OUSAR SOFRER, OUSAR VENCER !

Estamos nas meias-finais do Campeonato do Mundo !
Ainda hoje, passadas já duas noites de sono, me custa a acreditar estar perante um feito de tal dimensão na história desportiva portuguesa. O mundial de 1966 e de Eusébio, que todos nos habituámos a ver como um momento único e insuperável, está assim pelo menos igualado, com a particularidade de então não existirem oitavos-de-final - sendo mais fácil chegar longe -, pelo que todos os elogios que se possam fazer a este grupo de trabalho (jogadores e técnicos) soarão a pouco.
Se o acidentado jogo com a Holanda nos tinha feito sofrer até ao limite, este jogo com a Inglaterra, à semelhança do Euro 2004 também decidido no desempate por penáltis (que previsão certeira a minha, 0-0 e vitória por penáltis...), fez-nos mais uma vez suster a respiração, fazer bater o coração e explodir de alegria no final.
Como em 2004, o herói voltou a ser Ricardo.
Costuma-se dizer que os desempates por grandes penalidades são uma lotaria, e normalmente é isso que acontece. Quando um guarda-redes defende três penáltis em quatro (algo que nunca tinha acontecido em mundiais), julgo não ser legítimo nem justo dizer que se tratou de obra do acaso. Ricardo fez de facto a diferença, e merece, sobretudo depois de todas as injustiças por que passou, o momento que está a viver. Para mim é reconfortante assinalar que, em termos de selecção nacional, sempre me posicionei a seu favor – designadamente quando muitos insistiam em Vítor Baía, que hoje nem no seu clube é titular - , mesmo não representando ele as minhas cores clubistas.
Antes de Ricardo brilhar, decorreram 120 minutos de futebol, nos quais, ajustando-se o empate, se houve alguém que mais perto esteve de chegar à vitória, esse alguém foi a selecção nacional. À excepção do período inicial da segunda parte, Portugal controlou quase todo o jogo, quer num primeiro tempo bastante equilibrado, quer após a expulsão de Wayne Rooney que fez retrair os britânicos para as imediações da sua área.
Essa expulsão acabou todavia por ser determinante, pois deitou por terra toda a agressividade ofensiva com que a equipa de Eriksson regressou dos balneários, e que parecia estar a virar a agulha dos acontecimentos em seu favor. Com um homem a mais e com um adversário novamente recolhido (apenas com Crouch na frente), Portugal partiu então para cerca de uma hora de jogo (prolongamento incluído) onde, controlando as operações em absoluto, nunca arriscou demasiado nas acções ofensivas, não conseguindo assim criar oportunidades flagrantes, mas permanecendo a salvo de qualquer contra-ataque inglês. É difícil saber o que aconteceria se por exemplo Maniche e Petit tivessem tentado mais vezes a meia distância, ou se Ronaldo se tivesse juntado a Postiga na área. Por um lado poderia ter ocorrido um golo, por outro, constantes perdas de bola teriam retirado aos portugueses o controlo do jogo que foram sempre mantendo de forma bastante segura. O futebol actual é assim: um jogo de gato e rato. Portugal parece hoje, mérito indiscutível do seu treinador, capaz de interpretar na perfeição um realismo de jogo que normalmente alimenta os campeões.
Quando o árbitro apitou para o final do prolongamento, ficou a desconfortável sensação de ter sido desaproveitada a vantagem numérica durante uma hora de jogo, e se ter seguido por um caminho de sofrimento máximo. De qualquer forma, a Inglaterra é a Inglaterra, e uns quartos-de-final do mundial são uns quartos-de-final do mundial.
Depois foi o que se sabe. Um grande Ricardo, a defender três penáltis, e a enviar os ingleses para casa, algo que depois das sucessivas falhas de Hugo Viana e Petit parecia dramaticamente posto em causa.
Venha o próximo !

PS 1: Desde que vi o meu clube perder uma final da Liga dos Campeões no desempate por penáltis em 1988– a derrota desportiva mais dolorosa de toda a minha vida –, Deus parece querer continuar-me a indemnizar por esse dano e já vou em seis desempates consecutivos (Benfica e Selecção) com êxito. Curiosidades...

PS 2: Tenho-me nos últimos dias deliciado a conferir aquilo que agora dizem os anteriores detractores do seleccionador nacional. Uns calaram-se (no fundo os mais respeitáveis), outros alteraram radical e oportunisticamente o seu discurso, e outros ainda (os mais ridículos) conseguem continuar a construir argumentos para criticar Scolari, seja pelas substituições, seja pelo facto de o futebol da nossa selecção não ser tão espectacular como eles quereriam (no fundo e na maioria das vezes um estilo completamente ultapassado como nenhuma selecção joga), seja por qualquer outro disparate.
Casos a não perder, em qualquer televisão ou jornal perto de si.

13 comentários:

Anónimo disse...

Estamos com estrelinha de campeão, mas durará até quando?... Jogamos muito pouco, bem sei, não tinhamos Deco (insubstituivel) nem Costinha, mas mesmo assim penso não servir desculpa para que em todo o encontro não se ter criado uma única verdadeira oportunidade de golo! Os ingleses tiveram algumas e, quanto a mim, embora não se tenha falado muito (nada) disso, um possível pénalti por assinalar - havia muito bom menino que não hesitaria em faze-lo. Nos que andamos sempre a queixarmo-nos, o que dizer da nomeação de um árbitro argentino para este jogo, todos sabemos como os argentinos gostam dos ingleses !...

cj disse...

tenho a dizer que interessa, em nome da paz e da segurança, que os adeptos ingleses fossem para casa mais cedo.
grande arbitragem!

Anónimo disse...

Sinceramente não concordo muito com as vossas observações sobre a arbitragem.
Acho que a arbitragem deste jogo foi das melhores do Mundial.
A expulsão não tem discussão.
O lance da suposta mão do Nuno Valente é mais discutível, mas se há lances involuntários de bola na mão, este terá de ser considerado um deles.

Quanto ao facto de o árbitro ser argentino, e ligando-o com o interesse da FIFA em despachar os problemáticos ingleses, só posso dizer é que também pensei nisso antes (assim como nas declarações de Blatter, e no eventual interesse em compensar Portugal), mas durante o jogo nunca me lembrei de tal.
Além do mais, tenho as minhas dúvidas que os milhões de euros que os ingleses gastam onde se deslocam, não cheguem para compensar umas quantas montras partidas, e um ou outro adepto ensanguentado.

Anónimo disse...

Quanto ao jogar pouco, também não posso concordar.
Será que a Alemanha jogou muito com a Argentina ?
E a Itália ?
A França terá jogado mais, mas porque o Brasil deu espaços que pouca gente já dá.

O que é jogar muito no futebol actual ?

Jogar bonito, um futebol de ataque, com várias entradas em desequilíbrio e superioridade numérica na zona de ataque, já não existe ! A única equipa que vi fazer isso foi o Gana, e perdeu 3-0 com o Brasil (e podia ter levado ainda mais).

A este nivel temos de nos habituar a novos conceitos de futebol, com muito menor risco, onde a posse de bola até pode nem ser o mais importante (mas neste caso Portugal até a teve), menos bonito plasticamente, mas tacticamente mais interessante, e onde o que conta é basicamente a cobertura dos espaços, a anulação do adversário e a eficácia.
Como diz Scolari, quem joga lindo está em casa.

Devo dizer que convivo muito bem com este tipo de futebol, e não deixo de o considerar, de forma diferente, como um espectáculo fantástico.
Acho que foi um excelente jogo.

Quanto a oportunidades, não me parece que as nossas tenham sido menos:
- Tiago na sequência de um canto
- Figo num remate em arco, por duas vezes
- Remate de Ronaldo
- Postiga em boa posição atira para a...linha lateral
- Maniche no último minuto do prolongamento
Para referir só as que me lembro assim de repente.
Os ingleses tiveram duas, talvez mais flagrantes, mas não mais que isso.

Anónimo disse...

O resulatdista no seu melhor. Desdde que se ganhe tudo está bem... Continuo a achar que não tivemos uma única oportunidade de golo, uma que seja, só por puro divertimento é que se pode considerar que cada remate de Portugal foi uma ocasião de golo perdida!
Os milhões que, eventualmente, os ingleses gastam, nada representam em comparação com a péssima imagem que dão à competição... (são uma gota no oceano)

Anónimo disse...

Então e quantas oportunidades tiveram os ingleses ?

Há que compreender o futebol actual, e deixarmo-nos de vez de sonhar com o Portugal de Eusebio, o Brasil de 1982, ou com a Argentina de Maradona.
Portugal antigamente jogava muito bonito, com toques de calcanhar e tudo. Mas perdia.
Hoje a segurança defensiva (em todo o campo) é privilegiada pelas grandes equipas, e seus os jogadores raramente e desposicionam, mesmo em processo ofensivo, de modo a evitar contra-ataques.
As equipas atacam com poucos elementos e defendem com muitos, e por vezes até deixam a bola ao adversário, de modo a poderem juntar mais os seus elementos no seu meio campo, e dificultar mais o jogo do rival cortando linhas de passe e pressionando mais em cima.

Jogar bem é diferente de jogar bonito, e isto é algo que está em vias de extinção (o que é uma pena mas é uma realidade).
Jogar bem passa também por anular o adversário, e por vezes "estragar" o espectáculo.
Não é qualquer equipa que ganha competições neste "novo" futebol. É preciso consistência, solidez, eficácia, capacidade de choque, poder de concentração, força física e mental, maturidade táctica, e também alguma técnica.
E sobretudo, não cometer erros.

O Portugal de Scolari, bate-se bem nesta realidade e joga de igual para igual com qualquer selecção do mundo, algo impensável há uns anos atrás no nosso país, ainda que também com grandes jogadores sob o ponto de vista de habilidade técnica.

O jogo podia ter pendido para qualquer dos lados, mas a verdade é que Portugal nunca foi inferior à Inglaterra.
Mesmo à luz de critérios menos objectivos, fez mais remates, teve mais posse de bola, e julgo também ter tido mais cantos.




É claro que em termos de imagem internacional nada compensa os disturbios que (alguns ) ingleses fazem.
Mas em termos de receitas também têm um papel importante, e para a FIFA não sei o que interessará mais (a imagem dos ingleses ou o cantante).

Anónimo disse...

Brytto,

Se estás à espera de uma exibição cheia de oportunidades de golo e futebol de ataque, com cinco e seis jogadores envolvidos nas acções ofensivas, e espaços abertos por todo o lado frente à França, podes tirar o cavalinho da chuva.
Se ser resultadista é querer que Portugal não cometa erros, e seja mais forte nas várias componentes de jogo que o adversário, então viva o resultadismo.
É assim, e não de outra qualquer forma, que poderemos ter ambições a ser campeões.
O resto é poesia ultrapassada.

Jogar bem para mim é fazer aquilo que se pode para ganhar (dentro das regras evidentemente), ainda que isso possa significar um jogo enfadonho, e sem oportunidades.
Por vezes defender com oito ou nove homens perto da área, pode ser jogar bem. Depende das circunstâncias de jogo.

Anónimo disse...

...ou seja, sempre que se ganhe, jogou-se bem!
O que não se diria se Portugal tivesse perdido as grandes penalidades após 1 hora em superioridade numérica, o que não se diria de Scolari ter colocado Ronaldo 20m lá na frente sem tocar na bola, optando por tirar, note-se bem, o Pauleta, colocando o inofensivo Postiga, enfim...
Com esta "vaca", do tamanho do mundo tenho a convicção que o homem pode fazer as substituições que entender que nós iremos vencer sempre, é incrível!
Só espero que apesar de fazer algumas criticas ao Scolari, o Vedeta da Bola não me excomungue e em caso de novo sucesso pense que não tenho direito à minha natural alegria, pois cometi a blasfema de não concordar 100% com o São Scolari e não me mande directamente para o purgatório...amem.
Seguindo este raciocínio, estou crente que o vedeta da bola acha que a maioria dos franceses ( resto do mundo, incluindo espanhóis) que disseram "raios e curriscos" da sua selecção, não têm o direito de festejar o actual momento da sua selecção...

Anónimo disse...

Não Brytto.

Acho que tens tanto direito de festejar como qualquer outro português.

Eu até festejei um título nacional contigo, no estádio do Bessa, depois de passares uma temporada inteirinha a dizer as piores coisas da equipa e do treinador do Benfica.

Agora, no caso da selecção, só criticas o treinador. Já estás a melhorar...

O que eu acho é que tu, como muitas outras pessoas, não entendem nada do futebol moderno, e permanecem agarrados a conceitos futebolísticos dos anos 80 que nenhuma equipa ou treinador já utiliza.
Depois, não compreendendo as vitórias, viram-se para o factor sorte.

É claro que Portugal teve sorte nos penaltis, mas se jogasse como tu querias, se calhar nem lá chegava. Possivelmente nem ao mundial iria...


Eu não concordo a 100% com Scolari. Aliás, dificilmente alguma vez concordarei a 100 % com quem quer que seja.

Por exemplo achei a substituição do Pauleta algo precipitada.

Acho também que jogámos mal com Angola, apesar de ganharmos, pois estavamos a defrontar uma equipa bastante inferior.

Com Holandas, Inglaterras ou Franças (ou Brasis ou Alemanhas), uma vitória, qualquer que seja, pressupõe sempre bastante mérito, pois estamos a defrontar as melhores equipas, os melhores jogadores e técnicos do mundo.
Só o facto de impedir que elas ganhem já é difícil.

Se falarmos em termos de beleza de jogo, talvez a conversa seja outra. Mas o mundial não é um concurso de beleza, nem a classificação é feita de notas artísticas...

Anónimo disse...

Só para complementar.

No fundo não se trata de concordar a 100 %, ou a 90% com Scolari e as suas opções.

Trata-se é de reconhecer que ele se trata de um extraordinário treinador, ao nivel dos melhores do mundo, o que custa muito a admitir por muito boa gente no nosso país.

Mas tu até nem és do F.C.Porto, pelo que te custo a perceber.

cj disse...

para quem quiser recordar os penaltys.
http://www.youtube.com/watch?v=fu34Iezwgp8

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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