NOVA ORDEM
Para além do saboroso
triunfo português, o Europeu de França deixou duas evidências difíceis de
contrariar.
Em primeiro lugar a de
que o futebol tem uma larga componente de aleatoriedade, muitas vezes negada pelos
analistas (têm de ganhar a vida…), mas que define grande parte das competições
e dos seus vencedores. Há ciência na preparação dos atletas, na organização das
equipas e no estudo dos adversários, mas, entre conjuntos equilibrados, tudo o
resto é…sorte. Por muito que nos possa ser útil teorizar acerca da superior
capacidade dos nossos jogadores, a verdade é que se aquela bola de Gignac, aos
91 minutos, se tem aconchegado dois centímetros mais para dentro, estaríamos agora
a lamentar mais uma desilusão portuguesa. Isto é válido para a final, para os
penáltis contra a Polónia, mas também para o Alemanha-França, para a fase de
grupos, para …tudo.
Outra evidência é a de
que jogar bonito, jogar ao ataque, empolgar plateias, não interessa
absolutamente nada. Para os puristas do jogo belo isto é um drama. Mas de entre
as várias formas de ganhar finais, o realismo e a contenção parecem ser as
preferidas das principais equipas do futebol internacional. É uma tendência que
se nota desde 1982, mas talvez nunca como neste Europeu ela tenha estado tão
patente.
Aliás, o desporto vive
actualmente com um grave problema da falta de espectacularidade, que a médio
prazo o poderá matar. Nota-se no Tour de França, na Fórmula 1, no Ténis, e na
generalidade das modalidades, onde o dinheiro abunda na mesma proporção em que
o risco escasseia.
Seja como for, aqui fica
mais um …Viva Portugal!
3 comentários:
Se a bola do Gignac vai 2 cms para dentro, estaría a encalhar nas pernas do Patrício. A sorte de bater no poste teve o jogador.
Caro Vedeta da Bola,
Poderá ser excesso de optimismo da minha parte, mas não partilho a visão de falta de espectacularidade no futebol actual. Mais do que uma preocupação excessiva com a contenção, notei neste Europeu um enorme equilíbrio entre quase todas as equipas e sim, uma grande qualidade defensiva. O desnível que havia há muitos anos proporcionava goleadas frequentes(sobretudo nos Mundiais)que são agora coisa rara.
Sei que nem todos concordam, mas eu acho o tiki-taka - vencedor em 2008, 2010 e 2012 - digno representante do futebol espectáculo. A nível de clubes, o Bayern, o Barcelona, o Real Madrid(nem sempre), as melhores equipas inglesas e mesmo o nosso Benfica procuram jogar habitualmente ao ataque e não deixam de ganhar.
Recordemos também o último Mundial, várias equipas sul-americanas chegaram longe jogando um futebol entusiasmante e ofensivo, nomeadamente o Chile e a Costa Rica.
Pode este Europeu ter sido um epifenómeno muito marcado pelo facto do Campeão Europeu (somos nós!!) jogar marcadamente em contenção? Talvez. Mas mesmo a nossa Selecção tem argumentos para jogar ao ataque, basta (re-)descobrir o tal ponta-de-lança que nos permita jogar em ataque continuado.
Abraço!
Caro Miguel,
No futebol de clubes, leia-se Champions, talvez tenhas razão.
Mas nestas competições de selecções, com menos tempo de preparação, em final de época, jogadores cansados, etc, creio que se perdeu um pouco daquele brilho do passado.
Ao contrário de ti, não aprecio o tiki taka, embora lhe reconhecesse eficácia em dada altura. Acho que é demasiado toque para o lado e para trás, à espera do erro.
A nossa selecção tem de facto argumentos para jogar ao ataque. Mas, quando o fez, perdeu sempre. Agora que jogou em contenção, ganhou. Isso também faz pensar.
Claro que fiquei muito contente com a vitória, até porque para mim o futebol é resultado.
Mas compreendo que, quem não seja português, olhe para este europeu com alguma preocupação.
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