O QUE VALE UM MUNDIAL
Por ressabiamento com a ausência (sportinguistas), por ressabiamento com a eliminação precoce (portistas), por ignorância histórica ou retórica politiqueira (alguns benfiquistas), há quem em Portugal (e não só, pois há mais ausentes, há mais eliminados e há mais ignorantes no mundo) não compreenda, e/ou não aceite, a verdadeira dimensão do Mundial de Clubes.
É certo que a FIFA não ajudou, ao escolher estádios com oitenta mil lugares e colocar à venda bilhetes a centenas de dólares - num país sem cultura futebolística, e onde nenhuma das tentativas de a implementar resultou -, o que deixa as bancadas demasiado despidas, e transmite a sensação cromática de uma qualquer International Champions Cup ou outro torneio mais ou menos luxuoso de pré-temporada. Também não houve lá muito respeito pelos jogadores, colocando-os a jogar a horas impróprias e sob temperaturas tórridas. A calendarização não favorece as equipas europeias (haveria sempre quem se queixasse), e obriga-as a uma de duas coisas: rodar jogadores (quem pode) ou jogar a um ritmo tão baixo quanto possível. Tudo isto são, pois, aspectos a rever nas próximas edições. Acredito que a FIFA aprenda alguma coisa com os erros, pois tem muito dinheiro a ganhar, e sabemos o que a move.
É certo que a FIFA não ajudou, ao escolher estádios com oitenta mil lugares e colocar à venda bilhetes a centenas de dólares - num país sem cultura futebolística, e onde nenhuma das tentativas de a implementar resultou -, o que deixa as bancadas demasiado despidas, e transmite a sensação cromática de uma qualquer International Champions Cup ou outro torneio mais ou menos luxuoso de pré-temporada. Também não houve lá muito respeito pelos jogadores, colocando-os a jogar a horas impróprias e sob temperaturas tórridas. A calendarização não favorece as equipas europeias (haveria sempre quem se queixasse), e obriga-as a uma de duas coisas: rodar jogadores (quem pode) ou jogar a um ritmo tão baixo quanto possível. Tudo isto são, pois, aspectos a rever nas próximas edições. Acredito que a FIFA aprenda alguma coisa com os erros, pois tem muito dinheiro a ganhar, e sabemos o que a move.
Não há, porém, que confundir alguns aspectos específicos desta edição, que podem, e devem, ser corrigidos no futuro, com a ideia em si, que me parece bastante feliz, e muito menos com o mérito ou demérito de vencedores e vencidos. O modelo anterior (agora de novo transformado em Taça Intercontinental) tinha pouca representatividade, pouca competitividade, e pouco interesse. Este, com 32 clubes dos vários continentes, a disputar de quatro em quatro anos, tem tudo para singrar e tornar-se gradualmente uma referência.
Qualquer nova competição sofre sempre alguma resistência até se consolidar. No nosso país, isso tem sido bem patente com a Taça da Liga (eterna mal-amada, desconfio saber porquê), mas também me recordo de suceder nos primórdios da Supertaça (que nos anos oitenta ninguém queria disputar). A Taça de Portugal tem outra história, que antecede a do próprio Campeonato, pelo que não é um bom exemplo. Mas se passarmos ao plano internacional, e sem falar na Liga das Nações ou na própria Intercontinental (e reparem que se trata de provas que envolvem as melhores equipas ou selecções, e não clubes ou países secundários), é preciso lembrar que o hoje sumptuoso Europeu da UEFA começou por ser, nas suas primeiras edições, uma espécie de Taça das Nações, disputada igualmente em final-four, e levada não muito a sério por grande parte dos intervenientes. Vou ainda mais longe: o Mundial, o de selecções, teve um nascimento conturbado (em 1930), com várias equipas a recusarem o convite para participar devido à dificuldade com as longas viagens de barco rumo à América do Sul. Nessa altura o importante eram os Jogos Olímpicos, e para muitos o Campeonato do Mundo era redundante. Foi conquistando o seu espaço e hoje é o que é. A história tem destas coisas. Conhecê-la é sempre vantajoso.
Se entrarmos numa discussão mais filosófica, rapidamente concluiremos que, na verdade, nenhuma competição futebolística é assim tão importante para as nossas vidas. Também por isso, quem frequenta este espaço sabe que não me deixo cair no paradoxo: para mim o futebol, todo ele, vale o que vale, e as competições oficiais são todas importantes dentro da importância que o futebol tem. Não entendo é ver gente a rasgar as vestes porque o Benfica perde uma Taça de Portugal, e depois achar que vencer o Bayern de Munique, vencer o grupo e seguir para os Oitavos-de-Final de uma competição de nível mundial, onde não entrou por convite, não é relevante, nem deve ser valorizado.
Voltando ao princípio, é quase patético constatar como alguns comentadores, sobretudo os mais conotados com o Sporting, se referem a esta prova. E à medida que o Benfica nela avançar (por exemplo, ganhando ao Chelsea) mais acentuada se tornará a dor de cotovelo. De facto, por muito Gyokeres que tenha havido nos relvados portugueses, para lá de Badajoz tem sido o Benfica o baluarte do futebol luso. Isso viu-se na Champions (como já se havia visto nas épocas anteriores), e vê-se agora no Mundial. Naturalmente, apenas para quem quiser ver.
Para os benfiquistas, tenho ainda a dizer que o clube, além de matar o borrego bávaro, além de nos restituir algum do orgulho perdido nas provas nacionais, além de reforçar o seu prestígio perante uma audiência de âmbito global, já encaixou mais de 26 milhões de euros neste sonho americano. E se vencer o Chelsea, só com esse triunfo (nem que seja nos penáltis) arrecadará 11,3 milhões. Se depois ultrapassar os brasileiros (Palmeiras ou Botafogo) logrará mais 18 milhões, se por acaso for finalista recebe outros 26 milhões e em caso de conquista do título mais 35. Como diria o actual Secretário-Geral da ONU, é fazer as contas. Estão em jogo mais de 100 milhões. Se isto não é importante, não sei o que será. Admito que o milionário PSG, recém coroado campeão europeu, não tenha assim tanto a ganhar com o Mundial. Para um clube como o Benfica, tendo a felicidade de estar presente (temo que não aconteça muitas vezes), tendo já ultrapassado o primeiro e difícil obstáculo, não há que olhar para o lado. Há que ir com tudo. E se for para, porventura, chegar à final, então que se lixe a preparação da próxima temporada.
2 comentários:
Excelente comentário.
A preparação para a proxima época não me preocupa. A competente equipa técnica saberá planear qualquer que seja o resultado final.
Já se vislumbra nas entrelinhas e no esgar de esperança, na linguagem corporal e no afiar de dentes dos 2 adversários, pelas mãos dos agentes que têm na media, de ver o Benfica cair, perder a supertaça e não se qualificar para a Champions. A "schadenfreude" atingiria níveis bíblicos.
Esperem sentados.
Em termos de prestígio internacional é muito importante mesmo.
Enviar um comentário