PONTAPÉ DE SAÍDA

No dia em que se inicia mais um campeonato nacional – é assim que o vou voltar a chamar, farto que estou de alterações e patrocínios, até porque a mim ninguém me paga -, importa fazer uma breve análise às forças em presença, designadamente aos crónicos candidatos ao título.
Há que começar por lembrar que qualquer observação que se faça sobre Benfica, Sporting ou F.C.Porto e sua capacidade relativa, não pode deixar de levar em consideração a classificação do campeonato anterior, no qual os portistas passearam uma superioridade quase chocante. É dessa premissa que se tem de partir, e sem a ter em mente, qualquer reflexão carecerá de objectividade e rigor. Importa portanto e sobretudo perceber se Benfica e Sporting criaram as condições necessárias para contrariar a clara vantagem que os dragões evidenciaram na época transacta. A meu ver o Sporting fê-lo, e apresenta-se como forte candidato ao título, enquanto o Benfica, salvo qualquer surpresa – nas quais o futebol é, como sabemos, fértil -, apenas terá, na melhor das hipóteses, reduzido distâncias para o rival nortenho.
Como benfiquista lamento, mais do que ninguém, não vislumbrar condições para embarcar na onda de euforia criada, sobretudo, por certa imprensa ávida de fazer dinheiro à custa da dimensão do clube encarnado.
As razões para este pouco optimismo são várias, e uma reflexão fria conduz-nos rapidamente a elas. Em primeiro lugar a SAD benfiquista não escapou uma vez mais aos pecados que lhe têm sido comuns desde há três épocas a esta parte, e que são já uma triste imagem de marca do clube encarnado a cada defeso que passa. Indefinição tardia do plantel – que de resto ainda não está fechado, justamente no dia em que se inicia a competição –, saída e entrada de jogadores em número considerável, alterações radicais em toda a estrutura profissional, foram aspectos que se voltaram a repetir no Benfica, sem que ninguém pareça perceber que é justamente neles que se iniciam as derrotas. Depois, julgo que as perdas de Petit, Rui Costa e Cristian Rodriguez são golpes demasiado duros para um plantel já de si algo vulgar ( no verão anterior haviam saído Simão, Miccoli, Karagounis e Anderson), e tenho fortes dúvidas que algumas das individualidades contratadas mantenham, ao longo de uma temporada longa e desgastante, o nível e a regularidade de rendimento físico e mental que aqueles três elementos normalmente asseguravam. Creio pois que ente saídas e entradas, o Benfica em pouco terá ficado a ganhar, e como tal, só por milagre – e é isso que espero de Quique Flores – encontrará forma de aniquilar, no curto prazo, uma distância competitiva enorme que tem deixado cavar pelo F.C.Porto, e ultimamente também pelo Sporting. É sobretudo no novo técnico que podem recair as esperanças de uma melhoria do Benfica, e só ele poderá fazer deste plantel encarnado uma equipa ganhadora. Por outras palavras, se o Benfica por acidente se sagrar campeão nacional em Maio próximo, Quique será um verdadeiro herói, como o foi Trapattoni há umas épocas atrás, perante – recorde-se – a incompreensão generalizada da original nação benfiquista.
Se o Benfica dificilmente se apresentará em condições de discutir o título, há que dizer também que, por outro lado, os portistas não parecem tão fortes como na época finda. As saídas de Bosingwa e Paulo Assunção foram até agora muito mal resolvidas, e o caso Quaresma pode deixar marcas profundas, quer em termos de alinhamento táctico (e o Benfica sofreu isso com o “sai-não sai” de Simão há dois anos), quer sobretudo no campo emocional.
Não creio que Sapunaru, Benitez, Tomás Costa, Guarin ou Hulk valham os cerca de 15 milhões de euros que o F.C.Porto gastou com eles - sobretudo tendo em conta que mantém uma rede de jovens jogadores emprestados com bem maior qualidade -, nem que algum deles consiga fazer esquecer as perdas de Bosingwa e Paulo Assunção. A única contratação de grande qualidade feita pelos dragões foi Cristian Rodriguez, mas a mais que provável saída de Quaresma acaba por equilibrar a balança em relação à posição de extremo, com a particularidade de o uruguaio induzir mais uma vez Jesualdo a optar por um 4-3-3, que aparentemente só era mantido fruto da rigidez táctica imposta pelo criativo futebol do cigano numa das alas.
Olhando para o plantel do F.C.Porto impressiona a aparente fragilidade do seu sector defensivo, onde o irregular Helton figura atrás de um quarteto formado pelo insatisfeito Bruno Alves, pelo cada vez mais veterano Pedro Emanuel, e por um conjunto de laterais de mais do que duvidosa qualidade, onde apenas Fucile, de algum modo, parece ser excepção. À sua frente, para um meio-campo defensivo órfão de Paulo Assunção, não se vêm grandes alternativas. Enfim, talvez estaremos perante um ano de transição no dragão.

Quem fica a ganhar com as indefinições de F.C.Porto e Benfica é claramente um Sporting que, gastando menos dinheiro que os rivais, e mantendo um orçamento inferior, consegue apresentar uma equipa compacta e extremamente competitiva à partida para a nova época.
Os motivos para esta realidade são fáceis de explicar: os leões mantém o mesmo treinador há quatro épocas, mantém uma espinha dorsal constante e identificada com a cultura do clube (Tonel, Polga, Veloso, Moutinho, Liedson entre outros), seguraram os seus principais jogadores, contrataram pouco e bem (três internacionais), e partem com uma dinâmica de vitória considerável alicerçada nos triunfos da Taça de Portugal, a terminar a época anterior, e na Supertaça, a iniciar a corrente ( contando com duas vitórias claras sobre cada um dos rivais em poucos meses). A acrescentar a estes aspectos, há que dizer que o Sporting vê agora também crescer alguns dos seus talentos, que com mais um/dois anos, começam a entrar na fase de maior maturidade, durante a qual normalmente se conquistam títulos – a este nível é absolutamente notável a progressão de Yannick Djaló, jogador que julgo estar já hoje na antecâmara da selecção A.
Muito embora seja o Benfica a dominar as primeiras páginas dos jornais, há pois que dizer que o verdadeiro campeão da pré-temporada é o Sporting. Os leões dividem com o campeão F.C.Porto a favoritismo quanto à conquista do título, e no caso de ter mesmo de apostar num deles, não hesitaria em colocar as fichas na equipa de Paulo Bento.
Vejamos em resumo, para concluir, os pontos mais fortes e mais fracos de cada um dos grandes:


F.C.PORTO

(+) cultura de campeão ; organização em campo e fora dele; impressionante capacidade atlética dos seus jogadores; contratação de Rodriguez ; manutenção de Lucho e Lisandro, os seus dois melhores jogadores
(-) saídas de Bosingwa e Paulo Assunção sem que se vislumbrem substitutos à altura ; indefinição quanto ao futuro de Quaresma ; difícil gestão de expectativas depois de uma época de grande superioridade ; sector defensivo fragilizado


SPORTING

(+) manutenção de toda a estrutura técnica e do plantel ; boas e cirúrgicas contratações ; dinâmica de vitória considerável, depois das vitórias nas taças ; crescimento e maturação de alguns dos seus jovens talentos ; lote de opções considerável, sobretudo do meio-campo para a frente
(-) Rui Patrício continua a parecer demasiado verde para as ambições do clube ; remota eventualidade de problemas de gestão de balneário, agora que os lugares no onze começam a ser mais disputados


BENFICA

(+) contratação de um técnico bastante promissor e de um preparador físico de topo europeu ; possível explosão de talentos como David Luíz, Urreta ou Di Maria ; melhoria ao nível do jogo aéreo, com as manutenções de Cardozo, Katsouranis, Luisão e a contratação de Yebda ; tem o melhor guarda-redes da liga
(-) baixas graves no plantel como os experientes internacionais Petit, Rui Costa e Rodriguez, para além de outros bons jogadores como Adu ou Nuno Assis ; nova revolução, com substituição de toda a estrutura ; mais uma vez entradas e saídas de jogadores em catadupa, e sem aparente critério ; mais uma vez definição tardia do plantel, com os folhetins relativos a contratações a arrastarem-se ; plantel demasiado estrangeirado, sem grandes referências clubistas, e com demasiados jogadores pouco dados ao sofrimento de uma liga muito combativa ; debilidade atlética de grande parte dos jogadores do plantel ; laterais baixos e rigidos nas basculações ; alas e centro-campistas pouco dados a tarefas defensivas

7 comentários:

Paulo Santos disse...

Visão extremamente pessimista e redutora relativamente ao Benfica, quanto ao resto, estou mais ou menos em sintonia...

Abraço

LF disse...

Lamentavelmente não consigo seguir o optimismo dominante.
Bem que gostaria de um dia ter de fazer um post a penitenciar-me do que agora escrevo.

Anónimo disse...

Estou totalmente de acordo com o post. Só espero que dêem tempo a Quique, e que não recomece tudo de novo para o ano...

Continua com o bom trabalho no blog!

Anónimo disse...

Concordo com o facto de não seguir este optimismo, criado principalmente após a contratação de Reyes e a exibição frente aos holandeses. Concordo que os nossos principais adversários mantiveram as estruturas da época passada e com os mesmos treinadores, as mesmas dinâmicas e formas de trabalhar, partem em vantagem em relação ao Glorioso. Contudo penso que estas não são razões para um pessimismo tão vincado de sua parte, a época passada foi mau de mais, a maioria dos jogadores eram maus, era necessário uma ruptura. Dos jogadores que saíram só petit ainda não tem substituto altura.Perdemos Rodriguez, ganhamos Reyes(muito melhor na minha opinião), perdemos o Rui, ganhamos Pablo Aimar ( mais novo que Rui Costa e com a mesma capacidade de passe e desiquilíbrio).
è fundamental dar tempo a Quique, acredito que com estabilidade e tempo a equipa poderá fazer coisas bonitas, se não este ano para o ano, de certo.

Saudações Benfiquistas

Anónimo disse...

"Entradas e saídas sem critério"....
A meu ver nunca antes foram tão bem delineadas

Vasco;saudaçoes benfiquistas

Anónimo disse...

Conforme disse num dos posts anteriores, a maior critica a meu entender,é estarmos em pleno inicio do campeonato e o plantel ainda nao estar fechado. Tem sido uma constante nos ultimos anos, bem sei que por vezes exitem questões que obrigam os clubes a retardar as vendas na ância de vendas mais altas, veja-se o caso do Cigano.
Relativamente ao meu SLB, a equipa é de facto mais equilibrada a nível de soluções, temos praticamente 2 jogadores por posição, e entendo que os jogadores dispensados foram bem dispensados (à excepção de Adu).

Anónimo disse...

Entrevista ao bloguer Vermelhovzky. Hoje, no benfica20082009.blogspot.com