ESTE HOMEM É UMA MÁQUINA

Pode admirar-se um jogador de um clube rival? A resposta é sim. É raro, mas acontece.
Lembro-me de ver adeptos do Real Madrid aplaudirem de pé Ronaldinho Gaúcho em pleno Bernabéu, e mais tarde fazerem o mesmo com Lionel Messi. Em Portugal não me recordo de ter acontecido tal, e digo desde já que, no estádio, durante um jogo, jamais o farei. Não por outro motivo que não seja evitar subtrair confiança à minha equipa - coisa que fazem com frequência alguns profissionais do assobio.
Mas com a serenidade que o teclado proporciona, cá estou eu a manifestar a minha grande admiração pelo ponta-de-lança do Sporting, Viktor Gyokeres.
Custa-me reconhecer (por ele ser do Sporting) que, nos últimos vinte anos, talvez seja o jogador que mais impacto criou na Liga Portuguesa. No Benfica, só eventualmente Jonas terá conseguido algo semelhante - embora com características diferentes, também andou com a equipa ao colo durante alguns anos. Mas se tivesse de escolher um, só um jogador que tenha passado por Portugal neste período, era provavelmente o sueco que eu trazia.
32 golos em 24 jogos, melhor marcador do Campeonato, melhor marcador da Champions, melhor marcador da Liga das Nações, também muitas assistências e um constante massacre nas linhas defensivas adversárias. Só não percebo como chegou aos 25 anos sem ninguém dar por ele.
Lewandowski e Kane caminham para o ocaso (não já, mas em breve), e a este nível só resta Haaland. Não vejo outro ponta-de-lança como Gyokeres. Tem talvez de melhorar um pouco o jogo aéreo, mas ainda acredito que o faça. A partir daí será ainda mais imparável do que já é.
Embora a contragosto, tenho de me curvar e tirar-lhe o meu chapéu. O que tem feito é impressionante.

O FUTEBOL "MODERNO"

Belenenses, Académica, Vitória de Setúbal, Beira Mar, Marítimo. Estes são exemplos de clubes portugueses, de nível médio ou médio alto, com história, com adeptos, com boas instalações, representando cidades com população e massa crítica, que estão remetidos para as divisões secundárias, quando não para os distritais. Cheira-me que o Boavista será a próxima vítima.
Por outro lado, vemos uma primeira divisão carregada de inexistências, como AFS, Casas Pias,  Aroucas ou Moreirenses. SAD's sem gente, sem identidade, algumas sem sequer estádio. 
É a lei dos investidores, que não são mais do que parasitas que usam o futebol para lucrar com as múltiplas transferências de jogadores (negócios de milhões, transcontinentais e nada escrutinados) e direitos televisivos (tudo isto numa perspectiva optimista), ou simplesmente para lavar dinheiro (se quisermos ser mais cáusticos). O associativismo? Morreu - ou foi assassinado!
Ora é precisamente esta gente obscura que uma centralização de receitas vai favorecer. É precisamente para esta gente que a liguinha do Proença parece trabalhar.
Eu gostava de ver o verdadeiro futebol português de volta. A não ser possível, então encolha-se o campeonato de modo a termos equipas com representatividade, como vemos nas melhores ligas da Europa.

FARTINHO DE MARTINEZ

O futebol de selecções perdeu algum do seu encanto. As grandes fases finais ainda se levam, mas estas paragens a meio da temporada são uma tortura para a maioria dos adeptos - os principais adeptos, os que pagam o futebol. 
Além de que há jogos a mais (até a Champions, com o excesso de equipas e de jornadas, começa a banalizar-se). Um dia, matam a galinha dos ovos de ouro. Quem dirige o futebol está-se nas tintas para o futuro. Quer viver o presente, à grande e à conta dele.
Dito isto, não deixo de ir espreitando os jogos de Portugal. E cada vez percebo menos o seleccionador Roberto Martinez.
A sensação que me dá é que um qualquer Professor Neca faria o mesmo. A ganhar muito menos dinheiro.
A primeira fase de qualificação até me iludiu. A fase final do Euro 2024 desiludiu-me. Agora? Acho que se pode concluir que esta contratação, de alguém com um palmarés curtíssimo, foi um tiro ao lado. 
O homem até é simpático. Até canta o hino. Mas a equipa joga pouco, os onzes, as tácticas e as substituições só ele entende, e as convocatórias são absurdas.
Florentino brilha na Champions, vem um tal Samu Costa, que só joga contra Valladolids e Osasunas (jogar na liga espanhola dá privilégios, pois também lá está o avançado so Las Palmas). Pote - por quem sou insuspeito de nutrir qualquer simpatia -, ou porque está lesionado, ou porque está bom, não vai (Nuno Santos, quando podia ir - idem -, idem). Quenda é chamado com apenas quatro jogos como profissional, e depois, podendo bater um simpático record de décadas, num jogo sem interesse competitivo, não é utilizado nem um minutinho (que motivador...). Tomás Araújo é titular no Benfica - na selecção joga preferencialmente António Silva. Vitinha faz um grande jogo, a seguir fica no banco.
Em campo, ninguém percebe as tácticas - que parecem obedecer apenas a dois critérios: 1) meter Ronaldo sempre que lhe apeteça jogar 2) meter as outras estrelas, mesmo que joguem sobrepostos - numa espécie de tudo ao molho e fé em Deus.
A segunda parte na Croácia foi penosa. Vimos Cancelo a médio, vimos Semedo a central, e uma confusão de todo o tamanho, que baralhou toda a gente menos os croatas.
Não esqueçamos que este homem, este seleccionador, para a Bola de Ouro de 2023 votou em...Brozovic. Enfim, um cromo que não fazia cá falta nenhuma.

TENHO DE DIZER ISTO

Pedro Guerra é talvez o exemplo mais profundo, e que mais vezes terei citado em conversas pessoais, da diferença entre a percepção pública generalizada sobre determinada personagem e aquilo que a mesma revela em privado (e quem já teve oportunidade de conhecer figuras públicas sabe o quão frequente é esse contraste) .
Para os rivais era um tipo execrável. Para muitos benfiquistas... também. Até que foi afastado do clube, em larga medida pela força que essa percepção criou, e que o próprio, diga-se, não quis ou não pôde evitar.
Não só conheci Pedro Guerra pessoalmente, como foi das pessoas com quem cheguei a ter maior proximidade no clube. E tenho de dizer, das que mais simpatia, afabilidade e disponibilidade demonstrou.
Pedro Guerra era brincalhão, divertido, simpático, educado, e muito enérgico em tudo, e naturalmente na defesa do Benfica. Na defesa de Vieira, sim, mas também na defesa do clube que amava profundamente. 
Vi vários jogos a seu lado, inclusive no estrangeiro (um deles uma experiência inolvidável no estádio do Fenerbahce, num ambiente extremamente hostil). Convidou-me para participar em programas na BTV, quando lá tinha responsabilidades, nos saudosos tempos pré-premium. Convidava-me também, de vez em quando, para jogos das modalidades, que ele seguia e acompanhava com grande conhecimento e paixão. Foi ele quem, no dia do falecimento da minha Mãe, me enviou uma mensagem que jamais esquecerei, e que pretendia (e que ele sabia) aliviar-me dizendo que o Benfica tinha acabado de se sagrar campeão europeu de Hóquei em pleno Dragão - jogo que, como é óbvio, não pude ver nesse dia, e triunfo que ansiava desde a infância. 
Sei bem o que o Pedro sentia pelo Benfica. E, por isso, sei da injustiça de que era alvo por parte de quem não o conhecia. 
Foi com enorme pesar que tive conhecimento da sua morte. Das poucas pessoas a quem, no contexto do Benfica, talvez pudesse chamar amigo. 
Descansa em paz, Pedro. Haverá cá quem não te esqueça.
PS: passou um dia e, que me tenha apercebido, não houve uma palavra do Benfica para com alguém que trabalhou bastante tempo no clube, e, mal ou bem, defendeu-o nos media em alturas bastante difíceis. Não foi certamente a tratar assim os seus que o clube se fez grande. 

O MELHOR CENTRAL DA LIGA PORTUGUESA

É verdade que demorou a afirmar-se. Mas sempre teve talento e nos Juniores era o patrão da linha defensiva na equipa que venceu a Youth League, ao lado do então discreto António Silva. 
Quando teve as primeiras oportunidades, tremeu um pouco, depois lesionou-se. Foi emprestado. António Silva, com uma mentalidade de ferro, agarrou o lugar assim que pôde. Agora lutam pela mesma posição - pelo menos enquanto Otamendi não regressa ao seu país. 
António é muito bom, mas Tomás é, a meu ver, mais completo: são ambos rápidos, Tomás ganha no jogo aéreo e na capacidade de passe. Não sei quando regressará António ao onze titular (por mim já lá estava de novo, no lugar de Otamendi), mas sei que Tomás já de lá não sai. Aliás, ou me engano muito, ou sai é do clube no fim da época, a troco de muitos milhões.

 

EM DEFESA DE LAGE

Agora é fácil: depois de ter espetado quatro no FC Porto, ninguém se lembra de Munique, nem das críticas que alguns então fizeram ao treinador do Benfica.
Nisso estou de consciência tranquila. Como aqui escrevi, a única forma de sair vivo do Allianz Arena era meter um autocarro em frente da baliza. Foi o que o Benfica fez, e com um bocadinho de sorte tinha conseguido o desejado zero a zero. Perdeu 1-0. Diga-se que nunca na história os encarnados lá fizeram melhor do que isso.
Agora percebo também que, para entrar a 200% com o rival nortenho, num jogo que, em caso de derrota, podia objectivamente significar o adeus ao título, era preciso acautelar a equipa na Alemanha, numa partida em que perder não seria (como não foi) dramático. Por exemplo, Di Maria não entrou de início frente ao Bayern e foi o melhor em campo no "Clássico". Outros houve que pouparam esforços durante a semana, e entraram prego a fundo no domingo, com o resultado que se viu.
É bonito dizer-se que o Benfica entra em todos os jogos para ganhar, blá blá blá, blá blá blá. Mas os jogadores não são máquinas, e a história recente dos confrontos com o FC Porto diz que, para os vencer, é mesmo preciso sê-lo. A vitória de domingo começou pois a ser preparada na quarta-feira.
Bruno Lage fez uma recuperação épica em 2018-19. Em 2019-20 foi traído por circunstâncias que não conheço, mas desconfio nada tenham a ver com o trabalho do treinador. No Brasil diz-se que foi vítima da máfia das apostas. Em Wolverhampton realizou genericamente um bom trabalho. É um homem humilde, inteligente e que sabe muito bem onde está. Não podendo ter Guardiola ou Ancelotti, Lage é o treinador ideal para o Benfica.

MAIORES GOLEADAS SLB-FCP

Como facilmente se percebe, estes 4-1, assim como os 0-5 da época passada no Dragão, estão longe dos maiores registos da história, quando falamos de goleadas entre Benfica e FC Porto. O quadro acima mostra os resultados mais desnivelados de sempre em provas oficiais, destacando-se os 12-2 de 1943 (que é também a maior goleada absoluta em "Clássicos" portugueses). Abaixo, foto de um lance dessa partida.

INVERSÃO DE TENDÊNCIA?

Depois de uma sequência de sete derrotas e dois empates nas nove partidas anteriores, os últimos seis "Clássicos" trouxeram quatro vitórias e duas derrotas.
No Dragão, com três vitórias e três empates nos últimos dez anos, já se vinha estabelecendo uma certa normalidade. Na Luz, com estas duas vitórias consecutivas, as coisas também começam a ficar diferentes.
Pode ser que, finalmente, o Benfica tenha aprendido a jogar com o FC Porto. A raça, a energia, a capacidade de pressão e o entusiasmo colocado neste último jogo, parecem indicar que sim.

ASSUME A RESPONSABILIDADE, PÁ!

Um banho de bola e números que não se viam há décadas.
O Benfica repetiu a exibição realizada diante do Atlético de Madrid, e reduziu o FC Porto a cacos. A sensação que fica é a de que o resultado poderia ter sido ainda mais volumoso (cinco, seis, sete?). Isso revela bem o que foi este "Clássico".
Ao contrário do que disse Vítor Bruno, a primeira parte só foi equilibrada no resultado. Os encarnados podiam ter ido para intervalo a vencer 3-0, não fosse a falta de sorte na finalização, e o erro colossal de Otamendi - que ofereceu o golo do empate a Samu.
Na segunda parte fez-se justiça, e os números foram crescendo com naturalidade.
De lado de cá, jogadores endiabrados, extremamente pressionantes, e a praticar um futebol envolvente. Do lado de lá, um conjunto sem respostas para tamanha assertividade do adversário.
Individualmente há que destacar os dois argentinos, um pela negativa, outro pela positiva. Se é quase unânime a ideia de que Otamendi já está a mais no onze titular (sobretudo vendo António Silva no banco), quanto a Di Maria, meus amigos, continuo a achar que faz a diferença e que ainda é um craque, capaz de resolver jogos. Não é justo colocar os dois no mesmo plano, quando um compromete e o outro resolve.
Akturkoglu, Pavlidis, Aursnes, Araújo e Carreras também estiveram a altíssimo nível. Sendo que foi o colectivo que mais impressionou.
O árbitro esteve mal no lance que interrompeu desnecessariamente e que daria um belo golo de Pavlidis. A lei das duplas penalizações tem mudado, mas tanto quanto sei o jogador do FC Porto que cometeu o penálti, e que já tinha cartão amarelo, devia ter visto o segundo e sido expulso.
Pena a incrível reviravolta do Sporting em Braga, quando perdia aos 81 minutos. A jornada poderia ter sido maravilhosa. A verdade é que os leões ganharam os jogos todos, e os dragões só não ganharam em Alvalade e na Luz. Aqueles pontos perdidos pelo Benfica em Famalicão e Moreira, ainda com Roger Schmidt, podem custar um preço bem maior que se supôs na altura. Há muito campeonato, já não há Ruben Amorim, mas ainda há Gyokeres. O Benfica mostrou que, neste momento, é superior a este FC Porto (cuja linha defensiva está a léguas daquilo que era habitual no clube). Mas ainda não mostrou que pode ser superior a este Sporting. E precisa disso para ser campeão.
Deixemos o Sporting para depois. Agora é hora de saborear o gordo triunfo. E apetece-me dizer a Bruno Lage: assume a responsabilidade, pá!

BOLA QUADRADA


Benfica-FC Porto, Campeonato de Portugal, 1931

ONZE PARA O CLÁSSICO

Trubin; Tomás Araújo, António Silva, Otamendi e Carreras; Florentino, Aursnes e Kokçu; Di Maria, Pavlidis e Akturkoglu. 

O FUTEBOL DE ATAQUE QUE SE LIXE

Estou com Bruno Lage. 
Mais: estou farto de ver o Benfica perder jogos, e sobretudo campeonatos, por insistir em futebóis aveludados de pendor muito "ofensivo", palavra que eu traduziria para demasiadamente exposto aos adversários.
Enquanto o Benfica tinha Aimares, o Porto tinha Guarins - e era campeão. Aliás, os melhores e mais dominantes FC Portos que me lembro, tinham sempre uma defesa de ferro, um meio-campo de combate, e um ou dois jogadores mais tecnicistas para fazer a diferença. Não ganhavam 6-1 ao Rio Ave (ganhavam 1-0), mas nos "Clássicos" e na Europa apresentavam muito mais solidez e consistência. E normalmente, melhores resultados. O Sporting de Amorim tem Gyokeres (também ele, antes de mais, um poço de força) mas foi construído a partir de trás.
Gosto de ver futebol de ataque, com as equipas bem abertas, quando assisto...à Premier League. No Benfica? Quero "apenas" GANHAR! Repito, por ser essa a única palavra que me interessa: G A N H A R! 
É um erro pensar-se que a matriz cultural do clube assenta no futebol ofensivo. O Benfica foi campeão europeu em 1961, sem Eusébio nem Simões, mas com Mário João, Neto, Cruz e outros homens de coragem. Ganhou a Taça Latina na raça, no tempo em que, do outro lado, se ouviam "Violinos". É um clube do povo, de gente pobre, que veste as cores do sangue e da luta. 
Os anos de Eusébio - irrepetíveis em qualquer clube português no contexto do futebol moderno - foram uma excepção. Aí, de facto, o Benfica, com um dos melhores jogadores do mundo de todos os tempos (outra força da natureza, que não perdia tempo em toques de calcanhar, verónicas ou chicuelinas), tornou-se dominador e imperativo. Eram também os anos do futebol bonito, que morreu no Brasil-Itália de 1982.
Depois disso, o que vi foi o Benfica gastar rios de dinheiro em artistas, e perder para "pedreiros" de sangue nos olhos e faca nos dentes. E insistir nesse erro até aos limites do absurdo.
Em Munique, o Benfica foi quase sempre toureado e goleado. Desta vez, para variar, tentou jogar para o 0-0. A meio da segunda parte parecia a caminho de o conseguir. Não deu. Mas o contraditório diz-me que a jogar de outra forma era muito provável acontecer aquilo que quase sempre aconteceu naquele estádio. Lembro também que, já nesta Champions, houve quem lá levasse... 9-0.
Será que um dia ainda poderei ter o gosto se ver o meu clube apostar numa equipa sólida e combativa, e deixar-se das tretas do "futebol de ataque"? 
Pelas criticas à exibição de Munique, temo que não. Neste aspecto, se os dirigentes dizem mata, os adeptos dizem esfola - não esfolar os adversários, mas as hipóteses de ganhar de forma consistente. 


INGLÓRIO

O Benfica fez muita coisa bem (também algumas mal). Isso não foi suficiente para obter um resultado positivo em Munique, talvez na ocasião em que tal mais pareceu  possível.
A estratégia foi obviamente defensiva. Jogar aberto, naquele estádio, equivale a ser goleado. Dir-me-ão que é igual perder 0-1 ou 2-5 (não é bem assim, mas enfim). Seria totalmente diferente empatar 0-0. E a dada altura o jogo parecia encaminhar-se para isso.
Esse eventual empate seria justo. No fim ganharam os alemães, que têm melhores jogadores e melhor equipa. A derrota não deslustra os encarnados - que mais não seja pelo histórico na capital da Baviera. O problema nesta Liga dos Campeões foi o desaire com o Feyenoord, essa sim inexplicável e diante de um adversário perfeitamente ao alcance, veremos com que consequências. 
Há que vencer o Bolonha na Luz, e procurar mais um pontinho em algum lado. Com 10 pontos estou convicto que será possível ficar nos 24 primeiros, e seguir em frente.
Os adeptos do Benfica que estiveram e. Munique, esses ganharam de goleada, fazendo-se ouvir incessantemente 
Agora, venha o FC Porto. 

OS FACTOS

Não há como não me curvar perante a fantástica vitória do Sporting de Amorim e Gyokeres diante do poderoso City.
Devemos reconhecer o mérito dos rivais, por uma questão de justiça e de verdade, e também para entender o contexto e perceber melhor porque tem sido tão difícil a vida do Benfica nos últimos tempos. 
Este Sporting é porventura o mais forte desde os Violinos. E este ponta-de-lança é, argumentavelmente, o melhor jogador que apareceu no futebol português nos últimas vinte anos (enfim, talvez a par de Jonas). 
As boas notícias são que daqui a uma semana o treinador já estará bem longe, e, assim espero, talvez em Janeiro Gyokeres possa também ir à sua vida. Se for preciso contribuir com 5 euros, estou disposto a ajudar na transferência.
O Sporting, como está, ou como estava, é, ou era, imbatível em Portugal. Dizer a frase no presente, ou no passado, depende da forma como for substituído Ruben Amorim, e da permanência ou não do poderoso avançado sueco. 

ONZE PARA MUNIQUE

Hesitei entre Di Maria e Pavlidis. Mas a experiência, as bolas paradas e a capacidade de invenção do argentino levou a melhor. Pavlidis, a jogar, vendo-se na maioria do tempo sem apoios, será presa fácil para a defesa germânica. Acho importante fechar bem os flancos, com Aursnes a descair para a direita (podendo garantir, em certos momentos do jogo, três centrais) e Beste a segurar a esquerda.
Claro que um empate seria excelente.

CÂMARA DAS TORTURAS

Não há local do mundo mais difícil para o Benfica. 
É a história que o diz: 6 jogos, 6 derrotas, 6-24 em golos. Naturalmente, nenhuma eliminatória ultrapassada, até porque, mesmo na Luz, os encarnados jamais venceram o Bayern.
Ou seja, é daqueles jogos em que quase dá vontade de oferecer os três pontos e pedir em troca que os alemães nos poupem à goleada - que foi o que quase sempre aconteceu. Primeiro com Gerd Muller, mais tarde com Rummenigge, Klinsmann e Lewandowski. Temo que seja a vez de Harry Kane vestir a capa de verdugo...
Dir-me-ão que sou pessimista. Mas confesso que não acredito em qualquer resultado positivo nesta deslocação. Talvez seja o trauma: o jogo de 1976 é a mais remota partida do Benfica que a minha memória alcança (devo dizer que a segunda foi uma derrota em Alvalade por 0-3, pelo que o meu benfiquismo nasceu em grande estilo).
Curiosamente, o resultado mais equilibrado aconteceu no único destes jogos que vi ao vivo, com mais cinco mil benfiquistas no anel superior do Allianz Arena. Arturo Vidal marcou nos primeiros minutos para a equipa então orientada por Guardiola, mas depois o Benfica podia ter empatado - nomeadamente se o árbitro tivesse visto um penálti claro cometido por Lahm, ainda numa era pré-VAR. Dessa noite bávara, recordo igualmente o melhor e maior cachorro quente que comi na vida.
O empate a dois na Luz ditou a eliminação nesses Quartos-de-Fnal, de uma equipa que havia vencido no Vicente Calderón, que venceria em Alvalade, que tinha Jonas, Mitroglou, Raul Jimenez, Talisca e Jovic no ataque, mas se diz ter comprado adversários como o Vitória de Setúbal ou o Rio Ave para poder ganhar jogos do campeonato.
Enfim, que Deus nos ajude a enfrentar este toiro. Que, surpreendentemente, o Benfica possa resgatar em Munique pelo menos um dos pontos ingloriamente perdidos frente ao Feyenoord (esse sim, um jogo que deveria ter sido ganho). Não acredito, mas...

SERVIÇOS MÍNIMOS

No meio de um ciclo infernal de jogos, e quando o pior ainda está para chegar, não se esperava uma super exibição do Benfica. Mas também não era preciso descer a um nível tão baixo, e com isso arriscar uma perda de pontos que, sem margem de erro, podia até ser fatal.
Enfim, salvou-se o resultado, num jogo pobre, e em que foi mais o Farense a perder do que o Benfica a ganhar.
Individualmente destacaria Carreras e alguns momentos de Florentino, sem esquecer a dupla assistência de Akturkoglu (homem que não sabe jogar mal).
Seguem-se Bayern e FC Porto, contra os quais o nível exibicional dos encarnados terá de ser infinitamente melhor do que o de hoje. 

ONZE PARA O ALGARVE

Trubin; Bah, T. Araújo, A. Silva e Carreras; Aursnes, Kokçu, Di Maria e Beste; Pavlidis e Akturkoglu. 

OURO NO BANCO

Foi um jogo típico de taça: poupanças no onze, os golos a tardarem e o inevitável recurso ao ouro guardado no banco. E o ouro chamou-se Di Maria e Pavlidis.
Um golo espectacular do astro argentino, dois golos e uma assistência para o ponta-de-lança grego - que parece render substancialmente mais com alguém ao lado (na pré época, recordam-se? era Marcos Leonardo, nesta segunda parte foi Arthur Cabral).
Antes disso viu-se uma equipa manca, com Amdouni fora do seu habitat natural, a deslocar-se invariavelmente para o meio, e o flanco direito a não existir.
Tudo está bem quando acaba bem e, mesmo com alguns equívocos defensivos sem consequências, o Benfica chegou tranquilamente à final-four da Taça da Liga, que era o objectivo maior da noite.
Destaque ainda para os quase 50 mil nas bancadas, num jogo a meio da semana com estas características, e depois de outros dois jogos em casa.
Seguem-se Faro, Munique e FC Porto na Luz. Emoções fortes, portanto. 

ONZE PARA A TAÇA DA LIGA

Samu; Bah, T. Araújo, A. Silva e Beste; Florentino, Renato e Rolheiser; Amdouni, Pavlidis e Schjelderup. 

VOU TORCER POR ELE

Com esta saída em grande estilo, voltei a sentir alguma da simpatia que tinha por Ruben Amorim, antes de se tornar treinador do Sporting. Afinal era mesmo tudo, apenas, profissionalismo.
Se a porta de Alvalade se fechou para sempre, a da Luz ficará aberta para um dia, daqui a alguns anos, poder enfim vir a treinar o seu clube de coração. 
As notícias de Amorim como símbolo eterno do sportinguismo eram, pois, manifestamente exageradas. E ele que me perdoe o que aqui escrevi sobre ele, em mais de uma ocasião, nestes últimos anos - designadamente sobre a atitude competitiva da sua equipa nos dérbis. 
Que seja feliz em Manchester, exepto nos jogos com o Forest, e já agora que leve Gyokeres em Janeiro. 
Quanto ao campeonato português, acende-se nova luz de esperança. Este Sporting estava, de facto, a ficar muito forte. Agora? Veremos.

COMO SE DIZ MANITA EM TURCO?

É raro, mas acontece: por motivos familiares não pude ver o jogo com o Rio Ave, nem sequer pela televisão. Daí não ter muito a dizer sobre o mesmo. 
A não ser os factos e os números, que apontam para uma vitória sólida, uma boa resposta ao desaire europeu do meio da semana, e (mais) uma prestação superlativa de Akturkoglu - que se revela, jogo após jogo como a melhor contratação do Benfica (pelo menos) nos últimos dois anos.
Agora esperam-se mais dois triunfos (Santa Clara e Farense), para esquecer de vez o Feyenoord, e limpar a cabeça para o que virá depois. 

ONZE PARA DOMINGO

BALDE DE GELO

As derrotas custam mais quando são inesperadas. Para quem viu o Benfica-Atlético de Madrid, e voltou ao Estádio da Luz esta noite, o contraste não podia ser maior.
Fosse o Sporting a perder, e já se dizia nas televisões que o Feyenoord era uma super equipa, capaz de ombrear com o Real Madrid e o City na luta pelo título europeu. Quem me conhece saberá que não entro por aí. O conjunto de Roterdão apareceu, de facto, muito bem organizado e fisicamente bastante fresco, tem um ou outro jogador que se destaca, mas estava claramente ao alcance do melhor Benfica - por exemplo, daquele que venceu categoricamente os "Colchoneros" por 4-0. E este era mesmo um dos jogos a ganhar nesta fase da prova, teoricamente o mais "fácil" dos oito.
Acontece que o melhor Benfica não apareceu em campo. 
Suspeito que Lage tenha sido surpreendido pelo treinador adversário, que soube desde cedo como bloquear os encarnados na saída do seu meio-campo, e como encontrar espaços para contra-atacar com perigo.  Foi neste bloqueio táctico que o Benfica começou a perder o jogo.
Não sei nada de preparação física e muito menos de alto rendimento, pelo que não me meto a opinar sobre os efeitos da (enorme) pausa nas pernas e nas cabeças dos jogadores, nem se alguns deles deveriam, ou não, ter sido utilizados contra o Pevidém. Apenas noto, e isso é factual, que mais uma vez o Benfica - com diferentes treinadores - se apresentou bastante mal após uma pausa competitiva. E fiquei com a sensação, sobretudo após o golo de Akturkoglu (quando se esperaria uma carga ofensiva total sobre a área holandesa), que as pernas não ajudaram, e o discernimento perdeu-se, permitindo ao Feyenoord levar o jogo para onde queria. A derrota consumou-se, pois, na falta de frescura física.
Antes disso, e logo na primeira parte, vimos também como as fragilidades defensivas do Benfica o podem penalizar neste tipo de jogos (leia-se, Clássicos e Champions). Contra aroucas e casas pias, essas fragilidades escondem-se atrás da inépcia dos avançados contrários. Nos grandes palcos são castigadas com golos. Basta uma equipa de nível mediano, como o Feyenoord, para o demonstrar sem piedade. O problema não será apenas dos próprios defesas, mas da forma como todo o bloco colectivo defende, desde logo no trio da frente, passando depois pelo meio-campo onde, quando se perde a bola, Florentino não chega para tudo. Há uma questão até cultural no clube da Luz, que tem a ver com o culto do chamado futebol "de ataque", e que tem custado dinheiro e títulos ao longo das últimas décadas. Tenho para mim que, para obter sucesso interno, e sobretudo externo, há que começar por ter uma defesa de ferro - ou, melhor dizendo, uma equipa que, colectivamente, defenda a ferro e fogo. Podendo Essa nunca foi a opção do Benfica, dos dirigentes do Benfca, nem dos próprios adeptos do Benfica - que exigem ópera como tinham nos anos sessenta, quando foi possível manter, durante uma década, alguns dos melhores jogadores do mundo na equipa, coisa que hoje não é, de todo, replicável.
Em particular no quarteto defensivo, também é preciso falar de Otamendi. Choca-me ver António Silva no banco, quando o central argentino compromete a olhos vistos. Percebo a questão do estatuto, da voz de comando, do respeito que impõe a adversários (e até a árbitros), mas parece-me que está na hora de olhar para este problema como um dia se olhou para Luisão.
O árbitro pareceu-me fraquinho. Ficou uma grande penalidade por assinalar sobre Di Maria na primeira parte, e a gestão do tempo ostensivamente perdido pelo Feyenoord (a um ponto que não me recorde de ver na Champions) não foi coerente. Mas não foi pela arbitragem que o Benfica perdeu o jogo.
Agora, há que reagir. Desde já no campeonato, frente ao Rio Ave. Na frente externa, esta derrota anulou a vitória sobre o Atlético, e tudo voltou ao princípio - nesta altura previa-se que o Benfica tivesse precisamente os seis pontos que tem. Há, pois, que vencer o Bolonha na Luz, e obter mais um pontinho em algum dos outros jogos. Dez pontos talvez cheguem para ficar nos 24 primeiros - que é o objectivo natural deste Benfica.

HOLANDESES NA LUZ

Em quase cinquenta anos, nenhuma derrota. A última foi em 1975, oito dias depois do famoso 11 de Março, e portanto em pleno PREC. De então para cá, várias eliminatórias passadas - na verdade todas. Contra o Feyenoord, em casa, apenas o épico 5-1, que terá estado na génese dos "quinze minutos à Benfica" (juntamente com uma partida frente ao FC Porto, no mesmo ano, em que o Benfica virou um 0-2 para 3-2 nos últimos instantes). Recordemos esse jogo:
Termino arriscando o onze da equipa holandesa para amanhã: Wellenreuther; Lotomba, Beelen, Hancko e Bueno; Milambo, Hwang, e Zerrouki; Osman, Ueda e Igor Paixão.

ONZE PARA A CHAMPIONS

A "PUREZA" DO SPORTING

Muitas vezes estou em desacordo com Vasco Mendonça. Mas como ele escreve bem, e mostra genuíno sentimento pelo Benfica, gosto de o ler.
Desta vez não resisto a citá-lo. Ora cá vai:

(...)Já aqui elogiei a firmeza do presidente do Sporting em relação ao FC Porto, mas não me parece que seja boa ideia o presidente do Sporting viver excessivamente convencido da sua pureza. A ideia de que Frederico Varandas, por ser mais novo e aparentemente impoluto do que dois ex-presidentes seus rivais, representa um clube moralmente inatacável, não resiste ao embate com a realidade. O exercício é simples. Se Frederico Varandas se sente intitulado a decretar sentenças acerca de crimes por demonstrar, como o fez em relação ao Benfica, o mesmo critério poderia ser usado contra o seu Sporting. Bastaria para isso que, tal como Frederico Varandas, fintássemos o Estado de Direito da forma mais conveniente e tirássemos as nossas próprias conclusões acerca da conduta de um antigo vice-presidente do clube de Frederico Varandas, ou de outros funcionários do clube.
Se isso não for suficiente, podia falar sobre o Euromilhões que permitiu ao Sporting obter uma vantagem económica por via da recompra das VMOCS, vantagem essa que Frederico Varandas considerará devida, mas que eu reservo o direito de considerar moralmente condenável, mesmo que financeiramente lícita, e mais do que capaz de desvirtuar a relação de poder entre clubes rivais. Já agora, também valeria a pena lembrar o acionista do clube, detentor de 9,9 % da SAD do Sporting, que se vê hoje enredado em acusações graves de branqueamento de capitais, numa operação alegadamente tornada possível com a entrada de dezenas milhões de euros na SAD. Apetece perguntar a que expediente recorrerá para defender o Sporting no dia em que um destes problemas, ou outros daí decorrentes, se abater sobre o seu clube.
Daqui se infere uma verdade relativamente prosaica: Frederico Varandas, com quem, pasme-se, não antipatizo, tem pouca autoridade para dar lições de moral a quem quer que seja. Pode e deve pugnar pela ética do seu clube enquanto o representar, mas para isso terá de considerar também um objeto, para além dos artifícios verbais. Chama-se espelho e permite ver o nosso próprio reflexo. Nele, se olharmos com atenção, descobrimos as nossas próprias imperfeições e aprendemos coisas importantes sobre nós.
De resto, por muito assertividade que empregue, as sentenças de Frederico Varandas não transitam em julgado. O presidente do Sporting está no direito de escolher a parte da realidade que lhe interessa. Quem o ouve, está no direito de fazer exatamente a mesma coisa. Nisto, devemos ser francos. Não sairá daqui um país melhor, mas antes o país que temos. Quando este choque acontece, ou seja, quase sempre, a acusação de negacionismo é válida para ambos os lados, mas, em rigor, só um dos participantes nesta troca preside a uma instituição com a dimensão do Sporting.
Refiro-me à dimensão, não porque esta crónica semanal se deva ocupar demasiado com o tamanho dos outros, que empalidece por comparação com o Sport Lisboa e Benfica, mas, porque, em virtude dessa dimensão institucional, se aconselharia uma postura diferente por parte do presidente do Sporting, que, à sua maneira, acaba por ser capturado pela narrativa mais corriqueira do futebol que tantas vezes já criticou. 
A sensação é a de que Frederico Varandas aproveitou os ventos favoráveis dentro de campo para uma operação de outra natureza, neste caso uma nova recompra de VMOCs, leia-se, Valores Morais Oportunamente Convertíveis. No entanto, se há coisa que o futebol português nos ensinado, é que todos os heróis acabam por viver tempo suficiente para acabarem como vilões. (...)

DAVID SILVA, um artista a não esquecer

Só não fez mais porque, de facto, não podia. Mas numa partida sem VAR, em lances de interpretação, em mais de uma dezena de decisões tomadas nunca hesitou em apitar contra o Benfica. Por vezes de forma quase provocatória. 
Mais um artista da escola de arbitragem do Porto. Um nome a não esquecer, pois, ou me engano muito ou vai começar a aparecer por aí. Terá querido agradar a alguém e acho que conseguiu.
 

BESTIAL, MAS POUCO

Já se sabe o que são estes jogos: de um lado uma equupa desfalcada, sem ritmo nem entrosamento, e mais ou menos descontraida, do outro onze homens no dia mais importante das suas carreiras. Isso dilui parte das diferenças, por vezes de forma fatal.
Neste caso, o golo cedo podia trazer uma história diferente. Quem sabe até uma goleada. Mas pese embora as oportunidades criadas, o segundo golo foi tardando, e o Pevidem foi sobrevivendo. 
As coisas acabaram por se resolver, com o bis de Beste. O 0-2 acabou por saber a pouco, mas é suficiente para cumprir a obrigação de passar à fase seguinte. 
Parece impossível, mas o árbitro, mesmo numa partida com estas características, conseguiu irritar-me. Vou estar atento à sua carreira, e espero não o ver tão depressa a apitar o Benfica. 

ONZE PARA A TAÇA

 

CRAQUE, DENTRO E FORA DO CAMPO

Mais uma exibição magistral pela selecção turca, mais um golo espectacular, mais uma assistência de garra, e agora também uma presença fora de campo assinalável.
Um craque, em todas as dimensões do jogo e da vida.

MAIS DO MESMO

Com as suas inabilidades, com a sua irresponsabilidade, com a sua impunidade e falta de escrutínio, o Ministério Público deitou dois governos abaixo (no Continente e na Madeira). Esperemos que o novo procurador seja um pouco mais consciente do cargo que ocupa, e um pouco mais responsável nas decisões que toma e na forma como as comunica, para que o país possa, ele próprio, sobreviver-lhe.
Agora, para gáudio da comunicação social, sai uma acusação estapafúrdia a pedir que o Benfica seja suspenso das provas desportivas. Em causa estão alegados crimes de fraude fiscal e corrupção (não desportiva). Recordo que houve buscas a um ex-ministro, hoje governador do Banco de Portugal, por ter recebido uns convites para um jogo de futebol - o que diz tudo sobre a clarividência, a prudência e a credibilidade com que estes assuntos têm sido tratados.
No caso dos dois governos (e não estão em causa as cores partidárias, até porque eram diferentes) o mal ficou feito, enquanto a ex-procuradora - que em declarações fantasmagóricas se desresponsabilizou de tudo - já foi gozar a sua reforma milionária e tirar selfies com o bruxo de Fafe.
No caso do Benfica, um tribunal vai naturalmente um dia acabar por fazer justiça. O problema é o tempo que isso demora, e o desgaste mediático que o clube vai sofrendo - com eventuais consequências, por exemplo, a nível de patrocínios, que ninguém irá compensar.
Enfim, é o que temos. Ou, como quero acreditar, era o que tínhamos.
A vida continua. Há que ganhar ao Pevidém e depois ao Feyenoord. 
Em 2047, se estivermos todos vivos e de boa saúde, lá veremos o Benfica a ser ilibado em tribunal. Até lá, os rivais que se divirtam com a comunicação social - que, diga-se, também tem que se olhar ao espelho, para perceber todos os motivos pelos quais se está a afundar, e a deixar o espaço virtual entregue aos bichos.

AS MODALIDADES

TÍTULOS MODALIDADES COLECTIVAS DE PAVILHÃO- últimos dez anos:

INVESTIMENTO POR SECÇÃO - 2023-24:

Face às contas recentemente apresentadas, voltou a falar-se do investimento nas modalidades. Uns acham que é pouco. Outros acham demais. A mim, devo dizer, parece-me globalmente equilibrado.
Ponto prévio: não admito, e jamais admitirei, acabar com qualquer das secções em causa, ou seja, Hóquei, Basquete, Volei, Andebol e Futsal, nas vertentes masculina e feminina. Já em modalidades como Ténis de Mesa, Polo Aquático, Bilhar ou Rugby, e mesmo Atletismo, Canoagem, Triatlo ou Natação, não conhecendo os custos, não poderei emitir uma opinião sustentada, sendo que gosto de as ter, mas confesso que não daria muito pela falta. Relativamente ao chamado Projecto Olímpico, tenho grandes dúvidas sobre a relação custo-benefício. Não sei quanto paga o Benfica a Pablo Pichardo, Fernando Pimenta ou Diogo Ribeiro, nem como funcionam os patrocínios, mas verifico que as suas grandes vitórias raramente são associadas ao clube. Para além dos Jogos Olímpicos se disputarem apenas de quatro em quatro anos, e nesse contexto os atletas representarem sobretudo (ou somente) o país. Justifica-se tê-los apenas como bandeiras? Francamente não sei.
Voltando às modalidades de Pavilhão, dando as femininas como claramente hegemónicas (falta o Volei, mas acredito que vá a caminho), vamos então às cinco masculinas.
O Hóquei em Patins é aquela de que mais gosto, sobretudo por estar muito ligada à minha infância - quando era claramente o segundo desporto nacional. Além disso, é uma modalidade onde há sempre boas perspectivas de obter títulos internacionais (das últimas cinco Ligas dos Campeões, quatro foram conquistadas por clubes lusos, infelizmente nenhuma pelo Benfica). Não exigindo plantéis muito extensos, e tendo um mercado muito circunscrito, não é preciso um investimento faraónico para construir uma das melhores equipas do mundo. Entre más arbitragens e algum azar, os títulos não têm sido tantos como se desejava. Acredito que, com os novos reforços, e com o novo treinador (embora não desgostasse do anterior), o Benfica possa traduzir o investimento em títulos, sendo que no âmbito nacional enfrenta adversários fortíssimos, dentro e fora das pistas.
Deste lote de cinco, o Basquetebol é claramente a modalidade de maior relevo planetário. Embora o seu epicentro seja nos EUA, com a fantástica NBA, também na Europa o nível é altíssimo, bastando ir a Espanha para o perceber. O Benfica tem grandes tradições nacionais, é tricampeão e tem de se manter ganhador. Com um mercado extraordinariamente denso, variado e caro (nomeadamente quanto aos norte-americanos de qualidade), o investimento tem naturalmente de acompanhar a realidade, sendo que a participação internacional é apenas isso mesmo: participação. Apesar de me parecer que, nas últimas duas épocas, o plantel do Benfica poderia ter feito uma gracinha na Fiba Europe Cup (uma espécie de quarta divisão europeia), onde não esteve por ter conseguido apurar-se para a Fiba Champions League (que sendo inacessível para a realidade nacional, é ainda assim a terceira divisão). Temo que as saídas de Ivan Almeida, Carter e Toney Douglas (este para o FC Porto) possam fazer-se sentir, embora perceba que as questões salariais têm de ser consideradas.
O Voleibol tem sido uma máquina de triunfos. Não retirando o mérito a Marcel Matz, não podemos esquecer que aqui não "há" FC Porto, e mesmo o Sporting, até à época passada, pouca luta dava aos agora pentacampeões. O adversário era, sobretudo, o Fonte Bastardo, com orçamentos certamente mais baixos. Esta temporada começou mal, com três competições perdidas em pouco mais de uma semana (Taça Ibérica, Supertaça e qualificação para a Champions). Ao contrário do Basquete, no Volei é possível estar entre os melhores - ou seja, na principal competição de clubes do mundo. Isto não é indiferente. Vamos esperar para ver, embora me pareça que a equipa já foi mais forte, tendo a certeza que o Sporting vai ser um osso duro de roer.
O Futsal tem sido a modalidade com maior acréscimo de mediatismo, quer pelos títulos internacionais alcançados para o país, quer porque tem atrás de si as poderosas estruturas organizativas do Futebol. O Benfica, que foi dominador nos tempos de Ricardinho, perdeu a liderança para um Sporting fortíssimo (sete campeonatos em oito, mais duas Champions). Como no Hóquei, quer Benfica, quer Sporting podem, com uma pontinha de sorte, ser campeões europeus (os encarnados ficaram nas meias-finais nos últimos três anos, e sempre com sabor a pouco). Diria até que era mais fácil, num dia feliz, ganhar a Champions do que um campeonato onde se é obrigado a vencer várias vezes o rival. Imperdoavelmente eliminado pelo Braga no playoff nacional, o Benfica este ano não marca presença na Europa. Por isso, entendo a temporada como de transicção, havendo que apostar nos jovens de grande valor que o plantel inclui (como Lúcio ou Kutchy) , preparando um ciclo ganhador para o futuro próximo. Tratando-se de uma modalidade com mercado circunscrito, é possível formar, construir e manter. Aliás, é isso que o Sporting tem feito, com enorme sucesso. Se no Hóquei, no Basquete e no Volei, espero nada menos do que ganhar o campeonato, no Futsal aceito um segundo lugar, e a qualificação europeia - para um 2025-26, então sim, de enorme sucesso.
Fica para o fim o Andebol, que é mesmo o caso mais problemático. Com um investimento elevado, as coisas têm corrido invariavelmente mal. Tudo começou num erro histórico, com a dispensa do saudoso Alexander Donner, que pegara na equipa na segunda divisão e em dois anos a levou ao título nacional de 2008. Na altura privilegiou-se estupidamente o balneário, dominado por jogadores de profissionalismo duvidoso (não gostavam de trabalhar tanto quanto o técnico exigia), alguns dos quais acabaram no Sporting. Perdeu-se a embalagem, a coerência do projecto e o rendimento. Nunca mais se encontrou o rumo. Entretanto houve um FC Porto de nível Champions, e agora há o melhor Sporting de sempre. Entretanto houve também um momento singular, totalmente inesperado e heroico, que foi a conquista da Liga Europeia em 2022, que tive o privilégio de presenciar, no Pavilhão Atlântico. Essa teria sido uma boa oportunidade para apanhar o comboio, e dar o passo seguinte. Por motivos que desconheço, tal não aconteceu. Esta temporada espero apenas o terceiro lugar, sendo que o segundo dá acesso à Champions. O título parece-me entregue ao Sporting, que tem conseguido manter os seus principais jogadores, e já goleou e humilhou o Benfica duas vezes neste início de época (na Supertaça e no Campeonato). E para ficar em terceiro não me parece que se justifique gastar tanto dinheiro, sendo que estamos a falar de uma modalidade olímpica, preponderante nos países mais ricos do mundo, e que exige plantéis extensos. Neste caso, justifica-se uma crescente aposta na formação, e uma visão de médio/longo prazo, para que dentro de dois ou três anos, contando também com um eventual fim de ciclo do Sporting, se possa atingir o topo.
Em suma, o montante global investido parece-me adequado, embora eu fizesse alguns ajustes entre modalidades. Para a presente época creio que quatro campeonatos femininos e dois masculinos, com um total de 23/24 troféus, seria um bom registo. Muito bom seria cinco femininos e três masculinos (no Futsal e no Andebol, não acredito que o sucesso possa ser imediato). Da frente externa, só o Hóquei tem alguma possibilidade de trazer mais do que honra e dignidade. Que assim seja. 

É GOLEADOR!

Nunca coloquei em causa o valor de Pavlidis. Sei o que fez na Holanda, vi o que fez na pré-época, e mesmo nos jogos oficiais até agora realizados, sempre me pareceu que marcar ou não marcar era uma questão de tempo - ao contrário da percepção que tive, por exemplo, de Arthur Cabral.
No jogo com o A.Madrid, mesmo não marcando (por manifesto azar), esteve em grande - como todos os outros, diga-se. Aquele cabeceamento que obrigou Oblak à primeira das suas grandes defesas, o lance em que conquistou o penálti, e outros momentos do jogo, mostraram que está ali um excelente jogador.
Não é tão bom como Gyokeres, e esse é o nosso drama. Mas tirando Haaland, Lewandowski e Kane, não vejo, no futebol mundial, muitos pontas-de-lança melhores que o sueco do Sporting.
No Wembley, o avançado grego resolveu o jogo, garantindo uma vitória histórica para a sua selecção. Marcou três, um deles anulado. A Grécia venceu 1-2.
É forte, movimenta-se bem, e tem faro de baliza. Como digo acima, marcar ou não marcar é apenas uma questão de tempo.

MAIS UM VISIONÁRIO

 

ATÉ QUANDO?

Ninguém tinha saudades disto.  Enquanto o Nacional estava na segunda divisão - onde devia ter ficado - esta situação esteve esquecida. Voltou a acontecer. Pela 17a vez!!! 
O estádio, pelo local onde se situa, não tem manifestamente condições para se disputarem lá jogos desta importância. 
A solução ideal era atirar este tipo de clubezecos para o seu devido lugar. Como ninguém tem coragem de o fazer, havia, pelo menos, que os obrigar a jogar em estadios decentes. E na Madeira há um estádio decente. Provavelmente pago com o nosso dinheiro. 
E agora? Há as datas FIFA - outro anacronismo -, há um campeonato com 18 equipas, equipazinhas e equipazecas, e há a Champions com ainda.mais jogos. Fica este la para o Natal 
Triste futebol. Triste liga portuguesa, que tem de tudo menos bom futebol. Não podemos jogar apenas na Champions? 

ONZE PARA A CHOUPANA

Isto, claro, se se confirmar a baixa de Akturkoglu.
 

RANKING DA UEFA

I N O L V I D Á V E L !

Vão faltar-me palavras para comentar o que se passou esta noite na Luz.
Quem viu, não esquecerá. Quem não viu deve lamentar-se, pois tratou-se, porventura, do melhor jogo do Benfica nos últimos anos.
É claro que há sempre quem procure desvalorizar as vitórias do clube. Naturalmente os rivais, mas, ultimamente, também alguns que se autointitulam benfiquistas. Neste caso concreto, vão ter muita dificuldade em fazê-lo.
O Atlético de Madrid, que veio na máxima força (enfim, faltou apenas o lesionado Le Normand), é das equipas que melhor defende no mundo. Gastou cerca de duzentos milhões de euros em reforços, e é candidato a tudo. Já com oito jornadas do seu campeonato, ainda não tinha perdido qualquer jogo na temporada. De resto, sofreu na Luz quase tantos golos como havia sofrido nos restantes nove jogos que disputou - nos quais só por uma vez não tinha marcado. Acabou a partida de rastos, suplicando pelo apito final do árbitro, esmagado pela força impiedosa do adversário.
Vamos ao Benfica, e desde logo a Bruno Lage. Ao contrário do que parecia acontecer com Roger Schmidt (e também a ele voltarei mais adiante), com o setubalense a equipa adapta-se estrategicamente ao adversário. Esperava-se um Benfica no mesmo 4-3-3 que se havia cimentado nas últimas partidas, mas, quase sem mexidas no onze, viu-se uma maleabilidade táctica notável: quer com um 4-4-2 em que Di Maria surgia solto como segundo avançado, e Aursnes (este homem vale ouro) e Akturkoglu como alas a reforçarem os flancos, quer com um 4-1-4-1, com Florentino atrás de um quarteto que, tanto povoava o meio-campo em processo defensivo, como se expandia assim que a equipa recuperava a bola. Além dessa dimensão táctica, percebe-se que os jogadores estão com o seu treinador, sentem-se confortáveis com o que têm de fazer em campo, e por tudo isso respiram confiança.
O efeito foi uma exibição esplendorosa, perante a qual o resultado final acabou por ser simpático para os madrilenos. O Benfica criou cerca de uma dezena de oportunidades de golo, enviou duas bolas aos ferros, obrigou Oblak a duas ou três intervenções de grande categoria e o central Gimenez a alguns cortes providenciais dentro da área – sendo estes os dois melhores elementos entre os “colchoneros”.
Do lado dos encarnados, individualmente destacaria Carreras, que fez o seu melhor jogo com a camisola do Benfica. Também Florentino, Aursnes e Kokçu estiveram em nível elevadíssimo, num colectivo que brilhou pelo todo e como um todo.
À saída do estádio muita gente falava de Roger Schmidt e do contraste (óbvio, inegável) desta equipa com a que iniciou a época. Ora como eu não tenho memória curta, e as coisas são o que são, terei de dizer que a exibição europeia do Benfica que, nos últimos anos, me recordo de mais se ter parecido com esta, ocorreu numa partida com a Juventus, quando no banco estava…Roger Schmidt. Também esse foi um jogo maravilhoso. É justo dizê-lo neste momento, até para provar que o mundo não é a preto e branco.
Com uma eventual vitória sobre o Feyenoord no dia 23 (e agora há que evitar qualquer tipo de triunfalismo), o Benfica colocar-se-á numa posição bastante favorável face ao apuramento. Não nos oito primeiros – isso parece-me utópico -, mas nos 24 que seguirão para o playoff.
Quanto ao campeonato, creio que ainda haverá tempo. E a jogar assim, o Sporting que se cuide e que se assuste- tem fortes razões para isso.
Enfim, são noites como esta que me fazem gostar de futebol, e até ter pena daqueles que não sabem o quão saboroso é desfrutar destes momentos.
Uma última palavra aos jogadores, ao treinador e ao presidente do Benfica: Obrigado!

ESPANHÓIS NA LUZ

Nos últimos dez jogos, apenas uma vitória. Equipas complicadas, defensivas, rigorosas, robustas e cometendo poucos erros. Por alguma coisa venceram mais de metade das Ligas dos Campeões e Ligas Europa dos últimos vinte anos.
Como nota de curiosidade, diga-se, porém, que o Benfica deve ser das poucas equipas europeias com saldo positivo frente ao colosso Real Madrid (2 vitórias, 1 derrota, 11-6 em golos). O problema é que só se encontraram nos anos sessenta...

ONZE PARA A CHAMPIONS


Em certos momentos, Aursnes poderá fechar o flanco direito, com Tomás Araújo a fazer terceiro central - e mais liberdade para Di Maria. Pavlidis talvez precise de ir ao banco, e Amdouni, com maior mobilidade, parece mais indicado para este tipo de adversário.
O Atlético é uma equipa extremamente difícil. Naturalmente pelo valor dos seus jogadores, mas também porque joga o tipo de futebol com o qual o Benfica tem normalmente grandes dificuldades. Um empate seria ouro.

TODOS DO MESMO CLUBE

Tudo a mesma tropa. O grande cancro do futebol e dos grandes clubes, agora potenciado pelas redes sociais. Cada um acha que o clube mundo é seu. Como não sabem nada, acham que sabem tudo, e quem não concorda é porque é ignorante. Querem impor, aos gritos, ou mesmo aos murros, a sua vontade a todos os outros. Enfim, há que resistir a esta gente, que não anda apenas no futebol.
 

A REPRESENTATIVIDADE DAS ASSEMBLEIAS GERAIS

Um artigo de José Manuel Delgado em "A Bola", seguido de resposta de Vasco Mendonça no mesmo jornal, trouxe-me de volta a este assunto.
Já perdi a conta às Assembleias Gerais convocadas este ano no Benfica, e não vamos ficar por aqui. 
Por tudo e por nada convoca-se uma AG, que é aproveitada, não para discutir o ponto, ou os pontos, em agenda, mas sim para confrontar os dirigentes - demasiadas vezes com gritaria e insultos, que  envergonham a família benfiquista aos olhos do país. Há também quem as aproveite para protagonismo pessoal: o Benfica é um poderoso trampolim para a notoriedade, que o digam alguns políticos da nossa praça.
Talvez se aplique a máxima de Churchill, quando falava da democracia. Talvez as AG sejam o pior sistema para tomar decisões...à excepção de todos os outros. Mas há que fazer uma reflexão profunda sobre elas, a sua morfologia face a um contexto muito diferente daquele em que foram idealizadas, e a sua representatividade num clube que tem 326 mil associados, 325 mil dos quais não vão às AG's, deixando que estas se resumam ao número dos presentes numa qualquer partida de Voleibol - o que acontece pelos mais diversos motivos, um dos quais a distância para Lisboa e o facto de se prolongarem invariavelmente muito para além do horário aceitável para o comum cidadão trabalhador e/ou de família.
Os benfiquistas não têm todos de ser "ultras" - embora estes achem que o clube é só deles. Há muitas formas de viver o clube, e todas são respeitáveis. A maioria dos sócios gosta de ver futebol, quer que o Benfica ganhe, mas não se interessa muito pelos jogos de poder que se disputam fora do relvado. Muitos dos sócios vivem longe de Lisboa, espalhados pelo país e pelo mundo. Fazem sacrifícios enormes para poder ir a alguns jogos. Querem futebol, vitórias e títulos. Dispensam converseta e discussões, muitas vezes estéreis e quase sempre divisionistas - quando não arruaceiras.
A consequência é que uma larga fatia das AG fica por conta de grupos de jovens com pouco que fazer, mais ou menos organizados, oriundos de Lisboa ou da sua periferia, que com grande capacidade de mobilização e de ruído, condicionam e, no limite podem até manipular, os trabalhos e decisões que afetam todo o clube. Já correu mal. Temo que um dia possa correr ainda pior. 
Não sei se é viável, mas parece-me que deveria ponderar-se a transmissão televisiva das AG (de qualquer forma acabam por aparecer, subvertidas, noutros canais televisivos), e promover a possibilidade de todas as votações serem feitas online. Isto naturalmente tem os seus riscos, mas deixar 325 mil sócios de fora parece-me bem pior. Estamos em 2024, num mundo global e tecnológico. Com a dimensão de clubes como o Benfica, fará sentido manter as metodologias de uma qualquer sociedade recreativa do século passado?
Talvez por isto mesmo alguns estranhem que, à contestação violentíssima feita em redes sociais e afins, não corresponda a eleição de presidentes nas urnas. É que esta é feita, também, nas Casas do Benfica espalhadas pelo país e pelo mundo, com privilégios justíssimos para quem é sócio há mais tempo (o maior certificado de benfiquismo que pode haver) não ficando nas mãos de vanguardas que se julgam iluminadas (e, na História, as vanguardas iluminadas deram sempre mau resultado), que continuarão a vingar nas AG enquanto estas mantiverem o formato actual.
Um caso a pensar. E já que está em curso um processo de revisão de estatutos, talvez seja a melhor oportunidade para o fazer.

SE ISTO É UM DÉRBI...

Bem sei que a camisola do Sporting se deveu a uma campanha solidária. Mas não é a primeira vez que fico chocado com equipamentos alternativos usados sem necessidade. E saúdo o sócio do Benfica que propôs que os estatutos os limitem a duas cores (vermelho e branco).
Às razões comerciais sobrepõe-se, creio eu, a necessidade de preservar símbolos. Um clube é um emblema e as suas cores. Se mexemos nesses parâmetros, corremos o risco de deixar ficar pouca coisa. As marcas desportivas estão-se nas tintas para isso. Os dirigentes não podem estar.
Nesta partida, cheguei a ter dificuldades em perceber para que lado queria que fosse a bola.
Ah... o Benfica ganhou em Alvalade. E num campeonato corrido a 22 jornadas, e em que existe uma clivagem enorme entre os principais clubes e os outros, esta vitória foi extremamente importante - limpando também a imagem deixada pelas encarnadas (às vezes vestidas de preto) na qualificação para a Champions.

FESTA DO GOLO

Antes de semana Champions, raramente se fazem exibições brilhantes. E muitas vezes, também os resultados se sentem - que o diga o Barcelona.
Não esperava pois um super Benfica frente ao Gil Vicente, com os jogadores (é humano) a pensarem no Atlético de Madrid.
O golo sofrido cedo (convém não se tornar hábito) parece ter espevitado a equipa - que na meia hora seguinte , não só virou o resultado, como podia tê-lo desde logo resolvido.
Depois o jogo perdeu intensidade, com um Benfica mais relaxado, e o Gil incapaz de criar perigo.
A segunda parte continuou no mesmo registo, o que, com o resultado tangencial e à medida que o tempo passava, se ia tornando perigoso.
O excelente golo de Amdouni decidiu os pontos, e abriu caminho a uma goleada - que acaba por ser algo excessiva face ao que se tinha passado nos 80 minutos anteriores.
Quarta vitória seguida, 14-3 em golos, Lage segue em estado de graça. Venha o Atlético de Madrid. 

ONZE PARA O GIL


 

A LIGUINHA DO PROENÇA

Pedro Proença foi um excelente árbitro-UEFA/FIFA. Ou seja, cumpria todos os requisitos para uma bem sucedida carreira internacional: 1) apresentar-se em boa forma física, 2) falar bem inglês, 3) manipular resultados sem dar muito nas vistas.
Por essa via sinuosa chegou ao dirigismo, onde tem mostrado, de novo, a sua total incompetência em termos de substância. Na forma, continua a falar bem, a dar abraços a toda a gente, e a fingir que sabe o que diz.
Ora, segundo ele, nenhum clube vale mais do que a sua liguinha pindérica. Vale sim, camarada! E não só o Benfica vale mais do que a liga portuguesa, como o Sporting, o FC Porto, e até talvez o Braga e o Guimarães. O país tem excelentes jogadores, tem excelentes treinadores, tem clubes que fazem milagres na Europa. Qual é o maior problema? O que é que puxa o futebol português para baixo? A fraca arbitragem (onde estava Proença), e a miserável liga (onde está Proença), que procura nivelar tudo por baixo e colocar grandes clubes ao nível de sad's fantasma, sem identidade, sem história, sem massa crítica, com capital sabe Deus de onde, com propósitos sabe Deus quais, e que intoxicam o campeonato nacional até se tornar totalmente irrelevante à escala internacional.
Um idiota qualquer lembrou-se de legislar sobre a centralização dos direitos televisivos. E agora estamos nisto, a menos que alguém de bom senso intervenha - necessariamente a nível político - para, ou revogar essa legislação, ou fazê-la acompanhar por uma redução drástica do número de clubes capaz de, em sentido oposto, nivelar por cima, congregar patrocinadores, aumentar o número de jogos interessantes (sejamos honestos: quem vê, e a quem interessa, um Casa Pia-Moreirense?), e não penalizar os verdadeiros clubes portugueses - aqueles que competem nas provas internacionais, que formam e vendem grandes jogadores, que suscitam a atenção de 99,9% dos adeptos, e que não têm nada que partilhar o dinheiro que geram com investidores abutres que dominam o desfile fúnebre que é o campeonato português. A solidariedade deve existir para com pessoas. Não para com entidades pseudo-desportivas.
Acredito que a Liga podia até valer bastante se alterasse os seus quadros competitivos, promovesse uma primeira divisão adequada à dimensão social, cultural, económica e demográfica do país, com oito clubes a quatro voltas (multiplicando os "Clássicos"), e atirasse para os escalões secundários todo o lixo que a conspurca. Aí sim, talvez tivéssemos um campeonato interessante, vendável para outros países, e clubes competitivos a todos os níveis.
Acontece que os perus não votam a favor do Natal. E Proença é, naturalmente, o chefe da capoeira.
Deste modo, o Benfica (mas também Sporting, Porto, Braga e Guimarães), devem manter-se totalmente à margem deste caminho, que será o caminho da ruína. E se necessário, com mais um ou outro, numa posição de força, criarem a sua própria Super-Liga, deixando Proença a contar as moedas dos Casas Pias-Moreirenses, e dos Avs's-Aroucas.

SAI MAIS UM LUÍS

Não gosto de ver facadas nas costas. Como diria Pinheiro de Azevedo, é uma coisa que me chateia, pá.
Tal como Luís Filipe Vieira na CMTV, também Luís Mendes (e há tantos luíses nesta terra...) se prestou a uma espécie de ajuste de contas no Record (do mesmo grupo), que não sendo directamente com Rui Costa, acaba inevitavelmente por atingir em cheio as ditas do dito.
Pobre Rui Costa. Não há quem não lhe atire pedras. E o pior é a sensação de que alguns dos que estão hoje com ele, também o farão assim que, por qualquer motivo, venham a sair dali.
Luís Mendes não deixará de ter razão em certas coisas que diz. Mas podia, e devia, guardar as razões para si. Isto se gosta do Benfica, ou se, como afirma, ainda é amigo de Rui Costa. Além de que, sendo uma escolha pessoal do presidente - que o foi buscar ao anonimato e o trouxe para as luzes desta outra ribalta (que não seduzem, nem fazem falta, como na canção de Sérgio Godinho) - lhe deveria, digo eu, um sentimento acrescido de lealdade. De fora, toda a gente o via como tal: o homem de confiança do presidente no meio do lago dos tubarões do passado. Afinal...
Começo a desconfiar que Rui, sendo Costa e podendo até ter condições para ser um bom presidente do Benfica (rodeado das pessoas certas), não tem costas que cheguem para encaixar tantos golpes. Nessa capacidade de encaixe, Vieira, habituado toda a vida a patinar em chão escorregadio, superava-o largamente.
Entre alguns que ainda estão dentro (vaidade), outros que saíram (rancor), e aqueles que querem entrar (inveja), ninguém parece preocupar-se muito com o clube. A não ser, talvez, o próprio presidente - dos poucos que não precisam daquilo para nada, e que cada vez mais se transforma numa espécie de general no seu labirinto - como no romance de Gabriel Garcia Márquez.
O conteúdo da entrevista não é por aí além. Mendes diz mal de Nuno Costa, diz mal de Jaime Antunes, diz mal de Fernando Tavares, diz mal de Fonseca Santos, diz mal de Rui Pedro Braz, diz mal de Rui Costa, e quando uma só pessoa diz mal de tanta gente com quem acabou de trabalhar, eu fico de pé atrás com ela. No meio, alguns apontamentos interessantes/preocupantes, como o elevadíssimo (descontrolado?) investimento nas modalidades - e eu gosto, e sigo todas as modalidades do Benfica, não prescindo delas, mas também acho que se devia ser mais moderado em algumas, com plantéis mais curtos e maior aposta na formação, por exemplo no Futsal que este ano nem sequer está nas provas europeias e está condenado a ficar em segundo, ou no Andebol que está condenado a ficar em terceiro, e continua a consumir imensos recursos, ou o Projecto Olímpico, que não sei quanto custa, mas tem um retorno muito duvidoso, etc -, e a ideia de que a gestão tem de ser profissionalizada, bem como quando fala dos direitos televisivos e dos riscos que o Benfica corre com uma decisão estúpida de um governo. Tudo, lá está, coisas que defendeu lá dentro (e bem), não tendo necessidade agora de as trazer cá para fora (e mal).
O Benfica, enfim, vai resistindo. Na sexta-feira, mais uma Assembleia Geral. Perdi a conta ao número de "reuniões" deste tipo, totalmente desadequadas aos tempos modernos, que são basicamente ajuntamentos de jovens lisboetas em fúria, com grande capacidade de mobilização, e dispostos a ficar lá até às 3.00 ou 4.00 da manhã a disparar tiros sobre a mesa, em assuntos que nem sequer fazem parte da ordem de trabalhos.
Já agora, a propósito, deixo aqui uma boa proposta para a revisão de estatutos: salvo situações absolutamente excepcionais (obrigando a um elevado número de assinaturas), apenas deverá haver uma AG por ano, e no defeso futebolístico. Isto, claro, obrigaria a alterar alguns outros artigos. Mas o pior é continuar a alimentar estes momentos, que o Benfica não tem condições de suportar mais tempo, e onde a noção de democracia parece ser cada um, ou cada grupo, querer impor aos outros a sua vontade com gritos e insultos - e aquela é a arena perfeita para esse circo e para o respectivo aproveitamento mediático. 

RUI COSTA E A ANÁLISE AO MERCADO

Rui Costa está a ser vítima de si próprio. 
Prometeu uma auditoria, cumpriu, e o resultado foi contestação. Prometeu rever os estatutos, está a cumprir, e o resultado é mais contestação. Prometeu abordar o mercado com transparência, tem cumprido, e cada palavra que diz é alvo de ainda maior contestação. Como bem sabemos, contestação em 2024 significa insultos, quando não agressões ou tentativas de tal. E ninguém já quer saber de ter sido campeão nacional em Maio de 2023 (ou seja, há apenas 16 meses!), ou de ter ido a três Quartos-de-Final europeus consecutivos (dois deles na Champions). Enfim, o mundo está assim, e não sei onde vai parar.
Fosse eu, e não tinha feito auditoria nenhuma (um autêntico strip-tease aos negócios do Benfica, para gáudio dos media e dos rivais), não revia estatutos nenhuns (não são, nem alguma vez foram, os estatutos a ganhar ou a perder campeonatos), nem dava satisfações públicas sobre a contratação de A ou B, nem sobre a venda de C ou D, até porque em muitos desses casos não é possível dizer a verdade toda (como, por exemplo, que João Mário tinha  talvez o salário mais alto do plantel, ou que Neres, Leonardo e Morato, diz-se por aí, encontravam-se depois dos treinos para beber copos num bar da margem sul). Abrem-se várias caixas de Pandora, que depois se torna impossível fechar. Fica sempre a esperança, como na mitologia grega.
Talvez o próprio Rui Costa aprenda com os erros, e um dia entenda que não se pode agradar a toda a gente, sob pena de não se agradar a ninguém. E se queriam, da minha parte, críticas ao presidente do Benfica, aqui estão elas. Posso ainda acrescentar ao ramalhete a renovação extemporânea com Roger Schmidt e as demasiadas mexidas no plantel no pós-título de 2023 (para as quais aqui chamei a atenção em devido tempo), tudo situações naturais na história do Benfica - erros, tais como quando Ferreira Queimado deixou fugir Jordão, ficou só com um ponta-de-lança e perdeu dois campeonatos para o FC Porto (que não ganhava havia 19 anos), ou quando Fernando Martins vendeu Chalana e Stromberg para fechar o Terceiro Anel que passado poucos anos (com o início das transmissões televisivas) estava às moscas, quando Borges Coutinho deixou sair Jimmy Hagan, hipotecando porventura a afirmação europeia de uma equipa que a merecia, quando Jorge de Brito ignorou um colapso financeiro que levou ao "Verão Quente" de 1993, quando Damásio permitiu que Artur Jorge despedisse meio plantel e depois despediu-o a ele, quando Vilarinho recusou renovar com José Mourinho o que originou a sua saída e tudo o que se viu depois, isto para não ir mais longe, nem mais perto. Todos os presidentes, de todas as instituições, cometem erros, que constam de um balanço final ao lada das realizações. Eu tenho a mania de querer esperar pelos balanços finais.
Sobre o que Rui Costa disse em concreto não há muito a acrescentar. 
Como em todos os anos, e em todos os clubes, há contratações boas e contratações más. Há sempre um Fresnada por cada Gyokeres, um Bruno Cortez por cada Jonas e um Kabore por cada Akturkoglu. De resto, creio que muito do mercado de 2024 foi para corrigir erros de 2023 - e só no fim da época poderemos saber se com sucesso ou não. Algumas das contratações tiveram o óbvio crivo do ex-técnico (Beste e Barreiro, pelo menos), mas nem sequer foram as mais caras, e talvez não sejam más de todo.
Quanto a vendas, só por ignorância ou má fé se pode achar baixo o valor pago por João Neves - que, por muito que gostemos dele, e eu gosto muito dele, nem sequer foi titular da Selecção no Europeu. O outro titular indiscutível do Benfica que saiu, Rafa, creio não ter mesmo sido possível manter - e, diga-se, também não era consensual entre uma franja de benfiquistas.
Agora, o que espero do Benfica é menos conversa, menos Assembleias-Gerais, menos campanhas eleitorais, e mais golos e vitórias. É para isso que um clube serve, e não para alimentar a comunicação social com conteúdos mais ou menos folclóricos.

CONTRA VENTOS E MARÉS

Antes do jogo, ouvia-se e lia-se que o Boavista era um adversário difícil, e o Bessa um terreno complicado. Depois da vitória encarnada, e logo nos comentários televisivos, o discurso mudou radicalmente: o Boavista está agora na sua "maior crise de sempre" (lembremos que chegou a andar no terceiro escalão), e é uma equipa de juniores. Como tal, este triunfo do Benfica, o terceiro em três jogos com Lage (9-2 em golos), o segundo fora de casa, não vale nada, pelo que as notícias da retoma encarnada eram, ou são, exageradas. O Benfica está doente, e assim deve continuar. Assim tem de continuar para que essa gente seja feliz.
Enfim, estamos habituados a isto. O clube da Luz está em maioria social no país, mas está em minoria na comunicação social do país. Além disso (que já é antigo), há agora uma nova espécie de benfiquistas, sem memória nem juízo, que criticam, condenam, insultam e, em alguns casos, até agridem, não percebendo que com isso não estão a atingir a direcção ou o presidente, mas todo o clube e a sua estabilidade - tão necessária para fazer face aos compromissos da equipa no relvado, como à afirmação do benfiquismo no espaço mediático.
Percebe-se que um Benfica a apresentar um futebol indigente, e afastado do título, desse jeito a muitas dessas pessoas (os de fora, e também alguns de dentro). Daí que esta retoma traga bastante azia - que se percebeu, mal acabou a partida - em todos os que apostavam, e apostam, em mais uma época fracassada.
Como o mundo não vai mudar tão cedo, resta ao Benfica ganhar, ganhar e ganhar. É esta a única forma de aplacar as agressões que lhe vão fazendo, desde o exterior, e ultimamente também do interior.
Falando de futebol (coisa que já só interessa a alguns resistentes da velha guarda), a equipa de Lage realizou uma excelente primeira parte, em que construiu a sua vitória. Na segunda relaxou um pouco o ritmo, e como o técnico encarnado disse no fim, esse é um dos desafios imediatos: manter a mesma pressão durante os noventa minutos.
Individualmente há a destacar os turcos. Akturkoglu, no mínimo está em excelente forma, e se assim continuar será um caso sério no futebol português. Kokçu, depois de um ano a pastar, parece enfim mostrar valer o que o clube pagou por ele - foi o melhor em campo. Também estou a anotar o crescimento de Carreras, aguardando por um teste de fogo (por exemplo, o Atlético de Madrid) para confirmar a ideia.
Em sinal inverso, Aursnes e Di Maria ainda estão longe do seu melhor (um vem de lesão, o outro não fez pré-época), Otamendi só justifica a titularidade pela experiência e pelo estatuto (Tomás Araújo merecia actuar no eixo da defesa), e Kabore entrou uma vez mais em falso (não me precipito a lançá-lo para a fogueira, pois lembro-me de Luisão e David Luiz).
Por fim, há que falar da arbitragem. Se no lance entre o guarda-redes e Pavlidis até posso entender a falta anterior de Tomás Araújo, a carga sobre Di Maria perto da linha de fundo pareceu-me penálti evidente, não havendo como não responsabilizar o VAR Tiago Martins. Curiosamente, acho que foi o mesmo fulano que há dois anos descortinou um penáltizinho de António Silva sobre Paulinho num dérbi na Luz. Haja critério.