos, colocou o marcador em 3-0, pensou-se que o Benfica partiria para uma vitória tranquila, à semelhança do que havia feito no Bonfim uma semana antes, ou até para uma goleada maior, como tinha conseguido no Funchal ainda na primeira volta. Mas como os maus hábitos são difíceis de perder, o jogo acabou em sofrimento, tal como foi comum acontecer ao longo de quase toda a temporada. No final da partida registava-se a 11ª vitória tangencial dos encarnados no campeonato, o que presumo ser um número recorde.
A primeira parte do Benfica foi bastante agradável, evidenciando o acerto das últimas opções de Quique Flores. A dupla Carlos Martins-Ruben Amorim parece funcionar melhor do que a utilizada na maior parte da época (Katsouranis-Yebda), o deslocamento de Reyes para o flanco direito também tem resultado, e a dupla atacante faz chorar pelo período em que tanto Cardozo como Nuno Gomes andavam perdidos no banco de suplentes. Para grande parte dos jogos do nosso campeonato, esta parece ser uma fórmula acertada, mas tenho todavia algumas dúvidas que se revele eficaz diante de adversários mais poderosos do que V.Setúbal e Marítimo – Reyes e Aimar não defendem (e se o espanhol é eficaz nas acções ofensivas, o argentino passa completamente ao lado dos jogos), Carlos Martins pouco o faz, e sem bola a equipa fica à mercê das acções contrárias. Seja como for, estas opções mostraram uma maior flexibilidade da parte do técnico encarnado, que parece começar enfim a perceber com que linhas se pode coser o Benfica num futebol português amplamente diferente do espanhol.
Após o intervalo o Benfica adormeceu, achou que tudo estaria resolvido, e deu ao Marítimo a hipótese de se recolocar na disputa dos pontos. O penálti assinalado, com muito tempo ainda pela frente, transformou as equipas e o jogo. O Marítimo ganhou confiança, o Benfica perdeu-a. Mas verdade seja dita, os insulares também não criaram, a partir daí, grandes oportunidades para marcar.
Tudo acabou em bem para o Benfica, que deu mais um passo para segurar o terceiro lugar, objectivo que poderá ficar definitivamente selado no próximo fim-de-semana, caso pontue na Choupana.
Quanto ao segundo lugar, as contas estão feitas. Nem Sporting, nem F.C.Porto, vão perder mais do que dois ou três pontos nas quatro jornadas que restam, nem provavelmente o Benfica será capaz de ganhar os dois jogos fora de casa que tem por disputar, na Madeira e em Braga, frente ao 4º e ao 5º classificados respectivamente. Tal como já aqui tinha dito aquando das derrotas com o V.Guimarães e com a Académica, os verdadeiros candidatos aos primeiros lugares não perdem pontos na ponta final da prova contra equipas inferiores - Porto e Sporting, nas últimas nove jornadas, apenas empataram entre si, ganhando todos os outros jogos, como se vê na figura abaixo.
São estas as características do campeonato português, onde o desequilíbrio entre os candidatos ao título e os clubes restantes é grande, e nas fases adiantadas revela-se ainda maior, pois enquanto as lesões e os castigos (além do mercado de Janeiro) vão dizimando os plantéis mais curtos e modestos, os grandes emblemas readquirem frescura e concentração à medida que vão sendo afastados do desgaste das provas internacionais. É isto que Quique Flores estará a aprender agora, pois se estas sequências de dragões e leões não surpreendem nenhum adepto português, creio que a ele o estarão a surpreender bastante.

EM EQUIPA QUE GANHA NÃO SE MEXE


UMA MULHER À BENFICA !

SEM PERDÃO !

Ninguém sabe o que lhe passou pela cabeça, mas a um jogador do Real Madrid e da Selecção Nacional, por cujo passe o seu clube pagou 30 milhões de euros, não lhe podem passar coisas pela cabeça.
Nunca fui favorável à utilização de naturalizados na Selecção. Quando têm comportamentos desta natureza, não posso deixar de reforçar essa minha posição - e devo dizer que ainda me lembro de ver Deco atirar uma bota a um árbitro.
Por mim, independentemente dos 10 jogos de castigo que lhe foram aplicados, Pepe nunca mais seria chamado a representar Portugal.
Até porque ninguém se vai esquecer deste episódio, e sempre que Pepe vestir a camisola das quinas, passará a ser a imagem de Portugal que estará posta em causa.

OS HOMENS DE QUEM SE FALA

PATRIC – Quase nada conheço deste jovem brasileiro. Sei apenas que joga como médio ou lateral-direito, e que faz parte da selecção brasileira de Sub-20.
Para a ala-direita da defesa o Benfica dispõe somente de Maxi Pereira, pelo que necessita de uma alternativa válida. Um jovem polivalente parece ser uma boa opção, até porque, assim sendo, a titularidade do uruguaio não implicará o apagamento do novo jogador.
Diz-se que é fisicamente robusto, o que é um excelente ponto de partida. Se tiver a qualidade técnica de Sidnei já será um bom investimento.

RUBEN MICAEL – Apesar de todas as notícias veiculadas nas últimas semanas, não acredito ainda muito na hipótese do médio madeirense vir a vestir a camisola do Benfica na próxima época. E confesso que nem me admiraria nada que o viéssemos a ver de azul-e-branco. Não me perguntem porquê – é apenas um palpite.
A primeira vez que reparei nele foi no Benfica-Nacional, e não foi pelos melhores motivos – ao ser substituído demorou bastante tempo a sair do terreno, e aos assobios dos adeptos respondeu com palmas algo provocadoras. Um destes dias revi, propositadamente, o vídeo do jogo à procura desse momento, mas terei que dizer que não agravei a minha primeira impressão. Talvez, afinal, as palmas não tenham sido tão provocadoras assim…
Na jornada seguinte o F.C.Porto visitou a Choupana, e aí apercebi-me enfim de todo o potencial do jogador. Fez uma exibição extraordinária, numa partida em que os portistas só alcançaram a vitória no tempo de descontos.
Daí para cá tenho-o visto com mais atenção. Creio tratar-se de um excelente jogador, dotado de grande capacidade de passe, bastante irrequieto e capaz de transportar a bola até perto da área adversária. Trata-se indiscutivelmente de uma das grandes revelações desta Liga.
É, no entanto, um número dez típico, que no Nacional desfruta de uma liberdade criativa que o Benfica não lhe poderá dar. Não sei se no 4-4-2 de Quique Flores poderá desempenhar o papel ultimamente assegurado por Carlos Martins (e antes por Katsouranis ou Yebda), para o qual terá de desenvolver capacidades defensivas que francamente ainda lhe não vi.
Em todo o caso, tratando-se de um jovem português com qualidades, ficaria satisfeito se a contratação se concretizasse.

NENÊ – O nome não engana. É mesmo goleador.
Não se marcam 18 golos por acaso, e o avançado brasileiro até tem sido bastante variado na forma como consegue os seus – livre directo, cabeça, pé direito, pé esquerdo, dentro e fora da área. De penálti apenas marcou um.
O modelo de jogo do Nacional não corresponde à tipologia da maioria das equipas do nosso futebol. É um modelo ofensivo e relativamente aberto, ou não fosse a sua base constituída fundamentalmente por jogadores brasileiros. Por esse motivo, talvez não estejamos perante um daqueles muitos avançados que só rendem em equipas pequenas, nas quais dispõem de espaços que a um clube grande não são permitidos. Embora tenha marcado alguns dos seus golos em contra-ataque, Nenê mostra-se letal em todas as situações de jogo, evidenciando um sentido de oportunidade notável e uma capacidade de remate pouco comum no futebol português.
Não tenho qualquer referência sobre o seu carácter, mas sei que fracassou na passagem pelo Cruzeiro, algo que ando ainda a tentar esclarecer junto de fontes brasileiras.
Mas se é para marcar golos, venha ele.

MICCOLI – Alguma imprensa dá-o com frequência como um sonho dos responsáveis do Benfica para a nova época, não havendo todavia qualquer notícia fundamentada que adiante pormenores concretos sobre a questão. Apenas e só o alegado benfiquismo do jogador, que já no início da corrente temporada havia sido manifestado.
Miccoli é um artista, é simpático, deixou saudades e tem muitos admiradores no Estádio da Luz, e seria certamente uma contratação capaz de entusiasmar o povo benfiquista. Desde que regressou a Itália tem marcado golos (oito na época passada, nove na corrente) e tem contribuído decisivamente para as boas prestações do Palermo na Série A. Gostaria de o ver um dia jogar juntamente com Cardozo, dupla que, na minha perspectiva, tinha tudo para se complementar.
Não creio todavia que o seu salário seja comportável para um Benfica em tempos de crise e fora da Champions League. O plantel benfiquista tem de emagrecer a sua massa salarial, quer por motivos estritamente financeiros, quer como forma de corrigir desequilíbrios capazes de minar o balneário. Nessa medida, é preciso muito cuidado com este tipo de contratações.
Também a sua crónica debilidade atlética dá que pensar, num plantel já de si bastante macio e atreito a lesões - ainda que neste seu regresso a Itália os casos de paragem pareçam ser mais esporádicos.
Se vier terá todo o meu apoio. Mas julgo dever ser de privilegiar outro perfil de jogador, mais barato, mais robusto e mais resistente, ainda que não tão dotado tecnicamente como o "Pequeno Bombardeiro".

OS INTOCÁVEIS

Para seguir uma lógica de estabilidade, mais do que a questão do treinador, é necessário que o Benfica não volte a revolucionar o seu plantel como frequentemente fez nos últimos anos.
Para responder à crise económica, e levando em conta que a participação da Liga dos Campeões é uma miragem, o Benfica terá necessariamente que vender jogadores (no meu ponto de vista, Moretto, Balboa, Di Maria e Aimar), e prescindir daqueles cujos salários não encontram correspondência no rendimento em campo, nem na realidade portuguesa (como será o caso de José António Reyes, cujo passe custa 6 milhões e o salário é de quase 150 mil euros, mau grado as suas últimas exibições).
Para acautelar o futuro, face às possíveis alterações regulamentares preconizadas pela FIFA, o Benfica deverá manter os portugueses do plantel e, se possível, acrescentar-lhes mais alguns. Para edificar e fortalecer um indispensável espírito de coesão colectiva, o Benfica deve privilegiar a continuidade dos jogadores com mais anos de casa (Quim, Nuno Gomes, Luisão e Katsouranis), capazes de assumir o papel de referências do grupo, levando em conta que o seu valor de uso é bastante superior ao seu valor de troca, que é como quem diz - desmarxizando o termo -, o que valem para o clube e para a equipa suplanta em muito o que podem eventualmente render no mercado.
Tendo em conta estes pressupostos, julgo que os treze jogadores que constam da figura acima são ABSOLUTAMENTE INTOCÁVEIS, sob pena de se vir a repetir todo o processo de descapitalização que levou à perda de Fernando Meira, Miguel, Tiago, Geovanni, Ricardo Rocha, Manuel Fernandes, Simão, Karagounis, Anderson, Petit e Léo, que poderiam muito bem ser hoje o retrato de um Benfica campeão e forte na Europa.
Para além daqueles treze, também a continuidade de Jorge Ribeiro, Binya, Urreta ou Mantorras seria de assegurar, ainda que um deles pudesse eventualmente ser emprestado - o angolano, sabe-se, é um caso especial. De Felipe Bastos pouco se conhece, pelo que talvez o empréstimo fosse uma boa oportunidade para mostrar valor.
Terá que ser a partir desta base que o Benfica 2009-10 deverá laborar, incorporando mais dois ou três jovens (Nélson Oliveira? Leandro Pimenta? David Simão? Pedro Miranda?), resgatando dois ou três emprestados (Miguel Rosa? Romeu Ribeiro? Fábio Coentrão? Ruben Lima? André Carvalhas?) e, por fim, acrescentando não mais que quatro reforços de qualidade, cujo perfil deve apontar essencialmente para uma forte presença atlética, grande capacidade de choque, um elevadíssimo grau de profissionalismo, e um carácter competitivo corajoso e ambicioso. Seriam eles um lateral, um médio e dois avançados.
Não são necessárias grandes estrelas - até porque nem há dinheiro para elas-, mas tão somente jogadores de equipa capazes de interpretar bem o interesse colectivo, que lutem sempre até à exaustão, que imponham a sua força e a sua coragem, que nunca se lesionem e estejam sempre disponíveis para tudo o que a equipa deles precisar. Um Benfica campeão terá que se assemelhar muito mais a um batalhão militar do que a uma companhia de ópera, e isso tem de ser entendido com a maior urgência.
Qualquer politica que fuja muito a isto, significará mais um ano perdido. Implacavelmente.

MAIS UMA RÉCITA

Há momentos em que nos sentimos reconfortados pelas nossas opções.
Hoje, pelas 20.45, perante o dilema de escolher entre e entrevista do primeiro-ministro e a segunda parte do Liverpool-Arsenal, mandei Sócrates às malvas e mantive a atenção centrada no fantástico futebol inglês. Bendita decisão.
A partida de Anfield foi mais um hino ao futebol, recheado de grandes golos e reviravoltas no marcador, bem ao nível do que, faz uma semana, se havia visto em Stanford Bridge para a Liga dos Campeões. Até o resultado foi igual: 4-4 (!)
Com 0-1 ao intervalo, a entrada do Liverpool na segunda parte foi fulgurante, e em poucos minutos virou o placar para 2-1 com golos de Torres e Benayoun. Mas o Arsenal não desistiu, e voltou, com mais dois golos do russo Arshavin, à liderança do marcador. O Liverpool empatou a três, com mais um fantástico golo de Fernando Torres, mas nos últimos minutos, de novo Arshavin, em contra-ataque, voltou a colocar os Gunners em vantagem. A equipa da casa contudo, numa extraordinária manifestação de vontade, ainda conseguiu, já nos descontos, o golo do empate (novamente pelo excelente Benayoun), e por pouco não chegou à vitória segundos depois. Uhf ! Até o espectador fica cansado...
Ashavin foi o rei da noite, apontando os quatro golos do conjunto londrino, e realizando uma exibição portentosa, bem de acordo com as expectativas que deixou no último Europeu, e que não mais haviam sido confirmadas até agora. Mas o que fica uma vez mais na retina é a atitude competitiva dos comandados de Rafa Benitez, que numa mistura de fúria espanhola com raça britânica colocam uma intensidade no jogo como não se vê em mais nenhuma equipa da actualidade.
É uma lástima que o clube da cidade dos Beatles após dois jogos que entram para as galerias dos melhores dos últimos anos, veja voar, justamente com eles, as hipóteses de conquistar os troféus que bem merecia. Se a Liga dos Campeões ficou para trás, no Campeonato tem o Manchester com os mesmos pontos e menos dois jogos, a poucas jornadas do final, pelo que a vitória desta noite era imprescindível.
É também de lamentar que a Sport Tv tenha retirado da sua programação a repetição do jogo que estava prevista para hoje, pois futebol como aquele merece ser visto, gravado e revisto.

A LIGA EUROPA

Atlético de Madrid, Villarreal, Paris Saint-Germain, Werder Bremen, Hertha de Berlim, Estugarda, Lille OSC, Glasgow Rangers, Panathinaikos, AEK de Atenas, Ajax de Amesterdão, PSV Eindhoven, Atlético de Bilbau, Toulouse, Everton, Aston Villa, AS Roma, Sampdória, West Ham, Génova, Steaua de Bucareste, Dinamo de Moscovo, Spartak de Moscovo, Zenit de São Petersburgo, Estrela Vermelha de Belgrado, Standard de Liege, Club Brugges, CSKA de Sófia, Galatasaray, Fenerbahce, Sparta de Praga e Shakhtar Donetsk, são alguns dos clubes que, juntamente com o Benfica, poderão estar na fase de grupos da nova Liga Europa, tendo em conta o andamento actual dos vários campeonatos e taças nacionais.
Como se percebe, esta prova está longe de constituir uma mera segunda divisão europeia, sobretudo quando na “primeira” poderemos provavelmente ver equipas como o Sivasspor, Copenhaga, Rubin Kazan, Partizan, Levski de Sófia e AZ Alkmaar, isto supondo não haver grandes surpresas nas pré-eliminatórias, através das quais, diga-se, será mais fácil ao Turku, campeão da Finlândia, ao Stabaek, campeão da Noruega, ou ao Ventspills, campeão da Letónia, chegar à fase de grupos da Champions League, do que ao Sporting, segundo classificado da Liga Portuguesa – àqueles bastará uma pré-eliminatória disputada, na pior das hipóteses, diante de um clube belga, grego, suíço ou checo, enquanto os portugueses terão de passar por duas, e bem mais difíceis.
O Benfica estará pois bem acompanhado, integrando um lote de equipas que são, na actualidade, a sua família competitiva natural na Europa do futebol. Ao contrário do que sucederia na Liga dos Campeões, aqui o clube da Luz tem francas hipóteses de chegar longe, caso queira efectivamente apostar nessa possibilidade. Seria melhor poder fazê-lo após passagem pela prova rainha. Mas agora pouco há a fazer quanto a isso.
O Benfica iniciará a competição no dia 20 de Agosto, quando disputar a primeira-mão do play-off de acesso à fase de grupos. Uma semana depois jogar-se-á a segunda mão, e a partir de meados de Setembro tudo funcionará à imagem e semelhança da Champions. A final será em Hamburgo.
No play-off de acesso, onde serão cabeças-de-série, os encarnados poderão encontrar uma das seguintes equipas:
Génova, Toulouse, Cluj, Estrela Vermelha, Dundee United, Aberdeen, Wisla Cracóvia, Groningen, PAOK Salónica, Hearts, Brondby, Hajduk Split, Ujpest, CSKA Sófia, Rapid Viena, Helsingborg, Stabaek, Trabzonspor, Gent, Apoel Limassol, Slovan Liberec, Debrecen, Boleslav, Unirea, Poli Timisoara, Kalmar, Elfsborg, Amkar, Metalurg, Bohemians Dublin, Ventspills, Ekranas, Maribor, Zrijnski Mostar ou Légia Varsóvia.
Seria muito azar voltar a sair, logo à primeira, uma equipa italiana…

Uma das campanhas europeias que recordo com mais saudade foi a de 1982-83. Nesse ano, aquela que considero a melhor equipa do Benfica do meu tempo, chegou à final da Taça UEFA (foto). Que bom seria poder estar em Hamburgo, em Maio de 2010, a apoiar o Glorioso no seu regresso aos grandes momentos internacionais…

IMPORTA-SE DE REPETIR?

Se não lesse não acreditava. Particularmente eu, que já considerei o campeonato resolvido, e me mostrei totalmente resignado à participação do Benfica na Liga Europa.
Não é que o Presidente do Conselho Fiscal do Sporting, um tal de Abade, descontente com as arbitragens, com o seu clube a quatro pontos do primeiro lugar, e após uma jornada em que o F.C.Porto foi claramente favorecido, se lembra de disparar contra o…Benfica ?!?
Segundo ele Bruno Paixão levava “a receita encomendada”, porque “há muito dinheiro em jogo nesta altura do campeonato, por causa do apuramento para a Liga dos Campeões”, e que por isso mesmo “os dirigentes do Benfica estão a perder a cabeça”. Ou seja, se bem entendi, o primeiro lugar, que está a uma distância de quatro pontos, não interessa (claro, como poderia interessar se não é o Benfica a ocupá-lo…), e nunca nenhum árbitro se iria lembrar de prejudicar o Sporting para o impedir de chegar ao título - nem pensar nisso! O que interessa é o Benfica, que à mesmíssima distância de quatro pontos se encontra, mas em terceiro lugar, e que teria encomendado a Bruno Paixão uma arbitragem para prejudicar o Sporting. Lapidar! Espantoso! Surreal! Não sei que idade tem o fulano, nem se as declarações foram produzidas antes ou depois do almoço.
É inacreditável onde chega a cegueira de gente que, até pelas funções que desempenha, teria obrigação de mostrar algum sentido da realidade. Tratar-se-ia de um simples apontamento humorístico, não fora o facto de simbolizar um determinado postulado anti-benfiquista, que por vezes roça o ridículo, mas que faz parte da genética do clube de Alvalade, e encontra eco na maioria dos seus adeptos.
Quem ganha com isto, todos sabemos, a começar pelo senhor Abade. A diferença é que isso em nada o incomoda, assim como, verdade seja dita, nem a própria Champions League mobiliza a maioria dos sportinguistas – os adeptos não vão ver os jogos e até o treinador poupa titulares. O que é determinante em Alvalade, o que emociona, faz rir, faz chorar, faz sofrer é ficar à frente ou atrás do Benfica. É esse o seu campeonato. Um sintoma de pequenez de um clube que até merecia ser grande.

CLASSIFICAÇÃO REAL

O campeonato caminha para o fim, mas a gritaria em torno da arbitragem continua a fazer-se ouvir, quase sempre pelos mesmos protagonistas.
Paulo Bento, que é um treinador que, sob o ponto de vista técnico, aprecio, voltou a perder a cabeça, durante e após um jogo em que nem sequer teve grandes razões de queixa – primeiro porque ganhou, e segundo porque o árbitro errou para os dois lados.
Veremos se é desta que finalmente é castigado, pois a sua impunidade já começa a tornar-se vergonhosa para a própria Liga. Se não o calarem, como ele próprio quase pede, os seus esganiçados vitupérios vão continuar a marcar, pela negativa, o futebol português.

V.GUIMARÃES-SPORTING:
Mau grado todo o ruído de fundo sportinguista a propósito deste jogo, a verdade é que o erro mais grave de Bruno Paixão foi não ter expulsado Derlei, que por acaso marcou um golo e fez o passe para o outro.
O golo anulado a Carriço é um lance que admite várias interpretações. Eu não invalidaria o golo, mas sabe-se como Bruno Paixão utiliza normalmente um critério bastante restritivo, apitando por tudo e por nada, assinalando os mais pequenos contactos e assim, muitas vezes, estragando os jogos.
Embora se possa considerar um erro, o mesmo está de acordo com o perfil do árbitro, coisa que não aconteceu, por exemplo, no Benfica-Nacional, quando Pedro Henriques, que só apita quando não pode deixar de ser, assinalou uma falta que não existiu e só ele foi capaz de ver.
Quanto ao cartão amarelo a João Moutinho, o mesmo não oferece a mínima dúvida. O que não gostei foi de ver o jovem capitão do Sporting, jogador que muito respeito e aprecio, a emparceirar no espalhafato do chefe. Podia ter evitado.
Katsouranis foi o único jogador do Benfica que falou de arbitragens em toda esta época, e foi logo castigado. Mas, já se sabe, o Sporting tem um estatuto aparte junto desta Liga.
Resultado Real: 1-3

ACADÉMICA-F.C.PORTO:
Se o Sporting tem verdadeiras razões de queixa é deste jogo, isto partindo do princípio que o clube de Alvalade quer mesmo ser campeão e não apenas ficar à frente do Benfica.
O F.C.Porto, num momento difícil, após uma eliminação europeia, sem Lucho, com apenas um ponto de vantagem, deslocando-se a um terreno onde quase ninguém vencera, foi autenticamente levado ao colo para a vitória, ainda que este seja um dos casos em que a classificação real é forçada a vender a justiça à objectividade.
É difícil imaginar o que seria o jogo caso a Académica marcasse um golo na primeira parte. Teria o F.C.Porto a mesma força mental que demonstrou em Guimarães? Repetir-se-ia a história?
O que é certo é que só não marca aquele penálti quem não o quer marcar, e Olegário Benquerença há muito nos habituou a episódios destes, sempre em benefício do mesmo clube.
Também o golo anulado à Académica deixa dúvidas, mas aí até se aceita a decisão do árbitro. É de notar contudo que, sabendo ele seguramente que tinha errado na primeira parte, seja capaz de anular um golo à equipa prejudicada em lance tão difícil de analisar. Mas quem é capaz de perdoar dois penaltis e um golo para lá da linha à mesma equipa num importante clássico, é realmente capaz de tudo.
Para compor o ramalhete, temos o terceiro golo do F.C.Porto em fora-de-jogo, embora a culpa aqui deva ser endereçada ao fiscal-de-linha.
Resultado Real: 1-2

V.SETÚBAL-BENFICA:
Da actuação de Soares Dias no Bonfim sobram duas grandes penalidade por marcar, uma para cada lado. Na primeira parte Robson corta com o braço um remate de Cardozo que ia para a baliza, e já perto do final, David Luíz rasteira Bruno Gama dentro da área benfiquista.
Resultado Real: 1-5

CLASSIFICAÇÃO REAL
F.C.PORTO 54
Benfica 51
Sporting 48 (que inacreditavelmente continua a ser quem mais protesta…)

PRIMAVERA TARDIA

Embora perceba a necessidade de manter viva a moral da equipa, para mim o campeonato do Benfica já terminou. Terminou a luta pelo título com a derrota em casa perante o V.Guimarães, e foi por água abaixo a hipótese de ficar em segundo lugar após o desaire da passada semana, também na Luz, diante da Académica.
Só quem ande cá a pouco tempo poderá imaginar que a equipa de Paulo Bento vá perder quatro pontos para o Benfica nas cinco jornadas que restam, tal como só os mais sonhadores acreditam que o F.C.Porto os perca para o Sporting. Dragões e leões que, desde a segunda jornada da segunda volta (há oito, portanto), apenas perderam pontos no empate entre eles, o que reflecte a regularidade competitiva com que estes conjuntos têm abordado a ponta final da temporada, algo que, diga-se, já não é deste ano.
Pelo que acabei de dizer, vi o confronto com o Vitória de Setúbal praticamente como se de um jogo a feijões se tratasse. E só não o entendi totalmente assim porque o empate da véspera entre Nacional e Sp.Braga deixara a hipótese de garantir desde já o terceiro lugar, coisa que, não podendo entrar ainda no domínio das certezas matemáticas, parece ter agora ficado definitivamente acautelada.
Esta descontracção foi aliás coincidente com o que se passou no relvado do Bonfim, onde uma equipa mergulhada em problemas gravíssimos não foi capaz de fazer frente a um Benfica mais alegre e fluido do que se viu durante a maior parte da época. A história do jogo é a história dos golos. Dos que se marcaram, e dos que ficaram por marcar (Óscar Cardozo, só à sua conta, podia ter conseguido um número histórico).
É preciso dizer também que havia 14 jornadas que o Benfica não vencia por mais de um golo de diferença, o que significa que muitos benfiquistas já nem se lembravam do que era uma noite tranquila de futebol. Ontem tiveram-na.
Estas duas jornadas, mau grado o desaire frente aos estudantes, mostraram um Benfica de cara lavada. Com Ruben Amorim e Carlos Martins o meio-campo do Benfica parece outro. Os dois pontas-de-lança completam a mudança – se contra a Académica não marcaram, não foi por falta de ocasiões criadas. Qualquer semelhança entre este Benfica e, por exemplo, o da Reboleira, resume-se às camisolas. É pena que só agora, com 25 jornadas decorridas, a equipa de Quique Flores dê enfim sinais de que também sabe jogar futebol. Fá-lo quando a época está já irremediavelmente comprometida. Se é vulgar dizermos que mais vale tarde do que nunca, há momentos no futebol, e na vida, em que o nunca e o tarde se confundem e se baralham, acabando por significar uma e a mesmíssima coisa. Para a época do Benfica, esta gorda vitória de pouco vai servir.
Cabe aqui um mea culpa acerca de José António Reyes, que não coloquei na equipa que propus, e foi talvez o melhor em campo. A minha opinião sobre Reyes diz que se trata de um jogador capaz de momentos geniais, mas sem garantias de assegurar, ao longo de toda uma época, o rendimento regular e preponderante para o qual o seu elevadíssimo salário aponta. Para que melhor se entenda: não é um Simão Sabrosa (que além do mais marcava 15 golos por ano). Ontem, esteve muito bem, e foi nele que começou a tranquila noite encarnada.
De destacar foram também as prestações de Di Maria, que entrou muito bem no jogo, e de Nuno Gomes, que regressou aos golos, e logo com dose dupla. Pela negativa há que mencionar Pablo Aimar, que nem frente a uma equipa que lhe concedeu amplos espaços e liberdades foi capaz de mostrar aquilo que dele se esperava no início da época, e que nunca confirmou. Continuo, aliás, sem perceber o que faz ele a mais do que fazia o dispensado Nuno Assis…
No domingo o Benfica recebe o Marítimo, e terá oportunidade de selar o terceiro lugar. Como diria La Palisse, ficar em segundo seria melhor do que ficar em terceiro, mas a diferença entre uma coisa e outra não é sequer comparável ao que sucedia nas épocas anteriores. Enquanto anteriormente o segundo lugar apurava directamente para a Liga dos Campeões, agora obriga a disputar uma primeira eliminatória contra uma equipa forte (Glasgow Rangers? Panathinaikos? Besiktas? Ajax? Shakhtar Donetsk?), que por sua vez dá acesso a uma outra eliminatória ainda mais difícil (Arsenal? Valência? Lyon? Bayern? Roma?), só após as quais será então possível chegar aos milhões. Como se percebe, a tarefa não é fácil, com a agravante de obrigar a alterar toda a planificação da época (o primeiro jogo é logo nos primeiros dias de Julho). A Liga Europa é pois um bom destino para este Benfica, que ainda tem muito que trabalhar até se transformar numa grande equipa, e que nessa nova competição até pode, com um pouco de sorte, fazer um brilharete e - quem sabe? - chegar à final de Hamburgo. Mas sobre a Liga Europa falarei numa próxima ocasião.

VITÓRIAS E MAIS VITÓRIAS...

FUTEBOL: V.Setúbal-Benfica, 0-4
BASQUETEBOL: Ovarense-Benfica, 59-76
ANDEBOL: Benfica-São Bernardo, 37-23
VOLEIBOL: Leixões-Benfica, 1-3
FUTSAL: Benfica-Alpendorada, 5-1
RAGUEBI: Benfica-CDUP, 23-7
RAGUEBI FEMININO: Benfica-CDUP, 11-0
TÉNIS DE MESA: Coabital-Benfica, 0-4
HÓQUEI EM PATINS: Não houve jogos
FUTEBOL FORMAÇÃO
JUNIORES: Benfica-Nacional, 2-1
JUVENIS: Belenenses-Benfica, 2-4
INICIADOS: São Roque-Benfica, 0-7
INFANTIS: Alverca-Benfica, 0-3
JUVENIS B: Lourinhanense-Benfica, 1-2
INICIADOS B: Benfica-Sacavenense, 4-1
INICIADOS C: Real-Benfica, 1-3
15 jogos 15 vitórias...e fim-de-semana encerrado !

PARA O BONFIM

PARA QUEM AINDA NÃO PERCEBEU...

O quadro que se segue talvez ajude os mais cépticos a abrir os olhos. Desminta-o quem for capaz...

AINDA OS PONTOS: quem anda a reboque de quem ?

Tudo indica que o Benfica irá participar na próxima edição da Taça UEFA (agora denominada Liga Europa), enquanto o F.C.Porto, quase campeão nacional, irá integrar a Liga dos Campeões.
Mas se o Benfica, qualquer que fosse a pontuação portuguesa no ranking, não passaria da Taça UEFA , já o F.C.Porto, se retirarmos os pontos obtidos pelo Benfica nos últimos anos, teria de disputar uma pré-eliminatória para entrar na fase de grupos da prova principal. Sem os pontos do Benfica, Portugal baixaria para o 13º lugar, justamente o primeiro dos que não coloca nenhuma equipa directamente na Champions.
É pois o Benfica que ajuda o F.C.Porto nas provas europeias, e não o contrário, como quase sempre se pretende fazer crer.
Já agora, a título de curiosidade, refira-se também que o Benfica foi o único clube português a liderar o ranking da UEFA, precisamente nos anos de 1965, 1966 e 1969.

QUEM DÁ MAIS PONTOS A PORTUGAL ?

Ao contrário do que toda uma mistificação mediática nos tem pretendido fazer crer, é o Benfica o clube que mais pontos dá ao país no Ranking actual da UEFA.
Se não acredita, confira o quadro seguinte:
Nem tudo o que parece é. Mesmo com uma época europeia desastrada, o Benfica é ainda assim o clube a quem Portugal mais deve nas contas da UEFA.

RANKING TAÇA/LIGA DOS CAMPEÕES (actualização)

CRITÉRIO: 3 pts por vitória, 1 pt por empate, 1 pt por presença, 10 pts por final e 20 pts por título

DESLUMBRANTE !

Se tal fosse possível, ainda agora estaria a ver jogar as equipas do Chelsea e do Liverpool.
Num dos melhores jogos da última década, os dois conjuntos inglesas fizeram Deus descer à relva, tal a forma como disputaram, taco a taco, lance a lance, golo a golo, uma partida para a história, e uma eliminatória que já vai sendo um ícone da Liga dos Campeões.
A forma como o Liverpool - a jogar fora, precisando de marcar três golos e sem Gerrard - entrou em campo devia ser mostrada por todos os treinadores do mundo às suas equipas. Mais do que um sistema táctico (qual sistema táctico!!), mais do que o talento dos jogadores, a equipa de Rafa Benitez disputou cada lance, em cada palmo de terreno, como se da própria vida se tratasse, fazendo jus ao lema do seu lendário treinador Bill Shankly, que nunca deixa sozinho o título deste Blogue. Não fosse a infeliz primeira-mão em Anfield e era o Liverpool que merecia claramente a passagem às meias-finais (aquela oportunidade perdida para o 0-3 aos 44 minutos...), sem desprimor pela reacção do Chelsea na segunda parte. Uma imagem me fica deste jogo: aos 93 minutos, a precisar de dois golos para se apurar, o Liverpool continuava feroz, louca e desenfreadamente à procura da baliza de Cech, como se estivesse tudo a começar.
Houve erros? Houve, sobretudo dos guarda-redes. Mas sem erros não havia golos e, no limite, não havia futebol. E que pena seria se tivéssemos de viver sem isto...
Apenas um ligeiro desapontamento: a eliminação de uma equipa que me toca, quer por ter sido o primeiro campeão europeu de que me lembro (em 1977 e 1978), quer pela cor, quer pelo hino, quer pelo mítico Kop, quer pelas épicas eliminatórias com o Benfica, a última das quais ainda bem fresca na memória. Sempre torci pelo Liverpool no futebol inglês, mesmo nos tempos de Mourinho quando estes combates eram uma espécie de Portugal-Espanha. A perfeição no jogo de ontem seria um 4-6, mas…
Quem não viu, não tem consciência do que perdeu. Quem viu, vai certamente lembrar-se deste jogo por muitos e bons anos. Para a história fica a marcha do marcador: 0-1, 0-2, 1-2, 2-2, 3-2, 3-3, 3-4, 4-4. Lembram-se de Leverkusen? Foi igual em emoção, mas ainda melhor em qualidade técnica.
O Chelsea-Barcelona das meias-finais promete...
Viva o Futebol !

A ÁRVORE E A FLORESTA

Em qualquer organização, seja qual for o ramo de actividade, o responsável máximo responde por tudo o que a ela diga respeito. Pode delegar competências, pode descentralizar decisões, mas em última análise é sua a responsabilidade, directa ou indirecta, de tudo o que aconteça, de bom ou de menos bom.
Num clube desportivo, o presidente não pode pois ficar à margem das críticas, incluindo as que são dirigidas ao desempenho das suas equipas. No Benfica também é assim, e Luís Filipe Vieira não está isento de culpas quanto ao caminho que o futebol do Benfica tem seguido - agora, que delegou poderes em Rui Costa, e sobretudo antes, quando reservou para si a gestão desportiva, e cometeu erros dos quais muito aqui se falou na altura.
Mas há que distinguir claramente duas coisas. Uma é a capacidade actual, anterior ou futura da equipa de futebol do Benfica, outra é a vitalidade do próprio clube, enquanto entidade institucional, empresarial, social, multifacetada e polidesportiva. Se no primeiro caso as coisas não estão bem, no segundo, a nau mostra-se firme, segura e capaz de enfrentar os ventos do futuro.
Quando olhamos para esta crise, deve-se pois ter a clara noção daquilo que está em causa, de quais são os problemas do Benfica de hoje, de quais eram os de há uns anos atrás, e saber relativizar o verdadeiro significado dos últimos resultados, ou mesmo de mais uma época futebolística decepcionante, até porque o Benfica não joga sozinho e a concorrência é muito forte. A insatisfação natural – apaixonada mas nem sempre lúcida - pela perda de mais um campeonato, não pode justificar a alienação de todo um capital de crescimento que o clube da luz alcançou nos últimos anos, e que ninguém de boa fé poderá negar.
Ao contrário de um passado não muito distante, o Benfica, em 2009, não têm qualquer problema de credibilidade institucional, tem um modelo empresarial definido e profissionalizado, tem as contas equilibradas, dispõe de boas e modernas infra-estruturas, tem equipas a discutir os títulos das mais variadas modalidades, tem um canal próprio de televisão, mantém intacta a chama da sua grandeza e o calor dos seus adeptos, tem o futuro diante dos seus olhos. O problema actual do Benfica é pois meramente desportivo, dentro do âmbito desportivo é estritamente futebolístico, e creio convictamente que estará a ser analisado e atacado com rigor e serenidade. Resume-se, no fundo, aos anos que o clube leva sem conquistar o campeonato nacional, e estará totalmente resolvido no dia em que essa competição lhe voltar a sorrir – o que, para suceder com a frequência desejada, exige um longo caminho de coragem e paciência. Não se trata de desvalorizar os triunfos desportivos - razão de ser de qualquer clube -, mas sim de contextualizar a situação presente e aferi-la com rigor, até porque só um integral conhecimento dos problemas permitirá chegar às suas soluções. E não é certamente com estados de alma auto-destrutivos que o Benfica conseguirá isso.
A solução para os problemas da equipa encarnada não é fácil, mas não será seguramente tão difícil como foi resgatar o clube do abismo em 2001. Hoje os problemas são diferentes, e a resposta terá que ser mais serena e ponderada. Não se pode confundir a árvore com a floresta. Não se pode confundir a dificuldade em conseguir resultados no futebol com a vitalidade e o crescimento sustentado de um clube tão grande como o Benfica.
Por tudo isto, mesmo havendo que atribuir algumas responsabilidades pela crise de resultados a Luís Filipe Vieira, mesmo não o inocentando dos erros que, ao longo de seis anos, necessariamente cometeu, não creio que existam suficientes motivos para globalmente pôr em causa a sua gestão. Até porque não acredito que alguém esteja neste momento em condições de fazer melhor, e os cantos de sereia que custaram ao clube da Luz décadas de problemas permanecem bem vivos, estão sempre à porta, e preparados para navegar o populismo do descontentamento.

QUE FAZER COM QUIQUE?

Em futebol, quando os resultados não são os desejados, o alvo imediato é normalmente o treinador. É quase sempre assim, em qualquer clube, em qualquer país, e não esqueçamos que já esta época, o agora tão aclamado Jesualdo Ferreira esteve por um fio, após três derrotas consecutivas e perante as hipóteses de afastamento da Champions – aquele golo em Kiev no último minuto… - e da Taça de Portugal, cuja eliminatória com o Sporting foi decidida por penáltis.
Se nem todos os treinadores se adaptam a todos os clubes, a verdade é que muitas das vezes o seu despedimento acaba por ser precipitado, ou servir para esconder incompetências de outros protagonistas. O Benfica das últimas décadas – onde desde 1992 nenhum treinador permaneceu duas épocas – é o perfeito case-study da relação clube-treinador.
Em 17 anos passaram pela Luz: Sven-Goran Eriksson, Tomislav Ivic, Toni, Artur Jorge, Zoran Filipovic, Artur Jorge após a doença, Mário Wilson, Paulo Autuori, Mário Wilson novamente, Manuel José, Marío Wilson outra vez, Graeme Souness, Sheu Han, Jupp Heynckes, José Mourinho, Toni novamente, Jesualdo Ferreira, Fernando Chalana, José António Camacho, Giovanni Trappatoni, Ronald Koeman, Fernando Santos, José António Camacho novamente, Fernando Chalana novamente e por fim Quique Flores. 19 treinadores (entre os quais vários ex ou futuros campeões europeus, ex ou futuros seleccionadores nacionais, ex ou futuros campeões nacionais), 24 mudanças de treinador e uma média de oito meses e meio para cada um deles (!). Desde 1991-92, só Toni em 1994 e Trappatoni em 2005 se sagraram campeões.
Um dos problemas do Benfica foi pois a constante mudança de treinadores. Mas se em muitos casos essas alterações deveriam ter sido evitadas (Toni em 1994, Mourinho em 2000, Trappatoni em 2005 ou Fernando Santos em 2007), outros houve em que as mesmas pecaram por tardias. O que teria sido a história do Benfica se a Artur Jorge não tivesse sido permitido dispensar no defeso de 1995, a seu bel-prazer, de uma assentada, e de um clube sem dinheiro, jogadores como Neno, Veloso, Mozer, Vítor Paneira e Isaías? O que teria sucedido em 1999 se José Mourinho tivesse logo iniciado a época em vez de Jupp Heynckes?
Como se percebe por estes exemplos, nem sempre a estabilidade é um valor por si só, algo que serve para o futebol, para a política e para a vida. Não se ganha nada com uma estabilidade assente sobre um equívoco, e há que ter a coragem de mudar quando é preciso.
No caso concreto de Quique Flores, não sei, em consciência, o que deva ser feito. Sei sim, o que não se pode, de modo algum, fazer.
Se Quique é bom ou mau treinador, apenas uma pessoa poderá responder, e essa pessoa é Rui Costa. Só ele assiste aos treinos, só ele conhece os planos de trabalho, só ele está em condições de avaliar os métodos utilizados, a compreensão dos jogadores face aos mesmos, a disciplina e profissionalismo existentes, o pulsar do balneário perante o técnico espanhol. Sabendo nós todos que o problema do futebol benfiquista não se esgota no treinador, só Rui Costa terá à disposição todos os dados para perceber se Quique Flores faz parte desse problema, ou se, pelo contrário, dele pode ainda vir a ser solução. Deve ser pois Rui Costa - conhecedor de muitos grandes treinadores, e do futebol ao mais alto nível - a decidir a continuidade ou não do técnico benfiquista, sem interferências de ninguém, dentro ou fora do clube.
O que não pode suceder outra vez – como com Artur Jorge, ou mais recentemente, com Fernando Santos – é permitir que o treinador inicie a nova época fragilizado e, perante a contestação generalizada, se deixe cair nas primeiras jornadas de 2009-10, obrigando a mais um ano de transição, comprometendo o processo de consolidação da equipa, colocando tudo na estaca zero pela enésima vez.
Sabendo o que a casa gasta, não creio que seja possível ver um Quique Flores firme e convictamente apoiado por todos (dirigentes, jogadores, adeptos, imprensa) à partida para uma nova época, depois de o seu trabalho ter levantado as fortes dúvidas que mais abaixo acabei de descrever. Esse filme já foi bastas vezes visto na Luz, e uma nova sessão pode vir a tornar-se ainda mais dramática.
A estrutura de uma equipa de futebol depende por vezes mais da força, do perfil, da mística do seu plantel, do que propriamente da pessoa do treinador. Veja-se, por exemplo, como o F.C.Porto muda de técnico com alguma frequência e mantém a mesma identidade em campo. É mais importante não mexer muito num plantel, manter as suas principais referências, dotá-lo de organização colectiva, de hábitos de trabalho e disciplina, de dinâmica ganhadora, de equilíbrios vários (entre os quais o salarial), do que insistir num treinador necessariamente enfraquecido pelos resultados e pela desconfiança em redor de algumas das suas opções.
Mas, como disse acima, esta é uma decisão que só Rui Costa tem que tomar. Ou prescindir de Quique no fim desta época e, mantendo a base do plantel, optar por um treinador português mais familiarizado com o nosso futebol; ou em alternativa, segurar o espanhol com unhas e dentes, contra ventos e marés, na vitória e na derrota, perante a mais dramática contestação, até 2010, para o que terá de estar neste momento absoluta e totalmente seguro dos méritos do espanhol.
A ele a decisão. Que decida bem.

DEZ MESES, DEZ PECADOS - Os erros de Enrique Sanchez Flores no Benfica

1-Tardia definição do plantel
O Benfica chegou às vésperas do início das competições com 35 jogadores a trabalhar diariamente no plantel. A lista de dispensas foi tardia, o que, além de complicar a vida aos atletas, perturbou a união do grupo e dificultou o trabalho táctico.

2-Dispensas de Petit ,Nuno Assis e Léo
Ainda hoje não sei quem foi o responsável pela saída de Petit, mas continuo sem a entender. Como já disse a propósito de Nuno Gomes, um jogador com vários anos de casa, com troféus ganhos no clube, com experiência nacional e internacional, vale muito mais do que a sua simples qualidade futebolística. Entregar Petit a custo zero (como havia sido feito com Geovanni, Karagounis entre outros) foi o primeiro dos erros do Benfica 2008-09.
Nuno Assis não é uma estrela. É contudo um jogador com qualidade, com cultura táctica, com experiência, foi campeão no Benfica, estava já identificado com o clube e está agora a revelar no Vitória de Guimarães (onde é claramente o melhor) porque motivo nunca deveria ter saído. Percebe-se que Nelson tenha sido vendido por 5 milhões. Não se aceita que Nuno Assis tenha sido oferecido. Direi mesmo, sabendo ser uma opinião polémica, que olhando ao custo-benefício não o trocaria por Aimar.
Léo é o caso mais estranho de todos, pois foi encostado por teimosia do técnico, sem que no plantel existisse qualquer alternativa credível para o seu lugar. Era o melhor defesa-esquerdo a jogar em Portugal, e o Benfica deu-o generosamente, quando talvez tivesse sido mais aconselhado aumentar-lhe o ordenado e garantir assim uma maior motivação do atleta. Dificilmente o Benfica encontrará outro como ele nos próximos tempos.

3-Modelo de jogo desadequado e fraco conhecimento da realidade portuguesa
O 4-4-2 que Quique privilegiou no início da época é um sistema amplamente utilizado em Espanha, mas que no nosso futebol, onde a maioria das equipas jogam fechadíssimas, não faz grande sentido. Desde que teve Suazo à disposição, o técnico espanhol evoluiu para um 4-2-3-1, que continuou a enfermar dos mesmos erros, agravados pelo facto de o hondurenho “pedir” um jogo mais directo para a sua velocidade, algo que só teve algum êxito pontualmente, em jogos onde o Benfica teve pela frente adversários abertos e em busca da vitória – Dragão, Funchal com o Marítimo reduzido a dez e a perder desde os primeiros minutos, em Guimarães perante centrais muito subidos.
Sempre que se confrontou com adversários fechados, agressivos e pressionantes, o Benfica bloqueou, como se não estivesse à espera de tantas dificuldades. Talvez o afastamento de Diamantino (sobretudo ele) tenha contribuído para esse desconhecimento, e para a sensação que sempre ficou de Quique Flores - cuja carreira técnica se esgota no Getafe e no Valência - se surpreender, a cada jornada, com o futebol das equipas portuguesas.
A sua afirmação de que o Atlético de Madrid era superior ao F.C.Porto deixou-me com os cabelos em pé, pela ingenuidade e desconhecimento da capacidade e poderio do principal adversário, que é claramente superior à equipa madrilena.

4-Indefinição e instabilidade no onze
Em todo o campeonato, só por três vezes o Benfica repetiu o onze inicial. Ao contrário de F.C.Porto e Sporting que, mesmo com processos já muito mais sedimentados, apostaram mesmo assim num onze-base bem definido, Quique promoveu alterações sucessivas e inexplicáveis, desde as mudanças na baliza, às saídas e entradas de Sidnei, Yebda, Cardozo, Binya etc, não conseguindo, obviamente, que a equipa desse uma boa resposta colectiva.
Ninguém sabe, por exemplo, porque ficou Katsouranis no banco no último jogo. Mas também já ninguém estranha. Na verdade, o técnico espanhol habituou-nos a deixar a ideia de fazer a equipa por sorteio ou algo parecido. Tal como aliás as substituições, que muitas vezes ninguém entendeu. Já cheguei a pensar se não correspondem a um qualquer critério de tempo de jogo global por jogador.

5-Sucessivas adaptações posicionais
David Luíz a lateral-esquerdo; Ruben Amorim a extremo-direito; Pablo Aimar a avançado ou a médio-esquerdo; Katsouranis a central. De tudo isto se viu no Benfica 2008-09, ficando a ideia de que muitas dessas contorções contribuíram fortemente para o défice de rendimento dos respectivos jogadores e, consequentemente, para o afundar da equipa.
6-Estagnação desportiva de jovens talentos
Di Maria, com um talento fora do comum, é o mesmo jogador frágil e inconsequente da época passada; Cardozo regrediu a olhos vistos, parecendo triste e desmotivado; Urreta, mesmo dando um ou outro bom sinal, anda perdido pelo banco ou pela bancada; Sidnei já não é o central forte, rápido e goleador que era quando iniciou a época; Miguel Vítor não melhorou praticamente nada desde a temporada passada; Binya perdeu-se; Felippe Bastos nunca é sequer convocado; Balboa foi negligenciado sem razão aparente (sempre me pareceu não ser tão mau como o pintam). De todos os jovens do plantel do Benfica se esperava uma evolução maior e mais rápida. Como o mal não pode estar em todos eles, a responsabilidade só pode ser da equipa técnica.

7-Decréscimo de rendimento da equipa ao longo da época
Este é, quanto a mim, o dado mais preocupante da temporada benfiquista. A dada altura a equipa até foi capaz de empolgar, fazer bons jogos, bons resultados e comandar a Liga durante jornadas a fio, sem que ninguém pusesse em causa a justiça da liderança. Jogos contra o Nápoles, contra o Sporting, em Guimarães, no Funchal e em Coimbra foram bem conseguidos, e indiciavam estarmos perante o embrião de uma grande equipa. Por alturas do Natal ninguém arriscaria garantir que o Benfica iria ser o campeão, mas poucos duvidavam que conseguisse dar luta até final, até porque chegou a levar uma vantagem considerável sobre a concorrência directa.
Desde Janeiro a queda foi a pique, e com excepção do jogo do Dragão, não mais se viu o Benfica alegre, empenhado, confiante que, com maior ou menor brilho, se viu no início da época. Não se entende como pode uma equipa regredir tanto, sem que exista uma explicação natural (lesões nem houve muitas, desgaste internacional também não, salários em atraso não há).

8-Deficiente condição atlética
Há que separar dois aspectos distintos: por um lado a preparação física dada pela equipa técnica, por outro o próprio perfil atlético dos jogadores.
Se quanto ao segundo o Benfica tem um problema estrutural no seu plantel, que já mereceu neste espaço algumas considerações e que urge ser devidamente atacado, quanto ao primeiro aspecto, também o trabalho do conceituado Paço Ayesteran tem deixado muitas dúvidas.
Katsouranis, que é um jogador forte e robusto, arrasta-se no terreno. O próprio Yebda, que no início da época fazia valer a sua corpulência, deixou de se impor da mesma forma. Jogadores bem constituídos como Sidnei ou Cardozo dão mostras de fragilidade física. Resta Maxi Pereira, que com este ou outro treinador, com este ou outro preparador-físico, corre sempre em alta voltagem.
Nos primeiros jogos do campeonato (contra o F.C.Porto, por exemplo), ao vermos os jogadores do Benfica terminarem os jogos de gatas, supunha-se que tal significaria um fim de época de frescura e disponibilidade física. Pelo que se vê, não foi isso que sucedeu.

9-Não abordagem ao mercado de Inverno
Foi Quique Flores que disse, e não qualquer dirigente, que o Benfica não precisava de reforços de Inverno.
Sabe-se que o mercado de Janeiro tem muitas condicionantes, e não deve ser explorado excessivamente. Mas como podemos entender que, não dispondo o Benfica de um defesa-esquerdo de raiz no plantel, e tendo já prescindido de Léo, não tivesse, pelo menos, dado luta ao F.C.Porto pela contratação de Cissoko? Como entender que não tenha sido ponderada a aquisição de um ala-direito, já que o técnico queria insistir num sistema de jogo predominantemente flanqueado, e tinha já posto Balboa de lado?

10-Discurso desculpabilizador
Ao contrário da maioria das pessoas, não creio que o discurso de Quique Flores tenha alguma vez sido o mais adequado.
Alem de se perder em floreados (como o seu próprio nome induz…) que ninguém entende senão ele próprio, mas todos acham de grande eloquência, nunca explicou devida e claramente a grande maioria das questões acima descritas. É simpático, bem falante, educado, fala muito, mas diz pouco ou nada sobre a equipa e os jogos. Demonstrou também pouca prudência nalgumas das suas mais polémicas declarações, mostrando insensibilidade para com o perfil típico do adepto benfiquista (o terceiro lugar como objectivo, a superioridade genética do F.C.Porto, o ir para Espanha a qualquer momento etc)
Pior que isso foram as sucessivas críticas à equipa, individuais ou colectivas, que acabam por cheirar a estratégia de desculpabilização. Os episódios das críticas públicas a Sidnei, Léo, Quim, Cardozo, Balboa, Reyes (este com particular dureza), realçam uma forma de estar que não é de um verdadeiro lider, que nada aprecio, e podem ter estado na base das quebras de rendimento de alguns dos jogadores em causa. A relação com alguns elementos do plantel parece ser boa (Luisão, Katso, Amorim, David Luíz, Aimar), mas alguns outros não podem deixar de sentir razões de queixa - por exemplo Di Maria que, perante a presença de Maradona, ficou sentado no banco, num jogo que até aconselhava a sua entrada, e em que se poderia valorizar bastante, embora as coisas acabassem depois por correr bem.

CLASSIFICAÇÃO REAL

Não vi os jogos do Sporting e do F.C.Porto. Se o primeiro coincidiu com o do Benfica, o segundo coincidiu com um Portugal-Espanha em Hóquei em Patins, modalidade que me é muito querida e que não dispenso. Mesmo sem tais impedimentos, confesso que talvez não tivesse visto nenhum dos jogos, pois se há coisa que eu não gosto no futebol é assistir, pela televisão, a jogos de clubes adversos. No estádio é diferente, há todo um clima, o colorido das bancadas, a análise do jogo que só com total visão do campo é possível de ser feita. Na TV, o futebol é apenas emoção e arbitragem – a primeira reservo-a para o Benfica, a segunda pouco me interessa, por paradoxal que pareça tal afirmação num post da classificação real.
Tudo isto para dizer que não me resta outra alternativa senão considerar o resultado do Sporting como real, e ao do F.C.Porto subtrair apenas o terceiro golo que, vi no resumo, foi obtido em fora-de-jogo. Portanto falarei apenas do jogo do Benfica, e voltarei aos outros se for caso disso, e se puder ver esta noite os resumos detalhados.

BENFICA-ACADÉMICA:
Um penálti claro sobre David Luíz, um golo limpo invalidade sabe-se lá porquê, e, logo no início, um fora-de-jogo tirado a Aimar quando este seguia isolado para a baliza, são ocorrências mais do que suficientes para considerar esta como uma das piores arbitragens desta Liga, a par com as do Benfica-Sp.Braga, Benfica-Nacional, Belenenses-Benfica e Sp.Braga-F.C.Porto.
Nunca tinha ouvido falar deste árbitro (é madeirense, afinal), e não quererei ouvir tão depressa. Entrou na Luz com o claro intuito de colocar o Benfica fora da carroça do título e, quem sabe, compensar o mediatismo de dois penáltis mal assinalados – um no Algarve contra o Sporting, outro na Reboleira.
Nenhum dos lances que referi me deixa qualquer dúvida. Só a expulsão de Hélder Cabral pode levantar alguma polémica, ainda que pareça existir contacto – nem teria lógica Reyes deixar de prosseguir o lance naquele local sem ser impedido. Trata-se de um cartão amarelo, que só deu expulsão porque o jogador já tinha outro. Ele e outro dos defesas da Académica ficaram aliás, neste jogo, impedidos de defrontar o F.C.Porto na próxima jornada, o que não deixa de ser curioso.
Pouco mais haverá a acrescentar. O campeonato está perdido e nem adianta perder muito mais tempo com estas questões. Mas, sem erros de arbitragem, o Benfica estaria na segunda posição, e ainda a lutar pelo título. Coisas que acontecem…
Resultado Real: 2-1

CLASSIFICAÇÃO REAL
F.C.PORTO 51
Benfica 48
Sporting 45